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Primo Levi nasceu em Itália em 1919, morreu em 1987, provavelmente por suicídio.

Licenciado em Química. Membro de uma brigada de partigiani, filiada no grupo


«Justiça e Liberdade». Os partigiani eram resistentes armados contra os nazi-fascistas
em Itália.

Devido a ser judeu, é preso e deportado para o campo de concentração de Auschwitz em


Dezembro de 1943, no qual permanece até ao fim da Guerra, em Janeiro de 1945. Fica,
portanto, pouco mais de um ano. É dos poucos que aguentam tanto tempo. No começo
do livro, começa por aludir à «sorte» que lhe assiste ao ser capturado numa altura em
que os alemães, devido à escassez de mão-de-obra, decidem prolongar a vida dos
prisioneiros, suspendendo as execuções arbitrárias.

É dos poucos a resistir às condições de vida do campo de concentração. Tinha 24 anos


quando foi capturado.

Se Isto É Um homem é o relato da experiência vivida em Auschwitz. Como explica na


introdução, a génese do livro tem dois motivos:

1. «O livro foi escrito para satisfazer essa necessidade; em primeiro lugar, como libertação
interior»
2. «Foi escrito para fornecer documentos para um estudo sereno de alguns aspetos da alma
humana»

Auschwitz foi libertado a 27 de Janeiro de 1945. Primo Levi viu uma brecha nessa
madrugada que lhe permitiu pensar no regresso a casa. No livro Se isto é um Homem
testemunha a sua vida no campo, que considera “uma gigantesca experiência biológica e
social (...) [onde é possível] estabelecer o que é essencial e o que é adquirido no
comportamento do animal-homem perante a luta pela vida”.

Fui a Auschwitz-Birkenau e Treblinka em 2007 e reli então o livro de químico italiano.

Antes de mais, uma interrogação: que podemos nós saber acerca daquilo de que fala
Primo Levi? Que podemos nós saber e em que termos podemos falar de uma realidade
tão radicalmente diferente da nossa que não chegamos sequer a configurar, senão sob
um ponto de vista teórico e ainda assim imensamente vago, tateante, a que é que ela
corresponde?

Parece evidente, desde logo, que o nosso olhar é o olhar asséptico de quem observa no
conforto das “casas aquecidas”, para usar uma expressão de Primo Levi, por mais
horror, asco, incómodo que a descrição ou a visão provoquem. A nossa condição é
outra. A nossa galáxia é outra. A sonda que fornece alguma informação está longe de
nos fazer experimentar a qualidade daquele ar, de nos indicar sequer as suas
propriedades.

E nem algum conhecimento de alguns dos conteúdos em causa nos ajuda. Justamente:
são conteúdos, não são experiências.

Podemos inventariar episódios de humilhação, privação, violência que se convencionou


inumana. Mas será que podemos ter uma ideia do que ali se passou? Não acabaremos
por constatar que todas as situações por que passámos, apesar da sua penosidade,
continuam a inscrever-se naquilo que é da esfera do humano?

Começa a ser escrito logo depois da sua libertação e concluído em 1947. A primeira
edição data desse mesmo ano.

Primo Levi nasceu em Itália em 1919, morreu em 1987, provavelmente por suicídio.
Licenciado em Química. Membro de uma brigada de partigiani, filiada no grupo
«Justiça e Liberdade». Os partigiani eram resistentes armados contra os nazi-fascistas
em Itália.

Devido a ser judeu, é preso e deportado para o campo de concentração de Auschwitz em


Dezembro de 1943, no qual permanece até ao fim da Guerra, em Janeiro de 1945. Fica,
portanto, pouco mais de um ano. É dos poucos que aguentam tanto tempo. No começo
do livro, começa por aludir à «sorte» que lhe assiste ao ser capturado numa altura em
que os alemães, devido à escassez de mão-de-obra, decidem prolongar a vida dos
prisioneiros, suspendendo as execuções arbitrárias.

É dos poucos a resistir às condições de vida do campo de concentração. Tinha 24 anos


quando foi capturado.

Se Isto É Um homem é o relato da experiência vivida em Auschwitz. Como explica na


introdução, a génese do livro tem dois motivos:

3. «O livro foi escrito para satisfazer essa necessidade; em primeiro lugar, como
libertação interior»
4. «Foi escrito para fornecer documentos para um estudo sereno de alguns aspetos da alma
humana»
Primo Levi nasceu em Itália em 1919, morreu em 1987, provavelmente por suicídio.
Licenciado em Química. Membro de uma brigada de partigiani, filiada no grupo
«Justiça e Liberdade». Os partigiani eram resistentes armados contra os nazi-fascistas
em Itália.

Devido a ser judeu, é preso e deportado para o campo de concentração de Auschwitz em


Dezembro de 1943, no qual permanece até ao fim da Guerra, em Janeiro de 1945. Fica,
portanto, pouco mais de um ano. É dos poucos que aguentam tanto tempo. No começo
do livro, começa por aludir à «sorte» que lhe assiste ao ser capturado numa altura em
que os alemães, devido à escassez de mão-de-obra, decidem prolongar a vida dos
prisioneiros, suspendendo as execuções arbitrárias.

É dos poucos a resistir às condições de vida do campo de concentração. Tinha 24 anos


quando foi capturado.
Se Isto É Um homem é o relato da experiência vivida em Auschwitz. Como explica na
introdução, a génese do livro tem dois motivos:

5. «O livro foi escrito para satisfazer essa necessidade; em primeiro lugar, como
libertação interior»
6. «Foi escrito para fornecer documentos para um estudo sereno de alguns aspetos da alma
humana»
7.
Despojados de tudo, da sua vida quotidiana, da sua identidade, da possibilidade de se
pensarem intimamente como homens livres, são sustidos, paradoxalmente, por um lado
puramente físico, animal, que os impele à sobrevivência. Uma sobrevivência animal, e
não uma sobrevivência humana. Porque esta requer um sentido, uma meta, um futuro.
“A persuasão de que a vida tem uma finalidade está enraizada em todas as fibras do
homem, é uma propriedade da substância humana. Os homens livres dão a esta
finalidade muitos nomes, e sobre a sua natureza muito se debruçam e discutem; mas
para nós a questão é mais simples. Agora e aqui, a nossa finalidade é chegar à
Primavera”.

O campo é a ausência de futuro, a arbitrariedade a toldar a liberdade. “Pela primeira vez


apercebemo-nos de que a nossa língua carece de palavras para exprimir esta ofensa: a
destruição de um homem. (...) Já nada nos pertence: tiraram-nos a roupa, os sapatos, até
os cabelos; se falarmos, não nos escutarão, e se nos escutassem, não nos perceberiam”.

O homem de que aqui se fala é um homem reduzido ao sofrimento, à carência,


esquecido da dignidade. Vive num campo de extermínio onde rapidamente aprende que
tudo serve. Aprende, por exemplo, o valor dos alimentos. Percebe-se isso quando se
sabe que o pão é comido com a marmita por baixo para não desperdiçar as migalhas. O
pão é a única moeda de troca entre os prisioneiros. Meia ração de pão pode trocar-se por
um litro de sopa. Ou por nabos, cenouras, batatas, colheres com cabo afiado que fazem
de faca. É isto que se comercia no campo.

Esta é a vida que têm. Até quando? “O problema do futuro longínquo esmoreceu,
perdeu qualquer intensidade diante dos problemas bem mais pungentes e concretos do
futuro próximo: quanto haverá para comer hoje, se irá nevar”.

A vida que têm é a vida de animais. Mas justamente por isso, como percebe o autor,
“porque o campo é uma máquina para nos reduzir a animais, não devemos tornar-nos
animais; neste lugar também se pode sobreviver para contar, para testemunhar. (...)
Somos escravos, condenados quase com certeza à morte, mas restou-nos uma última
faculdade: a faculdade de negar o nosso consentimento”.

A vida de todos os dias destes prisioneiros é a de autómatos que partem em marcha: as


suas almas estão mortas. Pensar sobre o que lhes aconteceu é algo que só acontece
quando, por exemplo, se está na enfermaria. “Fala-se de outras coisas para além da
fome e do trabalho, e acontece-nos considerar ao que nos reduziram, quanto nos tiraram,
o que é esta vida. Aprendemos que a nossa personalidade é frágil, está muito mais
ameaçada do que a nossa vida.”

Por vezes, os prisioneiros sonham. Não sonham todas as noites, mas apenas quando o
cansaço o permite. E nos sonhos há também margem para um não-acreditar. Um relato:
“É um prazer imenso, estar na minha casa, entre pessoas amigas e ter tantas coisas para
contar. Mas não posso deixar de me aperceber de que os meus ouvintes não me prestam
atenção”. A dor deste sonho (que é a dor de contar e não ser ouvido) é uma dor que
acompanha não só Primo Levi como muitos outros. Uma espécie de sonho insistente.
Também sonham que estão a comer.

“Se pudéssemos chorar!” desabafa, dizendo-se a seguir “um verme sem alma”. Ora um
verme não chora. Um verme não chora porque não tem consciência da ofensa que lhe
infligem. Se tivesse nem que fosse uma sombra dessa consciência, compreenderia
valores como o da dignidade, respeito, individualidade. E nesse caso, todo o campo se
lhe tornaria insustentável. No campo só se sobrevive na condição de animal acossado.
Pela mesma razão, no campo não há uma meta. O futuro não existe. A ideia de que a
vida tem uma finalidade é “propriedade da substância humana”.

Entre estes homens é possível estabelecer uma distinção: não entre bons e maus, mas
entre os que sucumbem e os que se salvam. O bom e o mau, o cobarde e o corajoso –
todas essas combinações são variáveis em cada um deles, mas presentes em todos.
Como cá fora. O que os marca, definitivamente, é a sua capacidade física e moral de
sobreviver ou não.

Esta distinção é igualmente ditada pela sua serventia. Os fracos e ineptos são votados à
selecção, ou seja, à morte. Os que ainda têm forças e competência são poupados e
obrigados a trabalhar.

Vantagem é um conceito fundamental. Quem tem vantagem sobre quem, qual a


vantagem em manter vivo alguém. Os outros, morrem sem deixar rasto na memória de
ninguém. Estes são os ineptos, aqueles são os proeminentes.

Um aspecto raramente revelado nos filmes e literatura sobre a Segunda Guerra é o da


situação de rivalidade e de ódio entre os oprimidos. Primo Levi explica que isso
acontece por ser urgente sobreviver: “É preciso lutar contra a corrente, dar batalha à
fadiga, à fome, ao frio, não ter piedade dos rivais, aguçar a inteligência, endurecer a
paciência”.

É uma luta esgotante de um contra todos. “As personagens destas páginas não são
homens. A sua humanidade está sepultada, debaixo da ofensa que sofreram ou que
infligiram a outrem. (...) Um homem é o que mantém pura a sua humanidade”.

Mas, a despeito da fome, da fadiga, da dor, não haverá réstia de esperança? A resposta
pode ler-se neste excerto: “Se no ano passado nos tivessem dito que iríamos ver mais
um Inverno no campo, ter-nos-íamos atirado contra o arame farpado electrificado, e
mesmo agora o faríamos se fôssemos lógicos, se não fosse este insensato e louco
resíduo de esperança inconfessável”.

O arame farpado electrificado é sempre uma possibilidade. A via do suicídio é sempre


uma possibilidade. Mas curiosamente foram poucos aqueles que a escolheram. O
processo de bestialização de que são alvo no campo de concentração condu-los a um
estado de indiferença. Levi descreve esse movimento e diz que muitos enfrentariam a
morte com a mesma indiferença. Para se espernear perante a morte, é preciso estar ainda
suficientemente vivo. E aqueles, e aquele prisioneiro que nos deixa este testemunho,
confessam: “Já não sou bastante vivo para ser capaz de pôr termo à minha vida”. Já não
restam forças para a indignação.

Primo Levi e um pequeno grupo de prisioneiros foram libertados pelos russos no fim da
Guerra. Tinham sabido adaptar-se ao campo. Levi, formado em Química, foi poupado
por mor de um trabalho num laboratório. Foi assim que foi salvo do gigantesco processo
de selecção do último Outubro da Guerra que matou milhares e milhares de judeus. Por
fim, em vésperas da chegada dos russos, adoeceu seriamente e foi internado na
enfermaria. Por essa razão também se salvou.

Na madrugada de 27 de Janeiro é libertado. “A brecha no arame farpado significava não


mais alemães, não mais selecções, não trabalho, não pancadas, não chamadas, e talvez,
mais tarde, o regresso”.

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