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Uma obra fria e chocante.

Primo Levi conta a sua experiência durante os dez meses


que passou em Auschwitz. O prisioneiro 174 517 conta como, a cada ação do
dia-a-dia no campo de trabalhos forçados, todos perdem a sua identidade, a sua
civilidade e a sua própria humanidade.Se isto é um homem conta, passo a passo,
os dias de luta pela sobrevivência. À fome e à dureza dos trabalhos junta-se a fome
de espírito, que transforma todos os homens em animais primitivos. No local onde
cada um é um número, não é só o nome que se perde da identidade. Com ele vão
todos os valores e toda a ética. Se isto é um homem começa com o dia em que
judeus italianos são avisados que deverão partir das suas casas. A narrativa
emociona logo à partida, com o descrever da última noite em liberdade. É um abrir
de olhos para quem vê o holocausto como uma ação isolada no tempo, porque a
possível loucura está em todos nós. A vida no Lager é descrita sem exageros e
também sem eufemismos. Numa linguagem simples, objetiva, Primo Levi
apresenta-nos os cantos da Buna, os hábitos dos colegas, as artimanhas que cada
um faz para sobreviver, as coisas pequenas mas nobres de um ou outro para,
também, manter-se vivo. “Sucumbir ou salvar-se”.
E tentar não esquecer o que é ser um homem.

A grande maioria de nós já teve contacto com algum tipo de testemunho sobre as
atrocidades cometidas aquando da 2.ª Guerra Mundial e dos horrores inimagináveis
que se cometeram nos infames campos de concentração nazis; seja através de
documentários, filmes, livros – ficção ou não ficção, o mundo ficou marcado por esta
página negra da nossa história recente e felizmente continua a existir material para
não nos deixar esquecer o que aconteceu e evitar que se repita.
“Se Isto é um Homem” é um livro assombroso e arrepiante, um testemunho valioso.
Faz-nos pensar que nenhuma ficção alguma vez conseguirá alcançar a magnitude
da realidade.

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