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GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO

SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO


SECRETARIA EXECUTIVA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
GERÊNCIA REGIONAL DE EDUCAÇÃO RECIFE NORTE
ESCOLA TÉCNICA ESTADUAL PROF ALFREDO FREYRE
CURSO TÉCNICO EM TEATRO
HISTÓRIA DO TEATRO

Denyson Nelson da Silva

Análise da obra: Entre Quatro Paredes – Jean Paul Sartre

Recife
2022

Denyson Nelson da Silva


Análise da obra: Entre Quatro Paredes – Jean Paul Sartre

Trabalho da disciplina História do Teatro, com a análise da obra:


Entre Quatro Paredes de Jean Paul Sartre, apresentada ao Curso
Técnico em Teatro da Escola Técnica Estadual Professor
Alfredo Freyre.

Prof.(a) Rafael Almeida

Recife
2022
1. Nota Biográfica

Jean-Paul Sartre, (1905-1980) foi um filósofo e escritor francês, um dos maiores representantes
do pensamento existencialista na França.

Jean-Paul Charles Aymard Sartre, conhecido como Jean-Paul Sartre, nasceu em Paris, França,
no dia 21 de junho de 1905. Filho de Jean Baptiste Marie Eymard Sartre, oficial da Marinha
Francesa e de Anne-Marie Sartre, ficou órfão de pai com dois anos de idade.

Em 1907, Sartre mudou-se com sua mãe para a casa de seus avós maternos em Meudon. Em
1911, mudou-se para Paris e ingressou no Liceu Henri IV.

Em 1916, com o casamento de sua mãe, considerado por Sartre como traição, foi obrigado a se
mudar para La Rochelle, quando ingressou no Liceu La Rochelle.

Em 1920 Sartre voltou para Paris. Em 1924 ingressou na Escola Normal Superior de Paris, onde
conheceu sua futura companheira a escritora Simone de Beauvoir. Em 1929, conclui a graduação.

Em 1931, Sartre foi nomeado professor de filosofia em Havre. Nessa época, escreveu o romance,
"A Lenda da Verdade", que não foi aceito pelos editores.

Em 1933, Sartre interrompeu sua carreira após receber uma bolsa de estudos que lhe permitiu
estudar na Alemanha no Instituto Francês de Berlim, quando entrou em contato com a filosofia de
Husserl e de Heidegger.

Em 1938, Sartre publicou o romance “A Náusea”, escrito em forma de diário no qual descreve a
repulsa sentida pelo protagonista ao tomar consciência do próprio corpo.

Jean-Paul Sartre foi o expoente máximo do "existencialismo" – corrente filosófica que pregava a
liberdade individual do ser humano. Em 1943, Sartre publicou “O Ser e o Nada” (1943), seu
trabalho filosófico mais conhecido, quando formulou seus pressupostos filosóficos que determinou
o pensamento e a posição essencial da geração de intelectuais do pós-guerra. Sartre vinculou a
filosofia existencial ao marxismo e à psicanálise.

Para Sartre, “estamos condenados a ser livres” - essa é a sua sentença para a humanidade, uma
vez que a “existência precede a essência”, ou seja, não nascemos com uma função pré-definida.
Para ele, a consciência coloca o homem diante da possibilidade de escolher o que ele será, pois
essa é a condição da liberdade humana. Escolhendo a sua ação, o homem escolhe a si mesmo,
mas não escolhe a sua existência.

Essa mesma liberdade, que não pode negar-se a si mesma, gera o sentimento de que a escolha
carece de importância e está na base da angústia. O texto evidencia sobretudo a questão da
liberdade individual em conflito com a convivência social.

Para Sartre, a má-fé do homem seria mentir para si mesmo, tentando se convencer de que não é
livre. O problema surge quando seus projetos pessoais entram em conflito com o projeto de vida
dos outros.

Eles, os outros tiram parte da sua autonomia, por isso, as escolhas devem ser pensadas, uma vez
que vão definir a existência de cada um. Ao mesmo tempo, é pelo olhar do outro que
reconhecemos a nós mesmos – daí a origem da célebre frase de Sartre: “O inferno são os outros”.
Em seu breve tratado “O Existencialismo é um Humanismo (1946) o conceito de liberdade passou
a ser apresentado não mais como valor em si, que prescinde de objetivo ou propósito, mas como
instrumento dos esforços conscientes.

2. Sinopse da Obra

Na obra Entre Quatro Paredes estão todos mortos e, ao contrário do que se acredita, percebem
que o inferno não é uma câmara de tortura, mas uma sala de estar contemporânea a época.
Nesta sala os personagens estão sempre espionando, se provocando, tentando seduzir e, acima
de tudo, dilacerando uns aos outros.
 
A frase “O inferno são os outros.” é, certamente, a frase que pontua Entre quatro paredes, peça
escrita pelo filósofo existencialista Jean-Paul Sartre em 1944 e publicada no ano seguinte.
Toda ação se passa no inferno, mas não o inferno ao qual estamos acostumados. Nele, o
jornalista Joseph Garcin, a lésbica Inês Serrano e a fútil Estelle Rigault são levados a um salão
sem janelas, iluminado todo o tempo. Ali são condenados a uma “vida sem pausas”, o que torna a
sobrevivência complicada.

Confinados eternamente, os personagens são seres atormentados pelo próprio passado.


Questões como culpa, responsabilidade, consciência e sexualidade surgem na sala, em conflitos
pela relação de reflexo que há entre eles.

3. Contexto Histórico

A obra de Sartre foi publicada em uma pós-segunda grande guerra e é no contexto de uma Paris
destruída. Foi dessa forma que o existencialismo se popularizou totalmente associada a Sartre.
Porém o fato é que essa afirmação de associação não deveria ser total dada apenas ao pensador
já que o mesmo bebia de fontes e referências de outro filósofo que também referenciava outros
pensadores como por exemplo Friedrich Nietzsche. Apesar de existir pensamentos distintos entre
eles tudo seguiu uma linha baseada a o ser humano em sua concretude.

A base do existencialista é analisar o ser humano em seu todo e não dividido em aspectos
internos (sua mente, cognição e sentimentos) e externos (seu corpo, comportamento e ações).
Embora tenhamos semelhanças com outros seres e alguns objetos, a consciência que temos das
nossas ações e do mundo ao nosso redor é único.

Não poderíamos, assim, tentar entender o ser humano do mesmo modo que compreendemos os
demais seres e objetos do mundo. A existência não é algo que se possa meramente classificar ou
mensurar, pois é um desdobramento ou acontecimento que não se deixa compreender a não ser
sendo um indivíduo.

Encontramo-nos em uma situação na qual o que somos não está predeterminado, mas é antes
resultado das nossas ações. Coloca-se em questão, assim, o propósito do ser humano em um
mundo que não é como deseja ou tenha escolhido.

Essa situação, que consiste geralmente na percepção de uma limitação, é o que gera o


sentimento de ansiedade. As ações passam a ser entendidas como resultados unicamente de
escolhas e não como reações ou reflexos das situações nas quais alguém se encontra.

A autenticidade é uma noção que encontra reflexos e semelhanças em todos os pensadores da


linha existencialista. Ser autêntico seria não se deixar meramente submeter aos valores de uma
sociedade e assumir um lugar na dinâmica social. O cotidiano pode ser uma fuga da nossa
responsabilidade ao fazermos apenas o que é esperado de nós ou o que nos é solicitado, sem
refletirmos seriamente sobre a própria existência.

Longe de recair em libertinagem ou individualismo, autenticidade trata-se da percepção de que o


que somos é constantemente modificado pelas nossas escolhas e de que o modo como vivemos
é um compromisso assumido diariamente.

4. Análise da Obra

Uma das principais quebras de paradigmas que a obra traz logo no começo é a mudança do
nosso imaginário de como é o inferno – um imaginário totalmente medievo e cristão – e inserindo
os 3 personagens Inês, Estelle e Garcin em um local parecido mais com uma sala de estar normal
de uma casa.

E logo nos perguntamos o motivo do qual eles foram parar naquele local. “Qual maldade eles
fizeram?” “Qual a forma inadequada que eles agiram?”. Nesta sala os personagens batem de
frente com questões que os mesmo em vida utilizavam demasiadamente para o seu próprio
éthos/ego, vaidade.

Garcin que era jornalista sempre criou uma imagem de herói sendo que o fato é que era mentira.
Sempre foi um covarde. Estelle por sua vez sempre vaidosa, que na sua história ela assassinou
seu próprio filho após já nascido. A Inês, que é lésbica, acaba sendo uma pessoa mal resolvida.
Não por sua sexualidade, mas em termos de caráter pessoal.

Logo na sala Garcin se depara com uma estatua que passa uma real imagem de herói e aquilo o
tira do sério, por sempre estar olhando pra uma imagem verdadeira de algo que ele sempre fingiu
ser. Já a Estelle tem que viver em um ambiente onde não há espelhos, como isso afeta totalmente
a sua vaidade, pois a ausência do seu reflexo faz com que ela deixe de lado toda futilidade da sua
imagem exterior e precise focar no “inferno” que há dentro dela. E a Inês sofre com toda
contrapartida que há em conviver com essas outras duas pessoas, sendo ela uma pessoa
totalmente amarga, nua e crua.

Os três personagens estão totalmente condenados a estarem se infernizando e se atormentado.


Desta forma o inferno não se resume ao ambiente, local, sala e sim ao estado de espirito que os
três estão. Por isso que em um momento quando há a possibilidade de saírem da sala não
conseguem, exatamente por o estado de espirito deles já ser um inferno. E os mesmos não
podem matar um ao outro exatamente por já estarem mortos.

O existencialismo fala exatamente sobre isso, ele nega qualquer coisa que vem antes do
nascimento e coloca a prática de que tudo é o que criamos.

A frase “O inferno são os outros.” exemplifica a ideia de que a convivência com os outros sempre
vai ser complicado, por os outros enxergarem em nós detalhes ruins que não enxergamos, da
mesma forma que enxergamos erros nos outros que acaba sendo apenas um reflexo de erro que
já temos em nós.

Os três personagens acabam não querendo enxergar totalmente seus pecados por isso sempre
estão crucificando o outro, lembrando uns aos outros dos seus erros e defeitos para poder
esquecer ou amenizar os seus. “Os Outros” são todos aqueles que, voluntária ou
involuntariamente, revelam de nós a nós mesmos. Algumas vezes, mesmo sufocados pela
indesejada presença do outro, tememos magoar, romper, ferir e, a sem querer, os suportamos.
Uma vez que a incapacidade de compreender e aceitar as fraquezas humanas torna a
convivência realmente um inferno. Sartre e seu existencialismo angustiante acaba nos deixando
uma mensagem que, não existe um paraíso se não aceitamos o nosso próprio inferno.

5. Anexos de Imagens

(Jean Paul Sartre)

(Capa do Livro Entre Quatro Paredes em sua edição francesa)


6. Referências Bibliográficas.

Texto dramático Entre Quatro Paredes - Jean Paul Sartre

Preparação dos atores na montagem para a peça Entre Quatro Paredes - Dissertação
Bruno Quirino Peixoto

https://www.academia.edu/42119519/Dissertac_a_o_Bruno_Quirino_Peixoto?from=cover_page

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