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O alvorecer do cético

Aforismos acerca da vida cética e seus devaneios

Por: Renato Fernandes


— Uma série de aforismos sobre a morte, o
conhecimento, o amor e a sociedade —
SUMÁRIO

Capítulo 1: Morte: Pág 4


Capítulo 2: Conhecimento: Pág 29
Capítulo 3: Amor: Pág 52
Capítulo 4: Sociedade: Pág 77
Epílogo: O alvorecer: Pág 99
• Capítulo Primeiro: Morte

1. O cético. — Diferente do que é


comumente pensado; o cético não nega tudo,
ele dúvida.

2. A vida pro cético. — A constante


dúvida sobre as razões e princípios do mundo
do cético, na cabeça de um religioso, se
tornam monstruosas: como tal ser pode viver
tão normalmente sem um deus?

3. Vida eterna como terrena. — A vida


eterna do cético é a sua vida terrena; ele se
sente satisfeito com a ideia de virar pó após a
morte.

4. Dois tipos de suicida. — Existem


dois tipos de suicida: o que vence os prazeres
e por causa do tédio se mata; e o que perde a
habilidade de sentir prazer por conta das
dores da vida e vem a cometer suicídio. —
Me pergunto se todos nós não seríamos
suicidas se não sentíssemos prazer.

5. A Crise. — A maior das crises é


quando nos indagamos o motivo da vida; ela
move todas as outras crises, que se tornam
secundárias à esta.

6. Luto honroso. — O luto só é honroso


caso não te impeça de continuar a viver. Caso
o contrário torna os esforços do morto para te
fazer feliz, supérfluos e vis.

7. O imortal como prisioneiro. —


Quando pensamos em imortalidade, achamos
a ideia boa pois pensamos num alargamento
da vida de mil, talvez dez mil anos; todavia,
se trata de pensar infinitos anos à frente,
tornando o imortal um eterno prisioneiro do
tempo — dele mesmo.
8. Flores para cadáveres, desprezo para
os vivos. — Costumamos nos importar com
alguém só quando a pessoa vem a fenecer, as
entregando flores e caixões adornados de
amor — como se isso bastasse.

9. Religião como salvação. — Nos


apegamos à religião porque ela nos dá uma
continuidade no pós-morte. Podemos nos
aliviar se pensarmos que injustiças serão
compensadas no céu, ou que as pessoas que
amamos estão bem; eis o atrativo brilho da
religião.

10. A Metamorfose. — Se uma doença


te transformar por completo, tirando sua
sanidade, sua capacidade de se expressar, de
amar e até de falar, as pessoas que te amam
vão chorar mais enquanto você estiver vivo
do que quando de fato morrer. — A
metamorfose completa e a morte não têm
muito de distinto.
11. O problema do eterno. — As
religiões pregam o eterno, mas o eterno se
torna problemático por não ter fim. Na crença
espírita se diz que iremos reencarnar diversas
vezes até sermos espíritos perfeitos; após
alcançar a perfeição, teoricamente
auxiliaremos outros espíritos menos
evoluídos — mas e depois? Se você me der
uma resposta decente, te indagarei
novamente: e depois? O mesmo para o
cristianismo ou qualquer outra crença que
tem seus alicerces no eterno.

12. Paraíso e Inferno. — Deus como


ser justo e piedoso seria também extremista?
Não nos daria uma segunda ou terceira
chance? É qualificado como justo um
julgamento para toda a eternidade? Em que o
indivíduo ou sofre, ou se deleita em todos os
prazeres para sempre? São dúvidas cruéis e
sem respostas, igual a majoritária parte das
indagações sobre religião.

13. A morte do artista. — O artista


busca ser eterno a partir das suas obras,
visando que depois que ele morra, tudo que
ele fez seja visto e aclamado. Infelizmente,
alguns não veem esse acontecimento; pois ele
não acontece em vida — ou porque nunca vai
acontecer.

14. Passado paradoxal. — Olhamos


para o passado com saudade e carinho,
achando que ele era melhor que o nosso
presente; mas será que nesse passado não
pensávamos o mesmo?

15. O medo de morrer. — O temor que


sentimos quando pensamos na morte não
passa do nosso instinto mais primitivo vindo
à tona. É um medo ilógico e irracional por
inteiro, sofremos mais em vida do que na
hora de morrer; sentimos mais dor hoje do
que no momento que os nossos olhos se
fecharão e então faleceremos. Logo, não há
motivo para sentir medo de um gato
doméstico quando diariamente se enfrenta
leões.

16. Ciclo distópico. — Ame e seja


morto, morra e seja amado.

17. Sopros humanos. — A vida não


seria um sopro se nós mesmos não a
assoprássemos.

18. Morte prematura. — Existirão


pessoas que vão te amar, te cumprimentar, te
abraçar, te questionar e até te machucar; e
nada disso vai te dar a certeza de que essas
pessoas realmente estejam vivas. Agir como
um vivo estando morto é mais fácil do que
parece.
19. Eterno retorno. — A ideia do eterno
retorno foi criada como um ponto de partida
para a autorreflexão; porque não vivemos
pensando que vamos reviver essa vida
eternas vezes, mas e se revivermos? Ela vai
valer a pena ser vivida? Ou só vai ser um
castigo tão duro como o Inferno?

20. Uma filosofia morta. — Qual a


veracidade de uma tese quando seu próprio
criador não a segue à risca? Um filósofo que
não crê no que diz — que não segue a própria
filosofia — vai ter apenas teses mortas, livros
sem valor, palavras sem cor.

21. A arte como auxiliadora para


aceitar o fim. — A arte é a melhor ferramenta
para se aceitar a morte. Com ela podemos
perceber com muito mais facilidade que faz
parte do processo, que é necessário.
Dependendo dos artistas que o indivíduo
consuma, a morte pode até se embelezar aos
olhos do mesmo. Ele vai perceber que não
existe libertação maior do que viver e no fim
poder ter um descanso sereno e eterno.

22. O fim do soldado. — Morrer


lutando na guerra é uma das mortes mais
filantrópicas que existem. Não existe
filantropia maior do que perecer pela sua
pátria — que consiste em abnegar tudo e
arriscar sua vida por estranhos, por uma
bandeira. Mesmo que os soldados que
morram, estejam forçados a estar ali, não
muda o sacrifício feito; já que estes poderiam
se refugiar com suas famílias para evitar a
guerra (como muitos fazem); porém,
preferem lutar; mesmo sabendo que a morte é
o resultado mais provável; mesmo sabendo
que dinheiro nenhum compensa o risco
imposto; mesmo sabendo que enquanto são
disparados tiros contra ele, os superiores da
sua pátria estão seguros em algum lugar
longe daquele.
23. O soterramento dos espíritos
contemporâneos. — Antigamente, poucos
homens podiam ser considerados
extemporâneos; entretanto, quase todos eram
contemporâneos. Hoje, o homem
extemporâneo entrou em extinção e os
contemporâneos estão soterrados debaixo de
velhos retrógrados.

24. O erro de Zaratrusta. — O erro do


Zaratrusta foi não perceber que aquelas
moscas do mercado seriam suas sucessoras;
aquelas venenosas e pequenas moscas do
mercado.

25. A ingenuidade de Nietzsche. —


Nietzsche não percebeu que o mesmo seria o
mais perto do além-homem que o mundo
veria. Ele tinha ingenuidade o bastante para
crer veementemente que os homens do futuro
poderiam ser os fins dos homens, que até
então tinham sido meios. Mas que homens do
futuro? Eu só vejo homens mais arcaicos que
os que Nietzsche conhecia no entorno —
homens do retrocesso. Poderia eu esperar
alguma mudança nos próximos séculos?
Parece que a humanidade só tende à queda,
parece que ela está destinada à queda...

26. O pessimismo de Schopenhauer. —


Nietzsche, no livro "Além do bem e o mal"
faz a seguinte indagação:

"[...] E é bom lembrar que Schopenhauer,


ainda que fosse pessimista, era antes de mais
nada: flautista... Tocava todos os dias, depois
do jantar, se consultarmos a seu respeito o
seu biógrafo. E então perguntamo-nos: um
pessimista, um renegador de Deus e do
mundo, que se detém frente à moral e toca
flauta à moral laede neminem [ofender
ninguém] é, tal pessoa, pessimista?"
Schopenhauer não seria um grande realista?
Nietzsche na citação supracitada quis mostrar
que mesmo o homem mais antivida que já
pisou na terra tinha seus momentos felizes.
Acredito, inclusive, que o próprio
Schopenhauer teria cometido suicídio se não
acreditasse que existe felicidade em viver —
mesmo que pouca. Deveríamos chamar o
mesmo de "demasiado realista e rancoroso";
mas nunca, de "pessimista".

27. Morte ao ascetismo! (a morte do


que nunca esteve vivo). — O ascetismo
completo é uma utopia. Você pode até largar
alguns prazeres; entretanto nunca poderá
largar todos; pois o homem precisa sentir
prazer para permanecer vivo. O que os
autodenominados ascetas fazem, é ver prazer
em fontes que antes não se via, como na
fonte do conhecimento.
28. Vivendo como um morto. —
Trabalhar incessantemente, não ter tempo
para si; é viver estando morto; é morrer
estando vivo.

29. O sentido da vida. — A sociedade


cobra dos indivíduos que eles tenham um
sentido, o sentido que ela quer que eles
tenham. Puseram como certo que o sentido
da vida precisa ser: estudar, trabalhar, se
casar, ter filhos, trabalhar e morrer
trabalhando. Uma pessoa é realmente a
errada por viver simplesmente sendo
humana? Não como máquina, não como
deus; simplesmente como um ser humano.

30. Usufruindo do destino. — Partir


sorrindo é saber que a vida fez sentido, que
você verdadeiramente foi feliz — e que sabe
abnegar de tudo quando chega a hora de ir
—; faz parte do processo deixar o prazeroso
quando chega a hora. Não ser eterno é o que
faz a vida ser de fato prazerosa.

31. Alguns. — Alguns nascem para


narrar, outros para falar, uns para escrever,
poucos para amar, muitos para serem
amados, grande parte para trabalhar, outros
tantos para viver; mas todos para morrer.

32. Fim da seleção natural de Darwin


na sociedade. — Desde que a sociedade
consolidou o Estado, nós perdemos as
vantagens que antes tirávamos da seleção
natural. No momento que temos a proteção
garantida desde o nascimento, se torna inútil
que continuemos a nos adaptar para
sobreviver — se torna inconveniente; para
que aprimorar nossa fisionomia para fugir de
potenciais perigos? Para que usar nossas
perspicácia para sobreviver o máximo de
tempo? Para que ser inteligente se o não ser
te deixa igualmente vivo? Nos antigos ainda
existia certo esforço sobre essas questões —
eles tinham que manter a sociedade com as
próprias mãos —; mas hoje temos a
tecnologia... Temos toda a facilidade do
mundo moderno, que está dizimando
milênios de evolução, de esforço.
Emburrecemos porque não existe a
necessidade de ser inteligente — nem a de
saber, já que a Internet nos dá tudo de
bandeja. Nos tornamos fracos e dependentes
e não percebemos; continuamos a decair
como se fosse o caminho normal da
evolução. Onde iremos parar? Penso que as
respostas tendem ao colapso; se não for da
humanidade, será do nosso — último
resquício — de racionalidade.

33. Nossa relação com o tempo. —


Desprezamos o tempo por toda a vida, o
julgando como se fosse sem valor ou infinito;
mas qual homem no leito de morte não daria
tudo por mais um ano de vida? — Por mais
alguns dias? Até o suicida desesperançoso se
arrepende quando pula, mesmo sendo tarde;
mesmo não tendo mais motivos. No fundo
ele ainda queria viver, só que sendo um
pouco mais feliz. Sabemos que o tempo é o
bem mais precioso que temos; mesmo assim
sempre o descartamos primeiro — como se
fosse eterno...

34. Condenação dos abastados. — Os


abastados estão condenados à infelicidade;
porque não haverá mais nada que os satisfaça
— eles já compraram tudo.

35. Se precavendo da morte. —


Existem pessoas que incessantemente se
previnem da morte, com dietas rigorosas e
exercícios incessantes; mas se essas práticas
não as trazem prazer e elas as praticam em
profusão — isso não seria desperdiçar a vida?
É visível que muitos temem a morte e se
previnem contra ela o máximo possível — e
isso não seria desperdiçar a vida em prol do
inevitável? Não seria... jogar fora para quem
sabe recuperar e sair do negativo?

36. O verdadeiro túmulo. — Que


homem que buscou o conhecimento até o
último dia gostaria de ver sua carcaça sendo
honrada? — Os cemitérios o repugnam;
porque são só corpos sem mais vigor que
foram postos em caixões ornados que ficarão
abaixo da terra — fora da vista de todos. Seu
verdadeiro cemitério é o conhecimento que
transmitiu, tudo que este escreveu e deixou; e
não há maneira melhor de honrar um amante
do conhecimento do que apreciar tudo que
este aprendeu e dominou — todo o esforço
de sua vida sendo amante do intelecto.

37. O castigo de Sísifo. — Sísifo foi


condenado por toda a eternidade a rolar uma
pedra ao topo de uma montanha; e quando
esta chegasse ao topo, desmoronaria e
voltaria ao começo, o fadando ao eterno
trabalho. — Não seria esse mito, um reflexo
do que somos hoje? Fadados ao trabalho
incessante e imparável; ao rolar a pedra e ela
sempre voltar ao início... — Uma vez que
nem castigados estamos sendo...

38. Vida na idade média contra a vida


atual. — Antes, os antigos viviam por 30
anos; já hoje... — vivemos por 20 e
sobrevivemos por 50. Esses antigos da idade
média realmente sabiam viver melhor;
mesmo com as pragas sem solução da sua
época, como as doenças — isso, porque eles
aproveitavam a saborosa e curta vida; sem
trabalhos que não fossem além do necessário
para sobreviver; sem deuses que te fazem
odiar a vida terrena — pelo contrário, o que
os deuses desses amavam, era com certeza o
terreno! Se nos espelhássemos mais no modo
de viver dos antigos, como viveríamos bem!
Se estes com as tragédias e sangrentas
guerras, bem viviam; imagine se não
tivessem tantos obstáculos pelo caminho...

39. Eternizando com a escrita. — Se


deseja eternizar algo, escreva sobre. As
memórias se distorcem com o tempo; mas as
palavras continuarão as mesmas.

40. "Os bons vivem mais que os maus."


— Essa afirmação não poderia ser mais
errônea. O que acontece, é que o mal se
apresenta em uma profusão maior que o bem
— e é muito mais reconhecido do que este...

41. Vivendo para manter a imagem. —


Muitos são os que vivem para agradar, e não
para viver. Um indivíduo que vive para
melhorar a imagem e por conseguinte ser
bem lembrado, é alguém que desperdiça a
vida visando ser amado quando morrer —
sendo que ele nem vai estar vivo para ver sua
imagem sendo apreciada —; se ao menos
tivesse vivido para si... poderíamos dizer que
este foi feliz e ainda conseguiu ser bem
lembrado depois da morte — mas seria isso...
possível?

42. Quando um gênio morre. —


Quando um grande gênio nos deixa, a
humanidade perde muito mais que um
homem — perde uma fonte quase inesgotável
de conhecimento, criatividade, inventividade,
habilidade e todas as outras qualidades que
são pertencentes das grandes mentes.
Perdemos muito mais que um diamante —
perdemos uma das maiores e mais frutíferas
minas de diamante.

43. Valor do efêmero. — Qual seria o


valor da vida se eternamente vivêssemos? O
que seria o homem se a morte não fosse seu
destino? Respondo-te com concisão: nada
além de um poeta sem papel e caneta.
44. Diversas mortes. — Morremos
centenas de vezes ao longo da vida: quando
nos magoamos, nos ferimos, nos
decepcionamos; até quando do mais fundo
dos abismos nos reerguemos.

45. Fim de um sonho. — Dependendo


do sonho e de quanto o indivíduo o
considere, destruir esse sonho pode significar
matar o seu devido sonhador.

46. Deus de Spinoza. — O Deus mais


razoável de se existir; pois esse não seria o
criador — seria a criação. Nós, as árvores, os
planetas, os cosmos; seriam todos esses o
Deus de Spinoza; sem perfeição, sem
Inferno, sem propósitos ulteriores... —
apenas a existência no seu mais puro e
imperfeito todo.

47. A resposta mais almejada é a que


não tem solução. — O que ocorre após a
morte tem sido o maior alvo de estudo do ser
humano desde que nos tornamos racionais.
Tentamos achar uma resposta, mesmo que
saibamos não existir tal; continuamos
buscando e tentando solucionar o maior
mistério da humanidade — o mistério sem
solução: o que de fato acontece depois da
morte?

48. O ateu. — O ateu, no fundo, é o


mais religioso dos homens.

49. O problema na proposição de


termos sido criados por Deus. — A
problemática em se dizer que fomos criados
por Deus, é não pensar no ponto crucial dessa
afirmação: o porquê dele ter nos criado. Qual
a necessidade que uma entidade teria em nos
criar? Nos despejar num mundo e declarar
que temos que ser perfeitos — sendo que isso
pela lógica não seria possível, já que um ser
imperfeito não pode se tornar perfeito, tal
qual um ser perfeito não pode se tornar
imperfeito. Posso pressentir o
contra-argumento dos cristãos, dizendo que
não precisamos ser necessariamente
perfeitos, basta sermos bons o bastante para
adentrar o Paraíso — e de novo minha mente
se enche de indagações e dúvidas. Como, por
exemplo, o questionamento se é possível
entrar no Paraíso — visto que até o melhor
dos cristãos cometeu diversos pecados em
vida — o tornando teoricamente inapto a um
lugar tão perfeito e idílico como o Reino dos
Céus. Outra dúvida também, que arquitetei
enquanto adentrava o âmago da existência; é
a questão do motivo da existência de tais
antíteses como Céu e Inferno; por mais que
tenha dito isso no §12 deste capítulo, volto a
reforçar minha dúvida. — Não seria extremo
demais basear uma única chance de viver
para determinar se o ser vai ter o deleite ou
sofrimento eterno? — Melhor, Deus nos faria
melhorar para depois nos deixar no Paraíso?
Qual seria o objetivo Dele com isso? Nos
induzir a melhora simplesmente para... ter
prazer? — Isso não vai contra a própria
doutrina asceta que o cristianismo propõe? E
mesmo se eu pressupor que tais antíteses
existam; me indago qual seria o destino de
uma criança que morreu logo quando
nasceu... ela não teve tempo de pecar, então
vai pro Céu? — Isso não seria injusto com
quem viveu uma vida inteira? Ou então ela
iria pro Inferno por não ter se batizado e por
conseguinte ter o "Pecado Original" na alma?
— Isso também não seria igualmente injusto
com essa alma, já que os outros puderam se
purificar e ela não? Deus é justo; entretanto,
toda nossa existência é o oposto. Um
indivíduo que cresceu numa família boa,
cristã; e por isso teve um bom
direcionamento às boas maneiras, não teria
uma chance muito maior de ir ao Paraíso do
que um indivíduo pobre que desde cedo foi
obrigado a ser um criminoso? Outra dúvida
genuína é se mesmo que Deus tenha um
propósito para ter criado a gente (o que
sinceramente, acho bem difícil); Ele já não
poderia nos ter feito perfeitos? Você pode
contra-argumentar que não seríamos perfeitos
de fato pois não teríamos conhecido o mal,
logo seríamos facilmente corruptíveis — mas
essa proposição é errônea; baseando-se nas
religiões cristãs (ou espírita) que temos um
Deus onisciente, uma entidade totalmente
perfeita e que de tudo pode fazer; Ele poderia
sim nos criar já perfeitos de modo que não
fôssemos ingênuos — mas não o fez... Nos
deu uma existência que visa um lugar
sagrado que promete o deleite eterno —
sendo que a própria religião repudia a busca
pelos prazeres. E no caso da espírita, que não
tem Céu e Inferno; também se torna duvidosa
por causa da origem; do porquê Deus nos
criou. Ele não poderia... — ficar sozinho?
Não poderia... — nos fazer perfeitos?
50. Mensagem dos mortos. —
Andando pelo cemitério, ouvi um gongo
badalando impetuosamente; comecei a
desenterrar o caixão com uma pá que estava
próxima — pensando que poderia ter sido um
engano. Quando abri o caixão, vi o cadáver
pálido — morto; na tampa do caixão estava
escrito: "Guerra na Terra, amor na terra."
Naquela hora eu entendi o que ele queria
dizer, o recado desse invejável cadáver.
• Capítulo segundo: Conhecimento

51. Homem do conhecimento. — Essa


espécie, tão rara nos dias de hoje, é também a
mais valiosa que podemos ter. O alvorecer
nasce, e com ele, os olhos dessa grande
espécie brilham. Apreendem o conhecimento
na escuridão e o disseminam na luz quando
este estiver maduro; o problema é: o
alvorecer está cada vez mais escasso. A luz
antes rica e iluminada, agora é um poço de
nada — de melancolia. Os homens do
conhecimento passam a viver mais recônditos
do que no lume, porque a luz está sumindo,
fenecendo. "Mudança!" Eles arduamente
exclamam; mas eles sabem que é em vão.
Falta pouco para essa bela espécie viver
apenas nas cavernas, na escuridão; porque
logo não haverá nenhuma luz — nem ouvinte
— para tamanha razão.
52. Conhecimento. — O conhecimento
liberta porque ele é real e inesgotável;
enquanto sua mente estiver sadia e você
permanecer estudando, o conhecimento
permanecerá. Você pode indagar: "Mas se ele
é tão bom, tão libertador, por que é tão
menosprezado, tão ignorado?" Bem... as
pessoas cada vez mais desaprendem a
valorizar o que liberta — o que é real.

53. Um dom, uma maldição. — O


conhecimento exaure, por isso sempre estou
exaurido.

54. Benção para a multidão, veneno


para uns. — A ignorância é uma benção para
quem quer viver uma mentira e um veneno
para quem quer encontrar a verdade.

55. Ilógico. — Se não houve lógica no


meio não haverá sentido no fim.
56. Religião como conforto. — A
religião conforta aqueles que não são
obcecados pelo conhecimento.

57. Ingênuo entendimento. — Se você


entendeu a vida, você entendeu errado.

58. Carcaça de Aquiles — do homem.


— Maldita seja minha mente! Que não
suporta meu tamanho intelecto...

59. Indagação justa. — Eu respiro a


filosofia como um homem respira o ar; me
indago como poderia estar vivo antes de
conhecê-la.

60. Regra universal. — Existem


palavras que as almas tolas não podem — e
não devem — ler.

61. Voz em forma de ruído. —


Infelizmente minhas palavras recheadas de
lógica se deturpam nos ouvidos dos
ignorantes e se tornam destituídas de razão.

62. Consequência grave. — Se abster


do seu potencial total é pedir para que o
limite imposto se torne seu novo máximo.

63. Conhecimento como prazer eterno.


— O conhecimento difere dos outros
prazeres por não se chegar ao fim, não se
pode possuí-lo por completo. Logo, para
quebrar a oscilação mostrada por
Schopenhauer, basta se tornar adepto do
conhecimento.

64. Livros ao em vez de amigos. —


Alguns séculos para trás, provavelmente eu
diria que é melhor ter uma boa discussão com
um amigo do que ler um bom livro. Todavia,
hoje, o contrário parece uma ideia melhor;
porque as pessoas emburreceram, e os
antigos livros ainda permanecem os mesmos.
65. Excesso. — O excesso de
conhecimento é tão prejudicial como
qualquer outro vício. Por isso é preciso
maneirar nos estudos para se permitir ficar no
estado de ócio por um tempo. Caso contrário,
o cérebro se sobrecarregará e tudo que você
tentar aprender não vai ser retido e
consequentemente será um esforço pífio.

66. A queda do intelecto exemplificada.


— Um gênio do pretérito com certeza se
destacava na sua época; mas se o mesmo
fosse teletransportado para a atualidade (e se
adaptasse rápido com as tendências, sem ser
corrompido pela sociedade atual) ele
provavelmente se tornaria uma espécie de
deus, pois estaria quilômetros a frente do
maior gênio do nosso presente. — Não
precisa de muito para ser um gênio
atualmente.
67. A queda do intelecto comprovada.
— Se o maior dos gênios atuais fosse para o
passado, ele provavelmente seria acima da
média; já hoje... — ele é gênio.

68. Contradição entre idade e mente. —


Existem sábios da vida que são pobres do
intelecto. Por outro lado, existem também
sábios do intelecto que são pobres da vida.

69. O alvorecer. — Todo cético, que


por conseguinte será também um homem do
conhecimento, em algum momento no
decorrer da sua vida encarará a profundidade
do conhecimento, até que este enfim o
consumirá. Nessa hora então, o homem do
conhecimento se encontrará no mais escuro
dos abismos, no mais profundo deles — no
mais infinito. Quando estiver totalmente
coberto pela escuridão, o homem do
conhecimento afirmará: "Finalmente o
encontrei! finalmente o enxerguei! Meu belo
destino."

70. Sobre a Verdade. — Concordo com


a máxima "não existem verdades absolutas."
(claro, se tratando do âmbito das palavras,
das morais; não sobre a realidade física);
todavia, uma verdade não precisa ser absoluta
para ser verdade. O que quero dizer, é que
nós ao longo da vida criamos nossas
verdades, nossas máximas, nossas morais; e
com elas formamos nosso caráter e gostos.
Elas serão nossa certeza, mesmo que não
sejam de fato uma; por isso que afirmar uma
inutilidade acerca do conhecimento, por não
se poder alcançar a Verdade — por ela não
existir — é tolo. O conhecimento abre a
possibilidade de mudança para essas nossas
verdades, com o auxílio da descoberta de
fatos (a Verdade física) e de novas
perspectivas, possíveis apenas aos homens do
conhecimento — por serem os únicos que as
buscam. Não podemos alcançar a Verdade em
si; mas podemos alcançar a nossa verdade,
para isso se precisa do conhecimento; ele será
a única ferramenta que fará a sua verdade ser
ao menos similar com essa Verdade absoluta
inexistente.

71. A beleza do aforismo. — O


aforismo foi deixado de lado nos últimos
séculos; foi rapidamente reavivado no século
XIX pelo Schopenhauer e logo em seguida
pelo Nietzsche, mas depois veio a
desaparecer. Os aforismos são
menosprezados, porém, não deviam ser. Se
um escritor quer seguir a máxima de falar em
dez páginas o que os outros dizem — ou não
dizem — em um livro, existe maneira melhor
de fazer isso do que escrever
aforismaticamente? O aforismo traz beleza;
faz o escritor falar muito com pouco; faz do
raso, profundo — e do profundo, um abismo.
Mas pensando bem... os escritores
contemporâneos têm sequer algo para
poderem aprofundar? — Eles têm sequer
algo para... falar?...

72. Sobre os escritores


contemporâneos. — Eu sei que existem
escritores bons; mas eles estão ofuscados por
essa névoa soturna que cerca a humanidade; a
névoa da ignorância, do fácil, do mágico. É
muito mais fácil ler um livro que promete mil
e uma coisas com mentiras (que nitidamente
são mentiras — mas quem sabe se pensar o
contrário deixe de ser, né?) do que ler livros
íntegros, com ensinamentos; não com
caminhos fáceis dados de bandeja —
caminhos assim não existem. Os escritores
estão virando reflexo da ignorância, da
decadência; dizem muito e no fim não
disseram nem uma palavra, nem uma sílaba...
Os verdadeiros escritores estão recônditos na
caverna de todo seu saber; porque eles não
veem mais esperança de disseminar esse
saber para as pessoas — elas se tornaram
surdas...

73. Conhecimento real. —


Conhecimento real, o jeito de amar o
conhecimento. Consiste em analisar o que
deve ser universalmente sabido, considerando
a sua importância na vida humana; e analisar
o que seu coração deseja saber — o que sua
paixão anseia por aprender. Juntando esses
dois se formará toda a extensão do
conhecimento real — o verdadeiro
conhecimento.

74. Usando todo o potencial. — Só


usaremos nosso intelecto com todo o seu
potencial e seremos felizes se seguirmos essa
máxima: conhecimento real.

75. Ofício da filosofia. — Qualquer um


pode ser filósofo; mas são poucos os que se
aventuram a esse belo ofício intelectual —
ele assusta.

76. Imergindo na ignorância visando a


catarse. — É preciso se aventurar no âmago
das crenças esdrúxulas e ignorantes para
poder entendê-las, rebatê-las, e assim evitar
esse mal futuramente — a catarse só pode ser
feita se primeiro você rolar na lama, e depois
apreender a noção completa do que é um
bom banho.

77. Melhoradores da humanidade


divinizados. — Esses não querem ser vistos
como deuses; eles querem ser ouvidos.
Passamos mais tempo exaltando e
endeusando esses melhoradores que
detestariam tal atitude do que ouvindo seus
ensinamentos — não os pomos em prática
porque perdemos o tempo endeusando-os.
Que tipo de alma que buscou e disseminou
todo o seu conhecimento iria preferir ser um
deus do que ser ouvido? — Que tipo de deus
seria esse...

78. Falsos intelectuais. — Existem


pessoas que memorizam enciclopédias e
dizem ser gênios; por que seriam? Não
adianta memorizar se o conteúdo não foi
entendido — e se só será usado como meio
de ostentação, não de estudo.

79. A onisciência. — Se pudéssemos


escolher saber tudo, escolher tal opção seria
loucura. Qual seria o propósito da vida se de
tudo soubéssemos?

80. Homem do conhecimento de


poucos amigos. — Uma triste sina para o
homem do conhecimento é estar fadado aos
poucos amigos; pois seu conhecimento o fez
ser extremamente seletivo na hora de
escolher suas amizades; já que poucos são os
intelectuais igual a ele que existem — como
não seria seletivo?

81. Reflexo da vivência na filosofia. —


A vivência molda os pensamentos dos
filósofos. Só você perceber que
provavelmente se Nietzsche não tivesse tido
uma vida de sofrimento e de doença, ele
talvez não tivesse sido um filósofo tão
agressivo, tão conciso — tão belo. Ou então
pensar que o Rousseau nunca teria dito que a
sociedade corrompe o homem
(bom-selvagem) se o mesmo não tivesse
visto sua própria corrupção.

82. O sábio que vira louco. — Haverão


pessoas que invalidarão toda a filosofia de
um sábio caso ele se torne louco — mesmo
que ele tenha dito as palavras mais lúcidas
que a humanidade já ouviu.
83. Sobre a presunção dos filósofos. —
Qualquer filósofo que disser o que pensa de
forma direta e concisa, será acusado de ser
presunçoso. As pessoas acham que os
filósofos querem se passar de donos da
Verdade, simplesmente por dizerem no que
creem de forma direta — mas como um
filósofo poderia crer ser dono da Verdade?
Logo o filósofo... esse devoto do ceticismo.

84. A lógica aplicada na vida. — Existe


um erro imenso em aplicar a lógica na sua
forma mais pura quando se trata do convívio
em sociedade — quando se trata da vida.
Para ser efetivamente lógico nesses
momentos, precisa-se inserir o ilógico no
lógico, visando alcançar a lógica da vida —
tendo em vista que tudo que se trata de
pessoas, é por conseguinte ilógico; e haveria
ilógica maior do que ser totalmente lógico
com uma essência ilógica por natureza?
85. Teoria contra prática. — Um
estudante da teoria, por mais que se empenhe,
nunca terá o mesmo entendimento sobre certa
coisa do que o que pratica. O estudante pode
até saber mais nomenclaturas; saber explicar
melhor; mas só o praticante vivenciou a
essência, foi até o âmago; este é o verdadeiro
entendedor — o verdadeiro vivenciador.

86. Exílio. — Para o homem do


conhecimento, o exílio é essencial para pôr
suas ideias no lugar. Faz parte dele a solidão
proposital, ele precisa desse tempo para
ruminar suas concepções e desenvolvê-las.
As pessoas normalmente não suportam a
solidão, elas rapidamente se desesperam e
voltam para as multidões; já o homem do
conhecimento, depois que confirma ou
visualiza uma tese — ele se desespera na
multidão e o mais rápido possível foge dela,
voltando ao seu tão amado exílio.
87. Asas de Ícaro. — A nós — o Ícaro
— foi dado o conhecimento — a asa — para
voarmos livremente; porém, se subirmos
demais, o conhecimento vira arrogância e por
conseguinte, vira ignorância — o calor do
sol.

88. Efeito Dunning-Kruger. — Saiba


pouco e sinta que sabe tudo; saiba muito e
sinta que não sabe nada. — Eis a explicação
do porquê a ignorância é mais disseminada
que o conhecimento.

89. O segredo dos bons escritores. —


Estes não escrevem — fazem as palavras
dançarem.

90. O porquê é difícil escrever


filosofia. — Não se trata apenas de
transcrever pro papel seus pensamentos; se
trata de organizar a sua filosofia, de forma
que esta fique entendível e faça sentido para
o leitor e para atingir o objetivo do filósofo.
Se simplesmente copiássemos os nossos
devaneios, eles ficariam desconexos, soltos
— ilógicos. Por isso que a missão de um
filósofo de passar para o papel tudo que este
quer dizer é tão difícil, precisa-se de muito
mais que caneta e mente — precisa-se de
método.

91. A maldição do homem do


conhecimento. — A maldição deste é ser
sempre chamado de presunçoso por aqueles
que não são seus semelhantes. As pessoas
odeiam os amantes do conhecimento e
acusam estes de serem arrogantes quando
dizem o que sabem — fazem isso apenas por
não terem o mesmo tanto de conhecimento.
Mas... — a inveja não seria um mal pior que
a arrogância? E não reconhecer sua inveja
não seria por si só, arrogante?
92. Um mestre ruim. — O pior dos
mestres, é o que mesmo tendo milhares de
discípulos, nunca transforma nenhum deles
em mestre.

93. O homem sem mestre. — Este


precisa ser o mestre, o aluno, o ensinamento
e a ação; pode-se falar que o processo será
mais penoso — e realmente será — mas se
este superar as dificuldades... — será o maior
dos homens.

94. Ser gênio numa área ou medíocre


em várias? — Se tiver que escolher entre
essas opções, opte sempre por ser medíocre
em várias áreas; porque, nesse caso, se uma
área lhe for tirada (seja por alguma doença,
por falta de motivação, por falta de
oportunidade etc) você ainda terá várias
outras para se aventurar — situação que não
ocorre se em uma área você muito souber,
mas nas outras nenhum conhecimento tiver.
95. A estranheza percebida nos gênios.
— Estes são uma vênia na sociedade; agem
de um modo distinto da maioria — e essa
quebra do padrão, que faz de um homem,
gênio —; modo distinto esse, que sempre traz
as peculiaridades vistas nos gênios, os
fazendo ver além da ótica humana — além da
muralha mental que cerca os homens. Os
gênios só são vistos como estranhos ou
loucos, porque são a minoria; e nunca há um
real esforço para entendê-los no âmago
(exceto quando estes conseguem mostrar sua
grandeza, caso o contrário...); mas se não
fossem por essas grandes mentes, o mundo
— e principalmente a espécie humana —
ainda estaria estagnado nos seus primórdios
mais animalescos... — ainda seríamos
nômades que caçam para sobreviver.

96. A junção do poeta e do filósofo. —


Apenas o homem que dominar a arte de
expressar e entender os sentimentos, e a arte
de expressar e entender a lógica e a razão,
que será o verdadeiro gênio — que será o
mais próximo do homem apoteótico.

97. "Conhece-te a ti mesmo." — Saiba


quem és no âmago, e todos os símbolos
indecifráveis se tornarão histórias para
crianças.

98. O livro perfeito. — A perfeição


literária será, a que souber equilibrar o
dionisiaco e o apolineo, o vinho e a lucidez; e
com esse equilíbrio, fazer a mais perfeita das
obras; a que te embriaga e depois cura sua
ressaca; a que mata e renasce. Poucos são os
que chegaram perto de tal perfeição:
Hölderlin, Goethe, Nietzsche e até Kafka
talvez sejam os que mais se aproximaram de
tal façanha; mas hoje... hoje até a escrever
desaprendemos, quiçá fabricar uma obra que
beire à perfeição — fabricação essa, que
esses exímios escritores com tanta maestria
fabricavam.

99. Os personagens de um livro. — Os


personagens que um escritor cria, no fim são
reflexo das pessoas que ele conversou, amou,
odiou e até endeusou.

100. O sábio e o sofista. — O sábio,


chegando à praça pública que estava lotada,
começou a palestrar sobre o mundo; disse
que aqueles ali presentes deviam focar no
conhecimento, não no boêmio; disse que
existia muito deleite em ser adepto à tal
ofício; disse sobre os problemas da vida;
explicou e aconselhou sobre o amor, a morte,
o conhecimento, a sociedade, a velhice, a
felicidade e por fim contou sobre como
deveriam prosseguir para encontrarem um
sentido no dia a dia. Quando o sábio
terminou, percebeu que eram poucos os que o
ouviam — menos ainda os que o notavam.
Recebeu poucos aplausos e logo os poucos
ouvintes tinham se dispersado de volta à
rotina naquela grande praça. Um sofista, que
tinha escutado suas palavras, rapidamente se
lançou ao centro da praça para começar o
discurso; com suas palavras rebuscadas e
jeito ardiloso, disse tudo que o sábio tinha
acabado de falar — mas usando sua
persuasão de demagogo e palavras recônditas
em dicionários — rapidamente encantou o
grande público, que o ouvia atento e em
êxtase — como se ouvissem um sábio.
Quando este terminou, recebeu aplausos e
gritos, foi louvado como profeta, amado
como os céus, presenteado como um deus. O
sábio, que se encontrava no canto, se
entristeceu e se retirou aos passos fúnebres
— mesmo já tendo vivido essa mesma
história centenas de vezes. O público festejou
pelas palavras e no fim o silêncio tomou o
ambiente, no fundo sabem que não têm
motivos para comemorarem — eles não
entenderam sequer uma palavra — todavia, já
foi o bastante para o sofista achar seus novos
adeptos e seguir sua caminhada, enquanto é
louvado como "O grande profeta".
• Capítulo terceiro: Amor

101. A necessidade do amor como ato


egoísta. — Necessitamos do amor com tanta
avidez por causa da superficialidade das
outras relações, que mesmo sendo agradáveis
nunca chegam a ser de fato exclusivas.

102. Amor verdadeiro. — O amor só


vai se diferenciar da paixão quando for
duradouro e puro. Em outras palavras: só
quando for maior que os desejos carnais.

103. Traição no olhar. — Olhar


alguém e desejar essa pessoa enquanto
namora pode ser considerado traição. Porque
desgasta seus sentimentos em relação ao seu
par atual, o que fenece a paixão
inconscientemente.
104. O problema do amor. — O que
torna o amor um grave problema, é que nós
não amamos com a razão, mas sim com o
coração. Nosso coração não consegue
discernir se uma pessoa é boa ou má por
dentro, ele apenas vê a carcaça. Logo, as
pessoas que amam prematuramente alguém,
sem conhecer a fundo o seu amor — o que
acontece com bastante frequência; ficam
cegas e não veem a verdadeira face de quem
amam, ficando expostos a traições,
manipulações e quebras de expectativa
quando a paixão diminuir.

105. Atração sexual. — O amor não


existe sem a atração pela aparência. Amar
alguém sem achá-lo atraente é condenar o
fim antes do começo (mesmo na velhice, é
necessário achar seu parceiro minimamente
atraente para permanecer com ele; é
necessidade do instinto).
106. Velhice. — Permanecer com uma
pessoa mesmo depois da velhice talvez seja a
atitude mais madura que se pode ter. Já que
para isso é necessário deixar os prazeres
juvenis de lado e reconhecer que faz parte do
amor não amar tão intensamente como se
amava. Perceber que a risada, o jeito, a
personalidade do seu amor vale mais do que
qualquer prazer sexual que se possa ter;
perceber que é preciso deixar o instintivo em
segundo plano para encontrar uma união
estável; perceber que é mais feliz ter um
alicerce sólido do que um prazer intenso mas
inconstante.

107. Adição, não complemento. — Seria


ingênuo e errôneo dizer que há como se
entender totalmente. Porém, podemos nos
entender parcialmente. De modo que nossos
relacionamentos, tanto amorosos como de
amizade sejam uma adição ao seu Eu
maduro, e não um complemento; porque a
adição caso for retirada não afetará seu
âmago, sua essência (entende-se adição como
um extra, um bônus, que pode até fazer falta
pela comodidade que causava, mas não é
essencial para você, não te impede de
funcionar.) Já o complemento, caso for
retirado te impedirá de prosseguir; pois você
se juntou àquele relacionamento estando
imaturo, estando incompleto. Por isso se
tornou necessário ter aquela relação na sua
vida, se tornou uma dependência... Uma
dependência emocional.

108. Jardim de rosas. — Se apaixonar


equivale a escolher uma rosa de um jardim e
amá-la mais que as outras. Nesse amor cego e
veemente, você se esquece que rosas têm
espinhos e sem pensar duas vezes agarra a
sua amada rosa. Basta ser sortudo o bastante
para que a sua rosa seja um — erro da
natureza.
109. A inexistência da ambivalência.
— Não se pode amar e odiar alguém ao
mesmo tempo. O que pode acontecer — e
acontece com certa frequência — é odiar o
amor que você sente por aquela pessoa, ou
amar o ódio que você sente por ela. Todavia,
isso está longe de se adequar ao significado
de ambivalência.

110. A beleza do caráter. — Para a


pessoa madura emocionalmente, a maior
beleza que ela vai ver no outro vai ser seu
caráter. De modo que quando percebe que
alguém tem integridade, é bondoso, gentil,
meigo, de fato uma boa pessoa; ela vai
achá-lo igualmente lindo por fora. O
problema é que carecemos de pessoas
maduras.

111. A paixão. — Você saberá que o


que sente é paixão quando olhar nos olhos de
uma pessoa e sentir o coração acelerar;
quando ela sair e você subitamente sentir sua
falta; quando ela lembrar de você e o seu
sorriso aparecer instintivamente, como um
impulso. Então você poderá dizer: "Essa é a
pessoa que eu amo, essa é minha bela
paixão."

112. O amor. — A paixão precede o


amor. Logo, para identificar o seu amor
verdadeiro, ou em palavras poéticas: sua
alma gêmea; é necessário sentir a evolução
da paixão para o amor. Amar os olhos da sua
amada mesmo que não sinta o coração bater
com a mesma intensidade de antes; adorar
passar um tempo com ela mesmo que a
saudade sentida não seja tão imparável;
lembrar dela com carinho, com amor, e
naturalmente sorrir, como se fosse um hábito;
adorar conversar com ela e enquanto isso
pensar: "Que sorte tenho de ter alguém
assim; quanta inteligência! Quanta
sinceridade! Quanta beleza!." Se chegar
nessas conclusões, eu te garanto; é de fato,
amor.

113. Boas conversas, bom


relacionamento. — Um relacionamento
nunca vai ser duradouro se ambas as pessoas
não amarem — ou não souberem —
conversar. A conversa é essencial para o
amor verdadeiro, pois diferente da aparência,
o ato de conversar tende a evoluir com os
anos. Quando a velhice chegar, a única coisa
que pode manter a chama acesa é se o casal
souber ter lindas e profundas conversas.

114. Amar nos faz evoluir. — A


espécie humana não teria ido tão longe se não
fosse o amor, seja por pessoas ou por objetos.
Nós lutamos com mais avidez pelo amor, nós
vivemos por ele; e quando nos
decepcionamos com o mesmo, ele nos faz
amadurecer, nos faz aprender com nossos
erros — de forma bem mais dura do que com
um erro qualquer. Pregar o ascetismo é
pregar a morte da espécie, é uma atitude
ingênua, imatura. Se não fosse o amor, ainda
viveríamos na idade da pedra — isso, se
ainda existíssemos.

115. O amor faz o artista. — Existiriam


artistas se não houvesse o amor? É possível
imaginar algum poeta que não escreva por
causa do amor? Seja ele por alguém, ou por
algo. Os artistas nascem do seu amor, da sua
dor causada por esse amar. É hipócrita
reclamar desse sentimento, ele que nos deu
vida (instinto gerador que eu diga); ele nos
fez de fato viver; se não amássemos... (§4:
dois tipos de suicida)

116. Livros sobre como se fazer amar.


— Nenhum livro vai dizer como fazer
alguém te amar, não existe fórmula para tal
ato; se houver, a chance maior é que seja um
amor superficial; porque você será amado
pela sua aparência, não por ser você mesmo
(não que no amor você não seja amado
também pela aparência, mas seguindo esses
livros você — só — será amado pela sua
aparência, ou por ser algo que não é). Nesses
escritos somente haverão lições de fito
corporal, de fito externo — de fito
enganador; porque é isso que eles podem
transformar em fórmula.

117. Como saber se ainda ama. — Se


você se fez essa pergunta, o amor por si só já
acabou.

118. A lógica do amante. — "Ele a trai


comigo, mas se ele ficar comigo será
diferente, posso mudá-lo! O que ele não
mudou em décadas mudará em menos de um
ano comigo; faço milagres! Movo
montanhas! Transformo água em vinho!"
119. Amantes do passado. — Tantas
vezes vi pessoas permanecerem num
relacionamento por causa do passado; esses
amantes do passado parecem tão
masoquistas... Lutam e lutam por um amor
que os deixou, no fundo acham que mortos
podem sair de suas tumbas — mesmo que
nunca tenham visto um de fato sair.

120. Amor em demasia pelo material.


— O amor materialista é nocivo porque tudo
que é material se esgota, acaba, termina antes
de começar, é supérfluo por completo —
mais do que os outros amores. Declarar amor
devoto ao material é declarar sua
infelicidade; é impossível saciar tal tipo de
amor.

121. Essencialidade de regular a


intensidade. — Precisa haver um equilíbrio
na intensidade do amor caso se deseje ter um
relacionamento próspero e duradouro. Porque
se for intenso demais, explodirá como uma
bomba; se for fraco demais, ressecará e
perecerá em instantes.

122. Amor que se torna platônico. —


Continuar amando alguém mesmo após essa
pessoa demonstrar que não te ama é o apogeu
do amor. Você ama mesmo sendo rejeitado
porque o querer ser amado não foi o motivo
do início do amor — sempre foi a sua utopia.
Continuar amando alguém mesmo depois de
saber que não tem chances é puro; significa
que você não ama as aparências — ama as
essências — estas são insubstituíveis.

123. Montanha bucólica. — Olhei a


imensidão estando no topo de uma montanha;
descobri que também existe amor em admirar
o horizonte.

124. Romeu e Julieta. — Penso que o


melhor destino possa ter sido a morte para os
dois; melhor adormecer ao som do veneno
esperando um plano posterior em que se
encontrem, ou sofrerem — por toda uma vida
— por não poderem ficar juntos?

125. Cimbelino. — Até o maior


apaixonado pode matar sua paixão se esta lhe
trair.

126. Benefícios do amor pro poeta. —


Sendo amado ou não o poeta se beneficiará;
se for amado, poderá se deleitar com
intensidade no seu amor (alguém sabe mais
sobre intensidade do que o poeta?); se for
rejeitado, poderá escrever poemas e
transformá-los em ofício.

127. Fantasmas sem forma. —


Amaríamos se todos fôssemos fantasmas sem
um corpo? Fantasmas não precisam se
reproduzir... por que pensariam em amor?
128. Fênix do amor. — O amor renasce
até os que estão vivos.

129. Para renascer é preciso morrer...


— Por mais belo que o amor seja, ele
também pode ser nocivo caso dê errado —
tanto na fase da paixão, como na fase do
casamento, como pela morte do parceiro —
afetando o indivíduo mais gravemente do que
os sintomas de diversas doenças que
conhecemos. — O amor é uma doença
quando chega ao fim; é preciso lidar com
esse monstro imparável; com essas —
reações químicas — que controlam as
emoções. É um preço a se pagar — nada que
é bom vem de graça; é uma aposta, um tudo
ou nada, um risco; mas talvez o risco valha a
pena... — se você escolher a rosa certa...

130. Encurtamento das relações. — É


indubitável que amamos por causa do
Instinto gerador que mantém viva a nossa
espécie; mas mesmo com esse fito, o amor,
quando não era arquitetado para unir duas
pessoas com o único objetivo de se ter mais
poder, dinheiro ou qualquer tipo de apoio; ele
era duradouro e bonito. Hoje, parece que o
amor ficou mais superficial e vazio; e não
teria jeito mais simples de se responder essa
questão, do que dizer: "Claro, nós estamos
mais vazios, o amor é puro reflexo do que
somos, como não seguiria o mesmo
caminho?". Ficamos mais intolerantes com a
mesmice do que os antigos, não suportamos
manter uma mesma relação e por isso
pulamos de uma relação para outra com uma
imensa facilidade, como se não fosse nada;
porque no fundo, realmente não é mais nada
além de uma ferramenta descartável feita
para tirar a carência — feita para tentarmos
nos amar.
131. Amor-próprio. — São poucos os
que conseguem se amar — menos ainda os
que alcançam essa proeza por conta própria.

132. Mateus 5:43–44 e Mateus


22:37–39. — Um diz para amar seus
inimigos. O outro diz para amar os outros
como a si mesmo — mas essas frases não
formariam uma hipocrisia? Amar seus
inimigos parece um ótimo jeito de se odiar...

133. O prazer no almejar. — Logo


quando alcançamos um objetivo, rapidamente
nos cansamos dele — mais rapidamente
ainda passamos a almejar outro objetivo. Não
seríamos nós grandes admiradores do almejar
e odiadores do conquistar? — Será que só
fingimos querer um objetivo porque esse
"talvez" seja o fruto do prazer? Talvez
saibamos disso, quando proclamamos um
sonho em voz alta — mesmo sabendo que o
que queremos é nunca encontrá-lo.
134. Eros e Psiquê — O maior dos
conhecedores do amor, Eros — a
personificação do amor — foi vencido por
este quando se apaixonou por Psiquê. — Até
os deuses estão à mercê de tal sentimento.

135. O poder das pessoas apaixonadas.


— A paixão dessas pessoas pode fazer os
outros amarem tão intensamente essa paixão
quanto elas. As pessoas apaixonadas nos
fazem ver o melhor lado da sua paixão —
lado que nunca nos atentaríamos a ver se não
fossem elas.

136. O amor pela música. — Nenhum


outro amor te fará ter tanta vontade de viver
como o amor pela música; essa linda
harmonia que é a música, é capaz de te
encher de vida e energia — de forma que te
faça sentir que você está vivo — enquanto o
resto do mundo te faz sentir que você está
morto. Como os antigos diziam: "A vida sem
música seria um erro." Um erro visto que:
num mundo que denegra tanto a vida terrena,
a música vem como um salvador, um amante
do terreno — uma amostra da beleza da vida.

137. Amor no desprezar. — Todos os


homens indubitavelmente desprezam algo ou
alguém, é quase uma necessidade humana o
desprezar; e mesmo que digamos odiar o que
desprezamos, quase sempre omitimos amar
esse desprezo que sentimos. Prova desse
amor é que quando desprezamos, é raro nos
afastarmos desse desprazer; ou então, quando
nos afastamos, tendemos a manter esse
desprezo falando mal da causa do desprezo
com outrem ou com si mesmo. O desprezar
tira o peso do dia a dia, despejando esse peso
com reclamações e demonstrações de nojo e
repulsa sobre o desprazer. Usamos o desprezo
também, como meio para não desprezar nós
mesmos — para nos enaltecer — e,
principalmente, para nos sentir leves, bons,
corretos; porque desprezar uma pessoa, por
exemplo, com uma burrice escancarada, que
é burra por essência e não faz esforço para
esconder ou melhorar tal monstruosidade, é
um ótimo jeito de se sentir bem com você
mesmo; já que sua inteligência — sendo
baixa ou alta — vai parecer muito maior do
que é diante de tal baixeza que esse desprazer
é; tornando o desprezo um meio de se
superiorizar, de se sentir melhor — de se
sentir bem.

138. O belo que se torna feio. — Até a


pessoa mais bela se torna feia se mostrar que
é um monstro por dentro.

139. Vendo sobre outra perspectiva. —


O melhor jeito de conseguir ser amado, é
fazer com que outra pessoa te adule para os
outros. — Às vezes, ouvir elogios exagerados
fazem as pessoas verem o elogiado com um
brilho que este por si só nunca teve.

140. A chama do amor juvenil. — O


amor juvenil é o mais intenso dos amores;
porque é quando se ama sem hesitar e sem
pensar nas consequências de um amor ser
intenso demais (características essas que a
experiência da vida tira dos homens, os
tornando mais cautelosos e amenos — em
outras palavras: diminuindo a chama).

141. Condenação do Werther. — Amar


com todo o ser uma mulher comprometida...
Werther conhecia seu sentimentalismo e
sabia do fato dela ter um parceiro; mas
mesmo assim a amou — condenando seu
próprio fim.

142. Dando mais vivacidade ao amor.


— Escrever é o melhor jeito de avivar cada
vez mais as paixões; por isso, os poetas com
tanta intensidade amam — escrevem sobre
suas paixões até que o último suspiro chegue.

143. Guiado pelo amor. — Os grandes


filósofos e poetas surgiram por causa do
amor — só foram tão grandes porque foram
guiados pelas suas paixões.

144. O amor dos contemporâneos. —


Desaprendemos a amar com o tempo;
passamos a amar superficialmente — e pior,
passamos a amar o superficial ao em vez do
profundo.

145. Romances hodiernos. — Os


romances da atualidade caíram na mesmice e
no clichê — qualidades totalmente distintas
da complexidade do amor. O foco nos
romances de hoje, é escrever um conto de
fadas misturado com uma novela preenchida
de reviravoltas previsíveis; a essência do que
é o amor em si é deixada de lado —
mostrando apenas seus extremos, seu lado
perfeito ou seu lado imperfeito, ou uma
transição rasa de uma inimizade a um amor
profundo. A psicologia profunda do que é o
amor foi esquecido; a loucura, a exaltação, a
tragédia, a embriaguez... Os romances hoje
seguem os mesmos rumos vazios — os
mesmos rumos utópicos, com o fito de nos
dar alguma esperança acerca do amor; mas
não percebemos, que de amor eles nada têm.

146. Amado, não amando. — Nós


queremos incessantemente ser amados, mas
não necessariamente amar. O amor, quando
não é paternal, tende a acabar caso o ser
amado não ame de volta, sendo poucos os
casos que se continua amando mesmo depois
da rejeição. Isso se deve ao nosso desejo
ardente de querer ser amado — nos fazendo
amar para receber de volta, o velho "Faça
com os outros o que gostaria que fizessem
com você", que nos leva a amar para ser
amado; mas se não houvesse esse querer ser
amado, dificilmente amaríamos outras
pessoas que não fossem nossos filhos; já que
tendemos a amar nossas criações mais do que
amamos nós mesmos.

147. Narciso, o homem belo que de


belo nada tinha — pois era belo demais. —
Narciso ter uma aparência perfeita, o fez
rejeitar diversas pretendentes — isso, porque
no fundo, amamos para nos amar; ele não
tinha essa necessidade, por isso era egoísta ao
extremo... o fadando a se apaixonar por ele
mesmo, e a morrer enquanto olhava a poça de
água com seu reflexo. As morais foram feitas
para serem objetos de troca, em que os
indivíduos de uma sociedade agem seguindo
a moral, visando que os outros membros da
sociedade façam o mesmo. Se fôssemos
totalmente perfeitos e independentes, tal
objeto de troca como a moral seria fútil para
nós; já que não precisaríamos dela para
sobreviver. — A pergunta que fica é: ser
perfeito, só não nos tornaria mais imorais,
independentes, frios e egoístas?

148. Sabendo por meio de poemas. —


Se quer descobrir o que sente, escreva um
poema; ele te revelará sentimentos que você
nem sabia que poderia ter.

149. O amor dos animais domésticos.


— O amor que recebemos dos animais
domésticos é o amor que queríamos receber
dos humanos; mas como isso seria possível?
Estes belos animais são simples e não
conhecem a maldade... — seria possível
conhecer um homem tão inocente e tão puro
como estes belos animais que não
reconhecem o maligno com os olhos?
Respondo que sim: as crianças.
150. O amor e a criança: um diálogo.
— A criança viu todos em volta sofrerem,
então ela indagou para o amor:

Criança: Por que eles sofrem?

Amor: Porque eles me conhecem.

Criança: Mas... você não deveria fazê-los


melhor?

Amor: Eu fazia, até eles pararem de me usar


como alicerce para começarem a me usar
como o prédio inteiro. Eles viraram
dependentes; e tal qual todas as coisas, eu sou
efêmero; então quando os deixo, eles sofrem
sem parar. Tenra criança, você deveria
aproveitar que não entende essas palavras
com clareza e saborear a infância — só nela
existe o amor verdadeiro.
Criança: Infelizmente agora eu entendo... as
palavras me parecem feixes de luz, as vejo
com total clareza... Eu realmente ainda sou
criança?

Amor: Agora finalmente entendi. A


dependência que construíram em cima de
mim os fizeram amadurecer rápido, a dor que
passei a causar fez isso... Desculpa querida
criança, você é vítima dessa doença — desse
amor descontrolado — que a sociedade tenta
alcançar para se sentir amada. Não sei se
posso ainda te chamar de criança, você já me
parece tão crescida... Finalmente entendi o
que o amor em demasia causa... — ele causa
dor.
• Capítulo quarto: Sociedade

151. Desvalorização de certos dons. —


Cada dom é visto de uma forma pelas
pessoas em geral. Nessa maneira de ver é
normal que se desvalorize certos dons, por
não terem uma beleza clara — à vista. Como
um poema bem escrito, que não é tão
aclamado como o dom de pintar; o que é uma
pena.

152. Contradição. — Os homens se


descrevem nos poemas, mas os poemas não
os descrevem.

153. Evitando o vício. — Haverão


vícios que não poderão ser evitados, pois nos
são dados numa fase prematura da vida, em
que não temos um controle total sobre nossas
ações (a infância e a adolescência). Sobre
esses vícios, pode-se dizer que o processo
para a libertação deles será muito difícil, em
alguns casos impossível. Todavia, esses
vícios adquiridos em épocas prematuras
normalmente serão menos nocivos, já que
não te afetarão de maneira brusca (exemplos
claros são o açúcar e a tecnologia), e não é
preciso evitá-los totalmente para não ser
afetado, basta moderar. Porém, quero tratar
de vícios adquiridos normalmente de maneira
tardia, com o livre-arbítrio total do indivíduo
envolvido no adentramento do vício. Esses
vícios são mais nocivos pois afetam o
indivíduo de maneira radical, como o álcool e
as drogas, que trazem malefícios muito mais
graves do que os vícios prematuros e acabam
sendo mais viciantes do que tais. Eles devem
ser evitados a todo custo, de modo que seja
essencial não consumi-los nunca, nem por
curiosidade; nem por pressão externa. Porque
sabemos que é muito mais fácil evitar um
prazer desconhecendo-o do que o
conhecendo, por isso para evitar o vício é
preciso tirar ele de vista com ímpeto, de
forma que ele seja esquecido e nunca seja
tocado.

154. A seletividade do homem com o


ser agradável. — Todos os homens são
agradáveis, a diferença consiste com quem
eles decidem ser agradáveis. Alguns são
agradáveis com um grupo seleto de pessoas;
outros serão quando não estiverem na
toxicidade de certos ambientes; uma minoria
será unicamente agradável consigo mesmo; e
a majoritária parte não será com ninguém —
nem com si próprio.

155. Animal político. — É indubitável


que o ser humano necessita da política para
viver, necessita da sociedade como premissa
para progredir e se estabelecer. Todavia, essa
necessidade do homem como animal político
acaba sendo a maior brecha para a
predominação do instinto; pois é na política
que o homem mostra sua real face, seu
verdadeiro jeito de agir animalesco.

156. Corrupção de boas mentes. — O


maior problema na relação do homem com a
sociedade, se deve ao caráter da maioria que
ocupa seu entorno. Já que o ser humano é
instintivamente corruptível — como
mecanismo de defesa para se adequar ao
grupo e desse jeito poder conviver em
sociedade. Por isso, se seu entorno for
ocupado por uma majoritária parte de pessoas
burras, chulas e más. O caminho normal é
que o indivíduo que está nesse grupo, mas
tem um caráter inverso, se permita ser
corrompido para poder permanecer naquela
sociedade e sobreviver com o grupo. Isso
explica o aumento exponencial de pessoas
desprezíveis na sociedade.

157. O erro da democracia. —


Aristóteles dizia e eu concordo: a democracia
é errônea porque as pessoas ignorantes,
boçais, paquidermes e egoístas terão o
mesmo poder de voto do que os inteligentes,
estudados e racionais. Infelizmente o
primeiro tipo é o que predomina.

158. Sobre pessoas que pedem opinião


e se ofendem quando esta é crítica. — Se
uma pessoa pede sua opinião e se ofende ao
ouvir algo que não esperava, ela nunca quis
de fato saber se estava bom ou se poderia
melhorar. Só queria inflar o próprio ego.

159. A verdade de Heráclito. — Não se


pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois
ele se modificou. De mesmo modo, não se
pode falar com uma mesma pessoa duas
vezes, pois ela também mudou.

160. O homem de Teseu. — O homem


pode, e inevitavelmente vai mudar ao longo
dos anos. Seja em gostos, crenças,
personalidade etc. A pergunta que fica é: esse
homem ainda é o mesmo? Ou se tornou um
novo homem?

161. Triste, exclamei: "Viva o


capitalismo!" — Por mais belo que pareçam
os outros modelos propostos pelas pessoas,
como o comunismo, anarquismo etc, que
visam a igualdade, a liberdade dos seres, a
libertação do capitalismo. Todos acabam por
ser utópicos; porque, infelizmente, na nossa
sociedade, o capitalismo vai ser o único
sistema funcional. Já que ele trabalha com o
instinto humano — o instinto da ganância
(tanto de querer ser mais rico, como o de
querer tudo que é material); o instinto do
prazer, o egoísmo e tudo mais que
necessitamos sentir para sobreviver (para
sermos humanos). — É lindo pensar na
república proposta por Sócrates, mas é
totalmente utópico. É um sistema que
desconsidera o instinto humano — que
desconsidera o que somos — por isso é falho;
por isso o capitalismo é o único modelo que
funcionou tão bem e que se instaurou na
nossa sociedade com tanta adesão. O
capitalismo é puro reflexo do que somos.

162. Palavrinha aos sensíveis por


natureza. — Toda pessoa sensível já odiou
sua sensibilidade em algum momento da
vida. Seja porque sente demasiada dor pelo
sofrimento alheio, ou porque sente as
próprias complicações da vida com uma
intensidade fora do comum. Ser sensível
parece ruim hodiernamente, entretanto,
deveríamos ver essa característica como um
dom, não como uma maldição. Pois, por mais
que a vida imponha o sofrimento como parte
do processo de viver, a sensibilidade aguçada
também pode ser positiva ao indivíduo.
Porque do mesmo modo que ele sente a dor
com agudeza, também sentirá as pequenas
felicidades como uma pessoa que não é
sensível sente as grandes felicidades. Se
conseguir equilibrar a vida entre dor e
alegria, a alegria com certeza vai
preponderar. — Não precisa de muito para
um sensível se sentir alegre, satisfeito.

163. Natureza imperfeita. — Dizem


frequentemente que a natureza é perfeita;
mas o ser humano não seria a maior prova do
oposto?

164. Fobia como imperfeição humana.


— A maior prova da nossa natureza
imperfeita (em relação ao nosso instinto
consciente) são as fobias. Esse medo em
demasia, gerado principalmente na infância,
quando se vê um adulto (normalmente o
responsável pela criança) demonstrando
medo por determinado animal ou objeto, o
que gera instintivamente na criança, o medo
— por assimilar o temor do adulto e chegar a
conclusão que aquela coisa é de fato perigosa
à sua vida (mesmo que não seja). Isso é a
maior prova de que nossa racionalidade não
funciona com os instintos, pois tendemos a
ter mais medo de animais ou objetos
abnóxios, em comparação com os animais
irracionais, que muitas vezes têm menos
medo que nós — mesmo sendo mais
vulneráveis.

165. O erro da criação. — Nós somos a


maior falha existente hoje, e também a mais
poderosa. Antes dos humanos surgirem, ou
melhor — antes do homem racional surgir —
o planeta Terra podia conclusivamente ser
chamado de "harmonioso" — ou até de
"perfeito". Viemos como uma praga — como
uma arma — a mais poderosa criação da
natureza — a mais antinatureza. Não
respeitamos a ordem, a cadeia alimentar, os
ciclos; apenas destruímos tudo, culpa da
racionalidade, dos instintos. A culminância
da junção dos dois resultou no maior erro da
natureza, seu maior arrependimento, seu
retrocesso. O humano; esse humano
demasiado humano.

166. Extinção de diálogos profundos.


— Atualmente, a sociedade carece de bons
diálogos. Sinto falta de pessoas que de fato
saibam debater sobre assuntos profundos, que
conheçam o ato de conversar. Convivemos
com diversas pessoas, mas nunca de fato as
conhecemos. Como se pode conhecer um
amigo se nunca nem se teve um bom diálogo
com ele...

167. A maldição do poeta. — O pior


tormento do poeta, que o persegue por toda
sua carreira, é sempre ter que tirar alguma
palavra para tornar seu poema mais rítmico.

168. A vivência do poeta. — O poeta


vive mais aventuras no seu interior do que no
exterior. Ele pega suas poucas bagagens
empíricas e as engrandece dos mais variados
modos. Isso explica perfeitamente o porquê
do poeta escrever com tanta autoridade
aventuras que nunca de fato viveu.

169. O problema dos leitores. — Estes


indubitavelmente estão em risco de extinção;
poucos são os que leem hoje — menos ainda
os que dão importância para tal ato. Junto
com o ato da leitura, se vai também o
intelecto — essa triste queda do intelecto.
Dos leitores remanescentes, a majoritária
quantia consome livros ruins — e antes eu
estivesse falando de livros de ficção. Me
refiro a livros de escritores vis, que escrevem
utopias e dizem segui-las — existe perfídia
maior? — Escrevem palavras que nem
creem, mas tudo para vender, e infelizmente,
vende. Perdemos cada vez mais a capacidade
de discernir os livros bons dos ruins, dos
enganosos; apenas lemos por ler. Deixamos
de ler livros da fonte para ler livros
modernos, por serem mais "fáceis" (o
problema não é ler esses livros, eles com
certeza auxiliam, o problema é ler — só —
esses livros). Deixamos de ler livros de
verdadeiros pensadores para ler livros de
farsantes, de sofistas, de ilusionistas, de
coaches...

170. Perdão aos inimigos. — Não


quero romantizar o perdão, dizendo que se
deve perdoar os inimigos setenta vezes sete
vezes. Quero mostrar como o perdão é
benéfico para nós. Vemos o perdão como
uma humilhação, como uma certeza ao
perdoado de que o que ele fez não foi tão
grave — como uma ingenuidade; mas deve
ser tratado como uma libertação própria;
como um ato de amor-próprio, porque é isso
que ele é. Não nos atentamos que o rancor é
prejudicial para nossa saúde e
concomitantemente é valorizar o inimigo, é
dar espaço para o mesmo ter importância na
sua vida e que possa te afetar mesmo depois
que tenha saído dela. Odiar é por si só uma
humilhação para si mesmo; é desdenhar do
seu espírito; é dar trela à pessoas
desprezíveis; é pôr o inimigo num pedestal de
importância que ele não devia — não merecia
— estar. Perdoar é a melhor solução para
viver bem; complemento que não se deve
seguir a máxima de amar seus inimigos como
a ti mesmo; porque isso também é se
humilhar; deve-se tirá-los da sua vida
(pressupondo que a pessoa não cometeu um
erro bobo, mas sim fez algo "imperdoável";
"perdoar" e "desculpar" têm graus distintos
de seriedade) e não sentir mais nada por esse
ser; nem amor, nem ódio — apenas apatia.

171. Decepção. — Às vezes


decepcionar os outros é o único jeito de não
decepcionar você mesmo.
172. Angústia angustiante. — Existe
angústia maior do que a que um homem com
propósito sente ao ser forçado ao
despropósito?

173. Leviatã. — Hobbes não pensou


que o Estado soberano não pudesse manter a
paz; ele não pensou do que o Estado é
composto...

174. Adão e Eva. — É ingênuo pensar


que teria alguma chance de dois seres que
desconheciam o mal não se atreverem a tal;
Deus não deveria ser ingênuo, Ele é
onisciente... Condenou uma humanidade
inteira pelo seu erro: o de não ter mostrado o
Inferno antes do Éden.

175. O amigo do amigo. — Nunca


confie cegamente no amigo do seu amigo;
uma pessoa que sabe ser uma boa amiga nem
sempre sabe ter bons amigos.
176. Forçando, não ensinando. —
Forçar alguém a seguir determinada norma,
sem explicar o porquê dessa norma ter que
ser seguida é perda de tempo. A partir do
momento que essa pessoa deixar de ser
forçada — e alguma hora indubitavelmente
vai — ela vai fazer o contrário do que foi
forçado — às vezes mais do que faria se não
tivesse sido forçada a fazer o oposto.

177. Inconsistência. — Não basta ser


bom... — precisa ser constante.

178. Políticos nos dias atuais. —


Hodiernamente os políticos debatem para
inflar o ego, para vencerem e com isso terem
poder. "E para o bem da sociedade?" — a
razão gritou. Querida razão, eles sabem o que
é isso?
179. Relação entre pensar e falar. —
Quantas vezes pensamos mas não dizemos
em voz alta? — Quantas vezes falamos mas
não pensamos antes?

180. Meia palavra. — Para bom


ignorante, meia palavra basta.

181. A verdadeira identidade. — Para


saber como uma pessoa é de verdade, basta
concedê-la anonimato e visibilidade — basta
criar uma rede social que dê ênfase nas
pequenas frases.

182. Como os mentirosos natos agem.


— Esses bons mentirosos só mentem com
tanta maestria, porque eles realmente
acreditam no que dizem.

183. Últimas palavras de Sócrates. —


"Oh caro Críton, pague o galo que devo a
Esculápio! Não preciso mais me preocupar
com isso, estou morrendo! Falta pouco para
me distanciar dessa ignorância! Argumentei
com tudo que tinha; mas minhas palavras
preenchidas de razão se destoaram nos
ouvidos desses ignorantes. Falta pouco para
eu estar livre! Falta pouco para eu estar longe
dessa humanidade! Então dê o galo, já que
ignoraram as palavras..."

184. Contradição nos deuses. — A


maior contradição nos deuses, é perceber que
igual todo homem gostaria de ser deus —
todo deus também gostaria de ser homem. Os
homens buscam poder para se assemelharem
aos deuses; e os deuses se humanizam para
quem sabe sentirem por alguns átimos — que
são homens.

185. Contando apenas a verdade — e


acabando só. — O homem que for verdadeiro
em todos os momentos, estará fadado à
solidão. Ninguém suporta quem sempre diz a
verdade — ela tende a machucar.

186. Dividindo a dor com o papel. —


Escrever é o jeito de dividir a dor com o
único que não vai te decepcionar e julgar —
o papel.

187. Pondo realidade em histórias


inventadas. — Qualquer inventor de histórias
perceberá em algum momento, que suas
histórias no fundo são sobre suas vivências e
sentimentos — por mais ficcionais que
sejam.

188. Os chamados "defeitos". — Nem


todos os nossos defeitos são de fato tals. Às
vezes, distorcemos nossas qualidades e a
pomos como defeitos, apenas para podermos
falar delas sem sermos julgados; já que
admitir uma qualidade é visto como
arrogância; já admitir um defeito... — é visto
como modéstia.

189. Fadados ao vazio existencial. —


Qualquer que seja o homem; pobre ou rico;
casado ou sozinho; amado ou odiado;
qualquer que seja o ser humano racional, este
sempre sentirá em algum momento um vazio
no peito.

190. Escolhendo adormecer. — Em


certos casos, o único jeito de revigorar a alma
preenchida de melancolia, ou ter forças para
solucionar um problema — é adormecendo.

191. O perdão dos desmemoriados. —


Os fadados a ter má memória, sempre serão
os que mais facilmente perdoarão; eles
esquecerão da dor que sentiram e novamente
darão uma nova chance ao ofensor — já que
a memória destes, por ser defeituosa e
extremamente limitada, sempre se aterá a
guardar os bons momentos ao em vez dos
maus; pois são os mais importantes — basta
saber se isso é uma qualidade ou um defeito.

192. O homem que sempre devaneia.


— Este viverá duas vidas ao mesmo tempo
— a do sonho e a real —; e por isso, sempre
estará transitando entre uma vida e outra — o
que deveria ser bom... se o ser humano não
tivesse sido feito para viver uma vida só...

193. O fingir ser. — Hoje existe


diferença entre fingir ser e de fato ser? —
Estamos tão superficiais, tão vazios, que só
fingir ser já é o bastante para de fato ser...

194. Máscaras. — O ser humano usou


tantas máscaras ao longo dos milênios para
disfarçar sua verdadeira essência, que
começamos a nascer usando máscaras — que
nos tornamos máscaras.
195. Destilando ódio. — O homem que
contém a pequenez por natureza, tentará se
tornar grande enquanto destila ódio nos
outros — isso se tornará sua profissão —;
mas, no fundo, sabe que nenhuma espada
pode ficar mais afiada do que seu devido
potencial — mesmo que você a afie por
milhões de anos.

196. Mitos e lendas. — Criamos lendas


fantasiosas com deuses poderosos e seres
humanos mágicos, porque queríamos que a
vida fosse um pouco mais fantasiosa — um
pouco mais irreal...

197. Destino. — No fim, o homem que


viveu no hedonismo a vida toda, e o homem
que viveu no conhecimento a vida toda,
sentirão o mesmo vazio no peito — por não
terem aproveitado o bastante. A diferença
consistem em: o homem que direcionou sua
vida ao saber — saberá lidar com o vazio no
peito; já o outro...

198. Abismo. — Às vezes se jogar no


abismo, é o melhor jeito de encontrar o
caminho.

199. Natureza dos homens. — Diversa,


incompreensível, viva, complexa e
indecifrável — me indago se descrevi os
homens, ou uma bela montanha.
• Epílogo:

200. O alvorecer. —

Por um longo tempo a noite reinou


Sobre meus olhos a escuridão dominou
Hibernava sozinho na solidão
Rondando sem propósito pela imensidão
Me indaguei: "O que me salvará?"
A resposta veio com um trovão
Que abriu o céu e enfim a escuridão
Do horizonte pude ver o alvorecer
A luz solar na minha retina me fez renascer
Acordei como nunca antes tinha acordado
Indaguei ao céu claro o porquê de ter
finalmente se levantado
Sereno o mesmo disse: "Porque chegou a sua
hora de ser iluminado
Para que quando no fim eu partir
Possa ser você quem vai me substituir."
*FIM*

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