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Swinburne
MODAS
A ler e a coçar-se.
RONCEVAUX
GÁS
SANGUE
(em uníssono)
GÁS
SANGUE
NOS CAMPOS
NOS GUETOS
NAS ASSEMBLEIAS
PROPAGANDEADOS COM
ORGULHO
ENBANDEIRADOS
COMO CONQUISTAS
CONTRA ELES
há quem tenha entregue a vida.
CONTRA ELES
Perdoam-nos
o fatídico facto de sermos descendentes
das bestas da morte
De acordo com Carl Friedrich Keil e Franz Delitzch, com base na estimativa de que
o exército do Rei Davi tinha um milhão, quinhentos e setenta mil soldados, a popu-
lação da Palestina, naquela época, seria da ordem de cinco a seis milhões de pessoas.
Que a morte
não tenha referente,
sabem-no somente
os que à vida
se viram realmente
condenados.
Mas eu,
nem sei se à vida
me vejo entregue
ou do amor (do mundo
libertado.
Tenho morrido
mas terei morrido
de amor somente
ou do esquecimento
da morte
a que me sinto
conjurado?
entre mim e a sentença que vos preguei pra mal dos meus pecados
não vejo agora qualquer diferença
peço-vos desculpa
e peço-vos
por fim
De repente,
como se não fosse de repente que tudo
sucede,
as garças despedem-se,
mergulham nos lagos.
Ocupam
os bancos com a sua ausência forçada.
ocupa as cidades.
Perguntam:
quem sabe onde morrem as pétalas,
as esmeraldas da primavera?
E não respondem.
As respostas são frutos tardios,
filhos caídos, entregues a si mesmo,
e à nudez do outono.
Quero dizer:
sei ter perdido o amor, isto é,
a inocência de ter amado perdidamente
um rosto, um nome
a quem cantar à noite,
uma pétala de juventude
caída nas minhas mãos morenas;
um prado imenso onde cair com a cabeça
acordada de sonhos, com a manhã
quente do pensamento puro,
da adolescência.
Quando se ama,
ignoram-se algumas evidências.
Não se sabe que ter sonhos
é ter à espreita desastres
– aguardam-nos enquanto a paz
se alastra e se disfarça de eternidade.
O vento volta.
Caem levemente os frutos,
sobre o regaço da mulher amada
cai a cabeça do amante,
caem versos delicodoces,
doces ingenuidades,
metáforas sobre a primavera
que fazem da primavera uma época,
uma certa idade onde se pode viver alegremente
sem escrever versos.
Avesso ao mundo
avesso em mim mesmo,
avesso ao próprio avesso,
assim acho o reverso
de me achar num verso
adverso em tudo
à própria ideia de verso.
O POETA IGNORA RECORRENTEMENTE O QUE COPÉRNICO
PODERÁ TER AFIRMADO ACERCA DO SOL E DA TERRA
Acende um cigarro,
senta-se à mesa dos desastres,
das transfusões de terra,
enumera,
delineia,
cartografa
sobre a tela das palavras
a vida estática das estrelas
:contemplando o surgi
mento
de galáxias,
órbitras –
não-finis-
terra
mais
sobre
a mesa.
a/braços,
a/barca/os,
abraça-os.
EVOLUCIONISMO
para o Miguel
A esta mesa.
E sobre ela nada vejo,
senão:
um poema e um rojão,
a nobre wikipedia,
(a pobre rima em –ão)
a minha síntese
da passagem do homem pela terra.
LIVRO DAS ALITERAÇÕES
Oblitere-se
Oblitere-s
Oblitere-
Obliter-
Oblite
Oblit
Obli
Obl
Ob
O.
continuei
solenemente incomodado
a tentar ler um livro de Bellow
sobre Jerusalém e pensei:
caramba,
já nem ler se pode descansado
nesta europa em constante trânsito
entre a euforia e a depressão
Bellow escreve
a certa altura:
Em teu nome,
fizeram-se ruas,
praças, avenidas,
mercados,
e até um senado
para que os homens
mais ilustres
discutissem o teu futuro.
Tudo vão.
Perderam-se em discussões
sobre o estado da cidade-estado,
o preço da moeda, a inflação,
e deixaram o teu nome esquecido,
entregue às pedras da calçada.
O comércio de interesses
havia-se apoderado dele
mas também de ti.
A inflação da ganância
tomou tudo em seu regaço
e deixou o amor desalojado.
Agora,
o teu nome, é uma casa
remodelada contra a saudade.
PRESTAÇÃO DE CONTAS
Portanto,
esta era a primeira coisa que tinha a dizer
a esse que todos dizem ser
o responsável pelo departamento da saudade.
Paolo Conte