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Paulo Ferreira da Cunha

(texto e desenhos)

AFORISMOS

MMXXIII

1
Edição do autor
Série Direct edition

PAULO FERREIRA DA CUNHA,


Aforismos, Porto, 2023.

ISBN 9798388622389
Selo editorial: Independently published

Direitos reservados ao autor desta obra.

2
Índice

I
Iniciação
II
Soneto da tinta da China
E do papel do Japão
III
Associação livre
IV
Etiologia
V
Biblioteca
VI
Saudade
VII
Repetição
VIII
Possibilidade
IX
Curiosidade
X
Jacob e o Anjo
XI
Edições
XII
...in pulverum reverteris
XIII
Encruzilhada
XIV
Caminhos Percorridos
XV
Vocação poética
XVI
Massificação
XVII
Brave new world
XVIII
Contradições histórico-psicológicas
XIX

3
Tempo Triste

XX
Escriba
XXI
STOP
XXII
Que Paz!
XXIII
Missão
XIV
Janela
XXV
More Geometrico
XXVI
Simplex
XXVII
Ego
XXVIII
Síntese
XXIX
Mais Além
XXX
Númeno
XXXI
Novo Cântico
XXXII
Imperativo
XXXIII
Milagres do Tempo
XXXIV
Diálogo
XXXV
Paradoxo
XXXVI
Que gente!
XXXVII
Graal
XXXVIII
Bússola
XXXIX
Utilitarismo bem entendido
XL
Memória

4
XLI
Originalidade
XLII
A fava
XLIII
Humor
XLIV
Pretenciosos
XLV
Máscara vacilante
XLVI
E sereis salvo...
XLVII
Vocações
XLVIII
Vanitas
XLIX
Modelos
L
Xerazaad
LI
Preconceitos
LII
Currente Calamo
LIII
Regeneração
LIV
Linhas Vermelhas
LV
When you wish upon a star
LVI
Sinteticamente
LVII
Carne e peixe
LVIII
Pavão
LIX
Querelas
LX
Monumento
LXI
Elogio do Bom Senso

5
LXIIDever de simpatia

LXIII
Complacência
LXIV
Coração ao alto
LXV
Democratizar a ciência
LXXVI
Pílulas de pensamento
LXVII
Homo sum
LXVIII
Decorum et Ratio
LXIX
Mínimo ético (hoc sensu)
LXX
Partilhar
LXXXI
Passividades
LXXII
Síndromes
LXXIII
Extremismos de atitude
LXXIV
Biologia gráfica
LXXXV
Imperium
LXXXVI
Arqueologia mais funda
LXXVI
Adversidade e engenho
LXXXIX
Túnel musical
LXXX
Salvaste-te?
LXXXI
Em demanda da individualidade perdida
LXXXII
Élan vital
LXXXIII
Rio da História
LXXXIV
Planícies e relevos

6
LXXXV
Instintos de defesa
LXXXVI
Que fizeste tu?
LXXXVII
Os Eleitos

LXXXVIII
Recordar
LXXXIX
Aparências
XL
(Des)ilusões
XCI
Igualdade
XCII
Tipos
XCIII
Relapsos e Impenitentes
XCIV
Aceitação
XCV
Sinas
XCVI
Reductio
XCVII
Posfácio

OUTROS LIVROS DO AUTOR

7
I
Iniciação

Delicado o toque
No papel cuidado
Vindo d’Oriente
Onde tudo
É requintado.

8
II
Soneto da tinta da China
E do papel do Japão

Terreno novo, imaculado


Campo que pressagia flores
Faz olvidar nossas dores
Flutuar neste sobrado.

Não importa o que dizer


Neste papel tão distinto
Não sei se omito se minto
Mas o que importa é ‘screver.

E a tinta contrasta nobre


Faz-me rei, eu que era pobre

9
III
Associação livre

Concentro-me, cálamo
Em riste.
Uma transmissão existe,
Certamente,
Como um álamo altivo,
E resistente.
Voga o pensar. Los Álamos!
Os cálamos, esses de tanto
Lapsus.
De um scriptorium
Conventual, tecendo
Iluminuras, coloridas,
Com monstros simpáticos
E zoológicas ou botânicas
Travessuras (lidas?)
Por entre essas texturas
O que veramente
Procuras?
Sempre se corre
Por alguma cousa
Em baixos e alturas.

10
IV
Etiologia

Cansaço que é
Certamente
Nome profano
De muito entendimento,
Oásis no deserto
Onde já
Não há vozes que
Clamam.

11
V
Biblioteca

Tenho na minha mesa,


Lado a lado,
Um elogio da ociosidade,
De Séneca, e
Um da velhice, ou senectude,
De Cícero.
Mais longe, sei que possuo,
Sim, porque os comprei, uma
Imitação de Cristo e outra
De Nossa Senhora.
A simples presença física
Dessas obras
Deve funcionar como um
Escudo ou broquel de proteção,
Como uma armadura.
Umas são obras clássicas
De sabedoria.
Outras, religiosas, de devoção.
Umas e outras à mão,
Espero ficar salvo.
Salvo se as letras
Não possuírem o poder
Superior que lhes tributo.

12
VI
Saudade

Pré gustação, aperitivo,


Prova, antevisão
O prévio tomar contacto.
Um enquadrar inicial
Do facto,
furtivo.
Facto futuro, hipotético.
Fruto maduro, aporético.
Pressentimento, sentimento
Prévio.
Sob condição resolutiva?
Creio ter tido
Algumas dessas revelações
Em sonhos, convulsões?
Nada de místico ou especial...
E ao recordar os mundos
Em que já entrei
Pergunto-me por que razão
Aí não fiquei.
Haverá para alguns
Uma força da gravidade
Particular?
Regressei.
Não podia ficar.
Dizem, porém, que se queda
Uma palavra,
Um sentimento.
Desse pressentimento
Será um bom argumento.

13
VII
Repetição

Cansaço que é
Embalo dolente da mente
Não poder estar de pé
Cansaço somente?
Cansaço presente
Omnipresente.

Cansaço que se sente


E chega a ser total,
Envolvente
Exauriente.
Naturalmente.

Mas rompe, irrompe,


E levanta-te
Agita-te. Faz! Vive!

Para quê? Por quê?

14
Para onde?
Espreita a sombra
Do cansaço de sobra
Ela se te cola ao ombro
E escorre até teus pés.
Vês?

A mácula do não poder


O estigma do ser
Queda-te cansado.
Nada faças.
Isso já é fazer muito
Pelo menos para
Pessoas como tu.

15
VIII
Possibilidade

Nesta bela folha


De pé de um branco
Esquisito
Escolhido
Especial
Seria possível
(Já o devem ter observado
muitos antes de mim)
- oh como o seria! –
sinteticamente
escrever
a grande e definitiva fórmula
(na verdade em tamanho
pequena)
do Universo.
A máquina do mundo
Numa equação
Como o ser
Na palma da mão.
Ou então...
Poderias escrever
O Nome de Deus
Ou a solução
Da crise
(qual delas? Não importa.
De todas...).
Mas não.
Obviamente que não.
Na Internet há multidão
De fórmulas mágicas
Há tanto charlatão!

16
Saiu-me assim,
Comedidamente
(e isso já é um principium sapientiae)
O reconhecimento otimista
Mas sobretudo probabilista
De uma (aliás remota)
Possibilidade).
Essa é que é a verdade.

Sim, teria sido remotamente


Possível.
Seria numa folha como esta
Ou mesmo pior que esta
Que poderia tudo isso
Ter sido ou poderá ainda
Vir a ser
Escrito.

Mas não foi.


E certamente
(sejamos muito francos)
Nunca será.

17
IX
Curiosidade

Não sei o que significará


Nas contabilidades maiores do Universo
Não sei o que em prosa ou verso
Sem mentira arrastará
O que vai do lado de lá.

Espreitar, como na gravura antiga.


Para além das nuvens conhecidas...
Será que tudo é só cantiga
E não há cura p’ras f’ridas?

Indagação é velha sina nossa


Perguntarei sempre, assim eu possa.

18
X
Jacob e o Anjo

Decerto a eterna incomodidade


Decerto sempre a incerteza
Na minha já pesada idade
Deveria ter ainda outra leveza?

Previne-me tu da verdade
Faz-me essa gentileza...

19
XI
Edições

Abre uma página nova


Rasga-se uma outra manhã.
A alma, que dormira descansada
Toda a noite,
Foi anestesiada
De angústias,
E os sobressaltos se aplacaram.
Como que uma hipnose
(realmente hipnose,
pois foi sono)
congelou, coagulou, a agitação.
Abre-se no livro da Vida
De cada qual
Uma nova página
Em branco,
À espera de aventuras,
Que não desventuras,
Para escrever com vontade,
Discernimento e sonho.
E fecha-se atrás um pesado
Tomo de passados,
Que apenas a chave da memória
Pode reabrir.
Mas o papel branco clama
Por Novidades!

20
XII
...in pulverum reverteris

Inveja, vaidade e afins


Mais que pecados
São maldições amaríssimas
Para quem os segrega,
Venenos cruéis, desapiedados.

Vaidade, inveja e quejandos


Mais que faltas
São, numa perspetiva laica
E totalmente objetiva,
Perdas enormes de tempo,
De disponibilidade mental,
Definhadoras de Felicidade
Pessoal e geral.

Quejandos e afins de vaidade e inveja


São, mais do que defeitos graves
De caráter,
Sinais de almas sinistras
Enormíssimas ilusões de ótica e
Desfocagem do particular e do geral.

21
Nada se pode cobiçar no vasto mundo
Precisamente por ser tão grande
E tão vária, bem vistas as coisas,
Essa divindade misteriosa
Caprichosa
A que se chama Fortuna. A Sorte.

O grão de nada inveja


À outra minúscula poeira
Do não-ser
Ou do pequeniníssimo
Ir-sendo-muito-pouco,
Ou envaidecer-se-á por ser
Um pouquinho de nada mais
De Pó, de Nada?

22
XIII
Encruzilhada

No nó da encruzilhada
O ponderado sábio
Oscila.
Pondera prós- e contras.
Vacila.
Da trilha da direita
Vê virem viandantes amargos
Do caminho da esquerda
Chegam passantes circunspetos
Da estrada da frente
Regressam romeiros indiferentes
E para todas as vias
Vê dirigirem-se,
De roupas garridas
E sorrisos abertos
Mesmo com francas gargalhadas,
Galhardos peregrinos
Festivos e esperançosos.

23
A tentação é de não ir
De permanecer na encruzilhada
Dos caminhos
Onde afinal pode contemplar
O espetáculo
De todos os tipos de gentes
Sem arriscar um caminho
Menos agradável.

Mas um paraquedista
Que subiu aos céus
E decerto daí viu
Os vários destinos
Lá do alto,
Aterrando junto do sábio
Adivinhou o seu dilema
E disse:
Todos os três, amigo,
São o mesmo lugar.

24
XIV
Caminhos Percorridos

Quem muito viu


E muito leu
Sabe dos truques do gosto
E dos estilos dos géneros
Não precisa de ser IA
Para saber o corte e a costura
Das personagens consabidas
E das tramas ancestrais.
Há estruturas, há rituais.
Pode assim cair-se
Na tentação suprema
De, mesmo tentando alguma
Originalidade,
Seguir esses padrões consabidos
E mesmo os conhecidos
Padrões da transgressão aceite.
A pirueta final, mais que
O happy ending, tem fama
De inteligente.
O mal... é se tudo nada diz
À gente.

25
XV
Vocação poética

Pergunto-me como
Sem treino do gosto
Sem estudo obrigatório
(só pode ser assim...)
dos clássicos
Pode ainda haver
Que se sinta atraído
Pela Poesia. Lida e escrita.
Snobismo ainda? Arcaica coisa.
Marginalidade chique, ou outra?
Imitação não é, que não há
Muitos e visíveis
A quem imitar.
Será um impulso interior,
Fruto de ciência infusa,
Ainda que confusa?
Diamantes em bruto
Os que procuram a Poesia
Têm de não se contentar
Com prosa enfileiradinha
Ou rimazita banal
Até boçal.
Por mais que seja o chamamento
Há que cultivar o gosto
Não ficar no sentimento.

26
XVI
Massificação

Uma sociedade democrática


De massas e de consumo
Faz emergir e explodir
Uma multidão de maus produtos
Enlatados de pseudo tudo
E naturalmente também
De pseudocultura.

Impreparadas, sem educação


Familiar, mediática, escolar
Para o bom, o belo, o exemplar
As massas consomem
O fácil, o palatável
Aplaudem os produtos
Que o mercado lhes impinge
Pela propaganda
De que estão cercados
Por todos os lados.

E assim a massa colabora


Na determinação
De quem são os valores

27
Do seu tempo.

Há quem confie no julgamento


Da História.
Mas só se viesse a haver juízes
De outra cepa.
Realmente, só se o futuro
Viesse a ter Pessoas de parte inteira
E não consumidores acríticos.

28
XVII
Brave new world

Apesar de tudo,
Por entre a multidão
De coisas, de chamamentos,
De apelos,
Há motivos excelentes
Em que parar
E degustar.

Nunca como hoje


Houve tantas e tão diversas
Coisas boas, objetos
Excelentes.
E certamente
Pelo menos, a possibilidade
De haver tantas Pessoas
Interessantes, originais, com qualidade
Porque a maior abundância
Material
Gerou, em certos casos
(só em alguns, mas muitos),
uma excelente qualidade.

29
Ultrapassada em muitos a escassez
O tempo e as posses se libertaram.
Brave new world poderia ser
De Paz, de Progresso, de Fraternidade.
Infelizmente, no DNA da espécie
Parece haver marca de Caim
Ancestral grilhão
De servidão.

30
XVIII
Contradições histórico-psicológicas

As contradições dionisíacas dos clássicos


Não afetaram a imagem apolínea
Dos mesmos.
Precisamos de acreditar.
Se há quem viva imerso
No lado negro, tenebroso, da vida
Sempre um punhado de nós
Recusam as vestes multicoloridas
Das Cariátides de Atenas,
E acreditam só que elas
Eram marmóreas, depuradas,
E brancas, como as vemos hoje.
O tempo escultor de Yourcenar
Burilou para esses uma Hélade
Admirável, não a real,
Dos mistérios, das Bacantes,
Das Eríneas negras,
Dos sacrifícios humanos de Clitmenestra,
Das vinganças de Elektra e de Medeia.
Vemos essas peças terríveis
E ficamos calmos e em paz.
Felizmente vieram as Euménides.

31
XIX
Tempo Triste

“Quanto mais um indivíduo


vive com seu tempo, mais morre com ele.”
Stefan Zweig

Sendo de hoje
Sei que não sou deste tempo.
Quer dizer: estou nele, mas
Não comungo do que nele
Serão novidades específicas.

A Cultura é antiquíssima.
A Espiritualidade é conatural
À Humanidade.
A Justiça e a sua forma
Sempre houve, e foi altissimamente
Cunhada epistemicamente
Pelos Romanos.
A Ética atingiu nos livros sapienciais
Da Bíblia e na pena
De Aristóteles cumes
Dificilmente igualáveis –
- deixem-se os novos
de ridículas presunções.
A Democracia é grega
Se não anterior.
Liberdade, Igualdade e Fraternidade

32
Cristalizaram nessa tríade sagrada
Há dois séculos.
A técnica mais apurada
Já construiu as pirâmides
Do Egito
E nem se sabe hoje bem como.
A Medicina tem em Kós
A memória do hospital
De Hipócrates
Que nos deu ainda
Um juramento inigualável.

O que há de novo sob o sol?


Variantes nas roupas e penteados?
Muita prosápia, muita presunção,
Muita intolerância, muito egoísmo,
Muita ignorância, do passado
e do seu legado.
Muito olvido e estulto acreditar
Que o mundo estaria
Agora a começar.

Acham-se pioneiros, desbravadores.


Creem que a Razão
Os bafejou apenas a eles.
Ou então pensam-se íntimos dos deuses
Deuses particulares seus
Ou de seus gurus privativos.

Tempo ignorante, pedante


Intolerante.
Em que, aos ombros do passado,
Se levaram um pouco mais longe
Algumas técnicas
Algumas comodidades
Certas delas perigosíssimas.

E o futuro?
Gostaríamos todos
De crer que será melhor.
Haverá que fazer por isso.
Mas como?
Muitos dos caminhos clássicos
Estão cortados.

33
E é precisa muita imaginação
E luta, decerto,
Para rasgar novas clareiras
E sendas não ainda trilhadas.

O caminho está aí,


Pronto a ser inventado
Pelo Novos.

Onde estão eles?

34
XX

Escriba

O frenesim de escrever que sinto


Vem só do penar uma missão
Latente no meu ser, distinto
Dessa lufa-lufa e vã consumição
Em que ardem tantos, não vos minto,
Padecendo livres em negra prisão.

Escrevo, pois demónio interior


Me segreda a cada momento
Que é preciso que não varra o vento
O que parece conservar valor.

E às ordens desse aguilhão agudo


Vou pondo no papel o que pressinto
Testemunho esse discurso mudo
Que grito no enleio e labirinto.

35
XXI
STOP

Parar para pensar.


Parar para ver,
Observar.
Parar para Ser,
Não apenas laborar.
Parar para entender
No frenesim geral
Parar para rever
Colocar pedra e cal
E o grãozinho de sal
Dos matizes ler.

Se passares bem
Se bem pensares
Compreenderás que azares
Do louco vaivém
São miragens, só ares,
Fumos do Real.
Se parar ousares
Moderas o mal.

36
XXII
Que Paz!

Certas obrigações de estar calado


Não vão contra a liberdade de expressão
São uma benesse preciosa
Alijando um fardo
Dos ombros cansados
Dos que têm tendência
A opinar.
(Mas que penar!)
Porque possuem o vício
De pensar.

Dou graças
Por não dever
Nem poder
Excessivamente opinar.
Já penso tanto...
E assim tanto sofro...
Para quê envolver-me
Nas vãs e sinuosas
Querelas da Ágora?

Mesmo algumas loucuras


Que tanto convocam
Arrebatam
A opinião de quem pensa
Mesmo essas
Talvez essas, sobretudo,
Prefiro nem pensar.

Que paz!

37
XXIII
Missão

Não é que tenha idade


Não é que o cansaço ou a doença
Consumam as forças
E sobretudo o élan e o discernimento.
Foi passando tempo,
Acumularam-se
Não meras “experiências”,
Mas vivências,
Estórias, vitórias, ocorrências,
Fracassos e acasos.
Todo esse manancial
E apetências
Merecem tempo para balanço,
Organização, legado...
Sim, estou cansado.
Mas mais de perda de tempo.
Dai-me uma missão clara
Sem torpedeamentos e enleios,
Que eu saiba desempenhar
E terei bebido
Da castálica fonte
Da eterna Juventude.
Só é velho
O pobre, o incompreendido,
o mal-amado, o esquecido.
Só é preciso
Para tantos
Uma bandeira não manchada.

38
XXIV
Janela

Eu sei que há Mundo lá fora


Há brisas, ventos e bonança.
Alguns o vivem, e dentro deles mora
Uma canção movida a Esperança.

Adivinho uma vida, que não vivo.


Escravo sou, à volta d’uma nora
Girando, ‘inda que sempre altivo,
Uma roda infinita que demora.

Chegam ecos de gentes estouvadas,


Felizes numa eterna juventude.
Ignorantes, consomem as jornadas

Em palrações, chilreios, enlevadas


Pelo fácil, ilusório e rude
Vivem sem discernimento ou quietude.

Qual é melhor? Essa ilusória vida


Ou meu afinco no sério sofrimento?
No inverno, cigarra tem tormento
Mas tem-no sempre, a todo o momento,
A cauta formiga – que eu lamento.

Que tentes meio-termo, se puderes.


Mas com pés na virtude fincados.
Vale mais seres que haveres
E prazeres verás logo esgotados.

39
XXV
More Geometrico

De algo valeu
Alguma vez
Judiciosas e axiomáticas
Máximas
Éticas austeras
Abstratas
Até à maneira
Dos geómetras?

Valem mais
Loucuras desbragadas
Vitupérios tremendos
Blasfémias a todas
As coisas sagradas,
Sejam sacras
Ou profanas?

Valem porque ouvidas,


Sentidas, imitadas.
Valem, pois premiadas
Na grande roleta
Da vida real
Que certamente
Ignora soberanamente
O Bem e o mal.

40
XXVI
Simplex

Há uma extrema
Extrema e extremada
Simplicidade nas coisas importantes.
Desde a Infância que somos
Ensinados, antes de tudo,
Acima de tudo,
A muito complicar.

Não se trata do viver


Superficialmente
À flor da pele
Da existência
Nessas bordas do rio
De Ricardo Reis,
Em sereníssima
Complacência
Que desconfio seja
Um pouco também
De nesciência.

Não.
Degradaram-nos o sentido
Das coisas simples
Mas não simplórias

41
Nem blasées
Nem pseudoclássicas
E pseudo pagãs.
Para mim,
Como dizia alguém,
Pagão é hoje
O que paga a conta.

Tudo é simples,
Se consultares com ponderação
E um mínimo de estudo
O conselheiro permanente
Do teu coração
E a sábia lição
Da tua mente.

Junta-os aos dois.


Coloca-os em diálogo.
Verás que a solução
É sempre simples.

As tuas angústias
Nem são só tuas
Nem nasceram ontem.
Milhões as partilham contigo.

Desenha num quadro negro


A tua situação
Esquiça o teu dilema:
Coluna dos prós
Coluna dos contras.

Dorme sobre o assunto.


Pede o conselho do subconsciente.
Acorda.
Não com a solução no bolso
Mas decerto com a disposição
Para bem decidires.
Nota que esta não é uma receita,
É apenas uma metáfora.
Se não resultar...
A culpa continua a ser
Toda e só tua.
A vida funciona assim.

42
Não acredites em gurus.

XXVII
Ego

Sê tu próprio
Quanta coisa ruim
Decorre de quereres imitar
O teu vizinho.

Segue um caminho teu.


Cria coisas tuas,
Que serão bem melhores
Que as melhores e mais caras
Que possas adquirir
Por compra.

Torna-te autossuficiente
O mais possível.
Só assim serás de forma

Convivencial, convivente.
Disto fica ciente.

43
XXVIII
Síntese

Tudo o que escrevemos


É um caminho lateral
Para uma única frase
Lapidar.

Digamos – um pouco macabramente –


Que ensaiamos sempre
O nosso epitáfio.
Não o da lápide tumular
Mas o do legado à Humanidade.
O que disse Luís XIV?
L’Etat c’est moi.
E Henrique VIII?
Oni soit qui mal y pense.
E Goethe?
Mehr Licht!
Disseram ou não disseram...
Mas que importa?
Toda uma vida
Toda uma obra
Para uma bela frase.
É pouco. É redutor
É deprimente.

44
XXIX
Mais Além

Há quem tenha a missão


De testemunhar.
Se todo o mundo de hoje
Passasse
E apenas ficasse
O registo dos media
Será que o historiador do futuro
Teria deste tempo uma visão

45
Para além da multidão
Dos materiais?
Como testemunhar os “ais”
Mais profundos?
É preciso olhar mais fundo
É necessário fazer a síntese
E entender os sentidos,
Por detrás dos faits divers
E mesmo os mitos
(grandes narrativas explicadoras)
desvendar.
Mesmo muitos intelectuais
Vivem
Ao rés-do-chão da verdade,
Até da realidade mais simples.
Esfalfam-se, torram os miolos e
Queimam as pestanas.
E o Ser
Ri-se a bandeiras despregadas
Dessa exaustão voluntária
Que só serve esse mesmo propósito:
Extenuar.

46
XXX
Númeno

N’opacidade do mundo
Há tempos de primavera
Em que realidade fera
Mostra mais seu ser profundo.

Não da máquina d’esferas


Sobre que roda o viver
Mas culminando as esperas
Por vezes olhar é ver.

E o milagre da visão
Consumada em comunhão
É uma outra alegria.

Nessa nova dimensão


(Não sei como to diria)
Vai vê-lo por tua mão.

47
XXXI
Novo Cântico

Não acredites no que te querem


Fazer crer.
Lê o Cântico Negro, de José Régio
Não vás por onde te dizem
Que o caminho é fácil.
Os bons caminhos
São em geral muito difíceis.
Mas depois
Há por vezes o triunfo
De haver vencido o cansaço,
E de ter chegado.
Ora quando chegares
Trata de não dormir
Demais.
Porque deves concluir
Que o destino ainda
Não era ali.
É sina de saltimbanco
Esta nossa.
Mas se a não cumprires
E à sombra de frustes
Loiros te deitares
Nunca descobrirás
As paisagens além
O tesoiro de ser
Uma Pessoa a sério.
Dorida de parte inteira.

48
XXXII
Imperativo

Não deverias ser conselheiral


Isso de regras e de dogmas
É lixo do passado
A moda são observações
Impenetráveis e difusas
Afirmações confusas
Paradoxais.
Chocantes provocações
E tudo o mais
Que abale os templos
E as convicções
Tudo por dois tostões.

Não. Não raciocines.


Razoar é coisa de outros tempos.
Nem escrevas, nem leias.
Atira à cara do público
Alguma bofetada
Um bolo já passado
Sê um digno palhaço
De uma farsa engravatada
Sem gravata.

49
XXXIII
Milagres do Tempo

Tenho visto que o Tempo


Faz milagres.
Pelo Tempo havia,
Quando havia orçamento,
Fases, diuturnidades
E aumentos.

Mas mais:
Há metamorfoses
De pessoas
Até de sentimentos.
Amores se volvem ódios
E presenças ausências
E lamentos.
Rigores mudam em bródios:
São fases.
E se a roda da fortuna
Volve o pobre em rico
E este em indigente,
Algumas vezes,
Uma magia profunda
E muito estranha
De um ser banal

50
Já desentranha
Um génio, herói, alguém
Que abunda em Graça
E a Luz do Bem
Espalha aonde passa.

51
XXXIV
Diálogo

- És um cético!
- Não.
Em muito creio.
Só que não tenho esteio
Na tua visão.
E tenho um fundo ético,
Eclético.

52
XXXV
Paradoxo

A frase não burilo


O texto não construo.

53
XXXVI
Que gente!

Intriga-me
E indigna-me
(confesso a minha fraqueza)
A pedante superioridade
De quem nada sabe e
De quem nada fez
Ante quem trabalha
Duramente
Quem fala com simplicidade
Quem bem pensa e sente
Que gente!

54
XXXVII
Graal

Perante o vendaval
De maledicências
De malquerenças
De ódios
Desavenças
Bródios
Nesciências,
Perante tanto mal.
Só um silêncio
De pedra conventual.
Uma muralha,
Eriçada de espadas,
Flamejantes gládios,
Colocando bem ao longe
Ruído mundanal.
E, no santo dos santos,

55
Oficiar humildemente
Breve oração somente.
Esse o sagrado Graal.

56
XXXVIII
Bússola

Não será só uma metáfora


Dizeres que o Céu,
O Graal,
Alguma transcendência,
Está no teu coração.
Disso tem ciência.

Já não pensas em ti
Senão como te querem;
Já não desces ao fundo
Do que realmente és.

Abre-te a ti!
Abre o sacrário interior!
Olha-te ao espelho.
E vê se o teu retrato
Se assemelha àquela pessoa
Que és tu.
Com quem ainda sonhas.
Sonha-te agora acordado!
Reinventa-te!
Esse talismã
Que trazes no peito
É uma bússola.

57
XXXIX
Utilitarismo bem entendido

Creio que um comentador,


Refletindo sobre Bentham,
viu o paradoxo de
alguém se sacrificar
trabalhando afincadamente
por prazer.
Isso também contará
Como utilidade.
É nosso bom prazer
Termos o desprazer
De reviver angústias.
Porque estultamente decerto
Ainda acreditamos
Que algum proveito e exemplo
A outros poderão trazer.
Ninguém disse
Que o utilitarista
Não poderia ser também
Uma estranha forma
De pessimista otimista.

58
XL
Memória

Quando eu era criança


Achava que os adultos
Que discutiam com elevação
E vero fair play
Uma área da cultura
A que se chamava “política”
Eram ilustrados
Prudentes e sábios
E que tal secção dos estudos
Deveria ser coisa elevada
Edificante e útil.
Muitas cores
Dialogantes
À Volta de um café.

59
XLI
Originalidade

Um homem que não pensa


pela própria cabeça,
pura e simplesmente
não pensa.

Oscar Wilde, Aforismos

O papel não acaba!


As tuas ideias é que
São redundantes
E já não chegam
Para acabar um caderno.

Tenta escrever
O que realmente
Pensas e
Sentes.

Tenta, depois,
Depurar o que
Realmente é teu
E não ouvido
Aqui e acolá.

Conseguiste
Preencher uma página?
Meia?
Quantas linhas?
Uma só?

Parabéns!
És um pensador.

60
XLII
A fava

Sem dúvida que não sou


Eu
Que escrevo o que escrevo.
Dita-me alguém
O que devo escrever.
Quem o faz?
Essa é que é essa.
O espírito coletivo,
O subconsciente,
A memória,
O superego,
Um espírito desencarnado,
A musa,
Anjo, mentor,
Guia?
Escrevente é que sou.
E a minha pessoa física
Pagará, isso sim,
As consequências do que
Qualquer dessas atividades
Lhe dite.
Acham justo?

61
XLIII
Humor

O humor é sempre
Muito conveniente.
Opaco ou transparente
É verdadeiro e mente.

62
XLIV
Pretensiosos

Gosto dos autores


Tão pretensiosos
Que não precisam
De escrever coisas
Pretensiosas
Para terem
As maiores
Pretensões.

63
XLV
Máscara vacilante

A dificuldade em estar
Socialmente
Pode ser-nos simpática.
Mas o incómodo dessa falta
De à vontade
Pode levar a reações desagradáveis.
Antes quem saiba
Segurar bem
Sua máscara.

64
XLVI
E sereis salvo...

A Palavra é mágica.
Inúmeras aproximações clássicas
E bíblicas e de outras sapiências
Nos confirmam
o Poder da Palavra.
E a logoterapia e a
Biblioterapia e a
Psicanálise certamente.
A Palavra cria. Fiat lux.
Por isso, se diz que logo depois
De Deus
Esteve a Palavra.
In principium erat Verbum.
A Palavra é origem.
O Verbo é mais que a Palavra,
Mas é-o também.
Não estranhes a conclusão,
Banalíssima e profana:
é óbvio que, com tamanha
força,

65
a palavra
(agora com minúscula)
a nossa palavra,
é um bálsamo.
Falar faz bem –
- digam-no tantos tagarelas.
Escrever faz muito bem.
Dizemos nós.

66
XLVII
Vocações

Se todas as palavras
Que se ocupam
E que vibram
Com o seu grande desporto nacional
(seja ele qual for)
se ocupassem em política
digamos, “local”.
e aderissem a ONG’s e que tal
Haveria decerto um campeonato
De política local ou internacional
E a forma das polémicas desportivas
Passaria a ter repercussão
Nessa outra dimensão.
E se depois, por difusão,
Os que nos bares ou à televisão
Discutem os jogos da divisão
Passassem a discutir apenas
A grande política da nação?
Seria uma enorme mole de gente
Para isso muito certamente
Bem pouco competente.
E seria essa mobilização total
Da retórica e paixão nacional
Algo excelente?
Duvido, profundamente.
Decerto a divisão dos interesses
(a diferente vocação)
é certa, boa, suficiente.

67
XLVIII
Vanitas

Ir a um alfarrabista
É um excelente
Calmante das vaidades
E das pretensões
De fama.
Hoje vi uma boa dúzia
De livros
De um autor quase
Ignorado.
Cada livro que ele viu
Sair dos prelos
Deve ter sido
Um nascimento
Uma promessa.
Não necessariamente
De fama
Ou de riqueza
Mas ao menos de algum
Reconhecimento.
Jaz, como que por favor,
Num alfarrabista
A preço muito abaixo
De qualquer ilusão.
RIP.

68
XLIX
Modelos

Porque não se ensinam


às crianças de agora
os feitos
não digo dos mata-mouros
ou dos descobre mares
(que são demasiado nacionais
e até podem colocar
problemas geopolíticos
e culturais
e outros mais)
nem, obviamente, atos
pouco consensuais.
Mas uns tantos sábios gregos
E varões e matronas
Romanas,
Exemplares durante séculos?
Sei que agora parece
Que nada o é.
Daí essa timidez
Esse pudor
Que, assim, deixa espaço
Aberto
Para outro tipo
De heróis...
Pensa em que feitos
Foram os dos modelos

69
Propagandeados agora.
E em que estamos submersos.
Será que a falta
De espírito crítico
Tão generalizada
Será que a escravatura de trabalho
Tão constrangedora
Será que os ópios mediáticos
Tão avassaladores
Não deixam entrever?
Te comemos quase só
gato por lebre?
Ou será que a pessoa moderna
É de si tão ciosa
Que modelos a sério
Seriam um choque excessivo
Que lhe faria entrar
Em depressão?

70
L
Xerazaad

Gosto de recordar
Estórias reais
E exemplares.
Para cada situação
Há um caso antigo,
Pessoal e de segunda mão
Que pode ficar contigo
Avançar a solução.

Mas hoje só tens irrequietos,


Só querem o sim ou não.
Como “poderás sentá-los”?
Como poderás fazer que oiçam?
As Humanidades, a Civilização,
Podem sucumbir de autismo.
E não se vislumbra antídoto.
“É preciso contar estórias”
para sobreviver.
Sabe-o Xerazaad.
Nós ainda não.

71
LI
Preconceitos

O preconceito é uma praga.


Temo-los de todas as cores,
Formas, feitios e insídias
Motes, calúnias e perfídias
E sons, gostos e odores
Podes fazer uma saga.

Mas o maior preconceito


É o que esconde o que é:
Dispara sempre a preceito
Sem nenhuma boa-fé.
E baralha o seu conceito.

Um dogmático feroz
De privilégios senhor
Pode ser maior mentor
Duma hipocrisia atroz.

Com ar de mui grão senhor


Decreta por sua voz
Quem são eles e quem é nós.
E em nós a santidade
E neles a malignidade.

Desses enleios fugir


Porque a mistificação
É profunda e a Razão
Já tarda muito em surgir
O Ser é feito Não-Ser.

Feche a porta quem puder.

72
LII
Currente Calamo

Não gosto de rascunhar


O esquiço tem de ser
Promessa do que vier
E no caso é rasurar.

Em letra limpa passar


Demora tempo e paciência
Prefiro a franca decência
De logo tudo esboçar.

E das mudanças registo


Fica para a posteridade.
Não é “claramente visto”
Mostrar-se em toda a verdade?

E escrito não revisto


É até preciosidade...

73
LIII
Regeneração

Seria importante
Haver estudos abrangentes
(e divulgados)
sobre a mudança nas pessoas.
Até que ponto e como
As pessoas mudam?
Certamente pessoas de uns grupos
Mudam mais facilmente
E para melhor
Que outros.
Pode também extrapolar-se:
Se uma pessoa comum
Dificilmente, por exemplo,
Se cura de um vício,
Como se poderá pretender
Que a Humanidade ganhe emenda?
E, contudo, há quem
Vença os vícios e
Renasça.
Essa a esperança
Para esses
E indiretamente
Para o Mundo.

74
LIV
Linhas Vermelhas

Pode ser-se um beneditino


De paciência.
Resta saber
Qual será o ponto nevrálgico
Em que, qual calcanhar
De Aquiles,
Se tocará
Com a virtualidade
De fazer soar estrídulas
Sirenes
De tocar a rebate
Carrilhões canoros
Que levarão a uma
Rutura, a uma explosão.

A paciência esgota-se,
Embora haja quem seja
Um poço sem fundo
De paciência infinda,
Quase infinda.

As cedências têm seu limite.


Depende, bem sabemos,
De pessoa para pessoa.
Mas creio que há sempre,
Um dia, uma hora, um momento,
Em que se agiganta
Insustentável, irreversível
A zona de não retorno.

Se o agente tiver sido


Um grande penitente
Muito muito paciente
É certo e sabido:
Não o vais querer ver
Pela frente.

75
LV
When you wish upon a star

Quando eu era menino


Fascinavam-me os adultos
Inteligentes e com ideias.
Creio que um dia pedi
A uma estrela
Num vasto terraço
Da casa de um parente
Que me desse ideias próprias.
Acho que a estrela
Como um duende maldoso
Me concedeu essa graça.

76
LVI
Sinteticamente

Não se trata
De falar demais.
Não se trata
De falar muito.
Há quem fastidiosamente
Fale por horas e horas
Sem nada de importante dizer
- que terrível tortura!
Trata-se de dizer as coisas todas
De forma um pouco
Mais completa
E ainda assim
Fica sempre tanto
(mas tanto do importante,
não do banal e até
do nocivo)
por dizer.

77
LVII
Carne e peixe

- Gosto mais de peixe


do que de carne.
- Mas então,
porque comes tu
mais carne do que peixe?
É pelo preço?
- Nem por isso.
É que tive
Más experiências
Com casos de peixe
Que não estava bom.
- Não entendo...
- Também gosto mais
de desenhar e pintar
do que de escrever.
- E daí?
- É que escrever é seguro
como comer carne.
É geralmente mais fácil
Atingir um texto razoável
Do que um desenho
Ou uma pintura satisfatória.
Pelo menos para mim.
- Agora entendi-te.
- Pois é. Como seria bom
comer um bom peixe grelhado
e pintar em conformidade!

78
LVIII
Pavão

Devia apenas
Achar ridícula
A atitude de quem
Muito se tem
Em conta.
É curioso que quando
Alguém assim
Ainda possui
Alguma réstia
De valor
É pecado venial.
Mas quando é apenas
Um galaró emplumado
(ou afim)
sem conteúdo e sem nada
E pior se vexando
O primeiro desgraçado
Que lhe passar no caminho
Isso me tira do sério
E digo-o sem mistério:
Essa figura animal
Nem um pecado mortal
Comete, assim, afinal.
É nulo e é deletério.

79
LIX
Querelas

A maior parte
Das discussões
Nada significam
Em si mesmas.
São animosidades
Verbalizadas
Frustrações e
Medos
Feitas argumentos
Não são palavras
São só sentimentos
Não interessa o que digam
Os contendores
Poderiam
Facilmente
Mudar de posição
Têm só em mente
Gratuita agressão.
Ai, assim não!

80
LX
Monumento

Há monumentos
Às mais variadas causas.
Por um momento
Pensei num monumento
Não a um deus desconhecido
Nem a um soldado olvidado
Mas a uma virtude esquecida.

Risota geral, claro.


Isso de virtudes é arcaísmo
Para tantos...
Pasmem mais,
E certamente muito se irritem
E estigmatizem
E cancelem.
Um monumento ergo
Mentalmente
Sentimentalmente
Ao Bom Senso
É assim que penso.

Mais que virtude,


É uma divindade, conhecida,
Mas esquecida.
Digna de culto,
Pelo seu ritual de prática
Diuturna.
Pratique-se – decretemos.
E desesperem ou riam
Os que tributam culto
(sem o saberem,
como é de preceito)

81
à deusa insensatez.

LXI
Elogio do Bom Senso

O Bom senso começa


Por pesar
As coisas justas, harmónicas.
E vai pois a procurar
Como tudo moderar
Onde colocar
As tónicas.

O Bom senso
É velho, é sábio;
Não deixa de ser audaz,
Mas é sempre bem capaz
De ter cuidado, ter tento,
Ele é cauto e é sagaz.

Bom senso eu te recomendo.


Aprendes com teus avós
(se não forem modernaços)
Aprendes com calhamaços
E com os nós e os laços
Nunca ficarás a sós.

Não é o senso comum:


Tens da turba te elevar
Há sempre que ponderar
Não temas seres um só.
A bom porto vais chegar.

82
LXII
Dever de simpatia

A simpatia é um dever
Não a untuosidade
Não louvaminha fazer
Sempre sempre pois manter
Altivez e hombridade
Mas amável deves ser.

83
LXIII
Complacência

Magnanimidade é sinal de grandeza


Solidariedade, contrário de avareza
E complacência, tens dela consciência?
É dessas virtudes com ambiguidade
- tal como a ambição –
Pode ser mau ou ser bom.

Sê complacente até certo ponto.


Sem envilecer de quem te compadeces
Sem a ti mesmo corromperes
É preciso intuição nestes saberes.

84
LXIV
Coração ao alto

Algo me segreda
Que melhor triunfa
Uma qualquer empresa
Se se tiver o coração sem presa.
Desprendido da sorte da jogada
Ao audaz bafejam os deuses.

Se perder, não perdeu,


Mas sói ganhar.
Porque não empenhou no jogo
(Coisa quase sempre
Mais ou menos vil
Ou fútil)
O seu ser e su’alma.

Fez do risco um jogo


Qual brincadeira infantil
E esse jogo sim, benévolo,
Sempre termina bem.
Salvo para as já soberbas
Crianças, “donas da bola”.
Essas

85
Jogam precocemente mal.
E, seja como for,
Perdem sempre.
Podemos jogar.
Mas saibamos jogar bem.
Desprendidamente.
E conscientemente...

86
LXV
Democratizar a ciência

Porque assaltam memórias


De pequenas coisas
Tão vivamente?
Será que se as registasse
Poderia reconstituir
Com rigor
O passado remoto?
Certamente há,
Nos escaninhos da psique,
Uma razão profunda
Para assomarem
À superfície
Do consciente.
Pressinto que especialistas
Destas e doutras coisas
Muito sabem.
Mas o comum dos mortais
Nada sabe.
É preciso
(sem ironia)
democratizar a ciência.

87
LXXVI
Pílulas de pensamento

Se estivéssemos no séc. XVI


Certamente cada pequenino
Aforismo ou reflexão
Daria um ensaio
Como ao grande Montaigne.
Hoje mesmo quem rouba tempo
A si
Para escrever
Não tem tempo para o fazer.
Pílulas de pensamento,
Balbucios, até esgares
De ideias.

“Até onde leva o narcismo” –


- pensarão alguns.
Até onde vai a estulta crença
De que explicando
O que se pensa
Podemos,
ainda que remotamente,
contribuir para um mundo melhor.
Ainda que apenas quiçá tocando
Alguém desconhecido.
Mas um só leitor
Que o seja mesmo
Já valeu tantas penas.

88
LXVII
Homo sum

A avaliação que se faz


Das atitudes das pessoas
É muito diversa.
Uns me creem quietista
Outros agitado.
Uns me consideram intelectual
Outros homem de ação
Uns acham-me vaidoso
Outros modesto
Uns, manipulador,
Outros, ingénuo.
Não parariam as antinomias.
Quando se não é
Aquela personagem simples
Dos romances simplistas
É natural a divisão das
Apreciações e dos sufrágios.
Uma interpretação autêntica,
De mim sobre mim mesmo?
Ni ange ni bête, como diria

89
Pascal do próprio Homem.
Homo sum.

90
LXVIII
Decorum et Ratio

Não tenho disponibilidade


Emocional
Para filmes ou livros
Frenéticos, com sangue,
De terror e afins.
A este ponto chegado
Quero sossego, diversão.
Mas com tranquilidade
E muita moderação.
Com uma boa dose de
Razão.
A ficção necessita para mim
De espelhar de algum modo
O drama humano, não
Estilhaçando-nos os nervos,
Mas colocando problemas.
Há um decorum a manter
E uns degraus de inteligência
A subir.
Nem sempre é fácil.

91
LXIX
Mínimo ético (hoc sensu)

Mais que uma pessoa terá dito


Que a ideologia que perfilhava
Era sobretudo uma moral.
O problema das éticas normativas
(não das etiológicas)
é que não se compatibilizam
à primeira vista
com o pluralismo
próprio das sociedades democráticas.
Como, com que direito,
Se vai erigir um conjunto de valores
E virtudes
Como sendo o que é correto e a seguir,
O bom e o desejável?
E dessa posição se teme
Que se passe a uma imposição
Autoritária.
Por isso, tanto andamos à deriva
Nessas matérias,
Pois ninguém quer ter o ónus
De ser tido por autocrata moral.
É preciso, porém, distinguir.
Uma coisa é advogar uma ética
E outra é impô-la à força.
As ideologias têm o direito de ser
Ou de conter

92
Éticas
E de as propor.
Não de as impor.
Mas há um “mínimo ético” que
(transversal) talvez deva mesmo
ser imposto.
Nele se integra
(ou com ele se confunde?)
o Direito.
Não podemos queixar-nos
Da mínima moral
Imposta pelo Direito.
Deixemo-nos de chinoiseries
Intelectualistas.

93
LXX
Partilhar

É urgente tornar comuns


Um mínimo seleto de referências
A que latamente
Chamaríamos culturais.
Mas que também são cimento
Civilizacional.
Façamos um levantamento
De lendas, estórias infantis,
Enredos de filmes clássicos,
Livros canónicos, músicas
De sempre, figuras emblemáticas,
Provérbios, máximas...
Sem referências comuns, é como
Se não falássemos todos
A mesma língua.
Não nos entendemos
Porque não partilhamos

94
O mesmo tesouro civilizacional.
Uns (poucos) ainda parte dele
Possuem.
Outros quase nada.
Este é um sério problema.

95
LXXXI
Passividades

Será que existe mesmo


A pessoa culta passiva?
Aquela que não produz
Nada de cultural
Mas é aficionada
E entusiasta
E sabe tudo
(até os faits divers e
a petite histoire –
- infelizmente, sabe
sobretudo isso)
da ribalta cultural
do momento
Até que ponto
Essa figura
Se distingue
Do passivo adepto
Do futebol e de outros
Tão queridos desportos
De massas,
Que algumas elites
Não desdenham?
Será que é apenas uma convenção
Chamar a umas coisas
Cultura
E a outras,
Por exemplo,

96
Desporto?

LXXII
Síndromes

Há quem padeça
Do trauma, do bloqueio,
Do chamado “síndrome
Do papel branco”.
Como somos todos
Bem diferentes!
A mim
O papel
Seja ele branco
Ou de qualquer cor
(mesmo o negro,
que é ausência dela)
chama-me
impele-me
obriga-me
Força-me a mão
A escrever
Não tenho como
Dele fugir.
É só obedecer.

97
LXXIII
Extremismos de atitude

É pena que haja pessoas a sofrer


Horrores com monstros por si
Mesmas inventados.
Que ao menos se encontre
Uma paz provisória,
Uma trégua desses torturadores
De si
Que nem sempre com isso ganham
Ou sentem comprazimento.
Boa parte (se não a totalidade)
Desses atormentados
São-no por escrúpulos
Do seu espírito,
Arquitetam culpas, sobretudo.
Curiosamente,
Na justa luta
Contra muitos maníacos auto flageladores,
A nossa sociedade criou
Um padrão de normalidade laxista,
Em que até o mínimo
Denominador comum a cumprir,
Ou seja, as leis,
É desprezado e,
Quando possível,
Ludibriado.

98
LXXIV
Biologia gráfica

Quando desenhas
Mobilizas uma enzima
De concentração
E excitas uma hormona
De felicidade.
Não é isto
(que eu saiba)
absolutamente científico...
Digo-o apenas
Por ser verdade
Independentemente
Da terminologia.
Mas sabemos
Que dito assim
Teria mais peso,
Mais respeitabilidade,
Outra plausibilidade,
Verosimilhança.
Faria a diferença
Ou diferança...

99
LXXXV
Imperium

Há uma soberania imensa


Em poder pensar sem peias
E no papel exprimir
Sem tibiezas.
Pode chamar-se-lhe Liberdade
Mas é só
A própria marca
Inconfundível
Da mera Humanidade.

100
LXXXVI
Arqueologia mais funda

Digam o que disserem


A pena a dançar
Sobre o papel
Contacto com a matéria
Inspira mais poderosamente
Que o abstrato teclar
A ver letras numa tela.
Para nós, desse outro tempo,
Era, sim.
Será assim para os demais?
Alguns ainda adquirem
Em antiquários
Máquinas de escrever
Para ouvirem o seu som
(deveras monótono
e irritante)
ao escreverem seus textos.
Nostalgias
De coisas que se não
Viveram.
Porque não voltar
Apenas à caneta
A rasgar suavemente
Um pouco de papel?
Poderia ser
Para alguns
Uma revelação!

101
LXXVII
Adversidade e engenho

Quando, por falta de papel ou de tinta


Temos que poupar palavras
Um esforço de síntese
Se apodera de nós e normalmente
Não só dizemos tudo
O que importa realmente
Como o resultado é melhor
E mais simbólico.
A adversidade, realmente, faz
Ver primeiro o mestre – di-lo Goethe
E aguça o engenho – escreveu Camões.

102
LXXXIX
Túnel musical

Entrar na música
Música música, não mero ruído,
É ir por um túnel
Almofadado
Como uma tuba enorme
Que nos engole e acolhe
E nada há mais
Que essa outra dimensão
Por isso mesmo uma sinfonia
Retumbante
Não pode nunca
Fazer adormecer.

103
LXXX
Salvaste-te?

Tornaste-te, intimamente,
Como pessoa a sós, naquilo /e /a
Que tinhas sonhado
Ou mesmo planeado?
É um balanço a fazer na maturidade
E de preferência várias vezes
Durante esses anos de balanço
(e em todo o limite
de idade).
Podias ter planos exagerados,
Desmedidos, insensatos.
Se os não cumpriste,
Fizeste bem.
Alguns vão involuntariamente
Além dos seus planos.
Mas é caso
Para perguntar
Se esse ir além
Teve boas ou nocivas
Consequências

104
(não vás pelas aparências)
Não na persona exterior
Mas no ser interior
De cada um.
Pode-se ganhar o Mundo
E perder a sua alma.
O que tem de ser
Interpretado
Em termos muito latos.
Perder a alma é também
Perder o seu tempo
Em dissipação pura
Ou muito mau
Negócio.
Por exemplo, em trabalho
Improdutivo.
Tudo depende.
Mas vê se te salvaste.
Isso é importante.

105
LXXXI
Em demanda da individualidade perdida

Quando já apenas se é
Uma diligentíssima máquina
De trabalho, a individualidade
Passa a ser, não um ser com
Ipseidade, mas...
Uma diligentíssima máquina
De trabalho.
A função transforma
Não o órgão,
Mas todo o organismo.
Donde, o burocrata não seja já
Pessoa
Mas a encarnação total
E completa
Da própria Burocracia.
E, de um modo ou de outro,
A sociedade atual tende para
Transformar mesmo as profissões
Mais livres
E criativas
Em vis e subordinados mesteres
Submersos em corveias vãs
Das mais néscias.
Como reencontrar a Pessoa

106
Por detrás da carapaça
Da estúpida função?
Se ser competente é ser
Tanto mais estúpido?
Quando vejo num profissional
De sucesso
Um hobbie que não seja
Meramente extensão ou subsídio
Do seu sucesso profissional
(como para tantos o ténis
na juventude
e na maturidade o golfe)
rejubilo. After all...
Mas um hobbie, convenhamos,
Não é apesar de tudo
Suficiente.
É preciso algo mais
Para redimir um embotamento
Diuturno.

107
LXXXII
Élan vital

A ilusão da realidade
e da função social
Da escrita
Apanha e enleia
Mesmo quem tem consciência
Dessa sutil teia.
Dá uma fúria criadora
A quem escreve,
Quando o que escreve
Lhe sai mesmo d’Alma.
E procura transcrever
O que vai dentro
No íntimo do Ser.
Pode montanhas mover,
Esse élan vital,
Mesmo se tudo
Parece ir muito mal.
Os doentes recobram forças
É certo que alguns autores
Não terminaram,
Colhidos pela morte,
Os manuscritos que criaram.
Pouca sorte.
Mas certamente
Tendo o fim pela frente
Muitos conseguiram iludir
A dama negra, adiar o desfecho.
É que uma das maiores
Forças humanas é o sentir
Que se faz algo com sentido

108
E utilidade.
Não importa a doença,
Não releva a idade.
Pela mesma razão é que tantos
Reformados, aposentados, jubilados,
Partem depressa.
Falta sentido.
Sentem lançados
Definitivamente
Aqueles seus dados.

109
LXXXIII
Rio da História

Não se presta hoje


No comum das famílias
Suficiente atenção
Ao legado familiar.
Noutras, tudo gira em torno
Das glórias de um passado perdido.
Glórias que frequentemente
Passam adiante alguns
Primeiros antepassados
Comprometedores
Pobres, vagamundos e negreiros,
Corruptos, corruptores,
Sabe-se lá que mais
Tratantes, assassinos

110
Marginais.
Esses não ficam nos anais.

Mas interessa-nos o comum.


Muito se ganharia contando
Verídicas (não fantasiosas)
Histórias das famílias
Aos mais novos.
Mesmo que fossem
Algo pouco edificantes
Sempre acabam por sê-lo
Se bem lidas.
Há sempre excelentes lições
A tirar da boa ou má sorte
Do labor dos nossos antepassados.
E, de um modo ou de outro,
Quase sempre temos
Que deles nos orgulhar.
O que nos faz partícipes
De um vasto rio
Da História,
Não átomos desgarrados
E sozinhos.
Eles estão connosco
E em nós.
Mesmo os piratas
E os contrabandistas
Os torcionários e os santos.

111
LXXXIV
Planícies e relevos

Nas planuras, uma vez por outra,


Uma árvore solitária,
Uma sombra amiga.
Na vida, por vezes,
Umas estranhas, inesperadas
Surpresas,
Mais inquietantes em geral
Que desagradáveis afinal.
Hoje a vida
Está eriçada de imprevistos
Partidas do destino
(ou até nem isso)
dão inquietação
ao menos momentânea
que faz sair da calmaria.
Confesso que não me apoquenta
Nem perturba
A rotina e sua serenidade
De sobressaltos privada.
Não como adrenalina.
A vida normal
Tão simplesmente
Já é uma aventura
Fascinante.

112
LXXXV
Instintos de defesa

Tudo o que é desconhecido


Acaba por ser estranho
E a breve trecho
(a menos que sejamos muito aventureiros)
pode tornar-se mentalmente
hostil.
É essa uma raiz do medo
E do preconceito.
Se não possuis amigos
De um certo grupo,
De dada feição,
Ou país, ou compleição,
Seja o que for,
Esses parecer-te poderão
Tontos, brutos,
Bizarros, mesmo perigosos.
Neles verás sinistra condição.
Uma outra forma
De comer, de vestir, de pentear
Já pode ser suspeita
Ao teu olhar.
Animais de hábitos
Temos defesas
Contra o negrume do desconhecido.
É natural
Mas muito mau e perigoso
Que sejas preconceituoso.

113
LXXXVI
Que fizeste tu?

Como nos fazem perder tempo!


“Confundamos as suas línguas...”
É a solução da Torre de Babel
Contra um empreendimento
Uma prometeica audácia
Que ameaçava os céus.
Solução fácil foi
Que não se entendessem.
Quantos desentendimentos
Impedem o progredir
De projetos bem mais
inocentes.
Perde-se infindável tempo
De Herodes para Pilatos
A encher o tonel
Das Danaides.
Feitas bem as contas
Que fizeste tu da tua vida?
Nem descontes o dormir.
Essa ficção do juízo particular
Era teologia tão útil:
Pelo menos antecipávamos
Um breve balanço de vida.

114
LXXXVII
Os Eleitos

Há quem sempre se desculpe.


Ou nem isso, na verdade.
Tem sempre razão em tudo.
Há quem nem sequer se desculpe
Mas aos demais sempre culpe.
Apontam o dedo ao outro.
Foi ele, nunca foram eles.
E se foram, até foram bem
Não só por bem, mas bem

115
Completamente.
Porque os dados do jogo
da vida
afinal são outros,
só para eles
privativos.
Há sempre uma nova lei
Privada (privilégio)
Um álibi, uma exceção,
Ou uma nova regra
Que não apenas os isenta,
Como até os exalta e acalenta.
Assim a vida é fácil.

116
LXXXVIII
Recordar

Coisas como nadar


De bicicleta andar
Números maiores contar
Coisas que podem fazer-se
Regularmente
Ou mais raramente
Se se perdem no uso
Não fogem na capacidade
E sempre se recuperam
À braçada nova
Ao voltar a pedalar
Ao retornar a sequência numérica.
Não é coisa quimérica.

Haverá decerto um centro cerebral,


Uma função qualquer nervosa
(nada disso sei – repito locii),
que permite este recordar
prático e com rapidez.

Outras coisas

117
(como as línguas,
parece)
já não retornam assim
com tanta facilidade.
Algo sempre se esquece.

E a ética acuidade?
Quando há que exercê-la
De novo,
Que coisa acontece?
Terás tu Liberdade?
O que te parece?

118
LXXXIX
Aparências

Amontoados colados,
Agregados ou prensados
De folhas, com um certo
Volume, dão alguma
Tranquilidade. Imponentes,
Infundem algum respeito.

Um livro volumoso
É um tijolo.
Pode bem ser
Uma arma
De arremesso...

Antigamente, ainda
Em certos países,
Um livro de cheques
Volumoso
Fazia pensar
Em grossa conta.

119
E o volume impresso
Também grosso e grande
Seria sinal se não
De ciência
Ao menos de vasta
Erudição.
Impressionamo-nos sempre
(ou quase, ou quase todos)
com aparências
demasiado evidentes
para serem verdadeiras.

120
XL
(Des)ilusões

A opção é simples:
Ou ter desilusões pontuais
Porque se anda em geral iludido
Ou ser um desiludido
E nada o iludir
Não podendo também
Nada o desiludir.
Apesar de toda a frieza
Há sempre, ainda que
Por momentos,
Um grau de desilusão
Mesmo que parcial,
Limitada,
Cheia de medos
E prevenções.
Por isso é que
Mesmo os mais desiludidos
Se iludem, e sobretudo
(porque isso mais se nota)
se desiludem.
Afinal, até eles
São uma desilusão.

121
XCI
Igualdade

“Nada tem um ar tão inocente


Como uma indiscrição”
Oscar Wilde, Aforismos

A ideia de privacidade,
Em termos absolutos,
Se é obviamente
Algo de civilizacionalmente
Progressivo
(noutros tempos,
nem os reis a tinham),
também comporta
algumas limitações,
que não ferem o seu cerne,
mas são, contudo, laterais.
Porém, a ter em consideração.

A forma mais simples de exprimir


O problema
Será certamente esta
(por muito que surpreenda):
Somos todos muito iguais
Entre nós.
Saber a vida deste
Ou daquela
Afinal de que vale?

122
Não podemos recortar
Uma dúzia de tipos humanos
Com suas estórias
E baralhá-las
Distribuindo-as
Por toda a Humanidade?
Protege a tua pequena estória.
Sim. Protege a tua
Pequenina e pessoal versão
Da estória padrão universal
X, y, z...
Não creias que és muito diferente
Nem muito importante.
Olha as estorinhas de tantos
famosos
Na comunicação social.
Vês alguma coisa de novo?
É tudo muito igual.
Será pelo gosto
De ler estórias repetidas
Com peripécias consabidas
Que as pessoas tanto procuram
Por esse tipo de “informação”?
Talvez seja um calmante,
Um tranquilizante,
Saber que tudo é igual.
Sensaborão.

123
XCII
Tipos

Há pessoas sensíveis e
Gentes insensíveis.
Para as primeiras, um simples
Bulir de folhas no outono
É já uma revolução.
E pior: um sobressalto
Interior
Maior.
Às segundas, por mais emoções
Que procurem
Nada lhes chega e atinge.
Há hipersensibilidades
Mesquinhas
Muito pequeninas.
Mas há ainda
sensibilidades nobres.
Como há insensibilidades
Embrutecidas e outras
Só anestesiadas ou abúlicas.
As sensibilidades nobres, porém,
Necessitam de algumas
Armaduras
Senão soçobram.
E seria uma grande pena.

124
XCIII
Relapsos e Impenitentes

Andas tu a vida toda


A remar contra a maré
Que podes tu contra a moda
Que se torna em crença e fé?

Andas tu a tentar tudo


A dar pulos no inferno
Ficaras antes tu mudo
Entre primavera e inverno.

As coisas são como são


Há gentes que não se emendam
Mesmo que muito pretendam
Em si já não têm mão.

Vais tu mudar, meu Irmão?


Essa não é solução.

125
XCIV
Aceitação

Um exercício podes fazer


Se achas a tua vida muito má.
Pensa numa troca.
Que coisa muito boa estarias
Disposto a trocar
Por outra que desejas
Muito boa também?
Ou não tens na vida
Nada de bom?
Decerto terás.
Já verás.
E reciprocamente
Que coisa bem ruim
Tu consentirias
Trocar por outra
Também deveras má
Que achas ter?

É uma hipótese radical


E temo até

126
Que possa transformar-se
Em real.
Não experimentes, pois.
Eu não arriscaria
A trocar absolutamente
Nada.
Tudo está bem
Como está.
Aceita.

127
XCV
Sinas

Há quem tenha nascido


Em mar de contentamentos
Por mais que funestos ventos
Abalem o seu tecido
Jamais ele será rompido.
Venha todo o estampido
Males rápidos e lentos
Uma estrela cintilante
Sempre os faz seguir adiante
E levas a tua avante.

Outros há, que dando um passo,


Logo topam com problema:
Ficam sempre em embaraço
Temer, tremer é seu lema.
Se um momento há alegria
Olha, não é mais que um dia.

No meio, alguns vão levando


Uma vidinha intermédia.
E laboram à porfia.

128
XCVI
Reductio

Fecha os olhos quase


Torna-os pequeninos
Como alguns míopes
Que querem ver melhor.
Ao longe,
Eles divisam
O essencial.
Segue-os.
Se entrecerrares os olhar
Verás que tantas penas
Tantos tabus
Tantas aflições
E comoções
São desesperadas
E tantas vezes baldadas
Tentativas
De lutar contra o tempo
De lutar contra a banalidade
De dar luta sem quartel
Ao Nada que se agiganta.
Em si mesmas
Estas baterias complexas
De normas e de esforços
Para além do mínimo ético
Que está gravado nos nossos
Pequenos corações

129
Tudo o resto é
Uma enorme, grandiosa,
Confusa, pretensiosa
Encenação.
Como quem vai ao circo
Para esquecer a doença mortal,
O desespero.
E contudo
Não digas que não há
Nada a fazer
E que a vida não tem
Qualquer sentido.
Bastaria que tentássemos
Diminuir a imensa
Dor de tantos
Que não têm tempo
(e muito menos dinheiro)
Para filosofar.
Mas é mais fácil
Arrastar esse ócio indigno
Pelas festas e mascaradas
E mesmo esbanjar
As horas em neuras
Mortais.

130
XCVII
Posfácio

Não escrevo para fazer


O tempo lento passar
Escrevo para o ganhar
Já não o posso esbanjar
Nisso de frases tecer.

Na ‘scrita sempre procuro


A solução do Enigma
É karma, é marca, é estigma
‘Essa azáfama que eu curo.

Não perco tempo pois não


Nem pensem que é diversão
Esta corveia que me ata.

É uma outra função


Que subjuga, arrebata
E requer muita atenção.

131
OUTROS LIVROS DO AUTOR

1987
(1) O Procedimento Administrativo, Coimbra, Almedina, 1987 (esgotado);
(2) Quadros Institucionais – do social ao jurídico, Porto, Rés, 1987 (esgotado); refundido e aumentado
no volume seguinte:
(2 a) Sociedade e Direito. Quadros Institucionais, Porto, Rés, 1990 (esgotado);

1988
(3) Introdução à Teoria do Direito, Porto, Rés, 1988 (esgotado);
(4) Noções Gerais de Direito, Porto, Rés, 1.ª ed., 1988, 2.ª ed. 1991, há outras edições ulteriores (em
colaboração). Edição bilingue português-chinês, revista, adaptada e muito aumentada: Noções Gerais de
Direito Civil, I, trad. de Vasco Fong Man Chong, Macau, Publicações O Direito, ed. subsidiada pelo
Instituto Português do Oriente e Associação dos Advogados de Macau, 1993; nova edição pela
Calendário das Letras, Vila Nova de Gaia, 2015; nova edição pela Primeira Edição editora, 2020.
(5) Problemas Fundamentais de Direito, Porto, Rés, 1988 (esgotado);

1990
(6) Direito, Porto, Edições Asa, 1990; 2.ª ed. 1991; 3.ª ed., 1994 (esgotado);
(7) Mito e Constitucionalismo. Perspectiva conceitual e histórica, Coimbra, 1988, Separata do
“Suplemento ao Boletim da Faculdade de Direito de Coimbra”, vol. III, Coimbra, 1990 (esgotado);
(8) Pensar o Direito I. Do realismo clássico à análise mítica, Coimbra, Almedina, 1990 (esgotado);
(9) Direito. Guia Universitário, em colaboração, Porto, Rés, 1990 (esgotado);

1991
(8 a) Pensar o Direito II. Da Modernidade à Postmodernidade, Coimbra, Almedina, 1991 (esgotado);
(10) História da Faculdade de Direito de Coimbra, Porto, Rés, 1991, 5 vols. (com colaboração de
Reinaldo de Carvalho, Prefácio de Orlando de Carvalho);

1992
Mythe et Constitutionnalisme au Portugal (1777-1826). Originalité ou influence française?, Paris,
Université Paris II, 1992 (tese policopiada e editada parcialmente);

1993
(11) Princípios de Direito. Introdução à Filosofia e Metodologia Jurídicas, Porto, Rés, 1993 (esgotado);

1995
(12) Para uma História Constitucional do Direito Português, Coimbra, Almedina, 1995 (esgotado);
(13) Tópicos Jurídicos, Porto, Edições Asa, 1.ª e 2.ª ed., 1995 (esgotado);
(14) “Peço Justiça!”, Porto, Edições Asa, 1995 (esgotado) – há edição em Braille, Porto, Centro Prof.
Albuquerque e Castro, n.º 1176, 8 volumes;
(15) Amor Iuris, Filosofia Contemporânea do Direito e da Política, Lisboa, Cosmos, 1995 (esgotado);

1996

132
(16) Constituição, Direito e Utopia. Do Jurídico-Constitucional nas Utopias Políticas, Coimbra,
Faculdade de Direito de Coimbra, Studia Iuridica, Coimbra Editora, 1996;
(17) Peccata Iuris. Do Direito nos Livros ao Direito em Acção, Lisboa, Edições Universitárias
Lusófonas, 1996;
(18) Arqueologias Jurídicas. Ensaios jurídico-humanísticos e jurídico-políticos, Porto, Lello, 1996;

1998
(19) Lições Preliminares de Filosofia do Direito, Coimbra, Almedina, 1998, esgotado, há 2.ª ed. e 3.ª ed.;
(20) A Constituição do Crime. Da substancial constitucionalidade do Direito Penal, Coimbra, Coimbra
Editora, 1998;
(21) Instituições de Direito. I. Filosofia e Metodologia do Direito, Coimbra, Almedina, 1998
(organizador e coautor), Prefácio de Vítor Manuel Aguiar e Silva;
(22) Res Publica. Ensaios Constitucionais, Coimbra, Almedina, 1998;

1999
(23) Lições de Filosofia Jurídica. Natureza & Arte do Direito, Coimbra, Almedina, 1999;
(24) Mysteria Ivris. Raízes Mitosóficas do Pensamento Jurídico-Político Português, Porto, Legis, 1999;

2000
(25) Le Droit et les Sens, Paris, L’Archer, dif. P.U.F., 2000;
(26) Teoria da Constituição, vol. II. Direitos Humanos, Direitos Fundamentais, Lisboa, Verbo, 2000;
(27) Temas e Perfis da Filosofia do Direito Luso-Brasileira, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda,
2000;
(20 a) Instituições de Direito. vol. II. Enciclopédia Jurídica, (organizador e coautor), Coimbra, Almedina,
2000;
(28) Responsabilité et culpabilité. Abrégé juridique pour médecins, Paris, P.U.F., 2000 (esgotado);

2001
(29) O Ponto de Arquimedes. Natureza Humana, Direito Natural, Direitos Humanos, Coimbra,
Almedina, 2001 (esgotado);
(30) Propedêutica Jurídica. Uma perspectiva jusnaturalista, Campinas, São Paulo, Millennium, 2001
(em colaboração com Ricardo Dip);

2002
(31) Lições Preliminares de Filosofia do Direito, 2.ª edição revista e atualizada, Coimbra, Almedina,
2002;
(25 a) Teoria da Constituição, vol. I. Mitos, Memórias, Conceitos, Lisboa, Verbo, 2002;
(32) Faces da Justiça, Coimbra, Almedina, 2002 (esgotado);

2003
(33) Direitos Humanos. Teorias e Práticas, Coimbra, Almedina, 2003 (org.), com Prefácio de Jorge
Miranda;
(34) O Século de Antígona, Coimbra, Almedina, 2003;
(35) Teoria do Estado Contemporâneo (org.), Lisboa / São Paulo, Verbo, 2003;
(36) Política Mínima, Coimbra, Almedina, 2003 (esgotada a 2.ª ed.);
(37) Miragens do Direito. O Direito, as Instituições e o Politicamente Correto, Campinas, SP,
Millennium, 2003;
(38) Droit et Récit, Québec, Presses de l’Université Laval, 2003;

2004
(39) Memória, Método e Direito, Coimbra, Almedina, 2004 (esgotada a 2.ª ed.);
(40) O Tímpano das Virtudes, Coimbra, Almedina, 2004;
(41) Filosofia do Direito – Primeira Síntese, Coimbra, Almedina, 2004 (esgotado);
(42) Direito Natural, Religiões e Culturas, org., Coimbra, Coimbra Editora, 2004;

2005
(43) Anti-Leviatã, Porto Alegre, Sérgio Fabris, 2005;

133
(44) Repensar a Política. Ciência & Ideologia, Coimbra, Almedina, 2005 (esgotado; há 2.ªed., com uma
Apresentação de J. J. Gomes Canotilho);
(45) Lusofilias. Identidade Portuguesa e Relações Internacionais, Porto, Caixotim, 2005 (Menção
Honrosa da SHIP);
(46) Escola a Arder, Lisboa, O Espírito das Leis, 2005;
(35 a) Política Mínima, 2.ª ed., corrigida e atualizada, Coimbra, Almedina, 2005 (esgotado);
(47) Novo Direito Constitucional Europeu, Coimbra, Almedina, 2005;
(48) História do Direito. Do Direito Romano à Constituição Europeia, Coimbra, Almedina, 2005 (em
colaboração com Joana de Aguiar e Silva e António Lemos Soares), esgotado, foi feita reimpressão, de
novo esgotada, e mais recentemente 2.ª ed.;
(49) Direito Natural, Justiça e Política, org., Coimbra, Coimbra Editora, vol. I, 2005;
(50) O Essencial sobre Filosofia Política Medieval, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2005;

2006
(51) O Essencial sobre Filosofia Política Moderna, Lisboa, INCM, 2006;
(52) Per-Curso Constitucional. Pensar o Direito Constitucional e o seu Ensino, Prefácio de Manoel
Gonçalves Ferreira Filho, São Paulo, CEMOROC- EDF-FEUSP, Escola Superior de Direito
Constitucional, Editora Mandruvá, 2006 (esgotado);
(53) O Essencial sobre Filosofia Política da Antiguidade Clássica, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da
Moeda, 2006;
(54) Pensamento Jurídico Luso-Brasileiro, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2006;
(55) Raízes da República. Introdução Histórica ao Direito Constitucional, Coimbra, Almedina, 2006
(esgotado);
(56) Direito Constitucional Geral, Lisboa, Quid Juris, 2006 (esgotado; há nova edição);
(57) Filosofia do Direito, Coimbra, Almedina, 2006 (esgotado; há 2.ª edição);
(56 a) Direito Constitucional Geral. Uma Perspectiva Luso-Brasileira, São Paulo, Método, 2006,
Prefácio de André Ramos Tavares (Prémio Jabuti para o melhor livro de Direito);
(58) Constituição da República da Lísia, Porto, Ordem dos Advogados, 2006;

2007
(59) A Constituição Viva. Cidadania e Direitos Humanos, Porto Alegre, Editora do Advogado, 2007,
Prefácio de Ingo Sarlet;
(45 a) Repensar a Política. Ciência & Ideologia, 2.ª ed., revista e atualizada, Coimbra, Almedina, 2007,
com uma Apresentação de J. J. Gomes Canotilho;
(60) Direito Constitucional Aplicado, Lisboa, Quid Juris, 2007;
(61) O Essencial sobre Filosofia Política Liberal e Social, Lisboa, INCM, 2007;
(62) O Essencial sobre Filosofia Política Romântica, Lisboa, INCM, 2007;
(63) Manual de Retórica & Direito, Lisboa, Quid Juris, 2007, colaboração com Maria Luísa Malato
(esgotado; 2.ª ed. em preparação);
(64) Constituição, Crise e Cidadania, Porto Alegre, Livraria do Advogado Editora, 2007, com Prefácio
de Paulo Bonavides;

2008
(65) Direito Constitucional e Fundamentos do Direito, Rio de Janeiro / São Paulo / Recife, Renovar,
2008, com um texto de J. J. Gomes Canotilho;
(66) Comunicação e Direito, Porto Alegre, Livraria do Advogado Editora, 2008;
(67) Tratado da (In)Justiça, Lisboa, Quid Juris, 2008;
(68) Direito Constitucional Anotado, Lisboa, Quid Juris, 2008 (esgotado);
(69) Fundamentos da República e dos Direitos Fundamentais, Belo Horizonte, Forum, 2008,
Apresentação de André Ramos Tavares;
(70) O Essencial sobre Filosofia Política Contemporânea (1887-1939), Lisboa, Imprensa Nacional-Casa
da Moeda, 2008;
(71) O Essencial sobre Filosofia Política do séc. XX (depois de 1940), Lisboa, Imprensa Nacional-Casa
da Moeda, 2008;

2009
(72) Filosofia Jurídica Prática, Lisboa, Quid Juris, 2009;
(73) Direito Constitucional & Filosofia do Direito, Porto, Cadernos Interdisciplinares Luso-Brasileiros
(coord.), 2009 (esgotado);

134
(72 a) Filosofia Jurídica Prática, Belo Horizonte, Forum, 2009, Prefácio de Willis Santiago Guerra Filho,
Apresentação de Regina Quaresma;
(74) Da Declaração Universal dos Direitos do Homem, Osasco, São Paulo, Edifieo, 2008 (2009);
(75) Geografia Constitucional. Sistemas Juspolíticos e Globalização, Lisboa, Quid Juris, 2009;
(76) Direito & Literatura, coord., Porto / São Paulo, Cadernos Interdisciplinares Luso-Brasileiros 2009
(esgotado);
(77) Síntese de Filosofia do Direito, Coimbra, Almedina, 2009;
(67 a) Breve Tratado da (In)Justiça, São Paulo, Quartier Latin, 2009;
(31 a) Lições Preliminares de Filosofia do Direito, 3.ª ed., Coimbra, Almedina, 2009;
(39 a) Iniciação à Metodologia Jurídica. Memória, Método e Direito, Coimbra, Almedina, 2009
(esgotadas a 2.ª ed. e 3.ª eds.);
(78) Pensar o Estado, Lisboa, Quid Juris, 2009;

2010
(79) Presidencialismo e Parlamentarismo, Belo Horizonte, Forum, 2010, Prefácio de Marcelo
Figueiredo, Apresentação de Maria Elizabeth Guimarães Teixeira Rocha;
(80) Traité de Droit Constitutionnel. Constitution universelle et mondialisation des valeurs
fondamentales, Paris, Buenos Books International, 2010 (também com edição em eBook);
(81) Justiça & Direito. Viagens à Tribo dos Juristas, Lisboa, Quid Juris, 2010;
(82) Para uma Ética Republicana. Virtude(s) e Valor(es) da República, Lisboa, Coisas de Ler, 2010,
Prefácio de Eduardo Bittar;
(83) Filosofia Política. Da Antiguidade ao Século XXI, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2010;

2011
(84) O Essencial sobre a I República e a Constituição de 1911, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da
Moeda, 2011;

2012
(85) Droit naturel et méthodologie juridique, Paris, Buenos Books International, 2012, Prefácio de
Stamatios Tzitzis;
(86) Avessos do Direito. Ensaios de Crítica da Razão Jurídica, Curitiba, Juruá, 2012, Prefácio de Lênio
Streck, Apresentação de Maria Francisca Carneiro;
(87) Constituição & Política. Poder Constituinte, Constituição Material e Cultura Constitucional,
Lisboa, Quid Juris, 2012;

2013
(88) Rethinking Natural Law, Berlin / Heidelberg, Springer, 2013, Prefácio de Virginia Black;
(57 a) Filosofia do Direito. Fundamentos, Metodologia e Teoria Geral do Direito, 2.ª edição revista
atualizada e desenvolvida, Coimbra, Almedina, 2013 (esgotado);
(89) Filosofia do Direito e do Estado, Prefácio de Tercio Sampaio Ferraz Junior, Apresentação de
Fernando Dias Menezes de Almeida, Belo Horizonte, Forum, 2013;
(90) Repensar o Direito. Um Manual de Filosofia Jurídica, Prefácio de Mário Bigotte Chorão, Posfácio
de José Adelino Maltez, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2013;
(56 b) Direito Constitucional Geral, Nova Edição (2.ª): Aumentada, Revista e Atualizada, Lisboa, Quid
Juris, 2013;
(57 b) Filosofia do Direito. Fundamentos das Instituições Jurídicas, Rio de Janeiro, G/Z, 2013;
(91) Nova Teoria do Estado. Estado, República, Constituição, São Paulo, Malheiros, 2013, Prefácio de
Paulo Bonavides, Apresentação de Carmela Grüne;

2014
(92) O Contrato Constitucional, Lisboa, Quid Juris, 2014;
(93) La Constitution naturelle, Paris, Buenos Books International, 2014;
(94) Direitos Fundamentais. Fundamentos e Direitos Sociais, Lisboa, Quid Juris, 2014;
(95) Desvendar o Direito. Iniciação ao Saber Jurídico, Lisboa, Quid Juris, 2014;
(96) Republic: Law & Culture, Saarbrucken, Lambert Academic Publishing, 2014, Prefácio de Patrick
Hanafin;
(35 b) Política Mínima, nova edição (3.ª), com Prefácio de Adriano Moreira, Lisboa, Quid Juris, 2014;
(39 b) Iniciação à Metodologia Jurídica, 3.ª ed., Coimbra, Almedina, 2014 (esgotada);
(97) Constitution et Mythe, com prefácio de François Vallançon, Quebeque, Presses de l'Université Laval,
2014.

135
2015
(98) Fundamentos del Derecho. Iniciación Filosófica, Prólogo de Francisco Puy Muñoz. Estudio
Introductorio de Milagros Otero Parga, Epílogo de Santiago Botero Gómez, Biblioteca Jurídica
Americana, México, Editorial Porrúa y Red Internacional de Juristas para la integración Americana,
2015;
(4 a) Noções Gerais de Direito, Vila Nova de Gaia, Calendário das Letras (nova edição, em colaboração);
(86 a) Avessos do Direito. Ensaios de Crítica da Razão Jurídica, edição portuguesa, Lisboa, Juruá, 2015,
Prefácio de Lênio Streck, Apresentação de Maria Francisca Carneiro, Posfácio de António Braz Teixeira;
(99) Political Ethics and European Constitution, Heidelberg, Springer, 2015, Prefácio de Paulo Archer de
Carvalho;

2016
(100) Palimpsesto: A Democracia. Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2016 (org. em colab. com Sérgio
Aquino);

2017
(101) Direito Internacional. Raízes & Asas, Belo Horizonte, Forum, 2017, Prefácio de Marcílio Franca e
Posfácio de Sérgio Aquino;
(102) Pour une Cour Constitutionnelle Internationale, em colaboração com Yadh Ben Achour, Oeiras, A
Causa das Regras, 2017;
(103) Direito Fraterno Humanista. Novo Paradigma Jurídico, Rio de Janeiro, G/Z, 2017, Prefácio de
Germano Schwartz, Posfácio de Reynaldo Soares da Fonseca;
(104) Tributo a César. Arte, Literatura & Direito, Florianópolis, Empório do Direito, 2017, Prefácio de
António Arnaut, Posfácio de Paulo Bomfim;

2018
(105) Síntese de Justiça Constitucional, Oeiras, A Causa das Regras, 2018, Prefácio de André Ramos
Tavares;
(106) Teoria Geral do Estado e Ciência Política, São Paulo, Saraiva, 2018, Prefácio de Ricardo Aronne;
(57 c) Filosofia do Direito. Fundamentos, Metodologia e Teoria Geral do Direito, 3.ª edição revista
atualizada e aprofundada, Coimbra, Almedina, 2018;
(107) Teoria Geral do Direito. Uma Síntese Crítica, Oeiras, A Causa das Regras, 2018;

2019
(48a) História do Direito, 2.ª ed., Coimbra, Almedina, 2019 (em colaboração com Joana de Aguiar e
Silva e António Lemos Soares).
(101a) Repensar o Direito Internacional. Raízes & Asas, Coimbra, Almedina, 2019, Prefácio de Maria
Helena Pereira de Melo.
(57d) Filosofia do Direito. Fundamentos, Metodologia e Teoria Geral do Direito, 3.ª edição revista
atualizada e aprofundada, Coimbra, Almedina, 2019, reimpressão.

2020
(108) Dicionário de Metodologia Jurídica. Guia Crítico de Fundamentos do Direito, São Paulo, Tirant
Brasil, 2020, Prefácio de Jean-Marc Trigeaud, Introdução de Lenio Luiz Streck.
(109) Crimes & Penas. Filosofia Penal, Coimbra, Almedina, 2020, Prefácio de Cândido da Agra.
(110) Filosofia do Direito e do Estado. História & Teorias, Coimbra, Almedina, 2020.
(111) O IV Cavaleiro. Direito, Cultura e Apocalipses, Coimbra, Almedina, 2020, Prefácio de José
António Henriques dos Santos Cabral.
(112) Primavera Outono. Direito & Artes, Oeiras, A Causa das Regras, 2020, Prefácio de Gonçal Mayos,
Átrio de Emerenciano, Posfácio de Henrique Fabião e Sérgio Amorim.
(113) Pós-Estética? Diálogo sobre Arte e Pensamento, colaboração com Sousa Dias, Porto, Quadras
Soltas, 2020.
(114) Vontade de Justiça. Direito Constitucional Fundamentado, Coimbra, Almedina, 2020, Prefácio de
Luiz Edson Fachin.
(4b) Noções Gerais de Direito, Primeira edição editora (nova edição, em colaboração), 2020.

136
2021
(39 c) Metodologia Jurídica - Iniciação & Dicionário, 4.ª ed., atualizada, revista e ampliada, Coimbra,
Almedina, 2021, Prefácio de Joana Aguiar e Silva.
(115) Justiça Social, Coimbra, Gestlegal, 2021, Prefácio de Arnaldo de Pinho.
(116) Cultura & Cidadania, Coimbra, Gestlegal, 2021, Prefácio de António Braz Teixeira.
(89a) Filosofia do Direito e do Estado, 2.ª ed., Belo Horizonte, Forum, 2021.
(117) Medicina ou Magia? Um Olhar Jurídico, João Pessoa-PB, Editora Porta, Prefácio de Luís Bigotte
Chorão, Posfácio de José Pedro Lopes Nunes, 2021.

2022
(118) Observar a Justiça, João Pessoa-PB, Editora Porta, 2022.
(119) Arte Constitucional. Novos Ensaios, João Pessoa-PB, Editora Porta, 2022, Prefácio de Karine
Salgado, Posfácio de Antonio-Carlos Pereira Menaut.
(120) Lições de Desumanidade. Entre Paz e Guerra, João Pessoa-PB, Editora Porta, 2022.
(121) O que é o Direito?, João Pessoa-PB, Editora Porta, 2022.
(122) Arte Justa. Constituição & Justiça na Sociedade Global, Coimbra, Gestlegal, 2022, Prefácio de
Alexandre Reis.
(123/ 107a) Observação das Marés. Primeiro Manual de Direito, João Pessoa-PB, Editora Porta, 2022,
Prefácio de João Relvão Caetano.
(124) Observação dos Ventos. Sociedade & Direito (2010-2022), Coimbra, Imprensa da Universidade de
Coimbra, 2022, Prefácio de Guilherme d’Oliveira Martins.
(125) Crítica & Construção. Para uma Metodologia, João Pessoa-PB, Editora Porta, 2022.
(126) Da Biblioteca e seu redor, João Pessoa-PB, Editora Porta, 2022.
(56 c) Direito Constitucional Geral, 4.ª ed., Curitiba, Intersaberes, 2022.

2023
(127) Constitucionalismo Moderno – Origens e Futuro (1820 * 2023), Coimbra, Almedina, 2023.

Ficção e Poesia

(1) Tratado das Coisas não Fungíveis, Porto, Campo das Letras, 2000;
(2) E Foram Muito Felizes, Porto, Caixotim, 2002;
(3) Escadas do Liceu, São Paulo, Mandruvá, 2004, Apresentação de Gilda Naécia Maciel de Barros;
(4) Livro de Horas Vagas, São Paulo, Mandruvá, 2005, Prefácio de Jean Lauand;
(5) Linhas Imaginárias, Dover, Buenos Books America, 2013, com um Prólogo de José Calvo;
(6) Caderno Permitido, Lisboa, A Causa das Regras, 2014;
(7) Relatório sem Contas, Oeiras, A Causa das Regras, 2017, Prefácio de Luiz Rodolfo de Souza Dantas,
Posfácio de Roberto Senise Lisboa;
(8) Estado das Cidades, Oeiras, A Causa das Regras, 2018;
(9) Fauves, Oeiras, A Causa das Regras, 2019, Prefácio de Gabriel Perissé, Posfácio de Luis Rodolfo
Ararigboia de Souza Dantas.
(10) Ponte Suspensa, João Pessoa-PB, Editora Porta, Prefácio de Jean Lauand, Posfácio de João Sérgio
Lauand, 2021.
(11) Fármaco & outras Ficções, João Pessoa-PB, Editora Porta, 2022.
(12) Prova Devida, João Pessoa-PB, Editora Porta, 2022.

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