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net/publication/260770798
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Marcos Oliveira
São Paulo State University
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All content following this page was uploaded by Marcos Oliveira on 06 December 2014.
parecem mais significativos, um da primeira, outro O outro ensaio selecionado, “Biologia e políti-
da terceira parte. ca: eugenismos de ontem e de hoje”, consiste num
O tema central de “Tecnologia, modernidade e minucioso estudo histórico-crítico do movimento
política” são as duas grandes vertentes do pensamento eugenista estruturado por sua divisão em dois pe-
social dos séculos xix e xx sobre a tecnologia como ríodos: o do eugenismo clássico, ou eugenismo de
meio de dominação da natureza: a prometeica e a nível i, e o do eugenismo de nível ii, que vem se
fáustica. Em termos gerais, a prometeica, própria dos desenvolvendo nas últimas décadas, alimentado pelos
socialistas utópicos e positivistas franceses, atribui um avanços tecnocientíficos nas áreas da genética, genô-
valor essencialmente positivo à tecnologia, conceben- mica e das tecnologias reprodutivas. O papel muito
do a dominação da natureza como subordinada aos maior desempenhado pela tecnociência é apenas um
fins do melhoramento das condições de vida dos seres dos traços que distingue o eugenismo de nível ii do
humanos, da emancipação de toda a humanidade. de nível i; inúmeras outras diferenças são apontadas
A vertente fáustica, que tem Spengler, Jünger e Hei- e analisadas na parte central do ensaio. Uma delas
degger entre seus expoentes, caracteriza-se por uma consiste em que no primeiro predominava a eugenia
visão pessimista, em que o avanço tecnológico sem negativa, isto é, voltada não para o melhoramento,
limites aparece como um fim em si mesmo, fruto de mas para a prevenção da decadência genética da
um impulso originário de dominação da natureza, e espécie. À luz da teoria darwiniana da evolução, tal
dos próprios seres humanos. decadência seria fruto da suspensão dos processos de
As duas vertentes comportam, naturalmente, seleção natural nas sociedades humanas ou, mais dras-
inúmeras variações sobre os temas centrais, cuida- ticamente, da entrada em operação de um processo
dosamente analisadas ao longo do ensaio. Entre de seleção invertido, decorrente do fato de os pobres,
os fáusticos, trata-se com destaque da linhagem supostamente menos aptos, serem mais prolíficos que
dos frankfurtianos. Os comentários envolvem uma os ricos. No eugenismo de nível ii, o lado positivo
crítica, a nosso ver procedente e muito oportuna, tem um peso relativamente maior, embora tendo em
de Adorno e Horkheimer, questionados por não vista não o melhoramento genético da espécie com
distinguirem adequadamente as visões prometeica um todo, mas sim o desejo dos pais de terem filhos
e fáustica; por assumirem uma concepção simplista geneticamente bem-dotados.
da tradição prometeica, equiparando o “positivismo” A diferença mais importante a nosso ver, contudo,
genérico à sua mais crua variante tecnocrática, e por diz respeito aos papeis do Estado e do mercado, e per-
subscreverem, ou tentarem ultrapassar “(sem solução mite associar o desenvolvimento do eugenismo de nível
ii à ascensão do neoliberalismo. Enquanto no ideário e
clara e inequívoca) o niilismo tecnológico, condição
pela qual a técnica não serve qualquer objetivo hu- nas práticas do primeiro eugenismo o Estado figurou
mano para além de sua própria expressão” (p. 36). como ator principal, atuando por meio de políticas
Por outro lado, num espírito mais próximo ao dos públicas relativamente unificadas, no segundo o mer-
frankfurtianos, a última sentença do artigo envolve cado é o principal responsável pela implementação de
uma expressão que sintetiza vigorosamente um ân- medidas eugenistas, de naturezas muito mais variadas.
gulo de ataque à postura de dominação da natureza, Por esse motivo, o eugenismo de nível ii é denominado
a saber, a “tirania das possibilidade tecnológicas” – a pelo autor “micro-eugenia de mercado”. São men-
tese de que tudo o que a tecnologia permite fazer cionadas também, numa lista que não se pretende
deve ser feito (p. 61). exaustiva, nada menos de dezessete outras designações
encontradas na literatura – como “eugenismo liberal”,
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