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Atividades literatura (Quinhentismo/Barroco/Arcadismo)

1. O texto a seguir é um fragmento de Tratado da Terra do Brasil, que o português Pero de


Magalhães de Gândavo teria escrito na década de 1570, período em que Portugal já desenvolvia
uma política de ocupação do território.

Havia muitos destes índios pela Costa junto das Capitanias, tudo enfim estava cheio deles quando começaram
os portugueses a povoar a terra; mas porque os mesmos índios se alevantaram contra eles e faziam-lhes muitas traições,
os governadores e capitães da terra destruíram-nos pouco a pouco e mataram muitos deles, outros fugiram para o
sertão, e assim ficou a costa despovoada de gentio ao longo das Capitanias. Junto delas ficaram alguns índios destes nas
aldeias que são de paz, e amigos dos portugueses.
A língua deste gentio toda pela Costa é, uma: carece de três letras – scilicet, não se acha nela F, nem L, nem R,
cousa digna de espanto, porque assim não têm Fé, nem Lei, nem Rei; e desta maneira vivem sem Justiça e
desordenadamente.
Estes índios andam nus sem cobertura alguma, assim machos como fêmeas, não cobrem parte nenhuma de seu
corpo, e trazem descoberto quanto a natureza lhes deu. Vivem todos em aldeias, pode haver em cada uma sete, oito
casas, as quais são compridas feitas à maneira de cordoarias; e cada uma delas está cheia de gente de uma parte e de
outra, e cada um por si tem sua estância e sua rede armada em que dorme, e assim estão todos juntos uns dos outros
por ordem, e pelo meio da casa fica um caminho aberto para se servirem. Não há como digo entre eles nenhum Rei, nem
Justiça, somente em cada aldeia tem um principal que é como capitão, ao qual obedecem por vontade e não por força;
morrendo este principal fica seu filho no mesmo lugar; não serve doutra cousa senão de ir com eles à guerra, e
aconselhá-los como se hão de haver na peleja, mas não castiga seus erros nem manda sobre eles cousa alguma contra
sua vontade. Este principal tem três, quatro mulheres, a primeira tem em mais conta, e faz dela mais caso que das outras.
Isto tem por estado e por honra. Não adoram cousa alguma nem têm para si que há na outra vida glória para os bons, e
pena para os maus, tudo cuidam que se acaba nesta e que as almas fenecem com os corpos, e assim vivem bestialmente
sem ter conta, nem peso, nem medida.
GÂNDAVO, Pero de Magalhães de. Disponível na Biblioteca Digital do Senado Federal, em:
<https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/188899/Tratado%20da%20 terra%20do%20Brasil.pdf>. Acesso em: 20 mar. 2020.
(Fragmento).

a) Que comportamento do português, descrito no texto, poderia ser classificado como “bárbaro” e incivilizado,
segundo os valores atuais?
b) Como Gândavo justifica o comportamento dos portugueses?
c) A visão de Gândavo pode ser considerada eurocêntrica, já que interpreta a cultura indígena com base nos
valores dos europeus. Comprove essa afirmação recorrendo a passagens do texto.

No sermão que pregou na Madre de Deus D. João Franco de Oliveira, pondera o poeta a fragilidade humana

Na oração, que desaterra... a terra, Quem do mundo a mortal loucura... cura


Quer Deus que a quem está o cuidado... dado, À vontade de Deus sagrada... agrada
Pregue que a vida é emprestado... estado, Firmar-lhe a vida em atadura... dura.
Mistérios mil, que desenterra... enterra.
Ó voz zelosa, que dobrada... brada,
Quem não cuida de si, que é terra... erra, Já sei que a flor da formosura... usura,
Que o alto Rei, por afamado... amado, Será no fim desta jornada... nada.
É quem lhe assiste ao desvelado... lado,
Da morte ao ar não desaferra... aferra. MATOS, Gregório de. In: WISNIK, José Miguel (sel. e org.). Poemas
escolhidos de Gregório de Matos. São Paulo: Companhia das Letras,
2010.

2. Antes mesmo de entender o sentido do texto, o leitor já é atraído por sua estrutura. Descreva-a.
3. Releia a primeira estrofe.
a) De acordo com o primeiro verso, qual é a função da oração?
b) O que se afirma no verso “Pregue que a vida é emprestado... estado”?
4. Segundo o poema, quem consegue agradar a Deus? Explique com suas palavras.
5. Qual ideia é formulada nos dois últimos versos?

Observe, nos decassílabos da “Lira I” (Parte I), que exemplificam a primeira fase do amor de Dirceu, o pastor se
descreve para sua amada.
Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, Mas tendo tantos dotes da ventura,
Que viva de guardar alheio gado; Só apreço lhes dou, gentil Pastora,
De tosco trato, d’expressões grosseiro, Depois que teu afeto me segura,
Dos frios gelos, e dos sóis queimado. Que queres do que tenho ser senhora.
Tenho próprio casal, e nele assisto; É bom, minha Marília, é bom ser dono
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite; De um rebanho, que cubra monte, e prado;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite, Porém, gentil Pastora, o teu agrado
E mais as finas lãs, de que me visto. Vale mais q’um rebanho, e mais q’um trono.
Graças, Marília bela, Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela! Graças à minha Estrela!
Eu vi o meu semblante numa fonte, GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu. Rio de Janeiro:
Ediouro; São Paulo: Publifolha, 1997. (Biblioteca Folha, 12).
Dos anos inda não está cortado:
(Fragmento).
Os Pastores, que habitam este monte,
Respeitam o poder do meu cajado: Casal: pequena propriedade rústica.
Com tal destreza toco a sanfoninha, Assisto: resido, moro.
Que inveja até me tem o próprio Alceste: Alceste: referência a Glauceste (pseudônimo do
Ao som dela concerto a voz celeste; poeta Cláudio Manuel da Costa).
Ventura: boa sorte.
Nem canto letra, que não seja minha.
Apreço: estima; admiração.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!

6. Na estrofe que abre a obra Marília de Dirceu, o pastor se apresenta para sua amada dizendo “aquilo que ele
não é”, e não “o que ele é”.
a) Retire do poema as expressões que designam o que Dirceu não é.
b) Qual perfil de Dirceu é construído a partir das negativas?
c) Explique como a afirmação do que o pastor não é reforça a imagem que ele quer passar para sua Marília.
d) As virtudes que o eu lírico acrescenta em sua descrição, na segunda estrofe, têm natureza diferente
daqueles presentes na primeira estrofe. Explique por quê.
7. Na terceira estrofe, Dirceu associa elementos sentimentais aos aspectos materiais mencionados na primeira
estrofe. Qual é o efeito expressivo da conjunção adversativa “mas”, no começo dela? Como “mas” articula as
ideias dessas estrofes?
8. Nas estrofes que você leu, ocorre um refrão.
a) Transcreva-o.
b) Que efeito de sentido tem esse refrão no texto?

Leia um trecho da parte III do poema “Canto do Piaga”, em que o Piaga (pajé) expõe uma profecia.
___________III__________
Pelas ondas do mar sem limites Nossas terras demanda, fareja...
Basta selva, sem folhas, i vem; Esse monstro... — o que vem cá buscar?
Hartos troncos, robustos, gigantes; Não sabeis o que o monstro procura?
Vossas matas tais monstros contêm. Não sabeis a que vem, o que quer?
Traz embira dos cimos pendente Vem matar vossos bravos guerreiros,
— Brenha espessa de vário cipó — Vem roubar-vos a filha, a mulher!
Dessas brenhas contêm vossas matas, Vem trazer-vos crueza, impiedade —
Tais e quais, mas com folhas; é só! Dons cruéis do cruel Anhangá;
Negro monstro os sustenta por baixo, Vem quebrar-vos a maça valente,
Brancas asas abrindo ao tufão, Profanar Manitôs, Maracá.
Como um bando de cândidas garças,
Que nos ares pairando — lá vão. DIAS, Gonçalves. In: BUENO, Alexei (org.). Gonçalves Dias:
Oh! quem foi das entranhas das águas, poesia e prosa completas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998.
O marinho arcabouço arrancar?
9. O poema tem o objetivo de retratar o impacto sobre os indígenas da chegada dos portugueses.
a) Nas três primeiras estrofes, o pajé descreve o que vê. O que está descrevendo?
b) O que explica a maneira como o pajé entende o que está vendo?
c) Qual é o efeito de sentido produzido pela interjeição “Oh!”, que abre a quarta estrofe, e pelas duas perguntas
que a seguem?
10. Aquilo que vem pelo mar é comparado com um monstro. O que justifica essa comparação?
11. Esse poema de Gonçalves Dias usa métrica fixa.
a) Qual é essa métrica?
b) Leia os versos em voz alta, prestando atenção à distribuição das sílabas tônicas (fortes) e átonas (fracas). Qual
padrão você observa?
c) Qual efeito esse padrão promove no texto?

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