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ALVARES DE AZEVEDO - Lira dos Vinte anos

Considerado o mais significativo representante da 2ª fase do romantismo brasileiro, intitulada


ultrarromantismo, ou "geração do mal do século", e com grande influência dos escritores Lord Byron e Alfred
Musset, o poeta Manuel Antônio Álvares de Azevedo produziu intensamente em sua curta vida. Quase toda a
sua obra foi publicada postumamente, a partir de 1853.

Pessimismo, melancolia, tédio e morte são temas constantes nos poemas de Álvares de Azevedo. Sua obra
apresenta característica dos escritores que falavam da melancolia, do pessimismo e do tédio: aquela que cantou
o amor irônico e sarcástico.

Os poemas de Lira dos Vinte Anos foram organizados em partes. Na Primeira, o autor fala da morte, uma
perspectiva sempre presente, e do amor platônico, intangível. Na Segunda, o mesmo tema é abordado de forma
diversa, agora sarcástica e ironicamente. Com o tempo, a obra foi ampliada e ganhou uma Terceira Parte.
Anote!
O cinismo e o pessimismo contidos na obra de Byron inspiraram uma legião de jovens poetas brasileiros que
promoviam orgias byronianas. Embora Álvares de Azevedo não tenha participado desses encontros, as marcas
dessa época estão fortemente impressas em sua obra.
Primeira Parte Abordam, de forma abstrata e séria, os temas da morte e do amor platônico por uma
virgem pálida envolta em brumas, e seguem a linha adocicada e intangível da obra de Alphonse de
Lamartine – um dos maiores poetas do Romantismo francês – ou de Alfred de Musset. Lamartine influenciou a
obra de Álvares de Azevedo, que o considerava "monótono e belo como a noite, como a lua no mar e o som das
ondas".
O autor de Lira dos Vinte Anos abre sua obra com frases do poeta português pré-romântico Bocage e de
Lamartine para chegar às poesias que "falam de seres imaginários e ideias abstratas vagando na noite
enevoada".

Para lembrar
Na Primeira Parte de Lira dos Vinte Anos, predomina a poesia mais sentimental, o devaneio. O autor dá
ênfase ao medo de amar, ao desejo vago por virgens intangíveis, ao sentimento de culpa diante dos
desejos carnais e ao fascínio pela morte.

O poeta sonha com uma musa saudosa e tímida. Desse sonho, nasce um poema triste e sem vigor. Essas são
as características básicas da poesia que Álvares de Azevedo se desculpa em apresentar ao público.

Segunda Parte
Nela, o autor aborda o romantismo irônico e sarcástico. Sem abandonar os temas do amor e da morte,
representados sempre sob o manto da noite sombria, passa agora a "falar com coisas". o autor de Lira dos
Vinte Anos começa, aqui, a "poetizar os objetos que o rodeiam". Escreve sobre os charutos, sobre uma
queda de cavalo, sobre o dinheiro – ou a falta dele –, enfim, sobre temas corriqueiros que não cabiam na
poesia onírica e sentimental da Primeira Parte.

Para lembrar
O Prefácio da Segunda Parte de Lira dos Vinte Anos apresenta claramente um programa poético, isto é, o
poeta abandona a atitude sonhadora presente em seus primeiros poemas e faz uma poesia com temas
próximos da realidade. A poesia "caiu do céu" e "o poeta acorda na terra".
Terceira Parte
É uma continuação da poesia sonhadora e sentimental da Primeira, mas nela encontramos um poema que foi
considerado por Antônio Candido "um dos mais fascinantes e bem compostos de Álvares de Azevedo", o poema
"Meu Sonho":

RESUMO
Os poemas do livro Lira dos Vinte Anos estão distribuídos em três partes. Aparentemente, a última parte foi
acrescentada ao projeto original do autor, já que é a única a não trazer um prefácio. Como a obra foi publicada
postumamente, a hipótese ganha reforço. De uma forma geral, essa terceira parte retoma os princípios e
parâmetros da primeira.

No prefácio da primeira parte, o autor avisa: “É uma lira, mas sem cordas; uma primavera, mas sem flores;
uma coroa de folhas, mas sem viço. // Cantos espontâneos do coração, vibrações doridas da lira interna que
agitava um sonho, notas que o vento levou – como isso dou a lume essas harmonias”. A poesia aparece aqui
como expressão de um estado de espírito marcado pela tristeza e pela melancolia. Ela funciona como um
registro de vida, daí sua espontaneidade – sugestão de que não teria passado pelo crivo da razão, originando-
se diretamente do coração e da alma do poeta. O anseio de algo que acabou por não se realizar, graças à
morte prematura do autor, está prenunciado na referência ao “sonho”.

“Lembrança de morrer” é, significativamente, o texto que encerra essa primeira parte. Poema emblemático de
toda a poesia ultrarromântica, trata-se de uma verdadeira súmula temática da estética: referências à morte
(“Quando em meu peito rebentar-se a fibra, / Que o espírito enlaça à dor vivente”), o desprezo pela vida (“Eu
deixo a vida como deixa o tédio / Do deserto o poento caminheiro”), a saudade materna (“De ti, ó minha mãe!
pobre coitada / Que por minha tristeza te definhas!”) e a figura feminina, virginal, veículo de um amor platônico
(“É pela virgem que sonhei... que nunca / Aos lábios me encostou a face linda!”).

Já o prefácio da segunda parte avisa o leitor sobre o que esperar dela: “[O poeta] Tem nervos, tem fibra e
tem artérias – isto é, antes e depois de ser um ente idealista, é um ente que tem corpo. E, digam o que
quiserem, sem esses elementos, que sou o primeiro a reconhecer, muito prosaicos, não há poesia”. De fato, os
poemas se distanciam do idealismo para tratar de aspectos corriqueiros da existência humana. O tratamento
temático é ainda romântico, mas a nota cômica que salta aos olhos aqui e ali permite perceber alguma diferença.

Destaca-se “Namoro a cavalo”, que relata um desastrado encontro amoroso que foge em tudo da média
romântica. O próprio enamorado registra o momento final do episódio: “Circunstância agravante. A calça inglesa
/ Rasgou-se no cair de meio a meio, / O sangue pelas ventas me corria / Em paga do amoroso devaneio!”. Como
se vê nada que faça lembrar os abraços e beijos – mesmo que sonhados – das aventuras amorosas do
romantismo.

CONTEXTO
Sobre o autor
Álvares de Azevedo foi um poeta romântico típico. Jovem e tuberculoso, fez da poesia uma válvula de escape
para seus anseios e frustrações. Mesmo que haja algo de fictício em sua biografia, o fato é que sua poesia
reúne o que há de mais propriamente romântico: o sentimentalismo, a morbidez e o pessimismo que
caracterizaram a geração que teve no poeta inglês Byron seu maior modelo.

Importância do livro
Lira dos vinte anos é uma súmula dos elementos convencionais da literatura romântica, conforme esta se
manifestou entre nós, tratados com talento incomum, principalmente se levarmos em conta a juventude do autor.
Ao lado do sentimentalismo melancólico e pessimista, temos o humor como demonstração da
capacidade do romântico rir de si mesmo.

Período histórico
Álvares de Azevedo viveu e escreveu – o que, no seu caso, parecia ser a mesma coisa – em meados do século
XIX. O Rio de Janeiro era a capital brasileira, tanto no plano político quanto no cultural. Mas a cidade de São
Paulo, transformada em centro estudantil por causa da Faculdade de Direito, aos poucos assumia a posição de
polo inovador, como demonstra a segunda geração romântica brasileira, a que pertencia o poeta.

ANÁLISE
A marca mais saliente da poética romântica, a expressão do sentimentalismo, está presente na Lira dos
Vinte Anos. A solidão é concebida como condição fundamental para a imersão do indivíduo na reflexão
melancólica: “Ai! Quando de noite, sozinha à janela, / Co’a face na mão eu te vejo ao luar, / Por que, suspirando,
tu sonhas, donzela?”, em “Cismar”. É o momento da tristeza provocada pelo saudosismo: “Foi esse o amor
primeiro – requeimou-me / As artérias febris de juventude”, em “Saudades”.

Quase sempre, o objeto dessa saudade e a razão da melancolia que assalta o poeta são a amada . A
imagem da mulher dormindo é bastante explorada na poesia de Álvares de Azevedo, como se vê em “No mar” e
“Quando a noite no leito perfumado”, por exemplo. Assim como a atmosfera de sonho que parece envolver toda
a relação amorosa. Esses dados conferem à mulher certa aura inacessível, o que conduz ao amor
platônico, realizado apenas nos sonhos ou previsto para depois da morte, como nos versos de “Cantiga”:
“Acorda, minha donzela, / Soltemos da infância o véu... / Se nós morrermos num beijo, / Acordaremos no céu”.

Nesse sentido, pode-se dizer que Álvares de Azevedo é mais o poeta dos sentimentos que das
sensações físicas propriamente ditas: “Não era um sonho mentido; / Meu coração iludido / O sentiu e não
sonhou: / E sentiu que se perdia / Numa dor que não sabia... / Nem ao menos a beijou!”, versos de “O poeta ”. A
possibilidade de realização amorosa após a morte sugere que, para o poeta romântico, esta experiência
pode não ser tão infeliz: “Chora – e sonha – e espera: a negra sina / Talvez no céu se apague em purpurina /
Alvorada de amor...”, em “Esperanças”.

As bases da estrutura romântica são propositalmente desconstruídas na segunda parte do livro. O poeta,
desprovido de sua condição sagrada, especial (como em “Um cadáver de poeta”), é inserido em um grupo –
portanto, destituído da solidão – marcado pela vida boêmia estudantil, na qual predomina o tédio
existencial. Tal condição pode ser percebida em poemas como “Um mancebo no jogo se descora”.

A recusa do espírito romântico aparece na descrição de elementos prosaicos do quarto, como em “Idéias
íntimas”. E na coleção de imagens antirromânticas, como esta, por exemplo, extraída de “Spleen e charutos”:
“Eu morro qual nas mãos da cozinheira / O marreco piando na agonia... / Como o cisne de outrora... que
gemendo / Entre os hinos de amor se enternecia”. Ou ainda na referência pouco lírica às necessidades
materiais, como se vê em “Minha desgraça”: “Minha desgraça, ó cândida donzela, / o que faz que o meu peito
assim blasfema / É ter para escrever todo um poema / E não ter um vintém para uma vela”. O ponto culminante
é o humor deslavado de poemas como “É ela! É ela! É ela! É ela!”.
A terceira parte apresenta o mesmo tom sentimental da primeira, apenas ressaltando com um pouco
mais de veemência a nota erótica em poemas que tratam do desejo sublimado (“Meu desejo”) ou reprimido
(“Seio de virgem”).

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