Universidade Federal de Pernambuco Campus Acadêmico do Agreste
Aluno: Alana Isabella dos Santos - 1° período - Engenharia Civil.
Data: 12/07/22
A Obra “A formação do espírito científico: contribuição para uma psicanálise do
conhecimento” de 1938, do filósofo francês Gaston Bachelard, contém sua análise e proposta sobre a construção do espírito científico e seu papel, do ponto de vista epistemológico, no conhecimento do mundo objetivo. Em síntese o espírito científico busca sempre aprimorar a compreensão dos fenômenos físicos, o desenvolvimento do pensamento científico. À princípio, para melhor compreendê-los, tentou-se fazer representação geométrica destes fenômenos, que consistia em “delinear os fenômenos e ordenar em série os acontecimentos decisivos de uma experiência”. Esse método baseado principalmente na experiência empírica, segundo ele, se mostrou insuficiente. Mas também, ele vê que como parte de sua evolução "O pensamento científico é então levado para "construções" mais metafóricas que reais, para "espaços de configuração", dos quais o espaço sensível não passa, no fundo, de um pobre exemplo.” Este é o princípio do que ele designa “pensamento científico abstrato”. O autor destaca: “ao examinar a evolução do espírito científico, logo se percebe um movimento que vai do geométrico mais ou menos visual para a abstração completa.” Ele defende o pensamento científico abstrato dizendo que “Será preciso provar que a abstração desobstrui o espírito, que ela o torna mais leve e mais dinâmico", já que a representação geométrica era percebida anteriormente como exata, protegida pelo conservadorismo, enquanto a abstração é inspirada pelas objeções da razão. Bachelard apresenta a evolução do pensamento científico em três etapas históricas: Estado pré-científico, que compreende a Antigüidade clássica, o renascimento, as grandes navegações, e os séculos XVI a XVIII; Estado científico, do fim do século XVIII até início do século XX; Novo espírito científico, iniciado em 1905, momento em que a Relatividade de Einstein deforma conceitos que eram tidos como fixados para sempre. Considerando a evolução do pensamento científico rumo ao abstrato, seu objetivo é provar que a representação geométrica é ainda um estágio intermediário para compreensão dos fenômenos. E que mesmo assim, sempre será necessário “passar primeiro da imagem para a forma geométrica e, depois, da forma geométrica para a forma abstrata, ou seja, seguir a via psicológica normal do pensamento científico.” A respeito da formação do espírito científico, este passaria necessariamente por três estados: Estado concreto, o espírito se vislumbra com as imagens do fenômeno; Estado concreto-abstrato, em que o espírito acrescenta à experiência física esquemas geométricos; Estado abstrato, em que o espírito adota informações da intuição do espaço real, desligadas da experiência ou em aparente contradição com esta, sempre impura. Acrescentando-se a lei dos três estados do espírito científico, também é considerada uma lei dos três estados de alma, caracterizados pelos diferentes interesses mostrados: Alma pueril ou mundana; Alma professoral; Alma com dificuldade de abstrair e de chegar a quintessência. Como uma disposição psicológica que se aproxima dos estados do espírito científico. É introduzido o conceito de experiência científica, uma experiência que contradiz a experiência comum, no sentido de que precisa ser contestada pela experiência comum para ter seus erros retificados e contribuir com a construção do pensamento científico. Nesse sentido se diz que “para confirmar cientificamente a verdade, é preciso confrontá-la com vários e diferentes pontos de vista”. No capítulo primeiro é apresentada uma noção de obstáculo epistemológico, causas de estagnação, regressão e inércia do conhecimento científico. Quando esses obstáculos são superados possibilita seu progresso, como ele explica: "o ato de conhecer dá-se contra um conhecimento anterior, destruindo conhecimentos mal estabelecidos, superando o que, no próprio espírito, é obstáculo à espiritualização.” Outro obstáculo é a opinião, ela não vai servir de base para construção do conhecimento científico, deve ser eliminada pois “o espírito científico proíbe que tenhamos uma opinião sobre questões que não compreendemos, sobre questões que não sabemos formular com clareza”. Como também, quando o conhecimento adquirido por esforços científicos se estabiliza, acontece que “um obstáculo epistemológico se incrusta no conhecimento não questionado. Hábitos intelectuais que foram úteis e sadios podem, com o tempo, entravar a pesquisa.” Fica claro que o espírito científico impulsiona a construção do conhecimento científico, para isso deve seguir os princípios de “colocar a cultura científica em estado de mobilização permanente, substituir o saber fechado e estático por um conhecimento aberto e dinâmico, dialetizar todas as variáveis experimentais, oferecer enfim à razão razões para evoluir”. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BACHELARD, G. A formação do espírito científico : contribuição para uma psicanálise
do conhecimento / Gaston Bachelard; tradução Esteia dos Santos Abreu. - Rio de Janeiro : Contraponto, 1996.