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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

EPISTEMOLOGIA DA EDUCAÇÃO I

MARIA FERNANDA FEMINELLA CAMPOS

Síntese da obra: FOUREZ, Gérard. A construção das ciências: introdução à filosofia e à


ética da ciência, 1993, Capítulos 02, 10 e 11.

Ao iniciar o capítulo 2 intitulado Reflexões epistemológicas o método científico:


a observação, o autor apresenta o método crítico dialético, que, primeiro: deve se afirmar
uma tese, após a afirmação deve realizar uma negação da tese, ou seja, uma antítese, que,
na prática, significa apresentar outros pontos de vista e, por fim, deve se apresentar uma
síntese, isto é, uma nova maneira de se ver. Segundo o autor, essa “nova maneira de se
ver”, poderá sofrer transformações, pois nunca será uma visão absoluta das coisas. Para
exemplificar, o autor apresenta a figura de uma flor artificial. Ao vê-la, pode-se afirmar
que é uma flor e confundi-la com uma flor real (tese). Depois, ao observar melhor, negará
que é uma flor real (antítese) e por fim, passará a entender que é uma flor artificial feita
de seda ou qualquer outro material (síntese).

Em sequência, o autor afirma que a observação científica parte da observação fiel da


realidade, contudo, para que seja possível observar a realidade, é necessário possuir um
conhecimento prévio do que se observa. Para exemplificar, Fourez traz o exemplo de uma
folha de papel em cima de uma escrivaninha, que só saberá que é uma folha de papel se
a pessoa que a observa tiver um conceito do que é uma folha de papel, caso contrário, irá
interpretar apenas como objeto ou uma coisa. Logo, para identificar um objeto ou uma
ação, é imprescindível ter conhecimento daquilo que se observa. Além disso, para Fourez
a observação está ligada a organização da visão, isto é, um recorte com intenção de
conhecimento.

Ao conceituar “fato”, o autor descreve como “(...) algo indiscutível, que ninguém,
pelo menos até agora, o coloca em questão (...) (FOUREZ, 1937, p. 42). Então, o fato é
um modelo de interpretação que se prova. É indiscutível. Para Fourez, se faz necessário
o desenvolvimento de métodos, ferramentas e conceitos para que seja possível
compreender certas questões. Sendo assim, em uma investigação científica é necessário
observar, experimentar e concluir, ou seja, a investigação científica é composta por uma
série de processos investigativos, que contribuem para as definições científicas, visto que
para definir algo, em geral, se trata de um resultado de um processo interpretativo.
Contudo, essas “conclusões” poderão ser questionadas no futuro.

A Em sequência, Fourez trata sobre a objetividade e subjetividade no campo da


ciência, sendo que uma trata-se de uma compreensão do que é aceito socialmente e a
outra, respectivamente, não é possível compreender com base na cultura ou linguagem,
pois se trata de algo único e particular. O autor faz relação ao que é considerado “real”,
que para ele, não é algo individual, mas é algo que está condicionado ao contexto social
que a pessoa está inserida. Outra compreensão trabalhada por Fourez foi sobre o
sentimento de realidade, para ele a compreensão de realidade está ligada ao afetivo.

No início do capítulo 10, intitulado Idealismo e História Humana, Fourez diferencia


os enfoques idealista e histórico. Explica que o enfoque idealista possui uma
característica de aceitação universal e eterna. Já o enfoque histórico se trata de um
resultado de uma evolução histórica que não obedece necessariamente a leis eternas. Ao
longo do capítulo, o autor nos faz refletir sobre a importância das definições dos termos:
noção, ideia e conceito. Segundo Fourez, noção trata-se de um conhecimento comum, ou
seja, vago. Já a ideia trata-se de uma definição sobre algo que se entende como universal
ou eterno, isto é, uma definição que acontece à parte da questão cultural, mas de uma
interpretação subjetiva. O conceito, segundo ele, é definido a partir de uma construção
histórica, que ao longo do tempo pode ser mudado, pois dependerá do contexto da
sociedade.

Em seguida, o autor apresenta uma crítica ao idealismo, pois em sua visão, é


impossível “(...) demonstrar que não existem ideias eternas (...)”, (FOUREZ, 2013, p.
234), pois a sociedade e a própria evolução histórica do mundo se modifica. Contudo,
para ele é mais “aceitável” é o enfoque histórico, pois as noções, instituições ou conceitos
se constroem historicamente, possibilitando mudanças em sua interpretação a depender
do contexto cultural de uma determinada sociedade.

No tópico Conceitos e relatos, o autor fala da importância das noções e das ideias,
pois a partir dos relatos de noções e ideias sobre situações e coisas é que os conceitos de
algo são definidos. Para exemplificar, o autor fala sobre um jovem que antes de vivenciar
um grande amor, zombava o próprio irmão, pois até então, a noção que ele tinha do amor
era vago, pois não tinha o experienciado. Contudo, seu relato se faz importante, pois a
partir dele e diversos outros que os conceitos são construídos.

A definição de conceitos é de extrema importância para vida cotidiana e


principalmente para a ciência, pois é algo que será aceito convencionalmente. Contudo,
Fourez expõe no tópico Produção Social dos Conceitos na História, a diferença nas
definições de conceitos a partir das teorias conflitantes, desde o século XIX, de cunho
idealista e histórico social. A primeira compreende que: as ideias que conduzem o
mundo, já a segunda entende que só aparecem conceitos quando problemas sociais
surgem, ou seja, precisa de uma causa.

No capítulo 11, intitulado Ciência, verdade, idealismo¸ Fourez chama atenção para
a oposição das análises críticas do idealismo. Há uma crítica aos idealistas que acreditam
em ideias e/ou conceitos eternos, mas tudo deve ser questionado, inclusive, a ciência.
Segundo Fourez, a ciência se estruturou ao longo de um contexto histórico, a partir de
uma determinada possibilidade a ser desenvolvida, além disso, há um limite no ser
humano, pois ele não consegue dominar tudo. Para exemplificar, o autor fala sobre a
tecnologia que parece estar fora de controle dos criadores.

No tópico Acreditar na ciência?, o autor analisa que a relatividade do discurso


científico pode abalar a confiança na ciência de alguns, contudo, não é necessária que
alguma coisa seja absoluta para ser importante. Ou seja, apesar de métodos e processos
investigativos, a ciência também faz parte de uma evolução histórica e é algo que pode
ser questionado.

Referências:

FOUREZ, Gérard. A construção das ciências: introdução à filosofia e à ética da ciência.


São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1937. Cap. 02, p. 37-62.
FOUREZ, Gérard. A construção das ciências: introdução à filosofia e à ética da ciência.
São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista. 1937. Cap. 10, p. 227-250.
FOUREZ, Gérard. A construção das ciências: introdução à filosofia e à ética da ciência.
São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista. 1937. Cap. 11, p. 251-262.

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