Você está na página 1de 22

Resumo do livro:

“Relações Públicas no modo de produção capitalista”


de Cicília Krohling Peruzzo.

Capítulo I – Relações Públicas na História Recente do Capitalismo.


Para Edward Bernays “Interesse público e privado devem coincidir exatamente”.
As Relações Públicas tem como pressuposto a igualdade social; busca a harmonia
social interferindo para que interesses de públicos sejam satisfeitos, desviando a atenção
da luta de classes e camuflando os seus conflitos.
Por meio da educação da sociedade em torno dos interesses da classe dominante,
as Relações Públicas tenta criar identidade entre interesses recíprocos do público e
privado.
1. Relações Públicas nos Estados Unidos.
Época da 1ª guerra mundial: início da “indústria moderna” (caricaturistas
desenhavam o consumidor sendo chutado como uma bola de futebol).
Ivy Lee em 1906 foi o primeiro a colocar em prática os princípios e técnicas e criar
o primeiro escritório mundial de Relações Públicas.
A guerra enriqueceu o EUA por serem os principais fornecedores dos aliados,
supriam suas necessidades com manufaturados, produtos alimentícios e matérias-primas.
As classes sociais hostilizadas pelo mundo dos negócios manifestavam-se por
meio da imprensa contra os abusos das empresas. Com o crescimento de protestos, as
empresas sentiram a necessidade de explicar-se para o público, o que gerou a decisão de
John D.Rockfeller Júnior (o homem mais odiado da história dos negócios) de contratar os
serviços de Ivy Lee. O empenho de Lee transformou-o em “herói e santo”, pois teve
sucesso na alteração da imagem pública. Nessa época, houve a substituição de “o
público que se dane” para “o público tem que ser informado”. Mesmo com doações para
obras de caridade, bolsas de estudo, criações de fundações, utilização de técnicas de
persuasão, a mais-valia (que veremos adiante) não deixaria de existir.
Após a 1ª guerra mundial os norte-americanos insistiram em manter o ritmo
avançado de produção, gerando a crise de 1929. A exportação do país caiu, quebrando o
mercado interno. Roosevelt assumiu a presidência restaurando o país com o “New Deal”.
A depressão e as novas políticas do país exigiram a presença efetiva das técnicas de RP
visando esclarecer a real situação do país.
As Relações Públicas exerceu um papel eficiente antes e durante o
desenvolvimento de uma guerra mundial. O público era informado honestamente das
razões que fizeram o país lançar-se na guerra, como acontecia com os filmes criados pelo
governo.
2. Relações Públicas no Brasil.
Em 30 de janeiro de 1914 aconteceu a primeira iniciativa de RP em São Paulo, na
Light, no qual foi criado um departamento destinado a gerir as relações da companhia
com os seus usuários e a cuidar dos negócios com as autoridades estaduais e municipais.
Em 1950 as Relações Públicas adquirem maior forma no país. No ano seguinte,
1951, a Companhia Siderúrgica Nacional cria um departamento de Relações Públicas.
O primeiro curso de RP sob patrocínio da ONU e da Escola Brasileira de
Administração Pública da fundação Getúlio Vargas aconteceu em 1953.
Em julho de 1954 é fundada a ABRP (Associação Brasileira de Relações Públicas).
Em 1930 começa um forte clima de tensões e a classe dominada pressionava a
classe dominante através de atitudes revolucionárias.
Getúlio Vargas diz em 1940 que “Desenvolver-se-à, no setor político, obra de
liquidação das velhas situações, capaz de nivelar a consciência e o pensamento das
massas”. Ele foi um grande RP, pois procurou harmonizar as relações capital–trabalho,
cuidando dos interesses do capital em geral.
3. Relações Públicas e os meios de comunicação em massa.
A força da opinião pública gerou a necessidade das Relações Públicas e do
desenvolvimento das comunicações de massa. Esses meios poderiam funcionar sem o
intermédio de RP, mas não funcionariam tão bem, nem tão suavemente. A boa vontade do
público e o bom nome da instituição eram tão importantes quanto o desenvolvimento e os
lucros. Na verdade, eram essenciais para o desenvolvimento e para a sobrevivência da
empresa, no modo de produção capitalista.
4. Relações Públicas e as “relações humanas”.
A época da primeira fase da crise geral do capitalismo coincide com o florescimento
das Relações Públicas.
De fato, a complexidade e a dimensão da empresa moderna exigiram que a
competição e a agressividade, preconizadas pelo antigo capitão da indústria, cedessem
lugar à valorização das relações harmônicas no trabalho e à integração do empregado à
empresa.
Capítulo II – Relações Públicas em seus Pressupostos Teóricos.
As Relações Públicas surgem em circunstâncias em que os conflitos de classes se
tornam mais fortes nas democracias burguesas e que elas se explicitam como função
persuasiva tentando fazer convergir os interesses de toda a sociedade aos interesses do
capital.
1. Definições e objetivos
A ABRP define oficialmente RP como: “a atividade e o esforço deliberado,
planejado e contínuo para estabelecer e manter a compreensão mútua entre uma
instituição pública ou privada e o grupo de pessoas q que esteja direta ou indiretamente
ligada”.
O exercício da profissão de RP requer ação planejada, com apoio da pesquisa,
comunicação sistemática e participação programada, para elevar o nível de entendimento,
solidariedade e colaboração entre uma entidade, pública ou privada, e os grupos sociais a
ela ligados, num processo de interação de interesses legítimos, para promover seu
desenvolvimento recíproco e da comunidade a que pertencem.
“O caminho para alcançar o nosso próprio interesse é ter o interesse público em
nossas cogitações. Comunicação empresarial deve trabalhar no processo de
humanização da empresa”.
Quando o entendimento e a compreensão se rompem, rompe toda a comunicação
criando um clima propício para as guerras, greves e qualquer tipo de atitudes negativas,
trazendo consigo uma má opinião. A empresa deve dizer tudo o que fez inclusive seus
erros e as medidas que foram tomadas para corrigi-los.
Relações Públicas é uma ponte de duplo sentido, onde o transmissor e receptor se
revezam no ato de comunicar. A plenitude das atividades decorrerá da harmonia desta
interação, do bom funcionamento dessa mão dupla. A administração em RP é egoísta,
pois dá preferência ao interesse público, em qualquer decisão que envolva as decisões da
empresa.
2. Princípios
A seguir são apresentados os princípios de RP, segundo Márcio C. Leal
Coqueiro:
 Lealdade: a verdade é uma força e constitui o autêntico fundamento que
caracteriza um indivíduo ou uma organização. Não mentir e não enganar é a
primeira característica de RP.
 Bilateralidade: é a transmissão e a recepção de informação.
 Onipresença: todos os elementos dentro da organização são responsáveis para a
formação de um bom conceito de que ela deve gozar. O RP deve agir em conjunto
com todos os setores da empresa, no sentido de incutir a idéia de
responsabilidade.
 Ação preventiva: toda a ação de um RP é de caráter preventivo, sempre visando o
futuro. Esta deve ser contínua e permanente.
 Ação educativa: informações úteis ao público devem ser constantemente
transmitidas. Essa educação dos públicos sobre os acontecimentos dentro das
organizações faz com que o público (interno ou externo) sinta-se mais próximo da
organização.
3. Públicos
Um público é um grupo de pessoas que se distinguem das outras por uma ou mais
características em comum. Cada público possui atitudes próprias e devem ser entendidos
por suas individualidades pelo profissional de RP. À ele também cabe formar públicos
através do fornecimento de informações e permitindo a discussão de controvérsias.
Os públicos dentro de uma empresa podem ser classificados em:
 Público Interno: os funcionários e todos os seus familiares.
 Público Externo: comporta a imprensa, consumidores, poderes públicos,
“comunidade” onde a empresa atua – o bairro ou a cidade, etc.
 Público Misto: abrange acionistas, revendedores, fornecedores e etc.
Esse tipo de classificação geral pode variar conforma as características da
empresa.
4. Funções oficiais
 Assessoramento: consultoria. Trabalho de coordenação dos demais serviços da
empresa com os serviços de RRPP, sugerindo atitudes com os públicos em geral.
“Conselheiro da alta administração”, moldando as políticas e diretrizes da
instituição de acordo com os anseios e interesses legítimos da comunidade.
Responsável pela harmonia do interesse público e privado.
 Pesquisa: pesquisa de opinião pública, institucional (dentro da empresa), de mídia,
e investigação e levantamento dos públicos da instituição.
 Planejamento: preparação de planos, projetos e programas, básicos e específicos,
de periodicidade anual ou plurianual. Seleção de pessoal para a execução da
programação, estudo do tempo. Observação da política e meta estabelecida pela
administração.
 Execução (comunicação): produção de material informativo e de todas as etapas e
ações no setor de publicidade, informação e contato.
◦ Setor de divulgação (publicidade): relacionamento com a imprensa (notas e
boletins), campanhas publicitárias, exposições e amostras (preparação,
organização e realização desses itens).
◦ Setor de informações: atendimento ao público, SACs, cadastro de pessoas.
Coleta de dados e informações pertinentes à instituição.
◦ Setor de contatos: relações com a imprensa e a comunidade, colaboração com
atos oficias, elaboração e acompanhamento de políticas sociais e sustentáveis.
 Avaliação: mesmas tarefas, abrangendo todas as funções e o controle do
desenvolvimento das atividades da função execução.
5. Relações Públicas como atividade persuasiva.
Para Bernays, os campos de atividade de RP são: informação
(divulgação/publicidade), persuasão (aspectos educativos de RP) e integração (instituição
e públicos). Relações Públicas é o responsável pela educação cívica de seu público
interno e externo.
 Propaganda: do latim “propagare”, propagar, incutir na mente.
 Publicidade: do latim “publicare”, tornar público, divulgar.
Para Benedicto Silva, a definição de publicidade que tem a ver com as atividades
de RP é: publicidade é a técnica ou arte de transmitir informações, sugestões e idéias a
grupos numerosos. Para ele a divulgação (RP) procura informar enquanto a propaganda
quer persuadir.
Para Canfield a publicidade é um dos instrumentos bases de RP, informa o público
sobre as políticas e atos da organização, criando uma opinião pública favorável.
José Marques de Melo acredita que publicidade e RP se encaixam na mesma
categoria, a propaganda. RP e propaganda para ele são dois tipos de atividades iguais
com maneiras diferentes de realização. Ambas informam “educando, uma persuadindo e
a outra.
6. Relações Públicas e responsabilidade social.
Canfield acredita que para RP funcionar, a administração deve entender e aceitar
sua responsabilidade social. É necessária a criação de bem-estar social que seja
transmitido para o público.
Já Cândido Teobaldo acha que poucos reconhecem a função social de uma
empresa. O RP deve trabalhar para estabelecer a harmonia entre o interesse público e o
privado, amenizando as tensões criadas por atitudes individuais.
Para Harwood Childs o RP deve harmonizar ou ajustar aspectos do
comportamento pessoal e empresarial que tem significado para a sociedade.
Ney Peixoto do Vale acha que por causa do distanciamento das empresas com
aqueles que a sustentam ou que se relacionam, a necessidade de uma atitude social é
crescente para que esse distanciamento diminua. A utilização errada da comunicação
social às vezes pode transmitir uma imagem errada da organização para o público.
A função social de RP é “dar à empresa a estabilidade ambiental necessária para
que ela tenha a tranquilidade para atender aos seus objetivos econômicos, sem os
conflitos e as perturbações oriundas da ausência de comunicações ou de comunicações
deficientes” (Ney Peixoto do Vale).
 Assegurar a existência de condições favoráveis à reprodução do capital.
 RP procura solucionar, atenuar e diminuir a luta de classes.]
7. Relação teoria e prática.
Na prática a função persuasiva de RP é explícita, enquanto na teoria há certa
hesitação em admiti-la. Não há divergências significativas, porém, entre os aspectos
teóricos e práticos de RP.
As Relações Públicas trata e serve o interesse público ao mesmo tempo em que
resguarda os interesses de instituições e governos. Esta ambiguidade existe por causa do
capitalismo, que também é ambíguo.
No nível teórico temos as Relações Públicas lutando por uma igualdade social e no
nível prático elas apenas harmonizam as desigualdades. Em ambos os níveis admite-se
conflitos, desarmonias e desajustes de interesses. As RP se fundam na teoria
funcionalista1, onde existem apenas disfunções, desigualdades e desarmonias.
Dilvo Peruzzo afirma que “há no funcionalismo uma gama de autores e matizes um
tanto diversos, embora tenham um universo comum de trabalho. (...)”. O modelo,
considerado por ele, mais sofisticado do funcionalismo é o cibernético ou o modelo de
governo de David Easton2.
Existem duas dimensões para análise do funcionalismo:
1. A interpretação das variações estruturais do seio do sistema;
2. A capacidade de um sistema persistir diante das tensões.
O sistema é realimentado através da informação e são dotados de capacidade de
receber desafios e adaptar-se às novas realidades. Um sistema só persistirá se for capaz
de dar respostas às tensões e tendo alguém que o sustente.
As Relações Públicas atuam para substantivar a compreensão, a cooperação e a
harmonia social entre os homens interdependentes e complementares 3, para que todos se
beneficiem. Relações Públicas é um instrumento do bem comum. Elas participam
objetivamente da ideologia burguesa que procura ocultar as contradições sociais.
 Concepção ideológica burguesa: faz os homens crerem que são desiguais por

1
Teoria funcionalista: aborda globalmente os meios de comunicação. Aborda a problemática dos mass media no
ponto de vista do funcionamento da sociedade e sua contribuição para esses funcionamentos.
2
David Easton: estudioso das ciências políticas, conhecido por aplicar a teoria de sistemas às ciências sociais.
3
Homens interdependentes e complementares: coerentes entre si.
natureza e pelas condições sociais, mas que são iguais perante a lei e ao governo,
sem mencionar que a lei foi feita pelos dominantes e o governo é um instrumento
deles.
As RP promovem o bem-estar social e a igualdade nas relações sociais numa
sociedade marcada por profundas diferenças de classe, elas contribuem para camuflar os
conflitos de classe e educar a sociedade na direção ideológica burguesa, preservando a
dominação do capital sobre o trabalho.
Por fim, as RP é uma necessidade do modo de produção capitalista, para entendê-
las a fundo é necessário entender o modo de produção capitalista.

Capítulo III – Relações Públicas e os fundamentos constitutivos do modo de


produção capitalista.
Este capítulo analisa as RP nas empresas. Para isso é necessário que alguns
aspectos de mecanismos do funcionamento do modo de produção sejam explicitados
para entendermos onde as Relações Públicas acontecem.
1. A Mercadoria e o seu fetiche.
O modo de produção capitalista é um modo de produção de mercadorias. Nestas
entram em relações o capital e o trabalho, ou os possuidores de dinheiro e os possuidores
da força de trabalho.
Uma das nuances das RP burguesas se constitui nas relações entre os
possuidores de dinheiro (capitalista) e os possuidores da própria força de trabalho
(trabalhadores), que se relacionam em função da produção de mercadorias.
Para esclarecer o que é uma mercadoria podemos dizer a grosso modo que é
aquela que possui propriedades para satisfazer necessidades, ou seja, é algo útil para as
pessoas. Mercadoria é valor-de-uso ou objeto útil de valor. Valor-de-uso e valor fazem
parte da mercadoria, mas ela só se constitui como mercadoria à medida que se produz
para a troca. Pode-se dizer então que, para ser mercadoria, é necessário que haja um
valor em dinheiro e um valor-de-uso (consumo) à ela atrelada.
O valor de uma mercadoria é a quantidade de trabalho social nele cristalizado, ou
seja, o trabalho desenvolvido por alguém é referencial de valor, quanto mais a mercadoria
é desenvolvida, maior é o seu valor.
É aí onde o fetichismo da mercadoria aparece. Segundo Karl Marx a mercadoria,
ao chega ao consumidor, encobre as características sociais do trabalho dos homens
realizado para que essa mercadoria exista. Diz então que o fetichismo é esse processo no
qual o valor se apresenta à consciência dos homens como uma qualidade objetiva da
mercadoria.
Uma mercadoria só pode ser trocada por outra se o seu valor-de-troca for igual,
sendo que essa troca baseia-se no dinheiro.
2. Mais-valia.
Mais uma vez temos a relação entre o possuidor de dinheiro e o possuidor da força
de trabalho. Em suma, o trabalhador trabalha sob controle do capitalista, a quem pertence
seu trabalho. O capitalista cuida para que o trabalhador o realize de maneira apropriada.
O produto do trabalho é propriedade do possuidor de dinheiro. Ao comprador pertence o
uso da mercadoria, e o possuidor de trabalho recebe um salário por ter feito a mercadoria.
O valor da força de trabalho é medido pela quantidade de meios necessários à
subsistência. O capitalista, como qualquer outro comprador, vai consumir o máximo do
valor-de-uso que comprou. Ao comprar o valor-de-uso diário da força de trabalho, vai
fazê-lo trabalhar durante o dia todo. Do dia de 24 horas, já se tem que eliminar umas
horas, pois o operário precisa dormir, comer e etc., para criar uma nova força, e também
devido às conquistas dos trabalhadores em suas lutas para a redução da jornada de
trabalho ao longo da história. Assim, se o trabalho social necessário para produzir o valor
correspondente a sua sobrevivência for de quatro horas, o capitalista fará com que a força
de trabalho trabalhe oito horas, pois adquiriu o direito de usá-la durante esse dia. E como
o capitalista já calculou o valor da força de trabalho que corresponde a quatro horas de
trabalho diário, é esse o valor que receberá de salário. O trabalho excedente de quatro
horas irá traduzir-se em mais-valia e em um sobreproduto que irá pra ao capitalista, pois
quatro horas de trabalho eram suficientes para reproduzir o valor da força de trabalho.
A mais-valia se origina de um excedente quantitativo de trabalho, da duração
prolongada da jornada de trabalho.
3. A cooperação.
Entre várias maneiras de fazer aumentar o lucro dentro dos limites da jornada de
trabalho, vamos examinar a cooperação. A existência de trabalhadores atuando juntos é
fundamental na produção capitalista, pois com isso têm-se a multiplicação da força de
trabalho.
A cooperação é um meio de aumentar a geração da mais-valia relativa, porque o
trabalho combinado cria nova força produtiva, a força coletiva.
Os valores do capital constante transferidos a cada mercadoria tornam-se ainda
menores quando, por exemplo, o empregador faz com que os trabalhadores trabalhem
em dois ou três turnos. Com esse artifício um prédio que abriga cem trabalhadores pode
abrigar trezentos, poupando-se dois prédios. Reduz-se, portanto, a parcela do capital
constante. O capital adiantado, o custo da mercadoria, o trabalho necessário e a mais-
valia são menores.
A cooperação existe também quando um dos trabalhadores está sobrecarregado e
outros param de executar as suas tarefas para ajudá-lo, em um clima de “competição
cooperativa”. Outro exemplo é quando alguns trabalhadores já terminaram suas tarefas e
“dão uma mão” aos que ainda tem tarefas a cumprir.
Através de uma jornada de trabalho coletiva, é possível uma produção maior do
que se todas as etapas da operação fossem realizadas isoladamente por cada
trabalhador. Além disso, a coletividade traz um estímulo psicológico, em que só em ter
contato humano durante suas tarefas, o trabalhador já se sente menos estressado.
Esta jornada coletiva produz mais valor-de-uso e reduz por isso o tempo de
trabalho necessário para a produção de determinado efeito útil.
Em suma, podemos dizer que as vantagens do trabalho coletivo seriam:
 Maior produtividade;
 Elevação da potência do trabalho;
 Mobilização do trabalho em momento crítico;
 Emulação dos indivíduos e animá-los;
 Realização de diversas tarefas ao mesmo tempo;
 Poupar meios de produção em virtude do seu uso comum.
Ao cooperar com os outros de acordo com um plano, desfaz-se o trabalhador dos
limites da sua individualidade e desenvolve a capacidade de sua espécie.
4. Relações Públicas: meio para predispor a força de trabalho à cooperação.
Para que tudo ocorra de maneira eficiente dentro de um modo de produção
capitalista, é necessário que haja supervisão do trabalho realizado, não só pelo possuidor
do dinheiro, mas por pessoas capacitadas, como, por exemplo, gerentes, inspetores,
capatazes e etc.
Com o desenvolvimento da produção capitalista criam-se, também, mecanismos
sutis de dominação, como as Relações Humanas e as Relações Públicas que buscam em
última instância o consenso dos trabalhadores.
Neste contexto, entra as relações públicas que, na relação capital-trabalho, se
constituem em um dos instrumentos para condicionar a submissão do trabalho ao capital.
As RP procuram envolver os trabalhadores nos objetivos da empresa como se fossem os
seus próprios. Esse envolvimento mental cria condições para que o trabalhador seja
alguém que produz mais motivado pela satisfação pessoal e predisposto à cooperação.
Procura-se, pois, potenciar essa força produtiva para aumentar a produtividade do
trabalho e a produção, o que aumenta o trabalho não pago e barateia o valor da força de
trabalho, aumentando a exploração. Como pode haver então “compreensão mútua” entre
capital e trabalho, ou seja, entre forças antagônicas, entre o explorador e o explorado? O
que pode haver é o comprometimento devido às relações de dependência recíproca entre
capital e trabalho e não a identidade de interesses.
Um exemplo seria quando uma empresa que atende as reivindicações dos seus
empregados melhorando a alimentação está proporcionando benefícios e se
comprometendo com os interesses dos trabalhadores. Daí surge a alienação, que
expropria o outro e pode ser econômica, espiritual, cultural, política ou religiosa.
5. Alienação
O que é alienação? É o ato ou efeito de alienar-se. Processo ligado essencialmente
à ação, à consciência e à situação do homem, e pelo qual se oculta ou se falsifica essa
ligação de modo que apareça o processo (e seus produtos) como indiferente,
independente ou superior aos homens, seus criadores (definição segundo o Dicionário
Aurélio). A definição dada por Karl Marx para a alienação é: uma situação resultante dos
fatores materiais dominantes da sociedade, e por eles caracterizados, sobretudo no
sistema capitalista em que o trabalho do homem se processa de modo que produza
coisas que imediatamente são separadas dos interesses e do alcance de quem as
produziu, para se transformarem, indistintamente, em mercadorias, falta de consciência
dos problemas políticos e sociais.
Cicília fala sobre a alienação, usando como base o que Karl Marx disse nos
“Manuscritos Econômicos e Filosóficos”. Começa observando um fato econômico que
ocorre em alguns países. Dizia que o ‘trabalhador fica mais pobre conforme produz mais
bens e riquezas’. Podemos explicar da seguinte forma: o salário do trabalhador é sempre
o mesmo, independente do quanto ele produzir, então se ele produzir mais estará
gerando mais riquezas para o empregador. Enquanto o chefe enriquece, o empregado
continua com o mesmo salário, então em uma visão relativizada o operário está mais
pobre do que antes, se comparado ao chefe, que está mais rico.
Karl Marx diz também: “O trabalhador torna-se uma mercadoria ainda mais barata
à medida que cria mais bens”. Usando o mesmo raciocínio anterior, o trabalhador é
considerado uma mercadoria para o empregador, pois gera lucros para o mesmo.
Conforme o trabalhador produz mais na organização, mais riquezas ele gera para o
empregador, mas já que seu salário continua o mesmo ao longo do tempo e o
empregador ganha, por exemplo, o dobro em cima da produção, mais barato torna-se o
salário do trabalhador para o “chefe”, relativamente.
O valor do mundo das coisas passa a ser maior que o valor do mundo humano. O
trabalho gera, além de bens, o trabalhador como mercadoria, pois o empregador o
explora e ganha dinheiro em cima de seu trabalho. Isso nos mostra que o produto do
trabalho é mais importante do que o trabalhador. O objeto se impõe ao trabalhador como
quem domina, essa é a primeira característica da alienação, quando o empregado não
percebe que o produto tem mais valor do que ele próprio.
Karl Marx acrescenta: “como poderia o trabalhador ficar numa relação alienada
com o produto se sua criatividade não alienasse a si mesmo no próprio ato da produção?
“Ou seja, se o trabalhador já é alienado em relação ao que produz isso significa que,
enquanto ele produz tal coisa, ele já estava alienado. O trabalho é uma alienação ativa.
A explicação para isso ocorrer é que “o trabalho é externo ao trabalhado”, não faz
parte de sua natureza, logo ele não se realiza ao trabalhar, só se cansa cada vez mais
física e mentalmente. O trabalho não tem caráter voluntário e sim forçado. O trabalho
exteriorizado é o qual aliena o trabalhador, pois o mesmo não está mais trabalhando para
si mesmo, mas para outrem, ele pertence à outra pessoa. Como ele não gosta do que
está fazendo ele acaba se alienando.
A autora chega a questionar se o fato de a sociedade burguesa incentivar tanto os
jovens a seguirem profissões de acordo com suas vocações profissionais, não seria só
um jeito de enganar o trabalhador estimulando-o a trabalhar mais. Já que ele estará
fazendo algo que gosta, algo voluntário, pois é sua “realização profissional”. Trabalhando
mais, esse trabalhador estaria gerando mais capital e dinheiro.
O trabalho feito pelos operários é algo tão frustrante, que não lhes acrescenta nada e
sem interesse pessoal, que ajuda na sua alienação. O Homem se aliena perante a vida, já
não vê mais sentido fora do trabalho, se aliena em relação aos outros homens, vira um
ser individual. Ele está a serviço de outro homem.
6. A não neutralidade das Relações Públicas.
O que faz com que as pessoas consintam com esse modo de vida?
Existe a fetichização, que é quando as pessoas precisam de coisas que lhes dêem
status e um bem-estar psicológico. Essas coisas são determinadas pelo estado, pela
sociedade, entre outros.
Para o trabalhador o ato de trabalhar é algo que a sociedade impôs, ele trabalha
para corresponder expectativas e para poder possuir um ou outro “fetiche” do momento.
Trabalhar é algo que todos devem fazer, mas o produto do trabalho é algo que poucos
podem ter. O trabalho estimula a fetichização das coisas, pois você ganha um salário e irá
querer gastar esse dinheiro com algumas necessidades.
As Relações Públicas manifestam a ideologia burguesa. Diz-se que as RP
promovem a compreensão mútua entre desiguais, mas dificilmente os interesses em jogo
vão ser os mesmos, dificilmente estarão a serviço do interesse em comum, já que cada
um possui um interesse, uma opinião, uma idéia...
A neutralidade das RP que aparece em muitos lugares é errônea, já que na pratica
não acontece. O RP tentará harmonizar as relações sociais, mas para isso um dos lados
será mais atendido, e esse será o lado favorável ao capitalismo. Por exemplo, o RP
estará sempre envolvido com lado que proporcione resultados mais desejáveis. Quando
escutam os trabalhadores, não escutam apenas para proporcionar o bem-estar deles,
mas para a partir deste bem-estar estabelecido, eles seriam mais estimulados, produzindo
mais capital na organização.
Diversos autores dizem que é importante manter a boa relação na empresa,
citando as funções dos RP, mas todas essas idéias estão ligadas na questão da mais-
valia e às questões das melhores condições necessárias para o maior acúmulo de capital.
O RP vai estar sempre participando dos planos para arrecadar capital, quando ele ouve a
reclamação de um funcionário, ele o faz com o interesse de deixar o funcionário mais
satisfeito para continuar produzindo mais capital, dinheiro e mercadorias.
As Relações Públicas expressam o capital. E o capital é o que se consegue através
da mais-valia. A quantidade que o trabalhador produz, mas não recebe em troca.
Veremos mais para frente que não existe Relações Públicas no socialismo, por
diversos fatores.
7. Classes sociais fundamentais do capitalismo
A idéia do capitalista é gastar dinheiro com alguma mercadoria para depois vendê-
la com lucro. A “operação” básica é: Dinheiro, que compra mercadorias (trabalhadores,
máquinas, matéria prima), passa por um processo de produção, que resulta em novas
mercadorias, e essas geram mais dinheiro (D- M-P-P-M-D´). Em resumo a idéia é dinheiro
que gera mais dinheiro (D-D´). Isto é o capital, valor que se recria, dinheiro que se
valoriza. Deste modo, o dinheiro transformado em capital, gera um valor excedente, a
mais-valia.
O capital e a mais-valia só aparecem quando o possuidor dos meios de produção
encontra o trabalhador livre vendendo sua força de trabalho. E é nesse momento que
surgem as classes sociais do capitalismo, marcando a desigualdade nas relações. Um
tem muito dinheiro e possui propriedades e mercadorias, e o outro só tem sua força de
trabalho para oferecer.
Essas classes são diferenciadas entre as pessoas, por cargos que ocupam,
dinheiro que possuem. As classes são grupos onde alguns homens podem se apropriar
do trabalho do outro, dependendo do lugar em que ocupam na economia social. Essas
classes no capitalismo são: a burguesia, que detêm a propriedade privada dos meios de
produção e o proletariado, que detêm a propriedade da sua própria força de trabalho.
O burguês explora a força de trabalho para aumentar o seu capital. Já o proletário
troca sua força de trabalho por um salário para conseguir suprir suas necessidades
essenciais como, comer, morar, se vestir, etc.
O interesse dessas duas classes é antagônico, são classes dominadas e
dominantes, constituindo uma relação de dominação- subordinação, isso constitui uma
ordem social, cultural e política. Porem uma não existe sem a outra. Os trabalhadores não
teriam dinheiro para se sustentar se não trabalhassem para o burguês e este não teria
acumulo de capital se uma massa não promovesse isso. Portanto, também são classes
complementares. A existência de um depende da do outro.
Com o desenrolar da história, as classes, principalmente as dominadas, adquirem
consciência de si mesmo e de seus interesses, então começam a se organizar de forma a
conseguirem melhorias, como exemplo, por meio de greves.
8. Relações Públicas nas relações entre as classes sociais.
Neste contexto as Relações Públicas são utilizadas pela burguesia e, sendo assim, no
contexto global estão a serviço de uma classe, da classe que detém a propriedade
privada dos meios de produção.
Uma das funções oficiais das RP é a pesquisa, devemos conhecer as tendências
sociais a fim de antecipar os acontecimentos, aproximando-os aos objetivos da empresa
ou da classe dominante. No fundo importa saber o que é útil ou prejudicial, conveniente
ou inconveniente para o capital. O saber do profissional de RP torna-se um saber
comprometido com as intenções de acumulação do capital.
Com isso, o contato pessoal é a melhor forma de realizar esta pesquisa, pois só assim
haverá sinceridade na opinião dos empregados. É preciso conciliar a confiança das
pessoas, sem o que, responderão de forma impessoal, temendo verem-se prejudicadas
pela direção. Este contato pessoal deve ser sempre mantido, alimentado e fortalecido; o
processo de RP é sempre contínuo. Nas relações de dependência recíproca busca-se o
comprometimento harmonioso entre o explorador e o explorado para assegurar a
tranquilidade do capital.
A Volkswagen do Brasil instituiu em 1980 o “Sistema de Representação dos
Empregados”. Era eleito um representante dos empregados (pelos próprios) e este tinha
como dever “a atribuição de cooperar na coordenação do relacionamento entre a
companhia e seus empregados”. Tratava-se de um canal direto de comunicação entre os
empregados e a diretoria da empresa, a fim de criar um diálogo aberto para resolver os
problemas de hoje (na época) e do futuro, fundamental para a sobrevivência das
empresas.
Havia um pequeno conflito dentro da idéia deste sistema, pois existia a aspiração de
alguns trabalhadores a instituir um delegado sindical. Este delegado faria a comunicação
direta entre os trabalhadores e o sindicato (e vice-versa). As reivindicações chegariam à
diretoria através do sindicato. O sistema da Volkswagen elege um único representante da
classe dos trabalhadores que encaminha os problemas diretamente à diretoria, sem a
interferência de um sindicato organizado. Por um lado isso é positivo pelo fato de as
reclamações chegarem com mais rapidez à direção, porém, por outro lado, este esquema
pode desnortear ou adiar o processo de conscientização e organização dos
trabalhadores.
Examinemos outras manifestações de RP no âmbito empresarial: nas empresas existe
um curso de integração, onde, através de palestras, mostram a política da empresa, como
ela está organizada hierarquicamente e quem ocupa os cargos diretivos, quais produtos
são produzidos e etc. Os admitidos recebem um “manual de integração” contendo
informações referentes a férias, repouso, demissões de acordo com a CLT e as “virtudes”
da empresa. Este material não só informa e inspira satisfação aos trabalhadores, como
também carrega um caráter repressivo que induz a respeitar as normais e aderir à política
da empresa.
Procura-se incutir a responsabilidade de cada trabalhador no funcionamento da
empresa e inspirar-lhe um sentimento de orgulho por trabalhar no lugar.
Os Jornais de Empresas são publicações internas, distribuídas gratuitamente e tem a
finalidade de integrar melhor a Comunidade de Trabalho, através do noticiário de todas as
atividades da empresa que interessam os empregados e noticiários sobre estes
empregados, que interessam à empresa.
Estes jornais têm como ênfase notícias no campo do entretenimento e acabam por
não publicar problemas fundamentais que afetam os trabalhadores. Os jornais de
empresa, atualmente, funcionam como um freio à discussão, à consciência crítica, à ação
da inteligência. Com isso, acabam por interessar mais às empresas e à classe dominante.
Outro instrumento de RP são os concursos. Existem o concurso de segurança no
trabalho, de frases comemorativas, de fotografias, de operário padrão, de miss alguma
coisa, de redução de energia e muitos outros.
Para as empresas, importa a festa para os empregados, a notícia, importa promover
acontecimentos que envolvam cada vez mais os trabalhadores com a empresa
desviando-os de problemas que afligem a classe trabalhadora. Os empregados têm de
pensar sempre na empresa e em como trabalhar nela satisfaz suas realizações pessoais.
As visitas à fábrica também é uma atividade de RP. Este programa leva as famílias
dos trabalhadores, grupos de estudantes ou moradores do local onde a empresa está
instalada para visitar as instalações dos processos de produção da empresa. O programa
de visitas inclui palestras, projeção de filmes, almoço e lanches, material informativo,
amostras e brindes.
Elas são importantes porque os empregados sentem-se orgulhosos em mostrar às
suas famílias a parte que desempenham na produção da firma e os chefes têm a
oportunidade de conhecer a família de seus funcionários.
O objetivo das empresas em realizar estas visitas, no fundo, é o de estimular o
trabalhador a dedicar-se mais, por motivação pessoal e pelo estímulo da família; fazer
com que o trabalhador e seus familiares sejam divulgadores dos produtos da empresa e
dar mérito a empresa pelos benefícios que ela proporciona. Também visam à reprodução
da força de trabalho, ou seja, fazer com que os filhos dos funcionários valorizem o cargo e
a empresa em que o pai trabalha e possam considerar a idéia de um dia substituí-lo.
As festas também estão inseridas no plano de trazer lazer aos funcionários, pois
promove um contato impessoal entre os chefes, subordinados e suas famílias. As
Relações Públicas se prestam também para desviar os trabalhadores de discussões de
problemas e das manifestações da classe. Podemos citar como exemplo a comemoração
do Dia do Trabalho, pois enquanto ocorrem passeatas e reivindicações, as empresas
distraem os empregados com grandes eventos.
O livro se foca para a relação lazer e trabalho. O lazer, relacionado ao trabalho, não
tem como único objetivo distrair os funcionários dos problemas da classe, mas também de
revigorar suas energias para que produzam de forma mais dinâmica e eficiente,
transformando o esforço-trabalho em esforço-prazer. Este investimento se torna
importante para trazer lucros empresariais! A pausa na jornada de trabalho também é
muito eficiente, pois alivia a tensão e recupera a força física.
Nós vimos até aqui que as RP se mostram como um dos meios para envolver o
pensamento das pessoas num contexto altamente alienante. Os benefícios
proporcionados pelas empresas são manifestações de respeito ao trabalhador, porém, da
forma como são trabalhados, são também meios de submissão. Estas concessões são
focadas no bem-estar do trabalhador enquanto força de trabalho, como mercadoria que
irá produzir cada vez mais e melhor; não no bem-estar do trabalhador como ser humano.
Um dos vice-presidentes de uma empresa americana diz “A sociologia mostrou que os
homens parecem produzir melhor se são felizes e nós nos esforçamo-nos por torná-los
felizes. Mas se a experiência provasse que os homens produziriam melhor se estivessem
furiosos, nós arranjaríamos maneira de que eles assim estivessem permanentemente”.
As RP são utilizadas por muito tempo pelos donos do capital e isso dá a ela um
comprometimento histórico, que no capitalismo é com o capital.

Capítulo IV: Relações Públicas e a Sociedade Civil e o Estado.


Este capítulo aborda a atividade das Relações Públicas no funcionamento da
sociedade burguesa.
1. A constituição da sociedade civil e Estado.
Para Marx: “Na relação social da sua existência, os homens estabelecem relações
determinadas, necessárias, independente da sua vontade”. Segundo ele é o conjunto
dessas relações que estabalece a estrutura econômica, jurídica e política e intelectual em
geral. Para ele “não é a consciência do homem que determina o seu ser; é o seu ser
social que determina a sua consciência”. Ou seja, a sociedade é baseada na estrutura
econômica. É baseado nessa estrutura que surgem a sociedade civil e o Estado.
As classes fundamentais do capitalismo são a burguesia (classe dominante) e
proletariado (classe dominada). A superestrutura 4 engloba sociedade civil, polítca e
Estado e a estrutura5 e a superestrutura foram o bloco histórico. O bloco histórico é o
vínculo orgânico entre estrutura e superestrutura, que é realizado pelos intelectuais.
Os intelectuais são criados pelas classes no seu processo de formação e
desenvolvimento. Todos os homens são intelectuais segundo A. Gramsci 6 e para ele, a
atividade intelectual se diferencia em vários graus, sendo o grau mais alto o de produção
intelectual mais elevada e o de grau mais baixo, de produçõ intelectual menos elevada.
O Estado e a sociedade civil se constituem reciprocamente. O que define sociedade
civil são os marcos das relaçoes sociais de produção. “A sociedade civil é a sociedade
fundada no contrato, na cidadania, no direito público que garante os direitos e os deveres
do cidadão, fundada na Declaração Universal dos Direitos do Homem, da Revolução
Francesa”7.
Este documento onde a sociedade civil está fundada foi instituida na revolução
burguesa com os princípios burgueses: liberdade, igualdade e propriedade. Portanto, a

4
Superestrutura: estrutura jurídica e a ideologia, segundo Karl Marx.
5
Estrutura: conjunto de forças sociais e do mundo da produção.
6
A. Gramsci foi um político, cientista político, comunista e antifascista italiano.
7
PERUZZO, Cicília Maria Khroling. Relações Públicas no modo de produção caspitalista. P 97.
propriedade é inviolável, também em relação à mercadoria, garantindo a posse dos meios
de produção por alguns.
As leis que são criadas junto com o desenvolvimento da sociedade burguesa não são
a expressão do Estado e sim da sociedade e do mercado, que exigem certos
fundamentos para se manter.
Na sociedade civil é preciso que tudo se articule para a realização da produção e
distribuição. Este processo se dá através de lutas, uma vez que a sociedade é fundada
em antagonismos, na dominação do capital sobre o trabalho.
O Estado, segundo Hegel, é um produto da sociedade, é a característica fundamental
de que a sociedade está envolvida numa contradição e num antagonismo irremediável. O
Estado é um poder aparentemente colocado acima da sociedade, para mantê-la dentro
dos limites da ‘ordem’. “O Estado é o produto e a manifestação do antagonismo
irreconciliável das classes”, segundo V.I. Lenin. Portanto quando há Estado, não há
reconciliação entre as classes.
A burguesia apodera-se do Estado e mostra-o como a realização do interesse comum
da sociedade e não para realizar o interesse comum de uma classe. Mesmo criado para
atender os interesses de uma classe dominante, o Estado é coagido a atender os
interesses da sociedade em geral, sempre dentro dos limites da ‘ordem’.
A sociedade burguesa é uma sociedade com interesses antagônicos. Ela serve-se da
sociedade civil e do Estado para chegar a um consenso. É aqui que as Relações Públicas
participam, através do processo educativo de todas as camadas em torno dos ideais
burgueses.
Nessa sociedade as contradições estruturais são ocultadas e a sociedade é
apresentada pela ideologia burguesa como harmoniosa e o Estado como o realizador dos
interesses de toda a sociedade.
A classe burguesa tem o poder material e o poder espiritual, ou seja, seus
pensamentos também são pensamentos dominantes.
A superestrutura pode ser, metódicamente, dividida em dois grandes planos:
1. Sociedade civil: conjunto de organismos chamados comumente de
‘privados’.
2. Sociedade política ou Estado: função de hegemonia que o grupo
dominante exerce em toda a sociedade, e que se expressa no Estado e
no governo ‘jurídico’.
“A classe dominante exerce sua ditadura, não somente por meio da coação, através
do aparelho policial, judiciário, mas também por meio de sua hegemonia, pela qual ela
neutraliza todo um conjunto de forças revolucionárias” 8.
2. Relações Públicas no âmbito da sociedade civil e do Estado: caso brasileiro.
O profissional de Relações Públicas é o resultado da colaboração das escolas em
formarem profissionais vinculados organicamente à burguesia, formando um especialista
em servir aos interesses do capital, mas, é válido lembrar que vendendo sua força de
trabalho o Relações Públicas também se submete ao capital, ou seja, “mesmo sendo um
explorado se transforma em agente de exploração”. 9
O Relações Públicas passa a fazer parte das ações de instituições e do Estado de
forma discreta, estabelecendo a harmonia social. Seu discurso é persuasivo, sempre
destacando as “qualidades” de quem está à serviço utilizando os meios de comunicação
de massa, que por sua vez, também podem usar os serviços de RP.
A relação com a imprensa é considerada muito importante pelo fato de que é
através dela que o profissional de RP viabiliza as informações necessárias de seu cliente
(a empresa/instituição para a qual ele trabalha), aumentando seu prestígio e simpatia
junto aos seus públicos, além de que, ao se manter uma relação favorável com a
imprensa, evita-se críticas.
A autora cita um exemplo bem interessante no livro, o do concurso “operário-
padrão”, realizado pelo jornal O Globo e pelo SESI. Este concurso é uma forma de
“respeitar os interesses dos dominados”, mesmo sendo elaborado e julgado pela classe
dominada. Ele carrega o espírito das RP por tentar fazer convergir os interesses dos
dominantes e dominados. Após eleito o “operário-padrão nacional”, ele é convidado a dar
palestras, tem sua foto publicada em propagandas, enfim, se torna intimamente ligado à
burguesia.
Este concurso explicita a questão da mais-valia, da cooperação tal como vimos
anteriormente, valoriza-se a luta para sobreviver desse operário bem como suas
atividades na comunidade e em ações que reafirmem suas relações sociais garantidas
pelo Estado.
Este concurso então, nos mostra fazer parte de uma estrutura ideológica e política
que ajuda a preservar as condições necessárias à acumulação do capital. É uma clara
demonstração da classe dominante promovendo articulações entre desiguais e entre
empresas e outros organismos da sociedade civil, ambos articulados com o Estado.
A sociedade civil e política estão organicamente ligadas e a classe dominante se
aproveita disso, utilizando hora uma, hora outra, para manter sua dominação. Para tal a
classe dominante se utiliza das RPs para promover a harmonia social através de suas
8
MACCIOCHI, Maria Antonieta. A favor de Gramsci. P129.
9
Peruzzo, Cicília M. Krohling. Relações Públicas no modo de produção capitalista. P. 105.
ações permanente e preventivas.
Nos momentos de crise as RPs também são utilizadas, mas durante esses
períodos o caráter unilateral das RPs vêem à tona, mostrando que ela está à favor da
classe dominada.
Os objetivos de RP no âmbito governamental são:
 Demonstrar uma mentalidade governamental humana e democrática;
 Estabelecer, manter e desenvolver um melhor entendimento entre governantes e
governados;
 Estabelecer meios apropriados para o cidadão expor seus pontos de vista e
opiniões.
 Conseguir boa receptividade do povo e do legislativo;
 Ajudar os cidadãos na interpretação das leis, sempre ressaltando os benefícios.
 Cristalizar o sentimento de opinião pública.
Esses objetivos ocultam que o Estado é um meio utilizado pela classe burguesa
para preservar o sistema, mostram que as RPs foram desenvolvidas pela burguesia a fim
de esconder as contradições sociais.
Desde 1940, com a criação do DIP o Brasil veem montando estruturas de
comunicação para obter legitimidade social para suas ações e políticas, veremos alguns
exemplos à seguir:
1. DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda): o primeiro órgão criado
com essa finalidade, cuidava para obtenção da legitimidade do governo e da
harmonia social. É valido citar que na bibliografia atual não se cita este
órgão, bem como o período, como parte da história das RP no Brasil. O DIP
funcionou no período da ditadura de Vargas e alguns programas criados
continuam até hoje, como o “A Voz do Brasil”.
2. AERP (Assessoria Especial de Relações Públicas): quando Costa e Silva foi
escolhido para substituir Castelo Branco na presidência, ele criou um grupo
de trabalho para firmar sua imagem e a imagem do governo que viria, após
a posse, ele transformou este grupo de trabalho na AERP, com os mesmo
princípios. Foi nessa época que o sistema de comunicação social do
governo foi estabelecida e ela permanece dessa forma até os dias de hoje.
3. ARP (Assessoria de Relações Públicas): no governo do general Geisel, a
ARP acreditava no desenvolvimento em três níveis:
1. A educação informal, que objetivava melhorar as condições de vida e a
força de trabalho.
2. O fortalecimento do caráter nacional, do amor ao trabalho, do
patriotismo, “o Brasil é feito por todos nós”.
3. A esperança, “este é um país que vai para a frente”.
4. SECOM (Secretaria de Comunicação Social): no governo do general
Figueiredo uma parte da classe dominante acreditava que a “abertura” do
regime era necessária para manter o modo de produção. Criou-se a SECOM
e está permanece até hoje.
A função mais característica desses órgãos é informar aos governados fatos que
não prejudiquem os interesses nacionais. O interesse nacional é o interesse da nação por
que o Estado assim decidiu e ele serve para negar os interesses das classes.
A expressão “interesse nacional” ou “objetivo nacional” é oriunda da “Doutrina da
Segurança Nacional”10, no Brasil os objetivos nacionais são:
 Integridade territorial
 Integridade nacional
 Democracia
 Progresso
 Paz social
 Soberania
Os objetivos nacionais são iguais em diferentes países, acredita-se que a
segurança nacional é o Estado se fazer presente em todos os lugares onde há suspeita
de comunismo.
Hoje em dia, ao invés de usarem canhões, as técnicas de Relações Públicas são usadas
pelo Estado para estabelecer o compromisso das classes dominadas com os interesses
da classe dominante.
Portanto, a sociedade civil e Estado se completam buscando o consenso para
estabelecer a hegemonia da classe dominante, para que esta possa dominar sem que a
dominação seja sentida. Classe hegemônica é a classe que compreende o conjunto de
interesse de todas as classes, é a classe que tem um compromisso com a sociedade.
A constituição do Estado burguês foi feita através da classe dominante
(burgueses), por meio de alianças ou coagindo a classe dominada, que por sua vez é
alienada pela classe dominante.

Capítulo V – Relações Públicas na Contramão.


Este capítulo apresentará as Relações Públicas à serviço da classe dominada.
10
Criada pelo ex-presidente dos EUA, Harry Truman, no âmbito da guerra fria, caracterizava-se em combater os
avanços comunistas, repreendendo e coagindo os focos de perturbação
A luta de classes ocorre porque a sociedade burguesa é estruturalmente
contraditória no sentido da socialização na produção e da privatização do produto do
trabalho. A revolução operária constitui-se e convive com a burguesa e conquista direitos
burgueses e revolucionários. Porém, enquanto a burguesia luta para preservar o modo de
produção capitalista, os trabalhadores (operários) vão abrindo espaço na direção de nova
hegemonia. Enquanto a classe dominante viabiliza esforços de Relações Públicas, que,
apesar de benefícios imediatos, visa comprometer a classe dominada com os interesses
dominantes, os dominados resistem.
Falando um pouco mais de RP trabalhando para a classe dominante, podemos
dizer que elas são, na verdade, como um ato pedagógico e político, não crítico libertador.
A ação educativa das Relações Públicas a serviço da classe dominante se insere na
concepção “bancária” da educação. Segundo Paulo Freire, a educação “bancária” torna o
“educando” passivo e adaptado. O que se busca é evitar que haja uma reflexão crítica.
Já as RP a serviço da classe dominada se inserem na concepção “libertadora” da
educação. Para que isso ocorra, podemos citar algumas pistas concretas da utilização
das relações públicas neste contexto:
 Ajudar os movimentos a melhorarem a própria imagem diante do público;
 Ajudá-los a tornar aceitáveis os seus programas e objetivos;
 Ajudar o bom fluxo de comunicações dentro dos movimentos populares: liderança-
base, base-liderança;
 Ajudar a prever as possíveis reações do público diante dos movimentos
reivindicatórios das classes subalternas;
 Ajudar as classes subalternas e os movimentos populares a comunicarem entre si
seus propósitos e realizações.

Para a realização destas propostas cabe o aproveitamento de Relações Públicas:


 Nas relações com organismos da sociedade civil a fim de sensibilizar e encontrar
apoio para a causa dos oprimidos. Aqui são importantes as relações com os meios
de comunicação de massa para conseguir cobertura jornalística.
 No estabelecimento de canais de comunicação entre os dominados
 Na preparação e aplicação de pesquisas para conhecer as necessidades e
posicionamentos de camadas populares frente às reivindicações dos oprimidos, ou
para prever momentos e circunstâncias em que a luta deve avançar ou não
 Na preparação de jornais murais e todos e qualquer tipo de meio de comunicação
 Na preparação de eventos: grupos de teatro, reuniões, palestras, etc.
 No encaminhamento de reivindicações populares, nas relações com órgãos do
Executivo, partidos políticos e órgãos do Judiciário
 Na documentação da história dos dominados.

Os interesses da classe dominada são, em última instância, a desalienação, a


superação da dominação e a formação de uma sociedade sem o domínio do capital.
Portanto, a classe dominada deve cada vez mais se apropriar das técnicas de Relações
Públicas e fundamentá-las com a sua concepção de mundo que é a revolucionária,
transformando assim as RP em um novo ato político.
Podemos dizer que as Relações Públicas sobre a ótica da classe dominada são um
processo político-pedagógico não neutro, mas de opção pela libertação, pela superação
da alienação e pela libertação de oprimidos. Sendo assim elas não são uma simples
técnica ou um conjunto de técnicas, mas todo um processo científico em que se busca
conhecer, articular e transformar o homem, a sociedade e o mundo para construí-los.

Você também pode gostar