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Brinquedos Estereotipados

Após ler o comentário da colega e a própria notícia que serviu de base para o mesmo,
julgo que a maneira como eu interpreto a notícia e os seus impactos vai de encontro com
aquela que foi apresentada.

Desde pequenos que, na maioria dos casos, crescemos e somos educados com uma
mentalidade que mostra de forma bastante transparente aquilo que é esperado de acordo
com o nosso género, aquilo que é visto como o socialmente aceite.

Pessoalmente sinto que tanto eu como grande parte das pessoas à minha volta,
crescemos com a ideia de que o rosa é para as meninas e o azul para os meninos, e que de
certo modo existem coisas que são especificamente destinadas a cada um dos géneros
(estereótipos de género). Por exemplo, caso eu decida pesquisar na net "O que são brinquedos
para meninos?" vai-me aparecer sobretudo brinquedos associados a construção, carros, armas
e até alguns relacionados com desporto. Por sua vez, se pesquisar o mesmo, mas em relação
às meninas, vai-me em grande parte aparecer bonecas e brinquedos que vão de encontro com
aquilo que são as tarefas domésticas e o cuidado estético (beleza).

Muitos vezes, julga-se que nos primeiros anos de vida de uma criança, esta não
compreende nada do que se passa em seu redor, enquanto na realidade é durante os seus seis
primeiros anos de vida que ocorre uma parte importante do seu desenvolvimento. De tal
forma, é essencial que todos aqueles que participam efetivamente na vida de uma criança
tenham consciência que os seus comportamentos para com ela e em redor dela, e tudo aquilo
que lhe proporcionam, influenciará tanto o seu desenvolvimento cognitivo como o social e
intelectual. Agora vejamos, se estas crianças têm na sua base de crescimento brinquedos que
de certo modo indicam o que é esperado para uma pessoa de acordo com o seu género
enquanto feminino ou masculino, é lhes implementado desde cedo "aquilo que eles têm de
ser".

Posto isto, considero que iniciativas como esta que o Lidl tomou, não só são
necessárias, como são a base para a mudança, para abrir mentes e, tal como a Joana
mencionou, desenvolver uma sociedade que promova sobretudo a liberdade e o respeito, sem
que haja qualquer tipo de preconceito ou estereótipo, sobre aquilo que for, não apenas sobre
o assunto abordado nesta iniciativa. Embora, haja ainda quem se oponha a esta nova conceção
o que importa é começar e o resto logo se vê. Aliás como se costuma dizer “primeiro estranha-
se e depois entranha-se”. A prioridade agora é a mudança de mentalidades, que tem de
começar pelos mais novos, pois são estes que são o nosso futuro.

Sinto que em pleno século XXI não faz sentido algum, haver distinção entre aquilo que
são as roupas, os jogos, os estilos musicais, ou seja, simplesmente os gostos de uma pessoa, de
acordo com o seu género. Tantas vezes ouve-se coisas como “o desporto é só para os
rapazes”, “os rapazes não se maquilham”, “as raparigas não ouvem rap”, “não é feminino usar
roupa larga”, entre outras coisas. É verdade que estas ideias têm vindo a perder a sua força,
mas é também verdade que estas ainda estão presentes no nosso dia a dia e precisam de ser
mudadas. Daí, apesar de já ser possível identificar alguns progressos, sinto que por exemplo
neste caso concreto do catálogo do Lidl, o ponto fulcral não deveria passar por transmitir a
ideia de que os rapazes também brincam com bonecas, o que é visto como um brinquedo para
meninas, e as raparigas com carros, o que é visto como um brinquedo para os meninos, mas
sim passar por mostrar que ambos podem brincar com um brinquedo, um qualquer brinquedo,
que a nada está associado e que não define o que lhes esperará no futuro. Em vez de termos
uma menina sozinha a brincar com armas ou outra qualquer coisa padronizada como sendo
associada ao género masculino, podemos ter somente duas crianças a brincar com um mesmo
brinquedo, sem que seja necessário atribuir-lhe determinado rótulo. A ideia que me passa é
que o Lidl ao tentar contrariar um estereotipo de género, teve como base o mesmo.

Isto tudo, deixando de parte aquela questão, que a Carolina referiu, de que talvez esta
campanha tenha somente o propósito de aumentar os lucros da empresa. Pois, cada vez mais
existem empresas e entidades que recorrem a assuntos de discussão social ou política, nas
suas ações de autopromoção, como simples estratégias de marketing. Não nos podemos
esquecer que vivemos numa sociedade altamente capitalizada, onde o dinheiro se sobrepõe a
muita coisa.

Condições de Trabalho no Mundial

Como a colega referiu o assunto da organização do Mundial no Qatar não vem de


agora. Foi a 2 de dezembro de 2010 que a FIFA anunciou que o Mundial de 2022 iria realizar-se
no Qatar. Desde o início que se tem noção da forma como são abordados os direitos humanos
neste país, de tal modo, que este é um alvo constante de críticas sobre o tratamento das
mulheres, membros da comunidade LGBTQIA+, trabalhadores migrantes, jornalistas, entre
outros. Todavia, a FIFA decidiu levar a sua decisão para adiante e avançar com o projeto.

Durante estes quase 12 anos em que se esteve efetivamente a preparar e organizar o


campeonato do mundo foi necessário que morressem cerca de 6 500 trabalhadores (não
havendo ainda números oficiais) e outras dezenas de milhares ficassem feridos para que tal
fosse anunciado. Um acontecimento verdadeiramente lamentável e que revela o pior lado da
FIFA. Obviamente que a organização de uma competição da dimensão da do mundial é
acompanhada de perto e é evidente que estes números não apareceram de um dia para o
outro, aparecem no decorrer de pelos 10 anos e durante estes 10 anos a FIFA não foi capaz de
tomar nenhuma iniciativa, concreta, para combater o que estava a acontecer. Somente agora,
como a colega menciona, é que os líderes políticos e a própria FIFA começam a alterar os seus
discursos e a tentar mostrar preocupação face o sucedido, muito provavelmente somente por
causa das opiniões e dos comentários público.

A minha cabeça neste momento resume-se a perguntas como “Qual é o valor da vida
humana?” ou “De que valem as várias lutas que temos tido ao longo dos anos pelos direitos
humanos, se chegámos ao ponto que chegamos?”. Mesmo que a FIFA e o Qatar indemnizem
as famílias, como se está à procura que aconteça, isso de pouco serve, porque o dinheiro não
traz ninguém de volta, não apaga o que aconteceu, não apaga o “retrocesso gigantesco na luta
pelos direitos humanos”, que a Laura refere.

É ridículo termos permitido a organização de um mundial num país que está mais
preocupado em aplicar penas de prisão a pessoas homossexuais do que propriamente a
garantir condições não só de trabalho, mas também de vida. Pelo que esta é efetivamente
mais uma das provas de que neste mundo capitalista, no qual vivemos, o dinheiro está acima
de tudo e de todos. Estamos perante um crime humanitário e o pior é que, provavelmente, já
sabemos qual vai ser o resultado deste juridicamente. As pessoas e as entendidas com poder
raramente perdem. As acusações vão ser muitas, umas contra as outras, e no final ninguém
paga, porque o dinheiro fala sempre mais alto e paga coisas que nem preço têm.

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