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As redes sociais… acha bom jogar suas mágoas nesses sites?

por Teresa Roque


Como é possível que uma mão cheia de web-designers de Silicon Valley tenha tanto poder sobre biliões de pessoas?
Na sua essência, este é um ataque global à própria democracia

Vivemos na era da informação. Nunca tantos tiveram acesso tão ilimitado a informação instantânea. À partida isto é muito bom, certo?
Kofi Annan disse: “Conhecimento é poder. A informação liberta. A educação é a premissa do progresso, em qualquer sociedade, em
qualquer família.”
Vivemos também numa época de desinformação. Um estudo recente do MIT (Massachusetts Institute of Technology) veio demonstrar
que as notícias falsas viajam seis vezes mais rapidamente do que as notícias reais. Inicialmente as redes sociais trouxeram-nos tanto de
bom que, esquecemo-nos, por completo, de olhar para o reverso da medalha.
Todavia, o problema da indústria da tecnologia de informação vai bem para além da disseminação da desinformação. As redes sociais
têm vindo a ser associadas a um aumento dos níveis estimados de ansiedade e alienação. Pessoalmente, aconselho todos os pais a verem
o documentário “The Social Dilemma” (O Dilema das Redes) no Netflix.
Há toda uma geração que parece mais frágil, mais deprimida, mais ansiosa e mais alienada. As redes sociais assumem o controle das suas
vidas e chegam ao ponto de controlarem o seu próprio sentido de autoestima e de identidade. Tornam-se totalmente dependentes da
aprovação social que lhes é dada a cada minuto pela quantidade de “gostos” que recebem por qualquer uma das suas publicações.
Tomam como exemplo padrões irrealistas de beleza e de estilo de vida – muitas vezes falsos. Não é que isto não tenha acontecido antes.
As revistas sempre publicaram imagens de figuras públicas “perfeitas” vivendo vidas “perfeitas”. O problema é que agora não são apenas
imagens de figuras públicas. São dos seus próprios amigos e são constantes.
As pessoas ficam agarradas – como qualquer outro viciado. É irrelevante se se trata de I nstagram ou Twitter ou Facebook ou YouTube
ou TikTok ou Google. Todas estas redes concorrem pela nossa atenção. São desenhadas para descobrir o que gostamos de ver. Estudam a
forma como pensamos e do que gostamos e, em segui-da, alimentam-nos com tudo isso para absorver a nossa atenção o mais possível.
Como contrapartida, vendem milhões de dólares em publicidade, fazendo com que estas empresas se convertam nas empresas mais ricas
da história da humanidade.
Tudo o que fazemos online é rastreado. Os algoritmos utilizados conhecem-nos melhor do que nós mesmos. E isso é uma mina de ouro
para os publicitários. Em troca da nossa atenção, que voluntariamente lhes damos de graça sem sequer nos apercebemos, eles vendem
publicidade. Há que reconhecer que é excelente modelo de negócios.
Mas as redes sociais vão mais longe. Têm a capacidade de mudar a forma como pensamos, o que fazemos e até quem somos.
Basicamente, tornámo-nos cápsulas (pods) no Matrix. Como é possível que uma mão cheia de web-designers de Silicon Valley tenha
tanto poder sobre biliões de pessoas? Na sua essência, este é um ataque global à própria democracia. Estas redes sociais transformaram-
se na arma de persuasão mais eficiente alguma vez criada. Já imaginaram o que isto significaria nas mãos de um ditador que quisesse
controlar a população de um país?
Entretanto a leitura saiu de cena. É muito mais fácil aceder à Netflix do que ler um livro. O problema é que a leitura é crucial.
Desenvolve o nosso vocabulário; estimula a nossa imaginação, melhora a nossa apreciação e compreensão da cultura, aumenta o nosso
conhecimento, prolonga a nossa capacidade de atenção e assim por diante. Tente fazer com que um adolescente leia, hoje em dia.
Aperceber-se-á de que é uma árdua batalha.
Quando o Facebook foi lançado, a ideia era aproximar-nos. Os utilizadores tiveram a oportunidade de entrar em contacto com amigos
e/ou familiares que não viam há anos. Em vez disso, creio que acabou por nos separar. Nunca antes testemunhámos níveis de polarização
como os que existem atualmente nas sociedades ocidentais. Nunca antes testemunhámos tamanha quebra de confiança nas instituições
políticas e na ciência. Acomodamonos dentro das nossas bolhas, conversando apenas com aqueles que concordam conosco e que validam
as nossas opiniões preconcebidas. Seguimos apenas aqueles de quem gostamos e envolvemo-nos cada vez menos no contacto social e em
debates com quem discorda de nós. Perdemos a capacidade da visão periférica, do contra-ponto, sem que tenhamos tomado consciência
disso.
Essencialmente, estamos a fomentar o desenvolvimento de uma geração de pessoas de mente fechada, que raramente ouvem o outro, e
que são bombardeadas por desinformação que manipula a maneira como pensam e a maneira como agem. As perceções subjetivas
substituíram a observação objetiva. Os factos foram enterrados para dar lugar às emoções.
Como podemos combater isto? Eis a grande questão >>> Qual a sua opinião?
As escolas deveriam constituir o fórum indicado. Através da clarificação do modo de funcionamento das redes sociais a
escola pode chamar a atenção para o problema. A escola deveria também incentivar o desenvolvimento do pensamento
crítico. Infelizmente, nos últimos tempos, a tendência vigente é a de que discussões abertas e opiniões manifestas que possam pôr em
causa movimentos ditos “progressistas” podem rapidamente levar a que sejamos classificados como intolerantes, racistas, homofóbicos e
assim adiante. A maioria das pessoas permanece calada, nunca expressando as suas verdadeiras opiniões, com medo de não ter acesso às
universidades da sua escolha ou de poder perder o emprego.
Uma outra opção é a regulamentação. O Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (RGPD) foi um começo. Mas precisamos de ir
mais longe, regulamentando os dados comportamentais ou não permitindo a essas empresas que forneçam o acesso aos nossos dados a
terceiros sem um mandato judicial, por exemplo.
>>> Você conhece o regulamento sobre essa matéria no Uruguai?
Os pais também podem, e devem, educar os seus filhos e limitar o tempo que eles “gastam” nas redes sociais – uma outra
árdua batalha.
Poderemos forçar essas empresas a controlar, tanto quanto possível, os seus conteúdos, prevenindo certos conteúdos básicos como a
pornografia infantil e impedir que crianças tenham acesso a conteúdos violentos e pornográficos.
Não é clara a forma como esta autorregulação pode e deve ser feita. Por exemplo, recentemente o Twitter decidiu banir as mentiras de
Trump. Mas, mais uma vez, será esta a solução? Como liberal que sou, sintome um pouco incomodada ao constatar que os
conglomerados de redes sociais decidem o que pode e o que não pode ser visto nas suas próprias plataformas para alem de certos
conteúdos acima mencionados.
Alguns simplesmente não aderem às redes sociais. Admito que a Netflix é muito mais a minha praia e não perco tempo com as redes
sociais. Mas quando sinto que está a interferir com o meu tempo de leitura ou a manter-me acordada apenas para que possa assistir a
“mais um episódio …”, procuro manter o meu Ipad longe do quarto e mantenho uma coleção de livros sempre à mão. Porém, caminho
para os 50 anos… Não sou propriamente uma adolescente em idade escolar cuja vida social depende por completo das redes sociais.
É evidente que os níveis crescentes de ansiedade e de depressão, o aumento da polarização de opiniões, a desinformação, a solidão e a
alienação não podem ser atribuídos exclusivamente à indústria da tecnologia de informação. A vida nunca é assim tão uni-dimensional.
Mas o fato é que as redes sociais tem vindo a contribuir para estas questões de forma vital. Está na hora de percebermos isto e de
começarmos a pensar no que fazer para mitigar este problema.

ATIVIDADES. 1. Testando sua compreensão do texto

1. Podería você classificar o texto lido (descritivo, informativo, de opinião…? Adicione provas.

2. Quais as vantagens e desvantagens que você pode reconhecer depois da leitura?

3. Você sabe quem é Kofi Annan? Pesquise sobre ele e diga o que você acha das palavras dele que estão escritas entre aspas?

4. O que você nem sabía da informação fornecida no texto e chamou mais a sua atenção?

5. Você conhece as redes nomeadas no texto? Quais delas você mais usa no seu cotidiano?

6. Fale com seu/sua parceiro/a refletindo sobre a matéria apresentada no texto e se a utilização que vocês fazem
das redes sociais é certa.
Escrever pelo menos cinco linhas com base na conversa que tiveram.
7. Qual a sua interpretação no trecho: “Admito que a Netflix é muito mais a minha praia e não perco tempo
com as redes sociais.”

2. Acrescentando seu vocabulário

1 alienada Modelo, copia, medida ou representação simplificada de algo do mundo real.

2 padrão Ligar-se, pegar-se a alguna coisa ou idéia. Aquilo que você segue por convicção própria.

3 viciado Proibir que continue a convivência em um lugar ou sociedade. Abolir. 4 agir Tendência habitual

para certo mal. Quem tem essa tendência para cair nos defeitos.

5 banir Estado patológico de uma pessoa que tornou-se alheia a sí mesma e não é responsável pelo que faz

6 aderir Tomar providências, atuar ou fazer atividade de um determinado modo.

3. Um pouco de gramática
Preste para a estructura da forma verbal escrita na oração : “As redes sociais têm vindo a ser associadas a um aumento dos níveis
estimados de ansiedade e alienação”
Retire do texto aquelas orações onde você identifique essa estructura que chamamos ………………………..……..

4. Afinal, estamos na hora de treinar o ouvido. Vamos trabalhar com audiovisual…

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