Você está na página 1de 4

Público vs.

privado
nas sociedades das
redes socias
Reflexão filosófica

1. Introdução

1
Desde sempre foi difícil separar e definir a esfera pública e a privada.
Muitos filósof0s, tal como Aristóteles, tentaram resolver esta questão,
no entanto, esta permanece, até hoje, em aberto. Atualmente, este
problema tem vindo a agravar-se com o surgimento e o
desenvolvimento das redes socias, que têm diluído cada vez mais as
fronteiras entre o público e o privado e mascarado a realidade.

2. Desenvolvimento
As sociedades atuais são marcadas pelo excesso de informação e pela
facilidade com que esta se espalha e pode ser vista por milhões de pessoas
em frações de segundos. Devido a este excesso de informação, as pessoas
têm tendência em acreditar em tudo o que veem, sem verificar a sua
veracidade, ou seja, acreditam logo na primeira coisa que lhes chega aos
olhos.
Assim sendo, pode se dizer que as sociedades contemporâneas são
extremamente guiadas pela aparência, pelas primeiras impressões e pela
imagem.
No presente, nós já não precisamos de sair das nossas casas, nem
precisamos de perguntar diretamente a alguém o que se passou, por
exemplo, na festa da noite da passada, em que dois indivíduos discutiram e
acabaram por lutar. Isto porque recebemos, certamente, na manhã seguinte,
um vídeo no grupo do WhatsApp das nossas amigas, escrito em cima
“reencaminhado demasiadas vezes”, da situação que ocorreu. Este exemplo
serve para mostrar que, na atualidade, com as redes socias e os diversos
meios de comunicação, basta simplesmente ligar a televisão ou entrar no
nosso telemóvel, para ter acesso a um assunto de carácter privado. Se
conseguimos ter acesso tão facilmente à vida de alguém, apenas por
entrar no Instagram, por exemplo, e ver o que esta pessoa postou, o que
vestiu, o que comeu, por onde andou, ..., ter acesso a esta informação, que
teoricamente seria privada, faz desta pública ou nã0? Como é que
classificamos o que é público do que não é?

Na nossa perspetiva, consideramos que isto é algo difícil de definir, por um


lado, podemos pensar que a partir do momento em que alguma coisa é
partilhada a outra pessoa esta deixa de ser privada e passa a ser pública,
podendo estar ao alcance de qualquer um. No entanto, se olharmos de outro
ponto de vista, podemos perceber que o argumento acima não é cem por
cento coeso, uma vez que, por exemplo, uma foto publicada numa conta
privada, apenas para amigos, não foi publicada com a intenção de se tornar
pública para o mundo, mas sim, para ser vista por um grupo específico. Ao
contarmos uma informação pessoal ao nosso melhor amigo, ou seja, ao

2
desabafarmos com o mesmo, também não temos como objetivo espalhar
esta informação para ninguém, o suposto é esta permanecer privada e
inacessível.

Porém, nas sociedades do Facebook, Twitter, TikTok, ..., muitas vezes, os


utilizadores das redes sociais têm exatamente este objetivo, tornar a sua
vida privada pública. Todavia, se pararmos para pensar, nós apenas vemos
e temos acesso àquilo que estas pessoas querem que vejamos. Nas redes
socias, muito frequentemente, vemos publicações que não correspondem
exatamente à realidade vivida pela pessoa que as posta, por exemplo, a foto
em causa pode não pertencer à pessoa que a publica, pode ser uma foto
antiga, pode ser uma foto com filtros ou editada, etc. Isto leva-nos a crer,
muitas vezes, em situações que não são reais e a ser influenciados pelas
imagens que vemos e pelo que é aparente.

Deste forma, deparamo-nos com uma questão: O que nos leva a


publicar/partilhar a nossa vida privada?

No nosso entendimento, podem existir muitos motivos que nos levam a


fazer tal coisa, mas os principais e que consideramos que estão na base de
tudo são a visibilidade e a popularidade mediática. Quando nós postamos
algo, nós postamos porque vemos outra pessoa a fazê-lo e gostamos.
Postamos, porque queremos a mesma popularidade, a mesma atenção, o
mesmo destaque que os outros têm. Queremos mostrar, que tal como eles,
também temos a capacidade de fazer e de ter o que eles fazem e têm, de
mostrar que temos uma vida igualmente boa e invejável.
Por outro lado, podemos tornar algo público, mas com o intuito de chamar
à atenção de outra maneira, por exemplo, através da dramatização de uma
situação ou de maneira a fazer as pessoas sentirem pena, como acontece,
por exemplo, em reality shows, em que as pessoas muitas vezes forjam
situações, para que possam ganhar popularidade, possam aparecer e ser
vistas.

Tudo isto faz com que se crie uma realidade de fachada, uma vez que, é
esta realidade de fachada que cativa o interesse das pessoas, é este
simulacro da vida que cativa o público. No entanto, é esta também que nos
incapacita de distinguir as coisas que são importantes das que não são, de
perceber o que é verdadeiro do que não é e de nos aceitarmos como somos
e aceitar o que vivemos.

Mas será que tudo aquilo que tornamos público tem este fim?

3
Não, nem sempre tudo o que mostramos tem o intuito de ter repercussão. A
nosso ver, muitas vezes partilhamos aspetos da nossa vida privada, como as
nossas dores e os problemas que enfrentamos, como forma de desabafar e
de mostrar aos outros que não estão sozinhos e que há pessoas que, tal
como elas, compreendem e partilham deste sofrimento. Várias vezes, isto
pode servir como forma de pedir ou até oferecer apoio, o que tem aspetos
bastante positivos, pois pode ajudar muitas pessoas.

3. Conclusão
Em suma, podemos concluir que esta facilidade de acesso a qualquer tipo
de informação dificulta a compreensão do que é privado ou público e do
que se deveria manter privado ou não.
Posto isto, estabelecer o que é publico ou não, não é tão simples como
parece, podendo ser, de certo modo, relativo, dependendo da situação, tal
como vimos anteriormente.
Além disso, compreendemos também que nunca iremos conhecer
realmente a vida privada de alguém, uma vez que, apesar de, com as redes
sociais, as nossas vidas estarem cada vez mais expostas, nós apenas
publicamos o que queremos que seja visto.
Constatamos também que muitos assuntos públicos, que deveriam ter
maior destaque, encontram-se perdidos no meio de tanta informação
mediática.
Desta forma, concluímos assim que a esfera pública e a privada têm se
difundido cada vez mais, o que tem levado a muitos problemas atuais da
sociedade.

Você também pode gostar