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MERITÍSSIMO JUÍZO DA VARA FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE

${cliente_nomecompleto}, já cadastrado eletronicamente, vem, com o


devido respeito, perante Vossa Excelência, por meio de seus procuradores,
dizer e requerer o que segue:

Diante das fichas de entrega de EPI’s anexadas aos autos, vem a parte Autora manifestar
que os registros evidenciam que os equipamentos não foram fornecidos de forma continua e
suficiente de modo a propiciar qualquer discussão sobre uma suposta eficácia destes em elidir o
risco inerente a exposição à eletricidade.

Não obstante, frisa-se que o Tribunal Regional Federal da 4ª Região julgou o IRDR nº
5054341-77.2016.4.04.0000/SC (tema n. 15). É de extrema importância referir que o
Desembargador Federal Jorge Antônio Maurique asseverou em seu voto, confirmado por
maior ia, que existem situações em que a ineficácia dos EPI’s é PRESUMIDA,
dispensando qualquer diligência nesse sentido, quais sejam: exposição ao ruído, agentes
biológicos, agentes reconhecidamente cancerígenos e periculosidade (eletricidade).

O voto é extremamente claro quanto ao ponto, sendo oportuna a citação do seguinte


trecho (grifos acrescidos):

[...] Cumpre ainda observar que existem situações que dispensam a produção da eficácia da prova
do EPI, pois mesmo que o PPP indique a adoção de EPI eficaz, essa informação deverá ser
desconsiderada e o tempo considerado como especial (independentemente da produção da
prova da falta de eficácia) nas seguintes hipóteses:
a) Períodos anteriores a 3 de dezembro de 1998:
Pela ausência de exigência de controle de fornecimento e uso de EPI em período anterior a essa
data, conforme se observa da IN INSS 77/2015 -Art. 279, § 6º:
'§ 6º Somente será considerada a adoção de Equipamento de Proteção Individual - EPI em
demonstrações ambientais emitidas a partir de 3 de dezembro de 1998, data da publicação da MP
nº 1.729, de 2 de dezembro de 1998, convertida na Lei nº 9.732, de 11 de dezembro de 1998, e
desde que comprovadamente elimine ou neutralize a nocividade e seja respeitado o disposto na
NR-06 do MTE, havendo ainda necessidade de que seja assegurada e devidamente registrada pela
empresa, no PPP, a observância: (...)'
b) Pela reconhecida ineficácia do EPI:
b.1) Enquadramento por categoria profissional: devido a presunção da nocividade (ex. TRF/4
5004577-85.2014.4.04.7116/RS, 6ª Turma, Rel. Des. Fed. João Batista Pinto Silveira, em
13/09/2017)
b.2) Ruído: Repercussão Geral 555 (ARE 664335 / SC)
b.3) Agentes Biológicos: Item 3.1.5 do Manual da Aposentadoria Especial editado pelo INSS, 2017.
b.4) Agentes nocivos reconhecidamente cancerígenos: Memorando-Circular Conjunto n°
2/DIRSAT/DIRBEN/INSS/2015:
Exemplos: Asbesto (amianto): Item 1.9.5 do Manual da Aposentadoria Especial editado pelo INSS,
2017; Benzeno: Item 1.9.3 do Manual da Aposentadoria Especial editado pelo INSS, 2017.
b.5) Periculosidade: Tratando-se de periculosidade, tal qual a eletricidade e vigilante, não se
cogita de afastamento da especialidade pelo uso de EPI. (ex. APELAÇÃO/REMESSA NECESSÁRIA Nº
5004281-23.2014.4.04.7000/PR, Rel. Ézio Teixeira, 19/04/2017 )

Por fim, resta esclarecer, quanto a esse aspecto, que nos casos de empresas inativas e
não sendo obtido os registros de fornecimento de EPI, as partes poderão utilizar-se de prova
emprestada ou por similaridade (de outros processos, inclusive de reclamatórias trabalhistas) e
de oitiva de testemunhas que trabalharam nas mesmas empresas em períodos similares para
demonstrar a ausência de fornecimento de EPI ou uso inadequado.
Vale conferir, ainda, o seguinte trecho da ementa:

PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS.


EPI. NEUTRALIZAÇÃO DOS AGENTES NOCIVOS. PROVA. PPP. PERÍCIA.
O fato de serem preenchidos os específicos campos do PPP com a resposta 'S' (sim) não é, por si
só, condição suficiente para se reputar que houve uso de EPI eficaz e afastar a aposentadoria
especial.
[...]
Não se pode olvidar que determinada situações fáticas, nos termos do voto, dispensam a
realização de perícia, porque presumida a ineficácia dos EPI´s.

Posteriormente ao julgamento do IRDR nº 15, que possui eficácia vinculante consoante


disposição do art. 927 do CPC/2015, a jurisprudência do Tribunal Regional Federal da 4ª Região
passou a proferir decisões no mesmo sentido:

EMENTA: PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. REMESSA OFICIAL. SENTENÇA ANTERIOR AO CPC


DE 2015. CABIMENTO. APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO - CONCESSÃO. AGENTE
NOCIVO. ELETRICIDADE. COMPROVAÇÃO - REQUISITOS LEGAIS. CONSECTÁRIOS LEGAIS DA
CONDENAÇÃO. RE Nº 870.947/SE. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. EFEITO SUSPENSIVO.
INDEFINIÇÃO. DIFERIMENTO PARA A FASE DE CUMPRIMENTO. CONSECTÁRIOS DA SUCUMBÊNCIA.
MAJORAÇÃO. AFASTADA. IMPLANTAÇÃO IMEDIATA.
[...]
O uso de EPI eficaz, apto a afastar a especialidade do tempo, somente pode ser aplicado a partir
de 2-6-1998, tendo em conta que no período anterior vigente a orientação contida na Ordem de
Serviço do INSS/DSS nº 564/97, cujo item 12.2.5. estabelecia que o uso do Equipamento de
Proteção Individual - EPI não descaracteriza o enquadramento da atividade sujeita a agentes
agressivos à saúde ou à integridade física. 5. Nos termos do IRDR (Tema 15), esta Corte fixou o
entendimento de que: a) quando o LTCAT e o PPP informam não ser eficaz o EPI, há a
especialidade do período de atividade; b) quando a empresa informa no PPP a existência de EPI e
sua eficácia, obrigatoriamente deverá ser oficiado ao empregador para fornecimento dos registros
sobre o fornecimento do EPI e, apresentada a prova, deverá ser determinada a realização de
prova pericial; e c) a utilização de EPI não afasta a especialidade do labor, pois é presumida a sua
ineficácia: i) em períodos anteriores a 3-12-1998; ii) quando há enquadramento da categoria
profissional; iii) em relação aos seguintes agentes nocivos: ruído, agentes biológicos, agentes
cancerígenos (como asbestos e benzeno), agentes periculosos (como eletricidade), calor,
radiações ionizantes e trabalhos sob condições hiperbáricas, trabalhos sob ar comprimido. 6. Em
se tratando de eletricidade (atividade periculosa), o risco potencial de acidente é inerente à própria
atividade desempenhada. 7. Ainda que os Decretos nºs 2.172/1997 e 3.048/1999 não tenham
mais previsto expressamente a condição de risco/perigo, inexiste impedimento para o
reconhecimento da especialidade, em face de atividade exercida com exposição acima de 250
volts após 5-3-1997 (fundamento na Súmula nº 198 do extinto Tribunal Federal de Recursos e na
Lei nº 7.369/1985, regulamentada pelo Decreto nº 93.412/1996). 8. Incidência do Tema STJ n.º 534:
As normas regulamentadoras que estabelecem os casos de agentes e atividades nocivos à saúde
do trabalhador são exemplificativas, podendo ser tido como distinto o labor que a técnica médica e
a legislação correlata considerarem como prejudiciais ao obreiro, desde que o trabalho seja
permanente, não ocasional, nem intermitente, em condições especiais (art. 57, § 3º, da Lei
8.213/1991).
[...]
(TRF4 5005116-18.2013.4.04.7009, TURMA REGIONAL SUPLEMENTAR DO PR, Relator LUIZ ANTONIO
BONAT, juntado aos autos em 06/02/2019). Grifos acrescidos.

No mesmo sentido, o TRF3:


APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PREVIDENCIÁRIO. TRABALHO EM CONDIÇÕES ESPECIAIS.
APOSENTADORIA ESPECIAL. PERFIL PROFISSIOGRÁFICO PREVIDENCIÁRIO – PPP. ELETRICIDADE. EPI.
HABITUALIDADE. TERMO INICIAL. AUXÍLIO DOENÇA. JUROS DE MORA E CORREÇÃO MONETÁRIA.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
- Até o advento da Lei 9.032/95, de 28.04.1995, admitia-se o reconhecimento da nocividade do
labor em razão da profissão exercida, enquadradas nos decretos de regência ou por similaridade
das atividades. Após 29.04.1995, somente pode ser reconhecida a especialidade desde que
comprovada a exposição a tensões elétricas superiores a 250 volts.Ressalte-se que, comprovado
que o autor esteve exposto a agente nocivo acima do limite de tolerância, deve-se concluir que tal
exposição era, nos termos do artigo 65, do RPS - Regulamento da Previdência Social, habitual, não
ocasional nem intermitente e indissociável da produção do bem ou da prestação do serviço. Afinal,
não se pode exigir menção expressa, no formulário, a habitualidade e permanência de exposição
ao agente nocivo, já que no modelo de PPP concebido pelo INSS não existe campo específico para
tanto.
- Vale ressaltar, também, que no caso do agente nocivo eletricidade, a jurisprudência definiu que é
indiferente se a exposição do trabalhador ocorre de forma permanente ou intermitente para
caracterização da especialidade do labor, dado o seu grau de periculosidade. (Precedente desta E.
Turma: AC nº 0013286-86.2009.4.03.6183, 7ª Turma, Desembargador Federal Relator Toru
Yamamoto, DE 20/02/2018). Destarte, existindo prova da efetiva exposição do segurado a tensão
elétrica superior a 250 volts, de rigor a caracterização da especialidade do labor (AC nº 0015487-
51.2009.4.03.6183, 7ª Turma, Relator Desembargador Federal Toru Yamamoto, DE 22/03/2018 e
AC nº 0048862-75.2008.4.03.9999, 7ª Turma, Relator Desembargador Federal Carlos Delgado, DE
20/03/2018)
- Em relação ao período de06/08/91 a 28/04/95, o PPP (ID Num. 149652402 - Pág. 50), expedido
peloMunicípio de São José dos Campos, registra que o autor ocupou o cargo de eletricista,
entretanto, não houve registro acerca do fator de risco a que esteve exposto, bem como a
intensidade. Logo, no período em questão, não havendo a comprovação da exposição ao agente
físico eletricidade acima de 250 volts, não resta configurada a especialidade do trabalho
realizados, devendo ser enqudrado como labor especial.
- Em relação ao períodode19/05/97 a 23/05/19, o PPP (ID Num. 149652402 - Pág. 64), expedido
pela EDP – São Paulo Distribuição de Energia S.A, registra que o autor, enquanto laborava na
empresa, esteve exposto ao agente nocivo eletricidade em intensidade acima de 250 volts.
- Analisando-se, então, o perfil profissiográfico, observa-se que, além da exposição a tensões
elétricas acima de 250 volts, as atividades exercidas pelo autor durante o trabalho exercido nesta
empresa o expõem, por si só, a riscos inerentes ao contato com eletricidade. Sendo assim, o
referido PPP comprova a exposição do autor ao agente nocivo eletricidade acima dos limites de
tolerância. Por essa razão, a sentença merece ser mantida.
- Ressalto, ainda, que não há que se falar em não reconhecimento da especialidade do período por
ausência de habitualidade e permanência a exposição do agente nocivo.
- Friso, por oportuno, que a menção constante no PPP quanto à eficácia do EPI não é
suficiente para afastar a especialidade decorrente da exposição à eletricidade, pois,
conforme entendimento desta C. Turma, "nos casos em que resta comprovado o
exercício de atividades com alta eletricidade (tensão acima de 250 volts), a sua
natureza já revela, por si só, que mesmo na utilização de equipamentos de proteção
individual, tido por eficazes, não é possível afastar o trabalho em condições
especiais, tendo em vista a periculosidade a que fica exposto o profissional". (TRF
3ª Região, 7ª Turma, ApCiv - APELAÇÃO CÍVEL - 0007343-47.2013.4.03.6119, Rel.
Desembargador Federal CARLOS EDUARDO DELGADO, julgado em 29/04/2020, e -
DJF3 Judicial 1 DATA: 04/05/2020). - A par disso, a apelação do INSS não deve ser acolhida,
uma vez que o PPP, regularmente preenchido, revela que o impetrante, no período sub judice,
ficava exposto à tensão elétrica acima de 250 volts, e, no caso do agente nocivo eletricidade, a
jurisprudência definiu que é indiferente se a exposição do trabalhador ocorre de forma permanente
ou intermitente para caracterização da especialidade do labor, dado o seu grau de periculosidade.
- Analisando os autos, constata-se, portanto deve ser afastado como atividade especial o intervalo
de 06/08/91 a 18/12/92.
- A inteligência do artigo 57, §8° c.c o artigo 46, ambos da Lei 8.231/91, revela que o segurado que
estiver recebendo aposentadoria especial terá tal benefício cancelado se retornar voluntariamente
ao exercício da atividade especial. Logo, só há que se falar em cancelamento do benefício e,
consequentemente, em incompatibilidade entre o recebimento deste e a continuidade do exercício
da atividade especial se houver (i) a concessão do benefício e, posteriormente, (ii) o retorno ao
labor especial.
(TRF 3ª Região, 7ª Turma, ApCiv - APELAÇÃO CÍVEL - 5003398-68.2020.4.03.6103, Rel.
Desembargador Federal INES VIRGINIA PRADO SOARES, julgado em 22/02/2022, Intimação via
sistema DATA: 04/03/2022)

ISSO POSTO, requer o Autor o prosseguimento do feito e, caso Vossa Excelência


entenda necessário, a produção de prova pericial, já requerida – de forma subsidiária – na
petição inicial.

Nesses Termos Pede Deferimento.

, 11 de setembro de 2023.
Luciano Saturnino da Mota
OAB/PA 24.479

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