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ILUSTRÍSSIMOS SENHORES CONSELHEIROS DAS CAMARAS DE

JULGAMENTO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.

Ref. Benefício n.º 42/193.766.018-1


Recorrente: ELIA DE LURDES ROSA

ELIA DE LURDES ROSA, já qualificado nos autos, por seu procurador que esta subscreve,
conforme procuração anexa ao processo, inconformado com a decisão fls. do Órgão
Competente do Instituto Nacional de Seguro Social, que negou o pedido de aposentadoria no
pedido de aposentadoria por tempo de contribuição, vem respeitosamente, com amparo no
artigo 305 e parágrafos, do Decreto 3.048/99, interpor RECURSO, expondo, para tanto, as
seguintes razões:

PRELIMINARMETE

Requer a possibilidade de reafirmação de DER, para quando o segurado


atingiu o tempo para a concessão da aposentadoria, nos termos da Instrução Normativa 77, que
dispõe sobre a administração de informações dos segurados e reconhecimento, a manutenção e
a revisão de direitos e beneficiários a Previdência Social e disciplina o processo administrativo
previdenciário no âmbito do Instituto Nacional do Seguro Social – INSS:

“Art. 690. Se durante a análise do requerimento for verificado que o


segurado não satisfazia os requisitos para o reconhecimento do direito,
mas que os implementou em momento posterior, deverá o servidor
informar ao interessado sobre a possibilidade de reafirmação da DER,
exigindo-se para sua efetivação a expressa concordância por escrito.
Parágrafo único. O disposto no caput aplica-se a todas as situações que
resultem em benefício mais vantajoso ao interessado”
I - BREVE RESUMO DOS FATOS

O autor, apresentou formulou seu pedido de aposentadoria por tempo de


contribuição, na data de 07/06/2019, apresentou toda a documentação pertinente para a
concessão do benefício, como as Carteiras de Trabalho e os PPP das empresas em que laborou
em condições especiais, assim após análise o pedido fora indeferido por não possuir o tempo
mínimo necessário na data do requerimento, tendo sido apurado um tempo de 28 anos, e 12 dias
até a DER.
Ocorre que há períodos que o INSS deveria ter efetuado enquadramento e não
o fez, deste modo, necessária tal procedimento, para reconhecimento das atividades não
convertidas como especiais.

II – DOS DIREITOS

O § 1º do art. 201 da Constituição Federal determina a contagem


diferenciada dos períodos em que os segurados desenvolveram atividades especiais. Por
conseguinte, a Lei 8.213/91, regulamentando a previsão constitucional, estabeleceu a
necessidade do desempenho de atividades nocivas durante 15, 20 ou 25 anos para a concessão
da aposentadoria especial, dependendo da profissão e /ou agentes nocivos, conforme previsto
no art. 57 do referido diploma legal.
É importante destacar que a comprovação da atividade especial até 28
de abril de 1995 era feita com o enquadramento por atividade profissional (situação em que
havia presunção de submissão a agentes nocivos) ou por agente nocivo, cuja comprovação
demandava preenchimento pela empresa de formulários SB40 ou DSS-8030, indicando o
agente nocivo sob o qual o segurado esteve submetido. Todavia, com a nova redação do art. 57
da Lei 8.213/91, dada pela Lei 9.032/95, passou a ser necessária a comprovação real da
exposição aos agentes nocivos, sendo indispensável a apresentação de formulários,
independentemente do tipo de agente especial.
Além disso, a partir do Decreto nº 2.172/97, que regulamentou as
disposições introduzidas no art. 58 da Lei de Benefícios pela Medida Provisória nº 1.523/96
(convertida na Lei nº 9.528/97), passou-se a exigir a apresentação de formulário-padrão,

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embasado em laudo técnico, ou perícia técnica. Entretanto, para o ruído e o calor, sempre foi
necessária a comprovação através de laudo pericial.
No entanto, os segurados que desempenharam atividade considerada
especial podem comprovar tal aspecto observando a legislação vigente à data do labor
desenvolvido.

DA UTILIZAÇÃO DE EPI’S – INEFICÁCIA PRESUMIDA

Recentemente, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região julgou o IRDR


nº 5054341-77.2016.4.04.0000/SC (tema n. 15). Com efeito, foi firmada a seguinte tese: “a
mera juntada do PPP referindo a eficácia do EPI não elide o direito do interessado em
produzir prova em sentido contrário”.
É de extrema importância referir que o Desembargador Federal Jorge
Antônio Maurique asseverou em seu voto, confirmado por maioria, que existem situações em
que a ineficácia dos EPI’s é PRESUMIDA, dispensando qualquer diligência nesse sentido,
quais sejam: exposição ao ruído, agentes biológicos, agentes reconhecidamente cancerígenos e
periculosidade.
O voto é extremamente claro quanto ao ponto, sendo oportuna a citação
do seguinte trecho (grifos acrescidos):

[...] Cumpre ainda observar que existem situações que dispensam a


produção da eficácia da prova do EPI, pois mesmo que o PPP indique
a adoção de EPI eficaz, essa informação deverá ser desconsiderada e o
tempo considerado como especial (independentemente da produção da
prova da falta de eficácia) nas seguintes hipóteses:
a) Períodos anteriores a 3 de dezembro de 1998:
Pela ausência de exigência de controle de fornecimento e uso de EPI
em período anterior a essa data, conforme se observa da IN INSS
77/2015 -Art. 279, § 6º:
'§ 6º Somente será considerada a adoção de Equipamento de Proteção
Individual - EPI em demonstrações ambientais emitidas a partir de 3 de
dezembro de 1998, data da publicação da MP nº 1.729, de 2 de
dezembro de 1998, convertida na Lei nº 9.732, de 11 de dezembro de

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1998, e desde que comprovadamente elimine ou neutralize a nocividade
e seja respeitado o disposto na NR-06 do MTE, havendo ainda
necessidade de que seja assegurada e devidamente registrada pela
empresa, no PPP, a observância: (...)'
b) Pela reconhecida ineficácia do EPI:
b.1) Enquadramento por categoria profissional: devido a presunção da
nocividade (ex. TRF/4 5004577-85.2014.4.04.7116/RS, 6ª Turma, Rel.
Des. Fed. João Batista Pinto Silveira, em 13/09/2017)
b.2) Ruído: Repercussão Geral 555 (ARE 664335 / SC)
b.3) Agentes Biológicos: Item 3.1.5 do Manual da Aposentadoria
Especial editado pelo INSS, 2017.
b.4) Agentes nocivos reconhecidamente cancerígenos: Memorando-
Circular Conjunto n° 2/DIRSAT/DIRBEN/INSS/2015:
Exemplos: Asbesto (amianto): Item 1.9.5 do Manual da Aposentadoria
Especial editado pelo INSS, 2017; Benzeno: Item 1.9.3 do Manual da
Aposentadoria Especial editado pelo INSS, 2017.
b.5) Periculosidade: Tratando-se de periculosidade, tal qual a
eletricidade e vigilante, não se cogita de afastamento da especialidade
pelo uso de EPI. (ex. APELAÇÃO/REMESSA NECESSÁRIA Nº
5004281-23.2014.4.04.7000/PR, Rel. Ézio Teixeira, 19/04/2017 )

Por fim, resta esclarecer, quanto a esse aspecto, que nos casos de
empresas inativas e não sendo obtido os registros de fornecimento de EPI, as partes poderão
utilizar-se de prova emprestada ou por similaridade (de outros processos, inclusive de
reclamatórias trabalhistas) e de oitiva de testemunhas que trabalharam nas mesmas empresas
em períodos similares para demonstrar a ausência de fornecimento de EPI ou uso inadequado.

O acórdão do IRDR restou assim ementado:

PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. INCIDENTE DE


RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS. EPI.
NEUTRALIZAÇÃO DOS AGENTES NOCIVOS. PROVA. PPP.
PERÍCIA.

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O fato de serem preenchidos os específicos campos do PPP com a
resposta 'S' (sim) não é, por si só, condição suficiente para se reputar
que houve uso de EPI eficaz e afastar a aposentadoria especial.
Deve ser propiciado ao segurado a possibilidade de discutir o
afastamento da especialidade por conta do uso do EPI, como garantia
do direito constitucional à participação do contraditório.
Quando o LTCAT e o PPP informam não ser eficaz o EPI, não há mais
discussão, isso é, há a especialidade do período de atividade.
No entanto, quando a situação é inversa, ou seja, a empresa informa no
PPP a existência de EPI e sua eficácia, deve se possibilitar que tanto a
empresa quanto o segurado, possam questionar - no movimento
probatório processual - a prova técnica da eficácia do EPI.
O segurado pode realizar o questionamento probatório para afastar a
especialidade da eficácia do EPI de diferentes formas: A primeira (e
mais difícil via) é a juntada de uma perícia (laudo) particular que
demonstre a falta de prova técnica da eficácia do EPI - estudo técnico-
científico considerado razoável acerca da existência de dúvida
científica sobre a comprovação empírica da proteção material do
equipamento de segurança. Outra possibilidade é a juntada de uma
prova judicial emprestada, por exemplo, de processo trabalhista onde
tal ponto foi questionado.
Entende-se que essas duas primeiras vias sejam difíceis para o
segurado, pois sobre ele está todo o ônus de apresentar um estudo
técnico razoável que aponte a dúvida científica sobre a comprovação
empírica da eficácia do EPI.
Uma terceira possibilidade será a prova judicial solicitada pelo
segurado (após analisar o LTCAT e o PPP apresentados pela empresa
ou INSS) e determinada pelo juiz com o objetivo de requisitar elementos
probatórios à empresa que comprovem a eficácia do EPI e a efetiva
entrega ao segurado.
O juízo, se entender necessário, poderá determinar a realização de
perícia judicial, a fim de demonstrar a existência de estudo técnico
prévio ou contemporâneo encomendado pela empresa ou pelo INSS

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acerca da inexistência razoável de dúvida científica sobre a eficácia do
EPI. Também poderá se socorrer de eventuais perícias existentes nas
bases de dados da Justiça Federal e Justiça do Trabalho.
Não se pode olvidar que determinada situações fáticas, nos termos do
voto, dispensam a realização de perícia, porque presumida a
ineficácia dos EPI´s.

Além disso, impende frisar que o Supremo Tribunal Federal, no


julgamento do ARE 664.335/SC, em 04/12/2014, fixou entendimento de que "em caso de
divergência ou dúvida sobre a real eficácia do Equipamento de Proteção Individual, a
premissa a nortear a Administração e o Judiciário é pelo reconhecimento do direito ao
benefício da aposentadoria especial. Isto porque o uso de EPI, no caso concreto, pode não se
afigurar suficiente para descaracterizar completamente a relação nociva a que o empregado se
submete".
Dessa forma, resta demonstrado que não há proteção eficaz para a
exposição a agentes biológicos, não havendo, portanto, que se falar em descaracterização da
especialidade pela eventual utilização de EPI’s.

DA COMPROVAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AOS AGENTES NOCIVOS – CASO


CONCRETO

Considerando a evolução a respeito do conjunto probatório para fins de


reconhecimento das atividades especiais, passa-se à análise da comprovação dos agentes
nocivos presentes no período contributivo requerido no presente petitório.
1) Período: 21/03/1989 à 15/12/1989
Empregador: Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São
Paulo.
Cargo: Auxiliar de enfermagem

Para o período em questão, a requerente laborou em hospital, na função


de auxiliar de enfermagem, cabível enquadramento por simples categoria profissional. Quanto
aos meios de comprovação, não conseguiu a emissão de Dirben ou PPP para o período, haja
vista a instituição não mais existir. Para o meio de comprovação, apresenta a anotação em

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carteira de trabalho, haja vista, as informações constantes da CTPS serem válidas, e o período
em questão ser passível o enquadramento por simples categoria profissional.
Destarte, comprovada a exposição a agentes biológicos, advinda do
trabalho em estabelecimento de saúde em contato com pacientes portadores de diversas doenças
infectocontagiosas, imperioso o reconhecimento da índole especial da atividade, conforme
disposição da regulamentação - Decreto 53.831/64, item 1.3.2, Decreto 2.172/97, item 3.0.1 e
Decreto 3.048/99, item 3.0.1.

2) Período: 02/07/2007 à 25/03/2012


Empregador: Hospital PUC-CAMPINAS
Cargo: Fisioterapeuta

No que se refere à comprovação da especialidade do período em


questão, registra-se que a Autora teve o referido vínculo empregatício devidamente anotado em
sua CTPS, de forma que consta que desempenhou a profissão de fisioterapeuta. No mesmo
sentido são as informações constantes no formulário PPP anexo.
Quanto ao PPP, importante destacar a descrição das atividades laborais
presente no documento:
Receber e transmitir os plantões de forma a atender as necessidades
dos pacientes; avaliar o estado clínico dos pacientes; prestar atendimento fisioterápico
respiratório, neurológico em todos os setores da instituição hospitalar, com especial atenção
ao risco de contaminação, por contato; entre outras;
Percebe-se, portanto, que a Autora laborava em ambiente hospitalar,
realizando atendimento a pacientes. Na secção de registros ambientais, o formulário informa a
exposição a microrganismos e parasitas infecciosos vivos e suas toxinas.
Destarte, comprovada a exposição a agentes biológicos, advinda do
trabalho em estabelecimento de saúde em contato com pacientes portadores de diversas doenças
infectocontagiosas, imperioso o reconhecimento da índole especial da atividade, conforme
disposição da regulamentação - Decreto 53.831/64, item 1.3.2, Decreto 2.172/97, item 3.0.1 e
Decreto 3.048/99, item 3.0.1.

3) Período: 15/04/2014 à 31/01/2019

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Empregador: Sociedade Beneficente Santa Maria Madalena Postel
Cargo: Fisioterapeuta

No que se refere à comprovação da especialidade do período em


questão, registra-se que a Autora teve o referido vínculo empregatício devidamente anotado em
sua CTPS, de forma que consta que desempenhou a profissão de fisioterapeuta. No mesmo
sentido são as informações constantes no formulário PPP anexo.
Quanto ao PPP, importante destacar a descrição das atividades laborais
presente no documento:
Aplicam técnicas de fisioterapia em pacientes, readaptação e
recuperação dos pacientes, avaliam condições funcionais dos pacientes;
Percebe-se, portanto, que a Autora laborava realizando atendimento a
pacientes, que muitas vezes podem estar vinculados a exposição a doenças, vírus, bacterias. Na
secção de registros ambientais, o formulário informa a exposição a microrganismos e parasitas
infecciosos vivos e suas toxinas.
Destarte, comprovada a exposição a agentes biológicos, advinda do
trabalho em estabelecimento de saúde em contato com pacientes portadores de diversas doenças
infectocontagiosas, imperioso o reconhecimento da índole especial da atividade, conforme
disposição da regulamentação - Decreto 53.831/64, item 1.3.2, Decreto 2.172/97, item 3.0.1 e
Decreto 3.048/99, item 3.0.1.

Por fim, é oportuno mencionar que, conforme se depreende da leitura da


profissiografia, a insalubridade é inerente ao tipo de atividade exercida, bem como ao
ambiente de trabalho (hospitalar). Ou seja, a exposição aos agentes biológicos é
indissociável da prestação do serviço e, deste modo, em perfeita consonância com o conceito de
permanência previsto no art. 65 do Decreto 3.048/99, in verbis:

Art. 65. Considera-se tempo de trabalho permanente aquele que é


exercido de forma não ocasional nem intermitente, no qual a exposição
do empregado, do trabalhador avulso ou do cooperado ao agente
nocivo seja indissociável da produção do bem ou da prestação do
serviço.

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Pelo exposto, resta demonstrado que a profissão de fisioterapeuta expôs
a Autora a agentes biológicos, de modo que o período em análise deve ser enquadrado como
especial, sendo concedido o benefício de aposentadoria por tempo de contribuição em favor da
parte autora.

DAS CONTRIBUIÇÕES INDIVIDUAIS NÃO COMPUTADAS

Extrai-se da contagem de tempo apurada pelo INSS, que algumas


competências que foram devidamente recolhidas através do pagamento do carnê de
contribuição, na condição de contribuinte individual, não constam no CNIS, porém a parte
autora, enquanto contribuinte, nunca deixou de recolher um mês se quer, nem há marcas de ter
recolhido abaixo do valor devido, deste modo, deve para tanto, serem computadas, e averbadas,
as seguintes contribuições, ao CNIS da autora:
04/1991; 01/1993 à 04/1993; 04/2002; 06/2002; 05/2004; 05/2006 e
04/2007. Que totalizam 10 meses de contribuições que foram devidamente recolhidas e não
estão sendo computadas, causando um grande déficit para a segurada, quanto a tempo de
contribuição;
Para tal comprovação, apresenta as contribuições devidamente
preenchidas, e devidamente recolhidas, conforme autenticação bancária de pagamento. (doc.
Anexo)
III – DOS PEDIDOS

Deste modo, requer:

1. Reconhecer o tempo de serviço especial desenvolvido durante os períodos de


21/03/1989 à 15/12/1989; 02/07/2007 à 25/03/2012 e de 15/09/2014 à
31/01/2019;
2. Averbar e computar as competências devidamente recolhidas na qualidade de
contribuinte individual, para os meses de: 04/1991; 01/1993 à 04/1993; 04/2002;
06/2002; 05/2004; 05/2006 e 04/2007;

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Ainda, por se tratar de direitos e garantias do próprio recorrente, em
conformidade com a lei vigente a época, subsidiariamente, se necessária a reafirmação da DER,
tendo em vista o segurado continuar vertendo contribuições à previdência, ensejando direito a
concessão do benefício de aposentadoria por tempo de contribuição.

Termos em que
Pede Deferimento

Leme (SP), 04 de maio de 2021.

MATHEUS FIGUEIREDO DE SOUZA


CPF/MF: 429.010.778-89

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