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Unidade 02

Metodologia para
Elaboração de Perícia
Trabalhista

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Esta unidade é dedicada à Metodologia para Ela-
boração de Perícia Trabalhista. Considerando que a pe-
rícia fornece ao Juiz dados que lhe permitam decidir a
respeito de uma dada situação, cabe ao Perito apresen-
tar-lhe as informações solicitadas.
No intuito de auxiliá-lo a desenvolver mais uma
das possíveis atribuições do profissional de Segurança
do trabalho, vamos abordar apenas a metodologia para
perícia, sem nos estendermos no conhecimento técni-
co necessário para produção do laudo pericial e outras
avaliações relacionadas.

Conteúdos da Unidade
A unidade vai apresentar a metodologia para ela-
boração de perícia trabalhista e, apresentando os con-
ceitos de insalubridade e periculosidade, torná-los mais
sólidos para serem considerados na elaboração do lau-
do pericial.
Verifique as etapas para o desenvolvimento de
Laudo Pericial para Ações de Cobrança de Adicional de
Insalubridade e de Periculosidade e para Ação Indeni-
zatória por Acidente de Trabalho.

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2.1 Insalubridade e Periculosidade

A legislação brasileira, mais especificamente a pre-


videnciária e a trabalhista, garante aos trabalhadores di-
reitos relacionados com a sua atividade profissional. Es-
tes direitos podem ser adquiridos durante e após a sua
vida laboral em forma de aposentadoria por tempo de
contribuição, formação de pecúlio pelo recolhimento
compulsório do FGTS – Fundo de Garantia por Tem-
po de Serviço, Auxilio Acidente, Auxílio doença por
afastamento por acidente do trabalho, Auxilio reclusão
e, em casos extremos, Auxilio Invalidez.
As atividades de trabalho podem ser reconhecidas
como insalubres, de nocividade ou de periculosidade.
A insalubridade é estabelecida de acordo com a
NR15 Atividades e Operações Insalubres da Portaria
n. 3.214/78 do Ministério do Trabalho e Emprego
para as seguintes atividades relacionadas em seus ane-
xos, a saber:
• Atividades que são desenvolvidas acima dos li-
mites de tolerância previstos nos Anexos n. 1, 2, 3, 5,
11 e 12:
○ Anexo 1 – Limite de Tolerância para ruído con-
tínuo ou intermitente;
○ Anexo 2 – Limite de Tolerância para ruído de
impacto;
○ Anexo 3 – Limite de Tolerância para exposição
ao calor;
○ Anexo 5 – Radiações Ionizantes;
○ Anexo 11 – Agentes Químicos cuja insalubrida-

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de é caracterizada por LT e inspeção no local de
trabalho;
○ Anexo 12 – Limites de Tolerância para poeiras
minerais;

• Atividades relacionadas nos Anexos n. 6, 13 e 14:


○ Anexo 6 – Trabalho em condições hiperbáricas;
○ Anexo 13 – Agentes Químicos;
○ Anexo 13A – Exposição ao Benzeno;
○ Anexo 14 – Agentes Biológicos.

• Atividades comprovadas através de Laudo de


Inspeção do local do trabalho que integram os Anexos
n. 7, 8, 9 e 10.
○ Anexo 7 – Radiações Não Ionizantes;
○ Anexo 8 – Vibrações;
○ Anexo 9 – Frio;
○ Anexo 10 – Umidade;

De acordo com a NR15, Limite de Tolerância é


definido como a concentração ou intensidade máxima
ou mínima que relaciona-se à natureza e ao tempo de
exposição a um ou mais agentes sem causar dano para a
saúde do trabalhador, durante sua vida laboral.
Assim, a atividade insalubre caracteriza-se como
aquela na qual há a exposição do trabalhador aos agen-
tes físicos, químicos e biológicos. Em conformidade
com a NR15, a exposição aos agentes insalubres asse-
gura ao trabalhador a percepção de adicional, que incide
sobre salário mínimo, sendo assim classificada:

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○ 40% para insalubridade de grau máximo;
○ 20% para insalubridade de grau médio;
○ 10% para insalubridade grau mínimo.

No entanto, a percepção do adicional de insalubri-


dade não é condição necessária e única para a aposenta-
doria em condição especial, porque a Previdência Social
mudou a interpretação do tema, considerando que é de
competência da empresa estabelecer medidas de controle
para neutralizar a exposição aos agentes insalubres.
De acordo com o art.57 da Lei n.° 9.032 de
28/04/1995, aposentadoria especial é aquela devida
ao trabalhador que tiver trabalhado sob condições es-
peciais, de modo permanente, mediante laudo técnico,
por 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos e
que prejudiquem sua saúde ou integridade física.
Aspectos relevantes são transcritos da Lei 9.032
com referência à aposentadoria especial prevista e que
alterou a lei 8.213 de 24/07/1991:

§ 1º A aposentadoria especial. (observado o dis-


posto no art. 33 desta lei, consistirá numa renda men-
sal equivalente a 100% (cem por cento) do salário-de-
-benefício.
§ 3º A concessão da aposentadoria especial de-
penderá de comprovação pelo segurado, perante o Ins-
tituto Nacional do Seguro Social - INSS, do tempo de
trabalho permanente, não ocasional nem intermitente,
em condições especiais que prejudiquem a saúde ou
a integridade física, durante o período mínimo fixado.

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§ 4º O segurado (deverá comprovar, além do
tempo de trabalho, exposição aos agentes nocivos
químicos, físicos, biológicos ou associação de agen-
tes prejudiciais à saúde ou integridade física, pelo
período exigido para à concessão do benefício.
§ 5º O tempo de trabalho exercido sob con-
dições especiais que sejam ou venham a ser consi-
deradas prejudiciais à saúde ou à integridade física
será somado, após a respectiva conversão ao tempo
de trabalho exercido em atividade comum, segundo
critérios estabelecidos pelo Ministério da Previdên-
cia e Assistência Social, para efeito de concessão de
qualquer benefício.
§ 6º É vedado ao segurado aposentado nos ter-
mos deste artigo continuar no exercício de atividade
ou operações que o sujeitem aos agentes nocivos
constantes da relação referida no art. 58 desta Lei.

A periculosidade, de acordo com a NR16 – Ativi-


dades e Operações Perigosas, caracteriza-se por ativi-
dades ou operações que, pela natureza ou método de
trabalho implicam em risco acentuado, em virtude da
exposição permanente do trabalhador a:

• Atividades e operações perigosas com explosivos;


• Atividades e operações perigosas com inflamáveis;
• Atividades e operações perigosas com radiações
ionizantes ou substâncias radioativas;
• Roubos ou outras espécies de violência física

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nas atividades profissionais de segurança pessoal
ou patrimonial;

São ainda consideradas atividades ou operações pe-


rigosas, de acordo com a Lei n. 12.740 de 8/dez/2012,
aquelas que, pela natureza ou métodos de trabalho, im-
plicam risco acentuado em virtude de exposição perma-
nente do trabalhador a:
• Energia elétrica;

E, de acordo com a Lei n. 12.997, de 18/jun/2014,


são consideradas perigosas:
• As atividades de trabalhador em motocicleta.

Apesar da publicação da Lei 12.997, acrescentando


entre as atividades perigosas aquelas desenvolvidas pelo
trabalhador em motocicleta, o adicional somente será
devido a partir da sua inclusão nos quadros aprovados
pelo Ministério do Trabalho.
Sendo caracterizada a periculosidade, o trabalha-
dor receberá 30% de adicional sobre seu salário.
A penosidade, mencionada na Constituição Fede-
ral, em seu artigo 7º, inciso XXIII, estipula o adicio-
nal de remuneração para as atividades penosas, insa-
lubres ou perigosas, na forma da lei. Embora previsto
na Constituição da República, o direito ao adicional de
atividades penosas não é autoaplicável, pois depende de
lei que o regulamente.

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2.2 Perícia

A perícia é entendida como a prova que apresen-


ta a verdade de um fato. Geralmente, as partes alegam
verdades sobre um determinado fato, no entanto, sen-
do estas verdades diferentes entre si, o Juiz nomeia um
especialista que produzirá prova pericial para esclarecer
questões técnicas, que não são de seu conhecimento.
O especialista é denominado Perito Judicial ou Pe-
rito do Juiz. As partes também poderão ter seus Peritos,
chamados de Assistentes Técnicos.
Os Assistentes Técnicos devem acompanhar o Pe-
rito Judicial durante a investigação dos fatos e emitir
parecer que podem ser concordantes ou não entre si.
Segundo Brandimiller (1996), a perícia é realizada
para atender requisição formal de pessoa jurídica ou de
instituição pública ou privada e é composta pelas ativi-
dades: de análise dos fatos e situações documentados
apresentados à perícia; observação qualitativa constituí-
da por exame, vistoria, inspeção; de estudo quantitativo
que inclui cálculos, avaliações e medições; de investiga-
ção de fatos e situações que devem possibilitar o escla-
recimento das características da ocorrência e a relação
como causa e efeito, temporais, por exemplo.
Seguem conceitos extraídos do glossário do Insti-
tuto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia
– IBAPE/SP relacionados ao tema:

Perícia: “Atividade técnica realizada por profissional


com qualificação específica, para averiguar e esclarecer

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fatos, verificar o estado de um bem, apurar as causas
que motivaram determinado evento, avaliar bens, seus
custos, frutos ou direitos.” (IBAPE, 2002, p.17);
Perito: “Profissional legalmente habilitado, idôneo
e especialista, convocado para realizar uma perícia.”
(IBAPE, 2002, p.17);
Assistente Técnico: “Profissional legalmente habili-
tado, indicado e contratado pela parte para orientá-la,
assistir os trabalhos periciais em todas as fases da pe-
rícia e, quando necessário, emitir seu parecer técnico.”
(IBAPE, 2002, p.3);
Laudo: “Parecer técnico escrito e fundamentado, emi-
tido por um especialista indicado por autoridade, re-
latando resultado de exames e vistorias, assim como
eventuais avaliações com ele relacionados.” (IBAPE,
2002, p.14).

O assunto é extenso e vamos abordar metodologia


para questões relativas à Insalubridade e Periculosidade.
O trabalhador sentindo-se prejudicado em seus
direitos trabalhistas e previdenciários recorre à justiça
através do seu sindicato ou de serviços de advocacia
especializada particular ou pública, pleiteando o en-
quadramento em atividade insalubre ou nociva para
efeitos de aposentadoria em regime especial, ou equi-
paração de função e salários, ou atividade perigosa
com efeito retroativo em termos de adicional de 30%
sobre seu salário nominal, doença degenerativa, perda

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de audição, comprometimento de coluna cervical ou
lombar, indenização por acidente ou outra queixa por
incapacidade laborativa.
Normalmente, a perícia trabalhista é determinada
pelo Juiz de Direito, que, através de um Perito desig-
nado por ele, especialista no assunto, realiza uma visita
técnica pericial na empresa do Requerente, para a inves-
tigação dos fatos, conforme o processo instaurado. O
objetivo da perícia trabalhista é provar ou não os pedi-
dos judiciais de enquadramento das atividades ou bene-
fícios do Requerente mediante evidências de exposição
às atividades insalubres, nocivas, condição de incapaci-
dades permanente total ou parcial devido a acidente do
trabalho ou doença ocupacional.
A empresa, por sua vez, tem o direito de contes-
tar e provar a inconsistência da reivindicação do Re-
querente e para tanto deve reunir provas que julgue
necessárias e suficientes para sua defesa. A empresa
poderá nomear Assistente Técnico, que tem como in-
cumbência prestar esclarecimentos necessários, refu-
tar inverdades, quando for o caso, e esclarecer dúvidas
do Perito nomeado pelo Juiz.
Tanto o Perito como o Assistente Técnico devem
conhecer o processo, as legislações trabalhista e previ-
denciária, apresentando imparcialidade para elaboração
de seus relatórios, que fundamentarão a decisão do Juiz.
Ao Assistente Técnico cabe aceitar ou contradi-
zer a versão apresentada pelo Requerente por meio de
sua representação jurídica, fornecendo elementos para
a decisão final.

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Com base na reclamação apresentada pelo traba-
lhador, o Juiz poderá determinar a realização de perícias
de Engenharia de Segurança do Trabalho para Ações de
Cobrança de Adicional de Insalubridade e de Periculo-
sidade, bem como de Ação Indenizatória por Acidente
de Trabalho.

2.3. Metodologia para Perícia

Para Ações de Cobrança de Adicional de Insalu-


bridade e de Periculosidade seguem as orientações.
De acordo com a CLT, art.195, a caracterização e
classificação da Insalubridade e da Periculosidade ocorre-
rá por meio de perícia a cargo do Médico do Trabalho
ou Engenheiro do Trabalho, registrados no Ministério do
Trabalho e segundo as normas do Ministério do Trabalho.
Durante as perícias, o Perito deve sempre respon-
der aos quesitos efetuados. Poderá ainda apresentar e
esclarecer aspectos técnicos identificados por ele e que
são parte do contexto, mesmo que não tenham sido
questionadas pelas partes.
Deve, do mesmo modo, o Perito estar ciente da
necessidade de reconstituir fatos passados por meio de
fontes fidedignas.
O Laudo Pericial pode ser estruturado com os se-
guintes tópicos:
1. Introdução;
2. Considerações Iniciais;
3. Laudo Pericial.

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