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Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Medicina Legal
Prof. Aurélio Briltes
Alunos : Larissa Arce Centurião Machado
Fernando Daniel Insaurralde
Fábio Jorge Pereira Mariano

1. INTRODUÇÃO
O referente trabalho tem como objetivo analisar as sentenças do 24ª Tribunal Regional do
Trabalho sobre adicionais trabalhistas de possíveis situações de insalubridade e periculosidade, à
luzdas normas vigentes, doutrinas e leis atualizadas.
Importa a este trabalho a dinâmica processual envolvendo a elucidação dos casos
concretos por intermédio de laudos periciais judiciais.
Nesse sentido, é farta a jurisprudência de casos desses profissionais, assim, a metodologia
utilizada foi uma abordagem conceitual dos institutos jurídicos da periculosidade e da
insalubridade, a consulta no sítio eletrônico 1 do 24ª TRT com jurisdição no Estado do Mato
Grosso do Sul, e foram escolhidos dois casos de cada adicional para uma análise detalhada desse
material.
Dessa forma, entende-se que essa análise contribuirá com a compreensão holística da fase
processual referente

2. ADICIONAL DE PERICULOSIDADE
Periculosidade de acordo com o dicionário “qualidade ou estado de ser perigoso”.
Uma atividade periculosa é aquela que expõe o trabalhador a um perigo constante de vida
durante a sua execução.
A NR-16 (norma regulamentadora criada pelo Ministério do Trabalho e Emprego)
disciplina atividades e operações perigosas e nela consta que o funcionário que trabalha em
condições de periculosidade deve receber um adicional de 30% do seu salário base, sem
contabilizar as adições proporcionadas por gratificações, prêmios ou participação nos lucros da
empresa.

De acordo com a NR-16, são consideradas atividades de perigo:


I) Atividades e Operações Perigosas com Explosivos;
II) Atividades e Operações Perigosas com Inflamáveis;
III) Atividades e Operações Perigosas com Radiações Ionizantes ou Substâncias
Radioativas;
IV) Atividades e Operações Perigosas com Exposição a Roubos ou Outras Espécies de
Violência Física nas Atividades Profissionais de Segurança Pessoal ou
Patrimonial;
V) Atividades e Operações Perigosas com Energia Elétrica;
1
https://pje.trt24.jus.br/jurisprudencia/, acesso em 17/06/2021.
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VI) Atividades Perigosas em Motocicleta.

2.1. JURISPRUDENCIA I
“ADICIONAL DE INSALUBRIDADE E PERICULOSIDADE
O exercício de trabalho insalubre assegura a percepção do
respectivo adicional, observada a regulamentação do Ministério
do Trabalho e Emprego (CLT, 189; Portaria n. 3.214/1978, NR-
15, doMTE).
Referida condição insalutífera pode ser atenuada ou até
eliminada, desde que a empresa adote medidas que conservem o
ambiente de ou o trabalhador utilize equipamentos individuais de
proteção que diminuam a intensidade de atuação do agente
agressivo (item 15.1.5,da NR-15).
Já o adicional de periculosidade é devido em virtude de
exposição a produtos infláveis, explosivos ou energia elétrica e
encontraamparo legal no art. 193, I da CLT, incluído pela Lei
12.740/2012 e regulamentado pela Portaria 1.885/2013 do
Ministério do Trabalho e Emprego, que incluiu o anexo 3 à NR-
16.
Pois bem.
O laudo técnico apresentado, após análise detida das atividades
desenvolvidas pelo reclamante, constatou que este não
trabalhava exposto a condições de periculosidade nem de
insalubridade, sendo que os agentes insalutíferos constatados
foram neutralizados pelos EPIs fornecidos (fl.385).
Nessa linha, posto que o juízo não esteja vinculado às
conclusõesdo perito, auxiliar na apreciação da matéria fática, as
irresignações apresentadas pelo reclamante não afastam o
resultado apurado, nem mesmo lhe infirmam o valor probante,
de modo que a conclusão nele alcançada deve prevalecer (art.
479 do CPC).
Assim, a parte autora não tem direito ao adicional de
insalubridade ou periculosidade, pelo que julgo improcedentes
os pedidos.”

A perícia compreende :
1 – Inspeção do local de trabalho do (s) servidor (es);
2 – Análise das tarefas executadas;
3 – Estrutura do ambiente de trabalho;
4 – Identificação dos possíveis agentes agressores;
5 – Avaliação qualitativa do ambiente;
6 – Legislação de segurança adotada;
7 – Material manipulado;
8 – Conclusão.

Sendo assim, após minuciosa tecnica dos agentes de perícia foi constatado que não há

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periculosidade na execução do trabalho.

2.2. JURISPRUDENCIA II

“ADICIONAL DE PERICULOSIDADE - MOTOCICLISTA


O preposto da ré confirmou em audiência (11’44”) que
desde 2017 o autor fazia entregas regularmente em motocicleta
tipo baú, fornecida pela empregadora. Já o autor, em depoimento
pessoal, confessou que utilizou a moto para fazer entregas até 5
(cinco) meses antes da rescisão contratual (6‘25”).
Assim, reconheço que o autor, no desempenho de suas
atribuições, utilizou-se regularmente de motocicleta em vias
públicas, no período de 01.05.2017 a 31.12.2018, fazendo jus
ao adicional de periculosidade, conforme previsto no art. 193,
§ 4o daCLT.
Ante o exposto, condeno a ré ao pagamento do adicional
de periculosidade, no percentual de 30% sobre o salário base
doautor, no período de 01.05.2017 a 31.12.2018.
Diante da habitualidade, o adicional integra a
remuneração no período de sua percepção, sendo devidos reflexos em
13o salário, férias/abono, FGTS/multa.
O adicional de periculosidade não reflete em repouso semanal remunerado
porquanto tem base de cálculo no salário mensal, que já engloba os dias de
repouso (art. 7o, §2o da Lei 605/49 e OJ
103 da SBDI-1 do TST).”

§ 4o São também consideradas perigosas as atividades de trabalhador em motocicleta. (Incluído pela Lei
nº 12.997, de 2014).

Consoante o anexo 5, da Norma Regulamentadora nº 16, são consideradas perigosas as atividades


laborais com utilização de motocicleta ou motoneta no deslocamento de trabalhador em vias públicas.

Dessa forma, a mencionada norma regulamentadora exclui, expressamente, do enquadramento de


atividade perigosa, para fins de pagamento do adicional de periculosidade, a utilização de motocicleta ou
motoneta exclusivamente no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela.

Outrossim, a norma ministerial afasta, da tipificação de atividades perigosas, aquelas em veículos que
não necessitem de emplacamento ou que não exijam carteira nacional de habilitação para conduzi-los.

Finalmente, não são suscetíveis de gerar o direito ao adicional de periculosidade as atividades em


motocicleta ou motoneta em locais privados; bem como as atividades com uso de motocicleta ou
motoneta de forma eventual, assim considerado o fortuito, ou o que, sendo habitual, dá-se por tempo
extremamente reduzido.

3. ADICIONAL DE INSALUBRIDADE
Insalubre é algo não salubre, que não é bom para a saúde e que pode causar doenças ao

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trabalhador por conta de sua atividade.
A insalubridade é definida pela legislação em função do grau do agente nocivo, levando em
conta o tipo de atividade, níveis de tolerância e respectivos tempos de exposição durante a
jornada.
Assim, são consideradas insalubres as atividades ou operações que por sua natureza,
condições ou métodos de trabalho, expõem o empregado a agentes nocivos à saúde, acima dos
limites de tolerância fixados em razão da natureza, da intensidade do agente e o tempo de
exposição aos seus efeitos.
A norma regulamentadora NR-15 discrimina os agentes considerados nocivos, sendo
necessária perícia médica por profissional competente e devidamente registrado no respectivo
órgão para caracterizar e classificar a situação de insalubridade.
O exercício de trabalho em condições insalubres, acima dos limites de tolerância
estabelecidos assegura a percepção de adicional de 40% (quarenta por cento), 20% (vinte por
cento) e 10% (dez
por cento), segundo se classifiquem nos graus máximo, médio e mínimo, respectivamente,
conformeprevê artigo 192 da CLT.
São consideradas situações de insalubridade:
I) Úmidade
II) Frio
III) Ruídos
IV) Agentes físicos, químicos e biológicos.
V) Calor

3.1. JURISPRUDENCIA I

“ADICIONAL DE INSALUBRIDADE.
O autor postulou o pagamento de adicional de insalubridade. A
comprovação do trabalho insalubre faz-se através de prova pericial (CLT,
art. 195). A perícia realizada constatou a existência, no setor em que se
ativava o autor (desossa do dianteiro), de dois agentes de insalubridade:
ruído e frio. Atestou o perito, contudo, que os efeitos nocivos da exposição
ao ruído acima dos limites de tolerância eram neutralizados pelo uso de
EPI (protetores auriculares). Ademais, intimado a esclarecer
especificamente se as trocas dos protetores auriculares registradas na ficha
de EPI fornecidos ao autor (fls. 298-299) observaram a periodicidade
necessária, o perito confirmou que sim, com a ressalva de que “o
Ministério do Trabalho e Emprego não especifica a vida útilou
durabilidade do protetor auricular e que a legislação estabelece, apenas,
que seja adequado e em perfeitas condições de uso” (f. 526). Ante os
esclarecimentos prestados pelo perito e considerando, ainda, que as fichas
de EPI registram o fornecimento de 14 protetores auriculares ao autor no

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curso do vínculo – o que demonstra que a troca era realizada com
frequência pela empresa –, considero que não havia, no labor do
demandante, insalubridade em razão desse fator. O laudo pericial atestou,
por outro lado, a existência de insalubridade em grau médio por exposição
ao frio exclusivamente no período de 10.06.2015 a 31.07.2015, com
fundamento na não comprovação de realização das pausas para
recuperação térmica (art. 253 da CLT) nesse período. Todavia, a conclusão
da perícia não tem o condão de vincular o juiz, que pode formar o seu
convencimento com outros elementos ou fatos comprovados nos autos (art.
479, CPC, c/c o art. 769, CLT). No caso, entendo que o ônus da prova da
ausência das pausas para recuperação térmica incumbia ao autor, já que a
empregadora não possui dever legal de registrá-las nos cartões de ponto.
Por não haver o autor desse ônus se desincumbido e, ainda, com base nas
provas documentais e testemunhais de concessão dos intervalos a partir do
ano de 2015, reconheço que a obrigação realização das pausas para
recuperação térmica foi cumprida pela empresa em todo o período
contratual. Desse modo, e tendo sido a ausência das pausas a única razão
exposta pelo perito para a afirmação de insalubridade no período de
10.06.2015 a 31.07.2015, considero que o autor não laborou em condições
insalubres. Por consequência, não há direito ao adicional pretendido.”

“SUM-80 INSALUBRIDADE: A eliminação da insalubridade mediante fornecimento de


aparelhos protetores aprovados pelo órgão competente do Poder Executivo exclui a
percepção do respectivo adicional.”

Como relatado,a empresa fez o devido amparo ao empregado com oferecimento de EPI’S
para a execução das tarefas, descaracterizando assim o adicional de insalubridade.

3.2. JURISPRUDENCIA II

“Adicional de Insalubridade e Reflexos


Sustenta o reclamante que era submetido a condições insalubres durante
todo o período contratual, cuja nocividade à sua saúde justifica a
percepção do adicional de insalubridade, no grau correspondente. Por tais
razões, requereu a condenação da reclamada ao pagamento do adicional de
insalubridade, com reflexos nas parcelas que especifica. A reclamada
insurgiu-se contra a pretensão, pelas razões deduzidas em sua defesa, às
quais, por brevidade, me reporto. Analiso. A perícia realizada no feito
revelou que o ambiente de trabalho onde o autor exerceu suas atividades
era, de fato, insalubre, em grau máximo, decorrente da manipulação de
óleos minerais sem a utilização de equipamentos de proteção individual
para neutralizar os agentes insalubres (laudo sob ID a3a2ab1, pág. 13). A
reclamada impugnou o laudo, argumentando que “o laudo pericial
encontra-se incompleto, não tendo analisado pormenorizadamente a
situação fática, nem a entrega e utilização dos EPI’s capazes de elidir a
manifestação de eventual agente prejudicial” e que o “reclamante sempre
recebeu e utilizou-se efetivamente dos EPIs, tais como luva de vaqueta,
luva nitrílica, creme protetor luvex, dentre outros” (sic). No entanto, o
expert apontou no laudo que “não há evidências no processo de registro de
entrega de equipamentos de proteção individual ao reclamante” (resposta
ao quesito 9), e ressaltou “a importância do registro da ficha de entrega de
equipamentos de proteção individual, é justamente para analisar o tipo de
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equipamento de proteção individual a cada agente encontrado, a
quantidade entregue, as substituições, se possuem o Certificado de
Autorização (CA), se estão dentro do prazo de validade. Sem essas
informações não é possível avaliar a eficácia dos equipamentos se
possivelmente foram todos entregues ao reclamante. No ato da perícia
técnica, o reclamante informou que recebeu alguns equipamentos de
proteção individual, ressaltando que as luvas para manipulação do óleo
mineral, não recebeu” (resposta ao quesito 10) . Assim, considerando os
termos do laudo pericial, acato as conclusões adotadaspelo auxiliar do
Juízo e reconheço que o reclamante laborou sob condições de
insalubridade, em grau máximo, durante todo o período contratual, fazendo
jusao recebimento do adicional respectivo. Para efeito de apuração, o
adicional de insalubridade deverá ser calculado sobre o salário mínimo
legal. Isso porque, a Súmula 17 do C. TST (que previa a base de cálculo do
adicional em análise, o salário profissional fixado em lei, convenção
coletiva ou sentença normativa) foi cancelada, por ser incompatível com a
Súmula Vinculante nº 4 do STF, enquanto que a Súmula 228 do C. TST
(que fixava o salário-base para o cálculo do adicional) foi suspensa. Em
que pese a inconstitucionalidade do art. 192 da CLT reconhecida pelo STF,
aquele sodalício reafirmou em decisão proferida na Reclamação
Constitucional número Rcl-6.266-DF que deverá ser aplicado o salário
mínimo como base do adicional de insalubridade, enquanto não superada a
inconstitucionalidade por meio de lei ou norma coletiva. No mesmo
sentido é o precedente do TRT da 24ª Região (Proc. 0088600-
53.2007.5.24.0003, DO/MS 25.11.2009). Desse modo, defiro o adicional
de insalubridade, no grau máximo (40%), em todo o período contratual, a
ser calculado sobre o salário mínimo legal, bem como sua repercussão em
férias
+ 1/3 e décimos terceiros salários.”

“SUM-80 INSALUBRIDADE: A eliminação da insalubridade mediante fornecimento de


aparelhos protetores aprovados pelo órgão competente do Poder Executivo exclui a
percepção do respectivo adicional.”

Bastava que a empregadora fizesse o oferecimento de EPI’S para que fosse descaracterizado o adicional por insalubridade,
no entanto, a empresa foi negligente e o trabalhador se encontrava exposto a agentes nocivos, tendo a pericia avaliado em
grau máximo a situação.

4. CONCLUSÃO
O presente trabalho teve como objetivo analisar as sentenças do 24ª Tribunal Regional do
Trabalho sobre adicionais trabalhistas de possíveis situações de insalubridade e periculosidade, à
luzdas normas vigentes, doutrinas e leis atualizadas.
O entendimento dos conceitos do adicional de periculosidade e insalubridade trouxe um
esclarecimento sobre como deve ser abordada a construção do processo judicial, com a
identificação da demanda, e a prova inequívoca do direito do trabalhador lesado.
Por outro lado, há a grande importância de aparelhamento de corpo técnico especializado
para a análise dos quesitos sobre os casos concretos, que se de forma contundente são favoráveis
à elucidação da lide.
Dessa forma, entende-se que essa análise contribuirá com a compreensão holística da fase
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processual referente à dinâmica processual vigente.

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