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EXMO(A). SR(A). DR(A).

JUIZ(A) FEDERAL DA __ª VARA DO TRABALHO DE


BELÉM/PA

RECLAMAÇÃO TRABALHISTA

MM. JUIZ(A)

RONIVALDO FERREIRA GOMES, brasileiro, casado, empregado


pública, portador da CI. n. 1556980 (SSP/PA) e inscrito no CPF sob
o n. 330.690.182-20, residente e domiciliado em Passagem Bom Sossego,
n. 65, Altos, Sacramenta, CEP: 66083-130, Belém/PA, com fundamento
na lei (CLT, art. 840), vem, com a ordinária reciprocidade de
respeito, por intermédio de seus advogados infra assinados, ut
instrumento de procuração (anexo – Doc. 01), propor esta RECLAMAÇÃO
TRABALHISTA em desfavor de EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFO
- EBCT, pessoa jurídica de direito público, inscrita no CNPJ sob o
n. 34.028.316/0018-51, estabelecida à Av. Presidente Vargas n. 498,
Campina, Belém/PA, CEP 66017-900, na pessoa de seu representante
legal, de acordo com os elementos fáticos e jurídicos a seguir
delineados na causa de pedir:

1 – DA CAUSA DE PEDIR

1.1 – BREVE SINOPSE FÁTICA

O Autor foi admitido junto à Reclamada em 23.06.2008, por


meio de concurso público, para o cargo de Agente de Correios,
exercendo atualmente a função de Operador de Equipamento de Segurança
Postal desde 03.06.2022, após capacitação em curso específico (anexo
– Doc. 02), percebendo salário atual de R$ 3.764,89 (anexo – Doc.
03).

Quando começou a exercer a função de Operador de


Equipamento de Segurança Postal, o Autor passou a ser responsável
pela fiscalização dos objetos postais que chegam nesta Região, a fim
de averiguar eventual remessa ilícita.

Para que seja possível a fiscalização, o Obreiro trabalha


com o sistema de inspeção por raio-x, utilizando aparelhos de raio-
x, a exemplo do modelo a seguir:

Pois bem, nesse ambiente de trabalho, o Autor desempenha


essa atribuição por 8 (oito) horas diárias, sendo que têm contato
direto com radiações ionizantes durante todo o período de labor,
diariamente, sem que tenham sido disponibilizadas sequer luvas, pela
Reclamada.

A dinâmica acima dimensionada pode ser também constatada


na notícia divulgada pela própria Reclamada, na qual se verifica a
proximidade dos postos de trabalho em relação ao aparelho de raio-x
(anexo - Doc. 04 – Pág. 01):
A rotina de trabalho do Obreiro é a seguinte: recebe a
carga/produto, scanneia a carga/produto no sistema de raio-x para
verificação de qualquer ilícito ou agente perigoso, e, não sendo
identificado qualquer ilícito ou agente perigoso, devolvem a
carga/produto para o setor de tratamento, para encaminhamento da
encomenda ao setor responsável, ressaltando que o Obreiro, junto com
outros colegas, é responsável pela limpeza da máquina.

Caso identifique algum ilícito ou agente nocivo, o órgão


responsável é acionado, como Polícia, IBAMA, Receita Federal etc.

A despeito da exposição ao agente ionizante, a Reclamada


nunca pagou o adicional de periculosidade, o qual é devido, conforme
será demonstrado em tópico próprio e notadamente em razão do
prolongado tempo de exposição dos empregados à radiação ionizante.

Desta forma, requer-se seja a Reclamada condenada ao


pagamento do adicional de periculosidade no importe de 30% sobre o
salário base obreiro, em parcelas vencidas pelo período de 03.06.2022
a 31.03.2023, e em parcelas vincendas, a partir de 01.04.2023 e até
o mês imediatamente anterior ao de pagamento da parcela em
contracheque - enquanto o trabalhador estiver operando aparelhos de
raio-x –, tudo com os devidos reflexos em férias + 1/3, 13º salário
e FGTS.

1.2 – DO DIREITO APLICÁVEL À ESPÉCIE

1.2.1 – DO ADICIONAL DE PERICULOSIDADE DEVIDO E NÃO PAGO


– NR 16 DO MTEP – DIREITO CONSTITUCIONAL À SAÚDE E A UM MEIO AMBIENTE
DE TRABALHO SADIO E SALUBRE – ART. 7º, XXII, ART. 196 E ART. 225 DA
CF/88

Conforme exposto alhures, o Reclamante tem sido exposto,


em sua jornada regular de trabalho, de maneira habitual, à agente
ionizante, ao verificar as correspondências recebidas, sem, contudo,
receber o adicional de periculosidade devido.

O fornecimento de um meio ambiente de trabalho sadio e


salubre é direito constitucionalmente garantido (art. 7º, XXII, art.
196 e art. 225, da CF/88), sendo dever do empregador fornecer aos
seus empregados todas as condições necessárias para a garantia da
saúde do trabalhador.

Visando mitigar as consequências do trabalho em condições


adversas, a Magna Carta também garante ao trabalhador a respectiva
contraprestação pecuniária complementar diante do risco a que se
submete o empregado (art. 7º, XXIII).

Tais direitos fundamentais dos trabalhadores objetivam


preservar a integridade física e psíquica dos obreiros, pretensão
afeita à sua própria dignidade (art. 1º, III da CF/88).

Nessa perspectiva, a legislação infraconstitucional, tanto


por intermédio da previsão celetista (art. 193), quanto pela
regulamentação empreendida pelo Ministério do Trabalho e Emprego,
disciplina o pagamento do adicional de periculosidade.

No caso presente, o pagamento do referido adicional é


devido aos trabalhadores que operam máquinas de raio-x, cujas
emissões de radiação ionizante podem provocar danos à saúde dos seus
operadores.
Nessa direção, a Portaria n. 518/2003 do Ministério do
Trabalho e Emprego (anexo - doc. 05), assim dispõe:

CONSIDERANDO que qualquer exposição do trabalhador a


radiações ionizantes ou substâncias radioativas é
potencialmente prejudicial à sua saúde;

CONSIDERANDO, ainda, que o presente estado da


tecnologia nuclear não permite evitar ou eliminar o
risco em potencial oriundo de tais atividades,
resolve:

Art. 1º - Adotar como atividades de risco em


potencial concernentes a radiações ionizantes ou
substâncias radioativas, o "Quadro de Atividades e
Operações Perigosas", aprovado pela Comissão
Nacional de Energia Nuclear - CNEN, a que se refere
o ANEXO, da presente Portaria.

Art. 2º - O trabalho nas condições enunciadas no


quadro a que se refere o artigo 1º, assegura ao
empregado o adicional de periculosidade de que trata
o § 1º do art. 193 da Consolidação das Leis do
Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-lei n.º 5.452,
de 1º de maio de 1943.

Art. 3º - A Secretaria de Inspeção do Trabalho, no


prazo de 60 (sessenta) dias, fará revisão das Normas
Regulamentadoras pertinentes, em especial da NR-16 -
"ATIVIDADES DE OPERAÇÕES PERIGOSAS", aprovada pela
Portaria GM/MTb nº 3.214, de 08 de junho de 1978,
com as alterações que couber, e baixará, na forma de
artigo 9º, do Decreto n.º 2.210, de 22 de abril de
1997, e do parágrafo único do artigo 200 da CLT,
incluindo normas específicas de segurança para as
atividades ora adotadas.

Art. 4º Revoga-se a Portaria GM/MTE nº 496, de 11 de


dezembro de 2002.

Art. 5º Esta Portaria entrará em vigor na data de


sua publicação. (Destacou-se)

Como se constata, no caso do agente ionizante, há o


reconhecimento de que a exposição, por si, é potencialmente
prejudicial à saúde, devendo ser considerando, ainda, que a
tecnologia existente não é capaz de eliminar/evitar os riscos de
tais agentes.
Dessa maneira, não há necessidade de
quantificar/dimensionar qualquer tipo de limite de tolerância, já
que basta o corpo humano estar exposto ao agente ionizante, para
estar sujeito a danos que podem ser desenvolvidos ao longo do tempo.

Em virtude da referida portaria, a NR-16 foi modificada e


passou a reconhecer a atividade de operação com aparelhos de raios-
x como periculosa, nos termos do seu anexo 6, item 4, senão, confira-
se (Doc. 06 – Pág. 20):

(...)

Na esteira das disposições ministeriais, a jurisprudência


do C. TST se consolidou no sentido de reconhecer o direito ao
adicional de periculosidade para os trabalhadores que operam os
aparelhos de raio-x, independente de medição de limites de
tolerância. Confira-se acórdão proferido pela SDI-I:

EMENTA
AGRAVO INTERPOSTO CONTRA DECISÃO DENEGATÓRIA DE
SEGUIMENTO DE EMBARGOS PROFERIDA POR MINISTRO
PRESIDENTE DE TURMA. CIRURGIÃO DENTISTA. USO DE
APARELHO DE RAIOS X MÓVEL. ADICIONAL DE
PERICULOSIDADE. MÁ APLICAÇÃO DA OJ 345 DA SBDI-1 DO
TST. NÃO CONFIGURAÇÃO. Não merece reparos a decisão
singular por meio da qual se denegou seguimento aos
embargos. Discute-se o direito ao pagamento de
adicional de periculosidade a cirurgião dentista que
desempenha suas atividades com uso de aparelhos de
Raios X móvel. A Súmula 364, I, do TST dispõe que
"tem direito ao adicional de periculosidade o
empregado exposto permanentemente ou que, de forma
intermitente, sujeita-se a condições de risco.
Indevido, apenas, quando o contato dá-se de forma
eventual, assim considerado o fortuito, ou o que,
sendo habitual, dá-se por tempo extremamente
reduzido". Esta Corte também pacificou entendimento,
consubstanciado na OJ 345 da SDI-I, quanto à
existência de periculosidade nas atividades em que o
trabalhador fica exposto às radiação ionizante ou
substância radioativa. Assim, tem-se que o acórdão
embargado, ao concluir pelo direito do Reclamante ao
pagamento de adicional de periculosidade em razão da
exposição à radiação ionizante, pelo manuseio do
equipamento de Raio X em seu trabalho, perfilhou
entendimento em consonância, e não em
desconformidade, com os termos da OJ 345 da SDI-1.
Oportuno ressaltar que a hipótese analisada quando
do julgamento por esta Corte do IRR- 1325-
18.2012.5.04.0013 se refere ao pagamento de adicional
de periculosidade a trabalhador que, sem operar o
equipamento móvel de Raios X, permaneça, habitual,
intermitente ou eventualmente, nas áreas de seu uso,
situação diversa da discutida nos presentes autos,
em que o profissional opera diretamente o aparelho.
Agravo conhecido e desprovido.
(Ag-E-RR-10538-36.2017.5.15.0120, Subseção I
Especializada em Dissídios Individuais, Relator
Ministro Alexandre Luiz Ramos, DEJT 29/07/2022).
(Destacou-se)

Orientação Jurisprudencial 345/TST-SDI-I -


22/06/2005 - Periculosidade. Adicional devido.
Radiação ionizante ou substância radioativa
(radioatividade). CLT, art. 193.

A exposição do empregado à radiação ionizante ou à


substância radioativa enseja a percepção do adicional
de periculosidade, pois a regulamentação ministerial
(Ports. do Ministério do Trabalho 3.393, de 17/12/87,
e 518, de 07/04/2003), ao reputar perigosa a
atividade, reveste-se de plena eficácia, porquanto
expedida por força de delegação legislativa contida
no art. 200, caput, e inc. VI, da CLT. No período de
12/12/2002 a 06/04/2003, enquanto vigeu a Port. 496
do Ministério do Trabalho, o empregado faz jus ao
adicional de insalubridade. (Destacou-se)

Não por outro motivo, Excelência, que em casos bastante


semelhantes ao dos autos, inclusive dos Correios, diversos Regionais
vêm reconhecendo o direito dos operadores de aparelhos do raio-x dos
Correios, a receber o adicional de periculosidade. Confira-se:

TRECHO DO INTEIRO TEOR


É incontroverso que o reclamante operava o aparelho
local de raio-x, de onde se conclui que o contato
com o agente perigoso se dava de forma intermitente,
caracterizando-se a periculosidade, conforme
pontuado no item "5.4 - tempo de exposição aos
riscos" do laudo pericial de ID 52b2760, o qual
esclareceu que "o tempo de exposição aos possíveis
riscos existentes é caracterizado como sendo de
natureza intermitente, ou seja, durante a sua jornada
de trabalho diária, o funcionário que exerce a função
de 'Agente dos Correios', no Setor de Segurança
Postal, está exposto aos possíveis riscos existentes
durante alguns períodos da sua jornada de trabalho
diária".

Nestes termos, reformo a sentença para condenar a


reclamada ao pagamento do adicional de periculosidade
de 30% sobre o salário-base do reclamante (art. 193,
§ 1º, da CLT), com reflexos em décimos terceiros
salários, férias com terço constitucional e FGTS.
(TRT-15 - RO: 0012382-32.2015.5.15.0042, Relator:
ANA LUCIA COGO CASARI CASTANHO FERREIRA, 6ª Turma,
Data de Publicação: 27/03/2019) (Destacou-se)

EMENTA
CARÊNCIA DE AÇÃO. HIPÓTESES LEGAIS. De acordo com o
inciso IV do art. 267 do CPC, somente há carência de
ação quando configurada a impossibilidade jurídica
do pedido, a ilegitimidade das partes e a falta de
interesse processual.

TRECHO DO INTEIRO TEOR

Conforme se extrai dos autos, os empregados que


exercem a função de Operador de Equipamento de
Segurança Postal, trabalham diretamente com
aparelhos de raios X, com vistas a fiscalizar
possível tráfego de objetos ilícitos via postal, nos
mesmos moldes utilizados nos aeroportos.

No presente caso, o perito tratou da radiação


ionizante em consequência do manuseio de raios X sob
dois ângulos: o da insalubridade, previsto na Norma
Regulamentadora nº 15, e o da periculosidade,
previsto na Norma Regulamentadora nº 16.

Quanto ao aspecto da insalubridade, apontou estudo


da CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear) com
indicativo do valor máximo de exposição à radiação
suscetível de caracterizar a atividade como
insalubre. E quanto ao aspecto da periculosidade, se
reportou à Portaria MTB nº 3.214/1978, que aprovou,
dentre outras, a Norma Regulamentadora nº 16 (NR 16
– Atividades e Operações Perigosas), esta acrescida
de um Anexo introduzido pela Portaria GM nº 518/2003
arrolando como “Atividades e Operações Perigosas com
Radiações Ionizantes ou Substâncias Radioativas”,
dentre outras, as “atividades de operação com
aparelhos de raios-X, com irradiadores de radiação
gama, radiação beta ou radiação de nêutrons” e como
correspondente área de risco as “salas de irradiação
e operação de aparelhos de raios-X e de irradiadores
gama, beta ou nêutrons”.

Portanto, não houve qualquer contradição no laudo


pericial, ao concluir que o Operador de Equipamento
de Segurança Postal preenchia as condições técnicas
e legais para ter sua atividade caracterizada como
perigosa.

Além disso, já se encontra jurisprudencialmente


pacificado, através da OJ-SDI1-345, que: “A exposição
do empregado à radiação ionizante ou à substância
radioativa enseja a percepção do adicional de
periculosidade, pois a regulamentação ministerial
(Portarias do Ministério do Trabalho nºs 3.393, de
17.12.1987, e 518, de 07.04.2003), ao reputar
perigosa a atividade, reveste-se de plena eficácia,
porquanto expedida por força de delegação legislativa
contida no art. 200, “caput”, e inciso VI, da CLT.
No período de 12.12.2002 a 06.04.2003, enquanto vigeu
a Portaria nº 496 do Ministério do Trabalho, o
empregado faz jus ao adicional de insalubridade” (TRT
5ª Região, proc. 0000737-33.2012.5.05.0029, Rel.
Luiz Roberto Peixoto de Matos Santos, 16/10/2014)
(Destacou-se)

EMENTA
RECURSO ORDINÁRIO. ADICIONAL DE PERICULOSIDADE.
LAUDO PERICIAL CONSISTENTE. DEFERIMENTO. MANUTENÇÃO
DA SENTENÇA. Tendo o laudo pericial concluído pela
caracterização de atividade perigosa e não logrando
o recorrido (empregador) produzir prova capaz de
contrariar as informações nele contidas, mostra-se
devido o respectivo adicional, mormente quando as
informações fornecidas pelo perito foram
suficientemente convincentes acerca da conclusão do
laudo. Sentença que se mantém. (TRT-20 0001796-
03.2015.5.20.0007, Relator: MARIA DAS GRACAS
MONTEIRO MELO, 2ª Turma, Data de Publicação:
15/06/2020) (Destacou-se)

EMENTA
RECURSO ORDINÁRIO DO RECLAMANTE. ADICIONAL DE
PERICULOSIDADE. Caso em que o reclamante, enquanto
Operador de Equipamento de Segurança Postal da
Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - EBCT,
estava exposto à ação de agente periculoso,
decorrente da operação com aparelhos de raio-X, nos
termos da NR-16 da Portaria nº 3.214/78 do MTE. (TRT-
4 - ROT: 0020056-82.2014.5.04.0016, Relator: Maria
da Graça Ribeiro Centeno, 9ª Turma, Data de
Publicação: 23/04/2015) (Destacou-se)

EMENTA
ADICIONAL DE PERICULOSIDADE. RADIAÇÃO IONIZANTE.
Aplicação da Orientação Jurisprudencial 345 da SBDI-
1 do TST. Há direito à percepção do adicional de
periculosidade no período em que comprovada a
exposição do trabalhador à radiação ionizante ou à
substância radioativa. Enquadramento conforme itens
4 e 4.1 do Anexo da NR-16, aprovada pela Portaria
3.214/78 do MTE, e Lei 6.514 /77, com redação dada
pela Portaria n. 518/03. Recurso ordinário provido.
(TRT6 - ROT - 0000362-70.2018.5.06.0004, Redator: Ana
Claudia Petruccelli de Lima, Quarta Turma,
11/07/2019) (Destacou-se)

Aliás, em decisão recentíssima, em caso idêntico ao que


ora se discute, este E. TRT reconheceu o direito dos operadores de
aparelhos do raio-x dos Correios, a receber o adicional de
periculosidade, que, inclusive, laboram nas mesmas condições ao
Reclamante. Confira-se:

EMENTA
ADICIONAL DE PERICULOSIDADE. FUNÇÃO DE OPERADOR DE
SEGURANÇA POSTAL - OESP DA EMPRESA BRASILEIRA DE
CORREIOS E TELÉGRAFOS. EXERCÍCIO DE ATIVIDADE EM
EQUIPAMENTO DE IMAGEM RADIOSCÓPICA PARA INSPEÇÃO DE
ENCOMENDAS, MODELO CX100100D, EXISTENTE NO
CTCE/BELÉM. EXISTÊNCIA, NOS AUTOS, DE ELEMENTOS DE
CONVICÇÃO NO SENTIDO DE QUE O AGENTE PERIGOSO NÃO
FOI NEUTRALIZADO. ADICIONAL DE PERICULOSIDADE
DEVIDO. RECURSO IMPROVIDO.
TRECHO DO INTEIRO TEOR
(...)
Não há falar em reforma.

O equipamento de inspeção de mercadorias, obviamente,


manipula radiação. Apesar do laudo técnico Id fb7832d
citado acima indicar que a radiação era contida no
interior do equipamento, não foi considerado o fato
de que os reclamantes eram responsáveis pela limpeza
da máquina na parte externa e no tubo.

Também causa espécie o fato de o PCMSO não citar o


risco da radiação emitida pelo equipamento. Mesmo que
a máquina seja totalmente eficaz na neutralização do
agente perigoso, o programa deveria prever medidas
para que a neutralização se mantenha eficaz, eis que
o agente radioativo é muito prejudicial à saúde dos
trabalhadores.

(TRT da 8ª Região; Processo: 0000154-


60.2022.5.08.0014 ROT; Data: 15/12/2022; Órgão
Julgador: 3ª Turma; Relator: FRANCISCA OLIVEIRA
FORMIGOSA) (Destacou-se)

Se não bastasse, o Autor ainda traz como prova emprestada


três laudos técnicos produzidos em Reclamatórias semelhantes (anexo
- Doc. 07), nas quais os operadores de aparelhos de raio-x nos
Correios e nos aeroportos – que utilizam equipamento potencialmente
igual ao manejado pelo Autor - tiver reconhecido o direito ao
recebimento do adicional de periculosidade, após a realização de
perícia técnica.

Esse reconhecimento deriva, tanto do princípio da


prevenção, ligado aos riscos já conhecidos pela ciência, a exemplo
dos riscos cancerígenos, quanto ao princípio da precaução, que lida
com riscos potenciais desconhecidos ou ainda não suficientemente
comprovados, uma vez que, ao fim e ao cabo, os trabalhadores ficam
expostos à radiação ionizante por longos períodos diários, ao longo
de anos de exposição.

Além disso, cumpre destacar que a classificação da


atividade em questão como periculosa, também deriva do risco de
eventuais acidentes que possam acontecer com o equipamento, os quais
podem sujeitar os trabalhadores à exposição em altos níveis de
radiação ionizante.
Desta forma, resta claro o direito do Reclamante ao
adicional pleiteado, conforme já reconhecido em casos pretéritos por
pela jurisprudência trabalhista, o qual deve ser pago nos termos
determinados pelo §1º do art. 193, da CLT, in verbis:

Art. 193. São consideradas atividades ou operações


perigosas, na forma da regulamentação aprovada pelo
Ministério do Trabalho e Emprego, aquelas que, por
sua natureza ou métodos de trabalho, impliquem risco
acentuado em virtude de exposição permanente do
trabalhador a:

I - inflamáveis, explosivos ou energia elétrica;

II - roubos ou outras espécies de violência física


nas atividades profissionais de segurança pessoal ou
patrimonial.

§ 1º - O trabalho em condições de periculosidade


assegura ao empregado um adicional de 30% (trinta
por cento) sobre o salário sem os acréscimos
resultantes de gratificações, prêmios ou
participações nos lucros da empresa.
(...)(Destacou-se)

Ante o exposto, requer-se seja a Reclamada condenada ao


pagamento do adicional de periculosidade no importe de 30% sobre o
salário base obreiro, em parcelas vencidas pelo período de 03.06.2022
a 31.03.2023, e em parcelas vincendas, a partir de 01.04.2023 e até
o mês imediatamente anterior ao de pagamento da parcela em
contracheque - enquanto os trabalhadores estiverem operando
aparelhos de raio-x –, tudo com os devidos reflexos em férias + 1/3,
13º salário e FGTS.

1.2.2 – DA JUSTIÇA GRATUITA – PROCURAÇÃO COM PODERES PARA


PRESTAR DECLARAÇÃO DE HIPOSUFICIÊNCIA – APRECIAÇÃO NA PRIMEIRA
OPORTUNIDADE – PRECAUÇÃO CONTRA DECISÃO SURPRESA

O Autor requer, por procurador com poderes específicos,


lhe sejam concedidos os benefícios da justiça gratuita, com
fundamento no art. 5º, LXXIV, da CF/88, art. 790, §3º, da CLT, e
Enunciado de Súmula n. 463 do C. TST, eis que não possui meios
suficientes para custear as despesas da causa sem prejudicar o
sustento próprio e familiar.
Ressalte-se, outrossim, que, na esteira da atual
jurisprudência do C. TST, a comprovação da insuficiência de recursos
como requisito para obtenção de gratuidade de justiça (art. 790,
§4º, CLT) pode ser realizada pela simples declaração proferida por
pessoa natural, à qual se conferirá presunção de veracidade, na forma
do art. 99, §3º, do CPC, entendimento que conspira a favor da
proteção processual ao trabalhador reclamante, que não pode atuar
com ônus mais gravosos que os do litigante civil.

Nesse diapasão, requer-se que seja apreciado o presente


pleito de forma prioritária, na primeira oportunidade em que este
D. Juízo atuar nos autos, com o fito de precaver eventual decisão
surpresa ao longo da lide.

1.2.3 – DA BASE DE CÁLCULOS DOS REFLEXOS EM FGTS

O Autor destaca que os reflexos em FGTS devem ser pagos


tendo como base de cálculo todas as parcelas remuneratórias apuradas,
isto é, tanto a remuneração propriamente dita, quanto seus reflexos
remuneratórios em férias + 1/3 e 13º salário, considerando o previsto
no art. 15 da Lei n. 8.036/90, in verbis:

Art. 15. Para os fins previstos nesta lei, todos os


empregadores ficam obrigados a depositar, até o dia
7 (sete) de cada mês, em conta bancária vinculada,
a importância correspondente a 8 (oito) por cento
da remuneração paga ou devida, no mês anterior, a
cada trabalhador, incluídas na remuneração as
parcelas de que tratam os arts. 457 e 458 da CLT e
a gratificação de Natal a que se refere a Lei nº
4.090, de 13 de julho de 1962, com as modificações
da Lei nº 4.749, de 12 de agosto de 1965. (Vide Lei
nº 13.189, de 2015)(Destacou-se)

Destarte, os reflexos em FGTS devem ser apurados com base


em todas as parcelas remuneratórias calculadas, da mesma forma como
seria caso o Reclamado tivesse pago no tempo certo em contracheque.

Ex positis, requer-se:

2 – PEDIDO

Por todo o exposto, e por ser medida de lídima justiça,


vem o Autor requerer que V. Exa. se digne em:
a) Preliminarmente, conceder ao Reclamante os benefícios
da Justiça Gratuita na primeira oportunidade em que este D. Juízo
atuar nos autos, uma vez que preenchidos os requisitos legais,
conforme os fundamentos;

b) Condenar a Reclamada ao pagamento do adicional de


periculosidade no importe de 30% sobre o salário base obreiro, em
parcelas vencidas pelo período de 03.06.2022 a 31.03.2023, e em
parcelas vincendas, a partir de 01.04.2023, tudo com os devidos
reflexos em férias + 1/3, 13º salário e FGTS, até o mês imediatamente
anterior ao de pagamento em contracheque da parcela, enquanto o Autor
se mantiver na atividade de operador de aparelho de raio-x, tudo
consoante os fundamentos e memoriais de cálculos que são parte
integrante desta exordial e cujo resumo segue colacionado abaixo:

c) Deferir honorários sucumbenciais na base de 15%


(quinze por cento), em favor de Tuma, Torres & Advogados Associados
S/S, CNPJ 22.251.184/0001-03, considerando as parcelas vencidas e
vincendas, conforme a fundamentação;
d) Considerar todas as parcelas de natureza
remuneratória deferidas como base de cálculo do FGTS, conforme os
fundamentos;

e) Determinar que, por ocasião da execução, toda e


qualquer guia de retirada seja expedida em nome da sociedade de
advogados (Tuma, Torres & Advogados Associados S/S, CNPJ
22.251.184/0001-03).

Protesta o Autor por todos os meios de provas em direito


admitidos, especialmente pelo depoimento pessoal das partes, sob
pena de confissão, juntada de documentos, inquirição de testemunhas,
exames, perícias, vistorias e tantas outras quantas forem
necessárias para prova de tudo quanto aqui afirmado.

Como de praxe, requer-se que o causídico MÁRCIO PINTO


MARTINS TUMA, OAB/PA 12.422, conste obrigatoriamente em toda e
qualquer publicação destinada ao presente processo, ainda que
substabelecidos outros advogados, sob pena de nulidade (art. 272,
§5º do CPC vigente e Enunciado de Súmula n. 427 do TST).

Dá-se à causa o valor de R$ 27.912,551, para efeitos de


custas e enquadramento no rito processual cabível.

Nestes Termos,
Pede deferimento.
Belém, 06 de abril de 2023.

ANA CAROLINA M. DE ALBUQUERQUE OMAR ALEIXO CONDE MARTINS


OAB/PA 26.487 OAB/PA 18.980

MÁRCIO PINTO MARTINS TUMA


OAB/PA 12.422

1 Para fins de arbitramento do valor da causa, consideraram-se doze parcelas do


pagamento que o Autor ora requer o pagamento (parcelas vincendas), acrescidas das
parcelas vencidas (diferenças salariais não percebidas durante o período anterior
à reclamação trabalhista + reflexos em férias + 1/3, 13º salário e FGTS), nos
estritos termos do art. 292, §2º, CPC, e consoante fórmula abaixo:

(A) Parcelas vincendas: R$ 1.129,47 * 12 = R$ 13.553,64


(B) Parcelas vencidas = R$ 14.358,91
(A + B) = VALOR DA CAUSA: R$ 27.912,55

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