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TRABALHO EVENTUAL/ INTERMITENTE/ PERMANENTE

27.01.2016|Editorial 
Muitas controvérsias ocorrem em relação a termos uma definição ou
delimitação entre exposições de trabalho em caráter eventual, intermitente ou
permanente (necessárias para emissão de parecer de insalubridade,
periculosidade e enquadramento para aposentadoria especial dos funcionários
das empresas).

Na minha atuação como médico do trabalho e perito judicial, por ocasião da


formatação dos Laudos Técnicos de Condições Ambientais de Trabalho e
parecer para aposentadoria especial, em relação ao
critério permanência considero como passíveis de serem enquadradas como
insalubres, periculosas ou com direito à aposentadoria especial as situações
nas quais haja a habitualidade de exposição. Ocorrendo situação eventual,
esporádica, que não faça parte da rotina de trabalho diária, não considero o
enquadramento. Em sendo habitual, mesmo intermitente, a leitura que faço é
de que se considera a exposição como permanente para fins de
enquadramento. A considerar nos enquadramentos as situações mensuráveis,
com limites de exposição definidos nas normativas legais, além da adoção de
medidas de proteção coletiva e individual.

Este embasamento é a leitura que faço das normativas de insalubridade (NR


15 e seus 14 anexos), periculosidade (NR 16 e seus 06 anexos), aposentadoria
especial (Decreto 3.048/ 1999 e atualizações/ Instrução Normativa INSS/ PRES
77/2015), dos artigos pertinentes da CLT e das súmulas do TST.

Na legislação em vigor, não temos uma definição única e definitiva.

Encontra-se revogada a Portaria do Ministério do Trabalho e Emprego 3.311


(1989), a qual trazia as seguintes definições: Eventual = até 30 minutos/ dia.
Intermitente = ½ - 6 ½ h/ dia. Permanente = acima de 6 ½ h/ dia.

ATIVIDADES E OPERAÇÕES INSALUBRES.


NORMA REGULAMENTADORA Nº 15.

Na Norma Regulamentadora nº 15 (NR 15/ MTE), algumas situações são bem


definidas e outras apenas subentendidas, mas com margem para diferentes
composições.

Senão, vejamos a NR 15, a qual traz em sua redação o que se segue.

15.1. São consideradas atividades ou operações insalubres as que se


desenvolvem:

15.1.1 Acima dos limites de tolerância previstos nos Anexos n.º 1, 2, 3, 5, 11 e


12;

15.1.3 Nas atividades mencionadas nos Anexos n.º 6, 13 e 14;


15.1.4 Comprovadas através de laudo de inspeção do local de trabalho,
constantes dos Anexos n.º 7, 8, 9 e 10.

15.1.5 Entende-se por "Limite de Tolerância", para os fins desta Norma, a


concentração ou intensidade máxima ou mínima, relacionada com a natureza e
o tempo de exposição ao agente, que não causará dano à saúde do
trabalhador, durante a sua vida laboral.

Acima dos limites de tolerância previstas nos anexos 01 (ruído contínuo/


intermitente), 02 (ruído de impacto), 03 (calor), 05 (radiações ionizantes), 11
(agentes químicos cuja insalubridade é caracterizada por limite de tolerância e
inspeção do local de trabalho) e 12 (poeiras minerais), significa que teríamos
limites previstos para exposição diária de 08 horas de trabalho - trabalho
permanente seria, desta forma, o habitual para a jornada diária de 08 horas.
Insalubridade considerada apenas quando ultrapassar os limites de tolerância
do trabalho permanente, habitual.

Atividades mencionadas nos Anexos n.º 6 (trabalho sob condições


hiperbáricas), 13 (agentes químicos - análise qualitativa) e 14 (agentes
biológicos).

No anexo 06 (trabalho sob condições hiperbáricas), o enquadramento está


implícito para a execução habitual nas situações previstas.

No anexo 13 (agentes químicos - análise qualitativa), temos uma lista extensiva


de situações para enquadramento por atividades, sem qualquer especificação
de tempo diário de exposição na maior parte dos itens nominados. Exceção
para trabalhos com exposição a carvão e silicatos (que seria para trabalhos
permanentes) e uma lista de substâncias cancerígenas (para as quais não
teríamos nenhuma exposição permitida).

No anexo 14 (agentes biológicos), temos a redação de exposição permanente


para as atividades mencionadas.

Comprovadas através de laudo de inspeção do local de trabalho, constantes


dos Anexos n.º 07 (Radiações não ionizantes), 08 (Vibrações), 09 (Frio) e 10
(Umidade).

Para radiações não ionizantes, frio e umidade, temos a redação de que a


insalubridade será comprovada através de laudo de inspeção do local de
trabalho, sem especificar tempo de trabalho - subentende-se tempo
permanente.

Para vibrações, a insalubridade será considerada através de perícia realizada


no local de trabalho, com limites de tolerância definidos pela Organização
Internacional para a Normalização - ISO, em suas normas ISO 2631 e ISO/DIS
5349 ou suas substitutas e necessidade de avaliação quantitativa. Subentende-
se que será considerada toda a jornada de trabalho.
DEFINIDAS COMO PERMANENTES: Acima dos limites de tolerância previstos
nos anexos n.º 01 (ruído contínuo/ intermitente), 02 (ruído de impacto), 03
(calor), 05 (radiações ionizantes), 11 (agentes químicos com avaliação
quantitativa) e 12 (poeiras minerais); anexo 08 (vibrações); anexo 13, apenas a
exposição a carvão, silicatos e lista de substâncias cancerígenas; anexo 14
(agentes biológicos).
SUBENTENDIDOS COMO PERMANENTES: Anexo 06 (condições
hiperbáricas), anexo 07 (radiações não ionizantes), anexo 09 (frio), anexo 10
(umidade), anexo 13 (agentes químicos com avaliação qualitativa).
SÚMULA Nº 47 DO TST.

INSALUBRIDADE (mantida) - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003

O trabalho executado em condições insalubres, em caráter intermitente, não


afasta, só por essa circunstância, o direito à percepção do respectivo adicional.

PERICULOSIDADE.
ARTIGO 193 DA CLT.

Conforme artigo 193 da CLT são consideradas atividades ou operações


perigosas, na forma da regulamentação aprovada pelo Ministério do Trabalho e
Emprego, aquelas que, por sua natureza ou métodos de trabalho, impliquem
risco acentuado em virtude de exposição permanente do trabalhador a:
inflamáveis, explosivos ou energia elétrica; roubos ou outras espécies de
violência física nas atividades profissionais de segurança pessoal ou
patrimonial; atividades de trabalhador em motocicleta.

DECRETO 93.412/ 1986.

Conforme Decreto 93.412/ 1986, é exclusivamente suscetível de gerar o direito


à percepção do adicional de periculosidade o exercício das atividades previstas
no quadro anexo a este Decreto em situação de permanência habitual; no caso
de ingresso habitual e intermitente em áreas de risco, o adicional será
proporcional ao tempo despedido; o ingresso ou a permanência eventual em
área de risco não geram adicional de periculosidade.

SÚMULA Nº 364 DO TST.

Conforme a Súmula nº 364 do TST, tem direito ao adicional de periculosidade o


empregado exposto permanentemente ou que, de forma intermitente, sujeita-se
a condições de risco. Indevido, apenas, quando o contato dá-se de forma
eventual, assim considerado o fortuito, ou o que, sendo habitual, dá-se por
tempo extremamente reduzido.

NORMA REGULAMENTADORA 16 (NR 16).

ANEXO 01 (atividades e operações perigosas com explosivos): Nenhuma


citação de tempo de exposição.
ANEXO 02 (atividades e operações perigosas com inflamáveis): Nenhuma
citação de tempo de exposição.

ANEXO 03 (atividades e operações perigosas com exposição a roubos ou


outras espécies de violência física nas atividades profissionais de segurança
pessoal ou patrimonial): Nenhuma citação de tempo de exposição.

ANEXO 04 (atividades e operações perigosas com energia elétrica): Em seu


item nº 03, traz que “o trabalho intermitente é equiparado à exposição
permanente para fins de pagamento integral do adicional de periculosidade nos
meses em que houver exposição, excluída a exposição eventual, assim
considerado o caso fortuito ou que não faça parte da rotina”.

ANEXO 05 (atividades perigosas em motocicleta): traz em seu item “d” que “as
atividades com uso de motocicleta ou motoneta de forma eventual, assim
considerado o fortuito, ou o que, sendo habitual, dá-se por tempo
extremamente reduzido” não são consideradas perigosas.

ANEXO (*) (atividades e operações perigosas com radiações ionizantes ou


substâncias radioativas): Nenhuma citação de tempo de exposição.

APOSENTADORIA ESPECIAL.

Nas considerações previdenciárias de aposentadoria especial, temos como um


dos critérios para concessão deste benefício a exposição permanente aos
agentes físicos, químicos ou biológicos considerados.

Tratam desta questão o Decreto 3.048/ 1999 e a Instrução Normativa INSS/


PRES 45/ 2010, com a seguinte redação.

DECRETO 3.048/ 1999.

Art. 64. A aposentadoria especial, uma vez cumprida a carência exigida, será
devida ao segurado empregado, trabalhador avulso e contribuinte individual,
este somente quando cooperado filiado a cooperativa de trabalho ou de
produção, que tenha trabalhado durante quinze, vinte ou vinte e cinco anos,
conforme o caso, sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a
integridade física.

§ 1o A concessão da aposentadoria especial prevista neste artigo dependerá


da comprovação, durante o período mínimo fixado no caput: (Decreto 8.123/
2013)

I - do tempo de trabalho permanente, não ocasional nem intermitente;

Art. 65. Considera-se tempo de trabalho permanente aquele que é exercido de


forma não ocasional nem intermitente, no qual a exposição do empregado, do
trabalhador avulso ou do cooperado ao agente nocivo seja indissociável da
produção do bem ou da prestação do serviço. (Decreto 8.123/ 2013).
INSTRUÇÃO NORMATIVA INSS/ PRES 77/ 2015.

Art. 276. O enquadramento de períodos exercidos em condições especiais por


exposição a agentes nocivos dependerá de comprovação, perante o INSS, de
efetiva exposição do segurado a agentes nocivos químicos, físicos, biológicos
ou associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física durante
tempo de trabalho permanente, não ocasional nem intermitente.

Art. 277. São consideradas condições especiais que prejudicam a saúde ou a


integridade física, conforme definido no Anexo IV do RPS, a exposição a
agentes nocivos químicos, físicos, biológicos ou à associação de agentes, em
concentração ou intensidade e tempo de exposição que ultrapasse os limites
de tolerância estabelecidos segundo critérios quantitativos, ou que,
dependendo do agente, torne a simples exposição em condição especial
prejudicial à saúde, segundo critérios de avaliação qualitativa.

Art. 278. Para fins da análise de caracterização da atividade exercida em


condições especiais por exposição à agente nocivo, consideram-se:

I - nocividade: situação combinada ou não de substâncias, energias e demais


fatores de riscos reconhecidos, presentes no ambiente de trabalho, capazes de
trazer ou ocasionar danos à saúde ou à integridade física do trabalhador; e

II - permanência: trabalho não ocasional nem intermitente no qual a exposição


do empregado, do trabalhador avulso ou do contribuinte individual cooperado
ao agente nocivo seja indissociável da produção do bem ou da prestação do
serviço, em decorrência da subordinação jurídica a qual se submete.

§ 1º Para a apuração do disposto no inciso I do caput, há que se considerar se


a avaliação de riscos e do agente nocivo é:

I - apenas qualitativo, sendo a nocividade presumida e independente de


mensuração, constatada pela simples presença do agente no ambiente de
trabalho, conforme constante nos Anexos 6, 13 e 14 da Norma
Regulamentadora nº 15 - NR-15 do MTE, e no Anexo IV do RPS, para os
agentes iodo e níquel, a qual será comprovada mediante descrição:

a) das circunstâncias de exposição ocupacional a determinado agente nocivo


ou associação de agentes nocivos presentes no ambiente de trabalho durante
toda a jornada;

b) de todas as fontes e possibilidades de liberação dos agentes mencionados


na alínea "a"; e

c) dos meios de contato ou exposição dos trabalhadores, as vias de absorção,


a intensidade da exposição, a frequência e a duração do contato;

II - quantitativo, sendo a nocividade considerada pela ultrapassagem dos


limites de tolerância ou doses, dispostos nos Anexos 1, 2, 3, 5, 8, 11 e 12 da
NR-15 do MTE, por meio da mensuração da intensidade ou da concentração
consideradas no tempo efetivo da exposição no ambiente de trabalho.

§ 2º Quanto ao disposto no inciso II do caput deste artigo, não descaracteriza a


permanência o exercício de função de supervisão, controle ou comando em
geral ou outra atividade equivalente, desde que seja exclusivamente em
ambientes de trabalho cuja nocividade tenha sido constatada.

Art. 279. Os procedimentos técnicos de levantamento ambiental, ressalvadas


as disposições em contrário, deverão considerar:

I - a metodologia e os procedimentos de avaliação dos agentes nocivos


estabelecidos pelas Normas de Higiene Ocupacional - NHO da
FUNDACENTRO; e

II - os limites de tolerância estabelecidos pela NR-15 do MTE.

§ 1º Para o agente químico benzeno, também deverão ser observados a


metodologia e os procedimentos de avaliação, dispostos nas Instruções
Normativas MTE/SSST nº 1 e 2, de 20 de dezembro de 1995.

§ 2º O Ministério do Trabalho e Emprego definirá as instituições que deverão


estabelecer as metodologias e procedimentos de avaliação não contempladas
pelas NHO da FUNDACENTRO.
Há muita discussão sobre definição ou delimitação entre exposições de
trabalho em caráter eventual, intermitente ou permanente. E justamente essa
definição é necessária para emissão de parecer de insalubridade,
periculosidade e enquadramento para aposentadoria especial dos funcionários
das empresas.
É muito comum o entendimento de que, em relação ao critério permanência,
são passíveis de serem enquadradas como insalubres, periculosas ou com
direito à aposentadoria especial as situações nas quais haja a habitualidade de
exposição.
Ocorrendo situação eventual, esporádica, que não faça parte da rotina de
trabalho diária, geralmente não há o enquadramento.
Em sendo habitual, mesmo intermitente, considera-se a exposição como
permanente para fins de enquadramento. Neste caso, são consideradas as
situações mensuráveis, com limites de exposição definidos nas normativas
legais, além da adoção de medidas de proteção coletiva e individual.
Este entendimento está baseado nas normativas de insalubridade (NR 15),
periculosidade (NR 16), aposentadoria especial (Decreto 3.048/ 1999, Instrução
Normativa INSS/ PRES 77/2015), dos artigos pertinentes da CLT e das
súmulas do TST. Mas, temos que frisar que na legislação em vigor, não temos
uma definição única e definitiva.
Também é importante mencionar que se encontra revogada a Portaria do
Ministério do Trabalho e Emprego nº 3.311/89, que trazia as seguintes
definições: eventual = até 30 minutos/ dia; intermitente = ½ – 6 ½ h/ dia; e,
permanente = acima de 6 ½ h/ dia. Até o momento, nenhuma outra norma foi
editada para substituir a portaria revogada.

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