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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO
APELAÇÃO CÍVEL N. 0001316-09.2013.4.01.3822/MG

RELATÓRIO

EXMO. SR.JUIZ FEDERAL UBIRAJARA TEIXEIRARELATOR CONVOCADO:

A sentença condenou o Instituto Nacional do Seguro Social – INSS a enquadrar como


especial o período de trabalho de Sérgio Luiz de Souza Oliveira de 03/12/1998 a 12/08/2009, bem
como a lhe conceder aposentadoria especial, com efeitos financeiros retroativos à data de
requerimento administrativo (12/08/2009).

O INSS apelou, sustentando que ficou descaracterizada a atividade especial, pois os


equipamentos de proteção neutralizaram o risco, fls. 199/213.

Houve contrarrazões.

É o relatório.

VOTO

EXMO. SR.JUIZ FEDERAL UBIRAJARA TEIXEIRARELATOR CONVOCADO:

Não configura qualquer nulidade a apreciação do recurso pela Câmara Regional Previdenciária
(CRP), que é presidida por desembargador oriundo do Tribunal Regional Federal da 1ª Região e composta
por outros juízes de instância inicial, convocados para julgamento pela referida Corte Recursal, nos termos
estabelecidos pelo art. 4º da Lei 9.788/1999: “Os Tribunais Regionais Federais poderão, em caráter
excepcional e quando o acúmulo de serviço o exigir, convocar Juízes Federais ou Juízes Federais
Substitutos, em número equivalente ao de Juízes de cada Tribunal, para auxiliar em Segundo Grau, nos
termos de resolução a ser editada pelo Conselho da Justiça Federal”. Esse dispositivo haure fundamento de
validade no próprio art. 107, § 3º, da Constituição Federal, segundo o qual: “Os Tribunais Regionais
Federais poderão funcionar descentralizadamente, constituindo Câmaras regionais, a fim de assegurar o
pleno acesso do jurisdicionado à justiça em todas as fases do processo”. Inexiste, pois, violação a preceitos
da LOMAN ou a princípios constitucionais, o que foi chancelado pelo plenário do Supremo Tribunal Federal
com repercussão geral:
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. PROCESSUAL PENAL. JULGAMENTO DE
APELAÇÃO POR TURMA JULGADORA COMPOSTA MAJORITARIAMENTE POR
JUÍZES FEDERAIS CONVOCADOS. NULIDADE. INEXISTÊNCIA. OFENSA AO
PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL. INOCORRÊNCIA. PRECEDENTES. RECURSO
DESPROVIDO. I – Não viola o postulado constitucional do juiz natural o julgamento de
apelação por órgão composto majoritariamente por juízes convocados, autorizado no
âmbito da Justiça Federal pela Lei 9.788/1999. II – Colegiado constituídos por
magistrados togados, integrantes da Justiça Federal, e a quem a distribuição de
processos é feita aleatoriamente. III – Julgamentos realizados com estrita observância do
princípio da publicidade, bem como do direito ao devido processo legal, à ampla defesa e
ao contraditório. IV – Recurso extraordinário desprovido. (RE 597133, Relator(a):  Min.

Nº Lote: 2019033756 - 2_0 - APELAÇÃO CÍVEL N. 0001316-09.2013.4.01.3822/MG


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APELAÇÃO CÍVEL N. 0001316-09.2013.4.01.3822/MG

RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 17/11/2010, REPERCUSSÃO


GERAL, DJe-065, p. 06/04/2011).

O juízo de origem entendeu que as provas nos autos demonstram de forma inequívoca
dos fatos; que há verossimilhança das alegações da parte autora; que há perigo de dano ao
segurado; nesse contexto, é plenamente cabível a antecipação de tutela, mesmo no bojo da
sentença, pois a medida não produz consequências irreversíveis; sua eventual revogação deflagra
a obrigação de reposição ao erário, conforme entendimento consolidado do Superior Tribunal de
Justiça, sob a lei de recursos repetitivos (REsp 1401560/MT, Rel. p/ Acórdão Ministro ARI
PARGENDLER, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 12/02/2014, DJe 13/10/2015).

Houve reconhecimento administrativo do direito do segurado ao enquadramento especial


dos períodos de 02/01/1978 a 12/02/1979 e de 17/10/1983 a 02/12/1998, conforme decisão
técnica de fls. 157.

O Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP) emitido pela Companhia Vale do Rio Doce
confirmou o trabalho do autor na função de técnico em manutenção eletroeletrônica de
equipamentos nas Minas de Timbopeba e de Alegria de 03/12/1998 a 12/08/2009, exposto a
poeira e ruído de 86dB(A) a 94,46dB(A), fls. 139/145.

De 01/12/1999 a 31/12/2000, a concentração de poeira total atingiu 12,33mg/m3,


superando o limite de tolerância de 6,67mg/m 3, não havendo informação sobre a neutralização do
risco por equipamentos de proteção, fls. 141.

De 01/01/2001 a 30/09/2002, o autor trabalhou exposto à poeira de sílica gerada pelas


atividades de mineração, fls. 142.

A sílica livre cristalizada integra o Grupo 1 (Agentes confirmados como carcinogênicos


para humanos) da LINACH (Lista Nacional de Agentes Cancerígenos para Humanos), divulgada
através da Portaria Interministerial MTE/MS/MPS 09, de 07/10/2014, o que viabiliza o
enquadramento especial, independentemente da concentração existente no ambiente de trabalho.

A presença de agente comprovadamente cancerígeno no ambiente de trabalho torna


irrelevante a informação sobre a eficácia de equipamentos de proteção, conforme Memorando
Circular Conjunto 2/DISART/DIRBEN/INSS, de 23/07/2015: “a utilização de Equipamentos de
Proteção Coletiva - EPC e/ou Equipamento de Proteção Individual – EPI não elide a exposição
aos agentes reconhecidamente cancerígenos, ainda que considerados eficazes”.

No mesmo sentido a o art. 284, parágrafo único, da Instrução Normativa INSS/PRES


77/2015: “Para caracterização de períodos com exposição aos agentes nocivos reconhecidamente
cancerígenos em humanos, listados na Portaria Interministerial n° 9 de 07 de outubro de 2014,
Grupo 1 que possuem CAS e que estejam listados no Anexo IV do Decreto nº 3.048, de 1999,
será adotado o critério qualitativo, não sendo considerados na avaliação os equipamentos de
proteção coletiva e ou individual, uma vez que os mesmos não são suficientes para elidir a
exposição a esses agentes, conforme parecer técnico da FUNDACENTRO, de 13 de julho de
2010 e alteração do § 4° do art. 68 do Decreto nº 3.048, de 1999”.

O art. 68, § 4º, do Decreto 3.048/1999 estabelece que: “A presença no ambiente de


trabalho, com possibilidade de exposição a ser apurada na forma dos §§ 2o e 3o, de agentes
nocivos reconhecidamente cancerígenos em humanos, listados pelo Ministério do Trabalho e
Emprego, será suficiente para a comprovação de efetiva exposição do trabalhador”.

Nesse sentido a posição desta Corte Federal:

APOSENTADORIA ESPECIAL. TRABALHO EM SUBSOLO. POEIRA MINERAL SÍLICA.


AGENTE COMPROVADAMENTE CANCERÍGENO. AVALIAÇÃO QUALITATIVA.

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AUSÊNCIA DE PROTEÇÃO CAPAZ DE NEUTRALIZAR O AGENTE NOCIVO. RUÍDO.


LIMITES DE TOLERÂNCIA. EXIGÊNCIA DO LAUDO TÉCNICO. CONVERSÃO. LEI
VIGENTE NA APOSENTADORIA. TEMPO COMUM EM ESPECIAL. IMPOSSIBLIDADE.
PARCIAL PROVIMENTO. 1. A caracterização do tempo de serviço especial obedece à
legislação vigente à época de sua efetiva prestação. Precedentes do STJ: REsp
1401619/RS; AgRg no REsp 1381406/SP. 2. Até a Lei 9.032/95 bastava ao segurado
comprovar o exercício de profissão enquadrada como atividade especial para a
conversão de tempo de serviço. Após sua vigência, mostra-se necessária a comprovação
de que a atividade laboral tenha se dado sob a exposição habitual e permanente a
agentes nocivos (Precedentes do STJ, REsp 1369269/PR; AgRg no AREsp 569400/RJ.
3. O trabalho no subsolo em operações de corte, furação, desmonte e carregamento nas
frentes de trabalho com exposição a poeiras minerais nocivas é considerado especial
com direito à aposentadoria especial com 15 anos de trabalho, conforme Anexo ao
Decreto 53.831/64, item 1.2.10. O trabalho em locais de subsolo afastados das frentes de
trabalho com exposição a poeiras minerais nocivas é considerado especial com direito à
aposentadoria especial com 20 anos de trabalho, conforme o mesmo dispositivo. 4. A
exposição a poeiras minerais como sílica, silicatos, carvão e asbestos é considerada
prejudicial à saúde, conforme Decreto 53.831/64, item 1.2.10; Decreto 83.080/79, item
1.2.12; Decretos 2.172/97 e 3.048/99, itens 1.0.2, 1.0.7 e 1.0.18 (REO 0001592-
32.2011.4.01.3815/MG; AMS 2005.38.00.005485-0/MG). 5. A presença no ambiente de
trabalho, com possibilidade de exposição a ser apurada na forma dos §§ 2o e 3o, de
agentes nocivos reconhecidamente cancerígenos em humanos, listados pelo Ministério
do Trabalho e Emprego, será suficiente para a comprovação de efetiva exposição do
trabalhador (Decreto 3.048/99, art. 68, § 4º, com redação dada pelo Decreto 8.123/13). 6.
Para caracterização de períodos com exposição aos agentes nocivos reconhecidamente
cancerígenos em humanos listados na Portaria Interministerial 9, de 07 de outubro de
2014, Grupo 1 que possuem CAS e que estejam listados no Anexo IV do Decreto 3.048,
de 1999, será adotado o critério qualitativo, não sendo considerados na avaliação os
equipamentos de proteção coletiva e ou individual, uma vez que os mesmos não são
suficientes para elidir a exposição a esses agentes, conforme parecer técnico da
FUNDACENTRO, de 13 de julho de 2010 e alteração do § 4º do art. 68 do Decreto
3.048/99 (IN/INSS 77, de 21/01/2015). 7. A poeira sílica livre cristalizada é
reconhecidamente agente cancerígeno (CAS 014808-60-7) e não se sujeita a limite de
tolerância, nem há equipamento de proteção individual ou coletiva capaz de neutralizar
sua exposição, como reconhecido pela autarquia e pelo MTE na própria portaria
interministerial que publicou a Lista Nacional de Agentes Cancerígenos para Humanos. 8.
Para caracterização da aposentadoria especial por exposição ao agente ruído, os limites
observam a seguinte cronologia: atividades desempenhadas até 05/03/1997 (vigência do
Decreto 53.831/64), 80 dB; atividades desempenhadas de 06/03/1997 a 18/11/2003
(vigência dos Decretos 2.172/97 e 3.048/99), tolerância de 90 dB; por fim, atividades
desempenhadas a partir de 19/11/2003 (vigência do Decreto 4.882/03), tolerância de 85
dB. Precedentes do STJ: REsp 1398260/PR; Pet. 9.059/RS. 9. A exposição do
trabalhador ao agente nocivo ruído sempre exigiu prova mediante laudo técnico, pois
demanda medição de seu nível com metodologia adequada. A apresentação do PPP, em
regra, dispensa o fornecimento do laudo, pois aquele é previsto em lei para conter todas
as informações essenciais deste. Requisito cumprido pelo segurado. 10. A lei vigente por
ocasião da aposentadoria é a aplicável ao direito à conversão entre tempos de serviço
especial e comum, inclusive quanto ao fator de conversão, independente do regime
jurídico à época da prestação do serviço (STJ, 1ª Seção, REsp 1.310.034/PR). 11. O
segurado trabalhou em mina de subsolo nas frentes de extração de forma permanente no
período de 17/03/1986 a 29/08/1995, exposto ainda à poeira mineral sílica (f. 57/59). 12.
A sentença deve ser reformada para excluir toda conversão de tempo de serviço comum
em especial, porque o segurado não adquiriu o direito à aposentadoria antes da entrada
em vigor da Lei 9.032/95, que extinguiu tal modalidade de conversão. 13. Não há direito
ao reconhecimento de atividades especiais no período de 03/08/1998 a 11/03/2010,
porque o segurado ficou exposto a ruído de 80,98 dB, abaixo, portanto, dos limites de 90

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dB e 85 dB (f. 200). 14. Não provimento das apelações do segurado e do INSS. Parcial
provimento da remessa para excluir a conversão de tempo de serviço comum em
especial. Custas e honorários mantidos conforme a sentença.A Câmara, à unanimidade,
NEGOU PROVIMENTO ÀS APELAÇÕES DO SEGURADO E DO INSS E DEU PARCIAL
PROVIMENTO À REMESSA.
(ACORDAO 00885344920104013800, JUIZ FEDERAL JOSÉ ALEXANDRE FRANCO,
TRF1 - 1ª CÂMARA REGIONAL PREVIDENCIÁRIA DE JUIZ DE FORA, e-DJF1
DATA:04/12/2017)

De 03/12/1998 a 30/11/1999 e de 01/10/2002 a 12/08/2009, a pressão sonora superou o


limite traçado na legislação previdenciária: 80dB(A) previsto no item 1.1.6 do Decreto
53.831/1964, que prevaleceu até 05/03/1997; 90dB(A), majorado pelo Decreto 2.172/1997 até
18/11/2003; 85dB(A) fixado pelo Decreto 4.882/2003, sem efeitos retroativos, segundo o
entendimento firmado pelo Superior Tribunal de Justiça em recurso repetitivo:

“(...) Controvérsia submetida ao rito do art. 543-C do CPC. 1. Está pacificado no STJ o
entendimento de que a lei que rege o tempo de serviço é aquela vigente no momento da
prestação do labor. Nessa mesma linha: REsp 1.151.363/MG, Rel. Ministro Jorge Mussi, Terceira
Seção, DJe 5.4.2011; REsp 1.310.034/PR, Rel. Ministro Herman Benjamin, Primeira Seção, DJe
19.12.2012, ambos julgados sob o regime do art. 543-C do CPC. 2. O limite de tolerância para
configuração da especialidade do tempo de serviço para o agente ruído deve ser de 90 dB no
período de 6.3.1997 a 18.11.2003, conforme Anexo IV do Decreto 2.172/1997 e Anexo IV do
Decreto 3.048/1999, sendo impossível aplicação retroativa do Decreto 4.882/2003, que reduziu o
patamar para 85 dB, sob pena de ofensa ao art. 6º da LINDB (ex-LICC). Precedentes do STJ...”
(REsp 1398260/PR, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em
14/05/2014, DJe 05/12/2014).

O Supremo Tribunal Federal não vem enxergando relevância no tema, nem ofensa direta
a preceitos constitucionais: RE 995045/PR, ARE 1008914/SP, ARE 979091/PR, dentre outros.

O art. 58, § 1º, da Lei 8.213/1991 não reclama a exibição de memória de cálculo ou
histograma para fins de avaliação do ruído, mas que o segurado apresente o formulário
identificado pela legislação previdenciária (o PPP a partir de 01/01/2004), que deve ser expedido
pela empregadora de acordo com o levantamento ambiental realizado por profissional
especializado em segurança do trabalho; não há, ainda, qualquer suspeita de falsidade ideológica
nos documentos exibidos administrativamente ou em juízo.

Não desqualifica a exposição permanente à pressão sonora o fato dos ruídos ou das
tarefas desincumbidas serem variadas: “Se não é possível aferir durante quantos minutos exatos
o trabalhador ficou exposto ao nível máximo de ruído, ou mínimo, durante sua jornada de
trabalho, também não seria justo atribuir à média apurada um caráter ocasional e intermitente, em
detrimento da afirmação lançada pelo profissional de segurança do trabalho em seus laudos
técnicos. Ainda que seja possível afirmar que o autor tenha ficado exposto a nível mínimo,
legalmente tolerado e, portanto, de natureza comum; por outro lado, é igualmente possível que o
mesmo tenha ficado durante quase toda a sua jornada de trabalho em exposição ao nível máximo
de ruído apurado, vindo, inclusive, a contribuir para uma futura perda auditiva por parte do
trabalhador” (TRF 1ª Região, AMS 2000.38.00.018287-4/MG, DJ 29/10/2008, p. 36).

O Superior Tribunal de Justiça reconhece a força probatória de laudos extemporâneos:


“(...) O fato do laudo técnico pericial ser extemporâneo, não afasta a sua força probatória, uma vez
que, constatada a presença de agentes nocivos no ambiente de trabalho nos dias atuais, mesmo
com as inovações tecnológicas e de medicina e segurança do trabalho advindas com o passar do
tempo, reputa-se que, desde a época de início da atividade, a agressão dos agentes era igual, ou
até maior, dada a escassez de recursos existentes para atenuar sua nocividade e a evolução dos
equipamentos utilizados no desempenho das tarefas...” (STJ, RESP 1408094, REL. MIN. REGINA
HELENA COSTA, DJ 07/08/2015).

Nº Lote: 2019033756 - 2_0 - APELAÇÃO CÍVEL N. 0001316-09.2013.4.01.3822/MG


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O enquadramento especial em debate não malfere o princípio constitucional da


igualdade, pois foi o próprio art. 201, § 1º, da Constituição Federal quem autorizou a adoção de
critérios diferenciados de aposentadoria para os trabalhadores expostos a agentes nocivos que
prejudiquem a integridade física.

O uso de equipamento individual de proteção nos casos de ruído não obsta o


enquadramento especial. O Supremo Tribunal Federal, em repercussão geral, ao apreciar o
Recurso Extraordinário nº 664335/SC: “apesar do uso de Equipamento de Proteção Individual
(protetor auricular) reduzir a agressividade do ruído a um nível tolerável, até no mesmo patamar
da normalidade, a potência do som em tais ambientes causa danos ao organismo que vão muito
além daqueles relacionados à perda das funções auditivas... na hipótese de exposição do
trabalhador a ruído acima dos limites legais de tolerância, a declaração do empregador no âmbito
do Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP), no sentido da eficácia do Equipamento de Proteção
Individual (EPI), não descaracteriza o tempo de serviço especial para a aposentadoria”.

O Supremo Tribunal Federal confirmou que há fonte de custeio para as aposentadorias


concedidas judicialmente, pois a previdência social se pauta na solidariedade entre contribuintes e
beneficiários e não no sistema da capitalização individual: “(...) Existência de fonte de custeio para
o direito à aposentadoria especial antes, através dos instrumentos tradicionais de financiamento
da previdência social mencionados no art. 195, da CRFB/88, e depois da Medida Provisória nº
1.729/98, posteriormente convertida na Lei nº 9.732, de 11 de dezembro de 1998. Legislação que,
ao reformular o seu modelo de financiamento, inseriu os §§ 6º e 7º no art. 57 da Lei n.º 8.213/91,
e estabeleceu que este benefício será financiado com recursos provenientes da contribuição de
que trata o inciso II do art. 22 da Lei nº 8.212/91, cujas alíquotas serão acrescidas de doze, nove
ou seis pontos percentuais, conforme a atividade exercida pelo segurado a serviço da empresa
permita a concessão de aposentadoria especial após quinze, vinte ou vinte e cinco anos de
contribuição, respectivamente...”(ARE 664335, Relator(a):  Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, DJe-
029, p. 12-02-2015).

Eis os períodos passíveis de enquadramento especial: de 02/01/1978 a 12/02/1979, de


17/10/1983 a 02/12/1998 e de 03/12/1998 a 12/08/2009. O somatório supera vinte e cinco anos, o
que assegura a concessão da aposentadoria especial, nos termos do art. 57 da Lei 8.213/1991,
cujos efeitos financeiros devem remontar à data do requerimento administrativo.

A permanência do trabalhador em atividades sujeitas a condições especiais após o


requerimento administrativo não obsta o pagamento de diferenças pretéritas; a diretriz
estabelecida no art. 57, § 8º, da Lei 8.213/1991, tem a finalidade de proteger o trabalhador, que
não pode ser deturpada para frustrar o pagamento de diferenças devidas pelo ente previdenciário
que ilegitimamente lhe negou o gozo da aposentadoria especial.

Pelo exposto, NEGO PROVIMENTO à apelação e à remessa oficial.

É como voto.

JUIZ FEDERAL UBIRAJARA TEIXEIRA


RELATOR CONVOCADO

Nº Lote: 2019033756 - 2_0 - APELAÇÃO CÍVEL N. 0001316-09.2013.4.01.3822/MG

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