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GETULIO VARGAS

DISCURSOS
JANEIRO - JUNHO 1951

55"

AGÊNCIA NACIONAL

MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E NEGÓCIOS INTERIORES

Rio de Janeiro - BRASIL


J A N E I RO- J U N H

1 9 5 2
Acham-se aqui reunidos os discursos que o Presidente Ge_
túlio Vargas proferiu no primeiro semestre de 1952» Em todos eles
abordou o Chefe do Governo problemas da mais palpitante atualidade
e relevante importância para o paÍ34 Não se limitou aexpôr os gran
dês postulados do seu programa e o êxito corn que o mesmo vera sendo
concretizado. Fixou, COEI segurança, as diretrizes a serem seguidas
para que a nossa Pátria atinja a plenitude dos seus destinos histó_
ricos. Traçou os planos de ação que deverão converter em esplendi^
da realidade tudo aquilo que representa os sonhos patrióticos do pás
sado e que se traduz em tantas consagradoras conquistas do presente.
O primeiro discurso que figura nesta coletânea e o de
l de janeiro, no almoço de confraternização das Forças Armadas. Nes_
sã oração o Presidente Getulio Vargas definiu e exaltou o papel do
I
Exército, da Marinha e da Aeronáutica: "l.íanter a ordem, servir ao
país, dando-lhe as garantias de segurança e tranqüilidade para tra
talhar e produzir, defendê-lo dos ataques e da cobiça do estrangei_
ro - essa a grande missão das instituições militares. Com elas ha.
de colaborar sempre o meu Governo, no interesse de manter a organi_
zação legal do país e as instituições juridicamente estabelecidas,
que só poderá e só devem ser modificadas dentro das normas fixadas
pela própria Constituição. Este é o meu propósito firme e inabalá_
vel, que ora vos reafirmo e que paira soberano sobre as aleivozias
e intrigas dos boatelros inveterados e tradicionais inimigos da
tranquili dade públi ca".
No discurso de 8 de abril, através do programa radíofô_
nico "A Voz do Brasil", da Agência Nacional, o Presidente Getulio
Vargas conclamava o povo brasileiro para a batalha da produção agrá_
ria. Ressaltava as pricipais questões vinculadas a esse magno te_
ma: A insuficiência da produção, era flagrante desacordo com as cres_
centes necessidades das nossas populações, a urgência indissimuláwl
do problema que assim se apresentava, os objetivos do programa de
ação elaborado e posto em prática pelo Governo, o seguro agrícola,
os preços mínimos e o redesconto, a necessidade da execução imedia_
tá de um plano de mecanização da lavoura, as exigências da melhoria
do sistema de transportes, o adiantamento dos estudos da reforma a_
grária.
Em 17 de abril era inr.ugarada a V Conferência dos Esta_
dos da América membros da Organização Internacional do Trabalho.
O Presidente Getulio Vargas pronunciava então um discurso om que pu
nha em relevo as generosas e sábias finalidades da política de pro_ pafa, ressaltou que naquela hora estava sendo cumprida a promessa
teção às classes trabalhistas e, referlndo-oe ao que nesse sentido que fizera no desenvolvimento da sua campanha de candidato em 1950,
já realizamos entre nós, afirmava: "Ha mais de vinte anos que a obra e precisamente em discurso pronunciado na capital mineira, de que
legislativa de proteção ao trabalho encontra, no Brasil, um campo e_ tudo faria para dar ao Brasil uma segunda Volta Redonda, a qual, prp_
norme de aplicação e de experimentação cotidiana. Construímos, nês_ vavelmente, seria em Minas Gerais.
se período, uma das mais avançadas e mais completas legislações trsi Os três últimos discursos que reunimos nesta coletânea
balhistas de todo o mundo, numa atmosfera de salutar compreensão e são os proferidos pelo Presidente Getulio Vargas em 22 e 2J de ju
colaboração entre o Governo e as classes produtoras - tanto estaa co nho de 1952 em Joazeiro e Candeias, na Bahia. Era-lhe ali proporci_
mo aquele empenhados em assegurar aos trabalhadores do nosso país onada a oportunidade de contemplar os resultados da sua política de
uma existência digna, alicerçada na independência econômica e na i_ redenção do Nordeste e de solução do problema do petróleo. O plano
gualdade de oportunidades". da incorporação do Vale do São Francisco à economia brasileira já se
Era ainda a reivindicação das conquistas dessa grande £ traduzia em confortadora realidade. Naquelas terras redimidas esta
bra de justiça social que o Presidente Getulio Vargas f a z i a no seu vá sendo lançado "um vasto programa de fixação do homem a um solo
discurso de l de maio, na magestosa concentração dos trabalhadores já não mais ingrato e inhóspito, mas tornado capaz de recompensar
no Estádio do Vasco da Gama, no qual preconizou a mais ativa parti_ fartamente o esforço do braço que o cultivar". Salientando êssepon
cipação dos trabalhadores no Governo, "em correspondência com o gran to no primeiro discurso, insistia o Presidente Vargas no segundo
de papel que desempenham na evolução econômica e social do nosso tem discurso, também em Joazeiro, aôbre o que signiflcavao programa em
pó" e mediante a mais adequada integração doa sindicatos nos direi_ execução: "O Nordeste inteiro ha-de crescer e enriquecer-se, com o
tos e nas tarefas que lhes competem, o que permitirá o iniprsscindí_ grande impulso industrial que partirá dessa obra gigantesca, sonho
vel e mais íntimo e permanente contacto dos poderes públicos com os de muitas gerações e esperança de numerosas populações, que ainda
líderes de todas as classes sociais, "não só para que o povo defenda hoje se debatem com dificuldades e entraves de toda a sorte. Um np_
os seus interesses, mas também para que exponha as suas críticas". vo ímpeto civilizador há-de brotar das águas do São Francisco, con
Os problemas a que se acha condicionado o desenvolvimen quistadas pela firme vontade do homem; dias melhores, de fartura,
to da pecuária foram abordados no discurso de 3 de maio, por ocasi_ de tranqüilidade, de trabalho fecundo e de bem-estar social hão-de
ao da inauguração da XVIII Exposição-Feira Agro-Pecuária de Ubera nascer no vale imenso, que foi uma dádiva e um desafio da natureza
ba. "De extrema relevância é o papel da pecuária na economia nacio bravia à coragem, à tenacidade e ao heroísmo da nossa gente". E no
nal - frizou então o Presidente Vargas. - Dela depende uma parte terceiro discurso, em Candeias, depois de recordar que uma das pági
primordial do bem-estar e da subsistência do povo. E a sua impor nas mais notáveis da história econômica do Brasil foi escrita ali,
tancia só tende a aumentar, à medida que se eleva o padrão de vida no Recôncavo baiano, quando, em janeiro de 1939» Jorrou petróleo daa
e crescem as necessidades alimentares do homem brasileiro". entranhas do solo pátrio, após uma incansável pesquiza de vários de_
Ainda no mesmo mês de maio voltou o Presidente Getulio cenios, e que ao seu Governo tinha cabido a glória de haver realizti
Vargas a focalizar mais vau dos nossos grandes problemas,o do apare do esse descobrimento, reafirmou os princípios e os ideais que ins
lhamento industrial do Brasil para a conquista da nossa emancipação piram a política do seu Governo em relação ao problema do petróleo,
econômica. Poi o que fez ao falar no lançamento da pedra fundamen o qual, quando for posta em pratica a solução já encaminhada, há-de
tal das Indústrias Mannesmann, em Belo Horizonte, no dia 31. Depois preservar integralmente os interesses nacionais.
de lembrar a portentosa realização que foi a construção da Usina de
Volta Redonda, marco decisivo da criação da grande siderurgia no
DISCURSO PRONUNCIADO PELO PRESIDENTE
GETULIO VARGAS, NO ALMOÇO DE CONFRA-
TERNIZAÇÃO DAS PORCAS ARMADAS, EM

5 - l - 1952
A MISSÃO DAS PORCAS ARMADAS

"Senhores Oficiais Generais


Senhores Oficiais das Forças Armadas

A minha presença, neste ato âe confraternização das clas_


sés militares do país, não é simplesmente uma formalidade protoco_
lar, mas traduz uma íntima e real comunhão de propósitos e idepis,
que traz à lembrança ocasiões similares do outro período do meu Go_
vêrno, em que juntos aqui estivemos, num testemunho público da nos_
sã mútua colaboração na defesa dos supremos interesses da Pátria.
Além disso, sinto-me a vontade entre vós. Porque, no
acervo de serviços que posso ter prestado ao meu país, creio poder
destacar, com especial relevo e mesmo com legítimo orgulho,os esfor
ços que consagrei ao reaparelhamento do Exército e da Armada, e à
criação da Aeronáutica. Encontrei as forças de terra, e sobretudo
as do mar, dosde longos anos na dependência de uni material obsole_
to e deficiente, que não permitia a formação de reservas adequadamen
te instruídas, nem o preparo técnico e aperfeiçoamento profissional
dos quadros. Bnpenhei-me em liberta-las dessa dependência, propor
cionando às Porcas Armadas um equipamento moderno e eficaz, que lhes
permitisse preencher melhor a sua missão precípua de defender o sp_
Io pátrio e as suas instituições livres. Pelos mesmos motivos, cri_
ei uma Força Aérea autônoma e poderosa, sem as pelas que lhe impu
nha forçosamente a sua antiga divisão em duas frações heterogêneas,
com a subordinação administrativa a outras forças.
Dentro das possibilidades financeiras do pais, procurei
dedicar ao reaparelhamento das Porcas Armadas o máximo de recursos
compatível com uma sadia política orçamentária. E os resultados ai
estão, patenteados pela atividade das fábricas e dos arsenais e pe_
Io novo sopro de vitalidade e de entusiasmo que se espalhou pelo Exér
cito, pela Marinha e pela Aeronáutica.
Iniciei e reativei a construção do nosso parque de in
dústrias de guerra e é meu propósito crear novos campos de expansão
para a fabricação de armamento e todos os ramos de produção destina
dos a fins militares. Nesse momento o Governo está projetando uma lhamento, maa também um melhor enquadramento das instituições mili_
setAinda expansão da Usina de Volta Redonda de modo a elevar para um tares.
milhão de toneladas a sua atual capacidade de produção. Antes da reorganização geral das forças armadas, cujos
Mais ainda que a renovação material, foi característica projetos estão sendo ultimados, já foram fixados os efetivos dos
de toda uma época a fecunda transformação intelectual e doutrinária quadros de oficiais das Armas e Serviços do Exercito, e, ainda há
das classes amadas. E foi privilégio meu acompanhar o crescimento poucos dias, tive ocasião de sancionar a lei que estabelece os efe
de uma geração de chefes militares de excepcional valor, dotados de tivos dos oficiais dos vários Corpos e Quadros da Marinha de Guer
elevado padrão de cultura profissional, animados de um espírito de rã. Sancionei igualmente a lei que visa prover fundos para a ren£
realização e de zelo esclarecido, que imprimiram às instituições ar_ vação da Marinha de Guerra, fundos esses que serão aplicados na prp_
madas ura cunho inteiramente novo de progresso e de eficiência príti^ porção de 60% para a construção e modernização de unidades e 1|.0$ pá.
ca - o único que poderia atender às realidades da vida contemporâne_ rã o desenvolvimento das bases, estaleiros, estabelecimentos fabris
a e aos imperativos que. estas impõem à estrutura moral e material e escolas, que constituem a infra-estrutura da Esquadra, notadamente
da nossa defesa. a Base Naval de Aratú, na Bahia, o dique e oficinas de Yal-dc-cães,
Privilégio meu foi também o de ter enviado aos campos no Pará, a Fabrica de Artilharia e Torpedos e os vários centros de
de batalha da Europa a gloriosa Força Expedicionária Brasileira, que formação e de adestramento de pessoal.
pôde onibrear com as veteranas tropas dos velhos impérios guerreiros A Força Aérea Brasileira, onde se criou, no ano findo,
e cujas brilhantes vitórias foram o prêmio não só dá bravura da nos_ o Gomando de Transportes Aéreos, com o objetivo de permitir a moder_
sã gente, mas também da competência técnica e alta capacidade pró nizaçao dos transportes militares, segundo os ensinamentos da últi_
fissional dos seus instrutores e chefes. ma guerra, prepara-se este ano, para iniciar ou prosseguir obras de
Hoje, não é mais apenas a fortuna das armas, disputada grande vulto em diversos aeroportos, especialmente nos de Manaus,
na peleja, que confere a vitoria: esta se inclina para a Ilação que Campo Grande, Porto Alegre e Belo Horizonte.
soube, com mais sagaz presidência e pertlnaz energia, mobilizar a Outros problemas básicos, ainda, vem sendo objeto de co_
totalidade das suas forças vivas, organizar o seu poderio econômico gitações e estudo: entre eles, a definição das atribuições do Coman
e criar os parques industriais onde os exércitos em campanha vão do nos vários escalões e o estabelecimento das responsabilidades
buscar o próprio alento que os anima, correspondentes. Acham-se em curso, também, no Congresso Nacional,
Por isso, devemos encarar também como questão básica pá. ou em vias de encaminhamento a sua apreciação, os projetos de novo
rã a defesa nacional o aparelhamento econômico e industrial do país, Estatuto dos Militares e das leis do Serviço Militar, de inatividsi
em que sempre se empenhou - e com firmeza inabalável - o meu Gover_ de e de promoções.
no. Por outro lado, as mesmas considerações que, no meu Go_
Reeleito pelas forças populares da Nação, minhas vistas verno anterior, despertaram a ininlia atenção para a necessidade de
se voltara:?, de novo para as Porcas Armadas, e o desejo de robusteeê_ proporcionar a todos os militares, do simples soldado ao oficial ma_
Ias, modernizá-las e aparelhá-las para os novos progressos da arte is graduado, um padrão de vida consentâneo com as exigências profis_
da guerra se renovou em mim, com a mesma intensidade e a mesma pe£ sionais e com a representação social de cada um, me inspiram hoje o
sistência de outros tempos. desejo de proceder, o mais rapidamente possível, ao exame e estudo
Recomeçando a tarefa da renovação militar do país, nes dos dispositivos do código de Vencimentos e Vantagens dos Militares
te ano que acaba de transcorrer, prosseguiu o meu Governo nos estu que ainda precisam ser revistos, quer para definir melhor e mais
dos e projetos necessários a esse objetivo, tendo em vista não só claramente certas situações, quer para corrigir desigualdades já ré
mente a reorganização geral das Porcas Armadas e seu melhor apare_ conhecidas no tratamento de casos específicos.
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tambem corresponde aos interesses e aspirações comuns dos povos ame


Estas e outras iniciativas poderão atualizar as necessi_
ri canos *
dades e a preparação técnico-profissional das classes armadas, man-
Somos um país pacífico. Desejamos a paz e dela precisa
tendo-as em condições de poderem cumprir os seus mais altos compr£ mos, para consolidar o nosso progresso. Mas não podemos, nem deve
missos com a Pátria. Manter a ordem,servir ao país, dando-lhe as
mos abandonar, por um instante siquer, os nossos esforços de prepa
garantias de segurança e tranqüilidade para trabalhar e produzir; ração e adestramento para a guerra. Da nossa fortaleza militar de
defendê-lo dos ataques e da cobiça do estrangeiro - essa a grande pendem a nossa tranqüilidade e a nossa própria subsistência como Na
missão das instituições militares. Com elas há-de colaborar sempre çao livre.
o meu Governo, no interesse de manter a organização legal do país e
E esta afirmativa tem um sentido mais amplo e mala gra
as instituições juridicamente estabelecidas, que só podem e só de_
vê, se meditarmos em que os nossos inimigos não estão apenas no ex
vem aer modificadas dentro das normas fixadas pela própria Constitui
terior, nos eventuais agressores a serviço de um imperialismo em ex
cão. Este é o meu propósito firme e inabalável , que ora vos reafir_
pansão: também estão aqui, dentro das nossas fronteiras,infiltrados
mo e que paira soberano sobre as aleivosias e intrigas dos boatei_
por toda a parte, aguardando o momento propício para disseminar su
ros inveterados e tradicionais inimigos da tranqüilidade publica.
as sementes de desagregação, a serviço de ideologias e de ambições
Em primeiro plano, na ordem dos compromissos sagrados
que a maioria da Nação repele. Contra esses inimigos internos, sp_
das Forças Armadas, está a defesa da Pátria, do seu patrimônio mate_
lertes e insidiosos, também devemos estar vigilantes. Combatê-los
rial e moral, da sxia integridade territorial, da sua independência
é, aem dúvida, um dos sagrados compromissos das Porcas Armadas para
política e econômica e das suas instituições. Era segundo lugar, in
com a Pátria.
cumbe-lhes defender o continente americano contra quaisquer invaso_
Mas não bastam os recursos das armas: são igualmente ne_
rés eventuais, pois os interesses mútuos das nações deste continen
cessárias novas leis sociais, capazes de cortar pela raiz as ori
te são comuns ao Brasil e a subsistência da nossa Pátria esta na de_
gens do mal e reparar as injustiças causadoras de revoluções. O Go_
pendência imediata da integridade continental e da estabilidade po_
verno tem a firme convicção de que se impõe o aperfeiçoamento cons
lítica e econômica de todo o hemisfério. Finalmente, são as nossas
tante de uma justiça social e de uma ordem social, onde sejam eficaz^
Forças Armadas os instrumentos de ação com que contamos para cum
mente eliminados os argumentos de uma propaganda e de um credo, que
p r l r os nossos compromissos internacionais, especialmente os que as_
só prosperam onde ha miséria, fome, padecimento e desigualdades cho_
surtimos como membros da Organização das Nações Unidas. Esses três
cantes na condição dos homens. Os processos de exploração do trabti
objetivos, dispostos na ordem de prioridade que acabo de e.nunciar,
lho, que não cogitam de justa repartição dos seus frutos, também
restunem a missão precípua das nossas instituições militares.
constituem séria ameaça à segurança nacional. Esta exige, para sua
Não será preciso lembrar, também, que a nossa tradição
plena garantia, um combate sem tréguas à miséria, à ignorância, ao
histórica e os nossos interesses políticos e econômicos nos movem
sofrimento e à opressão.
hoje, como nos moveram sempre, a uma política de estreita colabora
Na ordem interna, repito, a função das Porcas Armadas e
çao coin os Estados Unidos da América. E isto reforça, tornando mais
servir ao país, dando-lhe as necessárias garantias de segurança e
fácil, a nossa política de cooperação e amizade com os outros paí_
tranqüilidade, defendendo a organização institucional da Republica
sés da América.
e o regime estabelecido. Alheias ás divergências políticas dos par
Precisamos estar preparados militar, econômica e finan
tidos, sem se deixarem arrastar pelo jogo de interesses ou pelas
ceiramente, para enfrentar as necessidades da nossa própria defesa,
paixões que são prejudiciais à coesão, à disciplina e às próprias
como do continente americano se assim o exigirem as circunstâncias. virtudes militares, as Forças Armadas têm sabido encontrar estímulo
Os compromissos de assistência mutua, nas obras de paz
e inspiração, durante os períodos mais fecundos da existência da
como nos esforços de cooperação armada, impõem-nos esta atitude que
Pátria, no seu próprio labor profissional e no empenho de aperfelço
ar as suas próprias instituiçó*es para o cumprimento das suas altas
finalidades.
Senhores Oficiais
A segurança e a felicidade da Pátria exigem de todos os
brasileiros uma inabalável coesão, uma dedicação sem limite ao inte_
resse público e a firme vontade de fazer do nosso país uma Nação
forte e próspera, capaz de assumir, no conceito internacional, o lu
gar de relevo a que tem direito. DISCURSO PRONUNCIADO PELO PRESIDENTE
De todas essas qualidades e virtudes, estou certo, são GETTJLIO VARGAS, HA INSTALAÇÃO DA
as nossas Porcas Armadas, agora como no passado, exemplo vivo e mo_
V CONFERÊNCIA DOS ESTADOS DA AMERICA,
delar.
Levanto a minha taça, pela felicidade pessoal de todos NO DIA 17-14-1952
vós, pela maior glória do nosso Exército, da nossa Marinha de
ra e da nossa Porca Aérea, e pela grandeza do Brasil!"
A CONFERÊNCIA DOS ESTADOS DA AMÉRICA
MEMBROS DA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO

"Senhores Delegados:

Sente-se o meu país sumamente honrado com a escolha des_


tá cidade brasileira para a sede da V Conferência dos Estados da Atn£
rica membros da Organização Internacional do Trabalho. Em nome do
Governo e do povo do Brasil eu vós saúdo confiante no êxito da obra
que vindes realizando e trazendo-vos também a certeza de que aoha_
reis da nossa parte todas as facilidades necessárias à execução de
vossa tarefa.
Consagrada ao estudo e ao debate de importantes ques_
toes, relacionadas com o desenvolvimento do Direito Spcial, esta Con
ferência constitui, para nós, motivo de orgulho, de estímulo e de
especial contentamento.
Ha mais de vinte anos que a obra legislativa de prote_
cão ao trabalho encontra, no Brasil, um campo enorme de aplicação e
de experimentação cotidiana. Construímos, nesse período, uma das
mais avançadas e mais completas legislações trabalhistas de todo o
mundo, numa atmosfera de salutar compreensão e colaboração entre o
Governo e as classes produtoras - tanto estas como aquele empenh^
dos em assegurar aos trabalhadores do nosso país uma existência dig
na, alicerçada na independência econômica e na Igualdade de oportu
nldades.
Senhores Delegados.
Entre os temas, de repercução universal, que aqui viés_
tes debater, alguns despertam o nosso particular interesse, e cor
respondem a preocupações imediatas de nosso próprio ambiente traba_
Ihista. Citarei entre eles os que se refeíem ao planejamento da
Previdência Social, aos sistemas de remuneração dos trabalhadores
intelectuais, e, muito especialmente, à aplicação e fiscalização da
legislação social na agricultura. A investigação, o estudo e a
solução desses problemas são, para nós como para o mundo inteiro, da
maior importância, e correspondem a um anseio geral das massas tra
balhadoras.
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Esperamos que a Organização Internacional do Trabalho, social, a concessão de aposentadorias com salário integral. Bn uma
que tem sabido realizar as suas nobres finalidades com prudência e palavra, procuramos cercar os trabalhadores de todas as garantias
tenacladade admiráveis, e que tem sempre contado com o apoio do Bra_ possíveis, contra a instabilidade, a miséria, o desemprego, a inva
sil, nos ofereça agora, com a conclusão dos vossos estudos, suges_ lidez, a ignorância, as enfermidades e as privações. Não foram pe_
toes capazes de ser aproveitadas na nossa legislação social - espe_ quenas as dificuldades que tivemos de vencer para operar essa tran
cialmente na legislação social rural, em cujo desenvolvimento está, sicão duma democracia política em que predominavam as fôrmas indivi_
neste momento, particularmente empenhado o meu Governo. dualistas para uma democracia social em que começou a encontrar ex
A legislação brasileira do Trabalho e da Previdência So_ pressão a consciência de classe e a se desenhar a ação das forças
ciai é das mais avançadas do Mundo, e se reveste de particular sig_ coletivas tendendo a uma nova fôrma de estruturação econômica. Lon
nificação, se considerarmos que foi obtida sem entrechoques de clas_ go e às vezes penoso foi o caminho percorrido; mas, hoje em dia, pp_
sés, sem lutas e sem violências. As reformas sociais, neste paín, demos apontar com orgulho a extensão dos progressos realizados no
não foram conquistadas á custa de imposições diretas ou apelos a sentido da proteção e segurança do proletariado urbano. Neste momen
desordem, não foram arrancadas à relutância dos governantes pela pre£ to, está procurando o meu Governo estender essas mesmas garantias
são das massas trabalhadoras: elas surgiram espontaneamente de um aos trabalhadores rurais.
nobre e generoso impulso, partiram de uma nítida e sincera compreen A disparidade de tratamento entre o trabalhador rural e
são das necessidades dos trabalhadores, trazidas que foram no bojo o trabalhador urbano tem conseqüências múltiplas e graves. Uma de_
da revolução de 1930, esse grande movimento renovador que veio trans Ias é o êxodo rural, a fuga dos campos para as cidades que, no Bra
formar radicalmente os métodos de governo e o clima político no Bra_ sil, tem assumido aspectos bastante sérios e reclamando providenoi^
sil. A revolução de 1930 inscreveu nos seus estandartes, como um as que não podem mais ser proteladas. Esperamos que, noa debates
de seus postulados básicos, a Justiça Social e a melhoria, das condi_ desta Conferência, em cujo temário figura o estudo da aplicação e
ções de vida das massas trabalhadoras: uma vez vitoriosa, ela mar controle da Legislação Social na agricultura, apareçam sugestões oa
chou ao encontro das reivindicações latentes, mas às quais haviam pazes de ser imediatamente utilizadas pelo meu governo, no inter«s_
sido negados até então os meios de expressão. O Governo se antecl_ se da população rural deste país.
pou aos reclamos, auscultou as necessidades dos humildes e dos sim Não é fácil a tarefa de legislar para o trabalhador ru
pies, despertou paulatinamente a egoísta apatia das classes privile_ ral, dado o caráter específico das atividades agrárias e considera
giadas, para criar enfim, ao lado da estrutura das leis sociais, uma das as diferenças entre as várias regiões e áreas de cultura. A a
nova consciência publica, que pouco a pouco penneiou e penetrou to_ gricultura não comporta uma legislação social rígida, embora tenha
das as camadas da Nação, até criar e impor de modo indiscutível a princípios de aplicação uniforme. ELa exige nessa legislação uma e_
noção e o respeito dos direitos dos trabalhadores. lasticidade suficiente para adaptar-se às características próprias
A nossa legislação consagrou sucessivamente os princí^ dos diversos meios em que tem de ser aplicada. Ê o qnie ensinam os
pios da estabilidade no emprego, do repouso semanal remunerado, das próprios textos fundamentais da Organização Internacional do Trabs.
férias anuais, da proteção à maternidade e à infância, da limitação lho qiie, apezar de visarem a uniformidade legislativa universal, re_
das horas de trabalho, da garantia contra as conseqüências dos aci_ conhecem a inevitabilidade das divergências de aplicação regional ao
dentes profissionais e contra os riscos nas industrias insalubres, admitir que se deva sempre levar em conta o clima, o solo, a ordem
da aposentadoria, do seguro social obrigatório, da assistência médl_ econômica, a produção particular de cada país, assim como as peouli.
ca, do direito à casa própria, do aperfeiçoamento profissional e cul aridades do meio social onde se aplicarão.
tural, do foro especial para os litígios trabalhistas. É objeto de Particularmente delicados são esses problemas de adapta
cogitação no momento, para completar o nosso sistema de previdência çao em um país como este que apresenta a mais variada configuração
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gêo-econômica, mercê da diversidade de climas e de solos através de momento, enfim, acha-se em curso no Congresso um Projeto de Lei crl_
sua vasta extensão territorial, criando por sua vez tipos diversos ando o Serviço Social Rural, que se destina a propiciar a formação
de relações econômicas e humanas. Nesse matizado de aspectos locais de condições de bem-estar e facilidades educacionais para as popula
de atividades trabalhistas, impera porém uma lei geral, que é a pre_ ções dos campos.
ponderância da agricultura como força econômica e social, provando Empenhados como estamos em um esforço de redenção das
o salário de fQ^ dos nossos trabalhadores. massas trabalhadoras, a fim de libertar a Nação de odiosas diacrlml_
Ê de ver do nosso interesse no temário desta Conferên nações, muito esperamos de vossa operosidade em definir princípios
cia, do nosso vivo empenho em receber sugestões que nos permitam a.1 e normas capazes de acelerar, aqui como no mundo inteiro o processo
cançar mais depressa ou mais facilmente aquilo que hoje se apresen da evolução que virá eliminar nos campos como nas cidades os últimos
tá como um objetivo governamental e nacional de primeiro plano; ex vestígios da opressão econômica, da exploração do homem pelo homem
tender efetivamente ao trabalhador dos campos os benefícios tangíveis e das desigualdades sociais.
da legislação social que já protege o proletário das cidades, fixar O Brasil, meus Senhores, orgulha-se em ter sido uma das
o homem ao solo por laços de legítimo e bem compreendido interesse, Nações pioneiras na aplicação dos princípios preconizados pela Orga
modificar os métodos de trabalho e as relações econômicas da vida nização Internacional do Trabalho, quer a título unilateral, em obe_
rural, criar condições de existência digna e próspera. diência às diretrizes de sua própria política social, quer em obaer
É nesse terreno que nos resta ainda o maior esforço a vância ao disposto nas várias Convenções e Acordos Internacionais de
desenvolver. TJma nova fase revolucionária se impõe a nós, uma revo que foi -co-signatário. Sempre pronto a seguir a experiência univer
lução pacífica mas de transcendente importância, no sentido de uma sal em questões trabalhistas, e não raro havendo-se antecipado e ser
reforma agraria que venna enfim libertar de sua secular servidão os vido de modelo às conquistas da Legislação Internacional, o Brasil
trabalhadores dos campos, transformar o proletário rural em proprie levou este espírito de largo ecletismo ao império de suas próprias
tário rural, pela repartição das terras públicas e pela eliminação leis do trabalho, no processo de sua aplicação, não distinguindo en
gradativa de uma fôrma retrógrada e nociva de feudalismo latifundiií tre nacionais e estrangeiros a repartição dos benefícios da legisla
rio, que mantém desertas e improdutivas vastas extensões de terras, cão social, nem na proteção oferecida pelas autoridades brasileiras.
virgens e ricas. Não é possível que por mais tempo aquele cujo Ia A nossa bandeira cobre por Igual aos naturais do país e aos allení_
bor arranca da terra a riqueza da Nação e o sustento geral continue genas que nos vem trazer o concurso de seus braços e de sua inteli_
carecendo de tudo em meio da opulencia nascida do trabalho de seus gância para construir o que será amanha a Pátria comum de nossos fi_
braços, e não possuindo um palmo dessa terra que fecunda com o seu lhos.
esforço. Precisamos estabelecer um sistema menos injusto de distri_ Senhores Delegados:
buiçao dos frutos do trabalho agrícola, e levar aos campos um pouco Trago-vos as boas vindas do Governo e do povo do meu pá
da esperança e do conforto que já alentam os trabalhadores das ei da ís, fazendo votos pelo êxito integral dos vossos propósitos e de vo_s
dês. Espero dentro em pouco poder anunciar a conclusão dos estudos sós trabalhos. Esperamos que a boa vontade e o sadio idealismo da-T
deumaLei Agraria, visando a regulamentação dos trabalhos nos campos, nações aqui representadas, auxiliadas pelos esforços da Organização
a disciplina dos contratos coletivos, a distribuição das terras de Internacional do Trabalho, possam contribuir, de maneira eficaz e
volutas, o maior parcelamento dos latifúndios, a fixação ao solo das decisiva, para a melhoria das condições econômicas e do bem-estar
populações camponezas, a criação de núcleos coloniais em torno dos dos trabalhadores de todo o mundo e para o grande anseio da paz so_
grandes centros consumidores, o desenvolvimento e progresso das co ciai, ambição de todos os povos e objetivo de todos os governos".
munidades rurais, e principalmente uma participação maior dos traba
lhadores nos frutos e nos rendimentos da terra que cultivam. Neste
DISCURSO PRONUNCIADO PELO PRESIDENTE

GETULIO VARGAS, ATRAVÉS DO PROGRAMA

RADIOFÔNICO "A VOZ DO BRASIL", DA

AGÊNCIA NACIONAL, NO DIA 8-l).-1952


A BATALHA DA PRODUÇÃO

"Brasileiras:

O ano que findou foi de restrições financeiras e de e_


quilíbrio orçamentário. Valorizou-se a nossa moeda e conaolidou-se
o crédito do Brasil no exterior. Este novo ano será de realizações
e de empreendimentos úteis.
O aumento da nossa produção não tem acompanhado o cres_
cimento da população brasileira; e a população está crescendo mais
depressa do que a produção alimentar.
A média anual de crescimento da população brasileira é
de cerca de 3/£. A nossa produção, entre os anos de 1945 e 1950» cres_
céu na média anual de i)., 95°. Enquanto isso, o nosso consumo aumenta
na média aproximada de 9$. Essas porcentagens definem um dos aspe_
ctos mais importantes da crise econômica do país. A população bra.
sileira consome muito mais do que produz.
Confrontando, no mesmo período de 19ÍJ-5 a 1950, as quan
tidades respectivas de bens de consumo e de bens de capital, isto
é, de bens que são consumidos pelo povo pára satisfação de suas ne_
cessidades de subsistência e de conforto, e de bens que são poupa
dos, economisados, acumulados para constituir capital - veremos que
a. média anual de crescimento foi de 6,1$ para oa bens de consumo e
de 15,5$ para os bens de capital. O que significa, em linguagem £
cessível a toda a gente, que o nosso povo, nesses anos de após-guer
rã, consumiu regularmente, produziu menos e capitalizou mais.
Produção insuficiente
A nossa produção tem sido insuficiente para atender à
quantidade de bens de consumo e de bens de capital utilizados pelo p_O
vo. Este consumiu e capitalizou então, durante êssea anos de baixa
produção, à custa do que? Importando do exterior bens da consumo e
bens de capital, em proporção maior do que podia e devia faze-lo,
tendo-se em vista o volume e valor das nossas exportações.
E não tivemos apenas uma produção insuficiente para os
gastos internos. O elevado índice de 15» 5$ para o ritmo de cresci_
isento dos bens de capital, era confronto com o baixo índice do aumen
um produtor, para se transformar em consumidor, cujas exigências
to da produção, inferior a 5$» mostra que nem tudo aquilo que se c& crescem na proporção da melhoria dos seus padrões de vida.
pitalizou no Brasil foi aplicado no desenvolvimento da produção. E
Hoje convoco, pois, todos os brasileiros, para essa gi
capital não aplicado à produção significa capital amealhado em di_
gantesca batalha da produção agrária, que deve ter, como já disse,
nheiro, fonte e motivo de inflação e encarecimento da vida.
um duplo objetivo: aumentar a produção agrícola e pecuária do país
Assim, a crise da economia brasileira se desenha nítida_
e estimular a inversão de capitais no meio rural.
mente com um duplo aspecto: produção insuficiente para o consumo in
O aumento da produção se obterá pela fixação do homem
terno e insuficiente utilização dos capitais disponíveis no desen
ao campo, pela melhoria das condições técnicas das culturas, pelo
volvimento dessa mesma produção.
desenvolvimento dos transportes e do sistema de armazenamento e pré
O programa de ação que se impõe ao Governo tem que ser
servaçao das colheitas e por um financiamento que assegure um míni_
duplo: de um lado, incrementar a produção, sob todas as suas formas;
mo anual de produção agrária para os gêneros de primeira necessida_
de outro lado, estimular, de todas as maneiras, a inversão de capi_
de. A inversão de capitais na produção agrária se conseguirá, de um
tais na produção.
lado, pelo financiamento direto, feito pelo Governo, através do Ban
Já vos tenho falado a esse respeito, no que toca à nos_
co do Brasil, do Banco de Crédito Cooperativo, da Comissão de Finan
sã produção industrial, e já vos relatei, noutras ocasiões, o que
ciamento da Produção e de outras instituições de crédito; de outro
está fazendo o meu Governo para criar e desenvolver no Brasil as in
lado, pela garantia de retorno dos capitais privados aplicados ao
dustrlas básicas, essenciais à sua recuperação econômica. Hoje vim
meio rural, seja fixando preços mínimos de compra dos produtos da
tratar cie outro aspecto, igualmente fundamental, do mesmo problema:
lavoura e pecuária, seja estabelecendo o seguro agrícola.
o da produção agrícola e pecuária.
Auxí li o do_ Governo à_ agri cultura
O crescimento anual de 4» 9$> a Que me referi, diz res_ Entre os nossos estabelecimentos agro-pecuários apenas
peito à produção nacional no seu conjunto, isto é, somadas a produ 60 mil estão registrados no Ministério da Agricultura. Ê indlspensá_
cão agrária e a industrial. Mas se isolarmos a primeira, o quadro vel que todos se registrem, que todos forneçam os índices de suas
ainda é mais desolador. À exceção de apenas duas culturas básicas- necessidades, que todos peçam o auxílio do Governo, que não lhes se_
o arroz e o milho - nas quais se observou, em 1951, acréscimo de
rá negado.
rendimento por área de 1,5$ e 3$> respectivamente, sübre o ano an
Nos primeiros nove meses do ano passado, isto é, ate
terior, o restante dos produtos agrícolas vem tendo a sua produção
fins de setembro, a Carteira de Crédito Agrícola e Industrial do Ban
diminuída por unidade de área» Para 1952, a perspectiva em nada me_
co do Brasil fez 10.837 empréstimos à lavoura, no valor de 2.099 mi.
lhorou.
Ihões de cruzeiros. Também foi assegurado o redesconto, no Banco
Batalha da produção agrária
do Brasil, dos títulos provenientes de empréstimos à lavoura e à ne_
O problema se apresenta, assim, como um dos mais graves,
cuária, feitos pelos bancos particulares. E num total de 11 bilhões
devendo assumir o aspecto de uma campanha, ou melhor de uma "oa_fcalha.
e 900 milhões de cruzeiros, representando o saldo das operações ban
da produçãja, indispensável à subsistência do povo brasileiro.
cárias relativas ao crédito agrícola e pecuário, em JO de setembro
A quantidade de gêneros alimentícios, disponível para a
de 1951, 5 bilhões e 700 milhões provieram do Banco do Brasil e é
população do país, nos últimos tempos, depois de deduzida a exporta, bilhões e 200 milhões foram fornecldos pelas outras organizações
çao, e hoje menor que em períodos mais distantes da nossa história. bancárias .
Em muitos setores da produção agraria, se ainda não há real escas_ Mas nem tudo se ciove esperar do Governo, einbora incumba
sés, caminhamos para lá mais rapidamente do que se julga. Cada tra a este ampliar, como já está ampliando, o crédito agrícola nos ban
balhador tirado dos campos e trazido para as cidades deixa de ser cos oficiais. Muito necessitamos também da cooperação particular.
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produção agrária numa média anual de 10$, pelo menos no que toca
Os capitais privados precisam inverter-se na produção agrária de ma
aos gêneros alimentícios, e, para isso, devem conjugar-se os esfor
neira muito mais intensa e eficaz do que se tem invertido. Para is_
ços de J Ministérios: o da Agricultura, que superintende a produção
só, é necessário dar a esses capitais uma garantia efetiva e peram
sob todos os seus aspectos; o da Fazenda que elabora o plano de fi_
nente de retorno, que os possa estimular.
nanciaraento; e o da Viação, que cuida dos transportes.
Seguro agrícola, preços mínimos e_ redescontos
Somos uma nação de, agricultores, onde 70$ da população
Um dos alicerces dessa garantia será a instituição do s^
vive.no campo e do campo, onde a agricultura é a fonte ainda prepon
guro agrícola, cujo plano já está sendo estudado pelo Governo e que,
derante de divisas para a aquisição de bens de produção - matérias
apesar de todas as dificuldades técnicas que lhe são inerentes, es_
primas, equipamentos e produtos industriais - indispensáveis à nos
peramos possa, em "breve, converter-se em mensagem ao Congresso Na-
sã existência.
ci onal.
Ora, cabe ao Ministério da Agricultura o amparo necessá_
O segundo alicerce - este passível de execução imediata
rio aos empreendimentos que hão de permitir o aumento da produção a
- ê a garantia de preços mínimos de compra, para os produtos da Ia
grária - desde a Indicação das zonas apropriadas à expansão de de_
voura e pecuária, cuja ampliação proposta pelo meu Governo foi aprp_
terminadas lavouras, até a adoção de práticas mais adequadas de oul
vada pelo Congresso e consubstanciada na Lei n2 1.506, de 19 de de_
tivo, adubação, defesa contra as pragas, colheita e armazenagem.
zembro último. O terceiro e a extensão do sistema de redescontos pá
Mecanização das lavouras
rã os títulos provenientes de créditos concedidos à lavoura.
A mecanização lenta da agricultura ainda não bastou pa_
O quarto, será o reaparelhamento técnico e financeiro
rã superar.a queda da produção do país. De modo geral, a falta de e,
do Ministério da Agricultura. Tem figurado este Ministério, no Or
ficiente amparo técnico ao agricultor resulta de serem ainda prec£
çamento Geral da República, com apenas 5$ d.as verbas totais. Muitos
rias as condições de aparelhamento do Ministério da Agricultura e da
dos seus serviços, já organizados, não se têm podido executar a con sua carência de verbas. Durante a batalha da produção agrária, de_
tento por falta de recursos financeiros. Neste particular, apela_ verá ser feita melhor e mais intima coordenação de atividades dos
mos também para o Congresso Nacional, no sentido de que coopere com Ministérios da Agricultura e Fazenda, a fim de que as verbas desti_
o Executivo e o povo na grande batalha da produção agrária, aprovan nadas ao desenvolvimento da produção agrícola e pecuária sejam apli_
do todos os créditos que lhe foreia solicitados pelo Governo para os cadas com maior mobllidades e presteza, sem delongas burocráticas,
programas que já estão sendo elaborados e que têm por objetivo au atendendo-se a q "J tais verbas, devendo aplicar-se no interior do
mentar a produção agrícola e pecuária do país. país, nas mais variadas condições e sujeitas a fatores Imprevisíveis,
Precisamos assegurar un mínimo anual de produção, que não podem ficar condicionadas a processos administrativos morosos.
atinja, pelo menos, a media de 500 quilos por cabeça, que já foi a Nos financiamentos concedidos pelo Governo aos agrlcul_
média anual brasileira entre 1930 e 1935- A produção de carne de tores, o as-pecto financeiro deve sempre aliar-se ao aspecto técnico.
boi abatido, por exemplo, nunca deve ser inferior a 6 milhões e 500 Nenhum financiamento deverá ser concedido - salvo exceções Justifl_
mil cabeças por ano; a de arroz em casca, deve alcançar o mínimo a_ cadas - sem o pronunciamento do agrônomo, ou na sua falta, dos espe_
nual de 60 milhões de sacos; a do milho, 10é miIhões de sacos por a_ cialistas em questões dessa natureza. O gerente do banco, nas mais
no; a de feijão, 33 milhões de sacos; a de trigo, éOO mil tonela_ distantes agências do interior, e o agrônomo regional ou Itinerante,
das; a de farinha de mandioca, 20 milhões de sacos; a de açúcar, são elementos que deverão sempre agir de acordo.
35 milhões de sacos; a de café, 18 milhões de sacos; a de algodão Em onze meses do ano passado, concedeu o meu Governo fa_
em caroço, l milhão e 5°° ^ü toneladas - e assim por diante. cilidades de oambio para a importação de produtos destinados à lavou
Ess3,o nível de produção correspondente às necessidades rã - adubos, máquinas agrícolas, tratores e Inseticidas - cujo va_
mínimas de consumo do povo brasileiro. Devemos aumentar a nossa
lor ascendeu a quasi um e meio bilhão de cruzei roa. Foi a maior im Importanteo também foram os progressos realizados na
portação da história da agricultura brasileira. Basta afirmar que Amazônia pela cultura da juta, cuja safra, bem como a de fibras simi_
só no ano de 1951, o número de tratores distribuídos pelo Governo lares, já baata para atender ao consumo de nossas industrias.
foi duas vezes maior do que o total do qüinqüênio anterior. Reforma Agrária
Transportes vão adiantados os estudos da reforma agraria, que visa
Entre os aspectos capitais da batalha pelo aumento da fixar o homem do campo ao solo que cultiva, evitar as migrações pé
produção figura o plano de reaparelhamento dos portos considerado riódicas e o êxodo das populações rurais e organizar pequenas gran
indispensável à circulação e distribuição normais de nossos produtos J as de produção, próximaj aos centros de consumo. Nesse particulai)
peloa centros consumidores. O Governo vem encarando esse problema não foram poucos os encargo^ do Governo no ano passado. Haja vista
com a maior diligência e em pouco começarão a se fazer sentir os a ingente tarefa de socorrer as populações flageladas do Nordeste.
efeitos do dês congestionamento, dragagem e reaparelhamento dos por A seca de 1951 foi duplamente desastrosa: fez cair "aa_
toa, como reflexo de medidas que serão levadas a efeito em todo o sustadoramente a produção em vasta área do país e provocou o êxodo
litoral brasileiro. O projeto geral de financiamento dos planos já de muitas dezenas de milhares de trabalhadores dos campos para as
aprovados, em moeda nacional e estrangeira, compreendendo igualmen cidades.
te o reaquipamento das ferrovias e a aquisição de navios, está depen O Governo teve que abastecer de víveres as populações
dando da aprovação do Congresso Nacional. atingidas. Esse abastecimento foi feito em larga escala, tendo-se
O plano de construção de silos, armazéns frigoríficos e gasto somas vultosas. Também teve que impedir o êxodo rural, ampa_
matadouros industriais está sendo objeto de estudos da Comissão tfis_ rando e dando trabalho aos retirantes, trabalho esse que se revestiu
tá e compreende a inversão de cerca de l bilhão de cruzeiros- afora da forma de obras públicas de interesse duradouro para as regiões
o aparelhamento do transporte frigorífico marítimo. Nesse plano fo_ flageladas. A necessidade de utilizar e remunerar os braços arran
ram contempladas 22 localidades de todo o país, desde os grandes cen cados à lavoura acelerou a construção de rodovias, ferrovias, pon
troa, como oDistrito Federal, São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizon tes, açudes, canais de irrigação. Os gastos feitos pelos cofres fe_
te, ate oa portos menores. derais, quer diretamente, quer por intermédio dos Governos estadu
Adotamos a política de prioridade de transportes para os ais, para socorrer as populações desvalidas, serão assim resarcidos,
gêneros de primeira necessidade, bem como a de redução de tarifas com proveito para essas mesmas populações, pelos benefícios oriundos
para os mesmos. Núcleos de colonização serão criados nas terras ú de tantas obras de interesse público, proporcionando o aumento e o
midas do Nordeste e do São Francisco e nas vizinhanças dos centros mais fácil escoamento da produção local, e contribuindo, ao mesmo
consumidores. O Governo estimulará também a formação de "fazendas tempo, para afastar ou amenisar as conseqüências maléficas de secas
coletivas", que constituirão uma forma eficaz de associação coopera_ futuras.
ti vista e que muito contribuirão para o fomento da produção. O vulto dos socorros prestados pelo Governo Federal as
Culturas de grande importância para o abastecimento da populações do Nordeste se pode bem avaliar pelo montante das despe_
população, como a do trigo, têm sido incrementadas com persistência. sãs feitas em 1951, que foram a mais de l bilhão de cruzeiros. A
As 1^.95 mil toneladas de trigo produzidas no Brasil em 19^5 ainda abertura de canais de irrigação, permitindo o aproveitamento agríc£
não bastam para o nosso consumo. A fim de encorajar os triticult£ Ia das áreas assoladas, é outro aspecto do combate às secas que mais
rés, foram recentemente majorados em 20 cruzeiros os preços mínimos importância tem para o Nordeste.
do produto da safra de 1951/52, a serem pagos aos produtores nos por já foram, melhoradas as condições do vida do trabalhador
tos de embarque. Também um decreto de dezembro último autorizou a urbano. É preciso melhorar as do trabalhador rural, dar-lhe novas
mistura, com a farinha de trigo, de farinhas sucedâneas, na propor condições de estabilidade e de conforto, melhores salários e maior
cão de 12$.
garantia do trabalho 6 das colheitas. Todo aquele que possui um
trato de terra e não o aproveita para cultivar, pelo menos o neees_
sário para o seu próprio consumo - está contribuindo para o encare^
cimento da vida. Não se detém esse encarecimento apenas pelos pro_
cessos já apontados, em que o principal meio de ação é a máquina
do Governo; detém-se igualmente pela contribuição de cada um, evi_
tando-se o desperdício, combatendo-se os lucros excessivos, promo_ DISCURSO DIRIGIDO PELO PRESIDENTE
vendo-se a poupança entre as classes mais abastadas e a aplicação GETULIO VARGAS AOS TRABALHADORES,NO
das reservas de capital na criação de novas fontes de produção.
ESTÁDIO DO VASCO DA GAMA, A 1-5-1952
Brasileiros; Está lançada a grande batalha da produção
agrícola. Nela há de empenhar-se decisivamente o meu Governo. B
para ela também conto coma sincera colaboração de todos os brasilei_
ros, certo de que assim conseguiremos juntos um melhor padrão de vi
da para o nosso povo".
A INTEGRAÇÃO DOS TRABALHADORES Np_ PAPEL QUE
LHES INCUMBE NA DEMOCRACIA BRASILEIRA

"Trabalhadores do Brasil

Aqui nos temos reunido, muitas vezes, nesta festa de con


graçamento, em que costumais trazer ao Governo o testemunho da vos_
sã solidariedade e o Governo vos dá'conta do que tem feito para cor
responder a uma sempre renovada confiança.
Hoje, a vossa presença tem para mim uma significação es_
pecial. Vou palestrar convosco sobre algo que é de grande importân
cia para a vossa segurança, a vossa prosperidade e o vosso futuro.
Refiro-me ao modo como podem e como devem os trabalhadp_
rés preparar-se para uma participação mais ativa no Governo, em cor
respondência oom o grande papel que desempenham na evolução econ£
mica e social do nosso tempo. Porque vós, trabalhadores, aqui no
Brasil como em todas as democracias, constituis a imensa e insupera_
vel maioria dentro do povo. Nenhum Governo poderá realizar uma ver_
dadeira e sã política social se não governar convosco, se não ti
ver o apoio do proletariado e a colaboração dos vossos sindicatos
profissionais, pois não se pode administrar, nos dias de hoje, sem
a cooperação das classes organizadas.
Ha uma coisa, poréra, que o proletariado do nosso país
parece que ainda não percebe com muita clareza: é a maneira p e l a
qual há de influir no Governo e preparar os seus líderes e dirigen
tes para as tarefas e encargos da administração pública.
O Governo e ura corpo vivo e não um monumento de bronze
sobre um pedestal. Ê o agente do povo e, nessa qualidade, cabe-lhe
promover o bem-estar de todos e velar pelas necessidades da conu
nhao social. Um Governo que se isola das massas populares está nu
trindo, sem o saber, o germe da sua própria destruição. Ê impres_
cindivel ura contacto íntimo e permanente dos poderes públicos com
os líderes de todas as classes sociais, não só para que o povo defen
da os seus interesses, mas também para que exponha as suas críticas.
Uma das tarefas a que mais me consagro é a de receber em
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meu gabinete, todas as semanas, comissões, sindicatos, representan incumbe defender. Por essa razão, suas vozes nem sempre conseguem
tea das vossas associações, que vêm de todas as partes do Brasil sobrepor-se ao coro das muitas outras, que defendem outros interês_
trazer-me os vossos apelos, e, muitas vezes também, os vossos protes_ sés e que dispõem de instrumentos mais eficazes, mais imediatos e
toa, Diante de mim, confessam as falhas de sua organização e apon mais poderosos de ação e de expressão.
tam faltas dos órgãos ou agentes do Governo. Isso demonstra o in Quando falo em líderes dos trabalhadores, não me refiro
terêsse cada vez maior do povo pelas atividades governamentais e a a representantes políticos, mas aos que defendem interesses reais,
receptividade do Governo aos apelos populares. aspirações, necessidades das classes, reclamando salário, habitação,
Nesses contactos, o Governo explica e orienta, e o povo assistência, bem-estar. As organizações operárias devem ser repre
discute e sugere. Quando saio desses encontros - e os tenho amiuda_ sentadas pelos seus sindicatos. Determinei, por isso, a mais intei
* w
dos - levo comigo o sentimento de como pode o povo participar ainda rã liberdade'nas eleições sindicais, que devem ser sempre realizei
mais e melhor das Iniciativas e da própria política do Estado. Imã das livremente e livremente reconhecidas. Desde que assumi o Govêr
gino o que não seriam esses contactos ampliados, robustecidos por no, nenhuma intervenção foi feita em entidade sindical e nenhuma au
uma organização disciplinada e conciente das forças populares, cris_ torização mais se exigiu para a realização de assembléias e congres_
talizados numa participação direta do proletariado na orientação da sós sindicais. A frente do Ministério do Trabalho está agora um a!L
máquina governamental. to funcionário, que dentro dele fez carreira, e que, além de capaz
As vezes, tento ir mais longe, pois compreendo que o Gp_ e inteligente, é um grande conhecedor da legislação trabalhista - o
vêrno deve ir mais longe. Procuro um contacto mais íntimo convosco, Ministro Segadas Viana. Podeis contar com a sua operosidade e com
com os vossos líderes, com os intérpretes das vossas necessidades e o persistente empenho do Governo em garantir definitivamente a li_
aspirações; quisera ouvi-los, na solução dos grandes problemas naci_ berdade sindical.
onais. E não apenas ouví-losí quisera atendê-los e vê-los pesar de_ Sei que, muitas vozes, os vossos esforços têm sido entor
clsivãmente na balança das grandes decisões políticas. pecidos pela maquina burocrática. Verdadeiros líderes das classes
Outras classes se acham organizadas, têm os seus diri trabalhadoras, dedicados e cheios de abnegação, foram não raro, in
gentes em contacto próximo com a máquina governamental, tomando a justamente acusados e perseguidos como extremistas, a fim de serem
Iniciativa de projetos de lei no Congresso ou reivindicando medidas afastados das competições eleitorais nos sindicatos. Tenho recebi
acauteladoras dos seus interesses junto aos vários órgãos da admi_ do vossas queixas e hoje compreendo que muitas dessas acusações são
nistração. O comli-cio, a indústria, o funcionalismo público, vários infundadas. A culpa recai, nesses casos, sobre o próprio Ministé
grupos de produtores, as classes militares - todos têm os seus líde_ rio do Trabalho, que, em não poucas ocasiões, dificultou a sindica_
rés influentes, sempre vigilantes na defesa dos seus direitos e dos lização, afastando dos sindicatos os dirigentes sinceros, para pres_
seus ideais, movimentando-se nas altas esferas da política, sugerin tigiar os que lhe servem de instrumento, mas q^ue nunca representa
do, pedindo, esclarecendo problemas e necessidades, reclamando medi_ ram a opinião da classe. Esse mal deve ser corrigido. Assim como
das de interesse geral, fazendo chegar quotidianamente ao Governo o confio nos trabalhadores, estes podem confiar em mim.
eco das suas aspirações, Desse jogo de forças, de interesses, dês_ Talvez seja o Brasil o único país do mundo onde a legis_
se concurso de sugestões e de iniciativas é que vive e se alimenta laçao trabalhista nasceu e se desenvolveu, não por influência diré
a grande maquina da administração, em qualquer país civilizado. tá do operariado organizado, mas por iniciativa do próprio Governo,
Sem dúvida, o proletariado já tem os seus líderes, e a como realização de um ideal a que consagrei toda a minha vida públi
"• / M

estes o Governo tem recorrido em varias ocasiões - hoje muito mais ca e que procurei pôr em pratica desde o momento em que a Revolução
do que em épocas passadas. Mas esses líderes ainda são poucos, pro_ de 1930 me trouxe à magistratura suprema da Nação.
porcionalmente à quantidade de problemas e de interesses que lhes Mas não podeis continuar dependendo da iniciativa gover

i
namental. Tendes que consolidar as voasas conquistas, de maneira colher dentre eles os mais idôneos, capazes de defender oa vossos
que se imponham a todos os governos, quaisquer que eles sejam. Lem interesses em todas as esferas do Governo e de assegurara vossa pre_
brai-vos de que, hoje, não tendes apenas reivindicações novas a fã. sença ativa e vigilante na solução e na direção de todos os proble_
zer: tendes, sobretudo, um patrlmôiii o de conquistas já realizadas, mas nacionais. Ê no seio dos vossos sindicatos, das vossas organl_
que deveis preservar, ura sistema de leis de proteção e de prevldên zaçõea profissionais e dos Vossos centros sociais que se deve adqul.
cia, que vos cabe defender e aperfeiçoar. rir a experiência e fazer o aprendizado da carreira publica.
Tão pouco deveis ficar à mercê dos que só se lembram de Para a consecução desse objetivo, o Governo vos dará to_
vós nas vésperas das campanhas eleitorais, COEI o engodo de sonhos e do o apoio necessário.
promessas. Ainda recentemente vistes como proliferaram os traba Sempre foi meu desejo entregar a direção dos Institutos
Ihismos, que de trabalhlsmo só tinham o nome e o rótulo. Por isso, de Previdência aos próprios trabalhadores, que para eles contribuam
deveis constituir uma força que sabe o que quer e para onde vai, e e que com eles se beneficiam, Já comecei a fazê-lo confiando a dl_
não agrupamentos dispersos e sem coesão, que sirvam de inatrumen reção de dois Institutos a trabalhadores indicados pelas classes.
tos às ambições alheias ou de cobaia para as experiências perigo- Com o primeiro, o dos Bancários, a experiência foi benéfica; a "se_
sas dos aventureiros e agitadores. gunda experiência será iniciada agora, com o Instituto dos Emprega
Achamo-nos numa encruzilhada, onde teremos que escolher dos em Transportes e Cargas. No dia em que, à frente de cada Insti_
entre dois caminhos s o da reforma social voluntária e conclente ou tuto, estiver um lider de sua própria classe, será realizado um dos
o da violência, qnie nada constróe. pontos do programa do meu Governo.
O que ha-de melhor na civilização resultou de uma cons Se souberdes, trabalhadores, renovar o ambiente dos vos_
tante vitória da justiça sobre a força, do amor sobre o ódio, da fra_ sós sindicatos, conhecer-vos melhor uns aos outros, habituar-vos ao
ternidade sobre a violência. Só se recorre aoa métodos da força on debate, à crítica e ao esclarecimento dos vossos próprios problemas,
de fallíam os meios normais de amadurecimento progressivo, que são o escolhendo os vossos dirigentes, preparandq-os para as lides polítl_
apanágio daa nações civilizadas. cas e para os altos encargos da administração - verels que tudo mu
Ho decurso dos últimos vinte anos, a política trabalhis dará em voa só favor, que a vossa influência pesará cada vez mais na
tá do meu Governo realizou um grande avanço pelos meios legais e su balança política, que os vossos interesses se medirão em pé de i_
priu a lacuna resultante da insuficiente organização do proletária gualdade com os interesses das outras classes, no Parlamento e no
do, jio que diz respeito à elaboração das leis sociais de proteção e Governo. E este último, amparado no vosso prestígio, poderá cada
previdência do trabalho. Mas não pôde, nem poderia jamais conseguir vez mais aproveitar a colaboração dos vossos líderes e levar avan
a reparação dessa outra lacuna, que concerne à participação ativa e te os programas tendentes à defesa dos vossos ideais e necessidades.
permanente do operariado na direção do Governo, tanto no setor lê Que este 1a de Maio, festivo e fraternal, seja um dia
gislativo e parlamentar, como no setor da própria administração pú de esperança e uma afirmação de fé, marco decisivo desta nova bata_
blica. lha, para cuja vitória vos conclamo, meus amigos e companheiros, tra
Por isso venho hoje alertar-vos, trabalhadores ao Bra balhadores do Brasil: a batalha da organização, da disciplina inte_
sil, e fazer-vos um apelo da maior transcendência para todos vós, A lectual e política da classe operária e de sua preparação para parti_
união será a vossa força. Mas não basta a união: é preciso que vos cipar do Governo.
preparels intelectual e politicamente para a direção dos negócios Vossa prosperidade depende também, essencialmente, do
públicos. É preciso que saibais transformar os vossos sindicatos cies envolvimento industrial do país, da organização agrária e do au
em organismos eficientes de opinião © de ação, unindo-vos dentro de mento da nossa produção. Mais produção e mais industria significam
lês, procurando conhecer melhor os vossos companheiros e sabendo es trabalho mais abundante e mais bem remunerado, mais empregos para
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todos, melhores salários e melhores padrões de vida. Nesse sentido, Para solucionar o problema do trabalhador rural, torna-
meu Governo vem envidando todos os esforços, visando o fomento da pró se necessário um plano que resolva, paralelamente, as questões ati_
dução e o progresso econômico do país. nentes à reforma agrária, ao seguro agrário., ao serviço social ru
Não estamos empenhados em obter a recuperação nacional ral e a uma legislação específica para o trabalhador dos campos. É
de maneira apressada ou fragmentária, para atender à impaciência o que já elaborou o Governo, restando apenas a indispensável aprova,
dos que esperam milagres ou à ma fé dos que anunciam catástrofes . cão parlamentar para uns e o encaminhamento final de outros.
Queremos assentar o progresso e o futuro do Brasil em bases sólidas A reforma agrária está sendo presentemente estudada pe^
e estáveis. Por isso, está o Governo elaborando e executando um Ia Comissão Nacional de Política Agrária; o seguro social dos traba
plano orgânico e sistemático de reaparelhamento econômico, tendo co Ihadores do campo está sendo projetado pela Comissão Nacional do
mo objetivo a expansão da nossa riqueza em benefício de todas as Bem-Estar Social; o projeto de lei criando o Serviço Social Rural
classes sociais. se encontra em adiantada fase de discussão, no Congresso; o &nte-pr£
Os planos do carvão e do petróleo, o desenvolvimento das jeto de lei que concede novos direitos ao trabalhador rural e lhe
indústrias de base, a batalha da produção agrária, a construção de dá meios eficazes para o exercício dos direitos atuais, acaba de ser
armazéns, silos e frigoríficos, o melhoramento dos portos e da nave_ concluído pelo Ministério do Trabalho.
gaçao, o reequipamento dos transportes rodoviários, os auxílios fl_ Nesse ante-projeto está conceituado o que se entende
nanceiros à lavoura e à pecuária e o conjunto de outros problemas que por trabalho, empregador, e empregado rural, instituindo-se a cartei_
estamos procurando resolver, e a que já me tenho referido noutras o rã do trabalhador rural, que corresponderá à prova do contrato de
casioes, interessam diretamente ao progresso e ao bem-estar da clas_ trabalho ou de parceria agrícola ou pecuária. Também se estabele_
se operária, a quem a sua solução há-de beneficiar. cem medidas de proteção ao trabalho da mulher e do menor e se asse.
Não nos causam inveja as nações que alicerçam a sua prós gura o direito à indenização de um mês de salário por ano de servi,
peridade à custa dos sacrifícios e da miséria do povo. Não nos in ço, para o trabalhador injustamente despedido. Cuida ainda o ante.
teressa, tão pouco, a expansão da riqueza nacional, se esta não for projeto da instituição de postos de fiscalização do trabalho rural
justa e equitativamente distribuída por todos aqueles que concorrem e procura estimular o trabalho de parceria, dando-lhe feição ajusta
para a sua produção. Não queremos a penúria em meio da abundância, da à realidade atual.
nem uma nação dividida entre favorecidos e necessitados. O progres_ lío que toca ao trabalhador urbano, um dos problemas que
só econômico e social só se justifica pela quantidade de benefícios ainda mais o afligem é o da habitação. Desde o início do atual Go
que espalha por todos os indivíduos e pelas contribuições que traz vêrno, recomendei aos Institutos que construíssem casas sempre pá
ao bem comum. rã vender aos seus associados, e não aòmente para alugar. E, rela
A ampliação da legislação social aos trabalhadores dos tivamente às casas que já se acham no regime de aluguel, é preciso
campos e outro empreendimento a que se vem consagrando o meu Govêr que sejam cumpridos os dispositivos da Portaria na <)6, do Conselho
no e que sã destina a preencher mais uma lacuna da nossa organiza- Nacional do Trabalho, de 30 de dezembro de 1910. Essa Portaria, que
ção trabalhista. data do meu Governo anterior, estipulou varias condições para a lo_
Apesar de protegido pelos direitos conferidos ao traba cação de casas aos associados dos Institutos, como sejam, redução
lhador urbano, o trabalhador rural não pode fruí-los eficientemente, dos alugueis ao mínimo indispensável à remuneração do capital inver
por lhe faltarem os meios indispensáveis a isso. Falta-lhe, inclu tido e compabível com o nível de vida e de salário dos beneficiados;
sive, um documento escrito, comprobatório da relação de emprego, co_ dispensa do aluguel, enquanto viver o associado, ou sua viuva e fi_
mo tem o trabalhador urbano. Faltam ainda, nas zonas rurais, agên lhos, se o imóvel tiver sido ocupado por aquele durante 20 anos con
cias fiscal!zadoras da boa execução das leis trabalhistas. secutivos, e assim por diante.
Fui informado de que alguns Institutos, com flagrante
violação dessas normas, têm aumentado os seus alugueresje nem todos
os associados obtiveram os favores a que fazem jús. Já determinei
providências para pôr cobro a tais irregularidades e para que sejam
respeitados os direitos dos contribuintes.
Também está sendo estudada a concessão de aposentadoria DISCURSO PRONUNCIADO PELO PRESIDEHTE
aos trabalhadores por limite de idade e tempo de serviço, isto e,
GETULIO VARGAS, NA INAUGURAÇÃO DA
aposentadoria com salário integral aos que contarem mais de 55 anos
de idade ou mais de 35 de serviço, calculando-se o benefício, nos de XVIII EXPOSIÇÂO-FEIRA AGRO-PECUÂRIA
mais casos, em base nunca inferior ao salário mínimo de cada região DE UBERABA, NO DIA J-5-1952
do país.
Trabalhadores I
Meu apelo está lançado e conto convosco, com as vossas
organizações, com os vossos dirigentes, com a força coêsae disclpll_
nada do vosso prestígio, para que colaboreis melhor com o Governo
na gestão dos negócios públicos.
Que no 1a de Maio do ano vindouro já possais mostrar um
grande avanço no sentido dessa renovação, para a qual vos conclamo
- são os meus votos mais sinceros e é a gralide esperança de todo o
povo brasileiro".
O AMPARO A PECUÁRIA

"Criadores de Uberaba e do Brasil Central l

Ha ura ano atrás, aqui estive acolhido pela vossa hospi_


talidade para inaugurar este importante e tradicional certame em que
os criadores do Triângulo Mineiro e do Brasil Central vêm exibir,
com Justificado orgulho, os mais belos exemplares de seus rebanhos,
numa demonstração sempre repetida de sua operosidade e do constante
progresso de seus métodos zootecnicos.
Desde aquele momento a esta parte, pudestea verificar a
sinceridade e a solicitude com que o Governo se dedicou a minorar
os efeitos e sobretudo a eliminar as causas da crise cuja existên
cia então oprimia e angustiava a nossa pecuária.
De extrema relevância é o papel da pecuária na economia
nacional: dela depende uma parte primordial do bem-estar e da sub
sistência do povo. E a sua importância só tende a aumentar, à medi_
da que se eleva o padrão de vida e crescem as necessidades alimentíi
rés do homem brasileiro.
Deve a pecuária assegurar, em todo tempo, o abastecimen
to adequado dos centros consumidores do país, equilibrando a oferta
e a procura de carne nos mercados. Quando s« elevam oa salários e
os padrões de existência, aumenta a procura; e, se não houver carne
suficiente, sobem os preços, graças à especulação dos intermediári
os, e os produtos da pecuária ficam fora do alcance da bolaa do tra
balhador.
Fornecer carne abundante e barata à população, permitin
do-lhe adquirir com facilidade e constância a parte mais rica e suba
tancial da sua alimentação - eis a grande miseão da pecuária nacio_
nal. Para isso não basta, decerto, a boa vontade e a operosidade
dos criadores: é preciso a cooperação dos poderes públicos, no sen-
tido de assegurar aos produtores as condições econômicas de uma Jus_
tá remuneração do seu esforço,.aiétn das medidas necessárias para e_
vitar o encarecimento do produto.
Bem compenetrado está o meu fftvêrno desses fatos. Ê in
-46-

justo culpar os produtores pela eseassês da carne. Esta deriva de Central, visando melhorar o seu aproveitamento, mediante a cuidadçj
causas que, na sua maior parte, escapam a responsabilidade do cria_ sã adaptação dos métodos de criação às condições de clima e de solo
dor. Antes residem nos processos antl-econômicos de industrializa- dominantes, bem como a melhor utilização das espécies forrageiras
ção e de transporte, que o Governo Federal está disposto a comba_ nativas.
ter energicamente, proporcionando meioa para a implantação de prati_ De nada valerá, porém, aumentarmos nem melhorarmos o nos
cas mais racionais, que serão benéficas tanto para o consumidor co_ só rebanho bovino, se a produção dos campos não se puder escoar, rá_
mo para o produtor. pida e economicamente, para os centros de distribuição e consumo.
Antes de mais nada, ê preciso que o aumento enorme do Não é admissível que condições de transporte precárias e anti-econ<S
consumo de carne, nos últimos 20 anos, seja acompanhado de um desen micas continuem a entorpecer o esforço dos criadores e a despojá-los
volvimento correspondente do nosso rebanho bovino. Não podemos co_ de uma parte substancial de seus legítimos lucros, ao mesmo tempo
gitar do abandono do regime de pastoreio, apezar dos inconvenientes que oneram injustificadamente o consumidor, em proveito de interme_
<jue acarreta; mas cumpre observar que, tanto no desfrute geral do re_ diários - e, às vezes, sem o proveito de quem quer que seja.
banho como na matança de matrizes, existe uma proporção consentânea No ano de 1950, 93^ do gado abatido para corte chegou a
com o desenvolvimento gradual e normal da população bovina. Nesse pé aos locais de matança; portanto, apenas 7$ foi transportado pelas
sentido, aliás, o Plano de Abastecimento de Carne estudado e adota_ ferrovias. Essa proporção implica num desgaste e desperdício verda
do sob o meu Governo em 19^4-3» como primeira tentativa de racionali_ deiramente extraordinários, não só pelo peso de carne perdido em vi_
zação do abate, foi seguido de resultados tão prontos quanto anima agem, mas também, e sobretudo, pela necessidade de tnr.a e, às vezes,
dores, no sentido de refrear as matanças desordenadas e impedir o duas paradas para recria, e outras tantas para engorda. Isso enca-
declínio da produção que era acusado pelas estatísticas pecuárias. rece por demais o boi entregue ao matadouro e alonga desnecessária
Por outro lado, devemos adotar medidas de defesa sanitji mente o ciclo de existência do gado, diminuindo, no mesmo ritmo, o
ria que detenham a espantosa mortandade causada, cada ano, pela fe_ rendimento comercial do rebanho.
bre aftosa, pela brucelose e pela raiva. SÓ em 1950» essas doenças As nossas ferrovias, já insuficientes para dar vasão ao
ocasionaram à pecuária nacional prejuízos calculados em mais de 750 escoamento das zonas agrícolas, não podem continuar assoberbadas pé
milhões de cruzeiros, aos quais se devem acrescentar os provocados Io problema do transporte do gado vivo, que é muito pouco econômico.
pela pneumo-enterite dos bezerros, quê mata prematuramente 20 a íj.0 Em cada vagão de gado, como sabei s, só se pode acomodar, no máximo,
de cada 100 bezerros nascidos em nossas fazendas de criação. lê a 20 cabeças; ao passo que um vagão frigorífico carrega até 100
Debeladas essas pragas, o simples crescimento normal do carcassas de bois abatidos. Assim, a solução do problema está em
rebanho permitirá atender amplamente a todas as nossas necessidades. deslocarmos os matadouros industriais para o próprio coração das zo
Está atento o Governo a essas <:ondiçoes adversas e à ne_ nas de criação, completando essa estrutura por meio de uma rede de
cessidade de combatê-las. Paralelamente, os técnicos desenvolvem e entrepostos frigoríficos nos pontos de distribuição. Com isso se
propagam os modernos processos de inseminação artificial, com o que eliminaria a longa peregrinação das boiadas, com suas etapas dis
muito contamos para o melhoramento dos rebanhos, pois há de permi_ pendiosas, se desafogariam as estradas de ferro, se evitariam os
tir a mais rápida propagação de sangues nobres, capazes de aumentar prejuízos das matanças de entre-safra e se normalizariam o volume e
o peso e precocidade do gado creoulo, beneficiando o seu aproveita- o preço dos fornecimentos aos centros consumidores.
mento industrial. Urge, finalmente, dar aos criadores uma razoável garan
Outro estudo de ordem científica que se impõe, e que tia contra os riscos comerciais da profissão e condições Justas de
vem sendo efetuado pelos especialistas do Ministério da Agricultura,
* ** t
remuneração do capital por eles invertido numa atividade de tão re_
e o das condições a;-;rostologicns nas pastagens naturais do Brasil
levante interesse nacional. Mediante uma política de largas facili
-48- 49-

dades de crédito e de garantias de preços mínimos, está o Governo talvez dentre todos os trabalhadores, os mais desherdados e os mais
decidido a amparar aqueles que dedicam sua vida e seus haveres à pe_ esquecidos - conhecerão também o amparo e a assistência dos poderea
cuária, livrando-os da sanha dos especuladores e estimulando-os a públicos.
produzir cada vez mais, em benefício da economia nacional. E vós, criadores, tendes que cooperar com o Governo, pá
já no ano findo, foi restabelecida, a concessão de crédi_ rã arrancar esses vossos irmãos da ignorância e do abandono. Conto
tos, através do Banco do Brasil, aos pecuaristas idôneos. Tal asais_ com a vossa esclarecida generosidade, como podeis contar sempre com
tência financeira acusou umacrescimo de íl$ em relação ao ano ante_ o meu apoio e compreensão.
rior. Acha-se agora no Congresso a mensagem do Poder Executivo, en Realizemos esse feliz congraçamento do Estado com as
caminhando o projeto de lei que dispõe sobre o ré a justamente das dí forças produtoras de um lado e com as massas trabalhadoras do outro.
vidas dos pecuaristas e que visa permitir o resgate das mesmas em Assim, o Triângulo Mineiro será realmente uma terra de liberdade e
de esperança, manancial de fartura para toda a Nação, fonte de ri.
condições suaves, reduzido de metade o montante exigi vel da dívida e
quezas adquiridas honradamente e equitativãmente distribuídas por
liberados os rebanhos e os bens não estritamente necessários à ga.
todos oa que trabalham - para a felicidade de Minas Gerais e do Bra
rantia dos débitos.
Desloca-se, pois, a questão do terreno ingrato das mora. si l".
tórias indefinidamente repetidas e dos reiterados congelamentos de
dívidas. Eram medidas estéreis, que, sem qualquer proveito para o
Estado, paralisavam a atividade do produtor e o Impediam de buscar
no próprio esforço os meios de redimir-se. Transferindo-se para a
União o serviço dos juros e a própria responsabilidade imediata da
liquidação de metade da dívida; devolvendo-se aos pecuaristas deve
dores a livre disposição dos seus rebanhos - teremos uma solução ra_
cional e justa, que importará num desafogo animador para a situação
financeira dos que ae dedicam a essa forma de produção.
Senhores.
Agindo sempre em perfeito entendimento com o Governo do
Estado, a cuja frente se encontra a figura dinâmica do Governador
Juscelino Kubistchek, administrador ativo, inteligente e sempre a.
tento a ouvir os reclamos do povo, o Governo Federal está firmemen
te decidido a não medir esforços para amparar a pecuária nacional e
promover a recuperação econômica deste rincão da terra brasileira,
onde, pelo gênio e pela tenacidade do povo mineiro, se forjou uma
nova e magnífica raça bovina, sóbria, rija e vigorosa, que fez dês
tá região um dos esteios da riqueza do país.
Tão pouco serão esquecidos os humildes e heróicos compa.
nheiros que mourejam ao vosso lado e cujo esforço, vigilante e Sís
gaz, assegura a pujança dos vossos rebanhos. Para eles se voltará
também a solicitude do Governo. Vaqueiros do Norte e do Centro, pé
oes do Oeste e do Sul, nômades que transportam a miséria na garupa,
DISCURSO PRONUNCIADO PELO PRESIDENTE

GETTJLIO VARGAS, EM BELO HORIZONTE,

NO DIA 51-5-1952
£ APARELHAMENTO INDUSTRIAL DO BRASIL PARA A
CONQUISTA DA NOSSA EMANCIPAÇÃO ECONÔMICA

"Brasileiros
Povo de Minas Gerais

O lançamento da pedra fundamental da grande usina


Mannesmann representa um marco decisivo para o progresso da slderur
gia mineira. Ê com emoção que compareço a esta solenidade, altamsn
te significativa para mim e para os objetivos do meu Governo.
Até 1930» a indústria siderúrgica no Brasil não era
mais que uma tentativa incipiente, na qual nos valíamos dos recur-
sos naturais do país em minério de ferro, carvão de madeira e calcá_
reo, para a produção de ferro-gusa e de pequenos perfis, em quanW
dade, aliás, que mal correspondia às necessidades do consumo inter_
no.
Quando, pela primeira vez, assumi o Governo, já tra
zia no pensamento o desejo de incentivar a criação da grande indús
tria siderúrgica no país. A 2J de fevereiro de 1931» visitando Be_
Io Horizonte, eu anunciava ao povo mineiro o início dessa campanha,
depois de mostrar que o problema máximo da nossa economia era o si_
derúrglco. Preconizei a necessidade de explorar quanto antes as
imensas jazidas de ferro de Minas Gerais.
Mais de vinte anos se passaram, e hoje verifico ter
sido obra integral do meu Governo, através de lutas que só Deus e
eu sabemos quanto me custaram, o extraordinário surto da indústria
do aço no Brasil.
Dessas lutas, saliento uma das que maiores obstácu
los me levou a enfrentar: a que arrancou as ricas jazidas de ferro
de Itabira das garras de um monopólio prejudicial aos interesses do
país para que fossem restituidas ao patrimônio nacional.
Desde os primeiros dias do Governo Provisório, todos
os meios ao alcance da administração pública foram postos em prati_
ca para impulsionar a nossa siderurgia. Começamos encorajando a i_
niciativa particular, como no caso da Companhia Siderúrgica Belgo-
-54-

Minelra. Para a construção de Monlevade, era preciso levar os tri_ campanha pelo crescimento da siderurgia brasileira, eu vos dizia que
lhos da Estrada de Perro Central do Brasil até a estação que então a grandeza futura do Brasil depende da exploração das suas jazidas
se denomlvava são José da Lagoa, boje Nova Era. Apesar de ser um de ferro e que o ferro é Minas Gerais. "Aos mineiros, cujo próprio
trecho de via férrea em terreno bastante acidentado e de custo ele_ nome indica certa predestinação histórica nesse sentido, deve caber
vado para as finanças da época, aão hesitou o Governo, e completou- o esforço maior para a conquista dessa glória. Minas possui monta
se rapidamente a ligação de Santa Barbara a estação terminal da E£ nhas de ferro com capacidade para satisfazer as necessidades do con
trada de Ferro Vitória a Minas. sumo mundial durante séculos. Exploremo-las, adquirindo, com traba_
Monlevade constituiu notável progresso, e o seu con lho tenaz e inteligência pratica, a abundância e a independência
curso para o desenvolvimento industrial do país não tem sido peque_ econômica".
no. ílêsne clima de encorajamento, prosperaram as outras usinas me_ Essas palavras foram reafirmadas por mim recentemente,
nores, em Minas Gerais, ora são Paulo, no Estado do Rio de Janeiro e quando me dirigi ao povo de Belo Horizonte na campanha eleitoral de
no Rio Grande do Sul. 1950, e prometi que tudo faria para dar ao Brasil uma segunda Volta
Em seguida, veio a construção da usina siderúrgica Redonda, a qual seria, provavelmente, em Minas Gerais.
de Volta Redonda. Com ela se inaugurou a grande indústria pesada em Nunca duvidei de que a indústria do ferro se desenvol_
nosso país. Foi um fato inédito na história econômica do Brasil, e veria ainda nestas montanhas, que encerram nos seus flanços as maio_
me conforta verificar o serviço inestimável prestado ao país por es_ rés jazidas de todo o mundo.
sã iniciativa de meu Governo. Hoje venho cumprir a promessa do candidato. A pedra
Hoje, Volta Redonda já contribui de maneira aprecia, fundamental da grande usina Mannesmann, que hoje estamos lançando,
vel para a indústria nacional. Em 1951» produziu mais de 285 mil to simboliza uma nova Cidade do Aço, que formará ao lado da primeira
neladas de coque, 3)42 mil toneladas de gusa, lj.65 mil toneladas de para impulsionar a industrialização do país.
aço em lingotes e 3^2.500 toneladas de laminados de aço. As vendas Ao apoio que deu o meu Governo a esta iniciativa veio
efetuadas pela Companhia Siderúrgica Nacional, durante o ano de juntar-se também a colaboração profícua e decidida do Governador Jus_
1951» montaram a mais de l.i|.?5 milhões de cruzeiros - quantia t>as_ celino Kubitschek, cuja inteligência e operosidade estão dando a
tanta expressiva do valor da sua produção industrial. Minas Gerais um impulso novo de progresso. O aumento do potencial
O plano de expansão da usina vai sendo executado sem de energia necessário para o funcionamento da usina, a concessão do
d&sfaleclmentos. O capital social da Companhia Siderúrgica foi au terreno para sua instalação, a construção de casas para os operárias
mentado para 1.750 milhões de cruzeiros, já integralmente subscrito, - constituem elementos preciosos de ajuda, que devemos ao Governo
e as encomendas de equipamentos nos Estados Unidos ultrapassavam 10 do Estado.
milhões de dólares em fins do ano passado, estando compreendidos en A usina que aqui vai ser construída tem finalidades
tre os melhoramentos projetados a construção de mais um alto forno, distintas da de Volta Redonda e representa outro passo básico no ca_
de novos fornos de aço, da fábrica de estruturas metálicas e de no_ minho do nosso reaparelhamento industrial. Vai inaugurar no Brasil
vás instalações para a aciaria e a laminação. a fabricação, em larga escala, de tubos de aço sem costura, em quan
Volta Redonda constitui hoje uma esplendida realidade, tidade capaz de cobrir todas as múltiplas necessidades do nosso mer
concretização do sonho de toda uma geração e o marco mais assinala cado interno, quer para a fabricação de caldeiras, quer para adução
do no caminho da evolução industrial do país, que se orgulha, a jua_ de água em alta pressão, quer para instalação hidro-elétrica, quer
to titulo, desse passo decisivo para a sua emancipação econômica. anfim para o revestimento de poços de pesquisa de petróleo e de água
Outras fases, contudo, ainda teremos que percorrer. subterrânea.
Ha duas décadas, naquele discurso ao povo mineiro em que lancei a Será um grande centro industrial, em cujo derredor
-54-

Mineira. Para a construção de Monlevade, era preciso levar os tri_ campanha pelo crescimento da siderurgia brasileira, eu vos dizia que
lhoa da Estrada de Perro Central do Brasil até a estação que então a grandeza futura do Brasil depende da exploração das suas jazidas
se denomivava são José da La(çoa, boje Nova Era. Apesar de ser um de ferro e que o ferro é Minas Gerais. "Aos mineiros, cujo próprio
trecho de via férrea em terreno bastante acidentado e de custo ele_ nome indica certa predestinação histórica nesse mentido, deve caber
vado para as finanças da época, não hesitou o Governo, e completou- o esforço maior para a conquista dessa glória. Minas possui monta
se rapidamente a ligação de Santa Barbara a estação terminal da E£ nhas de ferro com capacidade para satisfazer as necessidades do con
trada de Ferro Vitória a Minas. sumo mundial durante séculos. Exploremo-las, adquirindo, com traba_
Monlevade constituiu notável progresso, e o seu con lho tenaz e inteligência pratica, a abundância e a independência
curso para o desenvolvimento industrial do país não tem sido peque_ econômica".
no. líêsae clima de encorajamento, prosperaram as outras usinas me_ Essas palavras foram reafirmadas por mim recentemente,
nores, en Minas Gerais, ora são Paulo, no Estado do Rio de Janeiro e quando me dirigi ao povo de Belo Horizonte na campanha eleitoral de
no Hio Grande do Sul. 1950, e prometi que tudo faria para dar ao Brasil uma segunda Volta
Em seguida, veio a construção da usina siderúrgica Redonda, a qual seria, provavelmente, em Minas Gerais.
de Volta Redonda. Com ela se inaugurou a grande indústria pesada em Wunca duvidei de que a indústria do ferro se desenvol_
nosso país. Poi um fato inédito na história econômica do Brasil, e veria ainda nestas montanhas, que encerram nos seus flanços as maio_
me conforta verificar o serviço inestimável prestado ao país por es_ rés jazidas de todo o mundo.
sã iniciativa de meu Governo. Hoje venho cumprir a promessa do candidato. A pedra
Hoje, Volta Redonda já contribui de maneira aprecia, fundamental da grande usina Mannesmann, que hoje estamos lançando,
vel para a indústria nacional. Em 1951» produziu mais de 285 mil to simboliza uma nova Cidade do Aço, que formará ao lado da primeira
neladas de coque, ~$l\2. mil toneladas de gusa, I|_65 mil toneladas de para impulsionar a industrialização do país.
aço em lingotes e 3^2.500 toneladas de laminados de aço. As vendas Ao apoio que deu o meu Governo a esta iniciativa veio
efetuadas pela Companhia Siderúrgica Nacional, durante o ano de juntar-se também a colaboração profícua e decidida do Governador Jus_
1951» montaram a mais de l.l|-75 milhões de cruzeiros - quantia tas_ celino Kubitschek, cuja inteligência e operosidade estão dando a
tante expressiva do valor da sua produção industrial. Minas Gerais um impulso novo de progresso. O aumento do potencial
O plano de expansão da usina vai sendo executado sem de energia necessário para o funcionamento da usina, a concessão do
desfaleclmentos. O capital social da Companhia Siderúrgica foi au terreno para sua instalação, a construção de casas para os operários
mentado para 1.750 milhões de cruzeiros, já integralmente subscrito, - constituem elementos preciosos de ajuda, que devemos ao Governo
e as encomendas de equipamentos nos Estados Unidos ultrapassavam 10 do Estado.
milhões de dólares em fins do ano passado, estando compreendidos en A usina que aqui vai ser construída tem finalidades
tre os melhoramentos projetados a construção de mais um alto forno, distintas da de Volta Redonda e representa outro paaso básico no ca_
de novos fornos de aço, da fábrica de estruturas metálicas e de no_ minho do nosso reaparelhamento industrial. Vai inaugurar no Brasil
vás instalações para a aciaria e a laminação. a fabricação, em larga escala, de tubos de aço sem costura, em quan
Volta Redonda constitui hoje uma esplendida realidade, tidade capaz de cobrir todas as múltiplas necessidades do nosso mer
concretização do sonho de toda uma geração e o marco mais assinala^ cado interno, quer para a fabricação de caldeiras, quer para adução
do no caminho da evolução industrial do país, que se orgulha, a jus_ de água em alta pressão, quer para instalação hidro-elétrica, quer
to título, desse passo decisivo para a sua emancipação econômica. anfim para o revestimento de poços de pesquisa de petróleo e de água
Outras fases, contudo, ainda teremos que percorrer. subterrânea.
Ha duas décadas, naquele discurso ao povo mineiro em que lancei a Será um grande centro industrial, em cujo derredor
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donda, nem fabricara gusa pelo método geralmente adotado no Brasil.
crescerão novs.s fábricas, interessando ás indústrias de maquinas, de Utilizará fornos rotativos Krupp-Reiner, que apenas exigem a terça
produtos químicos, de construções civis, de instrumentos agrícolas parte do combustível requerido por um alto forno para a mesma quan
e de mater-ial refratário. Através duma industrialização de base p£
tidade de minério a ser reduzido. Mais ainda: para esse tipo de
deremos computar os efeitos futuros sobre os meios de transporte e
forno serve qualquer combustível, inclusive o carvão de má quali-da
de produção de energia.
de. Para um país pobre em combustíveis sólidos, como o Brasil, es_
A importância desse empreendimento, que o meu Governo
se aspecto do método alemão é muito importante e possibilitará o em
incentivou e conduziu para o terreno das realizações imediatas, pp_
prego integral de carvão brasileiro na fabricação do aço.
de medir-se ainda pelo fato de que, enquanto a Indústria nacional de
Os produtos especializados que sairão deata usina vi
tubos de ferro fundido está em condições de atender às necessidades
rão concorrer, assim, para acrescer o número dos que são fabricados
do consumo interno, não se fabricam, entretanto, no Brasil, tubos de
aço sem costura. Por outro lado, embora exista no país produção de em terra brasileira e darão para cobrir as nossa necessidades em tu
tubos costurados, essa produção ainda e insuficiente para as nossas bos de aço para a construção civil, para a engenharia sanitária, pa_
necessidades. rã a pesquisa e produção do petróleo e outras atividades.
Trata-se de produtos industriais de grande utilização Seria oportuno lembrar também que a usina Mannesmann,
e cujo consumo atinge a média anual aproximada de 75.000 toneladas, de um lado, Volta Redonda de outro ainda não esgotarão todas as pos_
tomando-se por base o consumo normal do país, sem levar em conta o sibilidades de aproveitamento das riquíssimas jazidas de ferro de
que gastam as grandes empresas ou as obras de maior vulto, como as Minas Gerais. Ha um outro aspecto da indústria siderúrgica que tem
do oleoduto são Paulo-Santos e outras, programadas pelo Conselho Na. merecido as atenções e o apoio do meu Governo. Refiro-me aos aços
cional do Petróleo. especiais, destinados sobretudo à fabricação de maquinas elétricas
A produção brasileira ainda é inferior à metade dessas e mecânicas, de veículos de todo o gênero e de ferramentas.
exigências de consumo e se avizinha da media anual de JO.OOO tonela_ Nesse sentido, vem-se empenhando o Governo em expan
das. Isto nos tem obrigado a importar do estrangeiro a parte exce_ dir a usina de Acesita da Companhia de Aços Especiais Itabira. Co_
dente. As importações de tubos de aço, feitas dos Estados Unidos e locada em pleno vale do Rio Doce, essa usina desempenhará também im
de outros países, oscilaram de 19l±7 a 1951» em volta da média anual portante papel na industrialização do país. Seus produtos são in
de 1).5.000 toneladas. dispensáveis ao desenvolvimento, entre nós, da fabricação de apare_
A grande usina Mannesmann, que vai surgir aqui, nos lhos e máquinas elétricas, de vagões, locomotivas, automóveis e fer
arredores de Belo Horizonte, visa, precisamente, cobrir essas neces_ ramentas de toda espécie.
sidades e resolver, de imediato, um dos problemas capitais da side_ Dois decênios bastaram para que a indústria pesada
rurgia nacional, com a produção inicial prevista de 100.000 tonela
brasileira se convertesse de uma remota esperança numa pujante rea
das. Isto significa que não só deixaremos de importar tubos de aço
lidade, ao brotarem do solo da Pátria, uma após outras, as cidades
para o consumo interno, mas também teremos margem para exportar o ex
industriais e as poderosas usinas onde o esforço de um povo forja e
cedente, ou, quando menos, para cobrir as exigências extraordinári_
caldeia no metal incandescente, ao clarão das fornalhas, a robusta
as das grandes obras que forem programadas pelo Governo ou por fir_
mas particulares, no sentido de desenvolver o nosso parque industrial. estrutura do Brasil de amanhã. A expansão de Volta Redonda ás mar
Outro aspecto a salientar, e que muito influiu na opi_ gens do Paraíba, o nascimento da usina Mannesmann no planalto minei
niao dos técnicos brasileiros que recomendaram a instalação desta ro, o ímpeto das aciarias de Acesita no vale do Rio Doce, despertam
usina, foi o preço relativamente barato do combustível que a alinen novos quadrantes do país para a grande produção siderúrgica, abrem
tara. A Mannesmann não trabalhará com altos fornos, como Volta Re novos horizontes a essa indústria matriz, que é um dos esteios e£
senciais de nossa prosperidade econômica e de nossa segurança mili
-58-

tar. Nunca faltou e não faltara a esses empreendimentos, e a ou


troa que visem os mesmos propósitos, o decisivo apoio do meu Gover
no, que neste instante faz votos para o sucesso e prosperidade da
usina cuja pedra fundamental estamos lançando, e que representa um
animador exemplo de inteligente e bemfazeja cooperação entre capi_
tais estrangeiros e recursos nacionais.
DISCURSO PRONUNCIADO PELO PRESIDENTE
Brasileiros!
Um Brasil novo desponta, laborioso e forte, consolo de GETULIO VARGAS, EM JOAZEIRO, NA BAETA,
suas possibilidades, despertado, enfim, de um estéril e enganoso NO DIA 22-6-1952
ufanismo para os imperativos de um porvir que se anuncia, cheio de
prosperidade e grandeza. Mas e preciso que saibamos enfrentar e su
perar os problemas oferecidos pela realidade presente, entre cs quais
se coloca em primeiro plano uma industrialização inteligentemente
planejada. Nessa grande obra, que será o nosso principal legado às
gerações futuras, cabem a Minas Gerais um papel de destaque e ume
contribuição capital para o surto do progresso que trará a riqueza,
a segurança e o bem-estar à Nação Brasileira".
A REDENÇÃO DO NORDESTE

"Povo de Joazeiro

Nais uma vez me encontro aa margens deste Rio São Pran


cisco, que nenhum brasileiro contempla sem emoção. Mais uma vez ve_
nho acercar-me, em pleno coração do Brasil, destas águas indômitas,
que percorrem qoiatro séculos de historia e milhares de quilômetros
de terra brasileira, levando consigo a civilização e a vida, através
dos sertões adustos e da caatinga inhóspita, desde as montanhas de
Minas Gerais ate as praias nordestinas.
Nunca esteve ausente das minhas preocupações este vale
fértil e promissor, que, desde os albores da nossa história, foi uma
das principais vias de penetração civilizadora no "hinterland" bra.
sileiro e que é propósito do meu Governo transformar de novo numa
das artérias mestras da vida econômica do país.
Vai para quinze anos, antes mesmo que as dificuldades
da guerra ilxistrassem a importância vital da rota do São Francisco,
como elo entre o Norte e o Sul do paia, o meu anterior Governo fã
zia das instalações do Departamento de Obras Contra aa Secas, no Jíi
tobá de Pernambuco, um centro de estudos hidrográficos, geológicos
e geo-físicos de intensa atividade, visando à recuperação econômica
das regiões marginais e o melhor aproveitamento do poder fecundante
destas águas providenciais.
Sobrevindo a guerra, as dificuldades do transporte marí_
timo fizeram deste vale a via natural de comunicações entre regiões
diversas do país. Em outubro de 19^4-3« determinei que fossem reali_
zados, em caráter urgente, os estudos e trabalhos necessários à nui
nutenção do trafego ao longo do rio e à melhoria das suas condições
de navegabilidade e de aijiazenamento da carga transportada. Em con
seqüência disso, a 29 de junho do ano seguinte, abria eu, pelo De_
creto-lei numero é.-éliJj UM crédito de lj.8 milhões e 'yOO mil cruzei^
ros, destinado a atender às despesas iniciais com a execução daque_
lê plano - um dos mais arrojados até então concebidos no pais e no
qual se incluía a construção de obras de proteção contra inundações
-SJ-
-62-
Alnda agora, posso anunciar-vos que Já aprovei o credi^
e erosões marginais, rampas de acesso e atracação, terraplanos, ar_
to para a conclusão imediata da ponte que ligará esta cidade de Joa_
raazens, molhes e diques de contenção em vinte e duas cidades ribei_
zeiro à vizinha Petrollna, obra essa que constitui uma valha aspira
rinhas, desde o início do curso navegável no porto mineiro de Pira
cão das populações interessadas, e que virá contribuir decisivamen
porá até o desaguadouro em Penedo; beneficiando, à passagem, são Rp_
te para o desenvolvimento das regiões circunvlzinhaa, permitindo a
mão, São Francisco, Januaria, Manga, Carinhanha, Bom Jesus da Lapa,
ponta dos trilhos do Tronco Um do Plano Nacional de Vlação correrem
Santa Maria da Vitória, Piratinga, Ibotirsma, Barreiras, Barra, Xi
direção de Ingazeira para completar a ligação ferroviária Bahia-Per
que-Xique, Remanso, Pilão Arcado, Sento Se, Casa Nova, Joazeiro, Pé
nambuco. .
trolina, Curaçá e Própria. O plano previa ainda a construção de um
Espero também, multo breve, poder anunciar o Início da
estaleiro fluvial completo na Ilha do Fogo; a de uma barragem, com
construção dos reservatórios de acumulação que, localizados no alto
eclusa, no Braço do Sobradinho; a limpeza das margens e a desobstru
curso do rio, à montante de Pirapora e na zona de influência dos seos
cão dos canais de navegação em todo o curso, e o levantamento aéreo
tributários mais volumosos naquele trecho, devem permitir a regula
de toda a bacia, completado pelo levantamento batlmétricô do leito
rlzação do regime das águas, hoje caprichoso e incerto, com enormes
do rio e pelo estudo dos portus, canais de acesso, passagens difi
oscilações na descarga, que desce a menos de 800 metros cúbicos por
ceis, rápidos e corredeiras.
segundo na maior estiagem, para atingir mais de 12.000 n«s grandes
Sete anos depois de ter dado assim o sinal de recupera_
cheias: regime tão prejudicial i lavoura quanto à navegação, e q«e
çao de uma região cujo nome era ha ura século um sinônimo de abando
cabe agora à ciência e ao esforço dos homens disciplinar « nomalí^
no e desolação, coube-me a honra, em 29 de outubro do ano findo, de
zar para o proveito geral. Serão atacados paralelamente os trába
encaminhar ao Congresso Nacional, com a Mensagem número 577-A,o pri
lhos destinados a franquear à navegação o trecho que separa de Pe_
meiro programa de execução do Plano Geral do são Francisco, ao qual
trolândla esta cidade do Joazeiro, bem como os que permitirão a na
o meu Governo pretende dedicar, neste qüinqüênio 1951-1955, nada me
vlos de maior calado passar a barra do São Francisco em sua foz*
nos de um bilhão e oitenta milhões de cruzeiros, cifra que dispensa
Está prevista, Igualmente, a organização de uma sociedade mista que,
qualquer comentário, e, por si só, testemunha eloqüentemente a preo
incorporando os acervos da Vlacão Baiana do são Francisco e da Have_
cupaçao do Governo em não regatear recursos à recuperação e ao pró
gação Mineira do ,3ao Francisco, ofereça um melhor serviço de trans_
gresso do Vale do São Francisco.
portes, através de uma grande frota e Instalações terrestres adeqpaa
Esse programa, ultrapassando de muito o quadro do proje
das, como atenda à melhoria das condições de vida e de salário dos
to inicial de 1944» compreende não aòmente a regularização do regi
embaroadlços e de todos os trabalhadores fluviais, tão merecedoras
me fluvial e o melhoramento das condições de navegabilidade,- como o
do amparo pela sua dedicação e esforço*
aumento da capacidade de transporte ao longo do rio, o aperfeiçoa
Serão ainda as águas do Rio que vão fornecer às popul*
mento das instalações de carga, descarga e armazenamento nos portos
çÕes ribeirinhas energia abundante e barata, para Impulsionar indúa_
fluviais, a construção de centrais elétricas e instalação de linhaa
trias 3 contribuir para o conforto dos lares; independentemente da
de trarêmissão, a execução de grandes trabalhos de irrigação, a deso
gigantesca central de Paulo Afonso, o aproveitamento de potencial
bstruçao e regularização dos afluentes do baixo São Francisco, e a
hldro-elétricô das quedas de Correntina, Jaborandí, Gatos e Saoos
construção de estradas, campo de pouso, e sistemas de abastecimento
dágua. Os recursos atribuídos ao Plano custearão, outrossim, a c£ formará o sistema elétrico Formoao-Corrente, servindo * seção bala
lonizaçao intensiva e sistemática das zonas recuperadas, a organiza na do curso superior do rio.
çao do ensino rural e profissional, a manutenção do uma rede compll Finalmente, nestas terras redimidas lançaremos um vasto
tá de assistência sanitária e hospitalar, e o fomento da produção" programa de fixação do homem a um solo já não mais ingrato e inhÓ9_
agrícola. pito, mas tornado capaz de recompensar fartamente o esforço do tora
ço que o cultivar. Ao longo das margens, e nos vales doa grandes -65-

afluentes da margem Oeste do médio São Francisco, localizaremos colo_ Se, com efeito, é nosso objetivo realizar a recuperação
nias agrícolas captadoras dos movimentos migratórios sertanejos, ca_ econômica desta terra, um ideal mais alto e mais nobre de redenção
pazes de oferecer a esse incomparável tipo de trabalhador mirai um humana deve a cada instante iluminar esse objetivo e justapor-se a
ar.ibiente de labor e un campo de atividades condizentes corn os seus ele. O propósito primordial não é simplesmente o de criar novas atí.
gostos e aspirações, concorrendo assim para deter o transformar num vidades econômicas nem de extrair do solo novas riquezas; e o de dlg
sentido benéfico o doloroso êxodo que periodicamente desloca para o nificar a existência destas heróicas populações ribeirinhas, mais
Sul grandes correntes migratórias nordestinas. Desses retirantes, afeitas até aqui a arrostar toda sorte de adversidade do que a c£
vencidos pela inclemencia das estações, faremos assim os novos pip_ nhecer o bafejo dos favores oficiais; é o de abrir novos campos ao
neiros da civilização, desbravadores de terras virgens, uonquistadc_ esforço fecundo do homem, em proveito direto deate, e sem nunca per
rés de novos horizontes para o progresso e o porvir da Nação. der de vista o caráter eminentemente humano e justiceiro que deve
Também se voltam as atenções do Governo para os bravos e ser o de nossa civilização. As usinas, as lavouras, os rebanhos, as
incansáveis barqueiros do São Francisco, que mourajam de sol a sol aglomerações industriais, as comunidades agrícolas, que amanha vere_
arrastando o pesado fardo de seu labor quotidiano. Lutando contra mos cobrir as margens do São Francisco, deverão ser mais do que a
a natureza agreste, vencendo a corrente impetuosa do grande rio mi_ manifestação de uma extraordinária ressurreição econômica; tudo isso
lenar, eles constituem exemplo vivo de desassombro, de coragem, de deverá levar o cunho de um alto propósito de justiça social, e da ele_
tenacidade e de resistência incomparável. Ê nosso dever levantar o vação da dignidade humana
padrão de vida desses homens destemidos, garantir os seus direitos, Povo de Joazeirol
dar-lhes assistência e segurança econômica, trazer-lhes os benefí_ Minha presença aqui significa a Inauguração de uma nova
cios da legislação social de que já usufruem os trabalhadores urba era, e a de uma grande obra, que juntos havemos de levar avante, pa_
nos. rã a redenção desta gente sertaneja, que constituiu de todo e sem
Outro firme propósito governamental é proporcionar aos pré, para o Brasil inteiro, uma preciosa reserva de energia intell_
habitantes do vale do São Francisco, quer aos das comunidades exis gente e empreendedora. Para uma tarefa tão gigantesca, para mudar
tentes, quer aos das futuras aglomerações que aqui surgirão, todos a face da terra e todo o aspecto econômico e mesmo físico de uma vas_
os recursos necessários para cercar de conforto e segurança a sua tá região, para fazer reverdecer o solo calcinado, mudar o curso
existência e as suas atividades econômicas. dos rios e o regime das águas, fazer surgir do deserto cidades e
Entram nos planos oficiais as facilidades, por meio de usinas, lavouras e pastagens - para essa obra que parece desafiar as
empréstimos, para que se possibilite, em todas as localidades ribei forças humanas, nenhuma raça mais apta do que a vossa, do que essa
rinhas, a instalação dos indispensáveis serviços de luz, água cor gente dos nossos sertões de inquebrantável fibra, de quase incrível
rente, esgotos e saneamento em geral, ao passo que os poderes públi_ resistência aos elementos e à adversidade, raça de fortes e de abne_
cos procederão, às suas próprias expensas, à instalação e manuten gados, afeita ao milagre diário de sobreviver em um meio cuja hosti_
çao de uma rede hospitalar recobrindo todo o Vale, e completada pé lidade e rudeza teriam afugentado qualquer outra. Se confio na vi_
los serviços, já em pleno funcionamento, de profilaxia da malária. tória, é porque a tarefa será executada por vos; conheço o vosso he_
Também a esta região, cujos habitantes por tanto tempo roismo, a vossa tenacidade, a vossa capacidade infinita de adapta
ignoraram o que fosse o amparo das autoridades públicas, se estende_ cão e de resistência. O apoio decidido e constante dos poderes pu
rao em breve os benefícios do Serviço Social Rural, ora em fase de blicos não vos faltará. Juntos faremos desta longa faixa de terra
discussão final no Congresso, o que virá trazer às populações ru brasileira uma terra de promissão, reviveremos a epopéia ancestral
rais esse apoio e essa assistência de que foram até aqui tão injus_ conquistando e integrando no corpo vivo da Pátria estes carrascals
tamente privadas. e caatingas que jazem hoje estéreis e hostis à margem do patrimônio
econômico da Nação; juntos faremos florescer e fmtifi car estes de_
sertos, que a audácia de vossos antepassados varou e desvendou, e
que o vosso esforço transformará em uma opulenta herança para vossos
filhos e para todo o Brasil".

DISCURSO PRONUNCIADO PELO PRESIDENTE


OETULIO VARGAS, EM PAULO AFONSO, NA

BAHIA, NO DIA 22-6-1952


UM NOVO ÍMPETO CIVILIZADOR

"Nas águas do rio São Francisco escondam-se algumas das


maiores riquezas do Brasil. A energia hidro-elétrica, que aqui es_
tá em potencial, é gigantesca. Seu racional aproveitamento há de
permitir o surto de numerosas indústrias - de tecidos, de carnes, de
pescado, de cerâmicas, de salgema, de alumínio, de cimento, de azp_
to sintético - associado à exploração das ricas jazidas minerais e
dos recursos agrícolas de toda a região nordestina.
No período anterior do meu Governo, esses problemas fo
ram objeto de constante preocupação. O aproveitamento industrial
do grande rio foi planejado conjuntamente com o represamento de auaa
águas e a racional distribuição destas pelas terras eircundantes•
Teríamos, assim, uma obra simultânea de utilização industrial e da
fixação de núcleos colonizadores à margem do rio. Para esse fim
baixei, em 22 de julho de 19l|2, o Decreto-lei número lj..505, quo au
torizou a formação de núcleos agro-industrials para a colonização
do São Francisco.
Foi também por iniciativa do meu Governo que, em melados
de 19^4.5» começou a organizar-se a companhia que deveria explorar a
hidro-elétrica da Cachoeira de Paulo Afonso. Desde os primeiros m£
sés do ano de 19U4» essa companhia vinha sendo projetada, e o então
Ministro da Agricultura chegou a anunciá-la numa entrevista ooleti,
vá à imprensa, a 16 de março daquele ano, como sendo uma sociedade
por ações, onde o Governo Federal entraria como principal subaeri_
tor, convidados todos os brasileiros a participar do empreendimento.
E no último mês do meu Governo, a 3 de outubro de 1945*
assinei o decreto-lei que constituiu, definitivamente, a Companhia
Hidro-elétrica do São Francisco, com o capital inicial de ij.00 mi-
lhões de cruzeiros, sendo a metade subscrita pelo Tesouro Nacional.
Pelos termos do decreto, a Companhia goaaria de isenção de direitos
de importação para consumo, das taxas e demais tributos a que esti
vessem sujeitos os materiais e equipamentos que Importasse, desde
que destinados às suas instalações e à conservação e exploração das
mesmas; e gosaria também de isenção, durante dez anos, de todos oa
impostos federais, estaduais e municipais.
-71-
-70-

Por outro decreto da mesma data, foi outorgada à Campa leiro contra as secas que flagelam periodicamente o Nordeste, e re_
nhla concessão, por CO anos, para o aproveitamento progressivo da tardam o progresso do país, a despeito da fibra Inigualável do noz*
energia hidráulica do rio são Francisco, no trecho compreendido en destino.
tre Jbazelro • Piranhas, a fim de fornecer energia elétrica em alta Aqui ae encontram dois problemas fundamentais para o
tensão aos concessionários do serviço público na zona compreendida meu Governo. Um regional - o do Nordeste. Outro nacional - o da
dentro de una circunferência de 14.50 quilômetros de ralo, tendo como energia.
centro a mina, que seria construída para o aproveitamento Inicial. O amparo aos nordestinos, castigados pela terrível seca
Assim, deixem o meu Oovêrno, em 19^5* assentadas todas do ano passado, que em muitas zonas ainda prossegue o seu tormento,
as bases para o aproveitamento agro-lndustrlal e do potencial Mdro exigiu grandes esforços de reaparelhamento administrativo e finan
-elétrica de um dos maiores rios do continente americano. O que s* oeiro dos órgãos responsáveis pelo combate ao flagelo. Estou certo
fez depots foi uma conseqüência dessa preparação inicial. A Oompa de que realizamos uma grande tarefa e de que multo ainda poderemos
nhla Hidro-Blétrlea do São Francisco comecem a funcionar am 19l|fl e, fazor para amparar o homem do Nordeste. Vamos completar essa obra
desde então, conseguiu vencer o tempo perdido em hesitações e empr* com um programa multo mala amplo a preventivo para toda a região au
ender a primeira fase de aproveitamento da cachoeira, que f oi a eons, jelta às secas, permitindo o aproveitamento doa recursos naturais de
tração de ma usina central de 120.000 KW. Com a adição de w ter água e de energia, das possibilidades agrícolas e Industrial» ime-
Miro gerador, euja encomenda já foi feita, essa capacidade será lo_ diatas, e bem assim a fixação do homem em pequenas propriedades ru
go ampliada para 180.000KW. As linhas de transmissão constam de du rais - além de outras medidas, que estão aendo estudadas.
aa linhas-tronoo, de SÍ^O kma. de extensão e mala l.JOO kmo. de li, O Banco do Nordeste, que vai ser criado como instrumen
nhaa de voltagem menor, às quais ae adicionará logo a linha de trans, to financeiro moderno para a luta contra a seca e para cuidar da or
mlasão para o Cari-rl. ganlzação econômica da região, será um melo eficaz de promover, com
A Companhia foi organizada aob a forma d* uma sociedade rapidez maior do que o simples papel catalítico da ualna, o adensa,
de economia adata. Hão errou o Governo em éer preferido esse tipo mento agro-industrlal em torno da zona de distribuição de energia.
de organização. A eficiência som que tem sabido levar avante oa Para esse fim, não se poderá prescindir do concurso confiante e já
•et» grandea empreendimentos é um atestado vivo do acerto e feeundi, oportuno do capital privado. Daqui faço um apelo, pois, as entlda
dado do impulso inicial, que a criou, asses e outros exemplos ina dês de classe e aoa homens empreendedores do país e do estrangeiro,
pirara» o Oovêrno, quando propôs, para a solução do problema do pé para que tragam a cooperação dos seus capitais, a fim de auxiliar o
troleo brasileiro, o mesmo tipo de organização, cristalizado no sls_ desenvolvimento da produção no vale do São Francisco e na região de
tema de economia mista da Petrobrás. Estou certo de que essa for influência de Paulo Afonso.
ma de empreendimentos há de dar, no eaao do petróleo, os meanos fru Interesse particular merecem oa setores administrativos
toa que já colhamos da Hidro-KLétriea do são Francisco e na usina que estão diretamente empenhados na região do rio são Francisco, oo
Siderúrgica de Volta Redonda. mo o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas e a Comissão do
O aproveitamento progressivo de Paulo Afonso será a mal, Vale do são Francisco, a fim de aproveitar prontamente, e na maior
or base, ou melhor, o centro irradiador, para a recuperação e o de_ escala, as possibilidades criadas com a liberação da energia de Pau
aenvolvimento econômico do Nordeste, tanto pelos efeitos diretos, na Io Afonso, cujo aproveitamento Integral ultrapassará 900.000KW.

área servida pelas suas linhas de transmiasao, aomo pelos reflexos Não contando a Companhia senão com os recursos indispen
poderosos dêaae novo centro de vida, nas zonas nordestinas mala di£ sávels às obras de eletrificação, cumpre que outros serviços cuidem
tantes. Quanto mala rápido for alcançado o aproveitamento total de da Irrigação e colonização, do trafego fluvial no baixo São Franols
Paulo Afonso, mais pronta e efetiva será a vitória do homem brasl co, das estradas de ferro e de rodagem, da rede de aeroportos, doais
-73-

tema de comunicações, do saneamento rural, da saúde e assistência, rio Salgado-Paulo Afonso, assim como a ligação ferroviária Paulo
da educação e ensino profissional, do fomento à produção pecuária e Afonso-Arcoverde. Estuda-se ainda a possibilidade de tornar franca
mineral, da industrialização e até do estabelecimento de planos dl_ mente navegável o são Francisco, desde sua foz até Piranhas, propor
reto rés para os aglomerados urbanos que surgem ou que se expandirão
cionando, assim, livre acesso ao tráfego marítimo em vasta região
em conseqüência da energia de Paulo Afonso. Também deve ser efetl_
vada a realização do Parque Nacional de Paulo Afonso, com o fim de do Nordeste.
O Incremento das pesquisas minerais, na região benefi_
constituir reserva da flora e da fauna características da região,
ciada, será, como já apontei de Início, uma das conseqüências mais
bem como de melhor aproveitar as possibilidades econômicas do turls_
notáveis da exploração hidro-elétrica do São Francisco. Em Olinda
mo e de cultivar em torno da majestosa cachoeira e da pujante obra
(Pernambuco), Arapiraca (Alagoas) e Iplrá (Bahia), há grandes Jazl_
humana da sua dominação um centro acolhedor de repouso e de recreio,
das de fosfates, de que tanto depende a agricultura nacional. O sal^
para nacionais e estrangeiros.
gema de Sergipe poderá ser a base 3e uma grande usina de álcalls, utí.
Sn despacho de janeiro deste ano, determinei a todos oa
lizando-se o processo eletrolítico. Também há calcáreos localizados
órgãos do Governo que dessem a mais completa assistência à Compa_
em várias zonas e que servirão para fabricar cimento.
nhia, para o melhor aproveitamento da energia a ser gerada em Paulo
são conhecidos os depósitos de ferro de Sento-sé, bem
Afonso, quer para beneficiamento da região, quer para a realização
como os minérios estratégicos de manganês e cromo, insuficientemente
das fases subsequentes do seu programa de expansão. Orna lei do Con
explorados em Jacobina, Campo Formoso e outros municípios baianos.
gresso oriunda da Mensagem Presidencial, já aumentou de Ij.00 milhões
O cobre de Caraíba, no sertão adusto da zona de Canudos, poderá ser
de cruzeiros o capital da Companhia, e eu vos asseguro que essa im
mobilizado para a consolidação da indústria nacional, tão carente
portância não será poupada, devendo empregar-se totalmente no de sen
volvimento da empresa. desse precioso metal, desde que se construam as linhas de transmis_
são, a via de acesso e o suprimento dágua, essenciais ao estabelec^
Assim, já estão bem adiantados os estudos e provldênci,
as para pronta realização da linha de transmissão que, no sentido mento de uma usina local.
No ano passado, determinei o estudo definitivo do apro
norte, atingirá o coração do Ceará, na região densamente povoada do
Carlrí, cujo desenvolvimento agrícola e capacidade industrial tem sl_ veltamento das minas de Caraíba, no desejo de que venham elas resol
do testemunhados pelo progresso do artesanato ali existente. Essa ver um problema importante para a industrialização nacional e possl_
região cearense está sendo objeto de estudos definitivos, por parte bilitar economicamente, e a curto prazo, a linha de transmissão que
da Companhia Hidro-Elétrica do São Francisco, de acordo com a minha deverá atingir o médio são Francisco, em Joazeiro e Petrollna.
ré oomendaç ao. Temos ainda o tungstênio e o berilo, na Paraíba e no
Rio Grande do Horte, que também serão beneficiados no plano de ex
O sistema que alcança o Ceará, através de Zl\. municípios,
servira também à Paraíba, abrangendo seis dos seus municípios, além pansão do sistema de Paulo Afonso. Da atmosfera se extrairá o a?.<à
das áreas de oito municípios de Pernambuco. to para a fabricação de grande quantidade de nitratos, sobretudo pá
Por sua vez, a Comissão Mata Brasll-Estados Unidos ea_ rã adubos.
Dentre as industrias de origem agro-pecuária, assumiram
tá examinando o sistema do São Francisco que se destina ao desenvol
impcrtância relevante a de fibras regionais, como os excelentes al^
vlmento agro-pecuário o industrial da região ribeirinha do grande
rio, desde 100 kms. á montante de Paulo Afonso, até sua foz. godões de fibra longa, o slzal, o caroá e outras, as de óleos e ré
Também esta o meu Governo estudando, com todo o interês sinas vegetais, as de couros e peles.
Com essa base industrial e novas fontes de abasteclmen
se, a melhoria e a ampliação da rede de transportes nesta região, a
fim de que se completem as rodovias Já iniciadas e o ramal ferrovia to de matérias primas agro-pecuárias, decorrentes da irrigação e da
colonização, novas condições de vida se irradiarão de Paulo Afonso
-75-

para todo o Nordeste, contribuindo decisivamente para o deaenvolvi_ tlca nacional de energia e de uma grande reforma de base da econo
mento equilibrado da economia brasileira. mia brasileira.
O outro grande problema que temos de resolver, nesta re_ Brasileiros:
glão do país, é o da energia. Esta o meu Governo empenhado em ata Com sincera emoção antevejo a era da conquista integral
cá-lo sistematicamente, estabelecendo uma política nacional de ener deste vale prodigioso e abençoado, onde milhões de brasileiros pode_
gia, na qual se inclui também a energia florestal. rão refugiar-se, com a segurança do dia de amanhã e a certeza de que
Apresentei ao Congresso, ha quasl um ano, o Plano do lograrão trabalhar com entusiasmo - pois na terra acharão fartura
Carvão Nacional; e, no fim de 1951» um projeto relativo à explora de alimentos e nas águas da cachoeira encontrarão a fonte ine.Tgotá_
cão do petróleo, criando utna organização com o vulto e a flexibill_ vel de energia que lhes permitirá movimentar as máquinas da oivi11
dade necessários a tão magno empreendimento. Numerosos projetos de zação e do progresso.
eletrificação teem sido igualmente apoiados, técnica e financeira O Nordeste inteiro há-de crescer e enriquecer-se, com o
mente, pelo Governo Federal, que para os mesmos tem concedido crédi_ grande impulso industrial que partirá dessa obra gigantesca, sonho
tos e patrocinado a obtenção de financiamento no estrangeiro, com a de muitas gerações e esperança de numerosas populações, que ainda
garantia de fornecimento de equipamentos. hoje se debatem com dificuldades e entraves de toda a sorte.
Devemos concentrar todos os recursos financeiros e téc Um novo ímpeto civilizador há-de brotar das águas do
nicos que forem precisos, para coordenar a ação dos vários órgãospú São Francisco, conquistadas pela firme vontade do homem; dias melh£
bllcos na solução desse problema e na execução da política nacional rés, de fartura, de tranqüilidade, de trabalho fecundo e de bem-es_
de energia. tar social hao-de nascer no vale imenso, que foi uma dádiva e um de_
No meu governo anterior, o Conselho Federal do Comércio saflo da natureza bravla à coragem, à tenacidade e ao heroísmo da noe
Exterior Iniciou o estudo do Plano Nacional de Eletrificação; e as sã gente".
diretivas então firmadas estão sendo hoje objeto de estudos comple
montares. Solicitei ao Conselho Nacional de Economia e aos órgãos
especializados da administração que realizassem trabalhos técnicos
para a pronta elaboração e execução de um Plano Nacional Integrado
de- Eletrificação.
Foi também reconstituído e atualizado o estudo feito em
1945 pela Comissão da Indústria do Material Elétrico, a fim de criar
a Industria de material elétrico pesado, essencial à expansão do al£
têm* de eletricidade no Brasil.
Se agora sofremos, em todo o país, o racionamento da
energia elétrica, é porque a montagem de usinas demora longo tempo
e nem aa empresas privadas concessionárias, nem o Governo desenvol
vera» em tempo programas de expansão da nossa capacidade instalada,
que esta crescendo vertiginosamente. Tal situação não poderá ser
remediada em meses; porém estão sendo tomadas medidas para que não
se prolongue.
Assim, o Plano Nacional de Eletrificação, que em breve
encaminharei ao Congresso, constituirá novo e poderoso elo da
DISCURSO PRONUNCIADO PELO PRESIDENTE

GETUUO VARGAS, EM CANDEIAS, NA BAHIA,

HO DIA 25-6-1952
SOLUÇÃO NACIONALISTA PARA O PROBLEMA DO PETRÓLEO

"Brasileiros
Povo da Bahia

Uma das páginas mais notáveis da história econômica do


Brasil foi escrita aqui, no Recôncavo baiano, quando, tu. janeiro de
1939» jorrou petróleo das entranhas do solo pátrio, após uma Inoan
sável pesquisa de vários decênios.
Coube ao meu Governo a glória de haver realizado esse
descobrimento, destinado a imprimir novo rumo ao progresso do país
e que foi o coroamento de uma série de tentativas Infrutíferas, que
se vieram sucedendo e multiplicando desde o começo do século. Orga_
nizou-ae desde logo um plano sistemático de sondagens, que tornou
realidade a exploração industrial do petróleo brasileiro, embora res_
trlta, até o presente momento, ao âmbito de uma produção para oonsu
mo local.
Antes de mais nada, desejo louvar a capacidade dos noa_
sós técnicos, a audácia dos pioneiros da penetração do aub-solo pá
trio e o esforço tenaz e infatigável dos trabalhadores dedicados,
que, sem medirem sacrifícios, lutaram, durante muitos anos, para que
se tornassem afinal realidade palpável os sonhos e as esperanças de
tantas gerações.
A guerra mundial impediu que se levasse avante esse em
preendlmento, com o ritmo acelerado que seria aconselhável. Mas,
não obstante isso, as reservas petrolíferas da Bahia chegaram a prp_
duzir, no começo de 1951, 5*000 barris diários.
Com essa produção, ainda estamos muito longe de atender
às necessidades do país, que consome, em média, 130.000 barris dlá_
rios prevendo-se que, em 1953» esse consumo atingirá 170.000.
A principal dificuldade com que nos defrontamos, para re_
aolver o problema do petróleo, é de ordem financeira. Qualquer inl
ciativa, nesse terreno, exige vultosos capitais e uma diretriz polí_
tica e econômica bastante firme e persistente.
Durante o decênio de 1931~19ÍÍ-0» ° consumo de petróleo
no Brasil cresceu na média anual de 6,U& no decênio seguinte, às luzes do Congresso Federal representa o Instrumento mais aproprl
-1950, aumentou para 11,9#. Bn 1951» consumirã»-se no paia 119 ado para a exploração e industrialização do petróleo, além de constl
barris diários, que custaram ao consumidor } bilhões • 850 milhões tulr uma organização genuinamente nacional, sob o mais completo e
de cruzeiros* rigoroso controle do Estado e custeada com os recursos oriundos do
E, para f azar face a tão grande consumo, a produção bra_ país.
sileira ainda é Insuficiente e Inoperante. Somos, por isso, obriga O projeto de incorporação da Petróleo Brasileira 3ool£
dos a importar grande quantidade de petróleo e derivados, consumin- dade Anônima, ou, mais simplesmente, Petrobrás, visa captar, para e
do nessa Importação todas as nossas divisas no exterior. De ano pa_ desenvolvimento da indústria brasileira do petróleo, as fontes de
rã ano, as compras de petróleo bruto e de seus derivados vêm-se trens receita de que necessita e a centralização de iniciativas que lhe é
formando no maior e mais pesado encargo externo do país, tanto mais indispensável. Mais ainda, consolida a orientação nacionalista, de
quanto essas compras são feitas em dólares. As compras do corrente que nunca se afastou o meu Governo e que espero poder sustentar até
ano consumirão mala de 5 bilhões de cruzeiros, representando 266 nd_ o fim, contra todos os adversários descobertos ou embuçados e os ini,
Ihões de dólares. E se atentarmos em que as Importações de produ migoa da nossa emancipação econômica.
tos da petróleo, em 1951, representaram um anumento de 50^, eu vá Outros planos tinha o Governo que me antecedeu, quando
lor, sobre as de 1950, bem a« poderá avaliar qual o ritmo desse au baixou o Decreto-lei número 9.881, de 16 de setembro de 19^6, que
mento de encargos. Se o problema não for solucionado em curto pra autorizou a constituição de uma empresa para gerir a refinaria de Ma
só, antes de 1956 teremos una média anual de 10 bilhões de oruiml. taripe e outras refinarias - empresa essa que só estaria sob o con
ros para as Importações brasileiras. £ difícil acreditar que tenha trole federal enquanto fosse insuficiente o capital particular, que
aos divisas para tanto. não tinha limite individual de subscrição. O Governo só nomearia o
Constitui, por Isso, necessidade imprescindível o pró». presidente da companhia enquanto a União tivesse mais de 25$ das
seguimento das pesquisas, a fim de que se possa descobrir mais py_ ações; e, em qualquer hipótese, os outros diretores seriam eleitos
tróleo, • traçar um plano sistemático de sondagens e de exploração pelos demais acionistas.
industrial de combustível líquido mais Importante para o abasteci_ Em complemento dêsae Decreto foram enviadas ao Congres_
mento dos veículos de transporte e para a emancipação econômica na_ só as Mensagens números 6l e 62, de janeiro e fevereiro de 1914.8, rés
ei onal. pectlvãmente, com projetos de leis que reformavam completamente a
Precisamos mobilizar novos recursos financeiros, prlnoi_ orientação nacionalista do meu passado Governo, propondo-se, na prl
palment» ao setor da pesquisa e lavra; e só poderemos contar, de fã meira dessas mensagens, alterações fundamentais na lei de permissões
to, com uma fonte de tais recursos: a tributação. O problema terá para refinação e transporte, inclusive oleodutos para abastecimento
que ser solucionado criando-se novas fontes de receita e organlzan interno, facultando-ae a constituição de sociedades brasileiras com
do-se aa pesquisas através de «na entidade capaz de lhes dar unida Í4.0$ de sócios estrangeiros, sem limites de quotas. A segunda Mensa
de de direção e eficiência de ação. gem projetou o famoso Estatuto do Petróleo, que desde logo enfren
Essas considerações levaram o meu Governo a enviar ao tou um grande movimento de opinião, levando a Câmara dos Deputados
Congresso Nacional, em dezembro de 1951» a mensagem que propôs a a arquivá-lo.
criação de uma sociedade de economia mista, nos moldes da Companhia Por certo, ninguém põe em dúvida o patriotismo dos ho_
Siderúrgica Nacional, da Companhia Vale do Rio Doce e da Companhia mens públicos que pretendiam executar esse programa. Fundavam-se
Hldro-Blétrioa do São Francisco, já que estas constituíam eloqüente eles na tese de que ao Estado cabia apenas a função pioneira e es ti
testemunho de uma atividade fecunda e útil aos interesses do país. inuladora, e não a função do controle efetivo da indústria do petró
Não receio proclamar que o projeto ora submetido ao patriotismo • leo. Já não pensava assim, todavia, a imensa maioria do povo bra-
sileiro.
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Deade que reasaraní o Governo, ordenei que se reexamlnas_ de Santos e se construirão novas usinas, com uma capacidade adicio_
ae o problema, dentro da orientação nacionalista de que nunca me nal de refino da ordem de 100.000 barris diários, que é a média do
afastei. Pareceu-me também que, mona Indústria complexa como a do consumo nacional, esse plano está em fase final de estudos no Con
'petróleo e num país extenso como o Brasil, cuja grandeza depende do selho Nacional do Petróleo.
máximo desenvolvimento regional, o êxito de um programa dessa ordem Esperamos obter também a autosufi ciência no suprimento
dependeria da maior flexibilidade e descentralização de atividades de lubrificantes de origem mineral, pela industrialização do óleo
executivas. A natureza desse empreendimento, embora requeira unida, bruto baiano, e a ampliação da frota de petroleiros nacionais para
de de ação e de orientação governamental, não exige centralização 500 mil toneladas.
rígida, disciplinada a um departamento administrativo, no sentido A Petrobrás será, na verdade, o próprio Governo agindo
estrito do termo. no campo da indústria petrolífera, tal como já o faz na indústria
No caso em estudo, poder-ae-ia obter o controle do Bata do aço, através da Companhia Siderúrgica Nacional. E isto sem pre_
do sem o prejuízo da liberdade de ação industrial e comercial, in Juízo do concurso do capital privado, através das subscrlçó*es compul
dispensável ao êxito da organização que se pretende estabelecer. sórias de todos os proprietários de veículos automóveis. Mas nem
Eis porque se orientou o Governo para o projeto de cons_ remotamente existe o perigo de que, através da participação do capi_
tltuição de uma sociedade de economia mista, na qual pudesse ele ré tal privado, venham a agir os grupos financeiros alienígenas, ou
unir a maioria absoluta das ações e participar diretamente de uma mesmo nacionais. Afastou-se tal perigo de vários modos: quer liml_
empresa dotada de bastante flexibilidade, dinamismo, autonomia de tando a subscrição de ações com direito de voto, quer estabelecendo
ação e máxima capacidade de expansão industrial. que o presidente e os diretores executivos da sociedade serão nomea
No projeto da Petrobrás, a associação do capital priva_ dos pelo presidente da República, tendo o primeiro direito de veto
do ao do Estado foi estabelecida de maneira que não comprometesse, sobre as decisões do Conselho de Administração, quer, ainda, redudn
mesmo remotamente, o controle do Governo sobre a sociedade de econo do a 15/6 o montante da participação do capital particular na 8oclj_
mia mista. Ao mesmo tempo, cuidou-se de unir as fontes de receita dade, onde os Estados, Municípios e Autarquias poderão contribuir
da nova companhia ao reforço concomitante do Fundo Rodoviário Nado até com 25$ e a União Federal até com 6fj% - e nunca menos de 51/6»
nal, com o aumento do imposto sobre combustíveis líquidos e lubrlfl Nessas bases, a organização da Petrobrás foi concebida
cantes. dentro de um ponto de vista nitidamente nacionalista. Ela dará o
A Petrobrás foi concebida como uma entidade ao mesmo petróleo do Brasil aos brasileiros e tornará possível» os recursos
tempo de execução direta, em certos setores de trabalho, e de ooor financeiros vultosos de que necessitamos para explorar uma das maio
denaçao técnica, econômica e financeira, em outros. Todas as emprê rés fontes de riqueza da civilização.
sãs subsidiárias da Petrobrás deverão constituir-se segundo o modê <í! Essa bandeira nacionalista, eu a venho desfraldando «t
Io da empresa central, embora mantidas com recursos financeiros per toda a minha vida pública e ninguém logrará arrebatá-la das minhas
tenoentes as administrações regionais, e locais. mãos. Coube ao meu passado Governo elaborar a legislação de minas,
Quando posto em prática, esse plano imprimirá novo Im que nacionalizou a propriedade e a exploração das riquezas do nosso
pulso a uma serie de atividades relacionadas com o problema do petró sub-solo, cristal!zando-se pela primeira vez a defesa do patrimônio
leo. Espera-se, por exemplo, que a produção petrolífera do Recônca mineral do Brasil.
vo baiano atinga a cifra de 25.000 barris diários, dentro de quatro Em 29 de abril de 1938, considerando a Importância fun
anos. Intensiflcar-se-ão as pesquisas na Amazônia, noutros Estados damental do combustível líquido para a nossa economia e segurança,
do Norte e na bacia do Paraná. Terá início a exploração industrial promulguei o Decreto-lei número 395» 1ue declarou de utllldaâ» púbU
do xisto betumlnoso do vale do Paraíba. Será concluída a refinaria ca o abastecimento nacional do petróleo.
advogados dos monopólios econômico» estrangeiros, nem entre os arau
Ficarem assim dependentes de autorização e controle do
tos dum falso nacionalismo que mal encobre uma filiação Ideológica,
Poder Publico a Importação, exportação, distribuição, transporte e
visando novos impe ri ali sinos. Não é de espantar, poia, quase levantem
refinação do óleo mineral e seus derivados, e foi nacionalizada aln_
agora uns e outros, com o objetivo de torpedear e paralisar a atual
dústria do refino. proposta governamental, - os primeiros porque não têm porta de aoes,
Easa lei foi cuidadosamente regulamentada pelo Decreto
só na nova organização, e os últimos porque, para eles, só interes_
número 4.071, de 12 de maio de 1959- Para realizar os objetivos da sã que o petróleo seja nosso, mas... debaixo da terra*
lei, foi criado o Conselho Nacional do Petróleo, cujas funções fo_
A despeito de tudo, haveremos de celebrar em breve a só
ram depois ampliadas, inclusive para a pesquisa, lavra e industria^ lução do magno problema nacional e assim o Brasil dará mais um pas_
lização, pelo Decreto número 53^» de 7 de julho de 19j8« só decisivo no caminho da sua emancipação econômica e industrial.
Prosseguindo na trilha da preservação e nacionalização E entraremos numa nova era de riqueza e de intensa produtividade,
doa nossos recursos naturais, iniciada com o código de Minas de com o concomitante aumento do nível de vida do operariado e das oon
19314., promulguei, em 29 de Janeiro de 19Í-I-0, o novo Código de Minas, dições de conforto e bem-estar de nossa população.
que está em vigor, e pelo qual só podem ser sócios de empresas prl_ Povo da Bahia.
vadas de mineração, autorizadas a pesquisar ou lavrar minérios, os Quis o destino que esta terra abençoada viesse a ter
brasileiros, inclusive os naturalizados e os casados com estrangei_ mala uma participação essencial no progresso do Brasil; e que.no mea
rãs. Para o petróleo, entretanto, prevaleceu a norma da exigência mo solo onde pela primeira vez floresceu a civilização, também des_
de ser brasileiro nato, casado com brasileira. pontasse pela vez primeira, o veio líquido de uma riqueza inoaloulá.
Ainda em 19Í)-0, pelo Decreto-lei número 2.615, de 21 de vel.
setembro, criou-se o imposto único sobre combustíveis líquidos e lu Por uma feliz coincidência, estamos às vésperas de 2 de
briflcantes, importados e produzidos no país, com o objetivo de dis_ Julho e na proximidade do local onde ocorreu o feito histórico que
cipllnar a matéria, em benefício da expansão da indústria petrolífe_ essa data evoca. É grato ao meu coração de brasileiro recordar o
rã nacional e de prover recursos para o Fundo Rodoviário. magnífica episódio da história pátria, em que o Recôncavo baiano, por
Em 19Í|1, outra lei do meu Governo - o Decreto-lei nume. todas as suas classes, num movimento nitidamente popular que aacrl
ro 3*256, de 7 de maio - define o regime legal das jazidas de petró^ ficou os haveres de centenas de famílias, marchou contra a capital
leo e gases naturais e de rochas betuminosas, existentes em terrltó_ ocupada, para consolidar a independência nacional.
rio nacional, as quais pertencem à União, a título de domínio priv<a O que hoje estamos fazendo, aqui, é uma nova consolida
do imprescritível. Nessa lei se exigiu a nacionalidade brasileira cão da independência. Ontem, foi a independência política; hoje, é
dos sócios das empresas que pretenderem autorização para mineração a independência econômica. A Bahia marcha de novo para reooupar o
do petróleo. Esta foi, aliás, a diretriz firmada por mim desde a Re_ seu posto de pioneira na história do Brasil - desta vez, desfraldan
volução de 19?0 e da qual nunca me afastei. do a bandeira da nacionalização do petróleo e da emancipação da noa_
Durante muitos anos a tecla favorita na campanha dos meus sã economia. Também esta campanha terá que vencer dificuldades e_
adversários foi o combate ao nacionalismo da minha política de Oo normas; mas podeis contar com a colaboração do meu Governo, que tem
vêrno. Entretanto, foi esse nacionalismo a couraça que defendeu o o inabalável propósito de conduzi-la a bom termo, quaisquer que se_
Brasil contra a incursão dos trustes internacionais. Jam os obstáculos e os sacrifícios.
Ê justificável a sinceridade dos que encaminham as suas Para aqui se voltam, pois, mais uma vez, os corações an
preferências para outras formas Jurídicas como Incompreensível a atl_ slosos de todos os brasileiros, esperando melhores dias, em que a
tude tendenciosa dos que pretendem servir-se dum problema nacional fertilidade inoomparável da Bahia disseminará por todo o país &3
para f.azer Jogo de oposição. Não os Incluo entre os conhecidos
bênçãos 0 oa frutos do aeu aolo privilegiado.
Que ae cumpra o aeu destino. E que a riqueza da Bahia
aeja hoje, como o foi tanta» vezes no paaaado, uma fonte perene de
engrandecimento do Brasil",

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