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Acidente no trabalho
O auxílio acidente é um benefício concedido pelo INSS com caráter indenizatório, isso significa
dizer que após o segurado ter a consolidação das suas sequelas que acarretarem a sua
incapacidade parcial e permanente para exercer as suas atividades laborais, terá direito ao
benefício indenizatório.
A previsão legal do benefício de auxílio acidente está inserido no artigo 86 da Lei 8.213/91 e
artigo 104 do RPS (Decreto n.º 3.048/99) e será concedido, sem exigência de carência mínima,
como indenização ao segurado.
Oportuno esclarecer que não será apenas o acidente de trabalho que dará ensejo ao benefício,
mas, também, acidente de qualquer natureza. Tanto faz se o acidente for decorrente do
trabalho ou não.
Os códigos de concessão do benefício são estes: espécie 94: para auxílio-acidente por acidente
do trabalho; espécie 36: para auxílio-acidente previdenciário (acidente de qualquer natureza).
Para que o segurado tenha direito ao auxílio acidente, não há exigência de carência mínima (art.
26, inciso I, da Lei 8.213/91), todavia, são necessários três requisitos, cumulativamente:
1º requisito: a ocorrência do acidente de qualquer natureza ou causa, seja decorrente do
trabalho ou não.
Entende-se, por acidente de qualquer natureza ou causa, aquele de origem traumática e por
exposição a agentes exógenos, físicos, químicos ou biológicos, que acarrete lesão corporal ou
perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou a redução permanente ou temporária
da capacidade laborativa (Decreto 3.048, artigo 30, parágrafo único).
Antes da entrada em vigor da Lei nº 9.032/95, o auxílio acidente somente era devido em razão
de acidente decorrente do trabalho ou a ele equiparados.
Podemos considerar sequela como sendo “é qualquer lesão anatômica ou funcional que
permaneça depois de encerrada a evolução clínica de uma doença, inclusive de um
traumatismo. Logo a sequela pressupõe lesão permanente, a exemplo da perda de um dedo”.
(AMADO, Frederico, in Curso de direito e processo previdenciário, 12. ed. rev., ampl. e atual. –
Salvador: Ed. JusPodivm, 2020, p. 813).
Desse modo, a lesão, para fins de auxílio acidente, implicará na perda parcial e permanente da
capacidade laborativa, sendo que o segurado não irá recobrá-la com o passar do tempo.
É importante frisar que mesmo a sequela de grau mínimo será considerada para fins de
concessão de auxílio acidente, pois o que deverá ser considerado é a repercussão da lesão na
capacidade laborativa do segurado e não o grau da sequela.
Conforme determina o artigo 18, § 1º da Lei n.º 8.213/91, somente terão direito ao auxílio
acidente os seguintes segurados do Regime Geral de Previdência Social (RGPS):
I – Empregado;
II – Empregado doméstico;
Quanto ao empregado doméstico, o benefício somente passou a ser devido com a entrada em
vigor da Lei Complementar 150/2015, ou seja, para acidentes ocorridos a partir de 02/06/2015.
A referida LC criou o Simples Doméstico, com a previsão de custeio para os benefícios por
incapacidade, conhecida como contribuição SAT, no percentual de 0,8% (oito décimos por
cento) de contribuição social para financiamento do seguro contra acidentes do trabalho.
Auxilio Acidente
Portanto, por expressa previsão legal, o contribuinte individual não tem direito ao auxílio-
acidente.
A respeito desse tema, sugere-se a leitura do artigo elaborado pelo Dr. Gilberto Vassole,
intitulado “Auxílio-acidente para segurado contribuinte individual – autônomo”, o qual
recomendamos a leitura.
De acordo com o entendimento do Dr. Gilberto Vassole:
“Apesar da lei ser expressa quanto à limitação de segurados, já existem especialistas do direito
previdenciário, incluindo juízes de alguns Tribunais, que entendem que excluir o contribuinte
individual da possibilidade da concessão do auxílio-acidente acaba por ferir princípios
constitucionais norteadores do ordenamento jurídico brasileiro, como os princípios da
dignidade da pessoa humana (art. artigo 1º, inciso III, da Constituição Cidadã de 1988), princípio
da isonomia, princípio da proteção dos direitos sociais, princípio da função social do direito
previdenciário”.
Esse novo entendimento se baseia no fato que se existe previsão de custeio e efetivo
recolhimento das contribuições aos cofres da Previdência Social, também dos contribuintes
individuais (autônomos), não faz sentido lógico restringir-lhes o direito ao auxílio-acidente, caso
ocorra um acidente do trabalho que resulte em sequelas que impliquem a redução da sua
capacidade laboral.
A redação do caput do artigo 104 do Decreto n.º 3.048/99 sofreu alteração após a entrada em
vigor do Decreto n.º 10.410, publicado no dia 01/07/2020, além da revogação de todos os incisos
do referido artigo 104.
Antes de serem revogados, os incisos de I a III do art. 104, do RPS, previam situações para a
concessão do auxílio-acidente aos segurados, a saber:
II – redução da capacidade para o trabalho que habitualmente exerciam e exija maior esforço
para o desempenho da mesma atividade que exerciam à época do acidente; ou
III – impossibilidade de desempenho da atividade que exerciam à época do acidente, porém
permita o desempenho de outra, após processo de reabilitação profissional, nos casos indicados
pela perícia médica do Instituto Nacional do Seguro Social.
Todavia, entende-se que, muito embora a revogação dos incisos acima elencados, havendo
comprovação dos requisitos para a concessão do auxílio-acidente até 31/06/2020, antes,
portanto, da entrada em vigor do Decreto 10.410/20, o segurado fará jus ao auxílio acidente se
preencher uma das situações expressas acima, em razão do princípio tempus regit actum.
Assim, de forma a ilustrar situações que dariam ensejo ao auxílio acidente, colaciona-se, abaixo,
algumas hipóteses previstas nos quadros do Anexo III constantes do Regulamento da
Previdência Social (Decreto n.º 3.048/99):
acuidade visual, após correção, igual ou inferior a 0,5 em ambos os olhos, quando ambos tiverem
sido acidentados;
acuidade visual, após correção, igual ou inferior a 0,5 no olho acidentado, quando a do outro
olho for igual a 0,5 ou menos, após correção;
redução da audição em grau médio ou superior em ambos os ouvidos, quando os dois tiverem
sido acidentados;
Prejuízo estético, em grau médio ou máximo, quando atingidos crânios, e/ou face, e/ou pescoço
ou perda de dentes quando há também deformação da arcada dentária que impede o uso de
prótese;
perda de segmento de dois pododáctilos, desde que atingida a falange proximal em ambos;
redução em grau médio ou superior dos movimentos das articulações do ombro ou do cotovelo;
redução em grau médio ou superior dos movimentos das articulações coxo-femural e/ou joelho,
e/ou tíbio-társica;
redução da força e/ou da capacidade funcional da mão, do punho, do antebraço ou de todo o
membro superior em grau sofrível ou inferior da classificação de desempenho muscular;
redução da força e/ou da capacidade funcional do pé, da perna ou de todo o membro inferior
em grau sofrível ou inferior.
De acordo com o Superior Tribunal de Justiça (AGA 585.768, de 16.09.2004) o auxílio acidente
também será devido se a sequela consolidada decorrer de moléstia ocupacional (doença do
trabalho ou profissional), haja vista ser equiparada a acidente de trabalho, ante o nexo de
causalidade entre a lesão e a atividade laborativa desempenhada pelo segurado.
Portanto, caso o segurado tenha sofrido perda de audição, para que ele faça jus ao auxílio-
acidente, deverá comprovar, cumulativamente, os seguintes requisitos:
Não obstante mais rígida a exigência para a concessão de auxílio acidente nos casos de perda
auditiva, ainda que haja grau mínimo de disacusia, haverá a concessão do benefício
previdenciário.
Portanto, basta provar a deficiência auditiva, o nexo causal com o trabalho e a redução da
capacidade laborativa para o trabalho que habitualmente exercia, independentemente de
verificado o grau de disacusia abaixo do mínimo previsto na Tabela de Fowler.
“A definição, em ato regulamentar, de grau mínimo de disacusia, não exclui, por si só, a
concessão do benefício previdenciário.”
A redação original do artigo 86 da Lei 8.213/91 previa que o auxílio acidente era um benefício
vitalício (só cessava com a morte do segurado), permitindo-se ao segurado a sua cumulação com
qualquer remuneração ou benefício não relacionado ao mesmo acidente.
Todavia, após o advento da Medida Provisória 1.596-14, convertida na Lei n.º 9.528/97, o auxílio
acidente deixou de ser vitalício e não poderá mais ser acumulado com a aposentadoria, sendo
que o valor do auxílio acidente passará a integrar o salário de contribuição para fins de cálculo
do salário de benefício da aposentadoria, nos termos do artigo 31 da Lei n.º 8.213/91.
A Previdência Social e Advocacia Geral da União reconhecem que, para acumulação do auxílio-
acidente com proventos de aposentadoria, a consolidação das lesões decorrentes de acidentes
de qualquer natureza, que resulte sequelas definitivas, e a concessão da aposentadoria deverão
ocorrer até 10/11/1997, ou seja, antes da entrada em vigor da Medida Provisória 1.596-14,
convertida na Lei n.º 9.528/97, de acordo com a Súmula n.º 44 da Advocacia Geral da União.
Atualmente, de acordo com o artigo 86, § 2º da Lei n.º 8.213/91, é vedada a acumulação de
auxílio acidente com qualquer aposentadoria.
Não se permite a acumulação de mais de um auxílio acidente. Portanto, se o segurado fizer jus
a um novo auxílio acidente, em decorrência de fato gerador diverso (outro acidente), as rendas
mensais de ambos os benefícios serão comparadas e, ao segurado, será concedido o benefício
mais vantajoso.
O segurado pode acumular auxílio acidente com o auxílio doença?
Em regra, não é vedada a acumulação de auxílio acidente com auxílio doença. Só não pode
acumular quando se trata de reabertura de auxílio doença decorrente do mesmo acidente que
deu origem ao auxílio-acidente. Neste caso, reabre-se o auxílio-doença e suspende-se o auxílio-
acidente enquanto durar o auxílio-doença. (GOES, Hugo. Manual de Direito Previdenciário.
2018. 14ª edição; ed. Ferreira. Rio de Janeiro, p. 296)
Portanto, havendo fatos geradores diversos (lesões diversas), não há proibição para acumular
auxílio por incapacidade temporária (auxílio-doença) e auxílio acidente.
No que tange ao auxílio acidente, para as concessões até 17/06/2019 o beneficiário manterá
sua qualidade de segurado enquanto estiver em gozo do benefício.
Todavia, com o advento da Lei n.º 13.846/2019, em vigor desde 18/06/2019, a redação do inciso
I do artigo 15 da Lei n.º 8.213/91 foi alterada, excluindo o auxílio acidente da hipótese de
manutenção da qualidade de segurado enquanto o benefício estiver ativo.
Na redação original do § 1º do artigo 86 da Lei n.º 8.213/91, a renda mensal inicial do auxílio
acidente correspondia a 30%, 40% ou 60% do salário de contribuição do segurado vigente no
dia do acidente, conforme fosse apurado o grau de redução da capacidade laborativa.
Com o advento da Lei n.º 9.032/95, houve a fixação do percentual de 50% do salário de benefício
para os segurados que comprovassem o preenchimento dos requisitos após sua vigência.
Nesse sentido, os segurados que já estavam recebendo o benefício com percentuais de 30%,
40% ou 60% não puderam ser beneficiados com a retroatividade da lei nova mais benéfica (Lei
n.º 9.032/95), a qual estipulou percentual de 50%, pois, segundo o entendimento majoritário
dos Tribunais Superiores, o benefício deverá ser regido pela lei vigente à época de sua concessão
(STF, RE 613033 RG/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, Dje-110, 09/06/2011; STJ, AgRg no AREsp 179843
/ SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2ª Turma, DJe 14/09/2012).
Portanto, de acordo com o caso, será possível analisar possível revisão do auxílio-acidente para
eventual majoração do coeficiente para 50%.
Muito embora a MP 905/2019 tenha sido revogada no dia 20/04/2020, todas as concessões de
auxílio acidente ou preenchimento dos requisitos durante a sua vigência deverão observar as
regras nela estipuladas para o cálculo do benefício.
Portanto, o auxílio acidente decorrente acidente de qualquer natureza teve a Renda Mensal
Inicial vinculada à aposentadoria por incapacidade permanente previdenciária.
Nos termos do art. 26 da EC nº 103, de 2019, o PBC é composto por 100% (cem por cento) dos
salários de contribuição a partir de julho de 1994 ou desde o início das contribuições, se
posterior a 07/1994.
O Salário de Benefício (SB) corresponde à média aritmética dos valores de contribuições do PBC
e será limitado ao valor máximo do salário de contribuição do RGPS, conforme § 1º do art. 26
da EC nº 103, de 2019.
Pelo artigo 188-E, II do Decreto 3.048/99, até 13/11/2019, o PBC do auxílio-doença que servirá
de base para calcular a RMI do auxílio-acidente corresponderá a 80% dos maiores salários de
contribuição para quem provar o direito adquirido até essa data (13/11/2019);
O auxílio acidente será devido a partir do dia seguinte ao da cessação do auxílio por incapacidade
temporária (auxílio-doença), independentemente de qualquer remuneração ou rendimento
auferido pelo segurado.
Havendo ajuizamento de ação para concessão de auxílio acidente, e constatado que o segurado
recebe ou recebeu auxílio por incapacidade temporária (auxílio-doença), poderá ser
determinada a suspensão do processo até o julgamento do Recurso Especial n.º 1.729.555/SP
pelo Superior Tribunal de Justiça, consubstanciado no Tema n.º 862, se ficar demonstrada a
possibilidade de concessão do auxílio-acidente após a realização de perícia médica judicial.
O tema afetado diz respeito à fixação do termo inicial do auxílio acidente decorrente da cessação
do auxílio doença, a fim de delimitar a data de início do benefício, se será devido a contar do dia
posterior à cessação do auxílio-doença ou a contar da data de citação da Autarquia
Previdenciária.
Em que pese a expressa previsão legal (de que o auxílio-acidente tem início a contar da cessação
do auxílio por incapacidade temporária), todos os processos encontram-se suspensos até
decisão final a ser proferida pelo STJ, a qual vinculará os tribunais de instâncias inferiores.
O art. 129 do RPS traz outra hipótese de cessação do auxílio acidente: na data da emissão da
Certidão de Tempo de Contribuição, se o beneficiário utilizar-se dessa CTC, emitida pelo RGPS,
para aposentar-se perante um Regime Próprio de Previdência Social.
Tal motivo de cancelamento, todavia, tem discordâncias no mundo jurídico, motivo pelo qual
discute-se sua legalidade, haja vista não incumbir à autoridade administrativa (Previdência
Social) legislar sobre matéria que não lhe compete.
Requerimento do benefício
O auxílio acidente poderá ser requerido de forma administrativa, pelo site ou aplicativo “Meu
INSS”.
Havendo o indeferimento do benefício por incapacidade, por sua vez, o segurado poderá ajuizar
ação contra a Autarquia Previdenciária, postulando a concessão do auxílio acidente
judicialmente, sendo submetido à perícia médica judicial para aferição da incapacidade
laborativa, devendo o segurado/autor da ação, promover a colheita de toda a documentação
necessária para o ingresso e êxito da demanda, principalmente a apresentação de laudos
médicos atualizados que demonstrem, além da data de início da doença, a data de início da
incapacidade, a CID da patologia e a irreversibilidade ou não das lesões.
Considerações finais
Conforme exposto, verificou-se que o auxílio acidente é de caráter indenizatório e não exige
carência para a sua concessão.
Nesse caso, por haver possibilidade de recebimento conjunto com a remuneração pelo labor,
verifica-se a viabilidade de seu requerimento pelo segurado do RGPS que sofreu acidente de
qualquer natureza (seja acidente de trabalho ou não, portanto), desde que comprovada a
consolidação das sequelas e a redução da capacidade laborativa para a atividade habitualmente
exercida.
Ante as inúmeras hipóteses legais de sua concessão, é possível, numa ação judicial, fazer o
requerimento de forma subsidiária do benefício de auxílio acidente. Por exemplo, o pedido
principal é para concessão da aposentadoria por invalidez e, na hipótese do perito médico
judicial constatar a incapacidade parcial e permanente, pede-se de forma subsidiária a
concessão do auxílio acidente, uma vez que tudo dependerá da prova pericial médica a ser
produzida por perito de confiança do Juízo.