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Finalizado o estudo dos pressupostos gerais da responsabilidade civil, surge a

necessidade de analisar certas modalidades específicas de dever reparatório.

RESPONSABILIDADE CIVIL POR FATO DE TERCEIRO


Em regra, a responsabilidade civil é pessoal (ato próprio). O sistema jurídico imputa o
dever reparatório em desfavor do agente que, por sua conduta ativa ou passiva,
acarretou um dano para a vítima.
Exceção, em certas situações previstas legalmente, o agente pode ser responsabilizado
pelo dever reparatório em razão da conduta ou comportamento de outra pessoa, o
terceiro, da qual aquele (agente) mantém algum vínculo de guarda ou relação de poder,
de modo a caracterizar um dever de controle, vigilância e proteção em relação a este
(terceiro).
A responsabilidade do agente, nesse caso, é indireta e acontece em razão de um vínculo
legal que lhe impõe o dever reparatório por força da sua própria conduta omissa,
representada pela infração do dever de vigilância ou guarda.
A responsabilidade pelo fato ou ato de terceiro é, na verdade, responsabilidade por fato
próprio omissivo, porquanto as pessoas que respondem a esse título terão sempre
concorrido para o dano, por falta de cuidado ou vigilância. É, portanto, centrada a
referida responsabilidade na infração do dever de vigilância. Por isso, é também
chamada de responsabilidade in vigilando: a responsabilização do agente decorre por
fato ou ato de outra pessoa (terceiro) que, em razão de vínculo natural ou contratual,
está sob sua guarda ou vigilância do agente responsável. A causa do dano é o ato de um
terceiro, do qual o agente é responsável. Responsabilidade indireta ligada à pessoa
(terceiros).
A responsabilidade civil do agente por atos nocivos praticados por terceiros, assim,
justifica-se em razão de um poder de vigilância, de comando, de guarda ou
subordinação que aquele exerce sobre estes. Este vínculo demanda previsão expressa
em lei.
A responsabilidade civil está condicionada ao momento ou período em que os
terceiros permanecem na companhia ou sob a autoridade do agente responsável.
E é o artigo 932 do Código Civil que apresenta as hipóteses legais deflagradoras da
responsabilidade pelo fato ou ato de terceiro:
Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:
I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em
sua companhia;
II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas
mesmas condições;
III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e
prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão
dele;
IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se
albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus
hóspedes, moradores e educandos;
V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime,
até a concorrente quantia.
Nesse caso, a responsabilidade do agente pelo ato ou fato de terceiro é objetiva, nos
termos do artigo 933 do Código Civil:
Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente,
ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos
praticados pelos terceiros ali referidos.
Isso não quer dizer que a vítima está isenta ou desobrigada do encargo de comprovar a
conduta culposa do terceiro responsável diretamente pelo dano. A responsabilidade do
agente por ato de terceiros somente irá surgir depois que a vítima provar a culpa do
incapaz, do empregado, dos hóspedes e educandos, para configuração do dever
reparatório dos agentes considerados responsáveis indiretos pelos danos causados por
aqueles (os responsáveis diretos).
Há o concurso de duas responsabilidades:
• Para o causador direto do dano (menores, empregados, hóspedes, moradores,
educandos) a Responsabilidade Civil é subjetiva;
• Para o agente responsável pela guarda (pai, tutor, empregador, donos hotéis etc) a
Responsabilidade Civil é objetiva e surge automaticamente com a configuração da culpa
daquele.
Entre os responsáveis diretos e indiretos, existe solidariedade passiva perante a vítima,
nos termos do artigo 942, parágrafo único, do Código Civil. Assim, a vítima pode
mover a demanda indenizatória contra qualquer um (responsável direto ou
indireto) ou contra todos os devedores solidários (litisconsórcio passivo entre
responsável direto e responsável indireto).
Caso a vítima opte, neste caso de solidariedade, a demandar somente em desfavor do
responsável legal, caberá, depois, àquele, demandar em regresso por quem se
responsabilizou (causador direto do dano), exceto no caso de descendência (absoluta ou
relativamente incapaz), por força do disposto no artigo 934 do Código Civil, que
impede, no caso, o ajuizamento da ação regressiva contra o causador direto do dano
(filho menor):
Art. 934. Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver
o que houver pago daquele por quem pagou, salvo se o causador do
dano for descendente seu, absoluta ou relativamente incapaz.

O rol do artigo 932 do Código Civil é taxativo ou demanda interpretação extensiva para
abarcar também outros casos de responsabilidade por fato ou ato de terceiros? A
doutrina não é uniforme nessa questão.
Uma corrente sustenta que o artigo 932 do Código Civil representa uma enumeração
fechada (numerus clausus), não podendo ser ampliada por situações não previstas no rol
descritivo de suas hipóteses. Outra corrente, contrariamente, afirma que o artigo 932
não esgota os casos de responsabilidade por fato de outrem, narrando, como exemplo, a
situação de coisas lançadas à rua ou lugares de trânsito público, provindas de
apartamentos ou casas, por pessoas estranhas ao locatário ou morador, podendo
ocasionar danos a terceiros, pelo qual responde o inquilino ou proprietário do imóvel.

RESPONSABILIDADE DOS PAIS, TUTORES E CURADORES


A responsabilidade dos pais pelos atos dos seus filhos menores tem assento no exercício
do poder familiar (artigo 1634, CC), mais especificamente em relação à guarda dos
menores. Os tutores exercem o encargo de representantes dos menores cujos pais
faleceram, foram declarados ausentes ou decaíram do poder familiar (artigo 1728, CC) e
os curadores são os representantes dos maiores declarados incapazes por loucura,
surdez-mudez ou prodigabilidade (artigo 1767, CC).
Comprovado o ato ilícito do menor, do tutelado ou do curatelado, surge, por
consequência e independentemente de culpa, a responsabilidade do pai, do tutor ou do
curador, justamente em razão do dever de vigilância que aqueles exercem sobre estes. É
a responsabilidade in vigilando.
Para configuração do dever indenizatório do responsável legal (indireto), a culpa do
filho, tutelado ou curatelado, independe da existência de discernimento em relação ao
comportamento danoso e culposo praticado. Se for culposa, o responsável legal
responde pelo prejuízo. Caso não seja culposa a conduta, o responsável legal será
isentado do dever de reparar a vítima.
Enunciado 450 do CJF: “Considerando que a responsabilidade dos pais pelos atos
danosos praticados pelos filhos menores é objetiva, e não por culpa presumida, ambos
os genitores, no exercício do poder familiar, são, em regra, solidariamente responsáveis
por tais atos, ainda que estejam separados, ressalvado o direito de regresso em caso de
culpa exclusiva de um dos genitores”
A doutrina interpreta a expressão “estiverem sob sua autoridade e em sua
companhia” como sendo correspondente ao exercício de uma autoridade ou de um
poder de fato sobre os incapazes, "fruto da convivência com ele".
- Não há como afastar a responsabilidade do pai do filho menor simplesmente pelo fato
de que ele não estava fisicamente ao lado do seu filho no momento da conduta – STJ, 4ª
Turma. REsp. 1.093.440-PR, Relator Min. Luis Felipe Salomão, julgamento
02/02/2017).
O simples afastamento temporário do filho, tutelado ou curatelado da casa dos pais,
tutores ou curadores não afasta a responsabilidade daqueles.
Também, se o dano praticado pelo menor ocorrer por conduta praticada durante o
exercício profissional ou durante o período em que esteja internado em estabelecimento
de ensino, a responsabilidade indireta pelo prejuízo será do empregador ou do
estabelecimento de ensino, por força do disposto no artigo 932, incisos III e IV, do
Código Civil.
A emancipação do menor por força das causas previstas no artigo 5º, parágrafo único,
faz cessar a responsabilidade do pai pelos atos do filho menor. Entretanto, a
emancipação que decorre da vontade dos pais, realizada voluntariamente não
isenta o responsável legal do dever reparatório, com fundamento no inciso I, do
citado artigo 5º, do Código Civil.
A responsabilidade do pai, tutor ou curador é solidária com a do filho, tutelado e
curatelado. Entretanto, a responsabilidade dos incapazes, é SUBSIDIÁRIA E
MITIGADA: os incapazes somente responderão com seus patrimônios pessoais pelos
prejuízos que causarem a terceiros se os responsáveis legais não tiverem obrigação de
fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes para tanto.
Subsidiária: vítima deve cobrar inicialmente o responsável. Só vai cobrar o menor
quando o responsável estiver impossibilitado economicamente de indenizar a vítima ou
não tiver obrigação de fazê-lo (destituídos da autoridade parental).
Tem-se então que a Responsabilidade do pai é substitutiva, exclusiva e não solidária. Já
a Responsabilidade do incapaz é subsidiária, condicional, mitigada e equitativa.
Art. 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas
por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não
dispuserem de meios suficientes.
Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá ser
equitativa, não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as
pessoas que dele dependem.
A indenização a cargo do patrimônio pessoal do incapaz será arbitrada equitativamente
pelo juiz e não terá lugar se privá-lo do necessário ou as pessoas que dele necessitam.

RESPONSABILIDADE DO EMPREGADOR OU COMITENTE


Nos termos do inciso III do artigo 932 do Código Civil, o empregador ou comitente
responde pelos atos de seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho
que lhe competir, ou em razão dele.
O fundamento da responsabilidade do empregador ou comitente é amparado no poder
de vigilância que exerce sobre os atos de seus empregados, serviçais e prepostos e
também está justificado na teoria do risco, porque o empregador aufere benefícios
próprios com a atividade de seu empregado. A responsabilidade do empregador ou
comitente é justificada em decorrência da má escolha ou falta de cautela na nomeação
ou contratação de pessoas às quais se confiam poderes (de representação, por exemplo)
ou funções (execução de um ato ou serviço). É a chamada responsabilidade in
eligendo.
A ideia básica para caracterizar a responsabilidade do empregador ou comitente por atos
de seus empregados, serviçais e prepostos é a da existência de um vínculo de
subordinação entre eles.
“O fato do suposto causador do ilícito ser funcionário terceirizado não exime a
tomadora de serviço de sua eventual responsabilidade” (STJ, REsp. 904.127, Relatora
Min. Nancy Andrighi, 3 T, DJ 31.10.2008)
“Não é preciso que exista um contrato típico de trabalho, sendo suficiente a relação de
dependência ou que alguém preste serviço sob o interesse e o comando de outrem” (STJ
REsp. 304.673, Rel. Min. Barros Monteiro, 4 T, DJ 11.03.2002).
A norma do artigo 932, inciso III, do Código Civil é de aplicabilidade subsidiária:
somente terá incidência em casos gerais não enquadráveis em normas específicas,
como, por exemplo: a responsabilidade direta e objetiva dos prestadores de serviços
públicos por atos de seus agentes (artigo 37, § 6º, da CF); a responsabilidade civil direta
decorrente da atividade de risco (artigo 926, parágrafo único, do CC); responsabilidade
direta dos fornecedores de serviços (artigo 14 do CDC), entre outras. Empregador tem
direito de regresso em relação ao empregado.
Para imputar o dever de indenizar ao empregador é necessário que haja nexo causal
entre o dano (causado pelo empregado) e o trabalho desempenhado.
Provada pela vítima a culpa do empregado ou do preposto, surge a responsabilidade
objetiva do patrão ou comitente.
O dano ocasionado pelo ato do empregado deve ser causado em razão do trabalho, quer
dizer, deve ser praticado enquanto no exercício de qualquer das atribuições do
empregado ou preposto, ainda que não sejam as ordinárias, desde que esteja à
disposição do empregador ou comitente. Logo, se o ato ilícito foi praticado fora do
exercício das funções, o empregador não poderá ser responsabilizado.
O empregador ou comitente será exonerado da responsabilidade se conseguir comprovar
caso fortuito, força maior ou que o dano advém de ato estranho à conduta de seu
funcionário ou praticado sem qualquer relação ou razão com o exercício da função. Ou
seja, demonstrar que o ato ilícito do funcionário não foi praticado no exercício de sua
função ou em razão dela.
É importante consignar dois Enunciados do Conselho da Justiça Federal sobre a
matéria:
Enunciado 191. A instituição hospitalar responde, na forma do art. 932, III,
do CC, pelos atos culposos praticados por médicos integrantes do seu corpo
clínico.
Enunciado 44. Na hipótese do art. 934, o empregador e o comitente somente
poderão agir regressivamente contra o empregado ou preposto se estes
tiverem causado o dano com dolo ou culpa
Nos termos do disposto pelo artigo 932, inciso III, do Código Civil, a preposição tem
como característica uma relação de subordinação entre as partes, sendo certo que
existindo ingerência da empresa contratante (tomadora do serviço) no cumprimento do
contrato de transporte oferecido pela empresa contratada (prestadora do serviço de
transporte), é certo que sua responsabilidade será solidária pelos danos sofridos por
terceiros.
Empresa locadora de veículo responde pelos danos provocados pelo locatário?
Súmula 492, STJ: A empresa locadora de veículos responde, civil e solidariamente, com
o locatário, pelos danos por este causado a terceiro, no uso do carro alugado.

RESPONSABILIDADE DOS DONOS DE HOTÉIS, HOSPEDARIAS, CASAS OU


ESTABELECIMENTOS DE ALBERGUE E DE ENSINO
A norma do artigo 932, inciso IV, do Código Civil regulamenta duas situações distintas:
 A responsabilidade dos donos de hotéis, hospedarias, casas de albergue e
estabelecimentos de ensino em relação aos danos ocasionados aos próprios
hóspedes e educandos. Nessa situação específica, por serem os referidos
estabelecimentos prestadores de serviços, havendo relação de consumo, a
responsabilidade será regida pelas regras do Código de Defesa do Consumidor,
designadamente nos termos do artigo 14, que trata da responsabilidade objetiva
direta do prestador ou fornecedor de serviços.
 A responsabilidade dos donos de hotéis, hospedarias, casas de albergue e
estabelecimentos de ensino em relação aos danos que seus hóspedes e educandos
provocarem em relação a terceiros.
Em ambas as hipóteses, há necessidade, por força expressa da norma legal mencionada,
que os estabelecimentos citados atuem com a finalidade de obtenção de lucro.
O fundamento da responsabilidade dos donos de hotéis ou similares e estabelecimentos
de ensino é que, para o exercício destas atividades, se exige poder de vigilância em
relação aos hóspedes e educandos. Também está consubstanciada a responsabilidade na
teoria do risco.
A expressão "casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro" deve ser
interpretada extensivamente para consignar qualquer modalidade de atividade que tem,
entre suas funções, abrigar pessoas mediante retribuição pecuniária (pousadas, motéis,
resorts, spas, colônias, hospitais, sanatórios, centro de recuperação de viciados etc.).
Os proprietários de estabelecimentos de ensino respondem pelos atos de seus alunos e
aprendizes em relação a terceiros durante o período em que exercem sobre os mesmos
poderes de vigilância e autoridade.
Nesse caso, o estabelecimento de ensino responde independentemente de culpa pelo
prejuízo causado pela conduta de seu aluno e NÃO terá direito de regresso contra os
pais do aluno menor causador do dano porque o dever de guarda e vigilância lhe foi
transferido durante o período em que os menores permaneceram em seu poder,
razão pela qual os pais estão isentos desta responsabilidade. O estabelecimento de
ensino tem direito de regresso, entretanto, contra o próprio aluno causador do dano, se
este puder responder pelos prejuízos sem se privar do necessário.

RESPONSABILIDADE PELO PRODUTO DO CRIME


As pessoas que participaram da ação delituosa, portanto, seus autores, respondem,
solidariamente, pelos valores e bens (produtos do crime) arrecadados com a prática
criminosa (artigo 942 do Código Civil).
O comando do artigo 932, inciso V, do Código Civil refere-se às pessoas que
participaram gratuitamente no produto do crime, portanto, não são consideradas autores
da prática criminosa. Como receberam o produto do crime da ação de terceiros, terão
que restituir o equivalente em favor da vítima sob pena de constituir enriquecimento
indevido.

RESPONSABILIDADE CIVIL PELO FATO DA COISA


A ideia de responsabilidade pelo fato da coisa está fundamentada no poder que a
pessoas possuem em razão de serem proprietárias ou detentoras de coisas. Por
coisas, entende-se: objetos inanimados e animais (seres irracionais).
A prevenção do perigo inerente ao fato do agente ser dono ou possuidor é chamado pela
melhor doutrina de deveres de tráfego.
Na responsabilidade civil pelo fato da coisa, a fonte do perigo de provocar danos em
terceiros surge de uma coisa da qual o agente responsável é titular por um vínculo
jurídico (propriedade) ou fático (posse). A lesão ao bem jurídico de outrem decorre por
meio de uma coisa da qual o responsável pelo dano é proprietário ou possuidor e sobre
elas dispõem dos deveres de guarda e proteção.
A responsabilidade do agente surge pelo vínculo que ele mantém com a coisa ou com o
animal. A responsabilidade é in custodiendo: decorre de danos causados por coisa ou
animal dos quais o agente mantém relação de guarda e proteção. Para a responsabilidade
civil pelo fato da coisa, o dano não surge da conduta direta do proprietário ou possuidor.
O dano tem como causa a própria coisa ou animal. A responsabilidade do agente é pela
guarda das coisas inanimadas ou dos animais. Trata-se, portanto, de responsabilidade
indireta do agente ligada à coisa causadora do dano (bem inanimado ou animal). Para a
responsabilização civil não se exige participação direta do agente.
A responsabilidade pelo fato da coisa, que é decorrência dos deveres de proteção e
vigilância do proprietário ou possuidor, portanto, deveres do tráfego, têm natureza
delitual (aquiliana).
Não existe no Código Civil vigente uma disposição normativa tipificada que trate de
forma geral sobre a responsabilidade civil pelo fato da coisa. O que existe no Código
Civil é o tratamento individualizado sobre responsabilidade civil pelo fato de coisas
específicas, designadamente: animal (artigo 936 do CC), ruína de edifício ou
construção (artigo 937 do CC) e habitação de prédios (artigo 938).
O regime jurídico da responsabilidade civil pelo fato da coisa, regido pelo Código Civil,
é aplicado, de forma geral, a todas as situações fáticas que NÃO são consideradas de
consumo. Para as relações jurídicas de consumo, o regime jurídico próprio é o do
Código de Defesa do Consumidor, cujo regramento é da responsabilidade civil pelo
fato do produto ou serviço, também chamado de acidente de consumo (falha do
fornecedor pressupõe risco à segurança do consumidor, que acaba lhe acarretando um
dano), com previsão nos artigos 12 (responsabilidade pelo fato do produto) e 14
(responsabilidade pelo fato do serviço) do Código de Defesa do Consumidor.
A responsabilidade civil é objetiva. Nos casos previstos nos artigos 936, 937 e 938 do
Código Civil vigente e em qualquer outro cuja imputação do dano ao agente é
decorrência do seu poder de guarda sobre coisas, a responsabilidade civil independe de
culpa. O elemento culpa, para caracterizar a quebra do dever de vigilância e guarda
sobre a coisa, é irrelevante para gerar o efeito reparatório.

ANIMAL – art. 936 CC


Art. 936. O dono, ou detentor, do animal, ressarcirá o dano por este
causado, se não provar culpa da vítima ou força maior.
A responsabilidade está assentada no princípio de que o dono ou detentor do animal
responde pelos danos que ele causar a terceiros.

Existe aqui uma presunção de responsabilidade do dono ou detentor do animal pelos


prejuízos por este causado em desfavor de terceiros. A vítima deverá provar o
prejuízo suportado e a relação de causalidade entre o dano e o ato do animal.
Responsável será aquele que detém o poder de direção, de comando sobre animal
(proprietário ou possuidor), portanto, de guarda sobre o mesmo.
O fundamento da responsabilidade do dono ou detentor está consubstanciado no
encargo de vigilância que ele mantém sobre o animal e também na teoria do risco,
em razão de utilizar em seu próprio interesse quaisquer animais.
A responsabilidade do dono ou detentor do animal é, portanto, objetiva. Existe uma
presunção de ilicitude: com o advento do dano, conclui-se ter havido uma
inobservância do dever de vigiar por parte do proprietário ou detentor do animal.
Será, entretanto, afastada a responsabilidade do proprietário ou detentor do animal
nas seguintes hipóteses legais:
Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este
causado, se não provar culpa da vítima ou força maior.
 Culpa exclusiva da vítima. A culpa exclusiva da vítima tem como efeito
romper o nexo de causalidade que deve existir entre a conduta ilícita do agente e o dano
suportado pela vítima em decorrência da ação do animal. Se ficar demonstrado, durante
a instrução, que a culpa foi concorrente, não se afasta o dever indenizatório do
proprietário ou detentor do animal (pode ocorrer, nesse caso, redução do quantum
indenizatório, por força do disposto no art. 945 do CC).
 Força maior. Acontecimentos que são alheios ou estranhos ao fato danoso,
portanto, inevitáveis, decorrentes da ação humana e que predispõem a eliminar o nexo
de causalidade que deve existir entre a conduta ilícita e o fato danoso.
 Caso fortuito. Excludente genérica de responsabilidade civil que decorre de
fatos da natureza, imprevisíveis e inevitáveis, não previsto expressamente na norma do
artigo 936, também tem incidência para efeitos de afastar a responsabilidade civil do
dono ou detentor do animal.
Animal em rodovia, o dono do animal responde.
Estado ou concessionária de Rodovia também. No entanto, se tomou a cautela de avisar
com placas frequentes e claras, pode ser isento de responsabilidade.

RUÍNA DE EDIFÍCIOS OU CONSTRUÇÕES – art. 937 CC


Art. 937. O dono de edifício ou construção responde pelos danos que
resultarem de sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja
necessidade fosse manifesta.
A responsabilidade pelos danos que resultam da ruína de edifícios ou construções recai
exclusivamente sobre o dono, porque é ele o responsável em zelar pela segurança da
obra (acabada ou em construção) em relação a terceiros (locatários, comodatários,
transeuntes etc.).
Evidentemente que o dono, em sendo o caso, dispõe do direito de regresso em relação
ao possuidor do imóvel, no caso de ter agido este com culpa para configuração do dano
em relação a terceiros.
A responsabilidade civil do dono do edifício ou construção é objetiva e somente
pode ser elidida por uma das causas excludentes do próprio nexo de causalidade: caso
fortuito, força maior, culpa exclusiva da vítima ou de terceiro.

COISAS LANÇADAS DE PRÉDIO – art. 938 CC


Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano
proveniente das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar
indevido.
Essa espécie de responsabilidade civil pelo fato da coisa também tem fundamento no
dever de guarda que o habitante do prédio dispõe sobre as coisas que o guarnecem. É
também conhecida como actio de effusis et dejectis. (Direito Romano). A causa efetiva
do dano é a queda ou lançamento de coisas provenientes de prédio habitado.
A expressão "prédio" deve ser entendida em termos amplos: casa, apartamento,
escritório, consultório, construção, galpões, cabanas, silos etc.
A "coisa" caída ou lançada deve ser entendida como qualquer espécie de objeto sólido
ou líquido.
A responsabilidade recai sobre o habitante do prédio porque sobre ele incide o dever
de guarda sobre as coisas que compõem o imóvel.
A responsabilidade do habitante está assentada sobre danos provocados em pessoas ou
bens de terceiro em razão das coisas que caíram do imóvel ou foram lançadas em lugar
indevido. Trata-se de bens móveis que não fazem parte da estrutura física do prédio.
A responsabilidade do habitante é objetiva. Somente será excluído da
responsabilidade se comprovar que não participou da cadeia causal dos acontecimentos.
Em caso de condomínio edilício a responsabilidade será do habitante da unidade
responsável pela queda ou lançamento da coisa. Em não sendo possível apurar a
unidade habitacional responsável, responde pelo dano todos os condôminos, em
solidariedade.
A doutrina e a jurisprudência, entretanto, têm restringido a hipótese apenas para a parte
ou bloco do condomínio que tenha relação com a possibilidade de ser a causadora do
dano, isentando de responsabilidade os demais condôminos que pelas disposições
geográficas de suas unidades habitacionais não seriam possíveis de causarem o dano
pleiteado pela vítima.

RESPONSABILIDADE OBJETIVA PELO RISCO. A CLÁUSULA GERAL DO


ARTIGO 927, § ÚNICO, DO CÓDIGO CIVIL
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando
a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por
sua natureza, risco para os direitos de outrem.
Cláusula geral: potencial de renovação. Operabilidade.
São indispensáveis para caracterizar o dever reparatório fundado no risco da atividade: a
conduta, o dano e o nexo de causalidade. A culpa é irrelevante para a configuração do
dever indenizatório por parte do agente. Interessa apenas o liame causal entre o
comportamento do agente e o dano injusto, independentemente da conduta ser lícita ou
ilícita e independentemente da culpa.

O artigo 927, parágrafo único, do Código Civil está fundamentado na TEORIA DO


RISCO. Será objetiva a responsabilidade do agente quando a atividade normalmente
desenvolvida por ele implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.
Teoria do Risco:
- Lei 2681/1912 – estradas de ferro.
- Decreto 24.637/34 – Acidentes de Trabalho. Seguro (Lei 8213/91 – art. 121)
- Código Tributário Nacional (Lei 5172/66) – art. 136
- Lei 6938/81 – art. 14, § 1º - Política Nacional Meio Ambiente
- CF 88 – Art. 37, § 6º
- CDC – Lei 8078/90 – art. 12 e 13.
O foco da responsabilidade civil objetiva amparada pela cláusula geral do artigo 927,
parágrafo único, do Código Civil, está centrado na figura da vítima, ofendida no seu
direito de não ser lesada, a qual deve ter garantido o direito de ser integralmente
reparada pelos prejuízos sofridos.
Há necessidade de interpretar o alcance da norma genérica deste dispositivo legal.
A primeira observação que deve ser feita é com relação ao fato gerador do dano:
atividade normalmente desenvolvida pelo agente. Atividade tem o significado de série
contínua de atos. Não pode ser um ato único ou isolado, embora perigoso. Normalmente
desenvolvida é quando é exercida com regularidade pelo agente. Atividade lícita,
autorizada, regulamentada pelo Estado.
Atividade que normalmente geram riscos para outrem são aquelas consideradas
perigosas. Dispõem de uma natural potencialidade lesiva simplesmente porque sua
própria natureza é fonte constante de perigo.
É unânime na doutrina que a responsabilidade civil objetiva, nesse caso, está assentada
na teoria do risco: se alguém exerce uma atividade que, por si só, é fonte criadora de
perigo para o direito de terceiros, deve responder por esse perigo objetivamente,
ou seja, a culpa para gerar o dever reparatório é irrelevante para tal desiderato.
A questão que surge nesse particular é indagar qual o tipo de risco que essa atividade
deve gerar para surgir o dever reparatório objetivo:
 1° corrente: teoria do risco criado: o próprio agente que cria o risco com o
exercício dessa atividade lícita geradora de perigo para terceiros. Responsabiliza- se a
pessoa simplesmente porque ela cria, com o exercício de sua atividade, o risco para o
dano, independentemente de ter auferido vantagem econômica com essa atividade. A
responsabilidade será objetiva do agente em razão do fato de a atividade normalmente
por ele exercida conter uma potencialidade danosa acentuada, não havendo
necessidade de qualquer exercício anormal ou extraordinário dessa atividade.
Amplia-se o conceito de risco, portanto. Essa doutrina defende que a norma genérica do
artigo 927, parágrafo único, do Código Civil, é silente sobre as exigências do risco
necessário para gerar esse dever reparatório, razão pela qual esse silêncio deva ser
interpretado como aplicação da teoria do risco criado.
Defensores: Cavalieri Filho, Arnaldo Rizzardo, Sebastião de Assis Neto, Carlos Roberto
Gonçalves, Caio Mário, Nelson Rosenvald.

 2° corrente: teoria do risco proveito: o risco deve decorrer de uma atividade


lucrativa, ou seja, a responsabilidade objetiva surge do proveito do risco criado pelo
agente. A imputação objetiva decorre de uma atividade de risco em que o agente deve
auferir vantagem econômica de forma regular (não esporádica) e que esse proveito
seja decorrência da própria atividade potencialmente danosa (risco-proveito). Lucro
advém da exploração da atividade de risco. Atividade como fonte de riqueza
(comerciantes ou industriais)
Defensor: Pablo Stolze.

 3° corrente: teoria do risco da atividade profissional: a própria atividade


desempenhada cria riscos a terceiros.
Defensor: Flávio Tartuce.

 4° corrente: teoria do risco excepcional: ou seja, acima da situação de


normalidade. O risco deve ser decorrente de uma atividade considerada acima da
situação de normalidade. Risco especial naturalmente induzido pela atividade e
identificado de acordo com dados estatísticos existente sobre resultados danosos
(conforme a verificação estatística com que o evento lesivo aparece como decorrente da
atividade exercida). Nesse sentido, o enunciado 38 da I Jornada de Direito Civil do
Conselho da Justiça Federal:
Art. 927: a responsabilidade fundada no risco da atividade, como prevista na
segunda parte do parágrafo único do art. 927 do novo Código Civil, configura-se
quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano causar a pessoa
determinada um ônus maior do que os demais membros da coletividade.
Defensores: Cláudio Luiz Bueno de Godoy e Gustavo Tepedino.
CAUSAS EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE CIVIL
Cláusulas de exoneração da responsabilidade civil, também conhecidas como eximentes
ou excludentes do dever de indenizar.
 Inexistência de autoria
Se comprovada a não participação direta ou indireta da conduta do agente para
realização do dano, estará excluída sua responsabilidade em indenizar o lesado, por
não ser o autor material ou intelectual do evento que deu causa ao prejuízo, ou seja, por
ausência de autoria.
 Causas de justificação
São situações jurídicas estabelecidas pela legislação civil ou penal, que constituem
causas de exclusão da responsabilidade civil pelo afastamento, no caso concreto, da
ilicitude da conduta humana. A valoração das causas justificativas é realizada no
plano objetivo, conforme parâmetros estabelecidos pelo próprio Direito, com eficácia
erga omnes e independe da condição subjetiva dos envolvidos.
Sãos as situações de legítima defesa, estado de necessidade, exercício regular de um
direito e consentimento do ofendido.
- Legítima Defesa – art. 188, inciso I, primeira parte, CC./ art. 25 CP.
São necessários os seguintes pressupostos para sua caracterização: agressão ilegítima
por parte da vítima. Essa agressão deve ser apta a provocar uma situação de perigo
atual ou iminente. A reação deve ser proporcional e suficiente para afastar a situação
de perigo ou fazer cessar a agressão. Havendo excesso por parte do agente em relação à
reação proporcionada, não se pode excluir a responsabilidade.
Se o agente, ao exercer sua prerrogativa de defesa, atingir terceiro inocente, é devida a
indenização, sendo possível ação regressiva contra o agressor originário, por força
do disposto nos artigos 929 e 930 do Código Civil.
Legítima defesa putativa? – culpa
- Estado de Necessidade – art. 188, inciso II, CC.
Causa excludente da ilicitude diante de um perigo atual ou iminente, não provocado
pelo autor da ação, em que se torna imprescindível, para salvaguardar um bem jurídico
de maior relevância, o sacrifício de outro bem jurídico de igual ou menor valor.
É importante mencionar, por força dos artigos 929 e 930 do Código Civil, que se o
terceiro atingido pela conduta do lesante não for o causador da situação de perigo,
poderá exigir indenização do agente que agiu em legítima defesa, cabendo a este ação
regressiva contra o verdadeiro culpado (aquele que deu causa à situação de
perigo).
- Exercício Regular de um Direito - art. 187, contrariu sensu.
O exercício regular de um direito é outra causa legal justificativa da exoneração da
responsabilidade civil.

 Falta da culpa
Nos casos de responsabilidade civil subjetiva, a falta da culpa é uma causa eficiente
para a exoneração do dever de indenizar. O fator liberatório da responsabilidade incide,
portanto, no elemento subjetivo (dolo ou culpa). O agente responsável demandado, se
demonstrar que agiu correta e diligentemente, cumprindo com o dever jurídico de
cuidado que o caso em questão invocava, será exonerado do dever reparatório por
ausência de culpa para configuração do prejuízo sofrido pela vítima.

 Excludentes do Nexo de Causalidade (rompimento)


- Fato Exclusivo da Vítima: sem previsão legal no CC. Previsto no CDC.
Conduta inoportuna e desarrazoada da própria vítima, que provoca danos em si e
que o ordenamento jurídico desaprova como infração a um dever.
São requisitos necessários, portanto, para a caracterização dessa causa de exoneração da
responsabilidade civil: o fato (culpa) da vítima deve ser a causa adequada e exclusiva do
dano; a responsabilidade deve ser atribuída diretamente ao ato ou fato praticado pela
vítima; o fato ou ato praticado deve ser certo e determinado.
Entretanto, havendo culpa concorrente da vítima, que, de alguma forma, contribuiu
para o agravamento da situação danosa objeto da reparação, a situação é de limitação da
responsabilidade civil do agente, que terá o dever de indenizar a vítima de forma
mitigada, na exata medida apenas de sua conduta ilícita, em valor proporcional ao
dano por si provocado, nos termos do artigo 945 do Código Civil.
- Fato Exclusivo de Terceiro: causa necessária para o dano é imputada a terceiro.
Para efeitos da excludente da responsabilidade civil, o terceiro é considerado pessoa
distinta do agente e da vítima, que não seja subordinado a nenhum deles.
Para a configuração do fato ou da culpa exclusiva de terceiro, não deve existir nenhum
vínculo de subordinação entre o sujeito e o suposto agente responsável.
Para a exclusão da responsabilidade civil por força de conduta ou culpa exclusiva de
terceiro, é indiferente a qualificação dessa conduta, ou seja, não tem importância o fato
de o terceiro ter praticado sua conduta de forma culposa ou dolosa.
- Caso Fortuito e Força Maior - art. 393, par. Único CC.
São causas exonerativas consubstanciadas por razões de acontecimentos que são
alheios ou estranhos ao comportamento pessoal do agente no caso concreto,
predispondo-se, portanto, a eliminar a culpa ou o nexo de causalidade enquanto
elementos estruturantes da responsabilidade civil.
De qualquer forma, para a devida configuração, são necessários os seguintes requisitos:
ocorrência de um acontecimento ou fato extraordinário; que seja alheio à vontade
do agente; que seja atual e, por fim, que seja sobrevivente à constituição da obrigação e
impossível de ser evitado.
O marco característico desses eventos é a inevitabilidade. Evento externo e irresistível.
Natureza inevitabilidade (irresistível = não pode ser evitado)
** doutrina: fortuito interno e fortuito externo
Fortuito Interno: é o fato que guarda relação com a atividade do causador do dano.
Inerente a atividade do causador do dano. Responde (amplia a situação de RC).
Ex: transporte de passageiros e roubo em caixas eletrônicos.

LIQUIDAÇÃO DO DANO
Liquidar o dano significa apurar o valor a que deve ser condenado o agente lesante para
indenizar a vítima.
Com a ocorrência do evento danoso, o responsável condenado fica obrigado a reparar o
prejuízo suportado pela vítima (gênero) = recompor o prejuízo sofrido (status quo ante),
e a liquidação do dano tem, justamente, a finalidade de apurar esse valor da condenação,
correspondente ao prejuízo da vítima.
Espécies:
 Reparação específica (retratação nos danos contra a honra)
 Reparação pelo equivalente. (dinheiro)

Art. 947. Se o devedor não puder cumprir a prestação na espécie


ajustada, substituir-se-á pelo seu valor, em moeda corrente.
A liquidação do dano, destarte, é a apuração do quantum debeatur, quer dizer, do valor
líquido devido, em expressão monetária (moeda corrente).
- Danos materiais (dano emergente e lucros cessantes) = ressarcimento
- Danos morais = compensação

Solidariedade pelo pagamento da dívida:


 RC extraobrigacional (por ato ilícito): há solidariedade entre os autores do
dano
Art. 942. Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de
outrem ficam sujeitos à reparação do dano causado; e, se a ofensa tiver
mais de um autor, todos responderão solidariamente pela reparação.
Parágrafo único. São solidariamente responsáveis com os autores os co-
autores e as pessoas designadas no art. 932.
 RC obrigacional (contratual): não se presume a solidariedade entre os autores
do dano, salvo se expressa no contrato

Correção monetária:
 Danos materiais: a partir da data do efeito prejuízo.
Súmula 43 do STJ. Incide correção monetária sobre dívida por ato ilícito a partir da data
do efetivo prejuízo.
 Dano morais: a partir da data do arbitramento.
Súmula 362, do STJ: A correção monetária do valor da indenização do dano moral
incide desde a data do arbitramento.

Juros de mora são devidos:


 RC Obrigacional (contratual):
- Obrigação líquida (mora ex re): a partir da data do vencimento.
- Obrigação ilíquida (mora ex persona): a partir da citação (art. 405 CC).
 RC Extraobrigacional (ato ilícito): desde o evento danoso (art. 398, CC).
Súmula 54 STJ: Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de
responsabilidade extracontratual.

INDENIZAÇÃO PELO EVENTO MORTE


Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir
outras reparações:
I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral
e o luto da família;
Danos emergentes: são as despesas custeadas com o tratamento da vítima que devem
ser demonstradas no processo mediante prova documental suficiente para firmar o
convencimento de que os valores mencionados foram efetivamente suportados em favor
da vítima. A prova dessas despesas, normalmente, é feita pelas respectivas notas fiscais.
Os valores deverão ser corrigidos monetariamente a partir da data do desembolso.
II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia,
levando-se em conta a duração provável da vida da vítima.
Alimentos indenizatórios ou pensionamento pelo dano morte em favor das pessoas
que dependiam economicamente do falecido. Trata-se, portanto, de espécie de lucros
cessantes que leva em conta a duração provável da vida da vítima. Por ter natureza
indenizatória e não se confundir com a pensão do direito de família, não é possível
prisão civil do devedor, por falta de pagamento.
Adultos como beneficiários da pensão têm que provar que estavam em condições de
pedir alimentos à vítima do evento morte ou que ela efetivamente lhe prestava alimentos
em vida. Nesse caso, o direito à pensão não se presume.
Quanto aos filhos menores do falecido, presume-se a necessidade dos alimentos,
portanto, é dispensável qualquer prova nesse sentido.
Com o evento morte, também se presume o prejuízo em relação às pessoas da
família do falecido. O prejuízo decorre do próprio acontecimento danoso e também não
precisa ser provado.
É ônus dos beneficiários da pensão comprovar os rendimentos do falecido ou suas
fontes de renda, caso tivesse mais de uma. Nesse sentido, para efeitos de fixação da
pensão, os valores das rendas do falecido deverão ser somados.
Valor apurado deve ser convertido em salários mínimos – Súmula 490, do STF: “A
pensão correspondente à indenização oriunda da responsabilidade civil, deve ser
calculada com base no salário mínimo vigente ao tempo da sentença e ajustar-se- á
às variações ulteriores”.
Não é descontado dos valores fixados para o pagamento dos alimentos indenizatórios o
recebimento das verbas previdenciárias por força de acidente de trabalho. Nesse sentido,
a Súmula 229 do STF: “A indenização acidentária não exclui a do direito comum,
em caso de dolo ou culpa grave do empregador”.
No caso de indenização em razão de acidente de trânsito, o valor recebido pelo seguro
obrigatório (DPVAT) deve ser descontado da indenização judicialmente fixada. Nesse
sentido, a Súmula 246 do STJ:” O valor do seguro obrigatório deve ser deduzido da
indenização judicialmente fixada”.

Termo Inicial da Indenização


 Responsabilidade extraobrigacional:
A pensão mensal em favor dos beneficiários, a correção monetária sobre o referido
valor e os juros de mora são todos retroativos à data do evento lesivo. Súmula 43 do
STJ: “Incide correção monetária sobre dívida por ato ilícito a partir da data do efetivo
prejuízo”. Súmula 54 do STJ: “Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em
caso de responsabilidade extracontratual”.
 Responsabilidade Obrigacional:
O termo inicial também é a partir do evento danoso, assim como a correção
monetária, porque, a partir desta data, é que o beneficiário fica desprovido do
pagamento. Entretanto, os juros de mora são devidos a partir da citação, à luz do
exposto pelo artigo 219 do Código de Processo Civil, por constituir o devedor em mora.

Termo Final da Indenização


 Beneficiário da pensão cônjuge ou convivente:
Prevalece, nesse caso, o entendimento de que a pensão é devida pelo autor do dano
(condenado) até o limite da idade provável da vítima, levando-se em consideração
aspectos pessoais e sociais do caso concreto. Se a vítima do evento morte já tivesse
idade superior à considerada média de vida dos brasileiros, presume-se uma sobrevida
de mais cinco anos.
O cálculo da vida provável da vítima é apurado em conformidade com a expectativa de
vida firmada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apurado na data
do óbito. Segundo a tabela do IBGE, atualmente, é 75 anos.

 Beneficiário da pensão filhos menores:


É pacífica a jurisprudência no Superior Tribunal de Justiça no sentido de que é devida a
pensão mensal aos filhos menores do falecido, até a data em que os beneficiários
completem 25 anos de idade, idade em que se presume ter concluído sua formação,
incluindo-se a universidade.
A base de cálculo do valor da pensão é equivalente ao que a vítima percebia em
vida, com necessidade, portanto, de que seja comprovado nos autos o valor do salário
que recebia. Não tendo emprego fixo e/ou não sendo possível comprovar sua renda
mensal, deve-se presumir que percebia mensalmente o valor correspondente a um
salário mínimo vigente. O valor devido para fixação da pensão indenizatória será
correspondente a dois terços do percebido pela vítima em vida, porque um terço
desse total é presumido como necessário para manutenção pessoal.
Para incluir no valor da pensão o 13º salário e as férias, deve-se comprovar que a vítima
falecida exercia atividade profissional remunerada.
A relação de filiação tem que estar provada nos autos (certidão de nascimento). Filhos
maiores ou emancipados não têm direito à pensão por morte, salvo se portadores de
deficiências físicas ou mentais que os impossibilitem de prover o próprio sustento.
Os beneficiários do falecido (cônjuge ou companheiro sobrevivente e filhos menores)
podem concorrer no direito de receber pensão indenizatória pelo evento morte.
Nesse caso, os dois terços correspondentes ao valor da pensão serão partilhados entre os
beneficiários, sendo reconhecido a eles o direito de acrescer: cessando o direito de um
deles em relação à quota parte correspondente, esse valor deve ser transferido aos
demais, que terão, consequentemente, suas respectivas quotas partes acrescidas.

 Beneficiário da pensão genitores do falecido:


Se o filho vitimado contribuía em vida para a manutenção da casa ou de seus pais,
por ter emprego ou remuneração mensal, essa condição deve ser comprovada pelos
pais, assim como em relação ao valor percebido mensalmente por eles.
Nas famílias de baixa renda, entretanto, existe uma presunção de contribuição no
sustento da família.
A indenização em pensionamento mensal é devida pelo autor do dano morte em favor
dos genitores, ainda que a vítima (filho falecido) fosse menor de idade ou não
contribuísse para a manutenção da residência familiar.
O termo inicial da pensão indenizatória, nesse caso, é estabelecido a partir do dia em
que a vítima completasse 14 (quatorze) anos (idade mínima para o trabalho) até a idade
provável de morte, limitada a dois terços dos valores de seus rendimentos (provado) ou
do salário mínimo (presumido – quando não exercia atividade remunerada e porque um
terço do valor é considerado para sua própria subsistência), reduzida a um terço a partir
dos 25 (vinte e cinco) anos, por presumir, nesta data, a constituição de sua própria
família e, portanto, a diminuição da ajuda econômica aos pais.
Existe, também, posicionamento minoritário em termos jurisprudenciais que
considera o termo inicial de cálculo da pensão a idade presumida de 16 anos do filho
menor falecido.
Em razão do dano morte, são também devidas outras modalidades de indenização
em favor das vítimas, entre as quais o dano moral.
PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO DE INDENIZAÇÃO
Se a relação jurídica for do Código Civil, artigo 206:
Art. 206. Prescreve:
§ 3º Em três anos:
V - a pretensão de reparação civil;
O termo inicial é a data da lesão.
Incidem as hipóteses de impedimento, interrupção e suspensão do prazo prescricional.
Além disso, na pretensão reparação origem entre cônjuges, na constância do
casamento, não ocorre a prescrição até que ocorra a dissolução.
Já na pretensão reparação havida entre ascendentes e descendentes – durante o poder
familiar – não ocorre até a sua extinção
Pretensão reparação entre tutelados e curatelados – não corre enquanto durarem a
tutela ou curatela.
Pretensão de reparação que seja titular absolutamente incapaz não corre enquanto
durar este estado.
Se a relação jurídica for de CONSUMO, artigo 27:
Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos
causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste
Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento
do dano e de sua autoria.
O Termo inicial, a contagem do prazo é a partir do conhecimento do dano e de sua
autoria.

O DIREITO DE NÃO SABER


Reconhecido o direito de não saber, modifica-se a forma de conceber a privacidade. O
poder de controlar as informações que dizem respeito à pessoa, que é a definição mais
atualizado do right of privacy, manifesta-se também como poder negativo, ou seja,
como direito de excluir da própria esfera privada uma determinada categoria de
informações não desejada. Daí porque se referir ao direito de não saber como
consequência da proteção do direito à intimidade.
Vale dizer: todos têm direito de esconder suas fraquezas, sobretudo quando não estão
preparadas para encarar a realidade”. A divulgação à pessoa de dado não requisitado
configura violação ao seu direito de não saber e gera, incontestavelmente, o direito à
indenização por danos morais.

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