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CADERNO DE ESTUDOS

ÉTICA E LEGISLAÇÃO
ODONTOLÓGICA
SOBRE O AUTOR

Julia Gabriela Dietrichkeit Pereira

• Graduada em Odontologia, pela Universidade Federal de


Santa Catarina (UFSC-2014).


Especialista em Odontologia Legal, pela Faculdade de
Odontologia de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo
(FORP/USP - 2016).
Mestre em Ciências, pela Faculdade de Medicina de Ribeirão
Preto,
AUTOR
• Universidade de São Paulo (FMRP/USP - 2019).
• Doutora em Ciências, pela Faculdade de Medicina de Ribeirão
Preto, Universidade de São Paulo (FMRP/USP - 2022).
• Professora convidada na Especialização em Odontologia
Legal, pela Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto,
Universidade de São Paulo (FORP/USP).
• Perita ad hoc do Tribunal de Justiça de Santa Catarina – TJ-
SC.
APRESENTAÇÃO
APRESENTAÇÃO

Ética é sempre um tema importante e necessário, pois se


trata de uma ferramenta essencial para direcionar as relações
sociais e tudo o que envolve o outro. Na odontologia, não é dife-
rente, haja vista que desempenhar o trabalho com ética é a base
para ter uma profissão reconhecida e benéfica aos pacientes e à
sociedade como um todo.

Neste estudo, compreenderemos que a percepção dos pa-


cientes sobre a conduta dos profissionais sempre trará um jul-
gamento ético, visto que ela dispõe justamente sobre a função
do dentista como promotor de saúde, bem-estar e outros tantos
valores relacionados à profissão.

Diante disso, mostraremos de que modo a ética na odon-


tologia influencia a relação entre profissionais e pacientes, bem
como se insere em tratamentos, procedimentos e, até mesmo, na
divulgação do trabalho de dentistas.
SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 – ÉTICA E MORAL .................................................7


1.1 ATENÇÃO AO PACIENTE ..........................................................8
1.2 INTERFERÊNCIA NA SAÚDE DO PACIENTE .........................10

CAPÍTULO 2 – LEGISLAÇÃO RELACIONADA À ODONTOLOGIA


...................................................................................................11
2.1 LEI 5.081/1966 ........................................................................11
2.3 RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL ..................................17
2.4 RESPONSABILIDADE CIVIL ....................................................18
2.5 RESPONSABILIDADE PENAL ..................................................19
2.6 FALSIDADE IDEOLÓGICA ........................................................20
2.7 VIOLAÇÃO DO SEGREDO PROFISSIONAL ..........................20

CAPÍTULO 3 – SIGILO PROFISSIONAL ....................................21


3.1 TERMO DE CONSENTIMENTO ..............................................23

CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................26


SUMÁRIO
REFERÊNCIAS ................................................................................27

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CAPÍTULO 1 – ÉTICA E MORAL

Do ponto de vista etimológico, ética e moral são sinônimos. Ética é a parte da filosofia
que trata da moral do ser humano, enquanto a moral é um objeto da ética. Sendo a moral
um objeto da ética, elas não devem ser confundidas.

Figura 1 - Moral X Ética.

Fonte: Adaptada pela autora (2022).

A iniciar pelas origens do pensamento grego, o mundo do ethos envolve a coletividade


(intersubjetividade) e a individualidade (subjetividade) dos indivíduos favorecidos de senti-
mento e razão.

Comumente, a ética é tratada a partir do indivíduo em relação a si mesmo, de acordo

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com seu código pessoal, ou seja, a ética varia de pessoa para pessoa, pois o que eu acre-
dito ser correto, para outra pessoa, não necessariamente será igual.

A ética funciona basicamente como uma racionalização da moral, sendo uma reflexão
sobre as ações humanas, além de trazer as noções de certo ou errado e justo e injusto.

A moral é um conjunto de normas que servem para orientar a maneira de agir das
pessoas dentro de um contexto específico, regulamentando a relação entre os indivíduos e
entre eles e a comunidade. Por isso, estamos falando de um conceito de caráter particular
e que se baseia, sobretudo, em hábitos e costumes.

Quadro 1 - Diferença entre Moral e Ética

MORAL ÉTICA
Lida com Certo X Errado Lida com Certo X Errado
Modo pessoal de agir: é adquirida e forma- Modo social de agir: implica o consenso e
da ao longo da vida, por experiências. a adesão da sociedade.
Normas e regras pessoais: é guiada pela Normas e regras sociais: é guiada pela
consciência. cultura da sociedade.
Individual: é o que fundamenta a ética. Grupal e/ou coletivo: é construída a partir
do consenso de várias ‘morais’.
Fonte: Elaborado pela autora (2022).

1.1 ATENÇÃO AO PACIENTE

Na área da saúde, sempre houve uma postura de superioridade dos profissionais em


relação aos seus pacientes, visto que eles eram os detentores do conhecimento técnico-
-científico. Assim, o paciente sempre esteve em uma situação de hipossuficiência, sentin-
do-se inferior ao profissional.

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Com o avanço da tecnologia, ela passou a ser a detentora da confiança por parte dos
pacientes, ou seja, o paciente não possui mais confiança unicamente no profissional e no
seu discernimento, pois confia nas tecnologias que o profissional usa.

Ao longo do tempo, foi crescendo o distanciamento entre o profissional e o paciente.


Para se aproximar do paciente, o profissional deve reconhecê-lo como um ser único, mere-
cedor do melhor atendimento, considerando todas as suas dimensões (biológica, psicológi-
ca, social) durante o tratamento.

O profissional deve lembrar que o paciente é mais do que apenas uma boca, mais do
que o pagamento que será recebido; ele merece respeito e dignidade por parte do cirur-
gião-dentista.

Para tanto, nada melhor do que o considerar como parte integrante dos procedimen-
tos, dando-lhe autonomia nas decisões e fazendo com que seja parte ativa das opções de
tratamento.

Outras formas de melhorar a interação entre profissional e paciente é ser empático,


ouvir com atenção a sua queixa, saber ouvir a sua demanda e os seus receios.

Figura 2 - Atenção ao Paciente.

Fonte: Arquivo pessoal da autora (2022).

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1.2 INTERFERÊNCIA NA SAÚDE DO PACIENTE

O profissional é detentor do conhecimento sobre a saúde do paciente, porém não


deve impor suas opiniões em relação ao estilo de vida que o paciente possui.

O profissional pode agir em campanhas mais gerais para a população, ou de forma


que haja um melhoramento no processo saúde-doença da coletividade, mas não pode es-
quecer que há a liberdade individual, a qual deve ser respeitada.

O intuito do profissional não será impor decisões ao paciente, mas sim tirar dúvidas,
mostrar os riscos, prestar esclarecimentos. O paciente será auxiliado, somente se ele tiver
interesse.

Figura 3 - Interferência do Profissional.

Fonte: Adaptada pela autora (2022).

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CAPÍTULO 2 – LEGISLAÇÃO RELACIO-
NADA À ODONTOLOGIA

Diversas são as legislações relacionadas à área da odontologia. Aqui, serão abor-


dados principalmente a Lei 5.081/1966 e o código de ética odontológica. No entanto, tra-
remos informações sobre determinados temas, onde serão apresentadas as legislações
que tratam a respeito deles, ou seja, abraçando mais legislações do que apenas as duas
supracitadas.

Figura 4 - Legislação na Odontologia.

Fonte: Adaptada pela autora (2022).

2.1 LEI 5.081/1966

A lei 5.081/1966 faz a regulamentação da Odontologia em todo o território nacional,


isto é, não há legislações ou regramentos que possam versar sobre o assunto diferente-

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mente do descrito nela, em âmbito regional, estadual, municipal.

Segundo a legislação, para a correta atuação do cirurgião-dentista, ele deverá pos-


suir diploma de graduação e, na posse dele, ir até o CRO da sua jurisdição e se cadastrar.
Assim, para atuar como cirurgião-dentista, há a necessidade da habilitação profissional –
DIPLOMA da graduação e a habilitação legal – REGISTRO no CRO.

Quanto às competências do cirurgião-dentista, encontram-se elencadas no Artigo 6º


da referida legislação, sendo, dentre outras: praticar todos os atos pertinentes à Odontolo-
gia, decorrentes de conhecimentos adquiridos em curso regular ou em cursos de pós-gra-
duação; atestar, no setor de sua atividade profissional, estados mórbidos e outros, inclusi-
ve, para justificação de faltas ao emprego.

Art. 6º Compete ao cirurgião-dentista:


I - Praticar todos os atos pertinentes à Odontologia, decorrentes de conhecimentos
adquiridos em curso regular ou em cursos de pós-graduação.
II - Prescrever e aplicar especialidades farmacêuticas de uso interno e externo, indi-
cadas em Odontologia.
III - Atestar, no setor de sua atividade profissional, estados mórbidos e outros, inclusi-
ve, para justificação de faltas ao emprego.
IV - Proceder à perícia odontolegal em foro civil, criminal, trabalhista e em sede admi-
nistrativa.
V - Aplicar anestesia local e troncular.
VI - Empregar a analgesia e a hipnose, desde que comprovadamente habilitado, quan-
do constituírem meios eficazes para o tratamento.
VII - Manter, anexo ao consultório, laboratório de prótese, aparelhagem e instalação
adequados para pesquisas e análises clínicas, relacionadas com os casos específicos
de sua especialidade, bem como aparelhos de raios-X, para diagnóstico; e aparelha-
gem de fisioterapia.
VIII - Prescrever e aplicar medicação de urgência no caso de acidentes graves que
comprometam a vida e a saúde do paciente.
IX - Utilizar, no exercício da função de perito-odontólogo, em casos de necropsia, as
vias de acesso do pescoço e da cabeça.

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Com relação às proibições aos profissionais da Odontologia, em seu Artigo 7º, a legis-
lação elenca 7 delas, sendo algumas: proibição de expor em público trabalhos odontológi-
cos e usar de artifícios de propaganda para granjear clientela; anunciar preços de serviços,
modalidades de pagamento e outras formas de comercialização da clínica que signifiquem
competição desleal.

Art. 7º É vedado ao cirurgião-dentista:


- Expor em público trabalhos odontológicos e usar de artifícios de propaganda para
granjear clientela.
a) - Anunciar cura de determinadas doenças, para as quais não haja tratamento efi-
caz.
b) - Exercício de mais de duas especialidades.
- Consultas mediante correspondência, rádio, televisão ou meios semelhantes.
c) - Prestação de serviço gratuito em consultórios particulares.
d) - Divulgar benefícios recebidos de clientes.
e) - Anunciar preços de serviços, modalidades de pagamento e outras formas de
comercialização da clínica que signifiquem competição desleal.

2.2 CÓDIGO DE ÉTICA ODONTOLÓGICA

O código de ética odontológica abrange diversos temas relacionados ao dia a dia do


cirurgião-dentista, os quais devem ser considerados, ao se tomar uma decisão. Por ser
uma normativa que trata exclusivamente do cirurgião-dentista, recomenda-se a leitura do
documento na íntegra.

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Figura 5 - Código de Ética Odontológica.

Fonte: Adaptada pela autora (2022).

São direitos fundamentais do cirurgião dentista:

Art. 5º Constituem direitos fundamentais dos profissionais inscritos, segundo


suas atribuições específicas:
I - Diagnosticar, planejar e executar tratamentos, com liberdade de convicção, nos
limites de suas atribuições, observados o estado atual da Ciência e sua dignidade
profissional.
II - Guardar sigilo a respeito das informações adquiridas no desempenho de suas
funções.
Contratar serviços de outros profissionais da Odontologia, por escrito, de acordo com

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os preceitos deste Código e demais legislações em vigor.
IV - Recusar-se a exercer a profissão em âmbito público ou privado onde as condições
de trabalho não sejam dignas, seguras e salubres.
V - Renunciar ao atendimento do paciente, durante o tratamento, quando da consta-
tação de fatos que, a critério do profissional, prejudiquem o bom relacionamento com
o paciente ou o pleno desempenho profissional. Nestes casos, tem o profissional o
dever de comunicar previamente, por escrito, ao paciente ou seu responsável legal,
fornecendo ao cirurgião-dentista que lhe suceder todas as informações necessárias
para a continuidade do tratamento.
VI - Recusar qualquer disposição estatutária, regimental, de instituição pública ou
privada, que limite a escolha dos meios a serem postos em prática para o estabe-
lecimento do diagnóstico e para a execução do tratamento, bem como recusar-se a
executar atividades que não sejam de sua competência legal; e, decidir, em qualquer
circunstância, levando em consideração sua experiência e capacidade profissional,
o tempo a ser dedicado ao paciente ou periciado, evitando que o acúmulo de encar-
gos, consultas, perícias ou outras avaliações venham prejudicar o exercício pleno da
Odontologia.

Observa-se que o profissional tem direito de decidir como realizará seus atendimentos,
tanto com relação ao tempo quanto às técnicas a serem utilizadas em seus procedimentos.

Além disso, o profissional tem direito a estar em um ambiente estruturado para tra-
balhar; e de suspender atendimento, caso venha a ter problemas com o paciente ou no
ambiente de trabalho.

Em relação aos deveres, o cirurgião-dentista deve prezar por uma odontologia justa,
tendo em vista o melhor ao paciente, sempre zelando por sua saúde.

Art. 9º Constituem deveres fundamentais dos inscritos, e sua violação caracte-


riza infração ética:

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I - Manter regularizadas suas obrigações financeiras junto ao Conselho Regional.
II - Manter seus dados cadastrais atualizados junto ao Conselho Regional.
III - Zelar e trabalhar pelo perfeito desempenho ético da Odontologia e pelo prestígio
e bom conceito da profissão.
IV - Assegurar as condições adequadas para o desempenho ético-profissional da
Odontologia, quando investido em função de direção ou responsável técnico.
V - Exercer a profissão mantendo comportamento digno.
VI - Manter atualizados os conhecimentos profissionais, técnico-científicos e culturais,
necessários ao pleno desempenho do exercício profissional.
VII - Zelar pela saúde e pela dignidade do paciente.
VIII - Resguardar o sigilo profissional.
IX - Promover a saúde coletiva no desempenho de suas funções, cargos e cidadania,
independentemente de exercer a profissão no setor público ou privado.
X - Elaborar e manter atualizados os prontuários na forma das normas em vigor, in-
cluindo os prontuários digitais.
XI - Apontar falhas nos regulamentos e nas normas das instituições em que trabalhe,
quando as julgar indignas para o exercício da profissão ou prejudiciais ao paciente,
devendo dirigir-se, nesses casos, aos órgãos competentes.
XII - Propugnar pela harmonia na classe.
XIII - Abster-se da prática de atos que impliquem mercantilização da Odontologia ou
sua má conceituação.
XIV - Assumir responsabilidade pelos atos praticados, ainda que estes tenham sido
solicitados ou consentidos pelo paciente ou seu responsável.
XV - Resguardar sempre a privacidade do paciente.
XVI - Não manter vínculo com entidade, empresas ou outros desígnios que os carac-
terizem como empregado, credenciado ou cooperado, quando as mesmas se encon-
trarem em situação ilegal, irregular ou inidônea.
XVII - Comunicar aos Conselhos Regionais sobre atividades que caracterizem o exer-
cício ilegal da Odontologia e que sejam de seu conhecimento.
XVIII - Encaminhar o material ao laboratório de prótese dentária devidamente acom-
panhado de ficha específica assinada.
XIX - Registrar os procedimentos técnico-laboratoriais efetuados, mantendo-os em
arquivo próprio, quando técnico em prótese dentária.

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2.3 RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL

Dentro das relações jurídicas, surgem direitos e deveres recíprocos. O paciente tem
o direito de receber um bom tratamento e o dever de pagar por ele. O profissional tem o
direito de receber os honorários e o dever de fazer um trabalho com a melhor técnica.

Os direitos surgidos na relação jurídica dão a seu titular a escolha de fazer ou não.
Entretanto, quem tem o dever de realizar algo, deve fazê-lo, pois está sujeito ao direito de
outra pessoa. Ao descumprir um dever, está ferindo uma norma jurídica.

O profissional possui responsabilidades civil, penal e ética, as quais não se confun-


dem, visto que são derivadas de legislações diferentes, sendo julgadas por órgãos distin-
tos. Porém, nada impede que em uma mesma conduta, o profissional seja responsabilizado
nas três esferas.

Na esfera civil, o objetivo é reparar um dano causado por meio de indenização; na


esfera criminal, o objetivo é punir quem realizou uma conduta descrita no Código Penal;
enquanto na esfera administrativa/ética, a penalização não tem intuito reparatório, mas
educativo e punitivo em relação ao infrator.

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Figura 6 - Responsabilidades.

Fonte: Adaptada pela autora (2022).

2.4 RESPONSABILIDADE CIVIL

Quanto à responsabilidade civil, o Código Civil Brasileiro aborda como se dá a ação


de um ato ilícito, assim como explica que, ao realizar este ato, a pessoa tem a obrigação de
repará-lo por meio de indenização:

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Art. 186 – Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.
Art. 927 – Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, é obrigado a repará-lo.
Art. 944 – A indenização mede-se pela extensão do dano.

Ou seja, se a pessoa causa um dano ao paciente, seja ele físico, financeiro, ou moral,
deverá reparar por meio de indenização, de acordo com a extensão desse dano sofrido
pelo paciente.

Já no código de defesa do consumidor, outra legislação à qual o cirurgião-dentista


pode ser responsabilizado, discorre que o consumidor (neste caso o paciente) tem direito
à informação adequada e clara sobre os produtos, inclusive em relação ao preço e aos
riscos que apresentem. Outro direito do consumidor se direciona à propaganda enganosa
e abusiva.

2.5 RESPONSABILIDADE PENAL

No código penal brasileiro, estão elencadas as condutas que são caracterizadas como
crime. Para o cirurgião-dentista, os principais crimes a serem observados são o de lesão
corporal, falsidade ideológica e de violação do segredo profissional.

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Lesão corporal
Art. 129 Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.

Lesão corporal culposa


§ 6° Se a lesão é culposa:
Pena - detenção, de dois meses a um ano.

2.6 FALSIDADE IDEOLÓGICA

Art. 299 Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia cons-
tar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita,
com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridi-
camente relevante.

Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão


de um a três anos, e multa, se o documento é particular.

2.7 VIOLAÇÃO DO SEGREDO PROFISSIONAL

Art. 154 Violação do segredo profissional

Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de que tem ciência em razão de função,
ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.

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CAPÍTULO 3 – SIGILO PROFISSIONAL

Com relação aos direitos e deveres do cirurgião dentista, o principal se deve a ques-
tão do sigilo profissional, isso se deve pela obrigatoriedade, inclusive em lei, de se manter
tal segredo.

O sigilo profissional está acima dos interesses particulares do cirurgião-dentista ou de


terceiros, sendo um direito renunciável nos casos expressos em Lei e no Código de Ética
Odontológica, limitado, muitas vezes, à vontade do paciente.

O sigilo abrange assuntos que dizem respeito à intimidade e à privacidade do pacien-


te, seja quanto à sua condição de saúde, seus hábitos, vida profissional, familiar.

O cirurgião-dentista não pode, de forma alguma, exibir imagem do paciente ou de ele-


mento que permita sua identificação em meios de comunicação. É proibido, por exemplo,
exibir pacientes em propagandas do consultório.

A única ressalva é para publicações científicas, quando o profissional exerce a docên-


cia, desde que haja a autorização do paciente ou de seu responsável legal.

Figura 7 - Sigilo Profissional.

Fonte: Adaptada pela autora (2022).

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Art. 14 Constitui infração ética:
I - Revelar, sem justa causa, fato sigiloso de que tenha conhecimento em razão do
exercício de sua profissão;
II - Negligenciar na orientação de seus colaboradores quanto ao sigilo profissional; e,
III - Fazer referência a casos clínicos identificáveis, exibir paciente, sua imagem ou
qualquer outro elemento que o identifique, em qualquer meio de comunicação ou sob
qualquer pretexto, salvo se o cirurgião-dentista estiver no exercício da docência ou em
publicações científicas, nos quais, a autorização do paciente ou seu responsável legal,
permite-lhe a exibição da imagem ou prontuários com finalidade didático-acadêmicas.

Parágrafo Único. Compreende-se como justa causa, principalmente:


I - Notificação compulsória de doença;
II - Colaboração com a justiça nos casos previstos em lei;
III - Perícia odontológica nos seus exatos limites;
IV - Estrita defesa de interesse legítimo dos profissionais inscritos; e,
V - Revelação de fato sigiloso ao responsável pelo incapaz.

Art. 15 Não constitui quebra de sigilo profissional a declinação do tratamento empre-


endido, na cobrança judicial de honorários profissionais.
Art. 16 Não constitui, também, quebra do sigilo profissional a comunicação ao Conse-
lho Regional e às autoridades sanitárias as condições de trabalho indignas, inseguras
e insalubres.

Sobre esta temática, o Código Civil Brasileiro, em seu Artigo 144, traz que “Ninguém
pode ser obrigado a depor de fatos a cujo respeito por estado ou profissão deva guardar
segredo”.

Já o Código Penal Brasileiro, no Artigo 154, informa que é crime: “Revelar a alguém,
sem justa causa, segredo de que tem ciência em razão de função, ministério, ofício ou pro-
fissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem”.

Dessa forma, verifica-se que a questão do sigilo é importante em diversos quesitos e

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legislações, devendo ser respeitado pelo cirurgião-dentista e toda a sua equipe.

3.1 TERMO DE CONSENTIMENTO

O termo de consentimento é o ato de decisão, concordância e aprovação do paciente,


após a necessária informação e explicação por parte do profissional, a respeito dos proce-
dimentos diagnósticos ou terapêuticos que lhe são indicados.

O conteúdo básico de um termo de consentimento é:

1- Identificação do paciente ou de seu responsável.

2- Nome do procedimento.

3- Data e local de realização do procedimento.

4- Descrição Técnica (em termos leigos e claros).

5- Riscos e benefícios.

6- Possíveis insucessos.

7- Complicações pré e pós-operatórias.

8- Compromisso com os meios e não com o resultado.

9- Descrição da anestesia (quando necessária).

10- Informação sobre a possibilidade de modificação de conduta durante o procedi-


mento.

11- Declaração de que as explicações foram efetivamente entendidas.

12- Confirmação de autorização (consentimento).

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13- Possibilidade de revogação do consentimento.

14- Data e local.

15- Assinatura.

O Código de Ética Odontológica traz a observação, no Artigo 11, que constitui infração
ética:

“IV- Deixar de esclarecer adequadamente os propósitos, riscos, custos e alternativas


do tratamento;
[...]
X- Iniciar qualquer procedimento ou tratamento odontológico sem o consentimento
prévio do paciente ou do seu responsável legal, exceto em casos de urgência ou
emergência”.

Assim, fica evidente que o paciente deve estar ciente dos procedimentos que serão
realizados em seu tratamento. Ele precisa concordar com o proposto pelo profissional, es-
colhendo o que, à sua visão, melhor se adequar.

Este tema é muito importante para o paciente, uma vez que ele deve ter autonomia
nas decisões e escolhas, participando de todo o processo do tratamento. O código de defe-
sa do consumidor sedimentou a informação como um direito do consumidor, e a falta desta
pode causar a necessidade de reparação de danos ao consumidor por parte do prestador
de serviço:

“Art. 6º São direitos básicos do consumidor:


III- A informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com espe-
cificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem
como sobre os riscos que apresentem”.

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Código de Defesa do Consumidor
Art. 14 O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de cul-
pa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à
prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas so-
bre sua fruição e riscos.

Ademais, o não consentimento só é possível em casos onde haja a necessidade de


um atendimento rápido por parte do profissional, como casos de urgência e emergência,
conforme está descrito no Código Penal e no Código de Ética Odontológica.

Código Penal
Art. 146 Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe
haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o
que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda:
§3º Não se compreendem na disposição deste artigo:
I - A intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu
representante legal, se justificada por iminente perigo de vida.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foi possível constatar, diante do que foi relatado nesta disciplina, que uma relação
de empatia e cordialidade entre cirurgião-dentista e paciente é uma forma eficaz de se
evitarem constrangimentos, problemas pessoais e legais. Contudo, em casos de maiores
impasses, o prontuário odontológico bem descrito, detalhado e devidamente assinado é
uma forma de se proteger perante alguma eventualidade legal.

Também compreendemos que, primeiramente, o profissional precisa se ater ao limite


de suas atribuições, o qual envolve o diagnóstico, o planejamento e a execução de trata-
mentos, além, é claro, de sempre guardar as informações do paciente sob sigilo.

Algumas vezes, a relação com seus pacientes é permeada por conflitos e dilemas,
que exigem atenção e preparo moral, ético e bioético do profissional para contorná-los e,
preferencialmente, preveni-los, a fim de evitar problemas futuros. No entanto, os profissio-
nais nem sempre estão preparados para lidar com as questões de caráter ético, o que pode
levá-los a vivenciar conflitos no exercício profissional.

A ética, com base em valores intrínsecos e fundamentais, representa um atributo de


consciência ou elemento formador do caráter, particularmente, moral, que oferece ao indiví-
duo a polaridade pelo bem ou pelo mal, pelo certo ou pelo errado, pelo falso ou verdadeiro.
Problemas éticos na prática odontológica ocorrem rotineiramente e podem envolver aspec-
tos referentes ao paciente, à organização dos serviços de saúde, ao relacionamento com
os colegas e a sociedade como um todo.

Por isso, o código dispõe sobre a documentação odontológica necessária, o respeito


às diferenças, as regras quanto à cobrança de honorário e outros tantos temas presentes
na clínica diária, sempre visando à aplicação da odontologia em prol da saúde do paciente.

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REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº. 5081: regula o exercício da odontologia. 24 ago. 1966.

BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Código de Defesa do Consumidor

BRASIL. Decreto lei nº 3.689. Institui o Código de Processo Penal. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 03 out. 1941.

BRASIL. Conselho Federal de Odontologia. Resolução CFO-63/2005: aprova a Con-


solidação das Normas para Procedimentos nos Conselhos de Odontologia.

BRASIL. Conselho Federal de Odontologia. Código de Ética Odontológica. 2012.

BRASIL. Lei n. 10.406, 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 11 jan. 2002.

BRASIL. Decreto-Lei 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial


da União, Rio de Janeiro, 31 dez. 1940.

JUNQUEIRA, C. R. Ética na Odontologia. Rio de Janeiro: Vozes, 2011.

NALINI, J. R. Ética geral e profissional. 12ª ed. São Paulo: RT, 2012.

SILVA, R. H. A. Orientação Profissional para o Cirurgião-Dentista: Ética e Legis-


lação. São Paulo: Santos; 2010.

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ioaonline.com.br @ioaonline ioaonline@redeioa.com.br

ITAJAÍ - SC

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