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INTENSIVO II

Direito Civil
Mônica Queiroz
Aula 3

ROTEIRO DE AULA

Tema: RESPONSABILIDADE CIVIL (continuação)

RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA

• Independente de culpa – Essa manifestação de responsabilidade é aquela que independe da culpa.


Quando se está diante de responsabilidade civil objetiva, o fundamento para o dever de reparar reside no dano.
• Base: Teoria do Risco – A base do estudo da responsabilidade civil objetiva se dá com a teoria do risco.
A professora explica que, na Europa, começaram a perceber que, muitas pessoas, no caso concreto, não
conseguiam provar a culpa do agente e, desse modo, ficavam em uma situação de injustiça.
A teoria do risco preceitua que quem aufere o bônus precisa arcar com o ônus.

Há várias concepções da teoria do risco. Veja a seguir:

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a) Teoria do Risco Criado

Art. 927, parágrafo único, CC: “Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados
em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os
direitos de outrem.”

Pela teoria do risco criado, a pessoa que criou o risco deve responder por ele.

Pressupostos: atividade de risco, dano e nexo causal.

- Atividade de risco:
✓ Perceba que, quando estudamos a responsabilidade civil subjetiva, os pressupostos eram: conduta humana
antijurídica, dano e nexo causal.
✓ No caso da responsabilidade civil objetiva, com base no risco criado, apenas o primeiro elemento é alterado.
✓ Em suma: ao comparar os pressupostos da responsabilidade civil objetiva decorrente do risco criado com a
responsabilidade subjetiva, é possível verificar que, em ambas, há nexo causal e dano.
O que diferencia ambas é que, na responsabilidade civil objetiva decorrente do risco criado exige-se a prática de
uma atividade de risco.

Conceito: quando falamos de atividade de risco, nenhuma lei traz o conceito do que ela seja. A professora informa que
será o juiz do caso concreto que irá dizer se aquilo se traduz em atividade de risco ou não.
Exemplo: imagine que um surfista estava praticando surfe na praia e atropela um banhista. O banhista ajuíza uma ação
contra o surfista, pleiteando a devida indenização pelo dano material sofrido, dizendo que o agente tem responsabilidade
objetiva, afinal de contas ele estava praticando surfe e a prática de surfe é atividade de risco.

O juiz do caso é quem vai responder se surfe é atividade de risco ou não e ele tem dois caminhos que pode seguir: ele
pode concordar com o banhista, decidindo que a prática de surfe é uma atividade de risco e, assim, dar seguimento à
ação e o agente terá uma responsabilidade objetiva, independentemente de culpa. Contudo, o juiz pode ir para outro
caminho e dizer que praticar surfe não é atividade de risco e, assim, a ação continua, mas continua no mundo da
responsabilidade civil subjetiva, com a vítima tendo que provar a culpa do agente para obter êxito em seu pedido.

b) Teoria do Risco Integral

Neste caso, há uma verdadeira exacerbação da responsabilidade civil objetiva e da própria teoria do risco.
Pela teoria do risco integral, o agente tem que responder objetivamente ainda que ele tenha em mãos uma excludente
do nexo causal.

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Quando for caso de se aplicar a teoria do risco integral, o agente deverá responder objetivamente ainda que haja um
excludente do nexo causal (caso fortuito ou força maior, culpa exclusiva da vítima, culpa de terceiro).
✓ Encontramos a teoria do risco integral, por exemplo, em se tratando de dano nuclear, dano ambiental.

c) Teoria do Risco Proveito – Segundo a teoria do risco proveito, irá responder objetivamente pelo dano a pessoa que
tenha obtido proveito com aquela atividade, tratando-se de um proveito financeiro.

✓ Obs.: A professora explica que a teoria do risco proveito é um pouco mais restrita do que a teoria do risco criado.

Um exemplo de aplicação da teoria do risco proveito está na súmula n. 492 do STF, porque essa súmula traz
responsabilidade solidária para a locadora de veículos e o condutor locatário em caso de acidente, sendo que é a locadora
de veículos quem aufere o proveito nessa relação jurídica.

Súmula 492, STF: “A empresa locadora de veículos responde, civil e solidariamente com o locatário, pelos danos por este
causados a terceiro, no uso do carro locado.”

✓ A professora explica que a súmula impõe a responsabilidade solidária e, diante disso, há uma crítica, pois essa
função deveria ser da lei.
✓ A súmula 492 do STF é um exemplo de aplicação da responsabilidade civil objetiva com base na teoria do risco
proveito.

A responsabilidade objetiva vai decorrer, conforme o parágrafo único do art. 927 do CC, daquela situação em que a pessoa
pratica atividade de risco ou quando a lei impuser.

Art. 927, p.ú., CC: “Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei,
ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos
de outrem.”

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Exemplo de lei impondo responsabilidade objetiva: o CDC, no art. 141, impõe a responsabilidade objetiva ao fornecedor.

A regra do ordenamento jurídico brasileiro é que somos responsáveis apenas pelos nossos atos. Porém,
excepcionalmente, pode ser que uma pessoa seja responsabilizada por um fato de um terceiro ou por um fato de uma
coisa.
Todas as vezes em que uma pessoa for responsabilizada por um fato de um terceiro ou por um fato de uma coisa, haverá
caso de responsabilidade objetiva imposta por lei.

Responsabilidade por fato de terceiro/indireta


Neste caso, a pessoa irá, excepcionalmente, responder por um fato de terceiro, independentemente de culpa.

CC, art. 932: “São também responsáveis pela reparação civil:


➢ I - Os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia;

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CDC, art. 14: “O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos
causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou
inadequadas sobre sua fruição e riscos.
§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em
consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:
I - o modo de seu fornecimento;
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi fornecido.
§ 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas.
§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:
I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa.”

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➢ A regra é que a pessoa responde pelos próprios danos que comete. Entretanto, se uma pessoa tem um filho
menor de idade e ele causa dano a outro, os pais responderão por isso (responsabilidade civil por ato de terceiro).
Neste caso, a responsabilidade dos pais é objetiva.
➢ A professora destaca que, neste caso, os pais apenas irão responder se o filho tiver agido com culpa.
➢ Obs.: A responsabilidade por fato de terceiro também é conhecida como responsabilidade objetiva indireta e isso
ocorre porque o causador do dano deve ter agido com culpa (responsabilidade subjetiva).
o Com base na parte final do inciso, surge uma discussão: se os pais estiverem separados e,
exemplificativamente, o filho estiver sob a guarda da mãe e causar dano a terceiros, quem irá responder?
o O STJ entende que, no exemplo dado, a mãe responde pelo dano.
STJ, 3ª Turma: REsp 1.232.011 – SC: “(...)o legislador ao traçar que a responsabilidade dos pais é objetiva,
restringiu a obrigação de indenizar àqueles que efetivamente exercem autoridade e tenham o menor em
sua companhia.”
o Alguns autores, entretanto, vão ampliar essa perspectiva e dizer que o pai também terá que responder,
porque o pai não perdeu o poder familiar só porque a guarda está com a mãe (Giselda Hironaka, Maria
Berenice Dias).
✓ Todavia, imagine que aquela criança cause dano a terceiro, pegando uma pedra e atingindo a vidraça no horário
em que ela estava no colégio, deixada pelos pais. De quem será a responsabilidade nesses casos? Nesse caso,
migramos do inciso I para o inciso IV e a responsabilidade será da escola.

II - O tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições;
➢ Se o tutelado causou danos, quem responderá objetivamente vai ser o tutor.
➢ Se o curatelado causou danos, quem responderá objetivamente vai ser o curador.

III - O empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir,
ou em razão dele;
➢ Exemplo: determinada pessoa tem um motorista particular e esse motorista, em trabalho, pegue o seu carro e
cometa um acidente de trânsito, estando bêbado. Neste caso, quem responderá é o empregador, de forma
objetiva.
A responsabilidade do empregador é objetiva.
Súmula 341, STF: “É presumida a culpa do patrão ou comitente pelo ato culposo do empregado ou preposto.”
(Atenção: essa súmula não se aplica mais).

IV - Os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de
educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos;
➢ Além da responsabilização objetiva da escola, há aquelas situações em que o hóspede causa dano a outro hóspede
dentro do hotel. Quem responderá é o hotel, a hospedaria.

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➢ Vale lembrar que esse inciso IV tem uma imprecisão terminológica porque diz “os donos de hotéis (...)”, porque
não será a pessoa natural que vai responder por isso e sim a própria pessoa jurídica do hotel, da hospedaria, da
escola.
➢ Em prova de múltipla escolha, apesar da imprecisão terminológica, o candidato deve assinalar como correta a
assertiva que traz a redação do inciso tal como está.

V - Os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia.
➢ Exemplo: um sujeito levanta de manhã e diz para a esposa ficar em casa fazendo o almoço porque ele vai assaltar
um banco e volta logo. Esse sujeito assalta o banco, chega em casa com um saco de dinheiro, colocando em cima
da mesa. Essa mulher deveria devolver esse dinheiro, porque não é dela.
➢ Esse inciso, segundo a professora, foge da temática do art. 932 do CC.

CC, art. 933: “As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte,
responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos.”
✓ Essas pessoas vão responder independentemente de culpa.

CC, art. 934: “Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver pago daquele por quem pagou,
salvo se o causador do dano for descendente seu, absoluta ou relativamente incapaz.”
✓ Exemplo: o empregado causou dano e o empregador pagou. Depois, o empregador pode se voltar contra o
empregado. Da mesma forma, acontece em relação ao tutelado e seu tutor.
✓ Obs.: O pai não pode se voltar contra o filho por uma razão de solidariedade familiar, em virtude da exceção
prevista na parte final do artigo.

Responsabilidade Civil do Incapaz

Vamos imaginar que um menino de 10 anos pegue uma pedra e atire na vidraça da vizinha. A vizinha é a vítima. A vítima,
em um primeiro plano, deve ir atrás dos pais e os pais irão responder objetivamente com base no art. 932, I. Suponhamos
que a mãe já morreu, deixou uma grande herança ao filho e ele só tenha o pai vivo.
Imagine que esse pai não tenha obrigação de indenizar porque foi destituído do poder familiar ou, ainda que o pai não
tenha sido destituído do poder familiar, o pai não tem dinheiro (mas o filho tem).

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Assim, a vítima poderá se voltar contra o filho porque ele, exemplificativamente, herdou dinheiro da mãe.
✓ Isso está sendo abordado sob a perspectiva da subsidiariedade. A responsabilidade do incapaz existe no CC/2002,
mas é uma responsabilidade subsidiária e não solidária porque, primeiro, a vítima deve se voltar contra os pais.
Apenas se frustrando nessa tentativa é que a vítima poderá se voltar contra o incapaz.

✓ O parágrafo único do art. 928 do CC é inspirado na Teoria do Patrimônio Mínimo (Min. Edson Fachin).
✓ Essa teoria afirma que, para que a pessoa tenha a dignidade da pessoa humana efetivada, ela precisa ter um
mínimo de patrimônio.

CC, art. 942: “Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos à reparação do dano
causado; e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão solidariamente pela reparação.
Parágrafo único. São solidariamente responsáveis com os autores os coautores e as pessoas designadas no art. 932.
(grifo nosso).”
✓ O parágrafo único fala que todas aquelas pessoas do art. 932 têm responsabilidade objetiva solidária – imposta
por lei – com aquela pessoa que causou o dano.
Ocorre que o art. 932, I e II, trata de incapazes e , neste momento, surge uma contradição do legislador, porque
o art. 928 informa que o incapaz não tem responsabilidade solidária, mas sim subsidiária.
Como interpretar isso tudo?
o Para os incisos I e II, que versam sobre incapazes, vamos aplicar o art. 928 do CC e a responsabilidade será
subsidiária.
o Para os incisos III, IV e V, aplica-se o parágrafo único do art. 942, com a responsabilidade solidária.

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Observação: O CC/1916 trazia um artigo similar ao art. 932 do CC/2002, trazendo responsabilidade para os pais, para o
tutor, para o curador, para o empregador. Mas o CC/1916 trazia responsabilidade para essas pessoas sob a perspectiva
da responsabilidade subjetiva, ou seja, essas pessoas deveriam responder por culpa presumida: culpa in vigilando (falha
no dever de vigiar), culpa in eligendo (falha na escolha do empregado), culpa in custodiendo (falha no dever de custódia).

A responsabilidade civil subjetiva por culpa presumida foi superada pelo CC/2002, pois traz a responsabilidade para essas
pessoas, mas é uma responsabilidade objetiva.
✓ Isso é importante porque, no CC/1916, o pai era chamado para responder porque, exemplificativamente, tinha
agido com culpa in vigilando. Contudo, o pai poderia discutir, naquele processo, tentando demonstrar a
inexistência de culpa.
✓ Em suma: no CC/1916, presumia-se a culpa das pessoas mencionadas, mas elas poderiam afastar a culpa e não
serem responsabilizadas.
✓ No CC/2002, não se fala mais nisso. Essas pessoas respondem objetivamente. Isso significa dizer que o pai é
chamado para pagar, o empregador é chamado para pagar e não adianta essas pessoas quererem discutir culpa,
porque aqui não cabe tal discussão. A responsabilidade deles agora é objetiva e não mais por culpa presumida.

Enunciado 451, CJF: “A responsabilidade civil por ato de terceiro funda-se na responsabilidade objetiva ou independente
de culpa, estando superado o modelo de culpa presumida.”

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Responsabilidade por fato de coisa

• Art. 936
• Art. 937
• Art. 938

CC, art. 936: “O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou força
maior.”

✓ O dono ou detentor do animal vai responder pelo dano causado pelo seu animal e a responsabilidade dele é
objetiva. A única coisa que ele pode alegar para afastar sua responsabilidade é se ele provar a culpa exclusiva da
vítima (Exemplo: o cachorro de “A” mordeu “B”, mas isso ocorreu porque “B” estava invadindo a casa de “A” para
realizar um assalto) ou se ele provar força maior (Exemplo: choveu muito e houve problemas elétricos na cidade.
Diante disso, portões eletrônicos se abriram e cachorros ferozes ficaram soltos e morderam pessoas) –
excludentes do nexo causal.
✓ Pelo Código Civil, o animal é caracterizado como coisa.

Obs.: o art. 936 do CC não mencionou a culpa de terceiro como sendo excludente do nexo causal. A despeito disso, a
doutrina informa que ela também é.

Enunciado 452, CJF: “A responsabilidade civil do dono ou detentor de animal é objetiva, admitindo-se a excludente do
fato exclusivo de terceiro.”

Observações:
✓ Adestrador de animal: art. 936, CC – O adestrador do animal tem responsabilidade objetiva pelo dano causado
pelo animal.
✓ Dono do animal: art. 932, III c/c 942, p.ú., CC – O dono também tem responsabilidade objetiva pelos danos
causados pelo animal. Entretanto, a responsabilidade decorre do disposto no art. 932, III do CC.
Além disso, ao conjugar o art. 932, III do CC com o art. 942, p.ú., CC2, é possível notar que tal responsabilidade é
solidária.
✓ Circos, hotel fazenda: art. 14, CDC – O art. 14 do CDC traz a responsabilidade objetiva do fornecedor.

CC, art. 937: “O dono de edifício ou construção responde pelos danos que resultarem de sua ruína, se esta provier de falta
de reparos, cuja necessidade fosse manifesta.”

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Art. 942, parágrafo único, CC: “São solidariamente responsáveis com os autores os coautores e as pessoas designadas
no art. 932.”

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Exemplo: imagine que alguém esteja andando na rua, passando na frente de uma construção ou de um prédio que está
em ruínas e, diante disso, cai na cabeça daquela pessoa um pedaço de telha podre ou um pedaço de vidro da janela. O
dono responderá de forma objetiva, independente de culpa.

A professora ressalta que, a despeito do trecho final do art. 937 (“cuja necessidade fosse manifesta”), não se trata de
responsabilidade subjetiva.

Enunciado 556, CJF: A responsabilidade civil do dono do prédio ou construção por sua ruína, tratada pelo art. 937 do CC,
é objetiva.

CC, art. 938: “Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano proveniente das coisas que dele caírem ou
forem lançadas em lugar indevido.”

Essa é a situação de alguém que está andando na rua e algo também cai na cabeça dessa vítima, mas, aqui o que cai é um
vaso de flores, um tapete que estava pendurado na janela para secar, um cinzeiro de quem estava fumando na sacada.
✓ Aqui não estamos falando de construção e nem de prédio em ruínas. Alguém vai responder por esse dano e não
será o dono necessariamente, porque “aquele que habitar” pode ser o locatário, o comodatário, o usufrutuário
ou o dono.

Claro que, se não conseguirmos descobrir de qual unidade autônoma aquilo caiu ou foi lançado, o condomínio deve
responder por aquilo, conforme o enunciado a seguir:

Enunciado 557, CJF: “Nos termos do art. 938 do CC, se a coisa cair ou for lançada de condomínio edilício, não sendo
possível identificar de qual unidade, responderá o condomínio, assegurado o direito de regresso.”

Estamos analisando a responsabilidade objetiva, que terá algumas fontes:

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A responsabilidade objetiva, no CC/2002, além das estudadas, ainda terá uma terceira fonte, que é o abuso de direito
(art. 187 do CC).

O que é o abuso de direito?


O abuso de direito ocorre quando uma pessoa, ao exercitar um direito, extrapola determinados limites.
Exemplo: alguém resolve ouvir música no volume máximo de segunda-feira para terça-feira às 4h. O vizinho prejudicado
pode ajuizar uma ação pleiteando a devida reparação civil.
A responsabilidade civil de quem age em abuso de direito é objetiva.

Limites para o exercício do direito:


1 –Função social e econômica daquele direito.
2 – Boa-fé objetiva.
3 - Bons costumes.

CC, art. 187: “Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites
impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.”

Há uma dúvida na redação do art. 187 porque o dispositivo se inicia dizendo: “também comete ato ilícito”. Entretanto, o
ato ilícito é do mundo da responsabilidade subjetiva e, em uma primeira leitura do dispositivo, é possível achar que a
responsabilidade que decorre do abuso de direito é subjetiva, mas não é. Ela é objetiva.

Enunciado 37, CJF: “A responsabilidade civil decorrente do abuso do direito independe de culpa e fundamenta-se somente
no critério objetivo-finalístico.”

Na seara processual:
“Sham litigation” – trata-se de um conjunto de ações promovidas junto ao Poder Judiciário, sem embasamento sólido,
com a finalidade de prejudicar a outrem. (REsp 1.817.845 – MS)

A independência da responsabilidade civil em relação à criminal


A professora destaca a necessidade de sempre identificar, diante de um caso concreto, se a responsabilidade será objetiva
ou subjetiva. Essa análise é feita por exclusão, pois, inicialmente, é necessário verificar se se trata de responsabilidade
objetiva. Caso não seja, iremos para a regra geral de responsabilidade subjetiva.

Exemplo: Houve um atropelamento na rua. Em princípio, a responsabilidade é do motorista que estava dirigindo o carro.
Essa responsabilidade dele será analisada por exclusão. Primeiro, se verifica se ele está no mundo da responsabilidade
objetiva, ou seja, se ele estava praticando atividade de risco, se alguma lei impõe responsabilidade objetiva para o
motorista de carro ou se ele agiu em abuso de direito. No caso, a resposta é negativa para todas as perguntas. Não sendo

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responsabilidade objetiva, caímos na vala comum, que é o mundo da responsabilidade subjetiva, dependendo da prova
da culpa.

Princípio da independência da responsabilidade civil em relação à criminal


Uma mesma conduta pode ensejar diversas responsabilidade.
Exemplo: “A” ofende “B”, proferindo xingamentos contra a vítima. Neste caso, há responsabilidade civil e penal.
✓ A professora destaca que não é porque uma determinada pessoa foi absolvida na esfera criminal que ela
necessariamente não terá responsabilidade no âmbito cível.
✓ Em princípio, o fundamento da absolvição em âmbito criminal não importa para a esfera cível.

Se, exemplificativamente, a pessoa foi absolvida no âmbito criminal por insuficiência de provas ou inexistência de crime,
a vítima do evento danoso pode ingressar em juízo pleiteando responsabilização cível.
Exceções: Entretanto, se a pessoa foi absolvida no âmbito criminal por negativa de autoria ou inexistência de fato, não é
possível ingressar em juízo pleiteando responsabilização cível. Neste caso, a decisão criminal vinculará a esfera cível. Por
conta dessas exceções, a independência da responsabilidade civil em relação à criminal é relativa.

CC, art. 935: A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do
fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal.

CC, art. 200: “Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não correrá a prescrição antes da
respectiva sentença definitiva.”

A professora explica que, na seara cível, há um prazo para que a pessoa pleiteie uma reparação e ele está disposto no art.
206, §3º, V do CC3 (3 anos).

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CC, art. 206, §3º, V: “Prescreve:
§ 3 o Em três anos:
V - a pretensão de reparação civil;”

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Diante disso, imagine que haja uma ação criminal em andamento e sobrevém uma sentença 7 anos após a ocorrência do
fato. Neste caso, o prazo para ingressar com a ação de reparação civil já prescreveu?
Não. A professora ressalta que, quando há uma situação que enseja, ao mesmo tempo, um delito e uma reparação civil,
o prazo do âmbito cível não transcorre até a sentença definitiva no âmbito criminal.

Questões interessantes
1) Furto ou roubo de veículo
O dono do veículo não tem responsabilidade pelos eventos danosos que ocorrerem após o furto ou o roubo do veículo.
Isso ocorre porque há a modificação da guarda do bem.

Obs.: Excepcionalmente, a doutrina e a jurisprudência estendem a responsabilidade ao dono do veículo quando ele tiver
deixado o bem em condições oportunas para ser levado por terceiro.
Exemplo: estacionar o carro em local muito perigoso, deixando o carro aberto e as chaves na ignição.

2) Veículo emprestado
Quando uma pessoa empresta o veículo para outra, há a celebração do contrato de comodato (empréstimo de bem
infungível).
Se “A” (comodante) empresta o carro para “B” (comodatário) e este se envolve em um acidente, quem responde pelo
evento danoso? Veja os posicionamentos a seguir:
• P/ a doutrina: a responsabilidade é do comodatário. O comodante não pode ser responsabilizado. Assim sendo,
no exemplo dado, “B” responde pelo evento danoso, pois houve a modificação da guarda do bem.
Todavia, a doutrina estende a responsabilidade ao comandante quando este empresta o veículo a uma pessoa
que não tenha condições de dirigir (exemplos: pessoa inabilitada, bêbada...).
• P/ o STJ: responsabilidade solidária comodante e comodatário – Para o STJ, tanto o comodante quanto o
comodatário terão responsabilidade solidária.
A professora destaca que há várias críticas a esse posicionamento, pois a solidariedade não se presume, mas
decorre de lei ou da vontade das partes.

3) Veículo vendido, entregue, mas não transferido no DETRAN


No ordenamento jurídico brasileiro, as coisas móveis se transferem com a tradição. Assim sendo, quando há a venda e a
entrega do veículo para determinada pessoa, já houve a mudança de titularidade (nada obstante não seja feita a
transferência no DETRAN). Assim sendo, se a pessoa adquire um veículo, não faz a transferência no DETRAN e se envolve
em um acidente, ainda assim, a responsabilidade civil será do adquirente.
• A responsabilidade será do adquirente.
• Súmula 132, STJ: “A ausência de registro da transferência não implica a responsabilidade do antigo proprietário
por dano resultante de acidente que envolva o veículo alienado.”

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4) Carona

O transporte pode ser oneroso (exemplo: taxista) ou gratuito.

Se o transporte for oneroso, há um contrato e a responsabilidade por eventual acidente é objetiva e do transportador.
✓ Em todo contrato de transporte há, implícita, a cláusula de incolumidade.
CC, art. 730: “Pelo contrato de transporte alguém se obriga, mediante retribuição, a transportar, de um lugar para
outro, pessoas ou coisas.”

Se o transporte for gratuito, é necessário distinguir se ele é:


• Puramente gratuito: trata-se da carona propriamente dita. É feito por mera liberalidade (art. 736, caput4). Neste
caso, não há contrato de transporte.
No transporte puramente gratuito, de simples cortesia, o transportador só será civilmente responsável por danos
causados ao transportado quando incorrer em dolo ou culpa grave.
Exemplo de dolo: “A” quer matar “B” e, para tanto, oferece carona e se envolve em um acidente de propósito.
Exemplo de culpa grave: “A” é amigo de “B”, dá carona a ele e depois decide se envolver em um corrida
clandestina e ambos se acidentam.

Súmula 145, STJ: “No transporte desinteressado, de simples cortesia, o transportador só será civilmente responsável por
danos causados ao transportado quando incorrer em dolo ou culpa grave.”

• Aparentemente gratuito: Neste caso, a responsabilidade é objetiva em caso de acidente. Há um contrato de


transporte (art. 736, § único5).
Exemplo: colegas de faculdade vão juntos e dividem o valor do combustível do veículo.

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CC, art. 736, caput: “Não se subordina às normas do contrato de transporte o feito gratuitamente, por amizade ou
cortesia.”
5
CC, art. 736: “Parágrafo único. Não se considera gratuito o transporte quando, embora feito sem remuneração, o
transportador auferir vantagens indiretas.”

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