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1.

Introdução

O presente trabalho objetiva realizar um breve histórico acerca do direito


administrativo contencioso.

Refere Gilles CISTAC, O processo administrativo contencioso aparece como


indispensável à realização concreta dos direitos subjectivos públicos ou, de forma
mais geral, como qualquer processo contencioso, à realização contenciosa dos
direitos, no sentido da sua realização em juízo. A essência do Estado de Direito é
mesmo de tutelar os direitos positivos subjectivos. Assim, o processo administrativo
contencioso participa para a efectividade dos direitos. As regras do processo
administrativo contencioso constituem uma garantia essencial dos justiciáveis.
Assim, as interferências do procedimento administrativo contencioso com a
protecção dos direitos substanciais e a exigência da efectividade dos direitos
constituem fundamentos sólidos do seu estudo.

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2. Metodologia

No presente estudo, adotou-se como principais fontes de pesquisa: livros, trabalhos


académicos, artigos científicos, regulamentos e avulsos, bem como consultas á
internet, cujo aporte técnico direcionou a operacionalização do conhecimento.

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3. Objectivos
3.1. Geral
 Acompanhar a evolução do Direito Processual Administrativo Contencioso.
2.1. Específicos
 Descrever e desenvolver acerca do Direito Processual Administrativo
Contencioso.

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4. Conceito do DPAC

Contencioso administrativo é um sistema de controle da Legalidade dos actos


administrativos, que tem como objectivo julgar conflitos de interesses entre órgãos da
administração pública ou entre esses órgãos e particulares.

O Contencioso Administrativo é todo processo realizado na via administrativa, ou seja o


sistema que tem a intenção de resolver problemas de natureza administrativa.

Contencioso administrativo pode ser definido como sendo: Uma via judicial plenária e
eficaz para que administração, como gerente fiduciário que é de pessoas, torne efetiva
sua responsabilidade ou presente de conta perante os cidadãos, eliminando todas as os
velhos obstáculos enraizados na tradição de isenção da justiça do antigo poder público,
distante e absoluto, e demolindo tudo técnicas sucessivas e tenazes de prevenir, limitar
ou condiciona a plenitude do saber judicial que por dois séculos passaram
sucessivamente aparecendo.

4.1.Evolução histórica do Direito Processual Administrativo Contencioso

O surgimento e a evolução histórica do Direito Processual Administrativo


Contencioso em Moçambique cinge, de uma forma geral, a história geral do país5
isto é, para simplificar, um período colonial e um período pós-colonial. Mas, a
coincidência não é total e perfeita em termos de duração porque, depois da
independência do país em 1975, influência do direito colonial será sempre presente até
a grande reforma do ano 2001 que culminou com a aprovação, pelo Parlamento, da Lei
sobre o Processo Administrativo Contencioso.

Assim, será, previamente, necessário estudar um período em que o Direito


Processual Administrativo Contencioso é um direito tipicamente colonial ou de
inspiração colonial, antes de apresentar a reforma substancial do ano 2001 que visa
instituir novas normas processuais neste ramo do direito processual.

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I. Direito processual administrativo contencioso colonial ou de inspiração colonial
(1832-2000).

Durante muito tempo, pelo menos até 1856, nas capitanias e nos novos Estados, na
então Província Ultramarina de Portugal, Moçambique, os conflitos resultantes da
administração pública exercida nessas capitanias e Estados eram fundamentalmente
resolvidos através das garantias graciosas, do que contenciosas.

As contestações dos súbditos sobre decisões administrativas tomadas pelos governantes


no exercício das suas funções eram dirigidas aos soberanos, os quais decidiam de forma
pessoal e discricionária, com base num direito criado racionalmente pelo Rei, na
qualidade de órgão simultaneamente executivo, legislativo e jurisdicional, o que fazia
confundir a justiça com as decisões recaídas sobre aqueles recursos graciosos. Não
existia, pois, separação de poderes, nem da justiça administrativa da privada.

Como refere Gilles CISTAC, é apenas a partir da aprovação da portaria provincial nº


395, de 18 de Fevereiro de 1856, que manda considerar em vigor o código
administrativo de 18 de Março de 1842, que aparecerem mudanças substantivas, do
ponto de vista jurídico, na história do contencioso administrativo na Província
Ultramarina de Moçambique. Foi assim que se introduziu em Moçambique o sistema
administrativo Executivo, como um modo de resolução de litígios administrativos
original, através de um órgão específico, o Tribunal Administrativo, com regras
processuais, por parte, distintas das do Código de Processo Civil, CPC.

Ainda de acordo com Gilles CISTAC, desde então até 1932, o sistema foi marcado por
várias alterações, sendo de destacar, no que interessa ao presente trabalho, as seguintes:

 O Decreto de 1 de Dezembro de 1869 - chama, pela primmm ira vez, de tribunal


administrativo ao conselho de Província que então administrava os conflitos
administrativos;
 O Decreto de 2 de Setembro de 1901 - estabelece a tramitação processual dos
recursos dos actos e decisões das autoridades administrativas das Províncias
Ultramarinas e a forma de processo, a interposiçãoe seguimento dos recursos
para o Supremo Tribunal Administrativo, naquilo CISTAC considera como
sendo a materialização do progresso em matéria de controlo dos actos

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administrativos praticados pelas autoridades provinciaise a restrição da
autonomia decisional destas autoridades;
 O Decreto de 23 de Maio de 1907, que trata da reorganização administrativa da
Província Ultramarina de Moçambique - descentraliza os poderes de grau para
grau e concenta autoridade em cada grau, o que teve reflexos no Conselho de
Província de Moçambique, ao alterar a sua composição e alargar as suas
competências;

 O Decreto nº 164, de 14 de Outubro de 1913, que reorganiza os Serviços do


Conselho de Província de Moçambique - torna o Conselho mais judicial e mais
profissional, fazendo-o ser composto por todos os juízes da Relação de
Moçambique, reforçando o respectivo corpo administrativo, introduzindo
gratificações aos juízes e vogais;

II. Direito processual administrativo contencioso de inspiração Moçambicana

Moçambique tornou-se independente no dia 25 de Junho de 1975, adquirindo o estatuto


jurídico de Estado soberano, guiado fundamentalmente pela Constituição da República
Popular de Moçambique, CRPM. Por força do artigo 20323 da CRPM, toda a legislação
colonial que não contrariasse aquele instrumento jurídico fundamental da nação
mantinha-se em vigor. Neste sentido, no âmbito do DPAC a RAU manteve-se
em vigor até à aprovação e entrada em vigor da Lei nº 9/2001, de 7 de Julho, Lei do
Processo Administrativo Contencioso, LPAC 2001, marcada fundamentalmente pelos
princípios do inquisitório, do contraditório, por um processo escrito e não formalista e
pelo processo influenciado pela existência de um justiciável público,
segundo Gilles CISTAC. De acordo com Gilles CISTAC, de 1975 a 1993, o Tribunal
Administrativo foi impossibilitado de julgar e desenvolver qualquer actividade
jurisdicional. Além disso, o diploma que regulamentava o contencioso administrativo
nessa altura a RAU não foi reeditado e não foi objecto de uma ampla divulgação
depois
da independência, o que prejudicou muito, por um lado, o seu conhecimento, e por outro
lado, o acesso à própria justiça administrativa.

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Embora, genericamente, a CRPM fizesse menção aos ideais da justiça, especialmente da
justiça dos tribunais, não fazia referência em nenhuma norma sua ao Tribunal
Administrativo. Esta situação durou até à entrada em vigor da seguinte Constituição da
República de Moçambique, de 1990, CRM de 1990, que constitucionalizou o tribunal
administrativo na Pátria Amada. Efectivamente, se por um lado a CRM de 1990
continha disposições que tratavam dos tribunais em geral, por outro continha os que se
ocupavam da justiça administrativa em especial. Fruto da previsão constitucional em
1990 do Tribunal Administrativo, em 1992 foi aprovada a lei nº 5/92, de 6 de Maio –
Lei Orgânica do Tribunal Administrativo, LOTA, com o objectivo de contribuir para a
materialização das normas constitucionais sobre esta jurisdição mas, na prática, o
Tribunal Administrativo só iniciou as suas actividades em 1994, usando como direito
adjectivo especial a RAU. Ou seja, embora tecnicamente a RAU estivesse em vigor,
materialmente este diploma estava hibernado, na parte relativa ao contencioso
administrativo, da independência até 1994, pois, não existia nenhum Tribunal
Administrativo para a sua aplicação. Ainda de acordo com CISTAC, «além do comando
legal que impunha uma reforma legal nesta matéria (artigo 46 da Lei nº 5/92 de 6 de
Maio), o direito colonial herdado não se adequava à nova realidade do País. A RAU
apresentava dificuldades na sua aplicação, designadamente, quanto à necessária
celeridade processual e à melhor protecção dos direitos subjectivos dos administrados».
Além disso, continua o autor, as profundas alterações às atribuições do Tribunal
Administrativo no contencioso administrativo, consagradas na lei nº 5/92, de 6 de Maio,
nomeadamente, a introdução de figuras e institutos jurídicos até então inexistentes no
quadro legal (por exemplo: os pedidos de suspensão da eficácia dos actos
administrativos, de intimação à autoridade administrativa para facultar a consulta de
documentos ou processos e passar certidões ou a particular ou a concessionário para
adoptar ou se abster de determinada conduta), implicavam uma imperiosa necessidade
de reformular o direito adjectivo, de modo a que o direito substantivo fosse melhor
agilizado ou servido». É neste contexto que se aprova e entra em vigor a LPAC de 2001.
Com a aprovação da Constituição de 2004, que trouxe algumas alterações na jurisdição
administrativa, houve necessidade de se aprovar a lei nº 24/2013, de 1 de Novembro,
concernente ao Melhoramento do Controlo da Legalidade dos Actos Administrativos,
bem como à Fiscalização da Legalidade das Receitas e Despesas Públicas», adiante
designada Lei do Tribunal Administrativo, LTA, a qual revogou a lei 25/2009, de 26 de
Setembro, que por sua vez revogara a lei nº 5/92, de 6 de Maio, ambas com idêntico

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objecto. Actualmente, o processo administrativo contencioso é regulado pela lei nº
7/2014, de 28 de Fevereiro, que regula os Procedimentos atinentes ao Processo
Administrativo Contencioso, adiante designado LPAC, consequência
das alterações havidas nas leis substantivas administrativas e jurisdicionais – LPA e
LTA, respectivamente.

5. Conclusão

Podemos concluir, que foram duas as fases da evolução histórica do direito


processual administrativo contencioso, sintetiza da forma seguinte: Direito
processual administrativo contencioso colonial ou de inspiração colonial (1832
2000) e Direito processual administrativo contencioso de inspiração Moçambicana.

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6. Referências Bibliograficas

Doutrina:

 AMARAL, Diogo Freitas do. Curso de Direito Administrativo, Volume II.


Coimbra. Almedina. 2008.
 CHAMBULE, Alfredo. As garantias dos Particulares, volume I. Imprensa
Universitária. Maputo, 2002.
 CISTAC, Gilles. Direito Processual Administrativo Contencioso. Teoria e
Pratica. Introdução. Volume I. Escolar Editora. Maputo. 2010.

Artigos:

SALIFU, ALBERTO. Estudos sobre Contencioso Administrativo e Constitucional


Moçambicano, Edição Executiva, Maio de 2017.

CISTAC, Gilles. História do Direito Processual Administrativo Contencioso


Moçambicano.

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Legislação:

 Constituição da República de Moçambique, revisão de 2018.


 Decreto 30/2001 de 15 de Outubro. Estabelece as Normas de Funcionamento
dos Serviços da Administração Pública.
 Lei nº 7/2014 de 28 de Fevereiro – regula os Procedimentos atinentes ao
Processo Administrativo Contencioso, e revoga a lei nº 9/2001, de 7 de Julho.
 A Lei 5/92 de 6 de Maio - Lei da Organização do Tribunal Administrativo
(revogada).

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