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FACULDADE DE LETRAS E CIÊNCIAS SOCIAIS

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

Licenciatura em História

Cadeira: Seminário de Pesquisa

Ano letivo de 2023 4° Ano I Semestre

Regime: laboral

Título do Projeto de Pesquisa: O processo de Reintegração Social das vítimas da


guerra civil na província de Maputo entre 1992-2020

Docentes:

Doutor Paulo Lopes José

Mestre José Cláudio Mandlate

Discente: José Ernesto Handela

Maputo, Junho de 2023


INDICE

1. INTRODUÇÃO..............................................................................................................1

1.1. OBJECTIVOS:........................................................................................................3

1.1.1. Objectivo Geral:............................................................................................3

1.1.2. Objectivos específicos:.................................................................................3

2. PROBLEMÁTICA...........................................................................................................4

2.1. PERGUNTA DE PARTIDA.......................................................................................4

3. REVISÃO DE LITERATURA............................................................................................4

4. METODOLOGIA...........................................................................................................6

5. CRONOLOGIA..............................................................................................................7

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................................8
1. INTRODUÇÃO
Esta pesquisa é uma analise do processo de Reitegracao Social das vitimas da guerra
civil mocambicana na provinvia de Maputo. Ela mostra-se de grande importancia porque
foge do padrao dos outros autores que focam os seus estudos no processo de
Reintegracao Social dos Ex-combatentes da guerra civil. Pensamos que, é de grande
importância falar do processo de reintegração das vitimas que sofreram traumas por
conta da guerra civil, porque tal como parte da literatura mostra, não foram apenas os
soldados que foram vitimas dos efeitos da guerra civil.

Com a independência de Moçambique em 1975, o país começou a construir um


novo estado. Entretanto, o novo regime enfrentava vários problemas sociais, dentre os
quais a situação económica, que se caracterizava por constante decadência devido ao
êxodo dos colonos. Esta situação veio a piorar com o início de um novo conflito num
espaço de apenas um ano. Desta vez não se tratava de uma luta pela independência, ou
seja, entre colonizadores e colonizados, mas sim uma luta entre o novo Governo da
FRELIMO e a RENAMO cujas as causas continuam a ser matérias de debate. Assim,
alguns autores associam as causas à natureza da governação do novo regime, ao passo
que, para outros é a questão da agressão externa. No entanto, o certo é que Moçambique
voltou a viver uma nova guerra num espaço relativamente curto (Egero, 1992: 10-34).

A guerra civil moçambicana durou 16 anos (1976-1992), envolvendo o exército


governante da FRELIMO e os rebeldes do movimento da RENAMO, ambos os lados
cometeram crimes graves contra civis que viviam nas zonas de guerra, entre os quais,
perseguição social, violação de mulheres e destruição de comunidades. Igreja (2010),
descreve como sintomas no pós-guerra: dores de estômago, dores de costas, perda de
apetite, dificuldade em respirar, dores de cabeça, pesadelos relacionados com a guerra,
alguns dos quais envolvendo violência sexual. Segundo Meireles (2011: 42), No que diz
respeito ao género, no caso das mulheres, a possessão por espíritos nocivos relaciona-se
com a experiência de situações traumáticas através de pesadelos relacionados com a
guerra, que envolvem pesadelos com agressões sexuais, sintomatologia coincidente com
a PPST (Perturbações pós-Stress traumático). O impacto global destes factos reflecte-se
nos transtornos mentais, na diminuição da capacidade de estabelecer relações com

1
homens, cuidar de si, cuidar do outro e criação de um círculo de morbilidade onde os
bebés nascem e morrem sequencialmente.

No caso das crianças, eram forçadas muitas vezes a trabalhar para e como
soldados, o panorama é agravado pelo facto de que, quando uma criança é exposta a
violência num ataque, quando alguém é submetido a agressões e ferimentos terríveis,
essa violência se atém a elas. É como se o soldado levasse as almas daqueles que matou
de volta à sua vida normal, mas neste caso, a alma traz a violência (Nordstrom, 1997).

Acerca do processo de reintegração social das pessoas que sofreram algum


trauma por conta da guerra, Nordstrom (1997) fala de como os deslocados e pessoas
afectadas pela guerra eram recebidos nas comunidades e submetidos a rituais de cura. A
autora ressalta que eram muitas as cerimónias que tinham como população-alvo aquelas
pessoas que foram afectadas física e psicologicamente pela guerra e violência. A maior
parte destas cerimónias envolviam rituais de limpeza físicos e emocionais e diversas
práticas para a reintegração da pessoa na comunidade e numa vida saudável. Nordstrom,
refere ainda que, haveria casos onde indivíduos que foram sujeitos a actos extremos de
violência apresentam severas dificuldades na sua reintegração, uma vez que o conceito
de viver o dia-a-dia e reconstruir uma vida saudável passível de ser vivida, estava agora
alterado.

Pretendo com este trabalho analisar o processo de reintegração social das pessoas
que sofreram algum trauma por conta da guerra civil moçambicana na província de
Maputo. Pois, apesar de não ter sido uma das províncias mais afectadas, Maputo como
outras províncias do país com maior destaque para zona centro e norte foram afectadas
pelas brutalidades da guerra. As vítimas da guerra civil moçambicana são todos aqueles
indivíduos que sofreram algum trauma, doença ou deficiência por conta da guerra.

A escolha de 1992-2020 como balizas cronológicas do nosso estudo justifica-se


pelo facto de 1992, ter sido o ano em que se assinou o Acordo Geral de Paz que pôs fim
ao conflito armando que deixou para trás muitos rastos.
Enquanto a escolha de 2020 como limite deve-se pelo facto de ser neste ano em que
terminaremos a nossa avalição a nível de reintegração das pessoas que sofreram traumas

2
por conta da guerra civil na província de Maputo, passados exactamente 28 anos, do fim
desse conflito.

Após 16 anos de conflito, o governo FRELIMO e a RENAMO decidiram Cessar


fogo, assinando o acordo geral de paz no dia 04 de Outubro de 1992, em Roma. Este
acordo, estabelecia entre vários pontos a desmobilização e desarmamento das ambas
partes; condução das eleições presidenciais e legislativas; criação de novas forças
armadas de defesa de Moçambique e as providências para a ajuda humanitária.1

O Acordo Geral de Paz foi um instrumento político que determinou o curso dos
acontecimentos em Moçambique nos anos seguintes até pelo menos 1994. Para além do
Cessar-fogo que era quase o principal ponto do acordo, outras resoluções também foram
acordadas que seriam implementadas de 1992 até 1994, ano em que seriam realizadas as
eleições no país (Nilsson, 1994). O Acordo Geral de Paz também previa a
implementação dos programas de reintegração que teriam início logo após a assinatura
do acordo. De um modo geral, a reintegração social era direcionada a todos os
indivíduos considerados como pertencentes a grupos vulneráveis ou que estiveram fora
dos padrões socialmente aceitáveis por alguma razão e por tempo determinado
(Chiparanga, 2012: 10).

1.1. OBJECTIVOS:
1.1.1. Objectivo Geral:
 Analise do processo de Reintegração Social das vítimas da guerra civil na província
de Maputo entre 1992-2020.

1.1.2. Objectivos específicos:


 Indentificar os efeitos da guerra civil no seio da sociedade da provincia Maputo;

 Explicar o processo de reintegração social das vítimas que sofreram traumas por conta
da guerra civil na província de Maputo entre 1992-2020;

1
Ver Boletim da República "Acordo Geral de Paz" I Série, N°42, 14 de Outubro de 1992: 2. O
Acordo Geral de Paz (AGP) integrava os seguintes documentos: Protocolo I (Sobre os princípios
fundamentais); Protocolo II (Dos critérios e modalidades para a formação e reconhecimento de
partidos políticos); Protocolo III (Dos princípios da lei eleitoral); Protocolo IV (Das questões
militares); Protocolo V (Do cessar fogo) e o Protocolo VI (Conferência de Doadores).

3
 Identificar as ações da sociedade e do Estado no processo de reintegração social das
vitimas que sofreram traumas por conta da guerra civil na província de Maputo entre
1992-2020.

2. PROBLEMÁTICA
A guerra civil moçambicana envolvendo o exército governante da FRELIMO o
movimento da RENAMO, ambos os lados cometeram crimes graves contra civis que
viviam nas zonas de guerra, entre os quais, perseguição social, violação de mulheres e
destruição de comunidades. Causando assim vários traumas no sei da sociedade que
vivia os efeitos do conflito.

A província de Maputo assim como outras províncias do país foi afetada por esse
conflito. Várias pessoas foram vítimas desse conflito que dentre várias consequências,
deixou para trás um grande número de cidadãos que fora dos padrões socialmente
aceites.

2.1. PERGUNTA DE PARTIDA


Até que ponto as vítimas que sofreram algum trauma por conta da guerra civil
moçambicana na província de Maputo foram socialmente reintegrados?

3. REVISÃO DE LITERATURA
Para a realização do presente trabalho, foram consultados diversos materiais que
versam sobre o tema com destaque a do Coelho (2002) e de Chiparanga (2012) que
versam sobre o Reintegração social. Na sua obra, Coelho fala do processo de
reintegração social dos desmobilizados de Maputo, onde diz que, os programas de
reintegração começaram a ser implementados quando a desmobilização ainda ocorria
nos centros de acantonamento. Os combatentes a desmobilizar beneficiavam de vários
programas de apoio que tinham como objectivo prepará-los para a vida civil.

Por sua vez, Chiparanga fala da reintegração social das mulheres ex-militares no
distrito de Ka-tembe, onde argumenta que a reintegração social era direcionada a todos
os indivíduos considerados como pertencentes a grupos vulneráveis ou que estiveram
fora dos padrões socialmente aceitáveis.

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Segundo Chiparanga (2012: 23-29) embora as desmobilizadas da Katembe
reclamem da falta de atenção por parte do Estado, notou no terreno um esforço de Auto-
reintegração. Cada vez mais as ex-combatentes se preocupam não em “bater portas” ou
em preencher formulários para se candidatarem a algum tipo de apoio, mas com a luta
diária pela melhoria da sua vida. As dificuldades enfrentadas por elas, principalmente a
falta dum emprego assalariado são as mesmas dificuldades enfrentadas pela comunidade
daquela localidade. A autora acrescenta que as desmobilizadas que se fixaram na Ka-
Tembe estão em pé de igualdade com os seus vizinhos, embora existam algumas
diferenças, estas têm a sua origem no facto das desmobilizadas terem “chegado tarde na
localidade”.

Outro autor que versa sobre a temática é Neves (2012: 15-17) que analisa o
processo de reintegração social dos desmobilizados de guerra civil, submetidos a rituais
de limpeza e purificação. O autor verificou que o processo de reintegração social dos
desmobilizados de guerra civil, submetidos a rituais de purificação, efectua-se de acordo
com aprendizagem dos valores culturais que marcam o dia-a-dia.

O retorno a normalidade é fruto de um esforço colectivo porque o governo através de


algumas instituições apoia aos desmobilizados com pensão de reforma a estas pessoas,
por outro lado o governo delega as associações com vista a zelar os interesses dos
desmobilizados (Neves, 2012).

Eliseu (2015: 2) fala da reintegração social das crianças que foram usadas como
soldados durante a guerra civil moçambicana. Segundo Eliseu, nas culturas tradicionais,
normalmente nas africanas e em concreto no caso de Moçambique, os rituais praticados
pelos Tinyanga , deram também um forte contributo na reintegração social das vitimas
da guerra civil moçambicana.

A guerra civil em Moçambique teve uma duração tão prolongada que muitas crianças
passaram a adultos sem nunca terem conhecido a paz. Esse factor atribuiu para maior
responsabilidade dos promotores dos programas de reabilitação social, chamando para a
necessidade de incluir nos mesmos jovens adultos e adultos em si. (Eliseu, 2015: 40-42).

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4. METODOLOGIA
Para a realização do trabalho, irei consultar vários documentos e obras disponíveis sobre
o assunto nas diversas bibliotecas, nos sites da internet (como por exemplo Google
académico) e em varias instituições do país. Também, irei usar o método qualitativo,
sendo que qualquer dado quantitativo que possa surgir ao longo do trabalho, serve
apenas de suporte explicativo. Para a análise, irei usar o método qualitativo, sendo o
mais adequado para aprofundar a complexidade de fenómenos, factores e processos
particulares e especificidades de grupos mais ou menos delimitados em extensão e
capazes de serem abrangidos intensamente.

Entrevistas:

Para Gill (1987), a entrevista guia-se por uma relação de pontos de interesses que o
entrevistador vai explicando ao longo do seu curso. O entrevistador faz poucas perguntas
directas e deixa o entrevistado falar livremente a medida que se refere aos pontos
assinalados. Por sua vez Minayo (2008), considera que as entrevistas podem ser
consideradas conversas com finalidade e se caracterizam pela sua forma de organização.

Para este trabalho, irei efectuar varias entrevistas tendo como publico alvo as pessoas
que tem ou tiveram familiares, amigos, vizinhos ou conhecidos que adquiram algum
trauma por conta da guerra civil moçambicana. Procurarei com base nas entrevistas
perceber como é que essas pessoas voltaram ao convívio social se é que voltaram.

Alem das entrevistas, irei consultar os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) e
o Ministério da Saúde (MISAU) para obter mais dados acerca das pessoas que foram
afectadas pela guerra civil moçambicana.

5. CRONOLOGIA
Ano Acontecimento

1976 Inicio do conflito armado que durou 16 anos, envolvendo o exercito governante
da FRELIMO e o movimento da RENAMO;

1985 Surge a primeira resposta oficial governamental à criança vitima da guerra civil
(Cabral, 2005: 141)

6
1988 Surge o projecto–piloto “Iniciativa Lhanguene”, cujo nome deriva do primeiro
centro no país exclusivamente vocacionado para o acolhimento e assistência de
crianças-soldado. (Cabral, 2005: 141)

1989 Lançou-se um programa de localização e reunificação familiar (PLRF) e um


manual de formação para um programa de tratamento e reunificação familiar
(com objectivo de reunificar as crianças vitimas da guerra com a sua família).
(Cabral, 2005: 141)

1992  Nesse ano, o país teve um grande numero de reintegrações das crianças
que estiveram afastadas das suas famílias por conta da guerra. (Cabral,
2005: 142)

 Assinatura do Acordo Geral de Paz que entre vários pontos, previa a


implementação dos programas de reintegração que teriam início logo
após a assinatura do acordo. De um modo geral, a reintegração social era
direcionada a todos os indivíduos considerados como pertencentes a
grupos vulneráveis ou que estiveram fora dos padrões socialmente
aceitáveis por alguma razão e por tempo determinado. (Chiparanga,
2012: 10).

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABRAHAMSON, H. NILSSON, A. (1994). Moçambique em transição: um estudo da
historia do desenvolvimento durante o período 1974-1992. Gotemburgo/Maputo:
CEEI-ISRI.

7
CABRAL, Ilundi (2005/2006), “Digerir o passado: rituais de purificação e
reintegração social de crianças-soldado no sul de Moçambique”, Antropologia
Portuguesa”, 22/23, p.133-156.

COELHO, João Paulo Borges (2002). Antigos soldados, novos cidadãos: a


reintegração das desmobilizadas de Maputo, In: estudos moçambicanos, pp. 141-236

CHIPARANGA, Sargem (2012). “Reintegração social das Mulheres Ex-Militares no


distrito municipal Ka-Tembe (1992-2012)”. Maputo: UEM.

EGERO, Bertil (1992). “Moçambique: os dez anos de construção da democracia”.


Maputo: AHM.

IGREJA, Victor (2010), “The epidemiology of spirit possession in the aftermath of


mass political violence in Mozambique”, Social Science & Medicine, 71 (2010), pp.
592-599.

NEVES, Agostinho Manuel (2012). “Um olhar sobre o processo de Reintegração


Social dos Desmobilizados de Guerra Civil submetidos a rituais de purificação”.
Maputo: UEM

NORDSTROM, Carolyn (1997), A different kind of war story, Philadelphia,


University of Pennsylvania Press.

MEIRELES, Luísa (2011), “A vivencia de doença mental e a influencia da medicina


tradicional: O caso Moçambique”, ISCTE, IUL. pp. 44-48

MINAYO, Maria Cecília de Souza (2008). “O desafio do conhecimento”. 11 ed. São


Paulo: Hucitec.

Gil, António, (1987). “Métodos e Técnicas de Pesquisa Social”. São Paulo: Atlas S.A.

ELISEU, Paulo Jorge Dinis (2019). Crianças-Soldado: A Reintegração Social - O


Problema no Caso de Moçambique. Minas Gerais: UMinho

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