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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

Linchamento no distrito de Morrumbala

Nome do Estudante: Lúcio Inverno Eugénio Código: 708221916

Curso: Licenciatura em Ensino portuguesa


Disciplina: MIC1
Ano: 1°.

Quelimane, agosto, 2022


Universidade Católica de Moçambique
Instituto de Educação à Distância
Indice
CAPÍTULO I............................................................................................................................ 4
1 Introdução.............................................................................................................................. 4
1.1 Justificativa......................................................................................................................... 4
1.1.1 Objetivos.......................................................................................................................... 5
1.1.2 Objetivo geral:.................................................................................................................. 5
1.1.3 Objetivos específicos:........................................................................................................ 5
1.2 Definição do problema.......................................................................................................... 5
1.2.1 Perguntas especificas de cada objetivo especifico..................................................................5
1.2.2 Delimitação da pesquisa.....................................................................................................6
CAPÍTULO II: Revisão da literatura............................................................................................6
2.1 Oque era linchamento ?........................................................................................................6
2.1.1 Linchamento e a natureza humana no contexto bélico............................................................6
2.1.2 Pensamento de Hobbes.......................................................................................................8
2.1.3 Linchamento nos dias actuais..............................................................................................9
2.1.4 Em Moçambique ( Morrumbala).......................................................................................11
2.1.5 Justificações, albergando o fracasso da lei..........................................................................12
CAPÍTULO III........................................................................................................................ 13
3.1. Métodologia..................................................................................................................... 13
3.1.1 Introdução...................................................................................................................... 13
3.1.2 Desenho da pesquisa........................................................................................................13
3.1.3 População em estudo e processo de amostra.......................................................................13
3.2.4 Processo de coleta de dados..............................................................................................14
3.2.5 Primários........................................................................................................................ 14
3.2.6 Secundários.................................................................................................................... 14
CAPITULO IV........................................................................................................................ 15
4.1 Conclusão......................................................................................................................... 15
4.1.2 Referências bibliográficas.................................................................................................16
4.1.3 Anêxos........................................................................................................................... 17
CAPÍTULO I
1 Introdução
O tema proposto neste trabalho é de extrema importância, por não ser considerado um tema
de natureza descomunal mas comumentemente de caráter social. Tratando de um parecer
sociológico acerca da crescente onda de violência, falhas na segurança pública, sensação de
impunidade que culminam com o problema do linchamento, podendo assim ultrapassar a
análise jurídica formal.
Este fenômeno é muito frequente acompanhado na mídia e no meio social, porém pouco
discutido, tornou-se mais um problema social a ser discutido, e que as instituições de
segurança pública tem falhado constantemente em evitar, porque de certo modo, os
linchamentos ocorrem porque a polícia é omissa ou, até mesmo, conivente. E são, por isso,
expressão de uma orientação política que favorece a prática da justiça extralegal.
O objetivo geral deste ensaio expositivo argumativo é compreender como o linchamento vem
se apresentando na sociedade moçambicana e como é aplicado contra indivíduos criminosos,
além de intender o crescimento de casos de linchamento em Moçambique
Os objetivos específicos deste trabalho é de indicar factores que desencadeam este tipo de
fenomeno; Definir o linchamento; Explicar as falhas em nosso sistema de segurança pública;
Além de apresentar pontos de vistas bibliográficos.
este trabalho monumental traz clareza sem precedentes à nossa compreensão do linchamento
e de suas vítimas.

1.1 Justificativa
Frequentemente tem acontecido casos de linchamentos em que pessoas praticam justiça com
as próprias mãos, comportamentos que têm causado medo e insegurança na população e
dividido opiniões. este trabalho monumental traz clareza sem precedentes à nossa
compreensão do linchamento e de suas vítimas, que as vezes não possuem culpa alguma.
Porque nem sempre a sociedade acerta nas suas suspeitas, e lincham inocentes só porque
esteve no lugar errado na hora errada e cai nas mão da sociedade, essa sociedade com sede de
justiça.
Trabalho este de extrema relevância, pois dá uma visão geral da justiça privada, e como a
sociedade criminosa pratica o crime sem impunidade ?, e sem mínimo senso de
responsabilidade e justiça ?

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Se as pessoas começarem a capturar suspeitos de cometer crimes na rua e aplicarem castigos a
essas pessoas vamos voltar a ter entre nós o caos da época do início da humanidade, O
linchamento promovido pelos justiceiros é uma forma de punição coletiva de alguém que eles
acreditam ser culpado por um crime, eles julgam de acordo com a própria razão deles e
aplicam a punição que acham melhor sem seguir princípios, direitos e muito menos leis.
A incompetência do Estado com o dever de garantir a segurança pública, tem trazido graves
consequências em Moçambique, a violência urbana tem causado milhares de mortes, mais
mortes do que muitas guerras violentas do passado, um problema alarmante que todos os dias
estampam as capas dos principais jornais. Neste caso, é necessário perceber que algo está
faltando.
Neste contexto está pesquisa vem trazer pontos de vista que clarificam o linchamento como
um acto bárbaro e que a sociedade deveria se abster, já que uma boa parte das vítimas são
inocentes.

1.1.1 Objetivos

1.1.2 Objetivo geral:


● Descrever o panorama de linchamento em Moçambique caso distrito de Morrumbala.

1.1.3 Objetivos específicos:


● Indicar factores que desencadeam este tipo de fenomeno;
● Explicar as falhas em nosso sistema de segurança pública;
● Apresentar pontos de vista bibliográficos.

1.2 Definição do problema


O uso da justiça privada, o dito linchamento, é umas das questões que apoquentam a
comunidade de morrumbala ou seja é uma situação com evidências mais claras de insatisfação
popular perante a lei que os rege, insatisfação está concentrada no distrito de Morrumbala.
Contribuindo assim pra a queda da confiança policial.
Entretanto, nesta necessidade de acompanhar a sociedade e o seu senso de justiça própria:
qual é o impacto social que a comunidade desencadea com o Linchamento?

1.2.1 Perguntas especificas de cada objetivo especifico


1. Porquê a população opta pela justiça privada ?
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2. Porquê o nosso sistema de segurança é tão falido ?
3. Quais são os factores da desordem pública que culminam com linchamento ?
4. Qual ação da policia nesse quesito ?

1.2.2 Delimitação da pesquisa


Segundo Marconi e Lakatos (2003) "delimitação de uma pesquisa, é o acto de colocar limites
a acção científica, podendo ser limitada em relação ao assunto, a extensão e outros factores"
(p.162). Pois servem de guia com finalidade de impedir a complexidade da pesquisa. Neste
caso, a pesquisa tem como objetivo de estudo analisar o crime popular no distrito de
Morrumbala.

CAPÍTULO II: Revisão da literatura


2.1 Oque era linchamento ?
Há várias referências que nos permitem fazer recuar essa familiaridade e imaginário a tempos
bélicos, época da escravatura, à ocupação colonial efectiva do território, quer se trate de
formas de execução pública de criminoso, castigo físico público não desapareceu com o fim
do colonialismo. escravos eram açoitados em lugares públicos, circulavan pelas ruas com
máscaras de metal flexível geralmente com três buracos (dois para os olhos e um para o
nariz), fechada atrás da cabeça por um cadeado - correntes e pegas no pescoço. Esses são
apenas alguns exemplos das punições que eram aplicadas nos escravizados. Os registros
mostram a crueldade e a naturalização dos castigos, prática adotada durante todo o período de
escravidão e que fazia parte do quotidiano da escravidão em Moçambique e no Mundo.

Também, ainda de acordo com Serra (2012), em tempos coloniais, o castigo corporal
era uma punição habitual, decretada por autoridades administrativas coloniais, por
régulos ou mesmo por patrões sobre os seus empregados. Acredita-se que estas marcas
estejam ainda bem presentes nos moçambicanos, tanto o chicoteamento com chamboco,
quanto as palmatoadas. Entretanto, como afirma Serra (2015), em ambos os casos,
estas agressões eram predominantemente públicas, para que constituíssem não apenas
punições, mas também formas de intimidação da restante população criminal. Ainda
continuamos a crer, como também corrobora Serra (2015, p. 104), que "o castigo
físico público não desapareceu com o fim do colonialismo".

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2.1.1 Linchamento e a natureza humana no contexto bélico
Segundo Serra (2015):
Em certa medida, então, podemos dizer que o linchamento constitui uma extensão das
vertentes agradáveis da experiência traumática de guerra, mas com duas importantes
diferenças, para além do facto de não ocorrer num contexto bélico. Por um lado, a
consciência daquilo que está em causa nesta situação de excepção em tempo de paz
parece ser bem mais imediata para os que nela participam do que habitualmente é para
os membrôs de uma força beligerante. Por outro lado, o poder manipulado no
linchamento não é apenas o de matar, mas também - pelo menos enquanto desejo e
representação - o poder de instaurar a ordem e o domínio sobre a própria existência (p.
101)

Sendo assim para podermos ter compreenção de um acto e fenómeno tão cabeludo como
linchamento, sejamos obrigados a pausar por um momento algumas das nossas inocentes
crenças bem intencionadas acerca da "natureza humana". Uma delas é a ideia de que matar
outro ser humano constitui, "naturalmente" e em todas as condições, um acto que causa
repugnância a quem o pratica a menos que quem mata seja um doente mental ou mesmo
doente mental

Esta crença é tão forte que, universalmente após a guerra, a noção de Stress Pós-traumático de
Guerra passou a adoptar, em grande medida, uma lógica de vitimação do agressor. o veterano
sofre e está socialmente inadaptado devido ao trauma resultante do facto de se ter visto na
necessidade de matar, ou mesmo de participar em matanças reprováveis. As entrevistas feitas
pela euronews com ex-soldados, veteranos de Guerra, mostram evidências diversa. É verdade
que eles sofrem dificuldades de adaptação à "vida normal", mas bem longe disso, não é dos
pesadelos, do medo de morrer ou da repugnância moral de matar que falam quando
mencionam o choque do regresso (embora seje parcialmente verdade), eles falam da
insignificância da sociedade, insignificância da "vida normal". O soldado enquanto civil sai
de um lugar de paz e sossego, pra um lugar lamentavelmente diverso, lugar este onde
experimenta coisas novas e tem poder de vida e morte sobre outros seres humanos,
regressando pra sua origem onde é esperado que continue a se submeter a qualquer pequeno
patrão, polícia ou qualquer autoridade local. Essas figuras de autoridade que, antes, se tinha
habituado a respeitar parecem-lhe agora insignificantes, pois não viveram as suas experiências
em horizontes bem mais vastos, nem o seu poder de infringir os mais graves interditos sociais

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(como matar), sendo louvado por isso e podendo decidir quando o fazer. As relações de
submissão que antes pareciam praxi, agora parecem absurdas. Por causa da guerra e de todo
enredo bélico, o natural agora é absurdo. Sem opção o homem veterano soldado torna-se
aquilo que agente chama anti-social. Não se pode esperar que ele volte a ser o mesmo civil.
Está sensação de ser alguém dominante e poderoso, e depois passar a alguém rastejante
submisso, é realmente desumano. Evidenciou-se que todo individuo que experimentou em
algum momento de vida poder bélico e sob vidas humanas, sente "prazer" nesse poder mesmo
que no próprio acto de matar não o sinta. Serra, (2015﴿ salienta:
que o linchamento não é uma situação de guerra, . Mas ambos os casos são situações
de princípio e de excepção, pois o acto de matar, em vez de ser reprovado como na
íntegra, é incitado, valorizado e aplaudido pelo grupo, povo, comunidade que naquele
contexto, assim tem que ser. camaradas de armas os superiores, ou a comunidade
envolvida, assim asseguram proteção (p. 100).

A similaridade nos dois contextos, bélico, como um mal necessário, feito a contragosto, mas
necessário. Enquanto que no linchamento há aplausos e festança, vivido de forma positiva.
Olhemos bem pra esses dois contextos, tem muito a nós dizer.

2.1.2 Pensamento de Hobbes


O comportamento dos linchadores reflete o estado de natureza defendido por Hobbes (1983)
"o homem é o lobo do homem"(p.96). Esta afirmação apresenta a transfiguração do homem
como um animal selvagem, consiste em uma metáfora que indica que o homem é capaz de
grandes atrocidades e barbaridades contra elementos da sua própria espécie. É possível
concluir que o Homem tem um grande potencial para o bem mas também para o mal,
especificamente quando procura apenas os seus próprios interesses, não se importando com o
seu próximo. Muitas vezes, essa atitude de lobo é revelada através da frase "os fins justificam
os meios". Neste contexto Hobbes (2006), argumenta que a paz civil e união social só podem
ser alcançadas quando é estabelecido um contrato social com um poder centralizado que tem
autoridade absoluta para proteger a sociedade, criando paz e uma comunidade civilizada; quer
dizer que, se não existir um Estado que imponha leis, o ser humano se torna o maior inimigo
de si mesmo e vive numa “guerra de todos contra todos
como tendência geral de todos os homens, um perpétuo e irrequieto desejo de poder e mais
poder, que cessa apenas com a morte”. O motivo pelo qual o homem deseja mais poder é
garantir sua sobrevivência no estado de natureza. Como ele não tem qualquer garantia de que

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não será atacado por outra pessoa mais forte e ter sua comida, mulher, filhos roubados, é
racional se tornar o mais forte possível para poder defender suas propriedades e pessoas que
ama. O que o faz desejar mais poder não é uma natureza inata, mas a lógica da anarquia que
prevalece no estado de natureza.
Entretanto, nesse caso de linchamento, é apenas um pretexto pra suas barbaridades, com
justificativas bem fundamentadas, começam a praticar atos de violência ilegítimos se
justificando de que o criminoso tenha sua devida punição, "que se o Estado não lída
devidamente com os fora lei, nós faremos pelo Estado e por nós"

2.1.3 Linchamento nos dias actuais


Segundo Neto, (1991) a segurança pública é o conjunto de processos políticos e jurídicos
destinados a garantir a ordem pública na convivência de homens em sociedade. dever do
estado e direito de todos a segurança pública, para isso o Estado criou alguns órgãos no intuito
de garantir que seu dever fosse cumprido com êxito, são eles agentes da lei e ordem: Polícias,
e outros do gênero. Esses órgãos cada um com sua competência, agem para garantir a ordem
pública.
Infelizmente o Estado não está conseguindo cumprir seu dever de manter a ordem pública e
garantir segurança a toda sociedade, ultimamente o que se percebe é um descontrole por parte
do Estado em controlar a violência e a corrupção dentro dos órgãos criados para controlar os
problemas de segurança pública.
A administração pública, vem há décadas negligenciando a reforma do setor da justiça
e a crise no sistema prisional. As ações realizadas têm sido basicamente reativas,
inadequadas e lentas. Apesar de existir tantos órgãos de segurança pública no país e
tantos profissionais trabalhando em função disso, o que se percebe é que o Estado não
consegue e não se esforça para erradicar os dados alarmantes da violência que só
cresce. (Lima e Paula, 2006, p.26)

Então essa é a origem do linchamento actual, resposta do povo, na ineficácia do estado em


manter a segurança e a ordem. linchamentos são também uma "reivindicação de poder por
parte de uma população que não se quer substituir ao Estado mas se sente irrelevante e
abandonada por ele" (Serra 2015, p. 14).
Todas as vezes que a sociedade se vê diante da impunidade de tantos criminosos, que
barbarizam a sociedade com crimes graves contra inocentes e não são punidos
adequadamente, é tomada pelo sentimento de descrença e revolta com a impunidade. Muitos
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reagem se escondendo em casa com medo de sair e ser mais uma vítima da violência, outros
no entanto acham que devem lutar contra a criminalidade e fazer
justiça com as próprias mãos; por outra, trata-se de um crime para combater outro crime, o
qual não fora efetivamente combatido pela força policial.
Sendo assim o Linchamento ou linchagem é o assassinato de uma ou mais pessoas cometido
por uma multidão com o objetivo de punir um suposto transgressor ou para intimidar,
controlar ou manipular um setor específico da população. Como visto acima, a grande
similaridade com o período colonial, época da escravidão; o fenômeno está relacionado a
outros meios de controle social, mas tem a característica de se tornar um tipo de espetáculo
público.
a incapacidade estatal em reconhecer esses actos censuráveis, a expectativa da população peri-
urbana de que seja tida em conta por parte do Estado apenas poderá reforçar a ideia, por parte
dessa população, de que é de facto considerada irrelevante e de que está realmente
abandonada.
Serra (2015﴿:
O efeito de naturalização criado pela sua prática anterior, ou mesmo algum
mimetismo na afirmação da autoridade, terão pesado mais do que o
equacionamento abstrato da dignidade humana e, na fase revolucionária pós-
independência, a estética das mortes e castigos corporais públicos parece, pelo
contrário, ter-se tornado ainda mais espetacular e ritualizada (p. 104).

Linchamento não é realmente um homicídio, não é consensual a suspensão da vida normal,


como qualquer ritual não é rotineiro e é de performance excepcional de carácter
comunicativo. Linchamento é uma forma do povo dizer pro governo, que "estamos cansados a
forma de como a lei lída com certos fenômenos sociais hediondos".
Ora, quando a noite chega, chegam também os tormentos e inquietações: os meliantes,
que muitas das vezes chegam em grupos a bater à porta das casas; roubos e violações.
Os moradores queixam-se a Polícia, os ladrões são pouco tempo depois soltos ou não
são presos (Serra, 2012, p. 139).

manifestação de desordem pública, pelo contrário, é uma forma de questionamento do poder


do Estado e das instituições sobre a desordem já instalada, Por outro lado, trata-se de uma
tentativa de restruturação e restabelecimento da coesão e relações de vida em sociedade. A
morte do linchado, segundo algumas concepções é a purificação, a libertação dos males

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acumulados, da poluição social, como era no suplício do corpo dos condenados. Entretanto o
linchamento existe quando o Estado é fraco. Pode surgir nestas circunstâncias como uma
espécie de privatização da justiça, onde as pessoas se sentem intranquilas e indignadas. As
pessoas muitas vezes não confiam na polícia e acabam por fazer justiça com as próprias mãos.
Os linchamentos ocorrem por que a sensação de impunidade além de “demonstrar” a
aplicação da lei, traz a tona o pensamento dos linchadores de que a justiça não os alcançará,
ou caso alcance, irá toma-los de forma mais branda. É portanto uma indignação, uma punição,
uma justificação e é a busca de um bode expiatório também.

2.1.4 Em Moçambique ( Morrumbala)


Especificamente há em Morrumbala, linchamentos de diferentes natureza, designadamente o
físico, que ocorre por acusação da vítima por roubo ou violação sexual, onde são linchados
cidadãos do sexo masculino; o que resulta de acusação de feitiçaria e/ou rituais de bruxaria,
chupa-sangue e disseminação da cólera, que envolve, cidadãos do sexo feminino e entidades
públicas; o psico-moral, que decorre do segundo tipo, em que a vítima não é fisicamente
morta, mas fica marcada como feiticeira e sofre, designadamente morte social.
O fenómeno chupa-sangue e onda de cólera uma das principais casas de linchamento, O
chupa-sangue, como refere Serra (2003), "pode ter nascida entre 1974 e 1975, na Província da
Zambézia, Moçambique ,numa época pós-colonial, em que grupos dinamizadores se
formavam para fazer face aos problemas de saúde"(p. 51). Nesta altura, nasce o boato de que
aqueles grupos iriam chupar sangue às pessoas, mas que na verdade eram campanhas de
vacinação e doação de sangue. Porém, como afirma o autor, é em 1978 à 1979 que a crença se
vai desenvolver plenamente nas comunidades rurais da Zambézia, numa altura em que o
governo no poder procurava criar um Homem Novo, em que as tais campanhas de vacinação
e de doação de sangue tiveram sua efetivação.
Acreditava-se que, à noite, pessoas estranhas entravam nas residências, e enquanto os
proprietários dormiam era-lhes chupado o sangue com seringas, pela cabeça. Nessa altura,
várias famílias passaram noites em claro gritando e batendo palmas, agitando panelas e outros
objetos para afugentar os supostos sugadores de sangue. Segundo a crença, o sangue era
destinado ao fabrico de uma nova moeda, à consolidação da Independência nacional e ao
abastecimento de hospitais (Serra, 2003). A crença da cólera surge em 1998, quando o
governo foi acusado de introduzir a epidemia através do cloro, usado para tratamento de água,
que segundo os populares, o governo usava-o com o objetivo de matar o povo. Esta crença, à
semelhança do chupa sangue, tem provocado insegurança social, levantando confrontos tanto
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com a polícia, como com as autoridades de saúde; um exemplo claro foi 2001 à 2002 onde
agentes do governo e de organizações da saúde com o objetivo de desdisssminar este
fenômeno de cólera foram alvos da ira popular, onde casas foram queimadas, houve várias
agressões e, pelo menos um morto (Serra 2003).
Consequentemente esses dois fenômenos a cólera e chupa-sangue, pelo jeito como o povo
responde podemos intender como indicadores da "falta de confiança nas instituições públicas
principalmente no governo, que se pode traduzir num sentimento de insegurança; sendo
assim, pode-se dizer que há duas motivações principais para o ato de linchar: o medo e a
mentalidade conservadora" (Martins, 2015 p. 115). Nos bairros populares das grandes
cidades, a principal motivação é o medo de ser vítima: de roubo, de estupro, de assassinato, de
outros caso hediondos.

Apesar das leis Moçambicanas e universais garantirem vários direitos ao acusado, desde a
investigação de sua participação no delito até a execução de sua pena, os justiceiros
continuam ignorando todos esses direitos fundamentais. Eles amarram, espancam, agridem e
quase sempre levam a pessoa à morte, fazem isso em público para humilhar ainda mais a
pessoa. O modo de agir nos linchamentos causa medo e terror, pessoas de bem cometendo
atrocidades por se sentirem inseguras com o fato do Estado não conseguir conter a
criminalidade e manter a segurança da população, injustificavel.

2.1.5 Justificações, albergando o fracasso da lei


Neste quesito porquê a polícia, agentes da lei não lídam de maneira esperada com casos de
linchamento em Morrumbala ?; porquê, porquê não intercedem a favor do linchado? porquê
permanecem com constância quietos e mornos, quase indiferentes ?
Só Serra poderá nos responder de forma adequada: falar de linchamento é falar de multidões.
Com isso é difícil a polícia tratar de uma multidão como criminosa. não se pode punir uma
comunidade, até mesmo porque as cadeias não têm condições para albergar um bairro ou uma
parte dele. A sociedade não pode delinquir, a responsabilidade é individual (Serra 2015).

Acrescentar que a detenção emocional de presumíveis linchadores pode resultar em revolta


popular contra a Polícia e aumentar os índices de fúria e descambar em desordem
generalizada da população contra a Polícia ou contra instituições; provocaria uma desordem
social incalculável, até mesmo há casos que agentes da polícia tentam encobrir o próprio
linchado, e eles próprios acabam sendo vítimas da massa; trata-se de multidão, quando a
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multidão está envenenada com o seu próprio senso de justiça e neste senso há uma certa
unanimidade, forças da lei tornam-se insignificantes na sua intercessão.
Neste caso, enquanto homem for homem seres humanos continuarem a ser humanos, é
impossível lutar contra linchamento, por mais que se adopte medidas extremas pra
desdesseminar este fenômeno, a massa tem o poder o poder está na mão da massa.

CAPÍTULO III
3.1. Métodologia
3.1.1 Introdução
O método o conjunto das actividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e
economia, permite alcançar o objectivo - conhecimentos válidos e verdadeiros -, traçando o
caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista. (Marconi e
Lakatos, 2003). Neste caso, este capítulo descreve os procedimentos metodológicos
adoptados na realização da pesquisa desde: desenho da Pesquisa, a população em estudo,
Processo de amostragem, o tamanho da amostra, os métodos de colecta de dados primários e
secundários.
metodologia de Pesquisa e Elaboração de monografia visa fornecer
informações básicas de pesquisa servindo de guia para a elaboração de projecto de outros
níveis.

3.1.2 Desenho da pesquisa


Para Gil (1999), o método científico é um conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos
utilizados para atingir o conhecimento. Para que seja considerado conhecimento científico, é
necessário a identificação dos passos para a sua verificação, ou seja, determinar o método que
possibilitou chegar ao conhecimento. Sustenta Espiríto Santo (2015), que método científico
“corresponde ao estudo sistemático dos métodos, concretizados em diferentes técnicas válidas
e validadas permanentemente, que devem ser planeados e apropriados aos objetos de cada
disciplina, em ordem à revisão permanente e crítica do conhecimento científico"(p.13).
Neste caso, a nossa pesquisa baseou-se em métodos mistos, sendo quantitativo e qualitativo,
procedimentos de tipo descritivo, análise de relatórios e vídeos YouTube.
Quanto ao tipo de pesquisa, o pesquisador pode fazer dois tipos de pesquisa: documental e
bibliográfica. A documental utiliza fontes primárias e a bibliográfica utiliza estudos feitos por
outros autores sobre o tema, ou seja, utiliza fontes secundárias (Alves, 2012). Tendo em conta
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que o nosso campo de estudo é territorial, a nossa pesquisa é documental e bibliográfica
sustentada por fontes como: jornais, livros, vídeos, fotográfias; além da observação que foi
primordial.

3.1.3 População em estudo e processo de amostra


população, é o conjunto de elementos que possuem as características que serão
objeto do estudo, e a amostra, ou população amostral, é uma parte do universo escolhido
selecionada a partir de um critério de representatividade (Vergara, 1997).
A população de estudo foi direcionado a moradores de Morrumbala, especificamente bairro
Július Nyerere.
Para a presente pesquisa foi usada a amostragem probabilística por conveniência, por ser
barato e não requerer orçamento nem um saber profundo.

3.2.4 Processo de coleta de dados


Para a colecta de dados, o estudo se guiou em dois métodos de recolha de dados, neste sentido
o secundário, e um pouco do primário.

3.2.5 Primários
"Observar é aplicar atentamente os sentidos físicos a um amplo objecto, para dele adquirir um
conhecimento claro" (Cervo e Bervian 2002, p. 27). Para esses pensadores observação é vital
para o estudo da realidade e de suas leis. Sem ela, o estudo seria reduzido a simples
adivinhação. Para o presente trabalho,foi observado um caso de linchamento dos bárbaros, em
Morrumbala e algures.

3.2.6 Secundários
Para Lakatos e Marconi (2001):
A pesquisa bibliográfica, abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao
tema estudado, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros,
pesquisas, monografias, teses, e outros materiais, sua finalidade é colocar o
pesquisador em contacto directo com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre
determinado assunto (p. 183).

pra o presente trabalho foram usados: livros, artigos cientificos e dissertações que relatam o
tema, como forma de garantir o fundamento teórico e empirico do trabalho.

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Além da documental em em destaque: fotográfias.

CAPITULO IV
4.1 Conclusão
Este último trabalho de métodologia de investigação científica, a que dominou o nosso estudo,
concluiu-se que linchamento está associado a justiça popular, na perspetiva de em que o
fenómeno é a forma encontrada pelos populares para punir os supostos infratores da ordem
social, ignorando desta forma a justiça criminal formal, que está aquém do cidadão. Contudo,
o estudo mostra ainda que existe um conjunto de elementos situacionais como: a pobreza,
apesar de ser supérfluo este fundamento. Nesta perspetiva, o linchamento é o produto de uma
insatisfação popular a todo o sistema de justiça formal e é usado para contestar ao poder do
Estado que não lída com o crimes de forma apropriada, ou mesmo fazendo não faz de forma
suficiente, e sobretudo “para indicar o desacordo com alternativas de mudança social que
violam conceções, valores e normas de conduta tradicionais, relativas a uma certa conceção
humana”. Moçambicanamente, existem linchamentos de natureza diversa, designadamente o
físico, que ocorre por acusação da vítima, regra geral, de roubo ou violação sexual, em que,
são linchados cidadãos do sexo masculino; o físico que resulta de acusação de feitiçaria ou
rituais de bruxaria, chupa-sangue, que envolve cidadãos do sexo feminino e entidades
públicas; por último, o psico-moral, que decorre do segundo tipo, em que a vítima não é
fisicamente morta, mas fica marcada como feiticeira e sofre, o que habitualmente se chama de
morte social.
O linchamento promovido pelos linchadores é uma forma de punição coletiva de alguém que
eles acreditam ser culpado por um crime, aplicam a punição que acham melhor sem seguir
princípios, direitos e muito menos leis. Na maioria dos casos a pena que eles impõem ao
acusado é a morte, mas antes espancam e torturam até desfigurar o corpo, em alguns casos
mais raros cometem apenas agressão. O único desejo presente nesses atos é a vingança, fazer
com que o acusado sinta dor e pague pelo que fez, sem o mínimo de proporção ou simetria
15
entre o crime cometido e a pena imposta por eles. Esta perpetiva contrasta grandemente com a
legal, visto que nos remete ao pensamento de que o linchamento não é uma manifestação de
desordem pública, pelo contrário, é uma forma de questionamento do poder do Estado e das
instituições sobre a desordem já instalada, por um lado, respondendo, desta forma a nossa
pergunta de partida, segundo a qual questionávamos se o crime de linchamento em
Moçambique poderia ser entendido como uma prática que extravasava uma conduta coletiva
estritamente crimina

4.1.2 Referências bibliográficas


Lima, R. S. & Paula, L. (2006). Segurança Pública e Violência. São Paulo: Contexto.

Martins, J. (2015). Linchamentos: a justiça popular no Brasil. 2ª ed. São Paulo: Contexto.

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4.1.3 Anêxos

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