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MANIPULAÇÃO DE INFORMAÇÃO EM
PROCESSOS DE EDIÇÃO PARA TV
Formando:
Orientador:
Professor Ms. Jorge Rocha Neto da Conceição
MANIPULAÇÃO DE INFORMAÇÃO EM
PROCESSOS DE EDIÇÃO PARA TV
Orientador:
Professor Ms. Jorge Rocha Neto da Conceição
MANIPULAÇÃO DE INFORMAÇÃO EM
PROCESSOS DE EDIÇÃO PARA TV
Banca Examinadora:
_______________________________________
Prof º. Ms. Jorge Rocha Neto da Conceição - Orientador
_______________________________________
Prof º. Ms. Vitor Luiz Menezes Gomes
_______________________________________
Prof º. Dr. Joel Melo
Gerson Dudus
Alexandre Mury
Valéria Machado
André Zamana
Gabriel Priolli
Ocinei Trindade
Patrícia Daldegan
1 – Introdução ..................................................................................................... 05
2 – Ideologia da comunicação
2.1 – Quem define o que é notícia ................................................................. 08
2.2 – Interesses políticos e econômicos ......................................................... 14
2.3 – Informação vrs. Contra-informação ...................................................... 20
6 – Referências ...................................................................................................... 57
7 – Anexos
Anexo I - Entrevista com profissionais de TV ................................................ 61
Anexo II – Roteiro do projeto videográfico .................................................... 74
5
1 – Introdução
Sabendo que vivemos em uma interação social de 24 horas por dia, ao se construir um
produto informacional, como o telejornal, é necessário que se estabeleça critérios de
representação do mundo real, onde apenas uma pequena porção deste mundo real é
evidenciada como seus acontecimentos. A isso, dá-se o nome de edição, uma manipulação dos
acontecimentos diários, própria da produção informacional.
Tendo o resultado da prática jornalística se tornado um produto comercial, a edição no
jornalismo – na maioria dos casos – é realizada com o propósito inicial de conquistar a
audiência. Para isso, práticas de produção de entretenimento são inseridas ao modo de se fazer
jornalismo. Com isso, objetivando alcançar o emocional do público, para que este possa
formar opiniões sobre o que lhe foi exposto e corresponda a tais estímulos. Correspondendo,
na maioria das vezes, com o ato de consumir produtos agregados à difusão de informações.
Assim, este trabalho foi realizado pela crença de que estudos de políticas de
comunicação se fazem necessários. Portanto, nosso foco de análise se mantém no
estabelecimento de um pensar crítico em torno das práticas midiáticas, especialmente à
televisiva.
A escolha em analisar a TV se dá pelo seu enorme potencial de convocar as pessoas
como nenhuma outra mídia, fazendo dela o meio de comunicação possuidor de maior
audiência. Audiência esta, totalmente heterogênea, alcançando os mais diversos grupos
sociais. Ocupando, desta forma, um estratégico lugar nas dinâmicas culturais cotidianas, nas
transformações de sensibilidades, nos modos construtivos de imaginários e identidades.
Tendo como base o fato de toda nossa cultura teórica ter sido formulada através de um
pensar crítico, que têm se debatido contra a perda qualitativa do espaço televisivo informativo,
pretendemos evidenciar modos práticos para que este ideário se realize. Ou seja, segundo
autores como Ciro Marcondes Filho (2002), verificar os processos que visam reduzir o real à
unidimensionalidade do bem, do justo, do correto, o que exclui a dualidade, a polarização, o
confronto e a multiplicidade de opiniões. Pretendemos, com este trabalho, também estabelecer
contrapontos aos rumos da produção midiática, principalmente no que diz respeito à TV, que
está sob a tutela do mercado globalizado, sempre a propor – para não dizer impor – uma
concepção de verdade única.
6
Para tal tarefa, definimos como objetivo deste trabalho, definir, pesquisar e estudar
criticamente a relação entre poder político e mídia, focando a manipulação de informação em
processos de edição para TV. Portanto, tais atividades serão executadas tendo em vista a
estética da barbárie, exteriorizada através de manchetes e títulos bombásticos. Sendo esta
estética, característica do modelo de produção midiática vigente. E que temas de relevância e
necessidades sociais são excluídos das pautas, para que a cobertura jornalística possa explorar
o grotesco e o incomum, que, de maneira imperceptível, são difundidos pelas técnicas de
produção de notícia.
É neste contexto que, primeiramente, iremos mapear os processos em que os
profissionais se apóiam ao decidirem a noticiabilidade dos acontecimentos diários. Para isso,
estudaremos os conceitos da hipótese de agenda setting, newsmaking e os vínculos com a
lógica do mercado e poder público. Assim, sendo este primeiro passo, importante ao apontar
como os profissionais de informação atuam no sentido de evidenciar o grau de importância ou
relevância dos assuntos que podem virar notícias.
Tendo em vista este quadro, no que diz respeito ao atual modelo de produção de
informação, constata-se até que ponto interfere na sociedade o poder monopolizador exercido
pelos grandes conglomerados de mídia, geridos a partir dos pontos de vista da economia
globalizada. Também se mostra como fato que as informações são tratadas como produtos,
noção esta que é regida e difundida pela lei de mercado, constituindo estratégias de seduções
do público. Tais fatores, ao serem analisados criticamente, podem apontar uma certa
contaminação – nem sempre saudável – da linguagem jornalística com a do entretenimento e
da publicidade. Portanto, este nosso primeiro passo se evidencia de vital importância para o
desencadeamento das demais questões.
Após estes questionamentos, passamos para os interesses políticos e econômicos das
empresas telejornalísticas. Nesta parte, procuramos contextualizar o processo evolutivo da TV
brasileira e as concessões dadas pelo governo, além de analisar as possíveis implicações no
processo de decidir o que deve ser notícia. Para isso iremos fazer uma análise do período
anterior à ditadura, passando pela reabertura política, até os dias atuais.
Desta forma, poderemos questionar o que Ford (1999) chama de “nova ordem”, onde a
tônica política se chama globalização, configurando um quadro em que os grandes monopólios
midiáticos têm o compromisso com a legitimação do discurso neoliberal. Discurso, este, que
7
tem por objetivo o esvaziamento do senso crítico, para que não haja contestações às práticas
do “mercado” neoliberal.
Ao passo que problematizamos as implicações sócio-comunicacionais desta estrutura
neoliberal, estabelecemos a conceituação do que é informação e contra-informação. E é neste
sentido que procuramos evidenciar como a informação é tratada, sendo considerada um bem
de consumo, e como sua veiculação tem um papel decisivo para o estabelecimento de uma
formatação do pensar coletivo, proliferando um senso comum superficial e nada crítico em
torno das questões sociais. E ainda, prosseguindo neste tópico, analisaremos a contra-
informação enquanto contrapartida ao problema exposto.
No segundo capítulo, tendo sempre em mente que a televisão, enquanto produto
cultural a ser consumido, satisfaz às expectativas da audiência – em sua maioria –,
verificamos de que modo a produção jornalística se respalda em técnicas possibilitadoras de
retratar o mundo real e parte de seu cotidiano. Iremos trabalhar com conceitos atribuídos ao
jornalismo – imparcialidade, distanciamento e objetividade –, no intuito de identificar se estes
constituem-se na prática jornalística ou se podem ser esclarecidos enquanto atividades
mitificadas.
O terceiro capítulo trata da questão da edição e manipulação de informação. Nele,
iremos caracterizar o que é o processo de edição e suas possíveis implicações na produção de
informação televisiva. E para concluir, iremos analisar como são essas elucidações teóricas na
prática; para isso, realizamos uma pesquisa qualitativa a respeito de questões focadas nos
capítulos anteriores, na forma de entrevistas com profissionais de telejornalismo.
Neste sentido, visto que os pensamentos mercantis, difundidos pela máquina produtiva
de informações, dão ampla voz à uma violenta crítica ao ato de se estabelecer pensamentos
críticos e elucidativos a cerca de todo o contexto socio-comunicacional. Fazendo, o que
acreditam alguns autores como Marcondes Filho (2002), com que este pensar crítico seja
execrado a campos marginais da cultura, estabelecendo o juízo criticante à categoria de
antiqüismo, melancolia anacrônica. Formatando grande inversão de valores, ao passo que a
proliferação do ideário mercantil o considera o novo estilo de violência de dominação. Iremos
desenvolver estudos, acreditando em sua grande importância, ao momento que se concretiza,
para a evidenciação destes acontecimentos vivenciados por todos nós.
8
2 – Ideologia da comunicação
1
Palestra integrante do Seminário de Comunicação Social da Faculdade de Filosofia de Campos – Fafic, realizado no dia 11
de março de 2004.
2
Coletivo informacional independente que veicula suas produções midiáticas através do site www.midiaindependente.org
9
A agenda setting apóia-se na noção de que produzir notícias é uma prática formatada
na rotina produtiva da empresa midiática, devido à assimilação de critérios de relevância para
organizar acontecimentos, temas, aspectos e problemas. Segundo Meyer (1990), geralmente a
definição usual da "notícia" inclui outros atributos dos fatos ordinários como: atualidade,
proximidade (particularmente a geográfica), conseqüência (eventos que mudam ou ameaçam
mudar a vida das pessoas), interesse humano (evocando uma resposta emocional ou ilustrando
uma verdade universal), conflitual (o choque de interesses, na guerra, no esporte, na política) e
a proeminência dos atores envolvidos.
Sob a perspectiva do newsmaking, considera-se a existência de uma lógica própria dos
meios de comunicação de massa. Esta lógica foge da razão e interesses do receptor, que são
expressados mediante as exigências de produção e expressão informacional, devido a
formação de “uma espécie de atmosfera e um conjunto de interexpectativas profissionais que
predetermina o contexto de interpretação e valorização dos fatos” (Hohlfeldt, 2001, p. 206).
Sendo assim, “(...) a perspectiva do newsmaking evidencia uma espécie de auto-suficiência do
jornalismo, em que o processo comunicacional se coloca com absoluta autonomia em relação
às demais categorias sociais, o que, sabidamente, é equivocado” (Hohlfeldt, 2001, p. 206)
Desta maneira, os acontecimentos, os “fatos” – como os jornalistas gostam de chamar
– se transformam em notícias quando entram na agenda e depois de serem trabalhados pelo
órgão de informação. Portanto, como sustenta Hohlfeldt (2001), “a noticiabilidade de um fato
pode então ser analisada segundo sua possibilidade de integrar-se ou não ao fluxo normal e
rotineiro da produção de informações”. Atendendo pré-requisitos, construídos para que se faça
com que a produção de informações siga padrões de produção em série.
Assim sendo, “‘fatos’ e ‘notícias’ não existem por si, só como entidades ‘naturais’. Ao
contrário, são assim designados por alguém (por exemplo, por um editor), por motivos
11
(culturais, sociais, econômicos, políticos) que nem sempre são óbvios” (Arbex Jr. 2003, p.
103).
O que acaba por nos levar a outras hipóteses para a elaboração das pautas, que são os
vínculos estabelecidos com a lógica do mercado e com o poder público. Tais hipóteses podem
ser consideradas extremamente perigosas em países subdesenvolvidos como o Brasil pois, em
se tratando de relação com o mercado, a criterização do que é notícia tem conseqüências muito
graves.
Tendo em mente que o foco do estudo é a informação televisiva, que tem o telejornal
como seu maior expoente de propagação de informação. Coclui-se que ele possui uma
roupagem própria, existindo em função de uma linguagem e paradigmas específicos.
Sendo estes paradigmas, a maioria deles, incutidos pela “indústria da publicidade” e
que, como sugere Marcondes Filho (2002), “se confundem com a própria lógica da TV como
um todo”. Assim o mercado decide as pautas através de modelos padronizados, como “o
modelo esportivo de noticiário; a lógica da velocidade; a preferência pelo ‘ao vivo’; a
substituição da verdade pela emoção; a popularização e o expurgo da reflexão” (Filho, 2002,
p. 80).
No início do século XIX, segundo Arbex Jr (2003), a concretização do Estado burguês
de direito3 e a legalização de uma esfera pública, na Inglaterra, França e Estados Unidos,
fizeram com que a imprensa começasse a deixar suas características “politizadoras” 4 para se
3
“A época burguesa inverte o processo: agora tudo deve ser exposto, superexposto, ostensivamente mostrado. Uma
radicalização eufórica, contudo, também compromete a divulgação livre: tudo o que é demasiadamente exposto se ‘queima’.
Despotencia-se, esvazia-se o fato, o novo. O estranho, pelo excesso” (Marcondes Filho, 2002, p. 11)
4
“No começo de sua história, até o final do século XIII, a imprensa era organizada como empresa artesanal, mais preocupada
com a divulgação de notícias e com o eventual engajamento nas grandes lutas políticas que consolidaram o regime burguês”
(Arbex Jr., 2003, p. 57/58).
12
voltar, cada vez mais, para os negócios. Os jornais passaram a publicar anúncios, que, com o
tempo, tornaram-se a parte mais importante de suas receitas. Sendo este, uma espécie de
prelúdio de como poderia se suceder a mercantilização da informação, que hoje se encontra
nas mãos do “poder privado” e que tem como objetivo beneficiá-lo, como ressalta Arbex Jr
(2003, p. 60):
Este quadro, que é composto por monopólios privados – em sua maioria – dos meios
de comunicação, caracteriza como as empresas decidem o que deve ser notícia, prevalecendo
apenas uma visão de mundo, o que acaba por destruir a pluralidade do debate acerca do
cotidiano público e destrói a noção de democracia.
Outro fator que pode ser determinante para definir pautas é o vínculo da empresa de
mídia com o Estado. Este fator pode causar preocupações fundamentais, como ressalta Arbex
Jr (2003, p. 11), pontuando “o que torna a mídia tão perigosa é a sua capacidade de andar de
mãos dadas com o estado, enquanto vendem a imagem de ‘neutralidade’, ‘objetividade’ e
‘democracia’”. Assim sendo, a mídia possui a “capacidade de condicionar o imaginário,
moldar percepções, gerar consensos, criar a base psicossocial para uma operação de grande
envergadura, como a guerra” (Arbex Jr, 2003, p. 11).
Podemos utilizar como exemplo a guerra do Golfo de 1991, que evidenciou a relação
promíscua entre Estado e mídia, onde a televisão funcionou como veículo de legitimação das
ações do governo dos Estados Unidos, como observa Arbex Jr. em seu livro “O Jornalismo
Canalha”.
No Brasil, podemos dar como exemplo a maior rede de televisão do país, que foi
inaugurada em 26 de abril de 1965, logo após ao golpe militar de março de 1964, orientada –
tecnicamente – pela transnacional Time-Life, dos Estados Unidos, mediante um acordo
visivelmente inconstitucional que foi permitido pelos generais do regime ditatorial.
Até que ponto a idéia de se viver em uma interação de 24 horas por dia, onde as
coletividades sociais mais distintas tomam conhecimento desta diversidade através dos
interlocutores midiáticos é verdadeira? Analisando, pode-se perceber que o que acontece são
recortes e seleção de pequenas partes do cotidiano diário das coletividades, e a estas pequenas
partes, agrega-se valor notícia, dando-lhes tratamento para que possam ser transmitidas aos
consumidores do produto informação.
Evidencia-se que, para os “fatos” se tornarem notícia depende tanto da subjetividade
dos profissionais da informação quanto dos vínculos empresariais, mercadológicos e políticos
que profissionais e empresas de mídia estabelecem.São estes vínculos que irão determinar a
maneira como os produtores midiáticos irão olhar – e para o que irão olhar – no cotidiano que
se segue dia a dia.
Após o governo de José Sarney, vem Fernando Collor de Mello em 1990, sendo que
em 1992 é afastado por um processo de impeachment, assumindo o vice Itamar Franco, que
em seu discurso de posse, mostrou o possível caminho ao qual o país iria se encaminhar se
referindo ao mercado global e ao envolvimento do Brasil neste processo:
Para o estabelecimento desta “nova cultura” , como coloca Barber (2003), entra em
prática uma das maiores pragas que assolam as coletividades sociais na contemporaneidade: a
massificação das idéias – o que poderíamos chamar de crise da formulação do pensar crítico.
Com isso, se forma uma sociedade uniforme, que se baseia no ato de consumir.
Uma sociedade universal de consumo que não seria composta nem por
tribos nem por cidadãos, todos maus clientes potenciais, mas somente
por essa nova raça de homens e mulheres, que são os consumidores. A
nova cultura globalizante expulsa do jogo não apenas aqueles que
criticam de um ponto de vista reacionário, mas igualmente os seus
concorrentes democráticos, que sonham com uma sociedade civil
internacional constituída de cidadãos livres oriundos das mais variadas
culturas (BARBER, 2003, p. 41)
Com isto, entram em cena as megacorporções midiáticas, que fazem parte da estrutura
básica da nova cultura mundial, que tem por objetivo propagar e hegemonizar o esvaziamento
do senso crítico, tirando proveito disto, como observa Barber (2003, p. 43):
Para tal tarefa, as corporações utilizam-se de uma prática que é própria do mercado
global: os monopólios constituídos pelas megafusões de empresas, assim formando os grandes
conglomerados comunicacionais.
como observa Ford (2003, p. 91), tendo como objetivo de comercialização o aumento das
relações interculturais.
Com esta estrutura, temos o Estado como agenciador dos interesses das grandes
corporações empresariais e financeiras e provedor de políticas assistencialistas junto às
populações mais desfavorecidas. Nessa configuração, temos ainda as classes mais abastadas
como controladores e censores da informação. Em contraposição, alguns agenciadores de
informação se vêem com a tarefa de tentar quebrar o silêncio, refutar as mentiras veiculadas
pela mídia que tem “interesses que não passam pela democratização da informação, pela
participação ativa das audiências, pela educação e cidadania ampliada que poderia gerar”
(Dudus, 2004, p. 82). Assim, configura-se uma conceituação de contra-informação.
Com a inoperância do Estado capitalista do final do século XX em ter “o papel de
apoiar os grupos menos favorecidos, em detrimento dos interesses e lucros dos agentes da
atividade privada” (Bobbio, 1999, p. 26), é comum se ter como produtores de contra-
informações os próprios movimentos políticos e sociais, em um ato de resistência ao
estabelecimento da lógica empresarial e por uma comunicação não excludente.
7
Blog é a abreviação de weblog, que é uma espécie de diário virtual, mas que enquanto ferramenta pode ter
outras utilizações se não um simples diário.
8
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos/asp091220038.htm > acessado em 20 de setembro de 2005.
24
Certo que não era uma publicação com uma reflexão profunda sobre o que se estava
acontecendo no país que era regido pelo ditador Saddam Hussein. Porém, com informações
sobre o dia-a-dia daquele povo, cujas terras eram invadidas, sob a ótica de quem estava dentro
do conflito e burlando os filtros ideológicos das empresas midiáticas, o blog passou de
curiosidade de poucos para fonte fundamental de informação para muitos.
Este acontecimento pode ser considerado uma mostra de como a mídia corporativa, por
exemplo, legitimou os ataques dos EUA ao Iraque. Pois ela propagou a idéia de uma possível
existência de armas de destruição em massa sob o domínio daquele país. Ou que a reação
normal aos atentados de 11 de setembro de 2001, seria uma possível invasão ao país
endividado e com um poder militar risível.
O homem que assinava os depoimentos como Salam Pax, expôs informações durante o
conflito, que retravam o cotidiano dos ataques, e a não existência das tais armas, dando
evidências de toda a armação para que o conflito fosse legitimado.
Portanto, esta é a finalidade da contra-informação. Servir de alternativa ao modelo de
comunicação vigente, modelo este que é totalmente atrelado a lógica do mercado globalizado.
Visto que a informação, com este vínculo estreito com o mercado, se desligou da função de
bem informar a sociedade.
Para tal tarefa, as produções de informações são realizadas sob a mascara de conceitos
mitificados, como: neutralidade, distanciamento, imparcialidade e jornalismo objetivo.
Sendo, desta maneira, toda a notícia fabricada mediante as referências de cada produtor
informacional, que conta com toda sua carga subjetiva e formação cultural. O que é reforçado
pela argumentação de Maria Rita Kehl:
Para exemplificar no que esta relação pode implicar dentro da discussão abordada neste
tópico, podemos citar o caso da criação da Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual
(Ancinav), em agosto de 2004. A Ancinav seria uma agência que teria como atribuições
regular, estimular e fiscalizar as atividades de produção e de difusão de conteúdo audiovisuais
no país.
Nesse episódio, o governo brasileiro tentou intimidar as emissoras de TV,
principalmente a Rede Globo, principal interessada em que o projeto não chegasse ao
Congresso, e acabou perdendo a “queda de braço”. Desde o início do projeto, em 2004, a
Globo liderou ataques contra a proposta. Para isso, utilizou-se de artistas, jornalistas e
celebridades, com o intuito de criticar o projeto junto a opinião pública, assim fazendo que
pairasse no ar a sensação de censura e obscurantismo por parte dos políticos.
29
Outro fator perigoso que esta relação Estado-mídia pode estabelecer são as
legitimações de ações. Exemplificando, podemos mencionar o momento em que o governo
FHC colocou em prática a cobrança da Taxa Referencial (TR), até 40% acima da inflação,
além de cortes violentos no crédito para plantio – que trucidou a agricultura brasileira. No
entanto, nas notícias veiculadas pelos meios de comunicação – editadas de acordo com seus
estreitos vínculos com o governo –, os produtores rurais saíram como “caloteiros”. Esta
manobra foi posteriormente reconhecida como um equívoco, embora não tenha sido atribuído
a este reconhecimento o devido grau de importância.
real, interpreta e recria os acontecimentos de acordo com seus pontos de vista e visões sobre o
mundo.
Para tal colocação, onde se defende um texto reducionista e rápido, um texto sintético
por necessidade, sendo que esta síntese é compensada – enquanto algo explícito e
compreensível – através dos elementos naturais do texto telejornalístico, dá-se determinada
explicação:
Sob estes aspectos, vale questionar se este modelo textual difundido no mercado
telejornalístico é realmente o mais adequado, se realmente é capaz de informar adequadamente
aos telespectadores. Conforme os autores citados, o fato do texto telejornalístico ser
aparentemente simples e inteligível por qualquer pessoa apresenta alguns problemas
consideráveis. Um deles, é o fato deste texto dito “claro, objetivo e conciso”, na verdade,
apresentar um alto grau de superficialidade em sua abordagem do real; afinal é considerado
“um acessório para ser usado apenas como apoio à imagem e ao som” (Bahia, 1990, p. 147).
Tal fato se torna problemático se considerarmos que determinada notícia, apresentando esta
característica, torna-se falha, em uma grande escala de valores, ao representar o real.
Assim, tendo como base a hipótese de que a objetividade está ligada à fidelidade com
que se retrata a realidade e os exemplos expostos, podemos destacar que a objetividade
jornalística acaba por se tornar uma atividade comprometida. Alguns problemas em relação à
fidelidade de retratação da realidade podem ser encontrados ao se fazer uma análise de uma
das recomendações que os manuais colocam como apropriada para a formulação de notícias:
Há cada vez mais pessoas educadas, mais pessoas que fizeram estudos
secundários, que fizeram estudos superiores. Na verdade, poderíamos
dizer que em nenhum momento da história, na imensa maioria dos
países de hoje, houve um nível educacional como o atual. Portanto,
enquanto o nível educacional sobe, o nível midiático desce
(RAMONET, 2003, p. 250).
Portanto, quando se tem por objetivo noticiar algo devido vínculos e interesses
mercadológicos ou políticos, ou até mesmo porque determinado fato chamou mais atenção do
que outro de um determinado indivíduo – e como já vimos, faz afastar os conceitos de
neutralidade e distanciamento – tem-se como conseqüência lógica a construção do conceito de
imparcialidade como mito.
Outro fator que evidencia a imparcialidade como mito pode ser exemplificado
por um aparato técnico que é de vital importância para a produção de um telejornal: a captura
de imagens dos “fatos” a serem noticiados. Existe um consenso entre os profissionais de
informação, de que, com o auxílio deste aparato técnico, é possível mostrar a “realidade como
ela é”. Porém:
Porém, este não é o único fator para esta conceituação. Também podemos apontar as
posturas e perfis editoriais das empresas midiáticas, que podem comprometer a apuração e
veiculação de informações. Portanto, com a finalidade de evidenciar tais possibilidades,
recorremos ao famoso caso da edição do debate entre os candidatos à presidência da República
Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Collor de Mello, em 1989. É importante dizer que, como
evidencia Facchini (2004), Collor era dono de uma retransmissora da Rede Globo em Maceió,
logo tinha vínculos com a empresa que o apoiou enquanto candidato à presidência da
República.
No dia 15 de dezembro de 1989, antevéspera do segundo turno da eleição presidencial,
foi ao ar no “Jornal Nacional” uma edição do debate entre os candidatos que tinha sido
transmitida ao vivo no dia anterior. A edição do debate foi francamente favorável a Collor,
que teve um minuto e 12 segundos a mais de tempo de exposição, e exibido os melhores
momentos de Collor e os piores de Lula. Foi uma evidência de parcialidade da emissora. O
36
caso teve grande repercussão que, como mostra uma matéria na revista eletrônica Consultor
Jurídico10 (2002): “tão flagrante foi a manobra que, em seguida, toda a legislação eleitoral foi
refeita para impedir a repetição desse tipo de malversação.”
Porém, o Presidente eleito e o proprietário das Organizações Globo se entenderam até
agosto de 1992, até que ocorresse a campanha pedindo o impeachment de Collor. Numa
matéria publicada no site Fazendo Media, Romero da Costa Machado (2004), faz elucidações
a cerca do rompimento entre Collor e Roberto Marinho:
Como podemos supor, estas “idéias e vontades próprias” de Collor não agradaram o
proprietário da maior empresa midiática do Brasil, que sempre fora acostumada a interferir na
vida pública do país.
10
http://conjur.estadao.com.br/static/text/27773,1> acessado em 31 de outubro de 2005.
37
Para isso, vamos trabalhar no sentido de esclarecer que uma edição começa na
elaboração das pautas, decidindo o que será noticiado, passando pela estruturação de exibição
do telejornal, até o processo de tratamento estético do material a ser ofertado aos
telespectadores. Assim, ao selecionar acontecimentos dentro do cotidiano do mundo real e dar-
lhes valor notícia, o processo de edição já está sendo posto em prática. Afinal, os agenciadores
da informação promovem um recorte de tudo que acontece em nossa interação social e pinçam
o que melhor convir para ser noticiado.
Esta prática é primordial à formatação do perfil editorial de uma empresa jornalística
pois, “em lugar de vender conteúdo aos clientes os praticantes do jornalismo constróem uma
relação com seu público baseada nos seus próprios valores” (Kovach, 2004, p. 98). No que diz
respeito à visão mercadológica existente nesses veículos, a formação de uma linha editorial a
ser seguida é de crucial importância, de modo que se estabeleça uma ligação com o público,
sendo capaz de formatar sua opinião e ampliando um mercado de consumo para os
anunciantes.
Walter Murch (2004), ganhador do Oscar pela edição dos filmes Apocalypse now e O
paciente inglês, ao fazer a montagem de um filme, sugere a utilização do que chama de “a
regra de seis”. Murch, nesse sentido, frisa que o foco principal é a emoção, deixando claro que
mecanismos como edição, posicionamento de câmeras, atuações, até mesmo o enredo, no final
não serão lembrados, e sim o que o público sentiu.
Com isso, Walter Murch (2004) estabelece uma lista onde a emoção tem em média
51% da importância na composição do produto, o enredo 23%, o ritmo 10%, o alvo de
imagem 7%, o plano bidimensional da tela 5% e o espaço tridimensional da ação 4%. Ele
propõe que a emoção deve estar no alto da lista a todo custo, e que se for necessário eliminar
alguma coisa, fazer um corte, que se faça de baixo pra cima, na ordem do menos importante
para o item de maior relevância.
Desse modo, ele frisa que, satisfazendo os critérios dos itens do topo da lista, os demais
itens são ofuscados – esta é a lógica da produção do entretenimento fílmico. E é esta lógica
que a visão mercantilista, ao produzir informação, incorpora na rotina produtiva de um
telejornal; quanto mais entreter e mais sensações causar, melhor.
Seguindo nesta linha de raciocínio, podemos utilizar o programa Big Brother Brasil 12,
exibido pela Rede Globo de Televisão, no intuito de fazer um paralelo da maneira como ele é
editado e exibido, com a maneira que é produzida a informação jornalística de TV.
A edição num programa de entretenimento como o BBB pode ser um exemplo bem
ilustrativo para comparar a produção e edição de informação com a produção de
entretenimento13, questionando assim o conceito de isenção jornalística. Este programa se
torna um exemplo explícito de como funciona o mecanismo de informação, tanto televisiva
quanto impressa e a da radiodifusão. Cabe, no entanto, reafirmar que não é intenção deste
trabalho igualar o programa referido a telejornais, e sim dizer que a produção de informação
segue o mesmo modelo de produção de entretenimento.
Portanto, o BBB é um programa que mostra imagens, “fatos” comportamentais de
participantes – que interagem socialmente – do jogo para um grande público, e a partir desta
exibição, o telespectador forma determinada opinião e corresponde aos estímulos expostos. No
caso do programa mencionado, participam com telefonemas votando em opções estabelecidas
por seus produtores.
Porém, verifica-se a ocorrência de manipulação da opinião dos telespectadores por
meio do mecanismo denominado edição, que é realizado de maneira tendenciosa por parte de
seus produtores, assim entrando em cena a política da empresa e seus interesses. Afinal de
contas, existe um confinamento onde pessoas interagem socialmente, e “fatos” ocorrem 24
horas por dia – da mesma forma que na vida real. Mas somente cerca de 20 à 60 minutos dos
acontecimentos são exibidos, depois de passarem por uma edição, para que possam ser
analisados pelo público, para que este tome um posicionamento sobre o assunto.
É importante ressaltar que o programa é um jogo e todos os participantes estão ali para
jogar; porém, através do aparato técnico, a emissora faz com que o público acredite, “sinta’ o
12
Programa criado e patenteado por uma empresa de comunicação Holandesa, a Endemol, que faz parte do grupo Espanhol
Telefónica S.A..
13
Esta comparação é para definir que a produção de informação é feita como a produção de entretenimento, e não afirmar que
programas como o BBB sejam produção de informação.
43
contrário. Desta forma, utilizando como exemplo a quinta versão do programa, o público é
estimulado a acreditar na existência de dois grupos de pessoas no jogo: os que jogam e os que
não jogam. Ainda com o mecanismo de edição, houve uma espécie de satanização do “grupo
que joga”.
Com isso, cada um dos integrantes deste grupo teve a cabeça a prêmio e alcançaram
grandes índices de rejeição da opinião pública, conforme exemplificam matérias de teor
semelhante às do site Portal ORM 14:
Como já foi mencionado, processo semelhante pode ser aferido com a produção de
informação jornalística. Todos nós estamos sujeitos a interagir socialmente – direta e
indiretamente – 24 horas por dia e desta interação social, acontecimentos e fatos se
concretizam. E como no jogo/programa, as 24 horas cotidianas em sociedade são editadas de
acordo com critérios editoriais dos veículos midiáticos e são expostas ao público, que
igualmente, toma posicionamentos, interage de acordo aos estímulos oferecidos pelas
informações veiculadas. Sendo que as interações acontecem obedecendo a um leque limitado
de opções pré-definidos pelos produtores midiáticos.
Estas interações são extremamente preocupantes, pois elas podem acabar por legitimar
determinadas ações. Como na Guerra do Golfo, onde, conforme cita Arbex Jr (2003), foi
construída uma metáfora interpretativa a respeito de um possível “choque civilizatório” entre
EUA – “portadores dos valores cristãos, democráticos e pluralistas da civilização ocidental” –
e Iraque – “representantes do Islã, uma religião intolerante, sustentada por fanáticos terroristas
que ainda vivem no tempo dos camelos e obrigam suas mulheres a usar véu” –: montagens que
fizeram com que o conflito fosse legitimado para o público. E durante o conflito, aqui no
14
http://www.oliberal.com.br/plantao/noticia/default.asp?id_noticia=54101 > acessado em 05 de março de 2005.
44
Ocidente, não tínhamos o conhecimento pleno do que acontecia no Golfo. A guerra foi editada
e televisionada de acordo com os interesses dos mantenedores do poder.
A maior emissora do país, a Rede Globo de Televisão, desde sua fundação teve
compromissos, ou melhor, esteve atrelada com quem estivesse no poder do país, assim,
sempre buscando e contribuindo para a manutenção do status quo como forma de
sobrevivência e em busca de benefícios com o continuísmo do sistema social vigente. Para tal
afirmação, podemos utilizar como exemplo algumas atitudes da emissora, onde ela interferiu,
45
Assim, o atual quadro mostra que os grandes produtores de notícias tratam a vida real,
a vida cotidiana, como um grande reality show, produzindo notícias, informações, supostas
verdades em produção de espetáculos em largas escalas. O mundo real é representado pelos
telejornais, porém seus acontecimentos passam por um tratamento – edição – para que se
enquadrem nas linhas editoriais.
Como já foi dito, estas linhas editoriais são regidas pela lógica mercantil, que age com
a finalidade de atrair a audiência que será ofertado aos anunciantes, assim, utilizando-se de
estratégias produtivas que possam causar impactos emocionais aos telespectadores. Deste
46
produtos, que são as notícias em questão: “o diferencial pode surgir a partir das análises da
notícia”.
Quanto ao interesse público, os entrevistados foram questionados sobre a idéia
difundida de que o jornalismo informa sobre o que as pessoas querem saber, sendo que a
rotina produtiva de uma TV é por demais acelerada. Assim, convergindo para a idéia de que a
prática telejornalística não é algo intuitivo, Priolli acredita que esta “ao contrário, é uma
atividade eminentemente técnica, que se apóia num vasto conjunto de ferramentas e
informações para que possa existir”. Trindade corrobora, ao especificar que “fazer jornalismo
custa caro. Depende de profissionais, equipamentos, interesse e inteligência, além de dinheiro
para financiar e satisfazer de alguma forma essas possibilidades”.
Com isso, a produção das pautas são realizadas com base em informações que dão
apoio a esta produção, como pesquisas de audiência que permitem identificar o público alvo
de cada emissora. Estas dinâmicas de trabalho “são reforçadas pelas informações apuradas na
interatividade entre veículo e seus consumidores (cartas à redação, e-mail, telefonemas)”,
conforme diz Priolli.
Para Patrícia Daldegan, na produção de informação, deve-se ter a preocupação com o
que se pode contribuir para a sociedade. Ela dá um exemplo: “se uma medida do governo
federal, por exemplo, pode facilitar a vida de aposentados, cabe ao jornalista traduzir os
‘politiquês’ e torná-lo inteligível ao cidadão comum”. Contudo, a jornalista identifica que nem
sempre esta perspectiva é priorizada: “o que vemos, muitas vezes, são emissoras de âmbito
nacional que produzem programas que exploram a miséria alheia. Exibem os dramas e
constrangimentos sem o devido cuidado”.
Ocinei Trindade também coloca que o intuitivo até poderia acontecer nas redações
mas, como o “tempo esgotando” é sempre uma constante na rotina produtiva, os profissionais
buscam auxílio, para manter o fluxo informacional, à ferramentas e informações sobre o que
pode ser algo noticiável. Sendo assim, “Muitas pautas surgem com denúncias, queixas,
insatisfações, questionamentos da população”. E com relação ao modo com que os jornalistas
transmitem as informações, questionou-se a possibilidade dos profissionais interpretarem os
acontecimentos cotidianos com suas cargas subjetivas, assim, mostrando-os sob seus pontos
de vista. Patrícia Daldegan e Ocinei Trindade acreditam que a subjetividade do jornalista é, de
forma inevitável, parte integrante, e até necessária, da composição da matéria, como
49
argumenta Daldegan: “não acredito que seja possível narrar fatos sem interferir de alguma
forma, falo isto como repórter (cargo que exerço) e não como editora”. Ela defende ainda que
“a inclusão do repórter como canal que vivenciou o fato e relata sua experiência é
incondicional e, às vezes necessária”.
Trindade chama a atenção para o fato de que é importante observar quem está
interpretando os acontecimentos. E que, como os chefes nem sempre “reconhecem talentos e
inteligência”, esta prática pode proporcionar reconhecimento por parte de quem assiste a
veiculação das informações, além de as informações soarem melhor e transmitirem maior
credibilidade. O que o faz crer na existência de muitos profissionais de diferentes campos de
atuação, podendo exercer a profissão de jornalistas sem o diploma: “(...) área de economia,
política, ciências sociais, medicina e saúde , história, geografia, artes, moda, cultura costumam
render mais quando são profissionais da área”, afirma o jornalista.
Já Priolli identifica a subjetividade jornalística como uma característica que foi se
perdendo, sobretudo com a evolução das técnicas que propiciam a produção de informação de
maneira industrial. Ele tece críticas severas ao ponto que chegou a produção de informação:
“A meu ver, chegou a tal ponto de estandardização que se tornou anódino, pobre, quase
irrelevante - sobretudo com o enorme avanço das formas de comunicação interpessoais e
grupais, via internet”. Avançando com a análise, Priolli argumenta que é altamente pertinente
a busca pelo (re)estabelecimento da valorização da subjetividade no jornalismo e autoria na
produção de matérias, e identifica a indústria jornalística como empecilho. Dessa forma, a tese
de uma "re-personalização" do jornalismo, do resgate da autoria das matérias, da valorização
da subjetividade do jornalista, coloca-se com plena atualidade. Porém, existe um grande
problema, a valorização do “jornalista implica em pagá-lo bem, dar-lhe condições de trabalho,
dar-lhe liberdade. Tudo aquilo que a indústria jornalística não quer fazer”.
Portanto, a questão da subjetividade está relacionada ao modo como o jornalista retrata
a realidade, assim como o conceito de objetividade jornalística. Sobre isto, questiona-se a
possibilidade de que este conceito seja um mecanismo de síntese e um discurso feito, com o
intuito de legitimar o produto derivado da prática jornalística como verdade absoluta.
De certa forma, os três entrevistados concordam com o fato da objetividade ser
inalcançável. Como argumenta Gabriel Priolli: “a objetividade jornalística é como a perfeição:
uma meta inatingível, mas que devemos perseguir sempre. Sempre haverá tendenciosidade na
50
mídia”. Ocinei, sobre a compreensão de que uma notícia possa transmitir verdade absoluta, é
bastante categórico ao negar esta possibilidade e evidencia que a prática profissional que se
auto-proclama como verdadeira, com o tempo se mostra perceptível como falha: “não creio
em verdade absoluta. O tempo julga melhor a todos que batem no peito em nome da verdade.
Julga os jornalistas também, que costumam errar bastante ao confiar em fontes pouco
confiáveis, e vender uma história para auto-promoção”.
O conceito de objetividade acaba por se mostrar um mecanismo de síntese, um
mecanismo para auxiliar a produção telejornalística, que funciona em ritmo industrial. Assim,
Patrícia Daldegan, evidencia ao constatar que tal conceito está ligado ao fator econômico.
Afinal, as informações enquanto produto, devem estar prontas para serem consumidas em
horários pré-estabelecidos. “Isto com certeza pode nos levar a um certo tecnicismo, mas
acredito que este não seja um problema exclusivo da televisão”, conforme diz Daldegan.
Outra prática que caracteriza a produção jornalística enquanto indústria é a necessidade
de se causar sensações para que se conquiste a “audiência”. Sendo que, ao transformar os
dados coletados no mundo real em notícias é necessário um manuseio no material coletado.
Sobre os cuidados e possíveis conseqüências desta prática, todos concordam que é uma
atividade comumente utilizada. Porém, Priolli tem uma visão mais negativa desta prática do
que os outros entrevistados. Assim, acreditando que “na verdade, a mídia procura despertar o
interesse das pessoas e é sempre mais eficaz fazer isso pela via da emoção do que da razão”.
Proporcionando, desta forma, um comprometimento da percepção que as pessoas possam ter
das coisas, distorção da visão e obstrução da compreensão profunda dos fatos. Pois o
jornalismo não está preocupado em proporcionar que as pessoas possam ter uma compreensão
profunda dos fatos.
Contudo, Ocinei Trindade e Patrícia Daldegan convergem para a idéia de que
sensibilizar o telespectador depende de quais recursos são utilizados para compor a matéria.
Para Daldegan, “usar entrevistados que personifiquem situações vividas por muitos
sensibiliza, mas não me parece algo que comprometa a seriedade do conteúdo ou leve à
manipulação de fatos”.
Ocinei Trindade faz uma análise no sentido de que tal prática é inerente ao telejornal,
que, afinal, sintetiza a vida cotidiana das pessoas e “reproduz por questões de interesse o que é
mais relevante”. Sendo assim, “nos telejornais, normalmente, após muita porrada de coisas
51
que desanimam e desmotivam e mexem com as emoções para o lado pior, há sempre uma
matéria para suavizar os ânimos no encerramento”. E que “contar história de gente que dá
certo e que é feliz, e também ao contrário, é conseqüência da vida”.
Boa parte das sensações causadas pela produção televisiva, têm origem nas imagens,
que agem por impactos instantâneos. Questionando-os sobre o fato das imagens não
demonstrarem e sim fazerem constatar, pois, a um só tempo elas podem revelar e ocultar.
Concluiu-se, de certa forma, que as imagens são primordiais, sendo de extrema necessidade
para a produção dos telejornais sejam efetuadas.
Neste sentido, Gabriel Priolli e Patrícia Daldegan, concordam quanto ao poder que elas
possuem. E este valor atribuído às imagens, segundo eles é equivalente ao valor atribuído às
palavras. Sendo assim, “tanto as imagens quanto as palavras podem revelar ou ocultar –
depende da mente que está por trás delas, tomando as idéias editoriais”, como define Priolli.
No entanto, Trindade não concorda no poder único das imagens. Para ele, “o efeito
pode ser diferente nas pessoas com a narração, um fundo musical etc”, assim, dando a
entender que a eficácia ocorre quando há imagens e textos juntos. Contudo, esta afirmação
reforça a idéia de que as imagens podem “ser editadas, manipuladas de algum jeito”.
Outro ponto questionado refere-se aos processos de edição e montagem das notícias,
principalmente no que diz respeito às possibilidades da prática se dar de maneira tendenciosa.
Priolli acredita que se pode seguir, ao editar uma matéria, a tendência que se quiser. “Até
mesmo, afirmar o exato oposto do que de fato ocorreu. Não convém, não é comum, mas pode
e acontece”. Ao responder o questionamento, ele exemplifica de tal forma: “Se há problemas
de financiamento, de taxas bancárias, etc, é pau nos bancos, cobertura intensiva das greves,
críticas à ‘intransigência patronal’, etc”. Porém, “se a relação com os bancos está boa - o que é
mais frequente - passa-se o inverso: críticas ao ‘grevismo’, ao ‘incômodo para os clientes’,
etc”. Analisando tal exemplo, fica evidenciado que o modo como se produz informações,
desde a cobertura até o produto final, vai depender da relação que determinados setores da
sociedade mantêm com o veículo midiático, principalmente no que diz respeito ao setor
financeiro, como evidencia exemplificou Priolli.
Patrícia Daldegan se limitou a opinar que acredita na existência de manipulação em
vários meios de comunicação, inclusive nos de Campos dos Goytacazes. Porém em seu atual
contexto de trabalho e em suas rotinas produtivas nunca presenciou tal experiência:
52
“Jornalismo e setor comercial convivem de forma harmônica, mas, até o momento, nunca
houve este tipo de interferência”.
Também acreditando que tais práticas são possíveis, mas que “não dá pra ser tão mau
caráter às claras o tempo todo”, Ocinei Trindade faz uma abordagem sobre a credibilidade do
veículo midiático, que é necessária para que ele possa se manter. E que a “sociedade percebe
preferências e favoritismos na imprensa”. Porém, acredita que existem aqueles que se arriscam
e que se vendem.
A pesquisa com estes profissionais, serviu para elucidar e fundamentar a proposta deste
trabalho, que é a de contrapor a prática midiática, para que assim se busque a produção de
informações televisivas de maneira eficaz e de qualidade no que diz respeito ao seu conteúdo.
5 – Considerações finais
estratégico nas dinâmicas da cultura cotidiana das maiorias, também na transformação das
sensibilidades e nos modos de construir imaginários e identidades.
Pois a televisão constitui o mais sofisticado mecanismo midiático, capaz de modelar e
ao mesmo tempo deformar o cotidiano e os gostos populares. Também é, historicamente, uma
das mais expressivas formas de mediar narrativas, gestuais e cenografias do mundo cultural
popular. Evidenciamos cultura popular no sentido de que tal mediação possibilita a absorção,
formando híbridos culturais, de certas formas de enunciações do mundo globalizado por
grupos narrativos do local, nosso país por exemplo.
Garantir tal desmascaramento proporcionaria evidenciar o fato do discurso audiovisual
da informação produz um ocultamento do real. Pois, com o que Barbero (2001) chama de cifra
simbólica, que é o elo entre o passado e o presente, substituída pela fragmentação exigida pelo
espetáculo, tem-se a transformação do desejo de saber em ânsia por apenas ver.
Assumindo, assim, a noção de que o ato de informar é o de dar forma e que a própria
imprensa, dia após dia, demonstra que não existe sentido sem forma, atentamos para o fato que
toda formatação é uma imposição de sentido, assim, não existindo neutralidade. Esta
consideração nos leva a problematizar jargões como “a verdade nua e crua” e “a verdade como
ela é”, sendo que os acontecimentos diários são constituídos por fatos, e esses fatos, somente,
não são capazes de expressar a totalidade dos acontecimentos, exigindo, assim, contexto e
forma. Os “fatos” servem como disfarce para a grande imprensa pois, ao dizer que apenas
expõem os “fatos”, de maneira dissimulada, camufla a forma-mercadoria de seus discursos.
No entanto, a própria competição informacional demonstra claramente, através dos
diferentes relatos proporcionados por diferentes emissoras e linhas editoriais, que, caso não
houvesse a conversão dos fatos em notícia, colocados em discursos, seriam incapazes de
informar.
Conscientizar-se destas práticas, como diz Barbero (2001), possibilita desmascarar o
significado das necessidades tecnológicas de comunicação e não só em sua dimensão
econômica, também, enquanto rearticulação, deformação-imposição de uma sociedade que
passa sintonizar e funcionar com os requerimentos do mercado. Com este trabalho, reforçamos
a proposta de “ler” o discurso dos meios massivos como acontecimentos do poder. Porém, que
este discurso pronunciado não seja confundido com o discurso pronunciado pelo Poder e nem
com a semântica oficial dos políticos, mas sim um outro discurso, que realiza um trabalho
56
analítico em todo tipo de matéria significante visual ou sonora, com o propósito de desvendar
as operações que, através delas, possibilitam constituir e formar o controle.
6 – REFERÊNCIAS
6. ATAQUE e contra-ataque [online] ago. 2002, revisado em out. 2005. Disponível em:
http://conjur.estadao.com.br/static/text/27773,1> Acesso em: 31 out. 2005.
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(org). Por uma outra comunicação: mídia, mundialização cultural e poder. Editora
Record. Rio de Janeiro, 2003.
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hegemonia. Editora UFRJ. Rio de Janeiro, 2003.
10. ________. Os exercícios do ver: hegemonia audiovisual e ficção televisiva. Editora
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11. BOBBIO, Norberto. Estado, governo, sociedade: para uma teoria geral da política. 11ª
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cinqüentenário. Editora Fundação Perseu Abramo. São Paulo, 2002.
13. CHOMSKY, Naom. Verdades e mentiras. Entrevista publicada no caderno Mais, Folha
de São Paulo, edição de 09.03.1997, p. 10/11.
14. COSTA, Sylvio e out. Coronelismo eletrônico: o governo Fernando Henrique e o novo
capítulo de uma velha história, Rio de Janeiro, Revista Comunicação & Política, edição
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15. DÁVILA, Sérgio. Autor ganha fama ao retratar dia-a-dia da guerra em diário on-line
[online] dez. 2003, revisado em nov. 2005. Disponível em:
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos/asp091220038.htm> Acesso em:
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16. DELEUZE, Gilles. O ato de criação. Entrevista publicada no caderno Mais, Folha de
São Paulo, edição de 27.06.1999, p. 4/5.
17. DUARTE, Elizabeth Bastos. Televisão: embaralhamento entre reais e realidades
discursivas [online] 2005, revisado em nov. 2005. Disponível em:
http://www.versoereverso.unisinos.br/index.php?e=4&s=9&a=33> Acesso em: 17 out.
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58
18. DUDUS, Gerson. Uma poética da comunicação: Michel Serres e seus personagens
conceituais. Dissertação de mestrado em comunicação e cultura. Universidade Federal
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21. FILHO, Ciro Marcondes. Comunicação e jornalismo: a saga dos cães perdidos. 2ª
edição. Editora Hacker Editores. São Paulo, 2002.
22. ________. O espelho e a máscara: o enigma da comunicação no caminho do meio.
Editoras Discurso Editorial, São Paulo; Editora Unijui, Ijuí – RS, 2002.
23. FORD, Aníbal. Navegações: comunicação, cultura e crise. Editora UFRJ. Rio de
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24. ________. O contexto do público: transformações comunicacionais e socioculturais.
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25. FOUCOULT, Michel. Microfísica do poder. 17ª edição. Editora Graal. Rio de Janeiro,
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28. HOHLFELDT, Antonio; MARTINO, Luiz e FRANÇA, Vera Veiga. Teorias da
comunicação: conceitos, escolas e tendências. Editora Vozes. Petrópolis – RJ, 2001.
29. KEHL, Maria Rita. Televisão e violência do imaginário. Artigo publicado em BUCCI,
Eugênio (org). A TV aos 50: criticando a televisão brasileira no seu cinqüentenário.
Editora Fundação Perseu Abramo. São Paulo, 2002.
30. KOVACH, Bill. Os elementos do jornalismo: o que os jornalistas devem saber e o
público exigir. 2ª edição. Editora Geração Editorial. São Paulo, 2004.
59
31. LOPES, Vera de Oliveira Nusdeo. A lei da selva. Artigo publicado em BUCCI,
Eugênio (org). A TV aos 50: criticando a televisão brasileira no seu cinqüentenário.
Editora Fundação Perseu Abramo. São Paulo, 2002.
32. MACHADO, Romero da Costa. Collor e Roberto Marinho [online] nov. 2004,
revisado em nov. 2005. Disponível em:
http://www.fazendomedia.com/globo40/romero18.htm> Acesso em: 31 out. 2005.
33. MATTOS, Sérgio. A história da televisão brasileira: uma visão econômica, social e
política. 2º edição. Editora Vozes. Petrópolis – RJ, 2002.
34. MELO, José Marques de. A questão da objetividade no jornalismo, Cadernos da
INTERCOM, São Paulo, INTERCOM, setembro de 1985, ano 3, vol. 7, p. 7/9.
35. MEYER, P. News media responsiveness to public health in ALKIN, C & WALLACK,
L (eds). Mass comunication and public hearth. Newbury Park, Sage, Pub, 1990.
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poder. Editora Record. Rio de Janeiro, 2003.
37. MURCH, Walter. Num piscar de olhos: a edição de filmes sob a ótica de um mestre.
Editora Jorge Zahar. Rio de Janeiro, 2004.
38. RAMONET, Ignácio. A tirania da comunicação. 2ª edição. Editora Vozes. Petrópolis –
RJ, 1999.
39. ________, Ignácio. O poder midiático. Artigo publicado em MORAES, dênis (org).
Por uma outra comunicação: mídia, mundialização cultural e poder. Editora Record.
Rio de Janeiro, 2003.
40. RYOKI, André. Estamos vencendo!: resistência global no Brasil. Editora Conrad
Editora do Brasil. São Paulo, 2004.
41. SANTAELLA, Lúcia. Produção de linguagem e ideologia. Editora Cortez. São Paulo,
1989.
42. SEKEFF, Cristiane. Telejornal: do processo ao produto. Editora Faculdade Santo
Agostinho. Teresina, 2005.
43. VIZEU, Alfredo. O lado oculto do jornalismo. Editora Calandra. Florianópolis, 2005.
60
7 – ANEXOS
Gabriel Priolli
61
Não entendi bem o ponto da questão. Toda prática jornalística é premeditada: busca-se
informar sobre determinado assunto (pré-escolhido), a partir de determinada angulação
(pré-estabelecida pelos critérios explicitados acima). Novamente, isso vale tanto para a
mídia corporativa como para a independente. A neutralidade e o distanciamento podem ou
não existir, dependendo do fato e das circunstâncias políticas que o envolvem. A idéia de
que esses conceitos sejam absolutos e devam presidir toda a atividade jornalística segue
sendo, ainda, uma utopia. Todo mundo gosta de falar em isenção jornalística, mas poucos
gostam de praticá-la.
3) É muito comum “escutar” que a função do jornalismo é informar sobre o que as pessoas
querem saber. Mas como definir o que as pessoas querem saber? Ainda mais no corre-
62
corre de uma TV, há tempo para identificar isso? Isso não acaba fazendo do jornalismo
algo intuitivo?
4) É difundido como papel histórico do jornalista o fato de ele ser um contador de histórias
e também um “explicador do mundo”. Para tal tarefa, não seria necessário que se interprete
os acontecimentos com suas cargas subjetivas, e mostre tais acontecimentos sob seus
pontos de vista?
O jornalismo já teve um forte perfil subjetivo e foi perdendo essa característica com a
evolução das técnicas de produção industriais. A meu ver, chegou a tal ponto de
estandardização que se tornou anódino, pobre, quase irrelevante - sobretudo com o enorme
avanço das formas de comunicação interpessoais e grupais, via internet. Dessa forma, a
tese de uma "re-personalização" do jornalismo, do resgate da autoria das matérias, da
valorização da subjetividade do jornalista, coloca-se com plena atualidade. O problema é
que valorizar o jornalista implica em pagá-lo bem, dar-lhe condições de trabalho, dar-lhe
liberdade. Tudo aquilo que a indústria jornalística não quer fazer.
vendida como ingrediente para camuflar a tendenciosidade que existe no cotidiano dos
veículos de comunicação. Você concorda com esses conceitos ?
A objetividade jornalística é como a perfeição: uma meta inatingível, mas que devemos
perseguir. Sempre haverá tendenciosidade na mídia - em qualquer mídia -, mas o dever do
jornalista é trabalhar para que a cobertura dos fatos seja sempre a mais equilibrada,
eqüidistante e isenta possível. Nem sempre ele conseguirá isso, talvez na maioria das vezes
não consiga. Mas isso não o autoriza a desistir da luta.
8) Todo acontecimento é composto por vários momentos como: início, ápice, declínio das
atividades, imprevistos e fim. Ao fazer uma edição, montagem da matéria, pode-se seguir
determinada tendência ao realizar esta tarefa. No campo das hipóteses, determinada
empresa jornalística que possui vínculos com banqueiros pode orientar a montagem com
fins a desacreditar o movimento dos bancários, para isso, pode utilizar imagens, que irão
ficar sobrepostas ao texto. O que você acha dessas possibilidades?
Quanto à primeira parte da questão, concordo: sim, pode-se seguir a tendência que se
quiser, ao editar uma mantéria. Pode-se, até mesmo, afirmar o exato contrário do que de
fato ocorreu. Não convém, não é comum, mas pode e acontece. Quanto ao exemplo dos
bancários, a possibilidade é exercitada corriqueiramente. A cobertura do setor financeiro
varia de acordo com os interesses do veículo: se há problemas de financiamento, de taxas
bancárias, etc, é pau nos bancos, cobertura intensiva das greves, críticas à "intransigência
patronal", etc. Se a relação com os bancos está boa - o que é mais frequente - passa-se o
inverso: críticas ao "grevismo", ao "incômodo para os clientes", etc.
Ocinei Trindade
Creio que existe um conjunto de fatores. Desde o interesse coletivo, social, político,
econômico e também, editorial. O editor de um veículo de comunicação é o maestro que
define o que vai ser noticiado e como vai ser noticiado. Por mais que haja reunião de pauta
com editores-adjuntos e setorizados, o peso final da notícia vai estar subordinado à
sensibilidade e interesse do editor e do veículo. Por mais que se fale de isenção e
imparcialidade, todas as empresas de comunicação são empresas comerciais, que têm seus
interesses próprios.
3) É muito comum “escutar” que a função do jornalismo é informar sobre o que as pessoas
querem saber. Mas como definir o que as pessoas querem saber? Ainda mais no corre-
66
corre de uma TV, há tempo para identificar isso? Isso não acaba fazendo do jornalismo
algo intuitivo?
4) É difundido como papel histórico do jornalista o fato de ele ser um contador de histórias
e também um “explicador do mundo”. Para tal tarefa, não seria necessário que se interprete
os acontecimentos com suas cargas subjetivas, e mostre tais acontecimentos sob seus
pontos de vista?
Creio que sim. Acho que menciono isso de algum modo em respostas anteriores. O
lance é quem vai interpretar. É preciso ganhar um respaldo, algum tipo de sagração,
notoriedade. Nem sempre os chefes reconhecem talentos e inteligência. Há os
especialistas, uma praga que muitas vezes dá certo. Por isso, acho que há muitos
profissionais de diferentes áreas que podem ser jornalistas sem diploma. Gente da área de
economia, política, ciências sociais, medicina e saúde, história, geografia, artes, moda,
cultura costumam render mais quando são profissionais da área. A informação soa melhor
e a credibilidade também. Os jornalistas normalmente são especialistas em generalidades.
Podem saber um pouco de tudo, mas no fundo um pouco pode representar pouco. Acredito
na subjetividade do jornalismo. É possível e até necessário. É bom para comparar com
outras formas de escrita. Não há verdade absoluta.
67
Alguém já disse que quanto mais regional, mais universal é um fato. A vida das
pessoas se repete. Um telejornal sintetiza um pouco da vida de uma sociedade. Se reproduz
por questões de interesse o que é mais relevante. Hoje, corrupção no governo e denúncias,
prisões de políticos e juízes, escândalos financeiros, conseqüencias de problemas
ambientais no mundo, catástrofes, saúde coletiva com animais infectados por vírus,
miséria, violência, combate a isso, e entretenimento e artes em geral, beleza, esportes,
coisas positivas na economia e na vida pessoal das pessoas. Nos telejornais, normalmente,
após muita porrada de coisas que desanimam e desmotivam e mexem com as emoções
para o lado pior, há sempre uma matéria para suavizar os ânimos no encerramento. A vida
é dura pra todo mundo. Dar um pouco de esperança e comoção não faz mal a ninguém,
creio. Contar história de gente que dá certo e que é feliz, e também ao contrário, é
conseqüência da vida, acredito. Cada um que julgue por si.
68
Não. As imagens podem ser editadas, manipuladas de algum jeito. O efeito pode ser
diferente nas pessoas com a narração, um fundo musical etc. Também depende da imagem.
Uma tsunami pode chocar muita gente, mas pode encher os olhos de surfistas e bichos-
grilos, por que não?
8) Todo acontecimento é composto por vários momentos como: início, ápice, declínio das
atividades, imprevistos e fim. Ao fazer uma edição, montagem da matéria, pode-se seguir
determinada tendência ao realizar esta tarefa. No campo das hipóteses, determinada
empresa jornalística que possui vínculos com banqueiros pode orientar a montagem com
fins a desacreditar o movimento dos bancários, para isso, pode utilizar imagens, que irão
ficar sobrepostas ao texto. O que você acha dessas possibilidades
Possíveis, mas não dá pra ser tão mau caráter às claras todo o tempo. Um veículo
depende de credibilidade pra se manter. Quem dá isso é o público e também o profissional.
Sem aprovação de público, não dá. A sociedade percebe preferências e favoristimos de
imprensa. Os políticos são os mais freqüentes. Há os que se arriscam e que se vendem,
fazer o quê? Mas até nisso há a seqüência início, ápice, declínio, imprevistos e fim. Não
superestimo a profissão, nem o jornalismo.
Patrícia Daldegan
mídia corporativa, principalmente a televisiva, não deu uma nota sequer. Que tipo de
criterização você, em sua rotina de trabalho, acredita que deve ser feita para caracterizar
um acontecimento ou assunto como noticiável ou não?
8 – Todo acontecimento é composto por vários momentos como: início, ápice, declínio das
atividades, imprevistos e fim. Ao fazer uma edição, montagem da matéria, pode-se seguir
determinada tendência ao realizar esta tarefa. No campo das hipóteses, determinada
empresa jornalística que possui vínculos com banqueiros pode orientar a montagem com
fins a desacreditar o movimento dos bancários, para isso, pode utilizar imagens, que irão
ficar sobrepostas ao texto. O que você acha dessas possibilidades?
Acho que existe manipulação em muitos meios de comunicação, inclusive locais. Mas
tomando como base minha atual experiência profissional, nunca tive este tipo de vivência.
Jornalismo e setor comercial convivem de forma harmônica, mas, até o momento, nunca
houve este tipo de interferência.
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Mão Única?
Por Alexandro F.
FADE IN.
SEQUÊNCIA DE CENAS:
CORTA PARA:
CORTA PARA:
1. INT. SONORA.
CORTA PARA:
CORTA PARA:
2. INT. SONORA.
CORTA PARA:
CORTA PARA:
3. INT. SONORA.
CORTA PARA:
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4. INT. SONORA.
CORTA PARA:
CORTA PARA:
5. INT. SONORA
CORTA PARA:
6. INT. SONORA.
CORTA PARA:
CORTA PARA:
7. INT. SONORA.
CORTA PARA:
CORTA PARA:
FADE OUT.
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