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UNIVERSIDADE LICUNGO

DEPARTAMENTO DE LETRAS E HUMANIDADE

LICENCIATURA EM DIREITO

EVOLUÇÃO HISTORICA DE DIREITO DE PENAL


CONTEMPORÂNEA

Quelimane
1

Antonio
Amide Sulemane
Gui
Lúcio da Verónica Orlando

Evolução Histórica de Direito de penal contemporânea

Trabalho a ser apresentado no departamento


de letras e humanidades na cadeira de
Direito Civil, recomendado pelo:

Docente: Alberto Marqueza

Quelimane

2024
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Índice
1. Objectivos.....................................................................................................................4
2.1 Gerais..........................................................................................................................4
2.2 Especificos..................................................................................................................4
2. Metodologia..................................................................................................................4
4. Contextualização..........................................................................................................6
4.1 Antecedentes Históricos do Direito Penal...................................................................6
4.1.1 Periodos da Vingança..............................................................................................6
4.1.1.1 Vinganca privada..................................................................................................6
4.1.1.2 Vinganca divina.....................................................................................................7
4.1.1.3 Vinganca publica...................................................................................................7
4.2 Influências do Iluminismo e da Revolução Francesa..................................................7
4.3 Codificação Penal.......................................................................................................8
1. Século das Luzes e o Periodo Humanitario...............................................................9
5.1 O Século XIX: Consolidação e Codificação do Direito Penal.....................................9
5.1.1 Escolas Penais........................................................................................................9
5.1.2 A Escola Clássica..................................................................................................10
5.1.3 Escola Positivista...................................................................................................11
5.1.4 Escola Ecléticas.....................................................................................................12
5.2 Codificações penais do século XIX...........................................................................12
5.3 Impacto das mudanças sociais e políticas na legislação penal................................12
2. O Século XX: Desafios e Mudanças Significativas..................................................12
6.1 O Impacto das guerras mundiais e dos regimes totalitários.....................................12
6.2 Emergência dos direitos humanos e sua influência no direito penal........................13
6.3 Evolução do direito penal internacional....................................................................13
6.4 Evolução Histórica do Direito penal contemporânea em Mocambique....................13
6.5 Período Colonial.......................................................................................................13
6.6 Independência e Codificação....................................................................................14
6.6.1 Princípios fundamentais.........................................................................................15
6.7 Guerra Civil e Reformas Legais................................................................................16
6.8 Adaptação à Realidade Pós-Conflito........................................................................16
6.9 Incorporação do Direito Internacional.......................................................................17
6.9.1 Desafios Atuais......................................................................................................17
7.1 Direito penal do inimigo e direito penal mínimo........................................................17
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7.2 Desafios atuais e futuros do direito penal.................................................................18


8. Conclusão...................................................................................................................19

1. Introdução

Desde quando o homem começou a buscar a vida em sociedade, passou a regular sua
convivência de acordo com regras visando a harmonia das relações cultivadas. A partir dessas
primeiras regras, podemos afirmar que está o embrião do que mais tarde se tornaria o Direito
Penal contemporâneo. A análise da evolução histórica do Direito Penal é crucial para uma
compreensão correcta da mentalidade e dos princípios que orientaram o sistema punitivo
actual. Ao longo da história da humanidade, as ideias penais surgiram e evoluíram,
reflectindo as mudanças na própria sociedade. Assim, o Direito Penal passou por
transformações sempre que a humanidade se modificava. Nesse contexto, podemos dividir a
evolução do Direito Penal em períodos e fases com características marcantes, que
influenciaram ou ainda influenciam o Direito Penal contemporâneo.
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1. Objectivos

2.1 Gerais

Analisar a evolução histórica do direito penal contemporâneo, com foco especial na


Revolução Francesa, no Movimento Iluminista e na codificação penal, destacando suas
influências e contribuições para os sistemas legais modernos.

2.2 Especificos

1. Investigar o impacto da Revolução Francesa na transformação do sistema legal, incluindo a


abolição de práticas judiciais arbitrárias e a introdução de princípios como a presunção de
inocência e o devido processo legal.
2. Explorar as ideias e os princípios do Movimento Iluminista em relação ao direito penal,
incluindo a defesa da igualdade perante a lei, dos direitos individuais e da proporcionalidade
das penas.
3. Examinar o papel da codificação penal na racionalização e unificação das leis penais, com
destaque para exemplos como o Código Penal Napoleônico e suas influências nos sistemas
legais contemporâneos.
4. Analisar casos específicos de países ou regiões que passaram por mudanças significativas
em seu direito penal, como Moçambique, e examinar os desafios e sucessos desses processos
de reforma.
5. Discutir as críticas e controvérsias em torno das mudanças legais, como a introdução de
novos códigos penais, destacando as questões éticas, políticas e sociais envolvidas nessas
transformações.

2. Metodologia

O presente trabalho académico se dispôs da Norma apas e adoptou uma abordagem histórica
e analítica, utilizando uma combinação de pesquisa bibliográfica e análise crítica. O processo
metodológico seguiu as seguintes etapas:
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Pesquisa Bibliográfica: Foi realizada uma pesquisa extensiva em fontes académicas, livros,
artigos de periódicos e outras publicações relevantes sobre a evolução histórica do direito
penal contemporâneo, com foco na Revolução Francesa, no Movimento Iluminista, na
codificação penal e em casos específicos de reformas legais em diferentes países ou regiões.

Análise Histórica: Foi realizada uma análise detalhada dos eventos históricos e das ideias que
moldaram o desenvolvimento do direito penal ao longo do tempo, identificando padrões,
influências e consequências das mudanças legais e sociais.

Análise Comparativa: Foram comparados casos específicos de reformas legais em diferentes


contextos geográficos e políticos, com o objectivo de identificar semelhanças, diferenças e
lições aprendidas com essas experiências.

Análise Crítica: Foi realizada uma análise crítica das mudanças legais, destacando suas
implicações para a justiça, os direitos humanos e a sociedade em geral. Foram também
discutidas as críticas e controvérsias em torno dessas mudanças, bem como os desafios
enfrentados na implementação e aplicação das novas leis.

Síntese e Conclusões: Com base na pesquisa e análise realizadas, foram elaboradas


conclusões que resumem as principais descobertas sobre a evolução do direito penal
contemporâneo.
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4. Contextualização

4.1 Antecedentes Históricos do Direito Penal

4.1.1 Periodos da Vingança

Desde tempos imemoriais, a noção de punição para aqueles que agem de forma prejudicial
aos outros ou violam os padrões morais e de bons costumes está presente na humanidade.

O Direito Penal surgiu como um meio de aplicar essas punições, evoluindo ao longo do
tempo conforme as mudanças de comportamento e pensamento da sociedade. Ele
acompanhou o próprio desenvolvimento humano.

As primeiras ideias de Direito Penal foram expressas através da vingança, que se divide em
três formas: privada, divina e pública.

4.1.1.1 Vinganca privada

Durante a era da vingança privada, as vítimas ou seus familiares reagiam


desproporcionalmente ao crime, muitas vezes atingindo não só o autor do delito, mas também
seu grupo social. Se o autor e a vítima pertencessem ao mesmo grupo social, ele podia ser
expulso ou banido, ficando à mercê de outros grupos que frequentemente o puniam com a
morte. Se fossem de grupos diferentes, ocorria a vingança de sangue, uma espécie de guerra
entre grupos que frequentemente resultava na eliminação de um deles.

Duas grandes regulamentações surgiram ao longo do tempo para moderar a vingança privada:
o talião e a composição. A Lei de Talião, 'olho por olho, dente por dente', é frequentemente
citada como uma das primeiras formas de punição registadas na história da humanidade. Esta
abordagem, encontrada em várias culturas antigas, reflectia a ideia de retribuição
proporcional como base para a punição." (Smith, 2010)
O talião, embora não fosse exactamente uma punição, buscava uma proporção entre a ofensa
e a punição, enquanto a composição permitia que o criminoso evitasse a punição comprando
sua liberdade.
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4.1.1.2 Vinganca divina

A vingança divina surgiu devido à forte influência da religião na vida dos povos antigos. O
Direito Penal foi grandemente influenciado pela religião, pois havia a crença de que o crime
deveria ser reprimido como forma de agradar aos deuses. Durante essa fase, os sacerdotes
impunham punições severas e cruéis em nome da divindade, com o objectivo de intimidar a
sociedade e purificar a alma do criminoso.

4.1.1.3 Vinganca publica

A vingança pública começou a ser praticada em sociedades mais desenvolvidas, ainda sob
influência religiosa, mas agora também exercida pelo monarca, em nome de Deus. A
aplicação da sanção penal ainda era marcada pela crueldade, mas representava um avanço ao
transferir a aplicação das penas para o Estado, limitando assim a actuação individual.
"Durante a antiguidade e a idade média, o direito penal era frequentemente baseado em
tradições culturais e religiosas, com punições severas aplicadas por delitos que hoje seriam
considerados menos graves. O contexto social e político desempenhava um papel
significativo na determinação das leis e das penas." (Jones, 2015)

4.2 Influências do Iluminismo e da Revolução Francesa

Tanto a Revolução Francesa quanto o Movimento Iluminista tiveram um profundo impacto


no desenvolvimento do direito penal contemporâneo, uma vez que ambos questionaram as
estruturas e práticas injustas do sistema legal do Antigo Regime e promoveram princípios de
igualdade, justiça e direitos individuais. "O Iluminismo e a Revolução Francesa trouxeram
consigo uma série de mudanças no pensamento jurídico e político, incluindo no campo do
direito penal. A ênfase na razão, na igualdade e nos direitos individuais influenciou a reforma
das leis penais, com a redução das penas corporais e a introdução de penas mais
proporcionais e humanitárias." (Roberts, 2018)

Durante a Revolução Francesa, as reformas legais foram impulsionadas por ideais de


liberdade, igualdade e fraternidade. Uma das mudanças mais significativas foi a abolição de
práticas judiciais arbitrárias e injustas, como destacado por Voltaire: "O direito deve ser o
resultado da razão humana, livre de paixões e preconceitos" (Voltaire, 1764). Esta abolição
marcou uma mudança radical na forma como a justiça era administrada na França, com a
introdução do princípio da presunção de inocência e do devido processo legal.
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Ao mesmo tempo, o Movimento Iluminista promoveu ideias semelhantes em relação ao


direito penal. Filósofos iluministas como Montesquieu argumentavam que "as leis devem ser
aplicadas de tal forma que não exista privilégio ou discriminação" (Montesquieu, 1748),
defendendo a igualdade perante a lei como um princípio fundamental do sistema legal. Além
disso, o Iluminismo promoveu a ideia de direitos individuais e liberdades civis, como
expresso por Rousseau: "O homem nasce livre, e em toda parte ele está acorrentado pelos
grilhões" (Rousseau, 1762), influenciando diretamente a evolução do direito penal.

Ambos os movimentos também promoveram a necessidade de penas justas e proporcionais


aos crimes cometidos. Beccaria, um proeminente pensador iluminista, argumentou que "as
penas devem ser proporcionais ao crime cometido" (Beccaria, 1764), destacando a
importância da proporcionalidade das penas e o fim de práticas cruéis e incomuns. Essa
ênfase na justiça e na humanidade na punição foi uma característica compartilhada tanto da
Revolução Francesa quanto do Movimento Iluminista.

4.3 Codificação Penal

A codificação penal foi um marco significativo na história do direito penal contemporâneo,


especialmente durante os séculos XVIII e XIX. Este processo envolveu a sistematização e
unificação das leis penais em um único código, com o objectivo de proporcionar clareza,
previsibilidade e uniformidade ao sistema legal. Vários autores destacaram a importância da
codificação penal e seus efeitos na prática jurídica.
Um dos exemplos mais proeminentes de codificação penal foi o Código Penal Napoleónico,
promulgado na França em 1810. Este código, influenciado pelo pensamento jurídico
iluminista, reflectiu os ideais de racionalidade e igualdade perante a lei. Como observou
Foucault, o Código Napoleónico representou "uma mudança na natureza da legislação penal"
(Foucault, 1975), introduzindo princípios como a presunção de inocência e o devido processo
legal.

Além do Código Napoleônico, outros países também promulgaram suas próprias codificações
penais durante esse período. O jurista italiano Cesare Beccaria, em sua obra "Dos Delitos e
das Penas" (1764), defendeu a necessidade de uma legislação penal clara e uniforme, baseada
em princípios de humanidade, proporcionalidade e previsibilidade. Beccaria argumentou que
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"as penas devem ser proporcionais ao crime cometido" (Beccaria, 1764), influenciando assim
a busca por uma codificação penal mais justa e humanitária.

Na Alemanha, o jurista Karl Binding e o psiquiatra Alfred Hoche, em sua obra "A
Autorização para a Destruição da Vida sem Valor" (1920), discutiram questões relacionadas à
codificação penal e à legalização da eutanásia, levantando debates éticos e jurídicos sobre o
papel do direito penal na proteção dos direitos individuais e da dignidade humana.

1. Século das Luzes e o Periodo Humanitario

Surge o termo Século das luzes devido a uma concepção filosófica que se firmou naquela
época, onde a razão ganhava destaque em todos os campos do conhecimento, surgiram
pensadores que defendiam o uso da razão para guiar a vida em geral. Algumas dessas ideias
influenciaram directamente o Direito Penal, mudando a forma como as punições eram
aplicadas aos infractores da lei. O período humanitário surgiu no Século XVIII, conhecido
como Século das Luzes, com uma visão filosófica que separava a questão penal das
preocupações éticas e religiosas. Para os pensadores iluministas, o crime era visto como
quebra do contrato social, e a pena como medida preventiva. Nesse contexto político e
cultural,
Nesta época diversos pensadores ganharam destaque tais como Paulo Anselmo Von
Feuebach, Cesar Bonessana, marques Beccaria que tendo em 1764 publicado a sua obra Dei
delitti e Delle pene (Dos delitos e das penas) obra esta que marcou o direito penal moderno.
Outro pensadores como John Howard, que inspirou uma ordem de mudanças nas prisões com
o foco em construção de edificações apropriadas para a pena privativa.

5.1 O Século XIX: Consolidação e Codificação do Direito Penal

5.1.1 Escolas Penais

"No século XIX, surgiram diversas escolas penais que propunham diferentes abordagens para
a punição criminal. As escolas clássica, positiva e criminologia debateram sobre a natureza
da pena, o papel do Estado e a finalidade da punição, influenciando directamente a legislação
penal da época." (Durkheim, 1893)
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5.1.2 A Escola Clássica

Influenciada pelas ideias iluministas da época, era apoiada por escritores, pensadores,
filósofos e doutrinadores que compartilhavam dessas ideias. Segundo Basileu Garcia (1982,
p.29), a Escola Clássica comparava a alma humana a uma balança, onde os motivos de nossas
ações eram colocados nos pratos; a vontade, poderosa e decisiva, tinha o poder de inclinar o
prato que contivesse os motivos mais fortes, mesmo contra a lei da gravidade. A liberdade de
escolha era o fundamento da imputabilidade moral, que, por sua vez, era o alicerce da
responsabilidade penal.

De acordo com Luiz Regis Prado (2011, p.90), os princípios fundamentais dessa escola são:
O Direito tem uma natureza transcendente, segue a ordem imutável da lei natural: O Direito é
congênito ao homem, porque foi dado por Deus à humanidade desde o primeiro momento de
sua criação, para que ela pudesse cumprir seus deveres na vida terrena. O Direito é a
liberdade. Portanto, a ciência criminal é o supremo código da liberdade, que tem por objeto
subtrair o homem da tirania dos demais, e ajudá-lo a libertar-se da tirania de si mesmo e de
suas próprias paixões. O Direito Penal tem sua gênese e fundamento na lei eterna da
harmonia universal;
O delito é um ente jurídico, já que constitui uma violação a um direito. É dizer: o delito é
definido como infração. Nada mais é que a relação de contradição entre o fato humano e a lei;
A responsabilidade penal é lastreada na imputabilidade moral e no livre arbítrio humano;
a pena é vista como meio de tutela jurídica e como retribuição da culpa moral comprovada
pelo crime. O fim primeiro da pena é o restabelecimento da ordem externa na sociedade,
alterada pelo delito. Em consequência, a sanção penal deve ser efetiva, exemplar, pública,
certa, proporcional ao crime, célere e justa;
o método utilizado é o dedutivo ou lógico-abstrato;
o delinquente é, em regra, um homem normal que se sente livre para optar entre o bem e o
mal e preferiu o último; os objetos de estudo do Direito Penal são o delito, a pena e o
processo."

Na história da Escola Clássica, destacam-se três notáveis pensadores como precursores:


Anselmo Von Fewerbach na Alemanha, Gian Domenico Romagnosi na Itália e Jeremias
Benthan na Inglaterra. Essa corrente de pensamento foi notável por sua subdivisão em dois
períodos: o primeiro, de cunho filosófico, liderado por Cesare Beccaria, e o segundo, de
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caráter jurídico, sob a liderança de Francisco Carrara, sendo este último mais relevante para a
análise do Direito.

5.1.3 Escola Positivista

Foi uma corrente filosófica emergente, conhecida como Movimento Positivista, teve como
precursor o pensador e filósofo Augusto Comte. Essa escola propunha uma nova
compreensão do direito e, consequentemente, do crime. De acordo com os adeptos desse
movimento, o direito é um produto da interação social e está sujeito a mudanças ao longo do
tempo e espaço, de acordo com os princípios da evolução.

Magalhaes Noronha, (2001,p.38) aponta como fundamentos e caracteres dessa escola os


seguintes:
a) método indutivo;
b) o crime como fenômeno natural e social, oriundo de
causas biológicas, físicas e sociais;
c) a responsabilidade social como
decorrência do determinismo e da periculosidade;
d) a pena tendo por fim a defesa social e não a tutela jurídica.

Durante esse período, destacou-se o médico italiano e professor César Lombroso, que via o
crime como uma expressão da personalidade humana e resultado de diversas causas,
investigando o delinquente do ponto de vista biológico. Outro pensador desse movimento foi
Rafael Garófalo, autor da obra "Criminologia", na qual analisou o crime, o criminoso e a
pena.

A escola Positivista teve seu maior expoente em Henrique Ferri, criador da Sociologia
Criminal. Discípulo de Lombroso, Ferri enfatizava a importância de três fatores causais para
o crime: antropológicos, sociais e físicos. Ele classificou os criminosos em cinco categorias:
nato, louco, habitual, ocasional e passional.
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5.1.4 Escola Ecléticas

Com o objectivo de conciliar os fundamentos da Escola Clássica e da Escola Positivista,


surgiram correntes de pensamento ecléticas, como a Terceira Escola e a Escola Moderna
Alemã.
segundo Julio Fabrini Mirabete, (2010, p. 22): Aproveitando as ideias de clássicos e
positivistas, separava-se o Direito Penal das demais ciências penais, contribuindo de certa
forma para a evolução dos dois estudos. Referiam-se os estudiosos à causalidade do crime e
não à sua fatalidade, excluindo, portanto, o tipo criminal
antropológico, e pregavam a reforma social como dever do Estado no combate ao crime.

Essas correntes foram lideradas principalmente pelos filósofos Bernardino Alimena,


Giuseppe Impalomeni, Carnevale e Von Liszt.

5.2 Codificações penais do século XIX

"As codificações penais do século XIX, como o Código Penal Napoleónico de 1810 na
França e o Código Penal Alemão de 1871, representaram uma tentativa de sistematizar e
unificar as leis penais dentro de um país. Esses códigos tiveram um impacto duradouro no
desenvolvimento do direito penal moderno." (Beccaria, 1764)

5.3 Impacto das mudanças sociais e políticas na legislação penal

"As mudanças sociais e políticas do século XIX, como a industrialização e o surgimento de


movimentos sociais, influenciaram directamente a legislação penal. Novos crimes
relacionados ao trabalho nas fábricas e às condições de vida nas cidades foram incorporados
aos códigos penais, reflectindo as preocupações da época." (Marx, 1867)

2. O Século XX: Desafios e Mudanças Significativas

6.1 O Impacto das guerras mundiais e dos regimes totalitários

"As guerras mundiais e os regimes totalitários do século XX tiveram um profundo impacto


no direito penal. A utilização da justiça penal como instrumento de controle político e
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repressão levou a abusos dos direitos humanos e a uma revisão dos princípios fundamentais
do direito penal." (Arendt, 1951)

6.2 Emergência dos direitos humanos e sua influência no direito penal

"A Declaração Universal dos Direitos Humanos, adoptada em 1948, marcou um ponto de
viragem na história dos direitos humanos e teve implicações significativas no direito penal.
Os princípios de igualdade, dignidade e justiça influenciaram a legislação penal em todo o
mundo." (UN General Assembly, 1948)

6.3 Evolução do direito penal internacional

"O século XX testemunhou o desenvolvimento do direito penal internacional, com a criação


de tribunais internacionais para julgar crimes de guerra, genocídio e crimes contra a
humanidade. Instituições como o Tribunal Penal Internacional têm sido cruciais na
responsabilização de indivíduos por violações graves do direito penal internacional." (Ratner,
2001)

6.4 Evolução Histórica do Direito penal contemporânea em Mocambique

A história da evolução do direito penal contemporâneo em Moçambique reflete uma jornada


complexa e multifacetada, influenciada por uma variedade de fatores históricos, políticos e
culturais.

6.5 Período Colonial

Durante o período colonial, Moçambique foi submetido ao domínio de Portugal, que impôs
suas próprias leis e sistemas judiciais. O direito penal durante esse período era caracterizado
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pela aplicação de códigos penais coloniais como o de 1886, que muitas vezes discriminavam
a população nativa e favoreciam os interesses da metrópole.

6.6 Independência e Codificação

Após a independência em 1975, Moçambique enfrentou o desafio de desenvolver seu próprio


sistema legal, incluindo o direito penal. O país promulgou uma série de leis e códigos penais
que refletiam os valores e as necessidades da nova nação independente.

A exemplo temos a introdução do novo Código Penal de Moçambique que deu-se em 2015
marcou um momento significativo na história do direito penal do país, representando uma
ruptura com um texto datado de 1886, que passou por várias modificações ao longo do
tempo, mas ainda mantinha disposições obsoletas e inadequadas para a realidade
contemporânea. Este novo código foi saudado por organizações internacionais por sua
abordagem progressista em questões como a despenalização do aborto e a eliminação de
disposições que poderiam ser usadas para discriminar minorias sexuais.

No entanto, apesar do reconhecimento internacional, o novo código não escapou à


controvérsia e críticas internas. O antigo presidente moçambicano, Armando Guebuza,
vetou inicialmente o código, enquanto a então ministra da Justiça, Benvinda Levy, e a ex
procuradora-geral da República, Beatriz Buchili, expressaram preocupações sobre defeitos
e contradições no texto. Essas críticas destacaram a necessidade de revisão e
aprimoramento do código para garantir sua conformidade com os padrões internacionais e
uma concepção moderna de um código penal.

Apesar das objeções iniciais, o código foi eventualmente reaprovado pelo parlamento com
uma maioria superior a dois terços, obrigando Guebuza a promulgar a lei. No entanto,
algumas questões controversas permaneceram, como a definição da idade de
consentimento sexual, estabelecida em 12 anos no novo código, em contraste com a Carta
dos Direitos Humanos, que define menores como pessoas com menos de dezoito anos.
Além disso, o novo código excluiu os casais do direito universal de privacidade em
correspondência e e-mails, levantando preocupações sobre direitos individuais e proteção
da privacidade.
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Apesar das críticas e controvérsias, o novo Código Penal de Moçambique representou um


passo importante na modernização do sistema legal do país, refletindo mudanças sociais,
culturais e políticas ao longo do tempo. A sua promulgação marcou um compromisso com a
promoção da justiça, igualdade e respeito pelos direitos humanos em Moçambique, embora
ainda haja desafios a superar e aspectos a serem aprimorados no futuro.

Essa transformação na legislação penal de Moçambique demonstra a importância da


adaptação do direito às demandas e valores da sociedade contemporânea, garantindo a
sua relevância e eficácia na promoção da justiça e do bem-estar social.

6.6.1 Princípios fundamentais

República de Moçambique Artigo 1.°


A República de Moçambique é um Estado independente, soberano, democrático e de justiça
social.
1- A soberania reside no povo.

Soberania e legalidade Artigo 2.°


2-O povo moçambicano exerce a soberania segundo as formas fixadas na Constituição.
3-O Estado subordina-se à Constituição e funda-se na legalidade.
4- As normas constitucionais prevalecem sobre todas as restantes normas do ordenamento
juridico.

Estado de direito democrático Artigo 3.0


A República de Moçambique é um Estado de direito, baseado no pluralismo de expressão, na
organização política democrática, no respeito e garantia dos direitos e liberdades
fundamentais do Homem.

Pluralismo jurídico Artigo 4.°


O Estado reconhece os vários sistemas normativos e de resolução de conflitos que coexistem
na sociedade moçambicana, na medida em que não contrariem os valores e os princípios
fundamentais da Constituição.
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Nacionalidade Artigo 5.°


1- A nacionalidade moçambicana pode ser originária ou adquirida. 2 Os requisitos de
atribuição, aquisição, perda e reaquisição da nacio- nalidade são determinados pela
Constituição e regulados por lei.

Território Artigo 6.°


1-0 território da República de Moçambique é uno, indivisivel e inalienável, abrangendo toda
a superficie terrestre, a zona marítima e o espaço aéreo delimi- tados pelas fronteiras
nacionais.
2-A extensão, o limite e o regime das águas territoriais, a zona económica exclusiva, a zona
contígua e os direitos aos fundos marinhos de Moçambique são fixados por lei.

Organização territorial Artigo 7.


1-A República de Moçambique organiza-se territorialmente em provincias, distritos, postos
administrativos, localidades é povoações.
2- As zonas urbanas estruturam-se em cidades e vilas.

6.7 Guerra Civil e Reformas Legais

Durante a guerra civil que assolou o país entre 1977 e 1992, houve interrupções significativas
no desenvolvimento do sistema jurídico, incluindo o direito penal. Após o fim do conflito,
Moçambique embarcou em um processo de reforma legal para reconstruir suas instituições e
promover a paz e a estabilidade.

6.8 Adaptação à Realidade Pós-Conflito

A partir dos anos 90 e 2000, Moçambique enfrentou o desafio de adaptar seu sistema legal à
nova realidade pós-conflito. Isso incluiu esforços para fortalecer o estado de direito,
promover os direitos humanos e combater a impunidade por crimes graves, como corrupção e
violações dos direitos humanos.

6.9 Incorporação do Direito Internacional


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Moçambique também começou a incorporar princípios e normas do direito internacional,


especialmente no campo do direito penal. Isso incluiu a ratificação de tratados internacionais
e a participação em tribunais internacionais para lidar com crimes transnacionais e violações
dos direitos humanos.

6.9.1 Desafios Atuais

Hoje, Moçambique enfrenta uma série de desafios no campo do direito penal, incluindo a
necessidade de fortalecer as instituições judiciais, combater a corrupção, lidar com a
criminalidade transnacional e garantir o acesso à justiça para todos os cidadãos,
independentemente de sua origem étnica, social ou econômica.

3. Tendências Contemporâneas no Direito Penal

A justiça restaurativa surge como uma alternativa ao sistema tradicional de justiça criminal,
focando na reparação do dano causado às vítimas e na reintegração dos infractores à
sociedade. Como afirmado por Zehr (2002), "a justiça restaurativa busca transformar os
relacionamentos quebrados pelo crime, promovendo a cura e a reconciliação".

Além disso, novas abordagens penais, como a justiça terapêutica e a justiça transformadora,
têm ganhado destaque. Essas abordagens enfatizam a prevenção do crime, a reabilitação dos
infractores e a redução da reincidência, promovendo uma visão mais holística e humanitária
do sistema de justiça criminal (Braithwaite, 2002).

7.1 Direito penal do inimigo e direito penal mínimo

O conceito de direito penal do inimigo, proposto por Jakobs (2003), levanta preocupações
sobre a expansão excessiva do poder punitivo do Estado e a diminuição das garantias
individuais em nome da segurança pública. Este paradigma sugere a criação de uma categoria
de "inimigos" da sociedade, sujeitos a tratamento penal diferenciado e mais severo.
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Em contraste, o direito penal mínimo advoga por uma abordagem mais restrita à intervenção
penal, limitando a criminalização de condutas e reservando a punição para casos de danos
graves à sociedade ou aos indivíduos. Autores como von Hirsch (1976) argumentam que o
direito penal deve ser usado com moderação, periodizando alternativas à prisão sempre que
possível.

7.2 Desafios atuais e futuros do direito penal

O direito penal contemporâneo enfrenta uma série de desafios, incluindo a criminalidade


transnacional, os avanços tecnológicos e as questões relacionadas ao terrorismo. A rápida
globalização e a expansão das redes criminosas exigem respostas coordenadas e eficazes por
parte das autoridades jurídicas (Tonry, 2009).

Além disso, as tecnologias digitais apresentam novos dilemas para o direito penal, como a
protecção da privacidade, o combate aos crimes cibernéticos e a regulação das redes sociais.
É fundamental que o direito penal acompanhe essas mudanças e adapte-se às novas
realidades sociais (Kerr, 2019).
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8. Conclusão

Ao longo deste trabalho, exploramos a evolução histórica do direito penal contemporâneo,


desde seus antecedentes na antiguidade até as tendências e desafios atuais. Observamos como
o direito penal foi moldado por uma série de influências, incluindo mudanças sociais,
políticas e filosóficas ao longo dos séculos.

Durante o século XIX, vimos a consolidação e codificação do direito penal, com a criação de
códigos penais que buscavam sistematizar as leis e as penas. As escolas penais e as teorias da
pena debatiam sobre a natureza e os objectivos da punição, influenciando o desenvolvimento
do sistema penal.

No século XX, enfrentamos desafios significativos, incluindo as guerras mundiais, os regimes


totalitários e a necessidade de protecção dos direitos humanos. O surgimento do direito penal
internacional representou uma resposta a violações graves dos direitos humanos e crimes
contra a humanidade.

Actualmente, vemos o surgimento de novas abordagens penais, como a justiça restaurativa e


o direito penal mínimo, que buscam uma resposta mais humanitária e eficaz ao crime. No
entanto, também enfrentamos desafios emergentes, como a criminalidade transnacional e os
crimes cibernéticos, que exigem respostas inovadoras por parte do sistema jurídico.

Em suma, a evolução do direito penal é um processo contínuo e complexo, moldado por uma
variedade de factores históricos, sociais e políticos. À medida que avançamos para o futuro, é
fundamental que continuemos a reflectir sobre as lições do passado e a buscar soluções que
promovam a justiça, o respeito aos direitos humanos e a segurança da sociedade como um
todo.
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4. Referências Bibliográficas.

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