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Supervisor:
Beira
2014
II
Florentino Franque
Coordenador:
Prof. Doutor Óscar Dada Hutt
2014
I
ÍNDICE GERAL
ABREVIATURAS ................................................................................................................... IV
INTRODUÇÃO ..........................................................................................................................2
1.2. Contexto...............................................................................................................................4
CAPÍTULO 2............................................................................................................................ 10
CAPÍTULO 3............................................................................................................................ 29
CAPÍTULO 4............................................................................................................................ 35
CAPÍTULO 5............................................................................................................................ 45
ABREVIATURAS
CV – Cruz Vermelha
OI – Organizações Internacionais
DECLARAÇÃO DE HONRA
Declaro que esta Dissertação é resultado da minha investigação pessoal e das orientações do meu
Supervisor e o seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente
mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia final. Declaro ainda que esta Dissertação não
foi apresentada em nenhuma outra instituição para obtenção de qualquer grau académico.
___________________________
(Florentino Franque)
2
INTRODUÇÃO
1
O conceito de complexo de segurança aparece, pela primeira vez, no texto de Buzan, “People, State and Fear”,
em 1983. O Complexo de Segurança é definido em termos de externalidades de segurança que afecta a relação de
um grupo de Estados. A relação é intensa onde caso um membro seja afectado, necessariamente, os efeitos serão
sentidos por outros (Buzan e Wæver, 1998). O complexo de segurança revela o nível de amizade (cooperação e
interdependência) e inimizade (medos e receios) entre os Estados da região, demonstrado relações de poder entre os
Estados. Quanto maior for o grau de amizade entre os Estados, maior será a propensão para a estabilidade e quanto
maior for a inimizade, maior será de instabilidade.
3
(2012.58), Moçambique tornou-se num novo produtor energético de dimensão global com cerca
de 22.5 bilhões de pés cúbicos de gás natural descobertos pela Anadarko Petroleum e 15 bilhões
pala Ente Nazionale Spa – ENI.
O enfoque deste trabalho compreende o período que vai desde 2004 a 2013. O ano de 2004 é
pertinente, pois, foi neste ano que começou a exploração das primeiras reservas de gás natural,
em Temane e Pande, na província de Inhambane, pela Suid Afrikaanse Steenkool end Olie
(SASOL). O ano de 2011 é relevante por causa das grandes descobertas de depósitos de gás
abundantes, em particular na bacia do Rovuma, o que, segundo Energia e Indústria Extractiva
Moçambique (2012:4), poderá afirmar Moçambique como um novo produtor energético de
dimensão global devido as recentes descobertas de 22.5 biliões de pés cúbicos de gás natural pela
Anadarko Petroleum e 15 biliões de pés cúbicos pela empresa Ente Nazionale Spa (ENI)
(African Development Bank et all, 2012:58). Em 2013, o Estado moçambicano beneficiou-de das
mais-valias resultante das transções de acções entre as empresas detentoras de participações nos
blocos situados na Bacia do Rovuma.
1.2. Contexto
Quando “se verifica este cenário, a exploração dos hidrocarbonetos é denominada como
„bênção”. Entretanto, Selemane (2009:5) afirma que os efeitos negativos estão ligados a um
crescimento económico menor do que o esperado, uma fraca diversificação económica,
indicadores sociais desanimadores, altos níveis de pobreza e desigualdade, impactos ambientais
devastadores ao nível local, corrupção desenfreada, governação e políticas económicas
excepcionalmente insatisfatórias e, grandes incidências de conflito denominando-se esta situação
de “maldição dos recursos”.
1.4. Problematização
6
Segundo Selemane e Nombora (2011:10-11), há pouca divulgação dos contractos que são
efectuados com as companhias como é o caso dos contractos dos benefícios em espécie
(royalties) e falta de informação sobre a gestão e o destino que é dado aos pagamentos feitos em
espécie ao governo, como o caso dos 2.528.854 GJ de gás natural pagos pela SASOL em 2008
que não se sabe o que se fez com esta quantidade de gás natural levantando deste modo
questionamentos no seio da sociedade civil.
2
Bucuane, A. (2011) Recursos Naturais em Moçambique: Reflexão sobre o Paradoxo da Abundância. Disponível
em: http://www.iese.ac.mz/lib/noticias/2011/ABucuane_PGMM_Fev2011.pdf, acessado aos 11 de Outubro de
2012.
7
Com as novas descobertas de gás natural na bacia do Rovuma a situação tende a levantar cada
vez mais questionamentos, o que significa que vários segmentos da sociedade moçambicana
(organizações da sociedade civil, partidos políticos, jovens, académicos) estão receosos acerca
do futuro da indústria extractiva do gás natural e se a exploração pode constituir ou não factor
para a eclosão de conflitos em Moçambique. Assim, urge questionar: até que ponto a
descoberta e exploração de hidrocarbonetos como gás natural pode constituir factor para a
eclosão de conflitos e situações de disistabilização em Moçambique?
Que relação que pode existir entre a descoberta e exploração de hidrocarbonetos, conflito
e desestabilização em Moçambique?
Que análise estratégica e cenários futuros podem ser traçados sobre os processos de
descobrta e exploração de hidrocaronentos em Moçambique?
CAPÍTULO 2
Todo trabalho científico exige uma base teórica como directriz orientadora da sua abordagem.
Nesse sentido, este trabalho faz uso de duas bases teóricas nomeadamente: teoria das
necessidades básicas e teoria da privação relativa, nas quais se exploram o contexto do seu
surgimento, os precursores e, as teses por eles defendidas que ajudam a explicar a ligação entre a
exploração de hidrocarbonetos e a eclosão de conflitos. Além disso, neste capítulo são definidos
os conceitos de conflito, recursos naturais e hidrocarbonetos. É importante clarificar seus
significados, pois, em ciências sociais, os conceitos geralmente têm múltiplas significações, de
acordo com seu campo de estudo.
O tema foi lido à luz através da combinação de várias teorias, por um lado, as que versam sobre
as causas de conflitos, com destaque para a Teoria das Necessidades Básicas Humanas de John
Bourton, a Teoria de Privação Relativa de Ted Gurr e a Teoria de Frustração Agressão da Escola
Norte America de Yale, e, por outro, através de um debate interparadigmático sobre o papel dos
recursos energéticos como factor de poder nas relações internacionais, recorrendo às visões do
realismo, liberalismo e marxismo sobre a matérial, procurando dar as diversas imagens
alternativas que essas escolas apresentam sobre a relação entre recursos naturais, poder e
segurança dos Estados.
Os conflitos podem ser explicados tendo em conta várias abordagens teóricas que abarcam as
dimensões biológicas, sociológica, psicológica, entre outras. Assim, ao longo deste trabalho são
11
A Teoria das Necessidades Básicas Humana é uma construção social que analisa as motivações
humanas que estão associadas ao desenvolvimento e sustentabilidade da espécie humana e tem
três categorias: necessidades – motivações e aspirações que são comuns à toda espécie humana;
valores – motivações e aspirações humanas que se baseiam em aspectos culturais; e interesses –
motivações humanas são meramente transitórias e sofrem mutações com o tempo. E de acordo
com Burton (1990:36-41), “acredita-se que pessoas que se envolvem em situações de conflito
fazem-no nos seus respectivos ambientes institucionais e sociais compulsivamente com o intuito
de satisfazer necessidades primordiais e universais”.
A teoria das necessidades básicas faz parte de um conjunto de teorias motivacionais que tentam
dar uma explicação, as motivações humanas para o conflito. Segundo Maslow (1954) 3 citado por
Ribeiro et all (s/ano: 5), necessidade é a manifestação natural de sensibilidade interna, que
desperta uma tendência a realizar uma acção ou a procurar uma determinada categoria de
objectos. Assim, segundo Gouveia e Baptista (2007:3) citando Maslow (1943) 4 as necessidades
não satisfeitas são as principais motivadoras do comportamento humano, seja de frustração,
agressividade, regressão, fixação e até retraimento.
Segundo Danielsen (2005:3), são precursores da teoria das necessidades básicas Abraham
Maslow (1954)5, John Burton (1990)6, Marshall Rosenberg (2003)7 e Manfred Max-Neef
(1993)8. Estes autores argumentam que, conflitos são causados por necessidades não satisfeitas e
a violência ocorre quando certos indivíduos ou grupos não vêm alternativos para satisfazer suas
necessidades. A aplicação desta teoria para explicar a ocorrência de conflitos sociais e políticos
deveu-se a John Burton (1990)9, que retratou como as necessidades humanas universais são,
muitas vezes, negligenciadas, levando grupos a usar violência para reivindicar seus direitos e
satisfazer suas necessidades (Danielsen, 2005:4).
Isto significa que, no caso da descoberta e exploração dos hidrocarbonetos é importante garantir
que haja uma transparência na gestão das receitas para que sejam usadas no sentido de criar
desenvolvimento, principalmente para as comunidades locais, criando postos de emprego,
habitação condigna, rede de educação, saúde etc. Além disso, é necessário que a exploração do
gás natural permita a inclusão das diversas partes interessadas (comunidades locais, partidos
3
Maslow, A. (1954). Motivation and personality. Harper, New York.
4
Maslow, A. (1943) A theory of human motivation, Psychological Review, 370-396.
5
Maslow, A. (1954) Motivation and personality, Harper, New york
6
Burton, J. (1990) Conflict: Basic Human Needs.St. Martins Press. New York.
7
Rosenberg, M. (2003) Nonviolent Communication. A Language of Life, Puddle Dancer Press, California
8
Max-Neef. M. (1993) Desarrollo a escala humana.: Nordan/REDES. Montevideo
9
Burton, J. (1990) Conflict: Basic Human Needs.St. Martins Press. New York.
13
políticos, as companhias de exploração) caso contrário, isto, pode ser motivação para situações
de conflito.
Para Rosenberg (2003)10 citado por Danielsen (2005:3), a violência é resultado de necessidades
não satisfeitas, implicando que todas acções executadas pelo homem estão direccionadas para a
satisfação das mesmas. Assim, Marshall Rosenberg e Max- Neef (1993)11 citados por Danielsen
(2005:5) concluem que, as necessidades são universais e que não se negoceiam, isto é, são
comuns a todos Homens e satisfaze-las é essencial para a sobrevivência e bem-estar do homem.
Alem disso, Burton (1990:36) acrescenta que, para a satisfação das necessidades os indivíduos
estão dispostos a usar todos meios disponíveis, isto para significar que eles podem recorrer tanto
a meios legais como extra legais incluindo a violência para assegurar a sua satisfação.
Para Azar (1990)12 citado por Nascimento (2011:5), a sobrevivência individual de um grupo
depende da satisfação das necessidades materiais, nesse sentido, a privação das necessidades
básicas torna-se fonte essencial de conflito. Todavia, a satisfação dessas necessidades nem
sempre é garantida e, sobretudo, nem sempre é garantida de forma justa e equitativa.
Consequentemente, ressentimentos resultantes da privação dessas mesmas necessidades bem
como a marginalização sistemática de certos grupos levam à que se encontrem respostas que
podem ser ou são expressas colectivamente e de forma violenta.
Azar (1990) afirma que a privação das necessidades materiais básicas de per se não resulta
natural e inevitavelmente em conflito, mas sim a incapacidade de eliminar e responder a
ressentimentos desta natureza por parte dos governos contribui para a criação de condições para
o surgimento de conflitos (Nascimento, 2011:6). Por outras palavras, isto significa que, Azar
chama-nos atenção para o facto de que a simples existência de problemas de insatisfação de
10
Rosenberg, M. (2003) Nonviolent Communication. A Language of Life, Puddle Dancer Press, California
11
Max-Neef. M. (1993) Desarrollo a escala humana.: Nordan/REDES. Montevideo
12
Azar, E. (1990), The Management of Protracted Social Conflict: Theory and cases. Aldershot: Darthmouth
Publishing Company Limited.
14
necessidades não leva automaticamente os indivíduos a violência. É preciso que haja condições
necessárias e suficientes para que a insatisfação das necessidades se expresse de forma violenta.
Maslow (1943)13 sustenta que as necessidades dos seres humanos obedecem a uma hierarquia, ou
seja, uma escala de valores a serem transpostos e ordena-as da seguinte forma: necessidades
fisiológicas, necessidades de segurança, necessidades sociais, necessidades de estima e
necessidades de realização pessoal, sendo as duas primeiras necessidades primárias e as restantes
secundárias. Por sua vez Burton (1990)14, Rosenberg (2003)15, Max-Neef (1993) 16 apresentam
uma série de necessidades (distribuição equitativa de rendimentos, reconhecimento, identidade,
segurança cultural, etc) e acreditam que nenhuma necessidade é superior a outra, mas elas
complementam-se e são essenciais para a vida humana (Gouveia e Baptista, 2004: 4).
Para efeitos deste trabalho, a teoria das necessidades básicas será usada de modo a ressaltar o
papel das necessidades não satisfeitas no comportamento humano. Porém, não será seguida uma
escala restrita da satisfação das necessidades apresentada por Maslow. Nesse sentido, a teoria das
necessidades básicas alerta-nos para facto de, se a indústria extractiva do gás não for transparente
e inclusiva com vista a satisfação das necessidades da sociedade moçambicana pode constituir
força motivadora para as populações se rebelarem, pois, as necessidades humanas são universais
e não se negoceiam.
A teoria de privação relativa, segundo Mena (2010:32), surge nos anos 1960. Esta teoria baseia-
se nas ideias proporcionadas pela teoria de Frustração-agressão mas de uma maneira mais
abrangente para explicar a tendência para uma violência política colectiva. Segundo Guzman
13
Maslow, A. (1943) A theory of human motivation, Psychological Review, 370-396.
14
Burton, J. (1990) Conflict: Basic Human Needs.St. Martins Press. New York
15
Rosenberg, M. (2003) Nonviolent Communication. A Language of Life, Puddle Dancer Press, California.
16
Max-Neef. M. (1993) Desarrollo a escala humana.: Nordan/REDES. Montevideo
15
(1990:21), a teoria de privação relativa foi desenvolvida por Ted Gurr (1970)17, para associà-la
aos casos de violência política porém, o conceito de privação relativa já fora antes desenvolvido
por autores como, por exemplo, Merton (1970)18 e Coser (1970)19.
Este facto pode-se verificar perante as discrepâncias que as comunidades locais forem perceber
no sentido de que estes têm poucos benefícios em relação há outros segmentos da sociedade. Dai
a possibilidade de politizar-se este sentimento no sentido de que as populações desfavorecidas
encontram-se marginalizadas por causa do segmento social que administra a indústria extractiva
do gás natural e, desse modo, mobilizarem-se para oporem-se a ela. “De notar que não é
necessariamente a falta absoluta de satisfação das expectativas que é o problema, mas o
sentimento de não ser permitido recursos ou possibilidades para a satisfação” (Nilsson,
2001:173).
17
Gurr, T (1970). Why Man Rebel. Princeton University Press, New Jarsey.
18
Merton, R. (1970). Teoría y Estructuras Sociales. Fundo de Cultura Económica, México.
19
Coser, L. A. (1970). Continuities in the study of social conflict. Free Press. New York.
20
Gurr, T. (1970). Why Man Rebel, Princeton University Press, New Jersey.
21
Gurr, T. (1970) Why Man Rebel, Princeton University Press, New Jersey.
16
Teoria da Frustração-Afressão
Não seria correcto concluir que os impulsos biológicos e psicológicos constituem as causas da
guerra ou da Paz. O que é possivel afirmar com maior certeza, é que constituem condiçõoes
necessárias para a emergência de descontentamentos e agressividade entre dirigentes, elites, e
massas, sentimentos que fazem conque o recurso à guerra seja uma possibilidade constante ao
longo da história. Contudo e por si próprios não constituem condições suficientes para a guerra.
O problema da guerra é antes de mais um problema de decisão política e pode ser o resultado de
processos racionais como irracionais.
Segundo Dougherty (2001: 305), os pressupostos básicos da teoria da frustração e agressão são:
a agressão é sempre uma consequência da frustração; a frustração sempre conduz a algum tipo de
agressão; e a zanga aberta e a frustração conduzem os indivíduos ao uso da violência contra
outro. “Portanto, indivíduos frustrados, facilmente, podem optar pela agressão, uma vez que a
frustração é uma condição psicológica básica para que ocorra a agressão”.
O pensamento das escolas, tradições e paradigmas das Relações Internacionais sobre a relação
entre a exploração dos recursos energéticos, segurança e conflitos ainda não possui informação
sistematizada e suficientemente clara e consolidada. Todavia, alguns representantes das escolas
de Relações Internacionais dão pontos de vista importantes, para os que pretendem estudar a
reação entre os recursos energéticos, a segurança e o conflito. Existem limitações da Teoria das
18
Raymond Aron (2002) refere que os elementos fundamentais para a definição da potência, com
capacidade de impor sua vontade à outra, são os recursos materiais disponíveis e o conhecimento
que permite transformá-los em armas. Kenneth Waltz (2002) defende que os Estados devem dar
importância estratégica aos seus suprimentos essenciais, com destaque especial para os recursos
energético, neste caso concreto, o petróleo. Robert Gilpin, na sua obra “As Terras Férteis e o
Petróleo” (1981) aponta, entre os motivos, para eclosão das guerras a conquista de recursos
importantes e importantes. Na obra “War & Change in World Politics”, aponta que uma
sociedade se desenvolve, adquirindo riqueza e poder numa escala crescente, até o ponto em que
não consegue mais progredir nos marcos da capacidade tecnológica disponível.
19
Não cabe no estreito figurino do Realismo, seja em sua vertente “clássica” (Morgenthau), seja na
sua reconstituição “estrutural” (Waltz, 2002), os assuntos de low politics que não se transformam
em high politics. Outro obstáculo à capacidade explicativa do Realismo tem a ver com a
separação absoluta entre a política interna e a política externa dos Estados. Os realistas definem a
ação dos Estados no cenário internacional a partir da conhecida metáfora das “bolas de bilhar” –
unidades maciças e rígidas, que se chocam umas contra as outras.
“Reasons of State” (1988), a relação entre os factores domésticos e os interesses externos dos
EUA, no campo dos recursos energéticos. Na sua obra, Ikenberry (1988), formula a hipótese de
que um Estado poderoso, política e militarmente, no plano internacional, porém com uma
margem de ação restrita no cenário interno, devido à existência de actores muito influentes, tende
a buscar fora de suas fronteiras a solução para problemas domésticos, tais como o da segurança
no suprimento de combustíveis. Portanto, aquisição de recursos energéticos aparece como a
busca de segurança, mas que pode degenerar em conflito inter-estatal.
A escola marxista das Relações Internacionais apresenta contribuições relevantes para o estudo
dos conflitos por recursos energéticos. A Teoria dos Sistemas-Mundo de Wallerstein (2004), o
Imperialismo de Lênin (1966) e as variantes da Teoria da Dependência Gunder Frank (1978)
apontam uma dinâmica do Sistema Internacional na qual o núcleo dos Estados capitalistas do
Norte explora os Estados periféricos do Sul, por meio da extração de suas matérias-primas
baratas, da exploração da sua força de trabalho e de uma estrutura de comércio desigual.
A escola marxista trouxe o conceito de “acumulação por espoliação”, formulado pelo geógrafo
David Harvey (2003), na obra “The New Imperialism”. A partir do conceito da “acumulação por
espoliação” é possível analisar e avaliar os processos políticos actuais de “nacionalismo de
recursos” e compreender as características da resistência popular ao controle de bens naturais
21
2.2.1. Hidrocarbonetos
Os hidrocarbonetos naturais são compostos químicos constituídos apenas por átomos de carbono
(C) e de hidrogênio (H), aos quais se podem juntar átomos de oxigênio (O), azoto ou nitrogênio
(N) e enxofre (S) dando origem a diferentes compostos de outros grupos funcionais (Ibidem).
Eles são conhecidos alguns milhares de hidrocarbonetos. As diferentes características físicas são
uma consequência das diferentes composições moleculares. Contudo, todos os hidrocarbonetos
apresentam uma propriedade comum: oxidam-se facilmente liberando calor. Os hidrocarbonetos
22
Os hidrocarbonetos naturais são compostos químicos constituídos por átomos de carbono (C) e
de hidrogénio (H), aos quais se podem juntar átomos de oxigénio (O), nitrogénio (N) e enxofre
(S) dando origem aos compostos orgânicos, classificados de acordo com seus grupos funcionais.
As diferentes características físicas são uma consequência das diferentes composições
moleculares. Contudo, todos os hidrocarbonetos apresentam uma propriedade comum: oxidam-
se facilmente libertando calor. Hidrocarbonetos líquidos geologicamente extraídos são chamados
de petróleo (literalmente “óleo de pedra”) ou óleo mineral, enquanto hidrocarbonetos geológicos
gasosos são chamados de gás natural22. Assim, gás natural é composto por uma mistura de
hidrocarbonetos leves (metano, etano, propano, butano e outros gases em menores proporções)
encontrados no subsolo. Este hidrocarboneto, é de origem fóssil e, faz parte de fontes energéticas
não renováveis (Energia e Indústria Extractiva Moçambique, 2012:6).
22
http://pt.wikibooks.org/wiki/Introdu%C3%A7%C3%A3o_%C3%A0_Qu%C3%ADmica/Hidrocarbonetos
23
OECD, Glossary of Statistical Terms: Natural Resources, OECD. Disponível em:
http://stats.oecd.org/glossary/detail.asp?ID=1740.
23
2.2.2. Conflito
Existem várias formas de definir o conflito. O conflito é parte inerente da nossa existência, isto é,
está sempre presente em todas as esferas da nossa vida (individual, familiar, trabalho, grupos,
etc.) e que muitas vezes é entendido como uma situação negativa. Todavia, é importante salientar
que o conflito também tem uma função social positiva, pois, pode oferecer possibilidades para o
crescimento mútuo, melhorar a relação e a situação das partes envolvidas. Isto significa que o
conflito pode manifestar-se tanto de forma violenta e não violenta com vista, em última
instância, a satisfação de interesses de várias partes envolvidas. Deste modo, Boniface
(2008:169) designa conflito uma oposição de interesses que não se traduz forçosamente pelo
emprego da força armada, isto é, conflito não é necessariamente uma situação que envolve as
forças armadas, mas também pode ser situações de convulsões, greves, boicotes, petições,
desobediência civil, demissões voluntarias. É necessário administrar os conflitos para que as
partes não alcancem o nível de violência física, directa, pois, as consequências (mortes, despesas
económicas acentuadas) são muito desastrosas.
Assim, para Machado e Lourenço (2012), o conflito deve ser entendido como um processo
dinâmico, com níveis de intensidade crescente ao longo de um continuum, desde situações
cooperantes até situações violentas. Para as Nações Unidas (2001:4), o conflito surge quando
indivíduos ou grupos de pessoas, com o intuito de satisfazer as suas necessidades e interesses,
perseguem objectivos que são percebidos como incompatíveis. Por seu turno, a Internationale
Weiterbildung und Entwicklung (2008:21), entende conflito como uma diferença expressa entre
pelo menos duas partes interdependentes que percebem que, os seus objectivos e interesses são
incompatíveis e que, a outra parte os impede de atingir os seus objectivos.
Com efeito, a definição de conflito congrega certo consenso nos vários autores que o definem.
Este consenso reside no facto de considerarem o conflito como uma divergência de pontos de
vista ou interesses entre dois ou mais actores na prossecução de seus objectivos sem
necessariamente fazer o uso da força armada. Assim, para este trabalho, a definição de conflito é
24
pertinente, pois, mostra-nos as causas e as formas de manifestação social que podem advir da
insatisfação das necessidades básicas e o sentimento de privação relativa. É importante destacar
que o conceito de conflito deve ser entendido no contexto das relações entre diversos segmentos
e grupos de interesse dentro do estado (indivíduos, estado e CMN‟S), em que a conflitualidade
não se traduz necessariamente pelo uso da força armada pelas partes envolvidas, por exemplo,
rebelião e guerra civil, mas também em situações de convulsões sócias, como greves que, devem
ser entendidos como conflitos.
Os conflitos armados internacionais conhecidos também por conflitos inter-estatais são aqueles
que opõem dois ou mais Estados (Comité Internacional da Cruz Vermelha (2008:1). Por sua vez
Cavalcante (2008:1), entende conflito ou litígio internacional como todo desacordo sobre certo
ponto de direito ou de facto, uma contradição ou oposição de teses jurídicas ou de interesses
entre dois Estados. No entanto, dado o reconhecimento da existência de novos actores no sistema
internacional, é importante enfatizar que, embora os autores se refiram a um conflito
24
Wallensteen, P. (2002) Understanding Conflict Resolution: War, Peace and the Global System, London, Sage
Publications.
25
Os conflitos armados não internacionais também conhecidos por conflito intra-estatal são
aqueles que opõem as forças governamentais e grupos armados ou entre esses grupos armados
somente (Comité internacional da Cruz Vermelha, 2008:1). Por seu turno, Boniface (2008:169)
define conflitos intra-estatais como aqueles que se desenrolam no interior das fronteiras de um
estado constituído, isto é, um conflito armado declarado no seio de um Estado e que opõe as suas
autoridades a um ou mais agrupamentos insurreccionais (conflitos étnicos, rebeliões, guerra civil,
etc). A título de exemplo a guerra civil em Moçambique entre o Estado e a Resistência Nacional
de Moçambique. Nos dois tipos de conflitos, armados internacionais (inter-estatais) e armados
não internacionais (intra-estatais) salve ressaltar que, mesmo que o comité internacional da cruz
vermelha tenha enunciado situações armadas, os conflitos podem ser não armados.
2.2.3. Desistabilização
passando por revoltas, revoluções, terrorismo, guerra golpes de Estados e outras acções que põe
em causa um determinado governo.
A resolução de conflitos, segundo a ONU (2001:7) é um processo que implica aceitar que o
conflito pode ser resolvido quando são abordadas as suas causas essenciais. O conceito está
associado a uma abordagem centrada na identificação das causas profundas e na procura de
25
Boulding, Kenneth (1962), Conflict and Defense, Harper & Brothers, New York.
26
Burton, John (1969), Conflict and Comunication, MacMilian, London.
27
27
Kraybill, Ronald S. et al. (2001), Peace Skills, Manual for Community Mediators, Jossey Bass, San Francisco.
28
violentas, (ONU, 2001:7-8). Ela implica mudanças profundas na estrutura das sociedades e das
instituições; é preciso criar novas percepções sobre outras pessoas, fenómenos e ambiente
político, económico e cultural que nos cerca de perto e de longe.
CAPÍTULO 3
METODOLOGIA DA PESQUISA
A pesquisa permitiu uma maior familiaridade com o tema pesquisado, visto que este ainda é
pouco conhecido, pouco explorado entre os estudantes do ISCTAC. Nesse sentido, foi necessário
levar a cabo um processo de sondagem, com vistas a aprimorar ideias, descobrir intuições e
personalidades que trabalham, pesquisam e escrevem sobre questões relacionadas com a
descobrta e exploração de recursos e sua ligação com situalções de conflitos e desistabilização
nas suas várias vertentes (social, política, económica, militar e de outra índole). Pode-se afirmar
que o presente trabalho assume a forma de um estudo de caso que procura aprofundar os
contornos da descoberta e exploração do gás natural em Moçambique e a sua possibilidade de
degenerar em conflitos e desistabilização.
H1: A não satisfação das necessidades básicas, bem como, o sentimento de privação
relativa resultante do processo da descoberta e exploração dos hidrocarbonetes, em
Moçambique, podem motivar a eclosão de conflitos e desistabilização no país.
H0: A não satisfação das necessidades básicas, bem como, o sentimento de privação
relativa resultante do processo da descoberta e exploração dos hidrocarbonetes, em
Moçambique isoladamente não podem motivar a eclosão de conflitos e desistabilização
no país.
Método Indutivo: este método foi proposto pelo empirista Bacon, Hobbes, Locke e
Hume. Considera que o conhecimento é fundamentado na experiência, não levando em
31
Técnica Documental: relativamente a esta técnica, Bell (1997:91) afirma que a técnica
documental consiste na recolha de informações em fontes secundárias como arquivos
públicos, estatísticas oficiais, censos, livros, trabalhos elaborados, jornais e revistas e
constitui a interpretação dos acontecimentos dum período baseado nas fontes primárias.
A pesquisa Documental é também chamada pesquisa de gabinete. Trata-se da pesquisa
que efetua tentando resolver um problema ou adquirir conhecimentos a partir do emprego
de informações retiradas de material gráfico e sonoro. O objetivo da pesquisa documental
é recolher, analisar e interpretar as contribuições teóricas já existentes sobre determinado
fato, assunto ou idéia. De acordo com Lakatos e Marconi (1996:57), tais informações são
provenientes de órgãos que as realizaram e englobam todos os materiais escritos ou não,
que podem servir como fonte de informação para a pesquisa científica. Podem ser
encontrados em arquivos públicos e particulares, assim como em fontes estatísticas
compiladas por órgãos oficiais e particulares. Incluem-se aqui como fontes não escritas:
fotografias, gravações, imprensa falada (rádio e televisão), desenhos, pinturas, canções,
objetos de arte, folclore etc. Esta técnica permitiu fazer uma colecta de dados pertinentes
a pesquisa com relação a conflitos relacionados com a exploração de recursos energéticos
e, sobre o processo de evolução da indústria extractiva do gás natural em Moçambique.
Para o processo de tratamento dos dados recolhidos, recorreu-se ao método qualitativo de modo
a permitir uma análise bastante proveitosa dos dados colhidos em manuais, jornais, livros e outro
material digiral sobre os contornos das descobertas e exploração de hidrocarbonetos, em
Moçambique, e que possibilitou compreender e interpretar os contornos do processo e sua
relação com a potencialidade para a eclosão de conflitos e desistabilização. Os dados foram
34
CAPÍTULO 4
A nível intra-estatal, os recursos energéticos foram, durante muito tempo, utilizados como
instrumento para depor, manter e colocar líderes ou governo, dependendo das alianças
estabelecidas, por um lado. Por outro lado, a descoberta e a exploração dos recursos energéticos
trazem elevadas expectativas nas populações, uma vez que eles podem trazer o bem-estar,
desenvolvimento e segurança económica das populações e dos Estados. Todavia, há uma enorme
apreensão e receios quanto aos efeitos negativos que a exploração e gestão dos recursos possam
ter nas populações e nos Estados. A apreensão referida tem o seu móbil nas terríveis experiências
e conflitos que Estados como República Democrática do Congo, Nigéria, Sudão, Angola, Serra
Leoa e outros, ricos em minerais energéticos viveram ou têm vindo a viver isto, apesar de
existirem excepções neste universo de Estados como Austrália, Botswana, Canada e Noruega.
36
Na maldição dos recursos, num conjunto de elementos que caracterizam este processo, os
conflitos violentos intra-estatais é que representa grande preocupação dos vários autores
principalmente, em países em desenvolvimento como Moçambique. Para Silveira (2008) é aceite
que os recursos naturais podem tanto iniciar como manter um conflito, em torno do acesso,
distribuição e direitos de posse sobre os recursos naturais bem como os lucros que podem servir
de sustento para os conflitos. O risco para a ocorrência de conflitos é acentuado quando se trata
de recursos energéticos por serem de grande valor económico e até político.
Por outras palavras, a exploração de recursos energéticos é uma condição necessária para a
eclosão de conflitos, mas não é suficiente. No processo de descoberta e exploração de recursos
energéticos deve haver uma interacção de diversos factores que contribuem neste caso para a não
satisfação das necessidades básicas, surgimento do sentimento de privação relativa e frustração
que conduz os indivíduos a agressão. Para tal são desenvolvidos ao longo do trabalho alguns
factores chave que, em interacção, contribuem para explicar a relação causal entre a exploração
de recursos energéticos e os conflitos nomeadamente: localização dos recursos naturais,
governação, as empresas que exploram os hidrocarbonetos em Moçambique e o meio ambiente.
Para explicar a questão da localização dos recursos naturais e conflitos Billon (2001:33)
discrimina os recursos pela sua proximidade do centro do poder em recursos próximos e
distantes. Isto é quanto mais os recursos localizam-se longe do centro do poder maior são as
possibilidades de estes serem capturados do que aqueles que se encontram encrustados do centro
do poder.
Por outro lado, Bannon e Collier (2003:4) afirmam que, quando as zonas rurais produzem
produtos primários de alto valor económico relativamente fáceis para a exploração e que,
necessitam de pouca tecnologia para sua extracção (garimpeiros), transporte e um mercado
acessível a nível internacional tornam-se alvo fácil para que um grupo possa se apoderar dos
mesmos. A título de exemplo, temos pedras preciosas e os diamantes aluviais em que, no caso de
Angola (1975-2002) e Serra Leoa (1991-2000) alimentaram por muito tempo guerras internas
pelo controlo dos territórios que possuíam esses recursos.
Todavia, quando são produtos primários como o gás natural e o carvão mineral, que necessitam
de alta tecnologia para sua extracção, as ameaças de conflito focam-se nas infra-estruturas como
por exemplo, os gasodutos de transporte do gás natural, linhas férreas caso da província de Tete.
A título de exemplo os oleiros reacentados em Tete barricaram a linha férrea impedindo o
transporte do carvão mineral.
A probabilidade do gás natural e o carvão mineral constituir factor de conflito é maior na zona de
Temane, Pande e Moatize, onde esses recursos energéticos são explrado onshore e, portanto, de
fácil acesso a infra-estruturas seja por actos de sabotagem ou raptos de funcionários das
companhias de exploração desses recursos energéticos. Esta arma de guerra com relação ao gás
natural é menos propensa de ser usada, no norte, onde o recurso se localiza em offshore, alto
mar, longe e de difícil acesso. A única forma viável de atingir esses empreendimentos seria por
via da via do mar ou pirataria marítima. Adicionalmente, a natureza destes recursos que são de
difícil exploração e comercialização impede que sejam usadas como amas de guerra.
38
Durante muito tempo, os recursos energéticos estratégicos foram utilizados como mecanismos e
desculpas para colocar, manter e derrubar regimes políticos ou governos, dependedo das alianças
feitas pelos Estados ou grupos de interesses ou rebeldes, com Estados fortes no Sistema
Internacional, sobretudo os Estados e corporalções multinacionais Ocidentais. Estes recursos
serviram para fomentar guerras civis, de desestabilização, intervenções militares, entre outras
formas de exportação da violência política e supostas punições. Portanto, por causa de recusos
energéticos, em vários Estados foram fomentadas sessessões de territórios, para facilitar o
processo de exploração de recursos, como aconteceu na RDC – República Democrática do
Congo e na Biafra, onde Moses Tshombe, líder da Província de Shaba, instigado por
mineradoras estrangeiras de cobre e diamente, tentou uma situação de sessessão, em 1960; e a
petrolífera francesa ELF-Aquitaine incitou o Coronel Chukuemaka Odumegwu Ojukwu,
governador militar de Biafra a fazer o mesmo.
O controlo do sector dos recursos naturais pela elite dominante deixa poucos espaços para
acumulação de riqueza para aqueles que não estão sob protecção estatal e, quando se verifica um
gap entre os governantes e os governados em termos de riqueza e poder como advoga a teoria de
privação relativa de que, quando o grupo desfavorecido quando faz uma comparação da sua
condição em relação aos outros e vislumbra uma grande discrepância que mesmo com a
exploração do gás natural a sua situação não muda, aumenta a frustração nos grupos
39
marginalizados, que só vêem nas mudanças políticas o único meio para satisfazer as suas
aspirações ou para expressar as injustiças (Billon, 2000:25).
À medida que a exploração de recursos energéticos como o carvão mineral e o gás natural se
torna a actividade económica dominante dum país e a sua principal actividade de exportação, os
governos ficam dependentes das receitas desses recursos. Esta dependência das receitas afecta de
forma negativa a capacidade dos Estados e a sua aptidão para governar. Quanto mais gastam,
mais precisam das receitas desses recursos (Gary e Karl, 2003:11). Assim, no esforço de capturar
os rendimentos provenientes da exploração dos recursos energéticos, os governos
sistematicamente adoptam leis/regras que previnem a prestação de contas ao enfraquecer
instituições governamentais concorrentes, como os departamentos de gestão e a justiça, através
de amparo político, intimidação e interferências na legislação (Billon, 2001:12).
Por seu turno, Banks (2004:3) defende que governos que recebem maior volume de receitas
como resultados da exploração de recursos naturais tendem a ser mais corruptos e capazes de
usar esses rendimentos para reprimir os oponentes e quando o desequilíbrio dos custos e
benefícios da exploração é percebido pelas populações locais aumenta o risco para o conflito.
Isto para significar que, se as receitas de exploração dos hidrocarbonetos, nesse caso o gás
natural, pode vir provocar maiores índices de corrupção inibira os governantes de realizarem
actividades com vista à satisfação das necessidades da população como o provimento de bens
públicos (saúde, educação, infra-estruturas sociais e económicas bem como o combate a
pobreza).
A militarização associada a uma liderança autoritária dos países Estados ricos em recursos
naturais de grande valor económico contribui em grande parte para a eclosão de conflitos. Estes
Estados tendem a despender mais em meios militares como forma de se manterem no poder para
melhor controlarem as riquezas dos recursos. Para Gary e Karl (2003:23), estes tipos de regimes
proíbem organizações que dão voz aos pobres, que criam uma sociedade civil informada e que
permitem ao povo influenciar a gestão e distribuição da riqueza advinda da exploração desses
recursos naturais. A militarização do estado neste caso vai servir como meio para a protecção do
regime vigente evitar que haja oposição, mas também pode ser um meio de dissuadir as
pretensões de actores externos que queiram por em causa a segurança não do estado mas sim do
regime vigente.
Segundo a análise feita pelo Biggs (2012: 43,44), aos indicadores de governação em
Moçambique entre 1996-2010, revelam que a qualidade institucional é relativamente pobre em
quase todas as categorias de governação, indicando de modo geral uma substancial fraqueza
institucional e como tal, países que exploram recursos próximos como o gás natural e o carvão
mineral, facilmente, controlados e geridos pelos governos representam um problema particular
nos países onde há uma fraqueza institucional.
41
De acordo com o Transparency International (2011), que analisa os níveis de corrupção no sector
público, Moçambique em 2011 ocupou a posição 120 num universo de 183 países analisados.
Este dado demonstra uma grande fraqueza institucional no controlo dos fundos públicos e, com
os actuais desenvolvimentos da indústria extractiva de recursos energéticos teme-se que esta
situação piore devido as grandes receitas que este sector pode trazer para Moçambique se não for
reforçada a capacidade institucional para melhor controlo das receitas e permitir uma prestação
de contas por parte das pessoas que gerem este processo.
Como a maior fonte de emissões, a queima de gás natural produz monóxido de carbono, óxidos
de nitrogênio (um componente principal do smog), e óxidos de enxofre (a principal causa da
chuva ácida). Quando não é queimado, o gás natural não processado é geralmente lançado na
atmosfera, contendo grandes quantidades de metano, um gás que influencia no processo de
mudança climática. Além disso, quando o gás natural é extraído, ele geralmente contém
quantidades significativas de sulfeto de hidrogênio, uma substância tóxica que é potencialmente
fatal (Open Society Institute, 2005:111- 113).
Em relação ao carvão mineral este é considerado um dos recursos energeticos que mais polui o
ambiente. Segundo Jenik Radon em entrevista concedida a revista Energia e Indústria Extractiva
Moçambique (2012:6), no caso do carvão que se encontra no subsolo e precisa ser extraído,
ainda não existe tecnologia capaz de fazê-lo com a necessária perfeição. Em vários países
produtores de carvão, a poeira resultante desta operação contamina o ar que respiramos,
contamina o mar, e a produção deste recurso poder consequências graves e negativas, não a
curto, mas sim em longo prazo, para a saúde e para o ambiente.
Desde o período da Revolução Industrial, os recursos energéticos tem sido um dos elementos
importantes para a economia mundial. Deste modo, a exploração dos mesmos afigura-se como
sendo um dos factores-chave que os Estados capitalizam para promover o seu desenvolvimento e
garantir a sua segurança económica. Todavia, há casos em que a exploração dos recursos
promoveu conflitos e insegurança a vários níveis. Neste contexto, há uma forte ligação entre a
exploração de recursos e a insegurança dos Estados.
segurança, as quais abrangem o domínio político, militar, económico, societal e ambiental 28,
numa concepção integrada.
A segurança económica foi à primeira discussão não militar da segurança a mercer atenção dos
pesquisadores e políticos, em particular, sobretudo depois dos choques petrolíferos de 1973. Foi
a partir do auge das confrontações geopolíticas e geoestratégicas do período da Guerra Frica que
se acentuou e se generalizou a nocação de que os highst stakes se deslocavam para o campo
económico: “é impossível falar da segurança nacional se se falar da economia”. A partir desde
período, tornou-se incontestável que a dimensão económica e as respectivas ameaças e não os
mais familiares aspectos militares e políticos que passaram a afectar as estratégias, disputas e
acção dos Estados (Kimmit, 1991:398-399). Portanto, estamos perante o desenvolvimento da
ideia de que a paz e a segurança estão intimamente ligadas às questões da estabilidade
económica e do desenvolvimento económico e social.
Os recursos energéticos constituem um lado, factor de segurança e, por outro, insegurança dos
Estados. A exploração de recursos constitui uma oportunidade para a colecta de divisas por parte
dos Estados, todavia, vários factores podem concorrer negativiamente para o alcance destes
objectivos. De acordo com Cillier (2001), “o sector privado pode jogar um papel chave e
significante na redução da pobreza, mas os interesses económicos podem criar situações de
conflito ou prolongar os mesmos”. Neste contexto, as multinacionais e complexos minerais
energéticos, conhecedores profundos da actividade e das fragilidades dos Estados, podem por em
causa toda uma esperaça, espectativas e esforços de transformar os recursos energéticos em
factores de crescimento e desenvolvimento económico.
28
The idea [of national security] cannot be properly comprehended without bringing in the actors and dynamics
from the societal, economic and environmental sectors. The concept of security binds together these levels and
sectors so closely that it demands to be treated in an integrative perspective”, (Buzan, 1983 [1991]: 363). “Military
security concerns the two-levels interplay of the armed offensive and defensive capabilities of States, and States
perceptions of each other’s intentions. Political security concerns the organizational stability of States systems of
government and the ideologies that give them legitimacy. Economic security concerns access to the resources,
finance and markets necessary to sustain acceptable levels of welfare and State power. Societal security concerns
the sustainability, within acceptable conditions for evolution, of traditional patterns of language, culture, and
religion and national identity and custom. Environmental security concerns the maintenance of the local and the
planetary support system on which all other human enterprise depend” (Buzan, 1983 [1991]:19-20).
44
Existem Estados que conseguiram colocar o seu gás natura ao serviço da segurança económica
através da sua aplicação na economica local, para além de usá-lo para apioar iniciativas de
desenvolvimento socio-económico, redução da pobreza e uso de instrumentos fiscas para evitar
os problemas da “maldição dos recursos”.
45
CAPÍTULO 5
Moçambique é um Estado situado na região Austral de África. O Estado faz fronteira a Norte
com Tanzânia; Oeste com Zimbabué, Zâmbia e Malawi; Sul com África do Sul e a Suazilândia;
e Este é banhado pelao Oceano Índico; possui uma extesão territorial e 799.380km²; a sua maior
cidade e capital politica e económica é Maputo, seguida da Cidade da Beira, no Centro, e Cidade
de Nampula, no Norte (Enciclopédia Encarta, 2002, CD-ROM).
Moçambique é uma República Presidencialista. O Governo é formado pelo partido político com
a maioria parlamentar. As eleições são realizadas a cada cinco anos e é um Estado de Direito,
baseado no pluralismo de expressão, na organização política democrática, no respeito e garantia
dos direitos e liberdades fundamentais do Homem (Constituição da República, 2004).
Moçambique foi uma colónia portuguesa. A luta de libertação nacional iniciou em 1962 e foi
liderada pela Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO). Depois de uma guerra de
46
A África do Sul do Apartheid e o regime minoritário de Ian Smith muito cedo comprometeram a
independência efectiva de Moçambique e de alguns países da região. Emergiu uma guerra que
durou 16 anos entre a RENAMO e o Governo de Moçambique que culminou com os Acordos
Gerais de Paz de Roma, em 1992. Face as políticas agressivas da África do Sul do Apartheid e o
regime minoritário de Ian Smith, a nível regional surgiu a Linha da Frente (1970), SADCC
(1980) e a SADC: 1992 (Gaspar e Zeca, 2012:10-12).
A génese da política externa moçambicana encontra-se nas acções realizadas pela Frente de
Libertação de Moçambique, FRELIMO, quando estabeleceu várias parcerias de cooperação com
diferentes Estados e organizações, com o intuito de obter apoios para a luta armada de libertação
nacional. Ela esteve sempre assente no princípio de “fazer mais amigos, evitar inimigos e
promover parcerias”29 (Resolução nº 32/2010, do Conselho de Ministros de Moçambique).
29
A Política Externa de Moçambique guia-se pelos princípios fundamentais consagrados nos Artigos 17 a 22 da
Constituição da República (2004) e na Resolução nº 32/2010, do Conselho de Ministros de Moçambique de 27 de
Julho, e tem os seguintes princípios: estabelecimento de relações de amizade e cooperação com outros Estados, na
base dos princípios de respeito mútuo pela soberania e integridade territorial, igualdade, não interferência nos
assuntos internos e reciprocidade de benefícios; observância e aplicação dos princípios da Carta da Organização das
Nações Unidas e da Carta da União Africana; solidariedade para com a luta dos povos e Estados africanos, pela
unidade, liberdade, dignidade e direito ao progresso económico e social; busca e o reforço das relações com Estados
empenhados na consolidação da independência nacional, da democracia e na recuperação do uso e controlo das
riquezas naturais a favor dos respectivos povos; luta pela instauração de uma ordem económica justa e equitativa nas
relações internacionais; apoio e solidariedade com a luta dos povos pela libertação nacional e pela democracia;
concessão de asilo aos estran-geiros perseguidos em razão da sua luta pela libertação nacional, pela democra-cia,
pela paz e pela defesa dos direitos humanos; manutenção de laços especiais de amizade e cooperação com os países
da região, com os países de língua oficial portuguesa e com os países de acolhimento de emigrantes moçambicanos;
prosseguimento de uma política de paz, em que só recorre-se à força em caso de legítima defesa; defesa e primazia
da solução negociada dos conflitos; defesa do princípio do desarmamento geral e universal de todos os Estados; e
contribuição para a transformação do Oceano Índico em zona desnuclearizada e de paz.
47
A guerra dos 16 anos, os acordos Gerais de Paz, assinados em 1992 e as diversas transformações
ocorridas no sistema internacional ao longo do tempo edificarm e consolidaram a posição de
Moçambique no concerto das nações e actualmente, a política externa de Moçambique tem como
visão e missão a defesa do interesse nacional, fazer mais amigos e diversificar parcerias no
mundo, contribuir para a paz e o progresso da humanidade, projectando sempre o bom nome e a
boa imagem de Moçam-bique na arena internacional; e a implementação de uma acção
diplomática proactiva com vista a contribuir para a consolidação da paz e estabilidade, a
erradicação da pobreza, a promoção da democracia e dos direitos humanos e o desenvolvimento
sustentável em Moçambique, na África e no Mundo. Moçambique é membro de várias
organizações internacionais como SADC, CPLP, PALOP, União Africana; Commonwealth;
Organização da Conferência Islâmica; Organização das Nações Unidas (Ibidem).
Como recursos naturais, Moçambique possui carvão, tântalo, titânio, mármore e gás natural. As
reservas de carvão são superiores a 10 mil milhões de toneladas, enquanto que as reservas de
tântalo ocupam o primeiro lugar no mundo. Apesar da maioria das minas ainda não estarem
exploradas, se as empresas chinesas conseguirem conquistar uma fatia da produção o mais cedo
possível, o futuro será prometedor. Além disso, estando contígua à República da África do Sul, a
maior economia de África, os investidores em Moçambique podem também explorar este
mercado de grande consumo. Os principais minérios que abundam no país são: Carvão, Sal,
48
30
http://www.aciml.org.mo/por/psc_mozambique.htm, acessado em Junho de 2014.
49
Os projectos de capital intensivo, caso do gás natural e o carvão mineral, podem exigir
reassentamentos de pessoas, situação que é considerada socialmente e economicamente
perturbadora pelo facto de, as companhias petrolíferas não conseguirem proporcionar
compensações adequadas pela desapropriação da terra bem como outras experiências negativas
que afectam as comunidades locais no processo de reassentamento (Open Society Institute,
2005:130). No caso do Rovuma, são inúmeros os desentendimentos entre os pescadores e as
multinacionais (dado que a prospecção offshore implica a vedação do acesso dos pescadores às suas
zonas tradicionais de pescaria) e entre camponeses e as multinacionais (dado que a pesquisa onshore
obriga ao afastamento das comunidades locais das suas zonas de cultivo, habitualmente mais fértéis,
para outras zonas, muitas vezes menos férteis).
Além disso, este tipo de projectos por serem, de capital intensivo, impactos na geração de empregos é
mínimo. Este facto cria falsas expectativas sobre os empregos que um projecto trará. Quando esses
empregos não se materializam, tensões entre as companhias, comunidades locais e ressentimento
entre aqueles que não possuem emprego para com os poucos que o possuem alimentam disputas
dentro da comunidade, pois, as suas expectativas em relação ao emprego estariam frustradas (Open
Society Institute, 2005:133). A quebra da empregabilidade aquando da fase do funcionamento da
50
indústria pode deixar florescer o sentimento de privação relativa, pois, estas comunidades estando
nas áreas junto à indústria não se sentirão beneficiados com o projecto.
Esc.Maputo 32 17 49 11 4 15
Quadro, acima, ilustra-nos uma situação em que na fase de implantação do projecto grandes
empregos são gerados, isto é a mão-de-obra é intensiva. Todavia, na fase operacional, verifica-se
uma situação amplamente contraria a inicial, isto é, as empresas são obrigadas a dispensar o
excesso de mão-de-obra que não tem qualificação para integrar a fase operacional admitindo que,
funciona com base em tecnologias de ponta. Assim, verifica-se que num país como Moçambique
com grandes défices de mão-de-obra qualificada poucos ou nenhuns funcionários nacionais
como ilustra a fase de operação são integradas.
No que concerne à introdução do gás natural na economia nacional, Perú, Indonésia e Trindade e
Tobaco fazem parte dos exemplos paradigmáticos neste campo. De acordo com o Plano Director
de Gás Natural para Moçambique (2012:29-30):
Perú tem sido muito bem-sucedido na introdução do gás natural na sua economia,
devido ao seu nível de desenvolvimento económico relativamente elevado e ao facto
da produção do gás estar situada em terra firme, exigindo a necessidade de um
gaseoduto para alcançar a costa e a construção do gaseoduto foi visto como um
suporte económico do desenvolvimento e incentivo para o desenvolvimento dos
pricipais campos de gás; Trindade de Tobaco conseguiu uma grande deslocação da sua
51
economia para as indústrias baseadas no gás, onde nos últimos cinco anos, o sector do
petróleo e do gás contribuiu com mais de 70.0% para os ganhos cambiais, 40.0% para
o PIB, 50.0% para receitas do governo e 89.0% para ganhos com exportações; por
último, Indonésia, inicialmente exportou o seu gás para mercados como Japão, Correia
do Sul e Taiwan, mas o declínio da produção de petróleo fez com que o Estado se
tornasse num importador deste produto, em 2004, fazendo que com se dinamizasse a
promoção do uso do gás natural a nível doméstico.
Portanto, as experiências de Perú, Indonésia e Trindade e Tobaco demostram que para que o gás
natural dinamize a economia nacional, é necessário que haja um conjunto de pré-requisitos que vão
desde a necessidade de construção de gaseodutos, número considerado de clientes e consumidores e
uma capacidade de produção e consumo doméstico do produto.
Na Nigéria, o governo levou a cabo vários esforços para prestar apoio social e
económico na região do Delta do Níger, zona de produção de petróleo e gás natural,
palco de muitos conflitos. Em 2000, foi criada a Niger Delta Development
Corporation (NDDC) que desenvolveu um projecto directório para a região, através de
um processo participativo e de base alargada; todavia os seus projectos eram feitos
através de contratações externas, com custos altos, poucos dos quais concluídos e
outros não iniciados, o que levantava problemas ligados à corrupção, falta de
transparência, insufiência de consulta aos beneficiários, entre outos aspectos. Mas,
neste caso, as empreas envolvidas no processo de exploração procuraram-se engajar
mais com as comunidades através de desenvolvimento de infra-estruturas, formação
de competência, formaçaõ e gestão de negócios, saúde, educação e agricultura. Na
Indonésia, o sector do gás e petróleo apresentou-se como um veículo essencial para o
desenvolvemento económico, através da formação profissional e em serviços que as
empresas prestam os residentes ou que eram financiadas pelo governo com receitas
provenientes da actividade petrolífera.
52
No caso nigeriano e indonesio, pode-se constatar que a redução da pobreza e outras iniciatvias de
promoção do desenvolvimento social e económico associadas com as áreas de educação, saude e
agricultura são da responsabilidade principal dos governos e que são financiadas pelas receitas
provenientes da indústria extrativa do gás e petróleo e os esforços das empressas são mais
direccionados para as actividades ligadas à formação e desenvovlimento das comunidades locais,
uma espécie de externalidades positivas da actividade de exploração. Portanto, para que esse
processo seja fecundo, há necessidade dum quadro institucional que funcione com base na boa
governação, transparência e participação dos vários segmentos nos processos de tomada de
decisão sobre todo o ciclo de exploração dos recursos.
Para que o processo de exploração de recursos energéticos contribua para a segurança económica
dos Estados, há necessidade de criar-se um quadro funcional de processos nas áreas de gestão
financeira e fiscal, como forma de melhorar as condições fiscais e económicas dos Estados e
evitar situações de “maldição dos recursos”31, doença holandesa”32 ou “paradoxo da
abundância”33. De acordo com o Plano Director de Gás Natural Para Moçambique (2012:32-33):
31
É uma expressão usada para caracterizar os riscos que correm os países pobres onde se descobrem recursos
naturais objeto de cobiça internacional. A promessa de abundância decorrente do imenso valor comercial dos
recursos e dos investimentos necessários para concretizá-lo é tão convincente que passa a condicionar o padrão de
desenvolvimento económico, social, político e cultural. Os riscos desse condicionamento são, entre outros:
crescimento do PIB em vez de desenvolvimento social; corrupção generalizada da classe política que, para defender
os seus interesses privados, se torna crescentemente autoritária para se puder manter no poder, agora visto como
fonte de acumulação primitiva de capital; aumento em vez de redução da pobreza; polarização crescente entre uma
pequena minoria super-rica e uma imensa maioria de indigentes; destruição ambiental e sacrifícios incontáveis às
populações onde se encontram os recursos em nome de um “progresso” que estas nunca conhecerão; criação de uma
cultura consumista que é praticada apenas por uma pequena minoria urbana, mas imposta como ideologia a toda a
sociedade; supressão do pensamento e das práticas dissidentes da sociedade civil sob o pretexto de serem obstáculos
ao desenvolvimento e profetas da desgraça. Em suma, os riscos são que, no final do ciclo da orgia dos recursos, o
país esteja mais pobre econômica, social, política e culturalmente do que no seu início (Santos 2012).
32
O termo “Dutch Disease” foi criado pela revista Economist, em 1977, ao analisar os inesperados factos que
ocorriam na economia holandesa da época como resultado, da exploração do petróleo. O produto cresceu
lentamente, a inflação aumentou, o desemprego cresceu e mesmo as exportações de produtos manufacturados
decresceram significativamente (Brito, s/ano:spag). A doença holandesa é uma falha de mercado que atinge todos os
países em desenvolvimento que dispõem de recursos naturais abundantes e baratos, fornecendo uma renda que não
decorre da produção mais eficiente, mas de diferenciais de produtividade originados nesses recursos. Como
resultado, a taxa de câmbio que equilibra a conta corrente é mais apreciada do que a que torna viável a produção de
bens comercializáveis que empregam tecnologia no estado da arte. Dependendo da gravidade da doença holandesa,
ela pode inviabilizar completamente a indústria de um determinado país.
33
O Paradoxo da abundância refere‐se a relação inversa entre a abundância de recursos naturais e crescimento
económico e bem‐estar, explicada a partir de quatro aspectos principais: “doença holandesa”, investimentos,
políticas económicas e instituições, onde a qualidade institucional detremina se a exploração dos recursos naturais
pode proporcionar bênção ou maldição (Bucuane, 2011:14-18).
53
Os ganhos provenientes da exploração de recursos podem ser um factor importante para garantir
a segurança económica dos Estados, desde que os mesmos sejam usados para finaciar
orçamentos do Estado, aculterar situações e orcilação dos mercados, finananciar projectos e áreas
relavantes do desevolvimento socio-económicos como agricultura, saúde, educação, entre outros
através de rendimentos provenientes da actividade. Esse processo deve ser acompanhado por
criação de instituição formação de recursos humanos profissional, para além da necessidade de
um quadro legal acompanhado pela boa governação.
Os recursos energéticos são factor de segurança económica quando são estatais e toda
a cadeia ciclo de produção seja controlada e deitidos na maioria pelo Estado, como
acontece na maioria dos Estados do Médio Oriente, Rússia, Venezuela ou México, por
exemplo. O controlo estatal da exploração de recursos energéticos melhora a
componente da sua segurança energética e aumenta, em certa, medida a sua
54
Bacía do Rovuma
Empresa Percentagem
ENH 15.0%
ÁREA Onshore PTTEP 10.0%
Anadarko 35.7%
Maurel & Prom 24.0%
Went Worth 15.3%
ENH 15.0%
PTTEP 8.5%
Anadarko 36.5%
ÁREA 1 PTTEP 8.5%
Mistul 20.0%
BPRL 10.0%
Videcon 10.0%
ÁREA 2 & 5 ENH 10.0%
Statoll 65.0%
Tullow Oil 25.0%
ÁREA 3 % & ENH 10.0%
Preonas 90.0%
ÁREA 4 ENH 10.0%
Galp Energia 10.0%
ENI 70.0%
Kogas 10.0%
De acordo com os dados patentes no quadro, acima, pode-se notar que as participações de
Moçambique nas concessões cedidas rondam entre os 15.0% e 10.0%, contras situações em que
55
a Petronas aparece com 90.0%, a ENI com 70.0% e a Statoll com 65.0%, valores muito acima
dos detenntore real dos recursos.
Bacía do Rovuma
Pande e Temane Empresa Percentagem
(PSA) ENH 0%
Sasol 100.0%
Pande e Temane (PPA) ENH 25.0%
IFC 5.0%
Sasol 70.0%
ÁREA 16 & 19 ENH 15.0%
Sasol 50.0%
Petronas 35.0%
Baía de Sofala ENH 15.0%
Sasol 85.0%
ÁREA M-10 ENH 15.0%
Petronas 42.5%
Sasol 42.5%
Buzi ENH 30.0%
Kalila 70.0%
De acordo com os dados patentes no quadro acima, pode-se notar que, nas diversas concessões,
Moçambique detem percentagem entre os 30.0% e 15.0%, no Buz e nas áreas do banco de
Sofala, respectiva, valores muito abaixo do que deveria ser de facto. Não obstante a estes dados,
as reversas descobertas fizeram com que Moçambique se tornar num exportador de recursos
naturais de nível mundial. Projecções indicam que o país vai experimentar um rápido aumento de
receitas durante as próximas décadas e por um período muito longo. Embora esta possa ser uma
boa notícia para um país de baixo rendimento e com largas camadas da população abaixo da
linha da pobreza, também prefigura alguns problemas no futuro ao nível da gestão económica.
Tendo em conta os dados patentes nos dois quadros, acima, torna-se urgente a criação de uma
empresa nacional com a responsabilidade de pesquisar e exploração recursos, de modo que a
riqueza proveniente desta actividade ficasse internarmente e não através de impostos e cobranças
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de mais valias. Em outras palavras, pretende-se encorajar o governo a usar o dinheiro das mais
valias e outras receitas para criar uma empresa moçambicana de pesquisa e exploração de
hidrocarbonetos, como forma de reduzir o fosso entre o que as multinacionais e o Estado
moçambicano ganham com o processo de exploração dos recursos energéticos nacionais.
Esses efeitos adversos na economia estão ligados à volatilidade dos preços deste tipo de recursos
no mercado internacional. Isto é, quando a economia dos países depende exclusivamente das
receitas arrecadadas das commodities e, para aqueles onde os recursos naturais constituem
grande parte do seu PIB (superior a 20.0%) e das exportações, a volatilidade dos preços gera
grandes variações nas receitas e no crescimento perca pita (Biggs, 2012:4-5). Assim sendo,
Collier e Hoeffler (2012:305) afirma que, este facto aumenta directamente a pobreza, pois
provoca uma queda nos rendimentos das exportações. Pela mesma razão, Gary e Karl (2003:27)
afirmam que a grande vulnerabilidade na volatilidade dos preços de commodities, dificulta o
planeamento e previsão de níveis orçamentais do governo. Por outro lado, quando os governos
fazem empréstimos elevados na esperança de pagar com as receitas advindas dos recursos a
queda dos valores nos termos de troca ou preços coopera para uma desestabilização económica e
fazendo com que o fardo da dívida seja difícil de pagar (Lahiri-Dutt, 2006:19).
Portanto, as elevadas receitas que são geradas ou que podem ser geradas da exploração dos
recursos energéticos vão levar a um aumento de nível de expectativas e quando a economia
sofrer com a queda dos preços do gás natural, as capacidades para satisfazer essas expectativas
irá diminuir. Para Nilsson (2001:229), em situações em que há um crescimento expectativas sem
uma contrapartida de capacidades provoca o aumento de privação relativa e a rebelião pode
ocorrer.
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Nos próximos anos, uma política económica e social, que fomente investimentos direccionados
para a educação, saúde, sistemas de segurança social e potenciação de outras áreas económicas
como, por exemplo, a agricultura e uma diversificação industrial em termos de criação de
externalidades económicas (pequenas e medias empresas) iria diversificar a base fiscal do país
bem como criar condições para maior parte da população poder beneficiar-se dos rendimentos
advindos dessa cadeia económica criada. Deste modo, o Estado estará a retirar potenciais focos
de insatisfação e pensamentos de revoltas político-militares.
De acordo com o Plano Director de Gás Natural Para Moçambique (2012:32-34), “virtualmente,
os Estados dependentes de recursos naturais criaram fundos soberanos, para gerir as rendas
provenietes da actividade de exploração e para controlaar as oscilações dos mercados dos
produtos de base que têm um impacto desproporcionado nas receitas governamentais”. Portanto,
tendo em contas as receitas que o Estado moçambicano obtever com as mais-valias, é momento
de se pensar num fundo soberano para salvaguardar que as futuras gerações moambicanas
possam usufruir desse bem nacional e que sirva de retaguarda estatal para situações que haja
necessidade de seu uso.
De uma forma simples, pode-se constatar que a relação entre a economia e segurança nos remete
aos aspectos da Economia Política Internacional com reflexos directos sobre o bem-estar e
estabilidade de Estados e populações, nomeadamente, os relacionados com o sistema económico
e financeiro do Estado e internacional. Neste campo, o gás e os outros hidrocabernotenos
moçambicanos, com destaque para o carvão, são produtos com grande relevância no actual
contexto da economia mundial e relacionam directamente, a economia de Moçambique e a
Economia Internacional.
Em 2011, as vendas totais de bens ao exterior registaram um aumento anual de 19% em 2011 ao
situaram-se em cerca de USD 2776 milhões, montante correspondente a 22% do PIB, incremento
justificado pelo efeito conjugado da subida generalizada dos preços médios internacionais de
bens e o aumento do volume dos bens dos sectores tradicionais de exportação, com excepção da
madeira e camarão. Os dados do sector real corroboram esta dinâmica ao apontar para um
aumento da taxa de crescimento dos sectores agrário, electricidade e água, indústrias extractiva e
transformadora. Os grandes projectos foram responsáveis por cerca de 73.0% do total das
exportações, ao contribuir com USD 2015.3 milhões (15.7% do PIB), montante que inclui USD
21.2 milhões respeitantes às receitas de venda de carvão iniciadas no segundo semestre de 2011
(Banco de Moçambique, 2012:11-14).
que há um crescimento das receitas em 21.1% que é justificado pelo incremento da quantidade
exportada, em cerca de 12.0% e do preço médio internacional, em 28.9%.
Nos Relatório da ICF Internacional sobre “Futuro do Gás em Moçambique: Rumo a um Master
Plan de Gás” estimam que a indústria do gás, no seu pico operacional, possa produzir mais de 83
mil postos de emprego directos e indirectos e contribuir com valor entre 14 e 22 mil milhões de
dólares para o PIB nacional todos os anos. Em termos práticos, nas próximas três décadas, há
possibilidade de se duplicar o PIB nacional moçambicano (Leitão, 2013:22).
As reservas comprovadas pela Anadarko e Eni, rondam os 128 bilhões de pés cúblicos de gás
natural. Isto significa, segundo os dados publicados no relatório BP Statistical Review of World
Energy, em Junho de 2012, que o gás do Rovuma seria suficiente para abastecer todos os Estados
do mundo durante um ano interiro. Todavia, ter riqueza no subsolo e não extrair em nada serve
(Leitão, 2013:22-23). Jean Bodin dizia que os recursos só se tornam riqueza quando há capaicade
de transformá-los. Dai que é necessário que se invista na construção de infra-estruturs que
permitam a exploração e processamento do gás.
De acordo com Esperança Bias, Ministra dos Recursos Minerais de Moçambique, no decorrer de
uma conferência internacional sobre mineração, em Cabo, África do Sul, Moçambique necessida
de cerca de 50 mil milhões de dólares para desenvolver efectivamente o sector da exploração do
gás. Até 2013, só a Anadarko tinha investido 2.2 mil milhões de dóalares em actividades de
prospensão. A Galp Energia, em consórcio com a italiana Eni e a ENH – Empresa Nacional de
60
Em Moçambique, o gás natural constitui um tesouro riquíssimo com muito potencial para ser
explorado. Moçambique tem cerca de 277 bilhões de pés cúbicos de reservas de gás dos quais,
cerca de 46.0% é que já foram descobertos (128 bilhões de pés cúbicos). Para os cofres do
Estado, a exploração de recursos irá traduzir-se, em termos de royalites e outras receitas, um
valor superior a 7 mil milhões de dólares, anualmente, segundo cáculos feitos pela ICF (Leitão,
2013:26-27). Portanto, trata-se de uma ajuda de grande relevância para o executivo. O potencial
de hidrocarbonetos, em Moçambique, é equivalente a 25.0% do total de reservas em África. Em
África, somente Argélia e Nigéria tem maiores reservas de gás do que Moçambique (Leitão,
2013:28).
Para Bucuane e Mulder (2007), o Dutch Disease consiste em três principais aspectos:
Efeito das despesas que significa o aumento da demanda em bens e serviços não
comercializáveis (non-tradable) levando ao aumento dos seus preços. A descoberta de
quantidades abundantes de recursos naturais está associada a largas escalas de
Investimento Directo Extrangeiro (IDE) e um rápido crescimento de rendimentos da
exportação. O implícito afluxo de moeda estrangeira causa uma apreciação da moeda
nacional tornando os sectores que não são dos recursos naturais pouco competitivos no
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Doença Holandesa.
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Efeito deslocação refere-se à relocação dos factores de produção (capital, trabalho) de outros
sectores da economia para o sector de produtos primários levando ao aumento da produtividade
marginal. Efeito perda de externalidades a exploração de recursos mina as externalidades
positivas advindas de outros sectores incluindo o desenvolvimento de know-how, inovação na
área de tecnologia e administração de todas as competências da força de trabalho. Em geral estas
externalidades são geradas pelo sector da manufactura/fabril. Enquanto o sector primário gera
poucas externalidades positivas para o resto da economia devido ao capital intensivo e a
especificidade dos seus trabalhos implicado poucas ligações com o resto da economia.
Com vista a explicar possíveis situações de conflito entre as Companhias multinacionais envolvidas no processo de pesquisa e
exploração de hidrocarbonetos, comunidades locais e o Estado moçambicano, é desenvolvido, abaixo, um quadro SWOT onde são
indicadas as forças, fraquezas oportunidades e ameaças que o Estado bem como as companhias estão sujeitos.
No SWOT, acima apresentado, é importante notar que o Estado concentra as suas forças na
questão dos recursos, pois, estes se localizam no território nacional. Todavia, não tem capacidade
tanto em recursos financeiros como humanos para transformar esses recursos em bens capazes de
serem usados para o benefício do Estado. No entanto, a existência desses recursos naturais de
alto valor económico no território nacional representa grandes oportunidades de atracção de
investimentos para a exploração destes recursos que, por sua vez, podem trazer mais-valia de
transferência de know-how e tecnologias para o país.
No que diz respeito às comunidades locais, é de notar que estas concentram suas forças nas
questões identitárias. Todavia, a falta de qualificação destas comunidades, leva com que estas
não maximizem os ganhos com a instalação desses grandes projectos nos seus locais de origem
e, em casos de conflitos estas tem grande margem de manobra, pois se encontram incrustadas
nos locais onde se desenvolvem estes grandes projectos e facilmente podem ameaçar estas
grandes infra-estruturas.
Por outro lado temos as companhias de exploração que como demonstra o SWOT são detentoras
de grande poder em termos de recursos bem como pelo facto destes representarem interesses de
Estados altamente desenvolvidos. Estes pelo poder que tem dispõem da capacidade de
influenciar as políticas nacionais em seu benefício. Portanto, em situações de conflito estas
companhias têm maior margem de manobra do que o Estado, pois, são dotadas de conhecimentos
profundos em relação a exploração de hidrocarbonetos e tem poder financeiro que comanda boa
parte da vida política internacional.
O precesso de gestão e alocação dos benefícios directos da exploração dos recursos energéticos
deve ser feito de forma ética e trasnparência, abarcando o máximo possível das diversas
sensibilidades nacionais. A disponibilização dos processos e procedimentos envolvidos nos
contratos e pagamentos referentes à pesquisa e exploração de recursos é uma forma de tornar o
processo transparente e evitar possíveis especulações que podem provocar desconfiança e
descredibilidade desnecessária ao processo.
Cenário Óptimo
Um cenário bom com a exploração de recursos energéticos em Moçambique seria aquele em que
a actividade proprciou-se crescimento e desenvolvimento económico nacional, onde a renda da
actividade fosse usada para o desenvolvimento nacional numa partilha equitativa. Em temos
práticos, os rendimentos arrecadados da exploração do gás natural e outros hidrocarbonetos
fossem usados para o desenvolvimento bem como crescimento económico. Por outras palavras,
os rendimentos devem propiciar o estado melhoramento da sua balança comercial, redução da
dependência externa, crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e Produto Nacional Bruto
(PNB). Adicionalmente, a exploração de recursos energéticos deve proporcionar o melhoramento
dos índices de desenvolvimento humano nacional e, que não constitui-se factor eclosão de
conflitos violentos.
Se a riqueza proporcionada pelos recursos energéticos for usada para a satisfação de bens
públicos, o Estado estará a contribuir para a satisfação das necessidades básicas da população
moçambicana bem como evitar com que surja o sentimento de privação relativa e frustracao da
população moçambicana, pois, uma distribuição equitativa da riqueza elimina ou torna remotas
as possibilidades de possíveis conflitos. Por seu turno, uma população educada vai permitir com
que esta saiba exigir dos seus dirigentes prestação de contas com relação às riquezas que estão
sendo exploradas no seu território. Consequentemente, leva com que existam poucos espaços
para os indivíduos ou grupos com ambição de usar as receitas provenientes desses recursos para
o benefício próprio. Alem do mais, uma sociedade civil cada vez mais integrada no processo de
exploração permite que haja maior pressão com vista a melhor ar a gestão desses recursos.
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Cenário Moderado
O cenário moderado seria aquele em que se verificasse um crescimento económico, mas não um
desenvolvimento económico, isto é, crescimento de indicadores macro económicos como por
exemplo PIB, PNB e Balança de pagamentos. Entretanto, se esses indicadores não se reflectirem
na melhoria das condições de vida dos moçambicanos abrem-se espaços para que as populações
reivindiquem a satisfação das necessidades, ou expectativas frustradas. Nesta fase podem surgir
conflitos de dimensão não violenta que dependendo da administração podem evoluir para
positivo ou negativo.
Cenário Péssimo
O cenário péssimo seria aquele em que a exploração de recursos energéticos e outros recursos
naturais de grande valor estratégico e económico se convertessem em maldição. Isto é, gerassem
conflitos sociais e armados e um baixo crescimento e desenvolvimento económico, corrupção,
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má governação, onde as receitas arrecadadas não contribuíssem para a melhoria das condições de
vida dos moçambicanos bem como servisse para a exclusão daqueles actores nacionais
interessados neste processo e em última instancia a exploração desses recursos motivasse a
ocorrência de conflitos violentos.
Muitos Estados africanos assim como do Médio Oriente são afectados grandes conflitos
relacionados com os recursos naturais que estes possuem. Se o Estado for dependente das
receitas de exportação do gás natural, carvão mineral bem como outros recursos naturais, isso vai
tornar a economia nacional perniciosa no sentido que a volatilidade dos preços das commodities
no mercado internacional vai dificultar a implementação de políticas públicas nacionais que
satisfaçam as necessidades da população. A politização do aparelho do Estado, arrogância,
exclusão de indivíduos ou grupos interessados na exploração do gás natural e o uso da violência
para reprimir aqueles que se sentem injustiçados com a exploração de recursos naturais pode
provocar conflitos. Estes aspectos podem ser aproveitados por entidades com interesses obscuros
e não confessados em relação aos hidrocaarbonetos que estão a ser descobertos e explorados em
Moçambique.
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A localização dos recursos naturais que esta ligado a identidade territorial é um, elemento que as
populações ou as elites politicas podem reclamar para justificar a falta de benefícios ou nenhuma
ou pouca participação na gestão do sector dos hidrocarbonetos, associado ao tipo de empresas
que exploram ou que vão explorar o gás natural e os efeitos adversos que dai surgem como por
exemplo os reassentamentos sem as mínimas condições de sobrevivência, a retirada da base
tradicional de subsistência (terra fértil, zonas de pescaria) sem devidas compensações, problemas
ligados a falta de qualificação das comunidades onde se exploram ou se explorarão os
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A não satisfação das necessidades básicas, bem como, o sentimento de privação relativa
resultante do processo da descoberta e exploração dos hidrocarbonetes, em Moçambique,
actualmente constituem uma grande ameaça e factor motivador para a eclosão de conflitos e
desistabilização no país. Assossiado a este aspecto, os interesses ocultos de entidades nacionais e
estrangeiras das companhias multinacionais e de Estados com interesses nos hidrocarbonetos
moçambicanos constituem elementos potenciais que podem instrumentalizar grupos nacionais a
promoverem actos e acções que insentivem conflitos e desistabilização. Desta feita, é importante
capacitar os Serviços de Informação e Segurança do Estado em matérias de descoberta e
exploração de recursos para protegerem a informação sensível do Estado nessa matéria e
salvaguardar os interesses nacionais supremos e vitais.
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O outro ramo importante que deve ser capcitdado é a Polícia da República de Moçambique,
tendo em conta que várias manifestações, greves e levantamentos populacionais já ocorreram em
Tete e Norte de Moçambique. Portanto, a polícia moçambicana deve ser capacitada e equipada
com instrumentos antimotins e greves, para poder lidar com a nova situação. Por último, os
juristas moçambicanos devem ser capacitados em matérias de negociação, análise e interpretação
de acordos e leis que versam sobre os contornos dos hidrocarbonetos, porque as companhias de
hidrocarbonetos são multinacionais consolidadas no mercado mundial e com um elevado
conhecimento nesta matéria e não hesitam e enganar e manobras Estados para satisfazer o seu
grande objectivo que é a exploração e venda de hidrocarbonetos e a obtenção de lucro, mesmo
que para isso sejam motivas guerras, conflitos e desestabilizações nos Estados onde ocorrem.
Portanto, encoraja-se que as instituições de ensino superior proporcionem cursos de graduação,
pós-graduação e de curta duração que forneçam ferramentas aos tomadores de decisão e ao
público, em geral, nessa matéria.
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