Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
APERFEIÇOAMENTO EM
ADMINISTRAÇÃO JUDICIAL
MÓDULO I
Página 1 de 138
SUMÁRIO
Conceito
Recuperação Judicial
Art. 70/72
Sujeitos
Limites ao plano
Não sujeição à AGC
Slide 1
@sigantois
Pitadas de Direito Empresarial (Spotify, Itunes, Deezer, Google Podcast)
Simone Gantois
Slide 2
Slide 4
Slide 6
VEDAÇÃO À DISTRIBUIÇÃO DE
RESULTADO
Foi introduzido o art. 6º-A.
INTRODUZIU A MEDIAÇÃO
NA RECUPERAÇÃO
Seção II-A (art. 20-A)
Autorizada Conciliação
Mediação
Slide 8
A SITUAÇÃO DO RURALISTA
Para aquele que exerce atividade rural via PJ, o prazo do exercício regular
pode ser comprovado de forma alternativa. (§2º do art. 48).
Atende a decisões que o STJ já vinha proferindo no seguinte sentido:
“1. O produtor rural, por não ser empresário sujeito a registro, está em
situação regular, mesmo ao exercer atividade econômica agrícola antes de sua
inscrição, por ser esta para ele facultativa.
(...)
4. Ficou decidido no julgamento do REsp n. 1.800.032/MT que, após obter o
registro e passar ao regime empresarial, fazendo jus a tratamento
diferenciado, simplificado e favorecido quanto à inscrição e aos efeitos desta
decorrentes (CC, arts. 970 e 971), adquire o produtor rural a condição de
procedibilidade para requerer recuperação judicial, com base no art. 48 da Lei
11.101/2005 (LRF), bastando que comprove, no momento do pedido, que
explora regularmente a atividade rural há mais de 2 (dois) anos. Pode,
portanto, para perfazer o tempo exigido por lei, computar aquele período
anterior ao registro, pois tratava-se, mesmo então, de exercício regular da
atividade empresarial." (AgInt no Resp 1834452/MT, Rel. Ministro LUIS
FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 23/2/2021, DJe 2/3/2021)
(AgInt no REsp 1905572-MT, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, 4ª Turma,
j. 29/11/2021, DJe 01/12/2021)
Estendeu-se expressamente a Recuperação Judicial Especial ao ruralista,
desde que o valor da causa não exceda 4,8 milhões (art. 70-A).
AMPLIOU ATRIBUIÇÕES DO
ADMINISTRADOR JUDICIAL
- estimular, sempre que possível, a conciliação, a mediação e outros métodos alternativos de solução de conflitos
relacionados à recuperação judicial;
- manter endereço eletrônico na internet, com informações atualizadas sobre o processo de recuperação judicial,
com a opção de consulta às peças principais do processo, salvo decisão judicial em sentido contrário;
- providenciar, no prazo máximo de 15 (quinze) dias, as respostas aos ofícios e às solicitações enviadas por outros
juízos e órgãos públicos, sem necessidade de prévia deliberação do juízo
- apresentar ao juiz, para juntada aos autos, relatório mensal das atividades do devedor, fiscalizando a veracidade
e a conformidade das informações prestadas pelo devedor;
- fiscalizar o decurso das tratativas e a regularidade das negociações entre devedor e credores;
- assegurar que devedor e credores não adotem expedientes dilatórios, inúteis ou, em geral, prejudiciais ao regular
andamento das negociações;
- assegurar que as negociações realizadas entre devedor e credores sejam regidas pelos termos convencionados
entre os interessados ou, na falta de acordo, pelas regras propostas pelo administrador judicial e homologadas pelo
juiz, observado o princípio da boa-fé para solução construtiva de consensos que acarretem maior efetividade
econômico-financeira e proveito social para os agentes econômicos envolvidos;
- apresentar, para juntada aos autos, e publicar no endereço eletrônico específico relatório mensal das atividades do
devedor e relatório sobre o plano de recuperação judicial, no prazo de até 15 (quinze) dias contado da apresentação
do plano, fiscalizando a veracidade e a conformidade das informações prestadas pelo devedor, além de
informar eventual ocorrência das condutas previstas no art. 64 desta Lei;
Slide 10
INCIDENTE DE CONSTATAÇÃO
PRÉVIA (ART. 51-A)
O juiz, quando reputar necessário, nomeará profissional de sua confiança, com capacidade
técnica e idoneidade, para promover a constatação exclusivamente das reais condições de
funcionamento da requerente e da regularidade e da completude da documentação
apresentada com a petição inicial.
A remuneração do profissional será arbitrada posteriormente à apresentação do laudo, levando
em conta a complexidade do trabalho.
Prazo máximo de 5 dias para apresentação do laudo de constatação.
A constatação prévia é determinada sem que seja ouvida a outra parte e sem apresentação de
quesitos por qualquer das partes, com a possibilidade de o juiz determinar a realização da
diligência sem a prévia ciência do devedor, quando entender que esta poderá frustrar os seus
objetivos.
O devedor é intimado do resultado da constatação prévia concomitantemente à sua intimação
da decisão que deferir ou indeferir o processamento da recuperação judicial, ou que determinar
a emenda da petição inicial, e poderá impugná-la mediante interposição do recurso cabível
(essa previsão normativa resolveu uma dúvida doutrinária antiga).
Limitação do conteúdo cognitivo: consiste, objetivamente, na verificação das reais condições de
funcionamento da empresa e da regularidade documental. É vedado o indeferimento do
processamento da recuperação judicial baseado na análise de viabilidade econômica do devedor.
Caso a constatação prévia detecte indícios contundentes de utilização fraudulenta da ação de
recuperação judicial, o juiz poderá indeferir a petição inicial, sem prejuízo de oficiar ao
Ministério Público para tomada das providências criminais eventualmente cabíveis.
Caso a constatação prévia demonstre que o principal estabelecimento do devedor não se situa
na área de competência do juízo, o juiz deverá determinar a remessa dos autos, com urgência,
ao juízo competente.
Slide 11
Slide 12
DIP-FININCING
Slide 14
Os devedores que integrem grupo sob controle societário comum poderão requerer
recuperação judicial sob consolidação processual.
Um integrante do grupo pode obter a recuperação e outro falir (são independentes dos
resultados). Se isso acontecer, o processo será desmembrado em tantos processos
quantos forem necessários.
CONSOLIDAÇÃO SUBSTANCIAL
Slide 16
Administrador Judicial:
Requisitos para nomeação do Administrador Judicial (art. 21 e art. 33 da
Lei 11.101/2005);
Funções e deveres do Administrador Judicial no processo de
recuperação judicial (art. 22 e art. 23 da Lei 11.101/2005);
Comitê de Credores:
Características do órgão e forma de atuação;
Organização dos representantes por classe e da presidência (art. 26 da
Lei 11.101/2005);
Deliberações e funções do comitê (art. 27 da Lei 11.101/2005);
Impedimentos, causas de destituição, responsabilidade e
remuneração.
Ministério Público:
Funções pautadas pela defesa dos interesses público-sociais;
Fiscalização;
Aplicação supletiva do CPC: Artigos 176, 177 e 178.
Slide 1
Slide 2
Slide 3
Slide 4
Slide 5
Slide 6
Slide 7
Slide 8
Slide 9
Efeitos do processamento:
Efeitos do processamento:
Art. 6º A decretação da falência ou o deferimento do processamento
da recuperação judicial implica:
I - suspensão do curso da prescrição das obrigações do devedor
sujeitas ao regime desta Lei;
II - suspensão das execuções ajuizadas contra o devedor, inclusive
daquelas dos credores particulares do sócio solidário, relativas a
créditos ou obrigações sujeitos à recuperação judicial ou à falência;
III - proibição de qualquer forma de retenção, arresto, penhora,
sequestro, busca e apreensão e constrição judicial ou extrajudicial
sobre os bens do devedor, oriunda de demandas judiciais ou
extrajudiciais cujos créditos ou obrigações sujeitem-se à recuperação
judicial ou à falência.
Slide 11
§ 7º-A. O disposto nos incisos I, II e III do caput deste artigo não se aplica aos
créditos referidos nos §§ 3º e 4º do art. 49 desta Lei, admitida, todavia, a
competência do juízo da recuperação judicial para determinar a suspensão
dos atos de constrição que recaiam sobre bens de capital essenciais à
manutenção da atividade empresarial durante o prazo de suspensão a que se
refere o § 4º deste artigo, a qual será implementada mediante a cooperação
jurisdicional, na forma do art. 69 do Código de Processo Civil, observado o
disposto n.o art. 805 do referido Código.
§ 7º-B. O disposto nos incisos I, II e III do caput deste artigo não se aplica às
execuções fiscais, admitida, todavia, a competência do juízo da recuperação
judicial para determinar a substituição dos atos de constrição que recaiam
sobre bens de capital essenciais à manutenção da atividade empresarial até o
encerramento da recuperação judicial, a qual será implementada mediante a
cooperação jurisdicional, na forma do art. 69 do Código de Processo Civil,
observado o disposto no art. 805 do referido Código.
§ 12. Observado o disposto no art. 300 da Lei nº 13.105, de 16 de março de
2015 (Código de Processo Civil), o juiz poderá antecipar total ou parcialmente
os efeitos do deferimento do processamento da recuperação judicial.
Slide 13
Administrador Judicial:
Nomeação de confiança do Juízo, função auxiliar.
Administrador Judicial:
Art. 22. Ao administrador judicial compete, sob a fiscalização do juiz e do Comitê,
além de outros deveres que esta Lei lhe impõe:
I – na recuperação judicial e na falência:
a) enviar correspondência aos credores constantes na relação de que trata o
inciso III do caput do art. 51, o inciso III do caput do art. 99 ou o inciso II do caput
do art. 105 desta Lei, comunicando a data do pedido de recuperação judicial ou
da decretação da falência, a natureza, o valor e a classificação dada ao crédito;
b) fornecer, com presteza, todas as informações pedidas pelos credores
interessados;
c) dar extratos dos livros do devedor, que merecerão fé de ofício, a fim de
servirem de fundamento nas habilitações e impugnações de créditos;
d) exigir dos credores, do devedor ou seus administradores quaisquer
informações;
Slide 15
Administrador Judicial:
e) elaborar a relação de credores de que trata o § 2o do art. 7o desta Lei;
f) consolidar o quadro-geral de credores nos termos do art. 18 desta Lei;
g) requerer ao juiz convocação da assembléia-geral de credores nos
casos previstos nesta Lei ou quando entender necessária sua ouvida para
a tomada de decisões;
h) contratar, mediante autorização judicial, profissionais ou empresas
especializadas para, quando necessário, auxiliá-lo no exercício de suas
funções;
i) manifestar-se nos casos previstos nesta Lei;
Slide 17
Administrador Judicial:
II – na recuperação judicial:
a) fiscalizar as atividades do devedor e o cumprimento do plano de
recuperação judicial;
b) requerer a falência no caso de descumprimento de obrigação assumida
no plano de recuperação;
c) apresentar ao juiz, para juntada aos autos, relatório mensal das
atividades do devedor, fiscalizando a veracidade e a conformidade das
informações prestadas pelo devedor;
d) apresentar o relatório sobre a execução do plano de recuperação, de
que trata o inciso III do caput do art. 63 desta Lei;
Slide 19
Comitê de credores:
Órgão facultativo e permanente, pois uma vez constituído atuará de
forma permanente até o final do processo de recuperação judicial
Constituído por deliberação das classes (art. 26):
I – 1 (um) representante indicado pela classe de credores trabalhistas,
com 2 (dois) suplentes;
II – 1 (um) representante indicado pela classe de credores com direitos
reais de garantia ou privilégios especiais, com 2 (dois) suplentes;
III – 1 (um) representante indicado pela classe de credores
quirografários e com privilégios gerais, com 2 (dois) suplentes.
IV - 1 (um) representante indicado pela classe de credores
representantes de microempresas e empresas de pequeno porte, com 2
(dois) suplentes.
Comitê de credores:
E se uma das classes não indicar representante?
Slide 21
Comitê de credores:
• A presidência do comitê de credores será escolhida pelos próprios membros (§
3º do art. 26).
• Tais deliberações deverão ser consignadas em livro de atas, que será rubricado
pelo juiz, e ficará à disposição para consulta do administrador judicial, devedor
ou credores (§ 1º do art. 27)
• Caso não seja possível obter a maioria dos votos cabe ao administrador judicial
dar a solução, e ao juiz se aquele for impedido (§ 2º do art. 27)
Comitê de credores:
• Remuneração:
Enquanto o AJ pode receber até 5% da dívida, a remuneração do CC será
paga pelos credores ou ocorrerá de forma gratuita.
Não há previsão de remuneração na LFR (art. 29)
Slide 23
Ministério Público
Poder Judiciário
Slide 25
Contato:
Em caso de dúvidas:
maurotfaria@gmail.com
• Critérios de nomeação
• Administrador Judicial pessoa jurídica
• Aceitação
• Termo de compromisso
• Fixação de honorários
• ME/EPP
• Recebimento
IMPEDIMENTOS E RESPONSABILIDADES
• Hipóteses
• Impugnação a nomeação
• Destituição
• Responsabilidade subjetiva
• Prestação de Contas
•
A EQUIPE MULTIDISCIPLINAR
Advogados
Contadores
Administradores de Empresas
Economistas
Profissionais em outras áreas que possam contribuir para o bom
desempenho do encargo
Slide 1
@sigantois
Pitadas de Direito Empresarial (Spotify, Itunes, Deezer, Google Podcast)
Simone Gantois
Slide 2
ADMINISTRADOR JUDICIAL
NA RECUPERAÇÃO JUDICIAL
Nomeação
Administrador Judicial pessoa jurídica
Aceitação
Termo de compromisso
Fixação de honorários
ME/EPP
Recebimento
ATRIBUIÇÕES
DO ADMINISTRADOR
Na Recuperação Judicial
Slide 4
IMPEDIMENTOS E
RESPONSABILIDADES
Hipóteses
Impugnação à nomeação
Destituição
Responsabilidade subjetiva
Compromisso
Recuperação
Termo de
Providências”, segundo tópico da Falência
aula, também será necessário Judicial
adentrar em temas compartilhados (Módulo III)
(Módulo II)
pelos dois módulos.
Dificilmente conseguiremos
explicar a importância das
Primeiras Providências, sem passar
pela “lista de credores” e pela “assembleia”.
NA FALÊNCIA
AS PRIMEIRAS PROVIDÊNCIAS
1
Art. 51. A petição inicial de recuperação judicial será instruída com: (...) III – a relação nominal completa dos
credores, inclusive aqueles por obrigação de fazer ou de dar, com a indicação do endereço de cada um, a natureza, a
classificação e o valor atualizado do crédito, discriminando sua origem, o regime dos respectivos vencimentos e a
indicação dos registros contábeis de cada transação pendente;
2
Art. 7º A verificação dos créditos será realizada pelo administrador judicial, com base nos livros contábeis e
documentos comerciais e fiscais do devedor e nos documentos que lhe forem apresentados pelos credores, podendo
contar com o auxílio de profissionais ou empresas especializadas. (...)
§ 1º Publicado o edital previsto no art. 52, § 1º, ou no parágrafo único do art. 99 desta Lei, os credores terão o prazo
de 15 (quinze) dias para apresentar ao administrador judicial suas habilitações ou suas divergências quanto aos
créditos relacionados
3
§ 2º O administrador judicial, com base nas informações e documentos colhidos na forma do caput e do § 1º deste
artigo, fará publicar edital contendo a relação de credores no prazo de 45 (quarenta e cinco) dias, contado do fim do
prazo do § 1º deste artigo, devendo indicar o local, o horário e o prazo comum em que as pessoas indicadas no art. 8º
desta Lei terão acesso aos documentos que fundamentaram a elaboração dessa relação.
4
Art. 8º No prazo de 10 (dez) dias, contado da publicação da relação referida no art. 7, § 2º, desta Lei, o Comitê,
qualquer credor, o devedor ou seus sócios ou o Ministério Público podem apresentar ao juiz impugnação contra a
relação de credores, apontando a ausência de qualquer crédito ou manifestando-se contra a legitimidade, importância
ou classificação de crédito relacionado.
5
Art. 18. O administrador judicial será responsável pela consolidação do quadro-geral de credores, a ser homologado
pelo juiz, com base na relação dos credores a que se refere o art. 7º, § 2º, desta Lei e nas decisões proferidas nas
impugnações oferecidas.
Linha do tempo
Art. 56 § 1º
Art. 58
Art. 52
60 dias
Art. 53
...2 anosArt. 61
processamento
Publicação da
Linha do tempo
Decisão do
da RJ
6
Art. 56. Havendo objeção de qualquer credor ao plano de recuperação judicial, o juiz convocará a assembléia-geral
de credores para deliberar sobre o plano de recuperação
7
Art. 61. Proferida a decisão prevista no art. 58 desta Lei, o devedor permanecerá em recuperação judicial até que se
cumpram todas as obrigações previstas no plano que se vencerem até 2 (dois) anos depois da concessão da
recuperação judicial.
8
Art. 61, § 1º Durante o período estabelecido no caput deste artigo, o descumprimento de qualquer obrigação
prevista no plano acarretará a convolação da recuperação em falência, nos termos do art. 73 desta Lei.
dificuldade de submissão a um
ausência da perda do prazo
acessar o PRJ injustificável
correspondência para objetar
processo para o credor
erros de
1a 2a base de
classificação e erros
valor dos permanecem corrum calculo com
relação relação erros
créditos
Dica4
Caixa de e-mail exclusivo. Assim, toda a equipe do administrador judicial pode acompanhar a
comunicação com os credores e com as devedoras.
O envio das cartas não é uma tarefa tão simples como alguns imaginam.
Por exemplo, escrever duas mil cartas só seria factível se o administrador
judicial dispusesse de uma extensa equipe de digitadores.
Assim, o administrador judicial deve ser orientado por profissional de
informática a utilizar as “macros”, que buscam as informações em uma
planilha de Excel para preencher lacunas em um texto padrão do Word e gerar
automaticamente todas as correspondências.
O próprio custo de impressão e de envio também é uma dificuldade, eis
que há uma grande quantidade de documentos a serem expedidos.
Embora tais custos de envio e de impressão devessem ser custeados
pela devedora, os administradores judiciais costumam evitar o reembolso.
A necessidade de comprovação do envio e do recebimento das
correspondências também é objeto de discussão.
Se possível, o administrador judicial deve optar pelo envio das Cartas
Registradas (“AR”).
vivenciaram um período de
700
empresarial.
Para o administrador judicial ter
estresse
200
100
meses capacidade de orientar de forma
0
0 5 10 15
apropriada todos os envolvidos no
20 25
Descrição da atividade empresarial por sociedade.
Descrição das causas da crise por sociedade.
Demonstração do fluxo de caixa no período de 12 meses.
Análise de partes relacionadas.
Evidenciação de garantias que as sociedades tenham prestado para
outras sociedades do grupo.
Relação de credores por sociedade, caso não tenha sido apresentada.
Em diligência às sociedades, eventualmente constata-se a necessidade
de analisar outros temas, como a relação de ativos permanentes.
Por exemplo, caso haja uma sociedade que concentre imóveis da
devedora, ainda que não esteja submetida ao processo de recuperação
judicial, relacionar os ativos seria de bom alvitre.
Apresenta-se em anexo uma sugestão de questionário, que deve ser
respondido pela devedora.
A relação não é padrão, pode ser bastante flexível dependendo das
atividades, por exemplo, após examinar as demonstrações contábeis da
Associação Sociedade Brasileira de Instrução–ASBI (mantenedora da
Universidade Cândido Mendes –UCAM), que instruiu a petição inicial da
recuperação judicial que tramita na Quinta Vara Empresarial do Rio de Janeiro,
processo nº0093754-90.2020.8.19.0001, poderia ser objeto de estudo:
b. Se os Créditos Subordinados à
recuperação judicial somam R$ 308
milhões, pode-se concluir que há ativos
suficientes para 90% dos créditos
(283/308)?
A Lei nº 11.101/2005, art. 22, II, “c” e “d” determina que o administrador
judicial elabore um relatório mensal das atividades da devedora, bem como
que apresente um relatório sobre o cumprimento das obrigações do Plano de
Recuperação Judicial vencidas entre a homologação e o prazo de dois anos.
O conteúdo e a forma
Os papéis de trabalho
O período de análise
Linha do tempo
REFERÊNCIAS
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. 12. ed. São Paulo:
Saraiva, 1996.
PERIN, Ecio Junior. Curso de Direito Falimentar. 2. ed. São Paulo: Editora
Método, 2004.
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. 30. ed., São Paulo: Saraiva, 2000.
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: Parte Geral. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006
Página 64 de 138
AULA 16
Página 65 de 138
AULA 16. PROF. MAURÍCIO MENEZES
1. INTRODUÇÃO
Página 66 de 138
fase JUDICIAL, consistente no julgamento pelo Poder Judiciário das habilitações
retardatárias e impugnações (conforme art. 8º e seguintes da citada Lei)10.
10
Acerca do tema, lecionam os ilustres LUIZ ROBERTO AYOUB, e CÁSSIO CAVALLI: “À semelhança do regime
do Decreto-Lei 7.661/1945, que cuidava, em seus arts. 80 a 101, do procedimento da verificação de créditos,
distribuído em uma fase administrativa e uma fase contenciosa, a Lei 11.101/2005 estrutura o procedimento de
verificação em uma fase administrativa (§1º, art. 7º da LRF) e uma fase judicial (§2º, art.7º da LRF). (AYOUB, Luiz
Roberto e CAVALLI, Cássio – A construção Jurisprudencial da Recuperação Judicial de Empresas, 2013, p. 167)
11
Nesse sentido, ensina PAULO SALLES: “O termo inicial do prazo será, como regra, o da publicação do edital de
convocação de credores. Pode acontecer, no entanto, que o credor, nesses 15 dias, não tenha recebido a circular,
emitida pelo Administrador Judicial, comunicando o pedido de recuperação ou o decreto da falência. Fará ele jus,
nesta hipótese, à prorrogação do prazo, sob pena de ser prejudicado em seu direito de apresentar habilitação ou
divergência. Não se pode esquecer que a ciência propiciada pelo edital é ficta, impondo-se, por isso, que os credores
sejam igualmente comunicados por correspondência. (...)”. (TOLEDO, Paulo, F.C. Salles e ABRÃO, Carlos
Henrique – Comentários à Lei de Recuperação e Empresas e falência, 2014, p. 78)
12
Segundo bem lecionam LUIZ ROBERTO AYOUB e CÁSSIO CAVALLI: “(...) Por ser realizada pelo
administrador judicial, nessa fase da verificação de créditos não há prestação jurisdicional, bem como não há
contenciosos processual, e o seu resultado não faz coisa julgada”. (AYOUB, Luiz Roberto e CAVALLI, Cássio – A
construção Jurisprudencial da Recuperação Judicial de Empresas, 2013, p. 168)
Página 67 de 138
pode ser realizado por carta ou e-mail ao administrador judicial, a
habilitação/divergência administrativa pode ser manejada pelo próprio credor,
não sendo sujeita a fixação de verbas sucumbenciais.
Deve o administrador judicial possuir abalizado conhecimento para
dirimir as questões referentes à verificação dos créditos e, também, o perfeito
entendimento da correta forma de aplicá-lo. Importante, assim, se delimitar,
na FASE ADMINISTRATIVA, qual o ALCANCE DA ATUAÇÃO DO ADMINISTRADOR
JUDICIAL para que, de um lado, se possa evitar excessos e violação de direitos
e, de outro lado, se possibilite agir com a maior efetividade possível a fim de
se evitar a judicialização desnecessária de créditos.
O Superior Tribunal de Justiça já se posicionou acerca DA NATUREZA
JURÍDICA ADMINISTRATIVA da verificação de créditos desempenhada
exclusivamente pelo administrador judicial, não havendo, pois, função de
índole jurisdicional13 e, assim, a incidência dos consectários e requisitos da
ação judicial, litteris:
13
Traz-se novamente as valiosas lições de LUIZ ROBERTO AYOUB e CÁSSIO CAVALLI, de grande contribuição
prática: “Não há, nessa fase, prestação jurisdicional, nem sequer formação da lide. Por essa razão, não são devidas
custas processuais na verificação administrativa de créditos, apenas na verificação judicial. Do mesmo modo, não há
falar-se em condenação ao ônus da sucumbência na verificação administrativa de créditos, seja em divergência, seja
em habilitação”. (AYOUB, Luiz Roberto e CAVALLI, Cássio – A construção Jurisprudencial da Recuperação
Judicial de Empresas, 2013, p. 169)
Página 68 de 138
edital, ao intérprete da lei não cabe fazê-lo nem acrescentar requisitos por ela
não previstos.
5. Recurso especial conhecido e desprovido. (REsp 1163143/SP, Rel. Ministro
JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, TERCEIRA TURMA, julgado em 11/02/2014, DJe
17/02/2014)”.
Página 69 de 138
Com a entrada em vigor do CPC de 2015 (art. 219), iniciou-se grande
debate sobre a natureza e a forma de contagem dos prazos na recuperação
judicial (se em dias úteis ou corridos), incluindo-se aí os prazos inerentes à
fase administrativa de verificação de crédito. Porém, com a consolidação da
jurisprudência do STJ (Recurso Especial nº 1.699.528/MG – Min. Relator Luis
Felipe Salomão e Recurso Especial nº 1.698.283/GO – Min. Relator Marco
Aurélio Bellizze), no sentido de que os prazos ligados à unidade lógica e
temporal da recuperação judicial são materiais e com a entrada em vigor da
Lei nº 14.112/2020 (que incluiu o §1º, inciso I no art. 189 da LRF), não restam
mais dúvidas de que os prazos da verificação administrativa de crédito (tanto
de apresentação de divergência quanto de análise) devem ser contados em
dias corridos.
Apesar de a Lei não dispor expressamente, recomenda-se que o
administrador judicial, após receber a habilitação/divergência administrativa,
remeta-a ao devedor para que o mesmo possa contraditar e exercer seu
direito de defesa em relação aos fatos nela alegados, nos termos do artigo 5º,
LV, da CRFB, buscando-se, assim, conferir maior segurança à análise do
crédito. O mesmo se diga caso a insurgência à relação de credores parta da
própria empresa devedora, ouvindo-se previamente o credor impugnado.
A habilitação/divergência administrativa deve observar as disposições
do artigo 9º, da LRF, apresentando sua qualificação completa (nome,
endereço, etc.); o valor do crédito que entende devido, atualizado até a data
do pedido de recuperação judicial; a origem e classificação do seu crédito,
juntando-se os documentos pertinentes (decisão judicial, contratos, faturas,
duplicatas e notas fiscais com o respectivo aceite, certidão de crédito, etc.); a
indicação da garantia prestada pelo devedor e a especificação do objeto da
garantia que estiver na posse do devedor.
Outra questão que merece relevo é quanto à LEGITIMIDADE para
APRESENTAÇÃO DE HABILITAÇÕES E DIVERGÊNCIAS na fase ADMINISTRATIVA
a qual segundo abalizada doutrina e o art. 7º,§1º da LRF, cabe exclusivamente
ao credor - o que, no nosso entender, carece de debate, principalmente ao se
considerar processos de grande vulto e com elevada quantidade de credores,
para se refletir quanto ao fato de que conferir legitimidade à devedora para
Página 70 de 138
manuseio de medidas de adequação da relação de credores na fase
administrativa (logicamente no caso de incongruências não dolosas) pode vir
a ser efetivo, tanto pela sua praticidade, quanto em prol da celeridade e da
menor onerosidade para os envolvidos, ao se evitar os ônus de um processo
judicial.
Ainda quanto à legitimidade do credor, doutrina e jurisprudência já se
debruçaram que esta pode ser tanto do credor originário ou “daqueles que a
título originário ou derivado adquiriram posteriormente o crédito, como, por
exemplo, o cessionário, endossatário ou aquele que se sub-roga nos direitos
do credor por ter adimplido a dívida”14. Nesse sentido, litteris:
14
AYOUB, Luiz Roberto e CAVALLI, Cássio – A construção Jurisprudencial da Recuperação Judicial de Empresas,
2013, p. 172.
Página 71 de 138
produção de provas e, por isso, a decisão agravada, neste ponto, decidiu
corretamente a lide ao confirmar o crédito do agravante no valor de R$
24.419,42. Decisão agravada mantida. Recurso não provido. (TJ-SP -
Agravo de Instrumento AI 20044777620168260000 SP - Data de
publicação: 25/08/2016)
Página 72 de 138
“aprofundamento da cognição, poderá ter por mérito todas as matérias e
questões de direito que conduzam a modificação ou extinção do crédito”1516.
O seguinte esquema gráfico resume o PROCEDIMENTO DA FASE
JUDICIAL DE VERIFICAÇÃO DE CRÉDITOS disposto entre os artigos 13 a 17 da
LRF, com seus principais prazos e eventos, destacando-se que as habilitações
retardatárias apresentadas antes da homologação do quadro-geral de
credores, serão recebidas e processadas na forma de impugnação, por força
do artigo 10, §5º da LRF:
15
Nesse sentido, ver AYOUB e CAVALLI: “São duas as espécies de verificação judicial de créditos: a habilitação
retardatária e a impugnação. Ambas as espécies constituem ações incidentais ao processo de recuperação judicial, que
podem ser propostas independentemente de o credor ter apresentado pedido de verificação administrativa de crédito.
Noutras palavras, a não formulação tempestiva de pedido de verificação administrativa de créditos não conduz à
preclusão para a verificação judicial de créditos”. (AYOUB, Luiz Roberto e CAVALLI, Cássio – A construção
Jurisprudencial da Recuperação Judicial de Empresas, 2013, p. 183.
16
Ob.cit, p.197.
Página 73 de 138
A habilitação de crédito destina-se ao credor que não foi arrolado na
relação de credores do devedor (art. 51, III) nem do administrador judicial (art.
7º,§2º)17, tratando-se de medida hábil para fazer incluir seu crédito no quadro
geral de credores a ser homologado após o julgamento das impugnações e
habilitações. Já a impugnação destina-se aos legitimados indicados no artigo
8º (Comitê de Credores, qualquer credor, o devedor ou seus sócios ou o
Ministério Público) que pretendem corrigir qualquer imprecisão (valor,
classificação, legitimidade) contida na relação de credores do administrador
judicial, podendo, inclusive, fazer incluir crédito não listado ou excluir crédito
não sujeito à recuperação judicial18.
Havia grande dissenso na doutrina e jurisprudência em relação à
natureza do prazo de apresentação da impugnação judicial (de 10 dias),
havendo defensores do seu caráter dilatório, admitindo-se, assim, a figura da
impugnação retardatária, por entenderem, basicamente, não haver sentido a
Lei admitir a habilitação de crédito até a consolidação do QGC e não admitir
que a impugnação à relação de credores também se dê até tal momento 19.
Por outro lado, o STJ20 entendeu que o artigo 8º retrata norma cogente, sendo,
assim, peremptório o prazo destacando-se que “eventual superação de regra
legal deve ser feita de forma excepcional, observadas determinadas
condições específicas, tais como elevado grau de imprevisibilidade,
ineficiência ou desigualdade.
Acredita-se, entretanto, que tal discussão pode ter se exaurido com as
alterações implementadas pela Lei nº 14.112/2020, tendo em vista as
17
ALTEMANI, Renato Lisboa e SILVA, Ricardo Alexandre da. Manual da verificação e habilitação de cre´ditos na
Lei de Falências e Recuperação de Empreas. p. 122. São Paulo: Quartier Latin, 2006.
18
SCALZILLI, João Pedro; SPINELLI, Luis Felipe e TELLECHEA, Rodrigo. Ob. Cit. P. 230.
19
SCALZILLI, João Pedro; SPINELLI, Luis Felipe e TELLECHEA, Rodrigo. Ob. Cit. P. 236.
20
(...)O propósito recursal é definir se, no curso do processo de recuperação judicial, a impugnação de crédito
apresentada fora do prazo de 10 dias previsto no caput do art. 8º da Lei 11.101/05 pode ter seu mérito apreciado pelo
juízo. 3. A norma do artigo retro citado contém regra de aplicação cogente, que revela, sem margem para
dúvida acerca de seu alcance, a opção legislativa a incidir na hipótese concreta. Trata-se de prazo peremptório
específico, estipulado expressamente pela lei de regência. 4. Eventual superação de regra legal deve ser feita de
forma excepcional, observadas determinadas condições específicas, tais como elevado grau de
imprevisibilidade, ineficiência ou desigualdade, circunstâncias não verificadas na espécie. RECURSO
ESPECIAL NÃO PROVIDO. (BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1704201/RS. Relator:
Ministra P/ Acórdão Nancy Andrighi. Órgão Julgador: Terceira Turma. Data do julgamento: 07/05/2019. Data de
publicação: 24/05/2019)
Página 74 de 138
disposições do artigo 10,§§ 7º, 8º e 10º da LRF21 que fazem referência expressa
à impugnação retardatária e os efeitos da mesma para fins de formação do
quadro geral de credores, de reserva de valor para satisfação do crédito em
debate e para encerramento de recuperação judicial. Com base na atual
redação da LRF, a jurisprudência vem se manifestando pela possibilidade da
impugnação retardatária, devendo-se ficar atento ao que será decidido pelo
STJ sob esta nova perspectiva22.
Apesar da admissão de impugnação retardatária, a Lei 14.112/2020
trouxe importante inovação com o estabelecimento de um prazo decadencial
de 03 anos, contado da publicação da sentença de decretação da falência,
para que o credor apresente seu pedido de habilitação ou reserva de valor
(art. 10, §10).
A verificação judicial de créditos, seja na modalidade impugnação ou
habilitação retardatária, apesar de limitada às matérias previstas nos artigos
8º e 10, da LRF, é um procedimento de cognição exauriente, ficando
possibilitada ampla instrução probatória (art. 15 da LRF) para o exercício da
ampla defesa, conforme sua necessidade e conveniência, conforme já
decidido pelo STJ, litteris:
21
§ 7º O quadro-geral de credores será formado com o julgamento das impugnações tempestivas e com as habilitações
e as impugnações retardatárias decididas até o momento da sua formação.
§ 8º As habilitações e as impugnações retardatárias acarretarão a reserva do valor para a satisfação do crédito discutido.
§ 9º A recuperação judicial poderá ser encerrada ainda que não tenha havido a consolidação definitiva do quadro-geral
de credores, hipótese em que as ações incidentais de habilitação e de impugnação retardatárias serão redistribuídas ao
juízo da recuperação judicial como ações autônomas e observarão o rito comum.
22
AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. IMPUGNAÇÃO RETARDATÁRIA.
APLICAÇÃO DA LEI NOVA AOS PROCESSOS PENDENTES. 1.Agravo contra sentença terminativa proferida
em sede de impugnação retardatária (art. 8º da Lei 11.101 de 2005 - LRF). 2.Com o advento da Lei 14.112/2020,
que modificou a LRF, passou a ser possível impugnação retardatária (Art. 10, § 8º da LRF), sendo certo que
nos termos do art. 5º da referida lei nova as modificações devem ser aplicadas aos processos pendentes. 3.No
presente caso, quando a sentença foi proferida, já na vigência das modificações da lei nova, deveria ter sido
apreciado o mérito vez que já era possível a impugnação retardatária; por isso deve ser reformada a sentença
terminativa. 4.No mérito, impugnante, recuperandas e AJ, todos estão de comum acordo com o valor retificado.
5.DADO PROVIMENTO AO RECURSO. (TJ-RJ - AI: 00453792720218190000, Relator: Des(a). ANTONIO
ILOIZIO BARROS BASTOS, Data de Julgamento: 04/11/2021, QUARTA CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação:
09/11/2021)
Página 75 de 138
RESTRINGIR O EXERCÍCIO DA AMPLA DEFESA. 1. Controvérsia em torno
da possibilidade de exame, em sede de impugnação de crédito incidente
à recuperação judicial, acerca da existência de abusividade em
cláusulas dos contratos de que se originou o crédito impugnado, alegada
pela recuperanda como matéria de defesa. 2, O incidente de impugnação
de crédito configura procedimento de cognição exauriente, possibilitando
o pleno contraditório e a ampla instrução probatória, em rito semelhante
ao ordinário. Inteligência dos arts. 13 e 15 da Lei n. 11.101/05. 3. Apesar
de, no incidente de impugnação de crédito, apenas poderem ser arguidas
as matérias elencadas no art. 8º da Lei n. 11.101/05, não há restrição ao
exercício do amplo direito de defesa, que apenas se verifica em exceções
expressamente previstas no ordenamento jurídico. 4. Tendo sido
apresentada impugnação de crédito acerca de matéria passível de
discussão no incidente, a defesa não encontra restrições, estando
autorizada inclusive a defesa material indireta, sendo despiciendo o
ajuizamento de ação autônoma. 5. Possibilidade de se alegar, como
defesa à pretensão do credor de serem acrescidos encargos moratórios
ao crédito relacionado, a abusividade das cláusulas dos contratos de
financiamento. 6. Doutrina e jurisprudência do STJ acerca do tema. 7.
RECURSO ESPECIAL PROVIDO. (STJ - REsp: 1799932 PR 2019/0046056-
2, Relator: Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, Data de
Julgamento: 01/09/2020, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe
09/09/2020)
23
GUERREIRO, José Alexandre Tavares – Seção II “Da verificação e habilitação dos créditos”- In: SATIRO
Francisco e PITOMBO, Sergio (coord.)- Comentários à Lei de Recuperação de Empresas e Falências, p.149.
Página 76 de 138
reclamações ajuizadas na Justiça do Trabalho, mas o crédito sujeita-se
aos efeitos concursais, tanto que deve ser inserido no quadro geral de
credores. Cumpre notar que, mesmo as impugnações de crédito não
serão julgadas, como as demais, pelo juízo da falência ou da
recuperação judicial, mas sim também pela justiça especializada. A
disposição é nova, e coerente com a competência da Justiça do Trabalho
para o julgamento de controvérsias decorrentes da relação de
trabalho”.24
Nessa esteira, deve ser considerado se esta norma deve ser aplicada de
forma irrestrita, ou se comporta adequação e/ou mitigação. Hipótese que se
lança aqui, também para consideração e debate, é a possibilidade de ajuste
da relação de credores pelo juízo recuperacional quando a impugnação judicial
não tiver por objeto revolver as questões referentes à relação de
emprego/trabalho, mas sim, por exemplo, cumprir o que restou definido na
própria Justiça do Trabalho, que teria ensejado a alteração de valor do crédito,
como no caso de pagamento de parte do crédito, ou outra causa extintiva e
modificativa do valor25. Confira-se os julgados sobre o tema26.
As HABILITAÇÕES RETARDATÁRIAS serão processadas da mesma forma
dispensada às impugnações, ex vi artigo 10, §5º da LRF. Entretanto, sabe-se
que os credores que tiverem seus CRÉDITOS HABILITADOS DE FORMA
24
TOLEDO, Paulo, F.C. Salles e ABRÃO, Carlos Henrique – Comentários à Lei de Recuperação e Empresas e
falência, 2014, p. 72/73.
25
Nesse sentido, colaciona-se o entendimento de PAULO SALLES: “Fica, no entanto, expressamente permitido ao
interessado ‘pleitear, perante o administrador judicial, habilitação, exclusão ou modificação de créditos derivados da
relação de trabalho’. Isto não afeta a competência da Justiça do Trabalho. Apenas se estabelece, de um lado, que, para
melhor formalização processual, poderá o credor habilitar seu crédito, sem que se possa, no entanto, discutir seu valor.
Por outro lado, sem que isso implique questionamento relativo à relação de trabalho entre credor e o devedor, pode-
se submeter ao juízo da falência ou recuperação judicial qualquer fato que leve à exclusão ou modificação do crédito
trabalhista. Assim, por exemplo, se houve pagamento em parte ou no todo, ou se o valor não confere com o
reconhecido na jurisdição própria”. (TOLEDO, Paulo, F.C. Salles e ABRÃO, Carlos Henrique – Comentários à Lei
de Recuperação e Empresas e falência, 2014, p. 73)
26
(...)Insurgência relativa à possibilidade de acrescer, ao crédito já constante do QGC, as multas previstas nos arts.
467 e 477, § 8º da CLT. Impossibilidade de rediscussão da matéria no juízo cível. Ausência de competência para
modificar o título executivo proveniente da Justiça do Trabalho. Possibilidade, no entanto, de excluir tais multas tanto
dos créditos dos trabalhadores quanto da base de cálculo da verba sucumbencial, visto que as multas não estão sujeitas
à recuperação judicial, pois decorrentes de fatos geradores posteriores ao pedido de recuperação judicial. Inteligência
do art. 49 da LRF. RECURSO PROVIDO. (TJ-SP - AI: 21705859020198260000 SP 2170585-90.2019.8.26.0000,
Relator: AZUMA NISHI, Data de Julgamento: 19/02/2020, 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial, Data de
Publicação: 20/02/2020)
(...) Crédito apurado na justiça laboral, que foi obrigado a ser atualizado até a data do pedido de recuperação judicial,
nos termos dispostos no inciso III do art. 9º do referido diploma legal. Desnecessidade de que tal ajuste seja procedido
perante a justiça do trabalho, por se tratar de mero acertamento de quantia já liquidada. Crédito que foi
equivocadamente atualizado pelo contador judicial até a data do deferimento da recuperação. Recálculo para que a
atualização retroaja até a data da formalização, que corresponde à data do pedido. Provimento parcial do
recurso.(Apelação Cível nº 0070179-34.2012.8.19.0001-DÉCIMA QUINTA CAMARA CIVEL- TJRJ DES.
JACQUELINE LIMA MONTENEGRO- 15/04/2014.)
Página 77 de 138
RETARDATÁRIA, EXCETUANDO-SE OS TRABALHISTAS, PERDERÃO DIREITO AO
VOTO na assembleia geral de credores (art. 10, §1º LRF), possuindo somente
direito de manifestação oral - consequência que se mostra, por razões
evidentes, com efeitos substanciosos na vida dos credores, que terão suas
relações materiais sujeitas ao que restar deliberado pela maioria em
assembleia.
Por essa razão, importante se fazer uma diferenciação, ainda pouco
explorada pela doutrina e jurisprudência, entre o crédito retardatário, ou seja,
aquele apresentado intempestivamente, e o crédito objeto de habilitação
tempestiva, que restou inacolhido pelo administrador judicial, já que neste
último caso não se pode imputar uma desídia ao credor pelo reconhecimento
do seu crédito.
Ainda neste contexto, carece de aprofundamento e análise sistemática
a questão referente à harmonização de interpretação de aplicação do art.10,
§1º vis a vis o art. 39, ambos da “LFR”, para se concluir se a LRF autoriza o
juiz a conferir direito de voto ao habilitante retardatário que tenha o seu
crédito reconhecido ao tempo da AGC27, questão relevante ao presente
estudo, pois apesar de se tratar de matéria de Direito, é passível de ser objeto
de parecer do administrador judicial (ex vi, art.12, §único da LRF).
Contra a decisão que julga a habilitação e impugnação cabe agravo de
instrumento, conforme artigo 17 da LRF.
27
(...) Inconformismo de três credoras quirografárias (...), que apontam a incompetência do juízo falimentar para
homologar o acordo e a perda do direito de voto do credor retardatário. (...) Rigor do artigo 10 da Lei 11.101 que foi
temperado pelo artigo 39, caput, daquele mesmo microssistema, e pelo qual se assegura direito de voto aos
titulares de créditos admitidos por decisão judicial, desde que, por óbvio, esta admissão ocorra antes da data
da AGC, o que ocorreu aqui. (...). Recurso de Lazar e Hexa não conhecido e desprovimento do agravo da Cedae,
mantida a decisão agravada por seus próprios fundamentos. (TJ-RJ - AI: 00784733420198190000, Relator: Des(a).
EDUARDO GUSMAO ALVES DE BRITO NETO, Data de Julgamento: 09/07/2020, DÉCIMA SEXTA CÂMARA
CÍVEL, Data de Publicação: 2020-07-17)
Página 78 de 138
do qual serão realizadas as análises de valor e classificação dos referidos
créditos, procedimento este direcionado ao processo de falência, que se
aplica, no que couber, à apuração dos créditos de FGTS (§7º).
Após a identificação das fazendas públicas credoras, por meio da
intimação prevista no inciso XIII do art. 99 e da publicação do edital do § 1º
daquele artigo, o juiz falimentar instaurará, de ofício, o incidente (ICCP) para
cada uma das fazendas públicas identificadas, intimando-as para apresentar,
no prazo de 30 dias, a relação completa dos seus créditos inscritos em dívida
ativa, acompanhada dos cálculos, da classificação e informações sobre a
situação atual dos créditos.
A instauração do incidente tem como efeito a suspensão das execuções
fiscais manejadas contra o falido até o encerramento da falência, podendo a
fazenda pública prosseguir na execução em face dos coobrigados, nos termos
do art. 6º-C e 7º-A, §4º, V, LRF28.
Para se garantir uma maior eficiência ao procedimento, mostra-se de
bom tom que a fazenda pública já seja orientada, em sua intimação, a
observar os regramentos próprios do crédito sujeito à falência, ao apresentar
a relação dos seus créditos, atentando-se, pois, para a limitação dos juros até
a data da quebra em relação ao crédito tributário principal (art. 9º, II), e para
a necessária segregação e classificação em classe própria dos créditos
advindos de multas tributárias/administrativas (art. 83, VII), dos honorários
sucumbenciais (art. 83, I), encargos do Decreto-Lei 1.025/69 (art. 83, III,
segundo REsp 1.110.924/SP e REsp 1234893 / SP) e dos juros posteriores à
quebra (83, IX)29.
O ICCP também possui caráter bifásico, na medida em que a
apresentação da relação dos créditos inscritos em dívida ativa pode ser feita
diretamente ao administrador judicial ou ao juízo, a depender do momento
processual.
28
“(...) Em vista do art. 6º-C, estes coobrigados são apenas aqueles sujeitos de direito que já tinham responsabilidade
pelo crédito exequendo antes da decretação da falência, na forma da legislação tributária (COELHO, Fabio Ulhoa.
Comentários À Lei de Falências e Recuperação de Empresas. 15 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,p. 82)
29
COSTA, Daniel Carnio. MELO, Alexandre Nasser de. Comentários à lei de recuperação de empresas e falência.
Curitiba: Juruá, 2021.p.81
Página 79 de 138
Contudo, a análise do caput do art. 7º-A evidencia uma dificuldade
prática em se concatenar o curso de tal procedimento com a fase
administrativa de verificação de créditos, na medida em que esta se inicia
com a publicação do edital do art. 99, §1º, quando é conferido o prazo de 15
dias corridos para o credor apresentar sua habilitação/divergência ao credor
(art. 7º, §1º). Ocorre que o ICCP é instaurado de ofício pelo juiz, após a mesma
publicação, sendo a fazenda pública intimada eletronicamente para
apresentar, no prazo de 30 dias, a relação dos seus créditos inscritos.
Assim, considerando as tramitações inerentes à efetivação de intimação
eletrônica, movimentação cartorária e as apurações internas promovidas
pelas fazendas públicas para identificação de seus créditos, mostra-se de
difícil concretização a verificação administrativa do ICCP. Em todo caso,
acredita-se que o procedimento precisa ser melhor debatido, para se conferir
um maior aproveitamento ao mesmo, de modo a permitir que o administrador
judicial possa colaborar de maneira efetiva para a conclusão célere do mesmo.
Encerrado o prazo de 30 dias conferido à fazenda pública, o falido,
demais credores e o administrador judicial terão o prazo de 15 dias para
manifestarem suas objeções à relação de créditos inscritos apresentada pela
fazenda pública, ficando as insurgências restritas aos cálculos e à classificação
dos créditos indicados pela fazenda pública credora, sendo esta intimada,
posteriormente, para prestar, em 10 dias, eventuais esclarecimentos sobre os
pontos suscitados nas objeções (art. 7º-A, §3º I e II).
Os créditos informados pela fazenda pública serão integralmente
reservados até o julgamento definitivo do incidente, podendo os créditos
incontroversos serem incluídos de imediato no quadro geral de credores,
conforme sua classificação e desde que exigíveis (§3º, III e IV). Antes da
homologação do quadro geral de credores, o juiz concederá prazo comum de
10 dias para o administrador judicial e a fazenda pública manifestarem-se
sobre a situação dos créditos reservados, decidindo após o prazo sobre a
necessidade de mantê-la. (§3º, V). Não haverá condenação em honorários de
sucumbência, no ICCP (§8º).
Página 80 de 138
O §4º do art. 7º-A restringiu a competência do juízo falimentar, no
âmbito do ICCP, aos cálculos (observância do limite de atualização – art. 9º, II)
e à classificação dos créditos apresentados, reiterando a competência para os
atos de arrecadação de bens, realização do ativo e pagamento dos credores,
ficando para o juízo da execução fiscal a competência para decidir sobre a
existência, exigibilidade e o valor do crédito
Na hipótese de a fazenda pública não apresentar a relação de créditos
inscritos em dívida ativa no prazo indicado, o incidente será arquivado,
podendo a fazenda pública desarquivá-lo a qualquer tempo, submetendo-se,
porém, aos regramentos dos créditos retardatários previsto no art. 10, naquilo
que for compatível (art. 7º-A, §5), ficando resguardado à fazenda pública a
possibilidade de apresentar, em momento posterior ao prazo de 30 dias, os
créditos não definitivamente constituídos, não inscritos em dívida ativa ou
com exigibilidade suspensa (art.7º-A, §2º).
Página 81 de 138
Superados esses apontamentos, mais uma vez aqui se abre um
parêntese para sustentar que o EMARANHADO DE COMPLEXAS RELAÇÕES
JURÍDICAS que permeiam a empresa devedora e que são necessariamente
TRANSPORTADAS PARA O PROCESSO RECUPERACIONAL GERAM SITUAÇÕES
DE INCERTEZA JURÍDICA quanto aos créditos sujeitos e não sujeitos ao
processo, bem como o enquadramento e tratamento de sua natureza e classes
no âmbito da recuperação judicial - matérias que fatalmente deverão ser
enfrentadas pelo administrador judicial quando da verificação de créditos e
que demandam uma análise muito mais profunda que a simples verificação
com base nos livros contábeis e documentos comerciais e fiscais da devedora.
Página 82 de 138
II - os créditos gravados com direito real de garantia até o limite do valor
do bem gravado;
III - os créditos tributários, independentemente da sua natureza e do
tempo de constituição, exceto os créditos extraconcursais e as multas
tributárias;
IV – Revogado
V - Revogado
VI - os créditos quirografários, a saber:
a) aqueles não previstos nos demais incisos deste artigo;
b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos
bens vinculados ao seu pagamento; e
c) os saldos dos créditos derivados da legislação trabalhista que
excederem o limite estabelecido no inciso I do caput deste artigo;
VII - as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis
penais ou administrativas, incluídas as multas tributárias;
VIII - os créditos subordinados, a saber:
a) os previstos em lei ou em contrato;
b) os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo
empregatício cuja contratação não tenha observado as condições
estritamente comutativas e as práticas de mercado
IX - os juros vencidos após a decretação da falência, conforme previsto
no art. 124 desta Lei.
30
Enunciado 81 da II Jornada de Direito Comercial do CJF - Aplica-se à recuperação judicial, no que couber, o
princípio da par condicio creditorum.
31 Art. 45. Nas deliberações sobre o plano de recuperação judicial, todas as classes de credores referidas no art. 41
desta Lei deverão aprovar a proposta.
§ 1º Em cada uma das classes referidas nos incisos II e III do art. 41 desta Lei, a proposta deverá ser aprovada por
credores que representem mais da metade do valor total dos créditos presentes à assembléia e, cumulativamente, pela
maioria simples dos credores presentes.
§ 2º Nas classes previstas nos incisos I e IV do art. 41 desta Lei, a proposta deverá ser aprovada pela maioria simples
dos credores presentes, independentemente do valor de seu crédito.
Página 83 de 138
Pela REGRA GERAL do art. 49 da LRF, se sujeitam à recuperação judicial
todos os créditos existentes ao tempo do pedido de recuperação judicial, ainda
que não vencidos, sejam eles líquidos ou ilíquidos. Conforme bem lecionam
LUIZ ROBERTO AYOUB e CASSIO CAVALLI, litteris:
32
AYOUB, Luiz Roberto; CAVALLI, Cássio – A construção jurisprudencial da recuperação judicial de empresas.
Ed. Forense, p.54.
Página 84 de 138
recuperação judicial, excetuados aqueles expressamente apontados na
lei de regência. 6. Em atenção ao disposto no art. 1.040 do CPC/2015,
fixa-se a seguinte tese: Para o fim de submissão aos efeitos da
recuperação judicial, considera-se que a existência do crédito é
determinada pela data em que ocorreu o seu fato gerador. 7. Recurso
especial provido. (REsp 1840812/RS, Rel. Ministro RICARDO VILLAS
BÔAS CUEVA, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 09/12/2020, DJe
17/12/2020).
33
"(...) Habilitação de crédito – Alegação de concursalidade do crédito em razão de contrato de prestação de serviços
ter sido celebrado anteriormente ao pedido de recuperação - Obrigação de trato sucessivo ou de prestação
continuada - Caso em que os pagamentos correspondentes a serviços e fornecimentos prestados após o
ajuizamento da recuperação judicial são considerados créditos extraconcursais – Precedentes – Sentença
mantida – Recurso improvido." (TJ-SP - AI: 20745024120218260000 SP 2074502-41.2021.8.26.0000, Relator: J. B.
Franco de Godoi, Data de Julgamento: 08/10/2021, 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial, Data de Publicação:
08/10/2021)
Página 85 de 138
data da sentença que fixou tal verba, por ser a mesma o nascedouro do direito
ao recebimento de tal verba. Assim, se a sentença for posterior à data do
pedido, os honorários sucumbenciais serão extraconcursais.
Página 86 de 138
Quanto aos CREDORES TRABALHISTAS – trataremos da definição do
crédito “derivados da legislação do trabalho ou decorrente de acidente de
trabalho” e equiparados; sua sujeição à recuperação judicial podendo
inclusive, por inteligência do art. 6º, § 2º da LRF, ser este objeto de verificação
administrativa de créditos; e, competência da Justiça do Trabalho para realizar
a verificação judicial de créditos, incluindo-se as impugnações e habilitações
retardatárias, na forma da legislação trabalhista.34
Quanto aos CREDORES COM GARANTIA REAL deve ser observada a
especificidade do artigo 41, §2º da LRF que diz que os credores votarão nesta
classe até o limite do valor do bem gravado e com a classe dos quirografários
no restante do valor, o que deve ser considerado durante a verificação dos
créditos, observando-se os casos de garantia real prestada terceiro:
34
AYOUB, Luiz Roberto; CAVALLI, Cássio – A construção jurisprudencial da recuperação judicial de empresas.
Ed. Forense, p.191.
Página 87 de 138
NECESSIDADE. 1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado
na vigência do Código de Processo Civil de 2015 (Enunciados
Administrativos nºs 2 e 3/STJ). 2. Cinge-se a controvérsia a definir se a
cláusula do plano de recuperação judicial que prevê a supressão das
garantias reais e fidejussórias pode atingir os credores que não
manifestaram sua expressa concordância com a aprovação do plano. 3.
A cláusula que estende a novação aos coobrigados é legítima e oponível
apenas aos credores que aprovaram o plano de recuperação sem
nenhuma ressalva, não sendo eficaz em relação aos credores ausentes
da assembleia geral, aos que abstiveram-se de votar ou se posicionaram
contra tal disposição. 4. A anuência do titular da garantia real é
indispensável na hipótese em que o plano de recuperação judicial prevê
a sua supressão ou substituição. (...) (REsp 1794209/SP, Rel. Ministro
RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em
12/05/2021, DJe 29/06/2021)
Página 88 de 138
PROCESSUAL CIVIL E EMPRESARIAL. AGRAVO INTERNO NO CONFLITO DE
COMPETÊNCIA. JUÍZO DA RECUPERAÇÃO. CRÉDITO EXTRACONCURSAL.
ATO CONSTRITIVO. MANIFESTAÇÃO DO JUÍZO DA RECUPERAÇÃO
JUDICIAL. DECISÃO MANTIDA.
1. Ao juízo universal compete a análise do caráter extraconcursal de
créditos constantes do plano de recuperação judicial, bem como da
essencialidade dos bens pretendidos pelo exequente. (...) 3. Ademais, os
"atos de constrição do patrimônio afetado à consecução do plano de
soerguimento empresarial, mesmo no caso da execução de créditos que
não se submetem aos efeitos da recuperação judicial, são submetidos
ao crivo do Juízo 'universal'" (EDcl nos EDcl no AgInt no CC 165.963/AM,
Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 22/9/2021, DJe
1º/10/2021). 4. Agravo interno a que se nega provimento. (AgInt no CC
178.547/MT, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, SEGUNDA
SEÇÃO, julgado em 19/10/2021, DJe 03/11/2021)
Página 89 de 138
AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO
ESPECIAL. PRINCÍPIO DA COLEGIALIDADE. OBSERVÂNCIA.
RECUPERAÇÃO JUDICIAL. CESSÃO FIDUCIÁRIA. RECEBÍVEIS. TRAVA
BANCÁRIA. MANUTENÇÃO. 1. Recurso especial interposto contra
acórdão publicado na vigência do Código de Processo Civil de 2015
(Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ). 2. O relator está autorizado
a decidir singularmente o recurso (arts. 932 do CPC/2015 e 557 do
CPC/1973). Eventual nulidade da decisão singular fica superada com a
apreciação do tema pelo órgão colegiado competente, em agravo
interno. 3. De acordo com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça,
bem de capital a que se refere a parte final do artigo 49, § 3º, da Lei nº
11.101/2005 é o bem corpóreo (móvel ou imóvel) utilizado no processo
produtivo da empresa e que se encontra em sua posse. 4. Os recebíveis
cedidos fiduciariamente não se enquadram na qualificação de bem de
capital, sendo que sua utilização significa o esvaziamento da garantia
fiduciária, não sendo possível a intervenção judicial para a sua liberação.
5. Agravo interno não provido. (AgInt nos EDcl no REsp 1680456/SE, Rel.
Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em
30/08/2021, DJe 03/09/2021)
Página 90 de 138
contratação. 2. O crédito garantido fiduciariamente, como na espécie,
não se submete à recuperação judicial, por força do art. 49, § 3º, da Lei
n. 11.101/2005, pois é de propriedade (resolúvel) do credor, e não da
empresa recuperanda. 3. É desinfluente, portanto, o momento em que
é performado, se antes ou depois do processamento da recuperação.
Julgados desta Corte nesse sentido. 4. Agravo interno desprovido.
(AgInt no REsp 1932780/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE,
TERCEIRA TURMA, julgado em 29/11/2021, DJe 02/12/2021)
TJSP:
TJRJ:
Página 91 de 138
PROVIMENTO PARCIAL DO AGRAVO DE INSTRUMENTO. (DES. SERGIO
RICARDO A FERNANDES - Julgamento: 02/08/2016 - PRIMEIRA CAMARA
CIVEL019115-46.2016.8.19.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO).
35
AGRAVO REGIMENTAL NO CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PEDIDO DE RESTITUIÇÃO.
ADIANTAMENTO DE CONTRATO DE CÂMBIO. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. EXECUÇÃO. BENS.
DESTINO. COMPETÊNCIA. JUÍZO DA FALÊNCIA. CONFLITO. SUCEDÂNEO RECURSAL.
IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO. 1. Consoante jurisprudência consolidada nesta
Corte Superior, é cabível o pedido de restituição baseado no adiantamento de contrato de câmbio, pois os
valores dele decorrentes não integram o patrimônio da massa falida ou da empresa concordatária (art. 75, §
3º, da Lei 4.728/65 - Lei do Mercado de Capitais). Porém, isso não significa, entretanto, que as execuções possam
prosseguir em outro juízo que não o da recuperação judicial, pois cabe a este apurar, mediante pedido de restituição
formulado pela instituição financeira, se o crédito reclamado é extraconcursal e, portanto, excepcionado dos efeitos
da falência, sendo certo que o conflito de competência não é a seara adequada à indigitada discussão, que depende de
dilação probatória. 2. Assim, a fim de impedir que as execuções individualmente manejadas possam inviabilizar a
recuperação judicial das empresas, tem-se por imprescindível as suspensões daquelas, devendo os credores procurar
no juízo universal a satisfação de seus créditos. 3. O deferimento da recuperação judicial acarreta ao Juízo que a defere
a competência para distribuir o patrimônio da massa aos credores conforme as regras concursais da lei falimentar. 4.
Impossibilidade do conflito de competência ser utilizado como sucedâneo recursal, bem como não se presta a resolver
questões que devem ser dirimidas nas instâncias ordinárias. 5. Agravo regimental improvido. Agravo Regimental no
Conflito de Competência nº113.861/GO. Rel. Ministro Luís Felipe Salomão. Segunda Seção. 11/10/2011)
36
.(...) Muito embora os arts. 49, § 4º, e 86, II, da Lei 11.101/05 estabeleçam a extraconcursalidade dos créditos
referentes a adiantamento de contratos de câmbio, há de se notar que tais normas não dispõem, especificamente,
quanto à destinação que deva ser conferida aos encargos incidentes sobre o montante adiantado ao exportador pela
instituição financeira. 4. Inexistindo regra expressa a tratar da questão, a hermenêutica aconselha ao julgador que
resolva a controvérsia de modo a garantir efetividade aos valores que o legislador privilegiou ao editar o diploma
normativo. 5. Como é cediço, o objetivo primordial da recuperação judicial, estampado no art. 47 da Lei 11.101/05, é
viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte
produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores. 6. A sujeição dos valores impugnados aos
efeitos do procedimento recuperacional é a medida que mais se coaduna à finalidade retro mencionada, pois
permite que a empresa e seus credores, ao negociar as condições de pagamento, alcancem a melhor saída para
a crise enfrentada. RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE CONHECIDO E NÃO PROVIDO. (Recurso
Especial nº 1810447/SP. Relator: Ministra Nancy Andrighi. Terceira Turma. Publicação: 22/11/2019)
Página 92 de 138
qualquer crédito não decorrente de tal atividade (§6º); (b) decorrente de
operações de crédito rural, na forma dos arts. 14 e 21 da Lei 4.829/65, em
caso de recursos objeto de renegociação realizada antes do pedido de
recuperação judicial (§7º e 8º); (c) crédito relativo à dívida constituída nos 3
(três) últimos anos anteriores ao pedido de recuperação judicial, com a
finalidade de aquisição de propriedades rurais, bem como as respectivas
garantias.
A LRF ainda prevê outras circunstâncias que devem ser analisadas pelo
administrador judicial, como, por exemplo, os artigos 5º, 67, 193 e 199.
Quanto à QUESTÃO DOS CONTRATOS DE LOCAÇÃO COMERCIAL- AÇÃO
DE DESPEJO E CRÉDITO, analisaremos o seu tratamento pela jurisprudência:
STJ:
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA - CONTRATO DE LOCAÇÃO -
EMPRESA LOCATÁRIA SUBMETIDA AO REGIME DE RECUPERAÇÃO
JUDICIAL - NÃO SUBMISSÃO AO JUÍZO UNIVERSAL DA RECUPERAÇÃO
- ESCÓLIO JURISPRUDENCIAL DA SEGUNDA SEÇÃO - COMPETÊNCIA
DO JUÍZO SUSCITADO. Hipótese: consiste na declaração de
competência para processar e julgar ação de despejo c/c cobrança
de alugueis formulada contra sociedade empresária em regime de
recuperação judicial. (...) 2. A jurisprudência da Segunda Seção
caminha no sentido de que a ação de despejo movida pelo proprietário
locador contra sociedade empresária em regime de recuperação
judicial não se submete à competência do juízo universal da
recuperação. Precedentes. 3. Conflito negativo conhecido para
declarar a competência do r. juízo suscitado. (STJ - CC: 170421 PR
2020/0011826-0, Relator: Ministro MARCO BUZZI, Data de
Julgamento: 09/09/2020, S2 - SEGUNDA SEÇÃO, Data de Publicação:
DJe 14/10/2020)
TJRJ:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO EMPRESARIAL. RECUPERAÇÃO
JUDICIAL. AÇÃO DE DESPEJO. SUSPENSÃO. POSSIBILIDADE. 1- O
ordenamento jurídico determina que com o deferimento do pedido
de recuperação judicial, o juízo em que tramita a referida ação
passará a exercer a vis attractiva, com a finalidade precípua de evitar
decisões oriundas de outros juízos que comprometam o sucesso do
plano de recuperação judicial. 2- Proferida decisão no sentido de que
sejam suspensas todas as ações e execuções que tramitam em face
do devedor, tal decisão deve ser observada pelos demais juízos, a
fim de que seja viabilizada a superação da situação de crise
econômico-financeira do devedor. 3- Nesse âmbito, apenas as
demandas relativas a quantias ilíquidas continuam tramitando no
juízo em que estiverem sendo processadas, excluídas aquelas
relativas à coisa certa, prestação ou abstenção de fato, e, no caso,
busca-se a restituição de coisa certa - despejo - e a cobrança de
quantia líquida aluguéis - cujo aferimento depende de simples cálculo
Página 93 de 138
aritmético. (A.I - DES. MILTON FERNANDES DE SOUZA - Julgamento:
11/06/2013 - QUINTA CAMARA CIVEL - 0008232-45.2013.8.19.0000).
TJRJ - Agravo de Instrumento. Empresa em processo de recuperação
judicial. Decisão do Juízo de primeiro grau que, nos autos de ação
cautelar preparatória à recuperação judicial deferiu, liminarmente,
que "os requeridos se abstenham de executar as ordens de despejo
e retomar as lojas, até que o juízo da recuperação decida sobre o
deferimento do seu processamento" (...). A recuperação da empresa
tem por objetivo principal viabilizar que a empresa tenha condições
de se reerguer, mediante a elaboração de um plano de recuperação,
para a organização financeira e o prosseguimento das atividades.
Nessa linha de raciocínio, o caso posto a julgamento encontra-se
delimitado no art. 6º da lei acima em referência, abaixo transcrito, in
verbis: "Art. 6º - A decretação da falência ou o deferimento do
processamento da recuperação judicial suspende o curso da
prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor,
inclusive aquelas dos credores particulares do sócio solidário”. O
despejo da empresa que está em processo de recuperação judicial
extinguirá as suas possibilidades de se reerguer, o que vai de
encontro com o princípio da preservação da empresa. No entanto, a
Ação em apreço deve ficar suspensa até que se conclua o
processamento da recuperação judicial, desde que comprovado,
efetivamente, que os alugueres, a partir da decisão de recuperação
judicial, estão sendo pagos em dia, caso contrário deverá ser
cumprido a ordem de despejo. Recurso provido parcialmente. (DES.
CARLOS EDUARDO MOREIRA SILVA - Julgamento: 30/08/2016 -
VIGESIMA SEGUNDA CAMARA CIVEL- A.I nº 0071679-
36.2015.8.19.0000)
TJ-SP:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. LOCAÇÃO DE IMÓVEL. AÇÃO DE
DESPEJO. DETERMINAÇÃO DE SUSPENSÃO DO PROCESSO.
DEFERIMENTO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL DA LOCATÁRIA.
INADMISSIBILIDADE. De acordo com o art. 6.º, §1.º, da Lei n.º
11.101/05, a recuperação judicial afeta tão somente a exigibilidade
de créditos (valores líquidos) devidos pela empresa. A sujeição dos
créditos locativos aos efeitos da recuperação judicial, nos termos do
art. 49, da Lei n.º 11.101/05 toca apenas à execução de aluguéis e
encargos da locação, mas não o direito de retomada do imóvel
locado, medida garantida pela Lei nº 8.245/91. Recurso provido. (São
Paulo; 27ª Câmara de Direito Privado; Data do julgamento:
29/04/2014)
Página 94 de 138
6. ANÁLISE DO ADMINISTRADOR JUDICIAL NA VERIFICAÇÃO DE CRÉDITO
ADMINISTRATIVA E JUDICIAL E ELABORAÇÃO DA RELAÇÃO DE CREDORES E QGC
37
Agravo de instrumento – Recuperação judicial – Habilitação de crédito - Ausência de elementos que comprovem o
crédito que se pretende habilitar – Incidente que exige a certeza e liquidez do valor do crédito (artigo 9º, III, da Lei nº
11.101/05)– Precedentes jurisprudenciais – Decisão mantida - Recurso desprovido. (TJ-SP - AI:
22590841620208260000 SP 2259084-16.2020.8.26.0000, Relator: Maurício Pessoa, Data de Julgamento: 31/05/2021,
2ª Câmara Reservada de Direito Empresarial, Data de Publicação: 31/05/2021)
Página 95 de 138
elaborado por equipe especializada, que deverá apurar o crédito, observando-
se o marco temporal acima indicado de atualização, bem como os critérios
contratuais ou legais de atualização, o que é recomendável também para a
fase administrativa.
O art. 7º, §2º da LRF não possui uma previsão de RESPOSTA FORMAL do
administrador judicial em relação à análise das divergências e habilitações
administrativas que lhe são apresentadas, restringindo-se a estabelecer que
o resultado deverá ser apresentado em 45 dias após o fim dos prazos de
divergência/habilitação, através de relação de credores a ser publicada. Tal
dinâmica de consolidação da relação de credores do art. 7º, §2º faz surgir
dúvidas nos credores em relação aos critérios adotados na apuração do
administrador judicial.
Por essa razão e a fim de se conferir celeridade e transparência à
recuperação judicial, o Conselho Nacional de Justiça editou a Recomendação
nº 72/2020, adotada pelo TJERJ através do Aviso 74/2020, que orienta os juízes
a determinarem aos administradores judiciais que apresentem, ao final da
fase administrativa de verificação de créditos, o RELATÓRIO DA FASE
ADMINISTRATIVA, contendo o resumo das análises feitas para a elaboração da
relação de credores e as seguintes informações mínimas:
I – relação dos credores que apresentaram divergências ou
habilitações de créditos na forma art. 7o, § 1o , da Lei no
11.101/2005, indicando seus nomes completos ou razões sociais e
números de inscrição no CPF/MF ou CNPJ/MF;
II – valores dos créditos indicados pela recuperanda, na forma do art.
52, § 1º, da Lei n o 11.101/2005; valores apontados pelos credores
em suas respectivas divergências ou habilitações; e valores finais
encontrados pelo AJ que constarão do edital;
III – indicação do resultado de cada divergência e habilitação após a
análise do administrador judicial, com a exposição sucinta dos
fundamentos para a rejeição ou acolhimento de cada pedido; e
Página 96 de 138
IV – explicação sucinta para a manutenção no edital do
Administrador Judicial daqueles credores que foram relacionados
pela recuperanda na relação nominal de credores de que trata o art.
51, II, da Lei no 11.101/2005.
38
http://www.tjrj.jus.br/web/guest/consultas/relacao-nominal-de-credores
39
Apesar de a Lei 14.112/20 ter incluído dois novos parágrafos ao art. 99, a redação do art. 7º, §1º foi mantida fazendo-
se referência ao parágrafo único do artigo 99, quando, em verdade, deverão referir-se ao §1º.
Página 97 de 138
Nos termos do art. 12, da LRF, o administrador judicial terá o prazo de
05 dias, após a oitiva do devedor e do Comitê de Credores (se houver), para
apresentar sua manifestação em relação à impugnação/habilitação judicial de
crédito, “devendo juntar à sua manifestação o laudo elaborado pelo
profissional ou empresa especializada, se for o caso, e todas as informações
existentes nos livros fiscais e demais documentos do devedor acerca do
crédito, constante ou não da relação de credores, objeto da impugnação”.
Assim como na análise administrativa, a manifestação do administrador
judicial na fase judicial deve expor com clareza os fundamentos do seu
convencimento e o enfrentamento dos pontos abordados pelas partes. Após a
manifestação do administrador judicial, o processo seguirá para a conclusão
do juiz, que o decidirá nos termos do art. 15 da LRF.
De acordo com o art. 10, §7º, da LRF, o QGC será formado com o
julgamento das impugnações tempestivas e com as habilitações e
impugnações retardatárias decididas até o momento da sua formação, sendo
o administrador judicial o responsável pela consolidação do QGC (art. 18).
A base de formação do QGC é a relação de credores do art. 7º,§2º, que
será alterada conforme o resultado das habilitações/impugnações julgados
(art. 16). Caso não haja impugnação, aquela relação de credores será
homologada como QGC, observando-se as disposições do ICCP (art. 14).
O QGC será assinado pelo administrador judicial e pelo juiz e conterá o
nome dos credores, a classe dos créditos e seu valor atualizado até a data do
pedido de recuperação judicial ou decretação da falência, sendo juntado aos
autos e publicado no DJE.
De acordo com o art. 10, §9º “a recuperação judicial poderá ser
encerrada ainda que não tenha havido a consolidação definitiva do quadro-
geral de credores, hipótese em que as ações incidentais de habilitação e de
impugnação retardatárias serão redistribuídas ao juízo da recuperação judicial
como ações autônomas e observarão o rito comum”. Um ponto de debate é
Página 98 de 138
saber se, para o encerramento da recuperação judicial ou como decorrência
de tal ato e do relatório do art. 63, III, LRF, deve o administrador realizar uma
consolidação “não definitiva” ou “parcial” do QGC, observando-se as
premissas do §7º do art. 10.
Para fins de rateio na falência, o artigo 16 estabelece a necessidade de
formação do QGC, regulando as circunstâncias de reserva de valor
controvertido.
Registre-se que a homologação do quadro geral pelo juiz não impede
sua posterior alteração até o fim da recuperação judicial, através de
retificação, exclusão ou inclusão de algum crédito, estando legitimados para
tal requerimento o administrador judicial, o Comitê, qualquer credor ou o
representante do Ministério Público, conforme artigo 19 da LRF. Segundo a
doutrina, litteris:
7. CONCLUSÃO
A LRF não pôde prever, como realmente não o fez, todas as situações
que permeiam os procedimentos de verificação de créditos. Assim, coube à
40
GUERREIRO, José Alexandre Tavares – Seção II “Da verificação e habilitação dos créditos”- In: SATIRO
Francisco e PITOMBO, Sergio (coord.)- Comentários à Lei de Recuperação de Empresas e Falências, p.160 e 161.
Página 99 de 138
abalizada doutrina, e a atuante jurisprudência preencher as lacunas e dirimir
as incertezas.
Nesta toada, o administrador judicial não deve ser tão somente um
conhecedor da letra fria da lei, mas sim, um agente capacitado e atualizado
com os hodiernos entendimentos jurisprudenciais e suas constantes
modificações e modulações e, mais ainda, deve possuir conhecimento
multidisciplinar, ou equipe habilitada para tanto, na matéria do Direito
Insolvencial e correlatos (ex vi, Direito Societário, Direito Civil dentre outros)
e, também, na seara Contábil e de Economia.
Em conclusão, a aula a ser ministrada terá como objetivo trazer uma
elucidação sob o aspecto eminentemente prático da matéria com aplicação
concreta e testada da LRF frente a uma gama enorme de casos com suas
especificidades, e a forma encontrada para a sua solução, razão pela qual foi
dado ênfase no presente resumo à compilação da doutrina sobre o tema e
para servir de ajuda no aprofundamento e debate conjunto do tema que,
decerto, trará bons frutos a todos.
8. REFERÊNCIAS
AULA 17
Atualização: 21/06/2022 Revisão: 00
Slide 1
Slide 2
Art. 61. Proferida a decisão prevista no art. 58 desta Lei, o juiz poderá determinar
a manutenção do devedor em recuperação judicial até que sejam cumpridas
todas as obrigações previstas no plano que vencerem até, no máximo, 2 (dois)
anos depois da concessão da recuperação judicial, independentemente do
eventual período de carência.
Slide 3
Slide 4
Slide 5
Slide 6
Slide 7
Encerramento da Recuperação
Judicial e seus efeitos
Slide 8
Art. 61
§ 1º Durante o período estabelecido no caput deste artigo, o
descumprimento de qualquer obrigação prevista no plano
acarretará a convolação da recuperação em falência, nos termos do
art. 73 desta Lei.
§ 2º Decretada a falência, os credores terão reconstituídos seus
direitos e garantias nas condições originalmente contratadas,
deduzidos os valores eventualmente pagos e ressalvados os atos
validamente praticados no âmbito da recuperação judicial
Slide 9
Convolação da Recuperação
Judicial em Falência
• Quando a Recuperanda não apresenta o plano de recuperação judicial no
prazo estabelecido (art. 53)
• Por deliberação da assembleia-geral de credores, na forma do art. 42 desta Lei
(Inciso I, art. 73)
• Pela rejeição do plano de recuperação judicial pelos credores em assembleia
(§§ 4º, 5º, 6º e 8º do art. 55 e § 2º, do art. 69-L);
• Por descumprimento das obrigações assumidas no plano (§ 1º, art. 61).
• Por descumprimento dos parcelamentos referidos no art. 68 desta Lei ou da
transação prevista no art. 10-C da Lei nº 10.522, (Inciso V, art. 73)
• Quando identificado o esvaziamento patrimonial da devedora que implique
liquidação substancial da empresa, em prejuízo de credores não sujeitos à
recuperação judicial, inclusive as Fazendas Públicas (Inciso VI, art. 73)
• Por inadimplemento de obrigação não sujeita à recuperação judicial, nos
termos dos incisos I ou II do caput do art. 94 desta Lei, ou por prática de ato
previsto no inciso III do caput do art. 94 desta Lei (§ 1º, art. 73).
Slide 11
Contato:
Em caso de dúvidas:
maurotfaria@gmail.com
Slide 1
@sigantois
Pitadas de Direito Empresarial (Spotify, Itunes, Deezer, Google Podcast)
Simone Gantois
Slide 2
Slide 4
APROVAÇÃO E REJEIÇÃO DO
PLANO E SUAS CONSEQUÊNCIAS.
Possibilidade de Apresentação de
Plano Alternativo pelos Credores.
Slide 6
CONTROLE DE
LEGALIDADE DO PLANO
Juízo
Administrador Judicial
Ministério Público
• Legitimidadeviii;
• Documentação: necessário atendimento por cada um dos
requerentesix;
• Competênciax
• Administrador Judicial únicoxi;
• Concentração de atos processuais: Efeitos da consolidação
processual;xii
• Plano único (69-I, §1ºxiii) x Plano Unitário (69-Lxiv);
• Assembleia-geral de credores realizadas de forma independente e
Quórum individualxv.
• Resultados independentesxvi, sendo possível determinar a convolação
da RJ em falência de alguns dos devedores em consolidação processual;
• Consolidação determinada pelo juízo recuperacional sem deliberação
de credoresxvii;
• Efeitos patrimoniais da consolidação substancial para devedores e
credoresxviii;
• Plano único para todas as recuperandas e deliberação única pelos
credoresxix.
i
Sobre o tema é pertinente o comentário do Professor Marcelo Barbosa Sacramone quanto a consolidação
processual (2021, p. 378):
O litisconsórcio ativo entre os integrantes de grupos empresariais preenche os requisitos legais e assegura que os
empresários possam litigar em conjunto. Entre os integrantes do grupo poderá haver comunhão de direitos ou
obrigações, a recuperação judicial pretendida poderia ser necessária para estruturar todo o grupo e a causa da crise
econômico-financeira que acomete cada um dos devedores poderá ser, inclusive, comum. A possibilidade de litigar
conjuntamente no mesmo processo permite aos litisconsortes a economia processual, o impedimento de decisões
contraditórias e a tentativa de reestruturar todo o grupo econômico de forma harmônica.
ii
Art. 265. A sociedade controladora e suas controladas podem constituir, nos termos deste Capítulo, grupo de
sociedades, mediante convenção pela qual se obriguem a combinar recursos ou esforços para a realização dos
respectivos objetos, ou a participar de atividades ou empreendimento comuns.
§ 1º A sociedade controladora, ou de comando do grupo, deve ser brasileira, e exercer, direta ou indiretamente, e
de modo permanente, o controle das sociedades filiadas, como titular de direitos de sócio ou acionista, ou mediante
acordo com outros sócios ou acionistas.
§ 2º A participação recíproca das sociedades do grupo obedecerá ao disposto no artigo 244.
iii
Art. 266. As relações entre as sociedades, a estrutura administrativa do grupo e a coordenação ou subordinação
dos administradores das sociedades filiadas serão estabelecidas na convenção do grupo, mas cada sociedade
conservará personalidade e patrimônios distintos.
iv
[...] A consolidação substancial consiste na utilização do patrimônio de todas as empresas pertencentes ao grupo
econômico para o pagamento de todos os credores do grupo econômico, desconsiderando-se a personalidade
jurídica ou a autonomia existencial de cada uma das empresas componentes do grupo econômico. [...] No direito
brasileiro, dá-se a consolidação substancial quando as empresas do grupo econômico se apresentam como um bloco
único de atuação e são vistas pelo mercado como uma unidade para fins de responsabilidade patrimonial,
observando-se confusão patrimonial e utilização abusiva da separação de personalidades jurídicas em prejuízo dos
credores. [...]SÃO PAULO. 1. Vara Empresarial. Recuperação judicial nº 1041383-05.2018.8.26.0100, Urbplan
Desenvolvimento Urbano S.a. e outras, Distribuição: 16 abr. 2018. Disponível em https://esaj.tjsp.jus.br/. Acesso em
13. Fev. 2022
v
Agravo de Instrumento. Direito Empresarial. Recuperação Judicial. Apresentação de plano de recuperação judicial
em separado. Não evidenciada a possibilidade de impor prejuízos aos credores. Manifestação dos 02 (dois) maiores
credores que estão de acordo com a apresentação de Plano conjunto. Agravantes que são empresas autônomas,
Slide 2
• EXCEÇÕES
Créditos com garantia fiduciária (art. 49, §3º) e créditos referentes a
adiantamento sobre contratos de câmbio (art. 49, §4º);
créditos decorrentes de arrendamento mercantil (leasing) (art. 49, §3º);
créditos tributários e previdenciários (art. 6º, §7º-B).
Stay period
• NOÇÕES GERAIS
Durante o stay period, proíbe-se expressamente qualquer forma de
retenção, arresto, penhora, sequestro, busca e apreensão e constrição
judicial ou extrajudicial sobre os bens do devedor, oriunda de demandas
judiciais ou extrajudiciais cujos créditos ou obrigações se sujeitem RJ ou
à falência (art. 6º, inciso III).
O stay period pode ser prorrogado uma única vez pelo período de 180
dias, desde que o devedor não tenha concorrido para a superação do
lapso inicial de 180 dias (art. 6º, §3º).
Slide 4
Stay period
• ATOS DE CONSTRIÇÃO
Competência do juiz da RJ para determinar a suspensão de atos de
constrição promovidos por credores não-sujeitos (art. 49, §§3º e 4º)
sobre bens de capital essenciais durante o prazo do stay period (art. 6º,
§7º-A);
Garantia fiduciária
• QUEBRA DA TRAVA BANCÁRIA
No início da vigência da Lei nº 11.101/2005, alguns tribunais permitiam
a liberação de uma parcela (20% a 100%) dos direitos creditórios dados
em garantia fiduciária.
Slide 6
Garantia fiduciária
• GARANTIA FIDUCIÁRIA NÃO REGISTRADA
A alienação fiduciária de bens móveis e imóveis exige o prévio registro
(RTD, DETRAN, RGI) para a constituição da garantia, sob pena de o
crédito ser tratado como quirografário na RJ (art. 1.361, §1º, CC; art. 23,
Lei nº 9.514/1997).
Garantia fiduciária
• GARANTIA FIDUCIÁRIA NÃO INDIVIDUALIZADA
Necessidade de individualização do bem objeto da garantia tanto na
alienação fiduciária de bens móveis ou imóveis como na cessão fiduciária
de direitos creditórios (TJSP, AI nº 2185687-55.2019.8.26.0000) (art. 24,
IV, Lei nº 9.514/1997; art. 1.362, IV, CC; art. 33, Lei nº 10.931/2004).
Slide 8
Garantia fiduciária
• CESSÃO FIDUCIÁRIA DE RECEBÍVEIS NÃO-PERFORMADOS
Garantia condicionada à existência dos créditos no futuro (TJSP, AI nº
2096700-82.2015.8.26.0000) e ao poder de disposição do devedor
fiduciante sobre o crédito (TJSP. AI nº 2078778-23.2018.8.26.0000), sob
pena de esvaziamento da garantia.
Há entendimento no TJSP de que mesmo não se performando, a garantia
engloba todo o crédito (TJSP, AI nº 2220015-16.2016.8.26.0000).
Slide 9
Atualização: 21/06/2022 Revisão: 00
Slide 10
Slide 11
Slide 12
Créditos públicos
• OS CRÉDITOS PÚBLICOS NÃO TRIBUTÁRIOS NA RJ
Há discussão sobre a sujeição à RJ dos créditos públicos não tributários e
que são cobrados via execução fiscal.
Segunda corrente: não sujeição à RJ, pois sua cobrança é via execução
fiscal, pouco importa a natureza tributária ou não tributária (STJ, REsp nº
1.931.633/GO, 3ª Turma). Ainda não há acórdão da 2ª Seção ou da Corte
Especial sobre o tema.
Créditos públicos
• NECESSIDADE DE APRESENTAÇÃO DE CNDS NA RJ
Antes da reforma da Lei nº 14.112/2020: os arts. 57 e 68 eram
interpretados pela jurisprudência para dispensar o requisito de
apresentação de CNDs para a homologação do PRJ.
Ausência de programa de parcelamento para empresas em RJ.
Mesmo depois da edição da Lei nº 13.043/2014 e inclusão do art. 10-
A na Lei nº 10.522/2002 para prever o parcelamento especial para
empresas em RJ, a jurisprudência continuou a dispensar as CNDs.
Slide 14
Contato
Em caso de dúvidas:
rgarcia@gc.com.br