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Artigo 1º

1. Quanto à “Reforminha” de 2015 não criou grande diferença ideológica no Processo


Administrativo. A sua principal modificação foi a da unificação dos meios processuais, passou a
haver apenas um. No entanto, o legislador manteve na mesma várias ações numa só, porque vai
distinguir, por exemplo, as ações de impugnação de atos administrativos, ação de impugnação e
condenação em matéria de ato devido.
2. Mas, se essa foi a grande alteração, o resto foram alterações de natureza ideológica (exemplo:
relativamente à impugnação de atos administrativos – agora fala-se em impugnação e não na
anulação tradicional, faz-se noutros termos.

Artigo 2º
1. Pode-se impugnar qualquer ato em qualquer momento do procedimento, não tem que se
esperar pela decisão final, pode-se impugnar a decisão do superior hierárquico e também se
permite que atos que já produziram efeitos, que não tenha efeito totalmente novo, mas que
reproduzam o ato anterior, também eles possam ser anulados).
2. Apesar de tudo, esta “Reforminha” de 2015 introduziu alterações desnecessárias. Por
exemplo, aquela limitação de que a qualquer momento o particular pode impugnar, qualquer
ato, em qualquer momento do procedimento, mantém-se exatamente a mesma norma, mas diz-
se: “enquanto durar o procedimento”, ora se o procedimento já terminou mudou alguma coisa?
Os particulares podem impugnar uma coisa como outra, é uma limitação desnecessária, mas é
uma limitação de cariz ideológico.
3. Houve uma valorização das Providências Cautelares: em todos os casos estabelecem-se
regras para o juiz as decidir (já não vigorando as presunções de 2004). Não se ultrapassa todos
os problemas: pedido de suspensão de ato administrativo conta com a Administração ter 15 dias
para poder parar o ato.

Artigo 3º
1. Artigo 4º ETAF: O Legislador adotou todos os critérios para introduzir na jurisdição
administrativa tudo o que são relações de natureza administrativa, no quadro da função
administrativa. Tudo aquilo que corresponda ao exercício da função administrativa, seja
realizado por uma autoridade administrativa ou por um particular no exercício da função
administrativa.
2. Tudo aquilo que corresponda a qualquer forma de atuação (seja ato, seja contrato, seja
regulamento, seja atuação material) é suscetível de ser conhecido pelo tribunal e de originar
pedidos de natureza administrativa. Veio conciliar o universo do contencioso com o universo do
direito administrativo, que era uma realidade que até aí estava desencontrada.

Artigo 4º
1. Alínea k) - muito ampla – Realidades de Direito Administrativo especial são matérias de
CAT.
Acentuado em 2015 pois as contraordenações agora aqui também cabem. Abrange a prevenção,
cessação e reparação de violações a valores e bens constitucionalmente protegidos, em matéria
de saúde pública, habitação, educação, ambiente, ordenamento do território, urbanismo,
qualidade de vida, património cultural e bens do Estado.
2. De forma amplíssima, todos os domínios da alínea k) agora são domínios privativos do
contencioso administrativo. Em qualquer destas realidades haverá um poder de intervenção
pública, que autoriza, regula, fiscaliza, que intervém a qualquer momento, e isto transfere para o
domínio administrativo todas estas realidades, norma que amplia o âmbito da jurisdição e que
cria os tribunais especiais;

Artigo 5º
1. Alínea l) 4º ETAF - Legislador reduziu apenas às Contraordenações de Urbanismo –
interpretação limitativa. Tribunais têm aceitado o ambiente pois muitas dessas normas estão em
regras urbanísticas. O resto do contencioso contraordenacional fica submetido aos Tribunais
Judiciais – devido ao princípio da não denegação de justiça, o que não estiver explícito cai no
âmbito dos tribunais judiciais.
2. A Constituição determina que compete aos tribunais administrativos dirimir os litígios
emergentes das relações jurídicas administrativas (cf. artigo 212.º, n.º 3). Porém, é pacífico,
quer na doutrina, quer na jurisprudência, que esta norma não estabelece uma reserva material
absoluta de jurisdição, comportando derrogações pontuais, desde que não vão ao ponto de
descaracterizar o conteúdo essencial do modelo de dualidade de jurisdições.
3. Embora as contraordenações sejam, formal e materialmente, produto do exercício da função
administrativa, por razões de ordem prática, relacionadas com o menor número de tribunais
administrativos, o legislador entendeu atribuir o contencioso das contraordenações aos tribunais
judiciais, por considerar que eram estes os melhores posicionados a decidir, em tempo razoável,
estes litígios, que apresentam um volume processual considerável.
4. Estabelece a possibilidade de impugnação de um ilícito de mera ordenação social, mas apenas
no quadro das normas de urbanismo e também de normas tributárias. Esta norma é nova,
criticável pelo seu caráter diminuto (estabelece apenas no quadro do urbanismo), resulta da
Reforma de 2015 e alargou o âmbito da jurisdição.
5. Em matéria de princípios, qualquer ilícito de mera ordenação social (alínea l), na opinião do
Professor Regente, deveria ser apreciado pelo contencioso administrativo, todos. Esta matéria,
hoje em dia, deveria toda transitar para o Direito Administrativo (mas apenas se introduziu
urbanismo), mas na prática a justiça administrativa já alargou também até ao ambiente, é uma
tentativa de aos poucos introduzir o controlo do contencioso de mera ordenação social no
quadro do contencioso administrativo.

Artigo 6º
1.VPS: é estranho no nº3 e 4 se excluírem relações laborais públicas - materialmente elas são
Direito Administrativo, uma vez que tem a ver com as relações do Estado-empregador público o
funcionário ao serviço da Administração – quer tenha estatuto de funcionário ou estatuto de
trabalhador privado (mas que não deixa de ser um estatuto de Direito Público.

Artigo 7º
1. Alínea g) 4º ETAF - disposto no Regime Jurídico da Responsabilidade Civil Extracontratual
do Estado – Lei 67/2007 – no artigo 1º utiliza-se a expressão “prerrogativas de poder público”,
voltando à lógica da gestão pública – esta norma que ainda hoje vigora pode continuar a gerar o
problema da destinação entre gestão pública e gestão privada e não saber qual o direito
aplicável. Vasco Pereira da Silva: critica a lei e arranja uma solução – ao referir “normas e
princípios do Direito Administrativo”, a referência aos princípios permite o controlo também
das atuações de gestão privada porque se diz no CPA que os princípios do Direito
Administrativo se aplicam a toda a atividade da administração, ainda que de gestão privada.
3. A expressão “atuação regulada por disposições ou princípios de direito administrativo”, em
termos amplos, fazendo-a corresponder a todo o universo da função administrativa, não é menos
certo que a outra expressão utilizada, “prerrogativas de poder público” – ao referir-se a
princípios abrange as antigas atuações de “gestão privada” – por mais privado que seja
qualificado o regime jurídico aplicável a uma atividade administrativa, ele não pode nunca
corresponder a uma “fuga para o direito privado”, pois àquela continuam a ser também sempre
aplicáveis os princípios de Direito Administrativo; Não há esquizofrenia pois coordenando com
o art. 2º/3 CPA mostra que a regulação é una.
4. Legislador pretendeu unificar todo o regime da responsabilidade civil correspondente ao
exercício da função administrativa, independentemente da natureza da atividade – legislador
adotou um sentido amplo de função administrativa para efeitos de responsabilidade civil
administrativa, que abrange atuações públicas e privadas.

Artigo 8º
1. Tribunal Administrativo é competente quando “haja lugar” a Responsabilidade Civil
Administrativa. Deu origem a discussão entre juízes do TA e surgiu tendência jurisprudencial
criticada pela doutrina que só se podia determinar exatamente a competência do tribunal depois
de saber se havia responsabilidade civil. Se houvesse dúvida o TA já não se considerava
competente e seriam os tribunais judiciais que eram competentes – se eles não se considerassem
competentes o Tribunal de Conflitos vai decidir. Assim, compete aos tribunais da ordem
administrativa e fiscal a apreciação de litígios que tenham, nomeadamente, por objecto as
questões em que, nos termos da lei, haja lugar a responsabilidade civil extracontratual das
pessoas coletivas de direito público (art. 4º, nº. 1 alínea f), do ETAF).
3. Mas igualmente lhe compete a apreciação da responsabilidade civil extracontratual dos
sujeitos privados aos quais seja aplicável o regime específico da responsabilidade do Estado e
demais pessoas coletivas de direito público (artigo 4º, nº. 1 alínea h), do ETAF), e bem como
ainda a competência para dirimir os litígios nos quais devam ser conjuntamente demandadas
entidades públicas e particulares entre si ligados por vínculos jurídicos de solidariedade (art. 4º,
nº. 2).
4. Alínea i) - Casos em que a Administração atua sem título que a legitime, designadamente
ocupando imóveis de propriedade privada sem proceder à respetiva expropriação
5. Alíneas b), c), d) – contencioso dos atos administrativos e regulamentos - núcleo duro da
jurisdição administrativa, que tem por objeto a fiscalização dos atos administrativos e
regulamentos (é um conjunto de normas que é emanado de um órgão da Administração
Pública– 135º CPA) e fiscalização da legalidade de atos jurídicos (como é a licença).

Artigo 9º
1. Alínea b) - um conceito orgânico de AP; isto é: apenas estão em causa atos e normas
praticados por entidades públicas que integrem a Administração Pública (Estado, Institutos
Públicos, Entidades Públicas Empresariais, Autarquias Locais, etc.).
2. Alínea c) - tem em vista apenas atos administrativos praticados por órgãos públicos que não
integrem a AP em sentido orgânico; isto é: tem em vista os casos em que órgãos que a título
primário desempenham outras funções, também possam exercer, residualmente, a função
administrativo e nesse âmbito praticar atos administrativos (é o caso justamente do Presidente
da AR: trata-se de órgãos primariamente destinados a exercer a função legislativa, mas que
desempenham funções administrativas residuais; por exemplo num ato disciplinar praticado
pela Presidente da AR em relação a um funcionário da AR: entra aqui); é em relação a “atos
materialmente administrativos” o que implica uma ampliação do Contencioso
3. Alínea d) - tem em vista atos jurídicos ou normas quando praticados por quaisquer entidades
(públicas ou privadas) no exercício da função administrativa, a alínea tem sobretudo em vista as
hipóteses de atos ou normas praticados por entidades privadas no exercício de funções públicas
(pensem, por exemplo, em concessionários, aos quais são por vezes atribuídos poderes para a
emissão de atos administrativos ou normas) mas abrange também as hipóteses de atos ou
normas de órgãos públicos = o d) acaba por abranger quer o b), quer o c).
4. Perante isto, e perante o caso das normas regimentais (que são normas regulamentares, não
atos administrativos) aprovadas pelo Presidente da AR, das duas uma: - ou se entende que,
apesar de apenas referir a atos administrativos, caem na alínea c); - ou sempre cairão na alínea
d). MAS as normas regimentais são qualificadas como atos administrativos, o art. 148.º CPA e
art. 51º/1 do CPTA qualifica-os em matéria de impugnação dos atos administrativos.

Artigo 10º
1. Alínea e) - Estão, desde logo, abrangidos pelo âmbito da jurisdição administrativa os
contratos administrativos. O n.º6 do art. 1º do CCP é constituído por quatro alíneas. O primeiro
grupo corresponde aos dos contratos administrativos por natureza, que são submetidos a um
regime do Direito Administrativo em razão da natureza pública do seu objeto ou do seu fim.
Pode dizer-se que integram este grupo os contratos a que se referem as alíneas b), c), e d) do
n.º6 do artigo 1 dos CCP.
2. O segundo grupo corresponde aos contratos administrativos por determinação da lei e
abrange os tipos contratuais que, ainda que não sejam contratos administrativos por natureza, a
própria lei opta diretamente por qualificar como administrativos: submetendo-os a um regime
substantivo de direito público (art. 1º/6, alínea a) do CCP); 3º contratos que, não sendo
administrativos por natureza, nem a lei os qualificando como administrativos, só são
administrativos na medida em que a lei aceita que as próprias partes, desde que uma delas seja
um contraente público, os qualifiquem como administrativos, ou os submetam a um regime
substantivo de direito público (art. 1.º/6/ alínea a), art. 3/1/b) e 8.º do CCP).
3. A previsão do preceito compreende claramente litígios respeitantes a quaisquer contratos, que
não apenas a contratos administrativos , e tanto contratos celebrados por pessoas coletivas de
direito público, como contratos celebrados por entidades privadas, quando sujeitas a regras de
direito público em matéria de procedimentos pré-contratuais
4. O critério não é aqui o contrato administrativo, mas o do contrato submetido a regras de
contratação pública: desde que um contrato seja submetido a regras procedimentais de formação
de Direito Administrativo, todas as questões que dele possam vir a emergir devem ser objeto de
uma ação a propor perante tribunais administrativos e não perante a tribunais judiciais – e isto,
independentemente da sua qualificação ou não como contrato administrativo , nos termos do
CCP.

Artigo 11º
1. ”Reforminha” de 2019, a qual foi uma reforma de juízes. Estes juntaram-se e procuraram
estabelecer um conjunto de regras que entendiam ser necessárias para conseguir uma maior
celeridade nos tribunais administrativos. Foi uma reforma que tinha como lema a celeridade.
Em relação ao Estatuto, manteve-se grande parte das críticas que o Professor Regente fazia:
manteve esquizofrenia do Tribunal Administrativo;
2. Manteve alguma diferenciação no tratamento entre Tribunais do Contencioso Administrativo
e do Tributário e, nos termos da especialização, sem ter crescido nas outras realidades, criou
tribunais especiais no quadro do contencioso administrativo – surgem ao lado de juízos comuns,
os juízos especiais dos contratos públicos, do urbanismo, do ambiente (trata-se de uma forma de
especialização).
3. Se em geral, a alteração é positiva, não se percebe a razão pela qual o legislador decidiu
mexer no artigo 4.º, n.º 4, e) do ETAF. O exemplo de que os Serviços Públicos essenciais, nas
relações de consumo, era matéria do contencioso judicial e não do contencioso administrativo e
não se entende porquê, uma vez que é notoriamente da função administrativa. Professor utiliza a
Lei n.º 23/94 de 26 de julho para justificar que, efetivamente, esta alteração não fez qualquer
sentido. Solução recente de 2015, pq antes eram colocadas as soluções pela jurisdição adm, o
que esta em causa é um conflito de consumo, temos uma relação jurídica privada por assim
dizer e os conflitos de consumo trazem muitos constrangimentos a nível de celeridade por
razões de ordem prática
Há quem diga que isto é inconstitucional pelo 212º/3 CRP (Vasco Pereira da Silva)

Artigo 12º
1. Já vimos que em relação ao Estatuto, se por um lado se criou a especialização dos tribunais e
se aproximou a justiça fiscal da justiça administrativa, por outro lado mantiveram-se algumas
outras realidades tal como a esquizofrenia do tribunal, a lógica da existência de dois processos
para o âmbito de jurisdição, a ideia peregrina de pegar numa relação jurídica administrativa, as
relações de serviços públicos que prestam bens e serviços no âmbito do consumo, e transferir
essa realidade que é administrativa desde sempre e transferi-la para o processo civil sem que
houvesse razão para tal.

Artigo 13º
1. Por exemplo, no quadro dessa atuação há uma previsão do uso e melhoria do uso dos meios
informáticos e aqui o problema é reduzido. Aliás, ainda bem que o código faz esta afirmação de
princípio e vem estabelecer no quadro do CPTA esta ideia do artigo 24º, de que o processo dos
tribunais é eletrónico, mas é pouco. É preciso determinar aquilo que é digitalizável e aquilo que
não é, é preciso estabelecer regras especiais para o processo digitalizado, aperfeiçoar e adaptar
os meios tradicionais para reagir contra algoritmos, que são regulamentos e como tal devem
poder ser impugnados, é preciso alterar as regras processuais.

Artigo 14º
1. O problema do patrocínio judiciário é que não faz sentido que o Ministério Público também
possa ser patrocinador, o advogado da Administração - mesmo que isso aconteça só em termos
excecionais. O problema não é o excecional, o problema é a possibilidade de isso existir. É
condenado até pelos tribunais europeus porque o Ministério Público não tinha apenas funções
de parte, atuava também como juiz. Isto obrigou a que o legislador de 2004 transformasse o
Ministério Público numa parte processual.
2. Mas apesar disso ter acontecido, ainda aparecem resquícios do passado a dizer que o MP
também pode patrocinar a administração. Então pode ser parte do lado do autor e advogado do
lado do réu? Não faz sentido que isto possa existir, e portanto, o MP só pode ter funções de
parte. O artigo 11º/1 diz que é excecional mas o problema não é a excecionalidade, o problema
é o MP ter outro papel que não o de parte. Apesar de não participar no julgamento, tem funções
que vêm do passado. Mais valia não ter mexido, é preciso acabar com isto.

Artigo 15º
1. Já no contencioso pré-contratual aparece uma anedota. Em 2015 estabeleceu-se o efeito stand
still (é preciso estar e verificar a legalidade do contrato e só depois celebrar o contrato) se não,
como diz a U.E., tornava-se num contencioso de meras indemnizações. A lógica europeia é
evitar processos cautelares nestes domínios e isso estava assim na versão de 2015.
2. Porém, em 2019, o legislador referiu que existia o stand still mas em casos muito limitados
quando alguém no prazo de 8 dias pedisse, se não, há providencias cautelares. Ou seja,
transformaram um processo urgente que devia conduzir a decisões rápidas e era ele próprio
processo cautelar e final e transformaram isto num procedimento em que há fase cautelar que só
vai servir para aumentar a morosidade e violar o direito europeu.
3. Também em relação à suspensão da eficácia não se altera nada, mantém-se a mesma regra de
que quem decide é a lei. Esta realidade não faz sentido, mesmo que seja uma decisão transitória,
quem tem que decidir é o juiz que é obrigado a decidir dentro do prazo. Alguém apresenta o
pedido e o juiz tem que dizer qual é o interesse prevalecente, se é o direito lesado, se é o da
dimensão enorme da violação do princípio do interesse publico.
4. Aquilo que estava em 2015, não sendo ainda ideal, era melhor que aquilo que está agora e
cumpria as diretivas europeias. Portugal está neste momento e desde 2019 em violação grave da
diretiva europeia em matéria de contratação pública.
5. Artigos 103º-A e 102º-B: na perspetiva do Professor Vasco Pereira da Silva, são violadores
da letra e do espírito da diretiva. O efeito suspensivo automático (efeito stand still) passou a
existir em casos diminutos. Está limitado aos casos previstos no nº 2 do artigo 120º CC, casos
relativos a contratos verbais. Significa que, na prática, isto não tem aplicação, os contratos
públicos são quase todos por escrito. Isto defrauda a lógica da União Europeia. Se a União
Europeia diz que há efeito stand still e o legislador português diz que há efeito stand still quanto
aos contratos verbais, mas mesmo assim pode-se discutir providências cautelares (vai protelar a
decisão fazendo com que o processo urgente não seja urgente) estaríamos a violar a diretiva
europeia. Ou seja passou a ser um processo normal em que se vão discutir as providências
adequadas.

Artigo 16º
1. A União está desde os anos 80 preocupada em estabelecer um regime comum para todos os
contratos públicos que acontecem no seio da União, são essenciais para a organização da
comunidade, a existência de liberdade de circulação permite que qualquer pessoa se possa
candidatar a ser parte nestes contratos. Se não houver standstill o contencioso dos contratos
torna-se contencioso da responsabilidade civil, pois das duas uma, se o Particular celebra
contrato com a administração e a administração tem de pôr termo ao contrato tem de haver
indemnização.
2. Por outro lado, se foi celebrado contrato e a administração entende que há ilegalidades, mas
tem de se safar de problemas então responsabiliza-se os sujeitos. Transformam-se em
contenciosos de responsabilidade quer se mantenha o contrato quer seja anulado, os sujeitos
diferentes, mas é contencioso da responsabilidade que leva a um aumento das despesas
incontrolável no quadro da administração e é algo que torna ineficaz o controlo da validade
material dos contratos.

Artigo 17º
1. Na lógica de 2004 havia duas ações – ação comum e ação especial. Depois, em 2015 ficamos
só com a ação especial. Mas o que é preciso é que cada uma das ações permita que o particular
suscite todos os pedidos e que o juiz decida da forma adequada e que daí resultam sentenças de
simples apreciação, constitutivas ou de anulação e condenatórias, para além de sentenças mistas
que é a realidade normal do processo administrativo.
2. Importa referir que o professor discorda da distinção esquizofrénica entre ação comum e
especial. Em primeiro lugar, o próprio nome é um disparate porque apesar de aparentemente se
dizer que isto era como o processo civil, não era, porque o critério do processo civil era das
formas de atuação e, portanto, aquilo a que se chamava de ação especial era tudo o que tivesse a
ver com atos e regulamentos, ou seja, a maioria do contencioso administrativo, e tudo o resto
estava na ação comum. Agora há regras de processo para todo o processo administrativo porque
efetivamente, a especificidade de o um processo equitativo, obriga à criação de regras de
tramitação específicas. Continua-se a recorrer, ao lado das noções processuais, às noções
substantivas de forma de atuação administrativa e sobretudo, como veremos, porque o
legislador criou verdadeiras ações como se fossem ações autónomas e portanto, aparentemente
só há uma ação mas todas elas são reguladas com normas sobre o objeto do processo, os
pressupostos processuais e a tramitação processual.
3. Até 2004, o processo estava dividido e isto significava que o particular tinha que começar por
anular o ato. Depois de anular, tinha que conseguir que aquela anulação fosse executada.
Atualmente, num único processo declarativo apreciam-se todos os pedidos. A sentença, que é
uma sentença mista, resolve integralmente todos os conflitos e permite tutela plena efetiva.
Sendo isto assim, é importante que legislador no artigo 4º/2 CPTA dissesse o que era
cumulável. Cada pedido funcionava autonomamente e todos eles passavam previamente pelo
recurso.

Artigo 18º
Portanto, o legislador de 2004, se queria mudar estado de coisas, tinha que dizer que as
cumulações de pedidos eram possíveis, por isso fez bem ao elencar no nº 2,
exemplificativamente, estes casos de cumulação. No entanto, o professor Miguel Teixeira de
Sousa tem razão quanto à cumulação aparente mas isto não significa que também não hajam
casos de cumulação real iguais aos que existem no processo civil, aplicando-se, nesse caso,
supletivamente, a realidade do processo civil. Isso decorre do termo “designadamente” e
decorre dos critérios do nº 1 que são gerais. O problema é que esta cumulação aparente só é
aparente para o processo civil e não para o processo administrativo e por isso o legislador atuou
bem, na ótica do professor regente.

Artigo 19º
1. As normas originárias de 2002/2004, que são as do Art.9º/1 CPTA e Art.10º/1 com a
conjugação do Art.8º-A, também continuam a ser colocadas em termos idênticos àqueles que,
na sua perspetiva, deviam corresponder a um Contencioso verdadeiramente subjetivo. O Art.9º
diz que é considerada parte legítima quem alegue ser parte na relação material controvertida,
ou seja, é parte processual quem alega ser parte na relação controvertida - é muito próximo do
que existe no Processo Civil. O Professor preferia que dissesse: “quem alega titularidade de
direito”, mas alegar que tem a qualidade de parte na relação material vai dar ao mesmo.
2. E o Art.10 º é o contrário disso, pois diz: “tem legitimidade passiva a outra parte na relação
material controvertida”, ou seja, o processo existe para julgar relações jurídicas (é o que resulta
da Constituição – Art.212º/3 CRP) e para julgar essas relações no quadro de um processo de
partes, é preciso analisar a relação material controvertida. Isto é radicalmente novo - Primeiro,
porque no Processo Administrativo não havia partes e não havendo partes, ser ou não titular de
direitos era absolutamente irrelevante. Porque a administração e a justiça eram a mesma parte –
era essa a realidade administrativa.
3. A administração não era parte porque ela era igual ao juiz, estava ali para auxiliar o juiz na
descoberta da verdade – isto é dito pelo Professor Marcello Caetano e depois pelo Professor
Freitas do Amaral. A administração não é parte e não tem de contribuir. A administração é um
poder comum. E o particular também não possui direitos. Diz o Professor Marcello Caetano que
a posição do particular é igual ao juiz, que o que ele queria era colaborar com o juiz na
descoberta da verdade, ele quer exatamente a mesma coisa que a administração e o juiz. Porque
na lógica tradicional o processo era algo que servia para verificar a legalidade e a legalidade é
uma coisa de todo. Os particulares iam a tribunal, não porque tinham sido violados os seus
direitos, não porque tinham sido lesados de uma forma grave, mas para ajudar a administração.
O particular ia defender não a sua, mas a legalidade objetiva da lei.
4. A administração não estava a ser julgada perante a lei, ela tinha praticado um ato e agora
queria a descoberta da verdade. Tudo isto significava que não havia partes no processo e esta
ausência de partes correspondia a uma lógica do Direito Administrativo em que a administração
é um poder que impunha autoritariamente a sua vontade a um súbdito, a um objeto. Portanto, na
lógica da doutrina clássica objetivista, dizia-se: “ninguém tem direito”.

Artigo 20º
1. Agora, as coisas estão reconduzidas à realidade processual. A legitimidade é algo que
corresponde à alegação da titularidade de um direito. A legitimidade está reconduzida à sua
verdadeira função. Só hoje é que se fala abertamente em direito subjetivo e há que continuar a
falar em interesses legítimos, interesses difusos, que são direitos subjetivos. São situações de
tutela, determinados pela lei que conferem posições substantivas de vantagem, logo, são direitos
subjetivos.
2. Isso resultou de uma sobrecarga do conceito de legitimidade, no quadro da reforma de
2002/2004. Aquilo que se veio dizer é que não estando o processo aberto a todos, é preciso
limitar o acesso ao processo aqueles que tenham interesse fático, que coincide com a
necessidade de que os envolvidos sejam beneficiários de facto, ao intentar o processo e neste
sentido essa posição é uma posição de interesse, o qual é a produção de um determinado
resultado.
3. O interesse tem que ser direto, pessoal e legítimo, tal como referido, enquanto que,
normalmente, no processo civil e agora também no processo penal, como vos disse, a única
característica que se exige é que o interesse seja direto, se afetar imediatamente o particular, na
medida em que aquela situação lesiva era imediatamente causadora de uma situação que o
particular decidia agir.
4. Ora se virmos bem no processo, o interesse enquanto emissão final, vai-se aproximar do
direito subjetivo em sentido amplo. Era o interesse pessoal pois era daquele indivíduo e era
legítimo. Assim, por um lado tínhamos uma construção objetiva, que não era tão objetivista
como parceria, a legitimidade permite fazer a ponte entre a relação jurídico-substantiva e a
relação jurídica processual própria.

Artigo 21º
1. Professores como o Senhor Professor Regente que possuem uma posição ampla de direito
subjetivo- como sendo qualquer posição de vantagem atribuída pela ordem jurídica que tanto
pode corresponder a uma posição imediatamente criada por lei, como pode corresponder a um
dever da administração no interesse do particular, como pode corresponder a qualquer outra
posição de vantagem no quadro substantivo particular quanto ao bem jurídico- dirão que
estamos perante direito. Outros autores como o Professor Mário Aroso de Almeida e o professor
Vieira de Andrade restringem mais com uma posição estabelecida por lei para exercer um poder
sobre um interesse do particular face à administração.
2. Depois há os autores binários, de interesse binário subjetivos, como Marcelo Rebelo de
Sousa, e trinitários ou unitários como Professores Paulo Otero e Freitas do Amaral, que ainda
não consideram o direito subjetivo como um interesse a ser protegido, não se pronunciam sobre
um poder do particular perante a administração; ainda há um trauma sobre isso, e a posição
jurídica administrativa ainda há de ter de dizer que há um verdadeiro direito subjetivo. Por outro
lado, temos uma concessão de direito subjetivo estritamente jurídico, não há nenhuma razão
para as construções binárias e não há nenhuma razão por que o que está em causa é exatamente
o que se passa no papel do domínio jurídico.
3. Para o Senhor Professor Vasco Pereira da Silva não há qualquer razão para essas construções,
os direitos subjetivos são concessões amplas com seus conteúdos que têm de proteger direitos e
seus vários tipos (ex: direitos potestativos, ao lado de direitos de natureza obrigacional, direitos
reais, são direitos que devem ser protegidos em sua plenitude); A atribuição do que é um
direito foi realizada pelo legislador, embora, algumas vezes pode este dizer mais do que deveria,
e acaba por estabelecer mais do que o sentido jurídico, o que põe em causa se há realmente um
direito estabelecido.
4. Mas ao invés disso, o legislador poderia estabelecer um dever da administração para com um
direito particular, direito de interesse legítimo. O que a lei está a fazer é regular uma situação
em nome do interesse do particular, está a atribuir um direito ao particular.

Artigo 22º
As situações de interesses difusos correspondem a direitos que normalmente não são atribuídos
pelo legislador, mas sim conforme a Constituição. Ex.: O Ambiente. É considerado um interesse
difuso e quer dizer que o legislador não teve uma visão estreita do direito e dos interesses. Os
direitos acabam por ter a ver com um interesse de ordem nacional e global que lhes compete
determinar. O segundo elemento é a questão da não individualização- não é de A, é de todos.
Mas o facto de se ter uma proteção legislativa de um interesse difuso, não significa que não há
um interesse indiretamente individual, que vai ser somado ao direito subjetivo de interesse
difuso – não é por ser de todos, que é de cada um.

Artigo 23º
1. Alargamento da impugnabilidade dos atos administrativos passa a ser determinada em
razão da eficácia externa e da lesão dos direitos dos particulares – dá cumprimento ao art.
268º/4 CRP. VPS: O critério da impugnabilidade do ato administrativo, sem se confundir com o
pressuposto processual da legitimidade, está com ela intimamente relacionado, pois depende da
questão de saber se está em causa uma ação jurídico-subjetiva ou uma ação pública ou popular.
2. Há uma extensão da impugnabilidade decorrente da possibilidade de apreciação dos atos
procedimentais – os atos de procedimento são sujeitos a uma impugnação autónoma (art. 51º/1).
3. Art. 51º/2/a) admite que não são apenas impugnáveis os atos finais, que põem termo a
procedimentos administrativos, mas também podem ser impugnados atos que não sejam o ato
final do procedimento.
4. Art. 51º/2/b admite a impugnabilidade de atos intra-administrativos (no âmbito de relações
interorgânicas). Atualmente a realidade interna das entidades públicas tende a ser
crescentemente caracterizada por fenómenos de conflitualidade que decorrem de opções, ao
nível da distribuição de competências, assentes na atribuição aos diversos órgãos de esferas de
ação própria. Desde que tenham conteúdo decisório, pode aplicar-se a atos cujos efeitos se
esgotam no plano intra-administrativo.
5. “pré-decisões” como os pareceres prévios obrigatórios vinculativos não são impugnáveis pelo
51º/1 - poderão ser impugnáveis nas relações inter- ou intraadministrativas, em que essas
“decisões” podem apresentar efeitos “externos” maxime, artigo 51.º, n.º 2, alínea b), artigo 55.º,
n.º 1, alíneas c) e d)).

Artigo 24º
1. 51º/n.º 1 diz que qualquer ato em qualquer momento do procedimento, o ato que não ponha
termo ao procedimento, é o ato impugnável e este ato pode provir de uma entidade
administrativa, de uma entidade da Administração e de um particular, ou seja, um conceito
amplo de ato administrativo, e um conceito que põe em causa a tripla definitividade. Não se
exige que o ato seja definitivo em termos horizontais, não tem que ser o ato que ponha termo ao
procedimento; não se exige que o ato seja definitivo em termos verticais, não há qualquer
referência ao órgão e não se diz que tem de ser o superior hierárquico; e não se diz que o ato
tem de ser definitivo em sentido material, nem sequer se diz que o art. 51.º permite a
impugnação de atos com fins definitivos.
2. Se consultarmos o nº1, que define a cláusula geral, mesmo um ato que não ponha termo ao
processo, um ato inicial, intermédio ou um qualquer ato no procedimento, é autonomamente
impugnável. Ora, para que isto protegesse o particular, era preciso que se garantisse que ter
impugnado um ato inicial ou intermediário, não impede que se possa impugnar apenas o ato
final e com isso afastar os outros atos anteriores, portanto não há o efeito preclusivo. Isto diz-se
no nº3. Não impede o particular de continuar a impugnar apenas o ato final.

Artigo 25º
1. Art. 51º/3 – em muitas situações ambíguas salvaguarda-se a possibilidade de se impugnar o
ato final do procedimento, mesmo no caso de não se ter reagido contra atos procedimentais
passíveis de impugnação, afastando, desse modo, o ónus de impugnação dos atos que não
ponham termo ao procedimento. Existe a faculdade mas não o ónus de impugnação.
2. Veja-se que o artigo 53º, é possível impugnar atos conformativos e de execução - eles não
são atos materialmente definitivos, não são sequer atos reguladores, usando a expressão de
Freitas do Amaral, não criam efeitos jurídicos novos, mas executam ou confirmam efeitos de
ato anterior. O legislador aqui, em 2015, já introduziu uma maior limitação do que aquela que
existia inicialmente – o que ficou de fora era aqueles atos, os atos “meramente confirmativos”
não tinham nenhum conteúdo que não a conformação do ato anterior - mas mesmo esses, na
medida do 59º/2 e 3, quando não houvesse a tal notificação, não se constituindo o ónus de
impugnar- os atos meramente confirmativos aqui continuam a ser impugnáveis.
3. Atos que não envolvem o reexercício do poder de decidir – são meras declarações
enunciativas/representativas da realidade, mediante as quais a Administração se limita a
reconhecer que já anteriormente foi tomada uma decisão sobre a matéria e porventura se recusa
a reexercer o poder de decidir. Embora este ato surja no seguimento de uma definição
introduzida pelo ato anterior, o certo é que introduz um efeito jurídico inovador.
4. O que sucede com o ato de execução de um ato administrativo anterior é que ele tem um
conteúdo misto que, em parte, é confirmativo do ato exequendo, mas em parte é inovador,
introduzindo ele próprio uma decisão dirigida a modificar a ordem jurídica. Ele não pode ser
impugnado na parte que assume, pressupõe ou reafirma uma decisão contida em ato anterior
(mesmo que tenha os mesmos vícios e invalidades, não se pode invocar contra ele o que já se
podia ter invocado contra o ato anterior), a não ser que preencham os requisitos do art. 53º/2.
Ele pode ser impugnado na parte que acrescenta novo efeitos jurídicos àqueles que já tinham
resultado do ato anterior e que podem ser contrários às regras às quais devem obediência – art.
53º/3 (tem vícios próprios, na medida em que tenham um conteúdo decisório de caráter
inovador).

Artigo 26º
1. A questão mais discutida desde a reforma de 2015, é a questão da definitividade vertical. No
51º, nem em nenhum dos artigos que se referem à impugnabilidade (54º), encontramos
referência alguma ao pressuposto processual do recurso hierárquico necessário ou reclamação
necessária. Qualquer ato administrativo ou de um subalterno produz imediatamente efeitos. Ou
seja, se o ato do superior não acrescenta nada ao ato administrativo ou ao pressuposto
processual, era preciso que o pressuposto estivesse aqui referido e não está.
2. Deste modo, o Professor Regente Vasco Pereira da Silva, é contra a necessidade de uma
prévia impugnação administrativa. A seu ver, é manifestamente inconstitucional uma exigência
desse tipo. Isto porque colocaria em causa o direito a uma tutela efetiva ao estabelecer uma
restrição ilegal ao exercício dum direito (269º/4 e 5). Ou seja, ao nesse artigo se atribuir um
direito fundamental de acesso à justiça administrativa, não fará sentido permitir que ele venha a
ser limitado, pela exigência duma intervenção de entidade administrativa.
3. A haver uma regra destas, significaria que se o particular não recorrer previamente ao
superior hierárquico ou não reclame necessariamente, perderia o seu direito. Significando,
assim, uma redução do prazo de impugnação, de três meses a um mês. Não só isto afetaria a
defesa do seu direito, e dessa forma o princípio da plenitude, como afetaria o princípio da
efetividade, porque implicaria reduzir por 1/3 o prazo de impugnação.

Artigo 27º
1. A favor da inconstitucionalidade podemos invocar, também, uma violação do princípio da
separação de poderes. Se o particular pode usar a garantia, isso é algo que fica na sua
disponibilidade, usa como entender. O problema da inconstitucionalidade encontra-se no facto
de, se o particular não a usar, perde o seu direito. Assim, a garantia não se trata apenas duma
cautela, trata-se algo que se não for utilizado implica a preclusão da ação de impugnação.
Porque se essa exigência valesse, teria de valer como um pressuposto processual, e, portanto, a
impugnação administrativa é sempre facultativa.
2. No nº5, art. 59º, afasta a regra da necessidade de impugnação. Pois diz que a suspensão do
prazo, não impede o interessado de proceder à impugnação contenciosa do ato, na pendência da
impugnação administrativa. Ou seja, o particular pode simultaneamente suscitar a questão no
tribunal, porque ela é facultativa. Significa que, atualmente, o particular não é obrigado a usar
uma garantia administrativa prévia. Quer a reclamação quer os recursos ditos necessários do
CPA, tornaram-se desnecessários, porque na maior parte dos casos, o superior hierárquico ou o
autor do ato, concordam com a decisão anterior e raramente o superior não confirma a decisão.

Artigo 28º
1. Ação de condenação - é uma ação concebida com a sua maior amplitude, ela diz respeito não
apenas a omissões administrativas, mas também a atos de conteúdo negativo, e apesar de na
reforminha de 2015, o legislador parecer falar de uma alternatividade entre a condenação e a
impugnação nos casos em que haja um ato administrativo.
2. VPS -isso é uma regra que contraria a orientação geral do Código, que nos termos do artigo
50º dá preferência à ação de condenação, dizendo que quando está em causa um ato
administrativo, o legislador entendeu que esse era o processo devido e estabeleceu um
mecanismo em que o juiz convida o particular a substituir o pedido de impugnação pelo pedido
de condenação. Aroso de Almeida defendeu a cumulatividade, mas isso não é justificável no
caso português, porque a razão que leva a que na Alemanha se admita é porque o particular que
utilizou por engano a ação de impugnação poderia ficar sem a possibilidade de, passado o prazo,
usar a ação de condenação. Isto não acontece em Portugal, porque é a mesma ação;
3.Mas o legislador resolveu resolver esta polémica universitária através do n.º 3 do artigo 55º -
mesmo quando há um ato administrativo, nunca é o ato que é o objeto do processo, o que está a
ser objeto é o direito do particular a uma atuação administrativa discricionário ou com um
conteúdo determinado. Depende, então, da discricionariedade ou da vinculação que houver no
caso concreto, porque se aquilo que ele vai pedir corresponde a uma dimensão vinculada, então
nesse aspeto o tribunal pode condenar, tal como já sabemos que o legislador, e muito bem, nos
termos do artigo 71º pode mesmo apreciar os poderes discricionários.
4. Porem, todos os poderes têm elementos vinculados e elementos discricionários - diz-se que
mesmo quando está em causa um poder simplesmente discricionário, o juiz pode apreciar e
avaliar a situação e pode determinar o conteúdo do ato a praticar, mas deve explicitar as
vinculações a observar pela Administração.

Artigo 29º
1. Segundo o artigo 67º/1/b), a condenação à prática de ato administrativo pode ser pedida
quando, tendo sido apresentado requerimento que constitua o órgão competente no dever de
decidir: e o órgão tenha praticado ato administrativo de indeferimento (será Acão de
condenação pelo 51º/4, porque na falta desse pedido, o tribunal convida a parte a faze-lo +
87º/7) ou de recusa de apreciação do requerimento. Com a revisão de 2015 ficou claro que a
condenação à prática de atos administrativos não só pode ter lugar em situações de omissão (art.
67º/1/a), recusa (art. 67º/1/b)
2. mas também como reação à prática de atos administrativos de conteúdo positivo parcial (art.
67º/1/c) – se administração praticar ato que não dá cabal provimento às pretensões do autor, o
caminho não tem de passar pela impugnação do ato, pelo simples facto de existir um ato
administrativo impugnável de conteúdo positivo (pode ir logo pela condenação). Pode servir
para os casos em que o ato é parcialmente indeferido – pede-se que seja praticado nos termos
em que tal devia ter sido feito.
3. O Ministério Público vai atuar para defender o Direito, atuando na defesa da legalidade do
Direito público. Esta norma (art. 55º) está aqui porque o legislador criou este mecanismo todo e,
à cautela, decidiu introduzir a alínea b) e a alínea f). E o artigo 68º dizia, antes da reforminha de
2015 que o que está previsto em relação ao Ministério Público, só se poderia aplicar nos casos
em que estava em causa uma recusa de atuação do órgão administrativo e não uma simples
omissão - segundo uma interpretação corretiva, o Ministério Público só pode atuar se se
tratar de um ato de conteúdo negativo, visto que se tratasse de uma omissão, o Ministério
não teria poderes. Só os atos de conteúdo positivo podem ser objeto de um processo de
impugnação, dirigido à respetiva anulação ou declaração de nulidade.
4. porem: a alínea f) do artigo 68º não estabelece os limites que estão estabelecidos na sua alínea
b). Olhando para a alínea f) do artigo 68º, diz-se que têm legitimidade “as demais pessoas e
entidades mencionadas no n.º 2 do artigo 9º”. Assim, se um cidadão de Freixo que resolve
impugnar a decisão de construção do metro de Lisboa para defesa da legalidade e do interesse
público, e é parte legítima, apesar de não ter nenhuma relação com o metro. Eu acho isto um
absurdo, precisamente por faltar o pressuposto do artigo 66º/2, que é a titularidade de um
direito. E portanto, isto significa que se trata de uma ação física ou juridicamente impossível,
devendo haver lugar à absolvição do réu da instância. Se não há direito, não pode haver aqui
objeto do processo. Portanto, não pode haver aqui esta legitimidade para defesa da legalidade.
5. A Ideia de interesse em agir: quando alguém se dirige aos tribunais administrativos para
reagir contra uma atitude de recusa ou inércia da Administração, em defesa do seu direito à
prática de um ato administrativo, a necessidade de tutela judicial que a leva a tribunal
concretiza-se no interesse em obter uma pronúncia judicial que proporcione a obtenção do ato
pretendido.

Artigo 30º
Porém, a impugnação pura de atos de indeferimento é admitida a titulo excecional desde que o
autor justificadamente assuma que não quer obter o ato que fora recusado ilegalmente, mas
apenas o reconhecimento judicial de que o ato de indeferimento foi ilegal e pretende-se a sua
remoção, perante m interesse processual que só pode ser satisfeito dessa forma e não pela
condenação à pratica do ato devido.

Artigo 31º
1. O legislador desde ‘85 criou um meio específico de impugnação de atos em declaração de
ilegalidades de regulamentos. As normas sobre a impugnação e a condenação têm sido as mais
criticadas da reforminha de 2002/2004, no quadro de um processo que tenha por objeto imediato
um pedido contra um regulamento:
2. Os regulamentos, quando são aplicados, têm atos de aplicação que podem ser impugnados
pelo particular. Ao impugnar esse ato, o regulamento é indiretamente apreciado, mas não é
afastado da ordem jurídica, havendo apenas uma sentença de não aplicação ao caso concreto se
o juiz entender que o ato é ilegal. Se o ato é ilegal, mas foi praticado de acordo com o
regulamento, o juiz ao anular o ato por ilegalidades aplica o regulamento ao caso concreto. A
segunda situação corresponde à declaração de ilegalidade. Uma declaração de ilegalidade
dirige-se a um regulamento e aprecia a sua legalidade, e quando o afasta fá-lo em relação a
todos os casos concretos.
3. A condenação por não ter havido a prática de um regulamento - se há um dever de praticar
um regulamento, podemos condenar um determinado regulamento na prática, como podemos
também condenar um regulamento com determinado conteúdo e que seja vinculado.
4. O artigo 73º/1 fala da declaração de ilegalidade com força obrigatória geral, apreciando o
julgador o regulamento e decidindo se é legal ou ilegal e procedendo a essa declaração de
ilegalidade. O regulamento é uma norma jurídica, pelo que faz sentido que nesta legitimidade
estejam os defensores da ação pública e da ação popular, ou seja, o Ministério Público (al.b)) e
o ator popular (al. d)). Mas também faz sentido que se diga que quem for diretamente afetado
pela vigência do regulamento, quer no momento em que vai intentar a ação, quer num momento
futuro.
5. O Ministério Público pode atuar, nos termos do artigo 73º/2, relativamente a normas que não
são diretamente aplicáveis, mas esta possibilidade de atuar, conduz nuns casos a uma não
apreciação do regulamento e portanto uma não aplicação - que resulta da associação de um ato a
título principal e um regulamento a título secundário - OU noutros casos a uma declaração de
ilegalidade com efeitos no caso concreto. VPS: Não faz sentido - porque se o objeto do
processo é a apreciação da legalidade com força obrigatória geral, tem de ser apreciada sem
mais a legalidade da norma jurídica, e esta apreciação da legalidade ou é geral ou não é: se é
geral tem de valer para todos, não podendo valer só para quem intentou a ação. Por outro lado,
esta realidade é um contrasenso em termos teóricos, porque não pode haver uma apreciação
geral com força apenas para o caso concreto, é uma ilogicidade que agora está proibida no CPA
para os atos administrativos, mas que em muitos países gera uma inconstitucionalidade.
Confundir a desaplicação com a declaração de ilegalidade com efeitos no caso concreto é que é
um disparate.

Artigo 32º
Há determinados regulamentos que são vinculados, vinculando a lei a emissão de regulamentos.
Pode se apenas vincular à prática dos regulamentos, caso em que o particular vai pedir essa
condenação, ou pode dizer que essa prática está subordinada a determinados vínculos, caso em
que o particular pode intentar uma ação de condenação para um regulamento com aqueles
vínculos. Tal como se consagra no artigo 71º, que permite o controlo das formulações inerentes
à discricionariedade, não para se substituir à Administração, mas para determinar as suas
vinculações, também isso se verifica aqui no quadro dos regulamentos. E isto não é nada que
viole o princípio da separação de poderes, quem decide é a administração, o juiz vai apenas
dizer que a Administração deve atuar e quais são as vinculações concretas dessa atuação.
Portanto, o tribunal, diz o artigo 77º/2, condena a entidade à emissão do regulamento em falta,
fixando prazo para que a omissão seja suprida. Não há apenas uma declaração, há então uma
condenação à prática de um ato e a fixação de um novo prazo.

Artigo 33º
1. Avançando para as ações relativas à validade de execução do contrato – o 77.º -A e o 77.º -B.
MARIA JOÃO ESTORNINHO e MARCELO REBELO DE SOUSA, não fazia sentido que só
a Administração e contraente pudessem impugnar o ato - é preciso alargar o domínio da
legitimidade em algumas hipóteses. Na situação em que não foi adotado o procedimento pré-
contratual, quem foi afetado por isso tem poderes de impugnação; o mesmo para quem é afetado
pelo contrato. A técnica do artigo 77º não é a melhor, visto que o legislador, no artigo 77º-A/1,
distingue o n.º 1 quanto a pedidos relativos à validade total ou parcial de contratos (ou seja, diz
respeito à validade), do n.º 2 que diz respeito à sua execução. À partida, as regras deviam ser
mais alargadas no âmbito da execução do contrato, visto que, por exemplo, os utentes do metro
são afetados pela execução do contrato, pelo que deveriam gozar de legitimidade.
2. Agora o ator popular intervir nestes contratos, mesmo quando sejam ilegais, é que cria um
problema jurídico, porque estamos a falar de contratos, que são por natureza bilaterais. Como é
que um contrato bilateral pode ser impugnado por alguém que não tem interesse nenhum no
contrato e que não é afetado pelo contrato? Acho que isto é de novo uma situação de objeto do
processo física e legalmente impossível, não fazendo sentido a intervenção do ator popular no
contencioso contratual. O alargamento da legitimidade é justificado por se tratar de entidades
afetadas pelo contrato, pelo que esse alargamento faz sentido. O que não faz sentido é este
alargamento cair na ação popular, tanto que é um limite inultrapassável.

Artigo 34º
1. Caso das ações de impugnação de contratos propostas por terceiros em relação a esse contrato
– para que a procedência da ação possa produzir o seu efeito útil normal, é necessário que ela se
projete na esfera jurídica de ambas as partes no contrato, pelo que ambas têm de ser
demandadas nesta ação, em regime de litisconsórcio necessário passivo.
2. Estatuto dos Contrainteressados: tanto nos processos de impugnação de atos administrativos
(art. 57º), como nos processos de condenação à prática de atos administrativos (art. 68º/2), para
além da entidade que praticou ou se pretende que pratique o ato em causa, também devem ser
demandados os titulares de interesses contrapostos aos do autor. Há particulares que têm
interesses idênticos aos da Administração, devido à atuação jurídica visar multilateralmente
vários sujeitos, ou, pelo menos, estes podem ser diretamente afetados na sua consistência
jurídica com a procedência da ação atendendo às consequências gravosas que resultam da sua
falta de citação.

3. Mas essa circunstância não retira aos Contrainteressados a sua qualidade de verdadeiras
partes no litígio, para o efeito de se verem demandados em juízo, Art. 10º/1/parte final, 57º,
68º/2. Se ele é parte que intervém no processo, ela tem de ser citada – 81º/3 e 6. Devia ter-se
instituído como litisconsórcio necessário.
4. Devido a multilateralidade das relações administrativas, como não se sabe quem pode ser
afetado devem demandar-se todos para assegurar o efeito útil da ação. Mais não são que sujeitos
principais da relação jurídica multilateral, enquanto titulares de posições jurídicas de vantagem
conexas com as da Administração, intervindo nesses termos no processo administrativo. São
verdadeiros sujeitos de relações jurídicas administrativas multilaterais – há uma “rede” de
ligações jurídicas entre múltiplos sujeitos, uns do lado ativo, outros do lado passivo, que são
titulares de posições de vantagem juridicamente protegidas, pelo que deve gozar dos
correspondentes poderes processuais. *regime da coligação – artigo 12º*
5. Litisconsórcios necessários passivos (como pressupõe o trecho e parte da doutrina: Vasco
Pereira da Silva, Paulo Otero, etc.), ou aproximam-se mais de uma figura híbrida, de tipo
“assistente necessário” (Mário Aroso de Almeida, Francisco Paes Marques) ou “litisconsórcio
imperfeito (Vieira de Andrade)?
6. As (insuficientes?) referências da lei processual administrativa: artigos 10.º/1, 57.º, 68.º/2,
78.º/1, b), 89.º/4, e), 155.º/2 do CPTA;

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