Você está na página 1de 61

O NOVO CÓDIGO DE

PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO

Funchal, 28 e 29 de Outubro de 2015


Ana Celeste Carvalho
Têm aplicação de imediato:
- As “Disposições Gerais”, que incluem as “Disposições Preliminares” e os
“Princípios Gerais da Actividade Administrativa;
- As normas sobre os “Órgãos da Administração Pública”, que versam
sobre a “Natureza e Regime dos Órgãos”, “Dos órgãos colegiais”, “Da
competência”, “Da delegação de poderes” e “Dos conflitos de atribuições
e de competência”;
- o regime das “Conferências Procedimentais” e, ainda,
- todas as normas sobre a “Actividade Administrativa”, que incluem as
referentes ao “Regulamento Administrativo”, ao “Acto Administrativo” e
aos “Contratos da Administração Pública”;
- O regime do acto administrativo, inclui o seu regime de eficácia,
invalidade, revogação e anulação administrativa, execução e dos
procedimentos revisivos, da reclamação e dos recursos administrativos.

Regras de aplicação da lei no tempo


Arts. 4º, 6º, 8º e 9º do D.L. nº 4/2015, de 07/01
Não tem aplicação imediata:
• O “Regime comum” do procedimento administrativo, que prevê:
- o responsável pela direcção do procedimento (artº 55.º),
- a utilização dos meios electrónicos (artº 61.º),
- o balcão único electrónico (62.º),
- as comunicações por telefax, telefone ou meios electrónicos (art.º 63.º),
- as normas sobre a relação jurídica procedimental, onde se incluem:
- sujeitos do procedimento (artº 65.º),
- auxílio administrativo (artº 66.º),
- interessados dos procedimento e legitimidade procedimental (67.º e 68.º),
- garantias da imparcialidade (69º a 76.º),
- direito à informação (artº 82.º a 85.º),
- prazos (86.º a 88.º),
- medidas provisórias (89.º e 90.º),
- pareceres (artº 91.º e 92.º),
- extinção do procedimento (artº 93º a 95.º),
- procedimento do regulamento e do acto (artºs 96.º a 134.º).

Regras de aplicação da lei no tempo


Arts. 4º, 6º, 8º e 9º do D.L. nº 4/2015, de 07/01
• Quer a Administração, quer os Tribunais, são chamados a aplicar
de imediato um conjunto muito alargado e significativo de
normas do novo CPA.
• Caberá primeiro à Administração e depois aos Tribunais, definir o
direito aplicável ao caso concreto, o que ocorre sempre que existe
uma sucessão de normas jurídicas no tempo.
• Numa primeira fase haverá a aplicação dos dois códigos, em
simultâneo, ao mesmo procedimento administrativo

Desafio para todos, em face do reduzido período de vacatio
legis (embora tenha existido uma longa discussão pública, de
cerca de um ano e meio, o novo Código diverge em algumas
matérias do anteprojecto de revisão).

Regras de aplicação da lei no tempo


Arts. 4º, 6º, 8º e 9º do D.L. nº 4/2015, de 07/01
• Arts. 6º e 8º/2 – Mantém em
vigor o art. 149º/2 do CPA/91
e relega a aplicação do art.
• Art. 4º, Conferências 176º/1 do novo CPA para o
Procedimentais, no momento de entrada em vigor
regime do Sistema de da nova lei, a aprovar no prazo
Indústria Responsável, de 60 dias a contar da data da
aprovado em anexo ao entrada em vigor do Código,
D.L. nº 169/2012, de sobre o regime de execução
01/08 dos actos administrativos

• O CPA/91 mantém-se em vigor


na parte referente à Execução
do acto administrativo
Regras de aplicação da lei no tempo
Arts. 4º, 6º, 8º e 9º do D.L. nº 4/2015, de 07/01
PRINCIPAIS TRAÇOS DO NOVO CPA
- Valores e conhecimentos do presente tempo histórico, civilizacional e
político
- Forte influência do Direito Comparado (Alemanha, Itália, Espanha e
direito Anglo-Saxónico)
- Fruto da integração na União Europeia
- Acolhimento de entendimentos doutrinários e jurisprudenciais construídos
ao longo da vigência do CPA/91
- Ligação com o Direito Processual Administrativo (reforma do CPTA)
- Exercício partilhado de Responsabilidades entre a Administração e o
cidadão
- Perda de simplicidade e maior complexidade de regime
NOVIDADES DO NOVO CPA
1. Alargamento dos Princípios Gerais da Actividade Administrativa
- maior número de princípios – arts. 3º ao 19º
- maior densificação dos princípios anteriormente regulados
2. Consagração de novos institutos
- auxílio administrativo
- conferências procedimentais
- acordos endo-procedimentais
3. Regulação em termos substancialmente distintos alguns institutos já
previstos
- nulidade
- anulabilidade
- revogação
- anulação administrativa
NOVIDADES DO NOVO CPA
4. Rompimento com o paradigma do Privilégio de Execução Prévia da
Administração ?
- dependência da aprovação da nova lei sobre o regime de Execução dos
actos administrativos

5. Utilização crescente de conceitos vagos, indeterminados ou com


reduzida densidade normativa
- “comportamentos adequados”, art. 7º/1
- “manifestamente desrazoáveis”, “incompatíveis com a ideia de Direito”,
art. 8º/1

6. Desvalorização das formalidades/procedimento em relação ao mérito


da decisão administrativa
- Compressão do princípio da legalidade
- Princípio do Aproveitamento do Acto Administrativo, art. 163º/5
NOVIDADES DO NOVO CPA
7. Silêncio da Administração
- Incumprimento do dever de decisão, art.º 129º
Havendo uma situação de silêncio ou incumprimento do dever de
decidir, no prazo de 90 dias (art. 128º), o interessado pode reagir utilizando os
meios de tutela administrativa (reclamação para o autor do acto ou recurso
hierárquico para o superior hierárquico) e judicial (acção de condenação à prática
de acto devido, art. 66º e segs. do CPTA).
Quando há incumprimento do prazo legal de decidir, o silêncio não vale
como acto administrativo.
Só não é assim quando a lei expressamente prever o deferimento tácito.
- Desaparecimento da figura do indeferimento tácito no CPA (o
indeferimento tácito já havia acabado com a reforma do contencioso
administrativo de 2002/2004)
- Deferimento tácito – art. 130º
Prevê os casos de deferimento tácito com mais clareza.
8. Responsabilidade pelo incumprimento de prazos ou por violação do
direito a uma decisão em prazo razoável
- Tutela directa da celeridade do procedimento administrativo e da
decisão administrativa, pela consagração expressa do dever de celeridade,
previsto nos arts. 59º, 60º/2 e 5º/1
- consagração do dever de celeridade e do dever de decisão em prazo
razoável, nos arts. 59º e 60º, os quais, conjugados com o critério da celeridade,
previsto no princípio da boa administração, no art. 5º/1, concretizam
normativamente o dever a cargo dos poderes públicos.
- ao abrigo deste quadro normativo, a Administração Pública passa a
poder ser demandada civilmente por danos decorrentes da delonga do
procedimento administrativo ou por incumprimento do dever de decisão
em prazo razoável, passando a existir um quadro normativo preciso.
- aspecto favorável para os cidadãos e com enorme relevância prática,
que vai exigir da Administração uma nova forma de actuação, de modo a ser
mais eficiente e célere na sua actuação.
NOVIDADES DO NOVO CPA
9. Regulamentos Administrativos
- Conceito mais restrito de regulamento: as normas jurídicas gerais e
abstractas que, no exercício de poderes jurídico-administrativos visem produzir
efeitos jurídicos externos – art. 135º
E os regulamentos internos? (Circulares)
- Regulação ampla do regime dos regulamentos: Elaboração (arts. 97º a
101º), Eficácia, Invalidade, Caducidade, Revogação, Impugnação (arts. 135º a 147º)
- Os cidadãos podem apresentar petições em que solicitem a elaboração,
modificação ou revogação de regulamentos – art. 97º/110º
- Consagra-se a audiência dos interessados em relação aos regulamentos
que contenham disposições que afectem de modo directo e imediato direitos ou
interesses legalmente protegidos dos cidadãos – art. 100º
- Omissão de regulamento: no silêncio da lei, os regulamentos de execução
devem ser emitidos no prazo de 90 dias, a contar do acto legislativo (só há
incumprimento do dever de regulamentar, se houver prazo para o fazer, o que agora
é previsto. Se a lei não fixar, vale o prazo regra de 90 dias) – art. 137º
NOVIDADES DO NOVO CPA
10. Acto Administrativo
- Conceito mais restrito de acto: decisões que, no exercício
de poderes jurídico-administrativos, visem produzir efeitos
jurídicos externos, numa situação individual e concreta – art. 148º
- Para efeitos da lei desaparecem os actos administrativos
internos, pois actos administrativos são apenas os que produzem
efeitos jurídicos externos.

- Identidade entre o conceito material de acto


administrativo e o conceito processual de acto impugnável,
previsto no art. 51º/1 CPTA revisto

O que fazer aos actos internos? Manter-se-ão na ordem


jurídica, embora sem enquadramento legal.
NOVIDADES DO NOVO CPA
11. Princípio da adequação procedimental
- Art. 56º - Remete para o princípio da boa administração (art. 5º)
- Relaciona-se com a forma como os órgãos agirão
procedimentalmente:
“Na ausência de normas jurídicas injuntivas”, a Administração
passa a poder conformar a tramitação procedimental.
- Filosofia subjacente ao Código de deslegalização do procedimento
administrativo, conferindo maior liberdade de conformação do
procedimento à Administração.
- Papel dos Tribunais Administrativos sobre a interpretação e
densificação do que seja a ausência de normas jurídicas injuntivas.
- Aberta a porta para a menor relevância das formas e das regras
do procedimento e para a relativização dos vícios de forma e de
procedimento.
NOVIDADES DO NOVO CPA
12. Clarificação do conceito de legitimidade procedimental e dos interessados
– arts. 65º e 68º
- Dificuldades na delimitação do conceito de legitimidade procedimental e
processual no âmbito das Conferências Procedimentais - artº 77º.
No caso da conferência deliberativa, destinada ao exercício conjunto das
competências decisórias dos órgãos participantes através de um único acto de
conteúdo complexo, que substitui a prática, por cada um deles, de actos
administrativos autónomos, quem terá legitimidade passiva para ser demandado?
Só se assegurará esse pressuposto processual com a presença de todos,
podendo estar em causa diferentes pessoas colectivas de direito público

Artigo 10º/1/6 e 8 CPTA – a outra parte na relação material controvertida ou


as pessoas ou entidades titulares de interesses contrapostos aos do autor; havendo
cumulação de pedidos deduzidos contra diferentes pessoas colectivas ou Ministérios,
são todos demandados e existindo litígios entre órgãos da mesma pessoa colectiva, a
acção é proposta contra o órgão cuja conduta deu origem ao litígio.
NOVIDADES DO NOVO CPA
13.Clarificação do regime de eficácia do acto
Regra geral: O acto administrativo produz efeitos desde a data em que é praticado
(Art. 155º)

quando seja emitida uma decisão que identifique o autor e


o destinatário e, quando for caso disso, o objecto

A Lei ou o próprio Acto podem atribuir eficácia:


- retroactiva – art. 156º
- diferida – art. 157º
- condicionada – art.157º

Os actos que imponham deveres, encargos, ónus, sujeições, sanções, que causem
prejuízos ou restrinjam direitos ou interesses legalmente protegidos, ou afectem
as condições do seu exercício, só são oponíveis aos destinatários a partir da
NOTIFICAÇÃO (art. 160º)
NOVIDADES DO NOVO CPA
14. Garantia de inoponibilidade aos destinatários dos actos constitutivos de
direitos ou outras situações passivas, sem prévia NOTIFICAÇÃO – Art. 160º
Regime jurídico das Notificações – Arts. 110º e segs.
- O início do procedimento é notificado às pessoas cujos direitos ou interesses
possam ser lesados pelos actos a praticar e possam ser nominalmente identificadas
- Salvo: i) se a lei dispensar;
ii) se prejudicar a natureza secreta ou confidencial da matéria, como tal
classificada, nos termos legais ou a adopção das providências a que o
procedimento se destina
- A notificação é efectuada à pessoa do interessado ou ao seu mandatário - se
tiver constituído mandatário é a este que a notificação deve ser feita
- Prevê-se o dever de o interessado ou o seu mandatário comunicar ao responsável
pelo procedimento quaisquer alterações dos domicílios – Art. 111º/1 e 2
- A notificação deve indicar: a entidade que ordenou a instauração do procedimento
ou o facto que lhe deu origem, o órgão responsável pela sua direcção, a data em
que o mesmo se iniciou, o serviço por onde corre e o seu objecto
Regime jurídico das Notificações – Arts. 110º e segs.

- Forma e Perfeição das Notificações:


a) Carta registada para o domicílio do notificando ou o domicílio por ele
indicado – presume-se efectuada no 3º dia útil posterior ao registo ou no 1º dia
útil seguinte, quando esse dia não seja útil (a presunção só pode ser ilidida pelo
notificando quando não lhe seja imputável o facto de a notificação ocorrer em data
posterior, devendo ser solicitada informação aos correios sobre a data efectiva da recepção)
b) Contacto pessoal com o notificando, se esta forma não prejudicar a celeridade
ou se for inviável a notificação por outra via
c) Telefax (presume-se efectuada na data da emissão, servindo de prova a cópia da
remessa com a menção de que a mensagem foi enviada com êxito, data, hora e número de
telefax do receptor, podendo a presunção ser ilidida por informação do operador), Telefone
(neste caso, a notificação é confirmada por carta registada, no dia útil imediato, sem
prejuízo de a notificação se considerar feita na data da primeira notificação) e Correio
Electrónico ou notificação electrónica automaticamente gerada por sistema ou
balcão único electrónico
c) Correio Electrónico ou notificação electrónica automaticamente gerada por
sistema ou balcão único electrónico:
- por iniciativa da Administração, sem necessidade de prévio consentimento,
para plataformas informáticas com acesso restrito ou para os endereços de correio
electrónico ou número de telefax ou telefone indicados em qualquer documento
apresentado no procedimento, quando se trate de pessoas colectivas
- mediante consentimento prévio do notificando, nos restantes casos
(por correio electrónico a notificação considera-se efectuada no momento em que o
destinatário acede ao específico correio enviado para a sua caixa postal electrónica;
no caso de outras notificações por via de transmissão electrónica de dados, no
momento em que o destinatário aceda ao específico correio enviado para a sua
conta electrónica aberta junto da plataforma electrónica disponibilizada pelo sítio
electrónico institucional do órgão competente
 em ambos os casos, havendo ausência de acesso à caixa postal
ou conta electrónica, a notificação considera-se efectuada no 25º dia posterior ao
seu envio, salvo se se comprovar (i) que o notificando comunicou a alteração da caixa
postal electrónica, (ii) que foi impossível essa comunicação ou (iii) que o serviço de
comunicações electrónicas impediu a correcta recepção
d) Edital, quando for a forma prescrita por lei ou regulamento ou quando o
notificando for incerto ou de paradeiro desconhecido
 por reprodução e publicação do conteúdo do edital na Internet, no sítio
institucional da entidade pública e ainda:
- no caso de incerteza das pessoas a notificar: por afixação de um Edital na
entrada do serviço da Administração por onde corre o procedimento
- no caso de incerteza do lugar onde se encontram as pessoas a notificar, por
afixação de 3 Editais:
(i) na entrada do serviço da Administração por onde corre o procedimento;
(ii) na porta da casa do último domicílio conhecido do notificando;
(iii) na entrada da sede da respectiva junta de freguesia.
 a notificação edital considera-se efectuada no dia em que os editais forem
afixados ou publicados na Internet, consoante o que ocorrer em último lugar
e) Anúncio, quando os notificandos forem em número superior a 50
 salvo o disposto em lei especial:
- no Diário da República ou na publicação oficial da entidade pública;
- num jornal de circulação nacional ou local, dependendo da matéria em causa;
- sempre, na Internet, no sítio institucional da entidade em causa, com a visibilidade
adequada à sua compreensão.
 a notificação considera-se feita no dia em que for publicado o último anúncio
NOVIDADES DO NOVO CPA
15. Separação entre a responsabilidade de promover a tramitação do
procedimento e a tarefa decisória – art. 55º

16. Diferença entre publicidade e publicação


– A falta de publicação do acto, quando legalmente exigida, implica a sua
ineficácia – art. 158º/2

17. Impugnação das operações materiais de facto ou de execução – art. 182º

18. Maior ligação com o direito processual administrativo:


– desenvolvimento do procedimento administrativo
– conteúdo do art. 172º sobre as consequências da anulação
administrativa, decalcado do regime do art. 173º do CPTA
NOVIDADES DO NOVO CPA
REGRAS GERAIS SOBRE PRAZOS:

- Excepto quanto ao prazo de decisão do procedimento e na falta de disposição especial ou da


fixação pela Administração, o prazo para os actos a praticar pelos órgãos administrativos
é de 10 dias – Art. 86º/1
- É de 10 dias o prazo para os interessados requererem ou praticarem quaisquer actos,
promoverem diligências, responderem sobre os assuntos ou exercerem outros poderes no
procedimento – Art. 86º/2
- Quando não for fixado na lei, os actos administrativos são notificados no prazo de 8 dias -
Art. 114º/5
- Regras de contagem dos prazos: Art. 87º
- Dilações: Art. 88º
- Na falta de disposição especial, os pareceres são emitidos no prazo de 30 dias, podendo o
responsável pela direcção do procedimento fixar, fundamentadamente, prazo diferente, o
qual não deve ser inferior a 15 dias, nem superior a 45 dias – Art. 92º/3 e 4
- Prazo de audiência dos interessados: 10 dias – Art. 122º/1
Prazos para a decisão do Procedimento – Art. 128º

 Os procedimentos de iniciativa particular devem ser decididos no prazo de


90 dias, salvo se outro prazo decorrer da lei, podendo, excepcionalmente, ser
prorrogado pelo responsável da direcção do procedimento, por um ou mais
períodos, até ao limite de 90 dias
- Para eventual apuramento de responsabilidade disciplinar, a
inobservância dos prazos deve ser justificada pelo órgão
responsável dentro dos 10 dias seguintes ao termo dos mesmos

 Os procedimentos de iniciativa oficiosa, passíveis de conduzir a emissão de


uma decisão com efeitos desfavoráveis aos interessados caducam, na ausência
de decisão, no prazo de 180 dias
RECLAMAÇÃO E RECURSO ADMINISTRATIVOS – Art. 184º e segs.

Finalidades:
(i) Impugnar actos administrativos, solicitando a sua revogação, anulação,
modificação ou substituição:
 Com fundamento em ilegalidade ou inconveniência do acto praticado
 Prazo para apresentação da reclamação: 15 dias, salvo se a lei
estabelecer prazo diferente – Art. 191º/3
 Prazo para apresentação do recurso hierárquico necessário: 30 dias,
salvo se a lei estabelecer prazo diferente – Art.193º/2
 Prazo para apresentação do recurso hierárquico facultativo: prazo
de impugnação contenciosa (regra: 90 dias – CPTA)

(ii) Reagir contra a omissão ilegal de actos administrativos, em incumprimento do


dever de decisão, solicitando a emissão do acto pretendido (eliminação da
referência ao indeferimento tácito que constava do CPA/91)
 Prazo: 1 ano para a sua apresentação
 Consideradas as finalidades das Impugnações Administrativas, não existe
coincidência entre o objecto da impugnação administrativa e o objecto da
acção administrativa:
- A impugnação administrativa poderá dirigir-se:
(i) à anulação de um acto de conteúdo positivo;
(ii) à substituição de um acto de conteúdo negativo por um acto de conteúdo
positivo ou
(iii) à prática de um acto que tenha sido omitido ou recusado.
- A acção administrativa, no plano jurisdicional mantém a distinção entre a
impugnação de acto administrativo, contra actos de conteúdo positivo e a
condenação à prática de acto devido, contra uma omissão ou recusa

 A reclamação e o recurso são necessários ou facultativos conforme dependa,


ou não, da sua prévia utilização a possibilidade de acesso aos meios
contenciosos

 Regra: as reclamações e os recursos são facultativos, salvo se a lei os


denominar como necessários
 Prazo para a decisão da reclamação e do recurso hierárquico: 30 dias – Artºs.
192º/2 e 198º/1
Pode confirmar, revogar, anular, modificar ou substituir o acto reclamado ou
praticar o acto ilegalmente omitido.
No caso do recurso hierárquico está vedada a possibilidade de modificar ou
substituir o acto em sentido menos favorável ao recorrente.
 Legitimidade para deduzir a reclamação ou o recurso – Art. 186º:
- por quem formulou a pretensão perante a Administração
- por qualquer contrainteressado que possa ser prejudicado pelo sentido da decisão

 Efeitos das impugnações de actos administrativos – Artº189º:


- as impugnações administrativas necessárias suspendem os respectivos efeito
- as impugnações administrativas facultativas não suspendem os respectivos efeitos,
salvo se:
. a lei dispor o contrário;
. quando o autor do acto ou o órgão competente para conhecer o recurso,
oficiosamente ou a pedido do interessado, considere que a execução imediata causa
grave prejuízo irreparável ou de difícil reparação e a suspensão não cause prejuízo de
maior gravidade para o interesse público.
Efeitos sobre prazos – Art. 190º

- A reclamação de actos ou omissões sujeitos a recurso administrativo necessário


suspende o prazo da respectiva interposição
- Nos demais casos, a reclamação não suspende o prazo de interposição dos recursos
administrativos

- A utilização dos meios de impugnação administrativa facultativos contra actos


administrativos suspende o prazo de propositura de acções nos Tribunais
Administrativos, que só retoma o seu curso com a notificação da decisão
proferida sobre a impugnação administrativa ou com o decurso do respectivo prazo
legal - Art. 59º/4 CPTA
- Essa suspensão do prazo não impede o interessado de propor acções nos Tribunais
Administrativos na pendência da impugnação administrativa ou de requerer a
adopção de providências cautelares - Art. 59º/5 CPTA
O regime de suspensão do prazo de propositura de acções só se aplica em
relação aos actos de conteúdo positivo ou negativo e não contra as omissões.
Apresentação dos meios de impugnação administrativa:
- A reclamação é dirigida e apresentada ao autor da prática ou da omissão do acto
- O recurso é dirigido ao mais elevado superior hierárquico do autor do acto ou da
omissão, salvo se a competência para a decisão se encontrar delegada ou subdelegada, e
é apresentado ao autor do acto ou da omissão

Art. 198º/4
- O indeferimento do recurso hierárquico necessário ou o decurso dos prazos de decisão,
conferem ao interessado a possibilidade de impugnar contenciosamente o acto do
órgão subalterno ou de fazer valer o seu direito ao cumprimento, por aquele
órgão, do dever de decisão (no primeiro caso através da acção de impugnação do acto
e no segundo caso através da acção de condenação à prática de acto devido).

Impugnação de Regulamentos – Arts. 147º e 184º


- Aplica-se o regime previsto nos arts. 189º e 190º para a impugnação facultativa de
actos administrativos
- Prazo geral de 90 dias para a emissão de regulamentos – Art. 137º/1
- Sendo a impugnação facultativa pode ser instaurada a acção administrativa de
impugnação de regulamentos e condenação à emissão de normas – Art. 72º e segs.
CPTA
1. Alargamento dos Princípios
Gerais da Actividade
Administrativa

- Maior número de princípios – arts. 3º ao 19º (17 princípios)


- Maior relevância aos princípios gerais da actividade administrativa
- Relação entre norma jurídica e princípio jurídico
- Novos Princípios:
- Boa Administração (art. 5º)
- Razoabilidade (art. 8º)
- Administração electrónica (art. 14º)
- Responsabilidade (art. 16º) – Art. 22º da CRP
- Administração Aberta (art. 17º) – Art. 65º/CPA91
- Protecção de dados pessoais (artº 18º)
- Cooperação leal com a União Europeia (art. 19º)
- Ampliação da densidade ou concretização de alguns princípios:
A circunstância de os princípios gerais da actividade administrativa não terem
todos a mesma densidade normativa foi assumida pelo legislador, que
reconheceu que o novo CPA conferiu “maior densidade” aos princípios:
- da igualdade (artigo 6º)
- da proporcionalidade (artigo 7º)
- da imparcialidade (artigo 9º)
- da boa-fé (artigo 10º)
- da colaboração com os particulares (artigo 11º)

Alargado o âmbito do controlo judicial da actuação dos poderes públicos

Reforço da tutela dos direitos e valores fundamentais dos cidadãos

- A discricionariedade administrativa não é uma escolha livre do Direito, entre


uma série de soluções, todas elas igualmente legítimas, antes implica a procura da
melhor solução para a satisfação, no caso concreto, dos interesses públicos
legalmente definidos - os princípios jurídicos orientam essa escolha.
Princípio da Boa Administração (art. 5º)
- A CRP nada diz sobre a “Boa Administração”.
Freitas do Amaral: a boa administração estava ligada à própria noção
de interesse público, prevista no art. 266º/2 da CRP, pois quando a
Administração prossegue o interesse público, deve exercer a boa
administração

- Fonte: Direito Comparado Europeu – consagração noutros ordenamentos

- Critérios: Eficiência, Economicidade e Celeridade (n.º 1) + Administração


Pública organizada e não burocratizada e aproximação dos serviços das
populações (n.º 2)

- Apela à ideia de bom andamento da Administração, de bom funcionamento


dos serviços, próxima da ideia anglo-saxónica de good governance
Princípio da Boa Administração (art. 5º)
- O princípio da Boa Administração traduz-se num princípio de
organização e de actuação da Administração Pública, que regula a
forma como a Administração deve agir e relacionar-se com os
cidadãos:
- dimensão do Direito Administrativo como conjunto de normas:
- atributivas de PODER
- GARANTÍSTICAS

- Reduzida densidade normativa

- Limitado o controlo judicial: o princípio da separação de poderes


limita o seu controlo judicial
(o juiz não é administrador – Art. 3º/1 CPTA)
Salvo: - Tribunal de Contas
- Casos pontuais / procedimentos especiais
Princípio da Boa Administração (art. 5º)
Art. 41º da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia,
“Direito a uma boa administração”:
“1. Todas as pessoas têm direito a que os seus assuntos sejam tratados pelas
instituições, órgãos e organismos da União Europeia de forma imparcial,
equilibrada e num prazo razoável.
2. Este direito compreende, nomeadamente:
a) O direito de qualquer pessoa a ser ouvida antes de a seu respeito ser tomada
qualquer medida individual que a afecte desfavoravelmente;
b) O direito de qualquer pessoa a ter acesso aos processos que se lhe refiram, no
respeito pelos legítimos interesses da confidencialidade e do segredo profissional e
comercial;
c) A obrigação, por parte da administração, de fundamentar as suas decisões.
3. Todas as pessoas têm direito à reparação, por parte da União, dos danos causados
pelas suas instituições ou pelos seus agentes no exercício das respectivas funções, de
acordo com os princípios gerais comuns às legislações dos Estados-Membros.
4. Todas as pessoas têm a possibilidade de se dirigir às instituições da União numa
das línguas dos Tratados, devendo obter uma resposta na mesma língua.”.
Princípio da Boa Administração (art. 5º)
Art. 41º da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia,
“Direito a uma boa administração”:
- A consagração do princípio da Boa Administração no ordenamento jurídico
nacional deve ser vista à luz da Carta dos Direitos Fundamentais da União
Europeia, no seu art.º 41.º , o qual adopta um conjunto de dimensões, como o
princípio da imparcialidade, o direito de participação procedimental, o
direito de acesso aos documentos administrativos, o dever de fundamentação,
o dever de decisão em prazo razoável e o dever de reparação por danos.

- Todas estas dimensões do princípio da Boa Administração mostram-se acolhidas


no ordenamento nacional, tendo consagração constitucional, como:
- princípios fundamentais, como seja o princípio da responsabilidade civil
dos poderes públicos, com consagração no art.º 22.º;
- princípios gerais da actividade administrativa, no que respeita ao
princípio da imparcialidade, consagrado no art.º 266.º, n.º 2;
- direitos procedimentais, previstos no art.º 268.º, no que se refere à
participação dos interessados, ao acesso à informação, à fundamentação e ao
patrocínio judiciário no procedimento.
 O ordenamento jurídico nacional acolhe de forma autónoma, todas as
dimensões previstas no art.º 41.º da Carta dos Direitos Fundamentais da
União Europeia, não só na Constituição, como na Lei, ora sob a forma de
princípio jurídico, ora sob a forma de norma jurídica.

Poderão os Cidadãos demandar a Administração, pedindo o controlo


judicial da legalidade da sua actuação, com base na violação do
princípio da boa administração?
- Os princípios jurídicos fundamentais materiais, substanciais ou valorativos,
sendo concretizações do princípio da juridicidade, regem duplamente, de forma
directa, a actividade administrativa:
- quer autonomamente, como padrões de validade;
- quer influenciando a interpretação e aplicação, administrativa e judicial, das
leis (interpretação conforme os princípios).
- Os princípios jurídicos têm formas diferentes de concretização: os de maior
densificação permitem que sobre eles recaia um amplo controlo judicial, mas os de
elevado grau de abstracção ou de indeterminação, impedem o controlo judicial ou
permitem que ele ocorra apenas em situações específicas.
Princípio da Razoabilidade (Art. 8º)

- Princípio de influência anglo-saxónica

- Não se apresenta suficientemente concretizado para permitir o


controlo judicial por parte dos Tribunais Administrativos

- A Administração deve “rejeitar as soluções manifestamente desrazoáveis


ou incompatíveis com a ideia de Direito”, o que nos remete para a questão
da densificação do conceito indeterminado do que seja “manifestamente
desrazoável” ou o que seja “incompatível com a ideia de Direito”. O
preceito remete-nos para a matéria de interpretação das normas jurídicas e
das valorações próprias do exercício da função administrativa.

- Será a doutrina e de forma muito relevante, a jurisprudência, quem


caberá concretizar o conteúdo do preceito.
- Se os princípios da Boa Administração e da Razoabilidade têm a sua razão
de ser em ordenamentos do tipo anglo-saxónico, em que, por não existir
ou existir em muito menor escala a pré-ordenação legal, têm a aptidão de
ampliar o controlo judicial, em ordenamentos do tipo continental, como
o português, em que os poderes públicos devem obediência ao princípio
da legalidade e em que a norma positiva enforma todo o ordenamento
jurídico, estes princípios assumem muito pouco relevo.

- Será duvidoso que o juiz administrativo possa controlar certa política


pública, designadamente, em áreas técnicas de controlo de políticas
públicas, com fundamento de que a mesma viola a boa administração ou é
desrazoável.

- Será com base noutras normas jurídicas ou com apelo a outros


princípios gerais da actividade administrativa, que não exclusivamente,
a invocação dos princípios da boa administração e da razoabilidade, que
poderá existir o controlo judicial pelos Tribunais Administrativos.
2. Consagração de novos institutos

- acordos endo-procedimentais – art. 57º


- auxílio administrativo – art. 66º
- conferências procedimentais – art. 77º
Acordos Endo-Procedimentais – art. 57º
Âmbito: Discricionariedade procedimental

Conteúdo: Acordo entre o órgão competente para a decisão final e os


interessados do procedimento sobre os termos do procedimento
- pode consistir na organização de audiências orais para o exercício do
contraditório entre todos os interessados (directo e contra-interessados)

- Durante o procedimento, o órgão competente para a decisão final e os


interessados podem celebrar contrato para determinar o conteúdo discricionário
do acto administrativo a praticar no termo do procedimento, no todo ou em parte

Efeito: Vinculativo

Tratam-se de acordos substitutivos de actos administrativos e podem terminar


o procedimento  o artº 127º determina que o procedimento pode terminar pela
prática de um acto administrativo ou pela celebração de um contrato
(fungibilidade entre acto e contrato).
Auxílio Administrativo – art. 66º
Âmbito: Solicitar o auxílio de quaisquer órgãos da Administração Pública
- para melhor conhecimento da matéria (competência exclusiva de certo
órgão ou conhecimentos aprofundados de outro órgão)
- para aceder a documentos ou dados na posse de outro órgão,
necessários para a instrução do procedimento
- seja necessária a intervenção pessoal ou o emprego de meios técnicos
de outro órgão

Competência: Órgão competente para a decisão final

Iniciativa: - própria do órgão competente para a decisão final


- proposta do responsável pela direcção do procedimento
- requerimento de um sujeito privado da relação jurídica procedimental

Em caso de recusa de auxílio ou de dilação na sua prestação: Resolução do


litígio pela autoridade competente para a resolução de conflitos de atribuições ou
de competências entre órgãos ou, não havendo, o órgão que exerça poder de
direcção, superintendência ou tutela.
Conferências Procedimentais – art. 77º
Âmbito: Exercício em comum ou conjugado das competências de diversos órgãos da
Administração Pública
- pode dizer respeito a um procedimento ou a vários procedimentos conexos
- pode determinar a tomada de uma decisão ou de várias decisões conjugadas

Objectivos: Promover a Eficiência, Economicidade e Celeridade

As Conferências Procedimentais relativas a um único procedimento complexo ou a


vários procedimentos conexos determinam a tomada de diferentes decisões por
diferentes órgãos:
- Conferência deliberativa – tomada de um acto de conteúdo complexo, que
substitui a prática, por cada um dos órgãos, de actos administrativos autónomos
(exercício conjunto de competências decisórias de diversos órgãos)
- Conferência de coordenação – tomada de vários actos administrativos
autónomos (exercício individualizado, mas simultâneo, das competências de
diversos órgãos)
3. Regulação em termos
substancialmente distintos alguns
institutos já previstos

- Nulidade – arts. 161º e 162º


- Anulabilidade – art. 163º
- Revogação – art. 165º e segs.
- Anulação administrativa – art. 165º e segs.
Nulidade – Arts. 161º, 162º e 164º/2
- Nulidade – apenas a legal – art. 161º/1 → maior certeza e segurança
jurídica
(eliminação das nulidades por natureza)

- Ampliação do elenco dos actos nulos – Art. 161º/2:


- actos praticados com desvio de poder para fins de interesse privado –
al. e)
- actos certificativos de factos inverídicos ou inexistentes – al. j)
- actos que criem obrigações pecuniárias não previstas na lei – al. k)
- actos praticados, salvo em estado de necessidade, com preterição total
do procedimento legalmente exigido – al. l)

- Eliminação do elenco dos actos nulos, dos “actos consequentes de actos


anteriormente anulados ou revogados, desde que não haja contra-
interessados com interesse legítimo na manutenção do acto consequente”
(artº 133º/2/i)/CPA91)
Nulidade – Arts. 161º, 162º e 164º/2
- Regime: invocável a todo o tempo
“salvo disposição legal em contrário” – caso das nulidades especiais, que
limitem a invocação da nulidade (ex. urbanismo - 10 anos)

- Novidade: Os actos nulos podem ser objecto de Reforma e de Conversão – Art.


164º/2

- Aperfeiçoamento de regime: Podem ser atribuídos efeitos jurídicos a situações


de facto decorrentes de actos nulos, de harmonia com os princípios da boa-
fé, da protecção da confiança e da proporcionalidade ou de outros princípios
jurídicos constitucionais, designadamente, associados ao decurso do tempo –
Art. 162º/3

Maior tutela da situação jurídica material e das posições jurídicas de
terceiros (contra-interessados), com interesse legítimo na manutenção nos efeitos do
acto)
Maior flexibilidade no regime da nulidade
Anulabilidade – Art. 163º
- Clarificação: possibilidade de os efeitos jurídicos produzidos pelo acto anulável
poderem ser destruídos, com eficácia retroactiva, em caso de anulação
administrativa ou judicial

- Novidade - Não produção do efeito anulatório nas três situações previstas no


nº 5:
a) O conteúdo do acto anulável não possa ser outro, por o acto ser de conteúdo
vinculado ou a apreciação do caso concreto permita identificar apenas uma solução como
legalmente possível – vícios materiais ou substanciais em relação a actos vinculados ou
com redução da discricionariedade a zero
b) O fim visado pela exigência procedimental ou formal preterida tenha sido
alcançado por outra via – vícios de natureza formal ou procedimental (mesmo para as
formalidades com consagração constitucional)
c) Se comprove, sem margem para dúvidas, que, mesmo sem o vício, o acto teria
sido praticado com o mesmo conteúdo – vícios materiais ou substanciais
Revogação e Anulação Administrativa
Art. 165º e segs.
Revogação: Acto administrativo que determina a cessação dos efeitos de outro acto, por razões
de mérito, conveniência ou oportunidade
(anterior regime de revogação dos actos válidos – art. 140º/CPA91)
. tem por objecto actos praticados no exercício de poderes discricionários - artº 167º/1
. em regra, produz efeitos para o futuro – art. 171º/1
(mas o autor do acto revogatório pode atribuir-lhe eficácia retroactiva, quando:
- esta seja favorável aos interessados
- os interessados concordarem expressamente
- não estejam em causa direitos ou interesses indisponíveis)

Anulação Administrativa: Acto administrativo que determina a destruição dos efeitos de outro
acto, com fundamento em invalidade
(anterior regime de revogação dos actos inválidos – art. 141º/CPA91)
. tem por objecto actos praticados no exercício de poderes estritamente vinculados -
art.º 167.º/1
. em regra, produz efeitos retroactivos – art. 171º/3
(mas o autor da anulação pode, na própria decisão, atribuir eficácia para o futuro,
quando o acto se tenha tornado inimpugnável por via jurisdicional)
Revogação e Anulação Administrativa
Art. 165º e segs.

Regime Comum:

- Têm por objecto os efeitos dos actos administrativos, incidindo sobre os actos
administrativos que sejam susceptíveis de produzir ainda efeitos jurídicos - artº
166º/1 e 2

- Ambas podem ser de iniciativa oficiosa da Administração ou ser praticada a pedido dos
interessados

- Sendo a pedido dos interessados: através da Reclamação ou do Recurso hierárquico


Revogação – Art. 165º e segs.

- São aplicáveis à alteração e substituição de actos


administrativos, as normas reguladoras da revogação - Art.º
173º/1 do CPA.

- Condicionalismos aplicáveis à revogação – art. 167º

- os actos administrativos não podem ser revogados quando


a sua irrevogabilidade resulte de vinculação legal ou quando deles
resultem, para a Administração, obrigações legais ou direitos
irrenunciáveis – nº 1
Revogação – Art. 165º e segs.
Condicionalismos aplicáveis à revogação – art. 167º

Actos constitutivos de direitos

- Noção de actos constitutivos de direitos: os actos administrativos que atribuam


ou reconheçam situações jurídicas de vantagem ou eliminem ou limitem deveres,
ónus, encargos ou sujeições, salvo quando a sua precariedade decorra da lei ou da
natureza do acto – nº 3
(aplicável ao regime da anulação administrativa)

- Os actos constitutivos de direitos só podem ser revogados – nº 2:


a) na parte em que sejam desfavoráveis aos interesses dos beneficiários;
b) quando todos os beneficiários manifestem a sua concordância e não estejam
em causa direitos indisponíveis;
Revogação – Art. 165º e segs.
c) com fundamento em superveniência de conhecimentos técnicos e científicos
ou em alteração objectiva das circunstâncias de facto, em face das quais, num ou
noutro caso, não poderiam ter sido praticados;
d) com fundamento em reserva de revogação, na medida em que o quadro
normativo aplicável consinta a precarização do acto em causa e se verifique o
circunstancialismo específico previsto na própria cláusula.

- A revogação da al. c) deve ser proferida no prazo de um ano, a contar da data do


conhecimento da superveniência ou da alteração das circunstâncias, podendo esse
prazo ser prorrogado, por mais dois anos, por razões fundamentadas – nº 4
- Nesse caso, os beneficiários de boa-fé do acto revogado têm direito a
ser indemnizados, segundo a indemnização pelo sacrifício, mas quando a afectação
do direito, pela sua gravidade ou intensidade, elimine ou restrinja o conteúdo
essencial do direito, o beneficiário de boa-fé tem direito a uma indemnização
correspondente ao valor económico do direito eliminado ou da parte do direito
que tiver sido restringida – nº 5
Anulação administrativa – Art. 165º e segs.
Condicionalismos - Artº 168º:
- prazo de seis meses:
- a contar da data do conhecimento do órgão competente da causa de invalidade – nº 1
- nos casos de invalidade resultante de erro do agente, a contar da cessação do erro – nº 1
- desde que não tenham decorrido cinco anos, a contar da emissão do acto – nº 1
- prazo de 1 ano, a contar da emissão do acto, para os actos constitutivos de direitos – nº 2

- até ao encerramento da discussão, no caso de o acto ter sido objecto de impugnação


jurisdicional (no CPA/91: até à resposta da entidade recorrida) – nº 3
- O que se deve entender por encerramento da discussão?
O momento de apresentação de alegações finais orais, em audiência pública ou
o termo do prazo para as alegações finais escritas, quando as partes não tenham renunciado à
sua apresentação, haja ou não audiência de julgamento (artº 604º/3/e) do CPC e art.º
91º/3/e), 91º/5 e artº 91º-A, do CPTA) ou, no caso de as partes terem dispensado as
alegações finais e o estado do processo o permita, sem mais indagações conhecer do mérito
da causa, o termo da fase dos articulados ou da audiência prévia, se a ela houver lugar (artºs.
87º, 87º-A e 87º-B do CPTA)
Anulação administrativa – Art. 165º e segs.
- quando, nos casos previstos nos nºs 1 e 4 do artº 168.º, o acto se tenha tornado
inimpugnável por via jurisdicional, só pode ser anulado administrativamente e de
forma oficiosa - art.º 168.º, n.º 5 CPA
Esta norma pretende abranger as várias situações de anulação administrativa, em que
são previstos diversos prazos, permitindo que a anulação possa ocorrer até ao prazo máximo de
5 anos, a contar da emissão do acto, indo muito além dos prazos de impugnação jurisdicional,
previstos no artº 58º do CPTA, de 3 meses e de 1 ano.
Quando já tenha decorrido o prazo de impugnação jurisdicional, a anulação administrativa é
apenas de iniciativa oficiosa da Administração (pois estando já esgotado o prazo de impugnação
jurisdicional, também estará esgotado o prazo para a reclamação e recurso hierárquico, que
permitiriam a anulação a pedido dos interessados). Esta norma tem um efeito disciplinador,
pretendendo evitar que os actos que já se tenham constituído como caso decidido na ordem
jurídica, possam voltar a ser reapreciados administrativamente, por iniciativa dos interessados,
contornando o regime dos prazos de impugnação contenciosa e a inimpugnabilidade dos actos
por decurso do prazo.
(e caso o pedido de anulação venha a ser apresentado, ele nunca constituirá um acto
administrativo impugnável, para o efeito de reabrir o prazo já esgotado, podendo
considerar-se como um acto confirmativo do acto anterior)
Anulação administrativa – Art. 165º e segs.
Condicionalismos – Art. 168º:
Actos constitutivos de direitos
- Prazo de 1 ano, a contar da emissão do acto – nº 2
- Prazo de 5 anos, a contar da emissão, salvo se a lei ou o direito da União Europeia
prescrevem prazo diferente, nos seguintes casos – nº 4:
a) quando o beneficiário tenha utilizado artifício fraudulento com vista à obtenção da sua
prática;
b) apenas com eficácia para o futuro, quando se trate de actos de obtenção de prestações
periódicas, no âmbito de uma relação continuada;
c) actos de conteúdo pecuniário cuja legalidade, nos termos da legislação administrativa,
possa ser objecto de fiscalização administrativa para além do prazo de um ano, com imposição
do dever de restituição das quantias indevidamente auferidas

- A anulação de actos constitutivos de direitos constitui os beneficiários que


desconhecessem sem culpa a existência da invalidade e tenham auferido, tirado partido ou feito
uso da posição de vantagem em que o acto os colocava, no direito de serem indemnizados
pelos danos anormais que sofram em consequência da anulação – nº 6 + Art. 173º/3 do
CPTA
Art.º 172.º do CPA:

- Em consequência da anulação administrativa de um acto administrativo há a


faculdade de poder praticar novo acto administrativo, tanto mais que a
anulação administrativa constitui a Administração no dever de reconstituir a
situação que existiria se o acto anulado não tivesse sido praticado.
- Nº 2 - A Administração pode ficar constituída no dever de praticar actos dotados de
eficácia retroactiva, desde que não envolvam a imposição de deveres, encargos,
ónus e sujeições, a aplicação de sanções ou a restrição de direitos ou interesses
legalmente protegidos, assim como no dever de anular, reformar ou substituir os
actos consequentes sem dependência de prazo e alterar as situações de facto
entretanto constituídas, cuja manutenção seja incompatível com a necessidade de
reconstituir a situação que existiria se o acto anulado não tivesse sido praticado.
- No mesmo sentido, Art.º 173º/1 e 2 do CPTA, no âmbito do regime de execução
de sentenças de anulação de actos administrativos, impondo-se à Administração,
no respeito pelos limites do caso julgado, o dever de reconstituir a situação que
existiria se o acto anulado não tivesse sido praticado, podendo ficar constituída no
dever de praticar actos dotados de eficácia retroactiva.
Anulação administrativa – Art. 165º e segs.
Condicionalismos - Artº 168º:
- Inconstitucionalidade do nº 7:
“Desde que o ainda o possa fazer (por estar em prazo), a Administração tem o dever de anular o acto
administrativo que tenha sido julgado válido por sentença transitada em julgado, proferida por um tribunal
administrativo com base na interpretação do direito da União Europeia, invocando para o efeito nova
interpretação desse direito em sentença posterior, transitada em julgado, proferida por um tribunal
administrativo que, julgando em última instância, tenha dado execução a uma sentença de um tribunal da União
Europeia vinculativa para o estado português.”.
- Violação do Estado de direito democrático e do princípio da separação de
poderes: possibilidade de a Administração anular administrativamente uma sentença transitada em
julgado – arts. 2º e 111º/1 da CRP
- Violação de que as decisões judiciais são obrigatórias para todas as entidades
públicas e privadas e prevalecem sobre quaisquer outras – arts. 205º/2 da CRP e 158º/1 do
CPTA
- Violação do caso julgado
- Desconhecimento do regime do recurso extraordinário de revisão – art. 696º/f) do
CPC, a decisão transitada em julgado pode ser objecto de revisão se for inconciliável com decisão
definitiva de uma instância internacional de recurso vinculativa para o Estado português.
4. Rompimento com o paradigma
do Privilégio de Execução Prévia
da Administração

- Seguindo o exemplo de outros ordenamentos é eliminado


o Privilégio da Auto-Tutela Executiva da Administração
- A entrada em vigor do novo regime depende da entrada
em vigor da nova lei sobre a Execução dos actos
administrativos, a aprovar no prazo de 60 dias após a
entrada em vigor do novo CPA
Regime de Execução dos Actos
- Clarificação: Exige-se expressamente que seja praticado o acto
exequendo, a anteceder qualquer acto jurídico ou operação material -
art. 177º

- A execução coerciva passa a poder ser realizada pela Administração


só nos casos expressamente previstos na lei ou em situações de
urgente necessidade pública

- Caberá ao poder judicial densificar e concretizar o que, em cada


caso, se deve entender por “urgência pública”, de forma a habilitar a
Administração a executar o acto administrativo, salvo nos casos de
obrigações pecuniárias.
5. Utilização crescente de conceitos
vagos, indeterminados ou com
reduzida densidade normativa

- “comportamentos adequados”, art. 7º/1


- “manifestamente desrazoáveis” ou “incompatíveis
com a ideia de Direito”, art. 8º/1
- “ponderação dos custos e benefícios das medidas
projectadas”, artº 99º - que amplitude?
6. Desvalorização das
formalidades/procedimento em
relação ao mérito da decisão
administrativa

Compressão do princípio da legalidade:


Crise da legalidade estrita?
Tendência para a redução da relevância invalidatória por
incumprimento do direito das formas e procedimentos de controlo
prévio e uma desvalorização de preceitos substanciais de menor
relevo, em homenagem a uma eficiência de resultados na realização
do interesse público, embora a par ou em contraposição à formulação
europeia de um direito a uma boa administração.
Princípio do Aproveitamento do Acto
Administrativo - Art. 163º/5
- O novo CPA regula de forma expressa as situações em que não se
produz o efeito anulatório do acto administrativo, acolhendo os
contributos doutrinários e jurisprudências produzidos a propósito da
aplicação do princípio do aproveitamento do acto administrativo.

- Ficam reguladas em lei, as situações que habilitam o poder judicial, por


via dos Tribunais Administrativos e o poder administrativo, por via da
Administração, de conformar a legalidade administrativa, não
anulando o acto administrativo impugnado.
 Conformação judicial dos efeitos de invalidade administrativa
Balanço Final do Novo CPA

- O novo Código constitui um desafio importante para a Administração, que tem de se


modernizar na sua forma de actuação e organização e dar cumprimento aos
comandos da lei, na sua forma relacional com o cidadão, como para os Tribunais
Administrativos, que têm de interpretar e aplicar a lei de modo a dela extrair a vontade
do legislador e a exercer o poder jurisdicional de acordo com os parâmetros definidos na
Constituição e na lei, designadamente, no tocante ao respeito pelos limites decorrentes
do princípio da separação de poderes.
- Compreende-se o exercício de responsabilidades de que fala o legislador no
Preâmbulo da lei, entendido por nós como um exercício partilhado de responsabilidades,
entre os cidadãos e a Administração e entre esta e os Tribunais Administrativos.
- Ditará a prática, em função da aplicação que for dada pela Administração, se o novo
CPA se traduz num avanço do Direito Administrativo substantivo.
anacelestecarvalho@gmail.com

MUITO OBRIGADA!

Você também pode gostar