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CÓDIGO DO PROCEDIMENTO

ADMINISTRATIVO

Manuela Castro
(Novo) CÓDIGO DO PROCEDIMENTO
ADMINISTRATIVO
OS PRINCÍPIOS
No que respeita aos princípios gerais da atividade
administrativa :
(i) a introdução de um princípio de boa administração,
impondo uma atuação, por parte da Administração Pública,
que se caracterize pela eficiência, economicidade e
celeridade;
(ii) a alteração dos contornos do princípio da
proporcionalidade, sendo de notar uma nova ligação entre
justiça e razoabilidade e a exigência da proibição do
excesso na atuação da Administração Pública,

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(Novo) CÓDIGO DO PROCEDIMENTO
ADMINISTRATIVO
iii. a densificação dos princípios da imparcialidade, da
igualdade e da decisão e

iv. a introdução dos princípios aplicáveis à administração


eletrónica, da responsabilidade, da proteção de dados pessoais
e da cooperação leal com a União Europeia.

Salienta-se, ainda, a eliminação dos princípios de


desburocratização e eficiência, embora decorram dos princípios
da boa administração e do acesso à justiça. Este último foi
retirado do texto do Código, o que não significa que tenha
deixado de existir, pois decorre do texto constitucional.
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(Novo) CÓDIGO DO PROCEDIMENTO
ADMINISTRATIVO
A) Principais alterações ao procedimento administrativo:
1. Previsão da possibilidade de celebração de acordos
endoprocedimentais;
2. Direção do procedimento vs decisão do procedimento
3. Introdução da possibilidade de realização de conferências
procedimentais;
4. Alargamento da legitimidade procedimental;
5. Criação de um regime substantivo dos regulamentos
administrativos,
6. Regime de invalidade dos atos administrativos
7. Suprimento do tradicionalmente designado privilégio da
execução prévia
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(Novo) CÓDIGO DO PROCEDIMENTO
ADMINISTRATIVO

PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO
No que respeita ao procedimento administrativo, o CPA
continua a prever disposições comuns, aplicáveis a todos os
tipos de procedimentos, e regras específicas, relativas aos
atos e regulamentos administrativos.

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(Novo) CÓDIGO DO PROCEDIMENTO
ADMINISTRATIVO
ACORDOS ENDOPROCEDIMENTAIS

Relativamente ao regime comum, salienta-se a possibilidade


de celebração de acordos endoprocedimentais, que
consistem em acordos celebrados entre a administração e
os particulares visando regular as relações que venham a
estabelecer-se ao longo do procedimento administrativo e
que caibam no âmbito da discricionariedade procedimental,
podendo estabelecer o próprio conteúdo da decisão a
tomar, dentro dos limites legalmente estabelecidos.

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(Novo) CÓDIGO DO PROCEDIMENTO
ADMINISTRATIVO
DIREÇÃO DO PROCEDIMENTO

Com o objetivo de garantir a imparcialidade do decisor, o novo


CPA prevê que, embora o órgão competente para a decisão seja,
também, o órgão competente para a direção do procedimento,
esta tarefa tem de ser delegada em inferior hierárquico (dever
legal), de modo a que a responsabilidade de promover a
tramitação do procedimento seja distinta da tarefa decisória.

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(Novo) CÓDIGO DO PROCEDIMENTO
ADMINISTRATIVO
O AUXÍLIO ADMINISTRATIVO

O CPA’91 previa a possibilidade de diferentes órgãos


administrativos colaborarem entre si, no âmbito da realização de
diligências de prova.
O novo CPA estendeu o âmbito de aplicação da figura do auxílio
administrativo, nos termos do qual, observados certos
pressupostos, um órgão pode pedir o auxílio de outro em qualquer
aspeto relacionado com o procedimento administrativo.
Foi, ainda, previsto o sigilo dos documentos ou dados transmitidos
no âmbito do auxílio administrativo, impondo a aplicação, para o
efeito, do regime do acesso aos documentos administrativos.
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(Novo) CÓDIGO DO PROCEDIMENTO
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A LEGITIMIDADE PROCEDIMENTAL

Alargamento da legitimidade para iniciar o procedimento


administrativo, ou nele intervir.
O CPA’91 excluía a possibilidade de associações de carácter
político ou sindical desencadearem procedimentos
administrativos ou neles intervirem – atendendo a que o Tribunal
Constitucional se pronunciou no sentido da inconstitucionalidade
da exclusão da legitimidade das associações sindicais, no âmbito
do procedimento administrativo, o novo CPA consagra,
expressamente, a legitimidade de todas as associações que
representem interesses protegidos.

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(Novo) CÓDIGO DO PROCEDIMENTO
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AS GARANTIAS DE IMPARCIALIDADE

• Em matéria de suspeição – mecanismo que permite assegurar a credibilidade


da decisão administrativa, nomeadamente no que respeita à imparcialidade
das mesmas –, o novo CPA alargou as situações em que ela pode ser
requerida, passando a abranger, também, as situações em que se encontre
em juízo, em ação judicial, o titular do órgão ou agente e o interessado ou os
respetivos cônjuges ou pessoas com quem vivam em união de facto, parentes
em linha reta ou pessoas com quem vivam em economia comum [previsão que
no CPA 91 constituía causa de impedimento].

• O novo CPA, clarifica, ainda que o interessado não requeira a suspeição,


aquando do procedimento administrativo, assiste-lhe sempre a possibilidade
de ser requerida a anulabilidade posterior dos atos praticados ou contratos
celebrados, quando, no conjunto das circunstâncias do caso concreto, haja
dúvida razoável e séria sobre a imparcialidade da atuação do órgão.
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(Novo) CÓDIGO DO PROCEDIMENTO
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AS CONFERÊNCIAS PROCEDIMENTAIS

Conferências procedimentais passam a consubstanciar uma fase autónoma do


procedimento administrativo, na qual os órgãos da Administração Pública (e não
apenas os serviços) poderão exercer, em comum ou conjuntamente, as suas
competências, com o objetivo de promover a eficiência, economicidade e
celeridade da atividade administrativa.

 conferências deliberativas

 conferências de coordenação

Embora seja necessário, no que respeita às conferências de coordenação, que os


órgãos envolvidos celebrem o correspondente acordo, é sempre exigida, em
qualquer conferência procedimental, previsão legal, em regulamento ou em
contrato interadministrativo.

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(Novo) CÓDIGO DO PROCEDIMENTO
ADMINISTRATIVO
• As conferências procedimentais podem ser classificadas consoante o
procedimento e a decisão a tomar.
• Podem dizer respeito, apenas, a um procedimento complexo ou a vários
procedimentos conexos ou a uma única decisão ou a várias decisões
conjugadas.
Em face destas classificações, existem dois tipos de conferências procedimentais:

(i) as conferências deliberativas, que pressupõem o exercício em conjunto das


competências decisórias dos vários órgãos administrativos, do qual decorre
um só ato de conteúdo complexo, devendo o seu objeto englobar todos os
efeitos típicos dos atos que o ato complexo vem substituir; e
(ii) as conferências de coordenação, que consubstanciam no exercício
individualizado, mas em simultâneo, de vários atos administrativos
autónomos, com vista à prossecução de um fim comum.
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(Novo) CÓDIGO DO PROCEDIMENTO
ADMINISTRATIVO
O ATO ADMINISTRATIVO

Ligeira alteração no conceito do ato administrativo:


 deixou de se exigir o elemento da autoria por órgãos da Administração;
 clarificou-se um aspeto há muito discutido na doutrina portuguesa – o de
saber se os atos que produzem meros efeitos internos, ou seja, atos
organizatórios ou de funcionamento, são atos administrativos. O novo CPA
veio confirmar o entendimento da doutrina no sentido de não considerar,
passando a mencionar expressamente a característica da eficácia externa
como requisito obrigatório do conceito de acto administrativo.

• ato administrativo - decisão que visa regular uma situação


individual e concreta, ou seja, é possível determinar quais os
seus destinatários e as situações de facto que lhe estão
subjacentes.
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(Novo) CÓDIGO DO PROCEDIMENTO
ADMINISTRATIVO
A EFICÁCIA DO ACTO ADMINISTRATIVO
Os atos administrativos favoráveis aos destinatários produzem os seus efeitos
desde a data em que são praticados, excepto se a lei ou o próprio ato lhe
atribuírem eficácia retroactiva, diferida e, com o novo CPA, condicionada.

Deste modo, os atos administrativos poderão produzir efeitos :

(i) desde o momento em que são praticados, para o futuro;


(ii) Para o passado – eficácia retroactiva;
(iii) Para o futuro, mas apenas a partir de certo momento, especificamente
determinado pela lei ou pelo próprio acto – eficácia diferida; e
(iv) mediante a condição de ocorrência de certo facto futuro e incerto –
eficácia condicionada.

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(Novo) CÓDIGO DO PROCEDIMENTO
ADMINISTRATIVO

A EFICÁCIA DO ACTO ADMINISTRATIVO ) cont.

Os atos administrativos desfavoráveis produzem efeitos,


apenas, após serem devidamente notificados aos seus
destinatários – reforçou-se, neste aspecto, a inoponibilidade
aos destinatários de atos constitutivos de deveres ou de outras
situações jurídicas passivas sem que tenha havido prévia
notificação

Manuela Castro
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ADMINISTRATIVO
A INVALIDADE DO ACTO ADMINISTRATIVO

Nulidade – Alterações

1. O anterior CPA conduzia à nulidade os atos administrativos que não contivessem


todos os seus elementos essenciais – as chamadas “nulidades por natureza” - art. 133.º
n.º 1 do CPA’91 - O novo CPA eliminou-as, numa posição há muito defendida pela
doutrina.

2. Foram alargados os casos de nulidades típicas dos atos administrativos,


nomeadamente, tendo-se acrescentado a nulidade dos atos praticados com desvio de
poder para fins de interesse privado, dos atos certificativos de atos inverídicos ou
inexistentes e dos actos que criem obrigações pecuniárias sem base legal.

3. Passou a ser prevista a possibilidade de se requerer a reforma ou a conversão


(mecanismos de sanação de invalidades pela própria entidade administrativa) dos actos
administrativos nulos – situação que o CPA’91 não previa.

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(Novo) CÓDIGO DO PROCEDIMENTO
ADMINISTRATIVO
A REVOGAÇÃO DO ACTO ADMINISTRATIVO

Distinção entre a revogação e a anulação administrativa.

 revogação – prática de acto administrativo que determina a cessação de


efeitos de outro acto, por razões de mérito, conveniência e oportunidade,
ou seja, faz cessar a produção de efeitos de um acto administrativo,
revogando-o, salvaguardando-se os efeitos já produzidos.
 anulação administrativa - prática de um acto administrativo que
determina a destruição dos efeitos de outro acto, com fundamento em
invalidade;

Manuela Castro
Princípios gerais da atividade
administrativa

Manuela Castro
Princípios gerais da atividade
administrativa
CONSTITUIÇÃO DA REPUBLICA PORTUGUESA (CRP)

Artigo 266º
(Princípios fundamentais)
1. A Administração Pública visa a prossecução do interesse
público, no respeito pelos direitos e interesses legalmente
protegidos dos cidadãos.
2. Os órgãos e agentes administrativos estão subordinados à
Constituição e à lei e devem actuar, no exercício das suas funções,
com respeito pelos princípios da igualdade, da
proporcionalidade, da justiça, da imparcialidade e da boa fé.

Manuela Castro
Princípios gerais da atividade
administrativa
“Artigo 3.º
Princípio da legalidade
1 — Os órgãos da Administração Pública devem atuar em
obediência à lei e ao direito, dentro dos limites dos poderes que
lhes forem conferidos e em conformidade com os respetivos
fins.”

Precedência de lei – Prevalência da lei: a lei é o limite e o


pressuposto de toda a atividade administrativa

Manuela Castro
Princípios gerais da atividade
administrativa
Princípio da legalidade
Toda a actuação administrativa está condicionada à Lei, ao Direito -
Princípio da jurisdicidade - Administração submetida ao Direito

O princípio da Legalidade tem três funções associadas:


· função garantística - O princípio da legalidade como linha de fronteira
daquilo que a administração pode, mas também daquilo que a
administração não pode fazer;
. função legitimadora - A Lei enquanto manifestação da vontade popular
(Rousseau); A lei como critério político de decisão da administração, como
fonte de legitimação da decisão;
. função racionalizadora - É o resultado da ideia iluminista de que a Lei é a
expressão da razão.
Toda a atividade administrativa está subordinada ao princípio da
constitucionalidade, toda a atividade administrativa está
subordinada ao princípio da legalidade.
Manuela Castro
Princípios gerais da atividade
administrativa
Efeitos do princípio da legalidade

efeito negativo – invalidade da actividade administrativa contrária à lei (efeito


invalidante) - quando a administração age em sentido contrário à Lei, a sua actuação
é inválida, independentemente forma da invalidade: nulidade, anulabilidade ou
inexistência.

efeito positivo – a atuação administrativa goza da presunção de legalidade

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Princípios gerais da atividade
administrativa
Artigo 3.º n.º 2
“Os atos administrativos praticados em estado de necessidade, com preterição
das regras estabelecidas no presente Código, são válidos, desde que os seus
resultados não pudessem ter sido alcançados de outro modo, mas os lesados
têm o direito de ser indemnizados nos termos gerais da responsabilidade da
Administração.”

Será o estado de necessidade administrativa uma excepção ao princípio da


legalidade?
Prof. Gonçalves Pereira : “o estado de necessidade não é uma excepção à legalidade
mas é uma legalidade excepcional”;
Estado de necessidade – outras ref.as no CPA - n.º 2 do artigo 176.º (sob a forma de
“extrema urgência”) e no n.º 2 do artigo 177.º.

Manuela Castro
Princípios gerais da atividade
administrativa
“Artigo 4.º
Princípio da prossecução do interesse público e da proteção dos
direitos e interesses dos cidadãos
Compete aos órgãos da Administração Pública prosseguir o
interesse público, no respeito pelos direitos e interesses
legalmente protegidos dos cidadãos.”

• Principio também consagrado no art. 266º da C.R.P.;


• A prossecução do interesse público constitui a razão de ser e
de agir da administração – principio fundamental da atividade
administrativa – realização de um interesse comum ainda que
não necessariamente da totalidade de uma comunidade.

Manuela Castro
Princípios gerais da atividade
administrativa
Artigo 5.º
Princípio da boa administração
1 — A Administração Pública deve pautar -se por critérios de
eficiência, economicidade e celeridade.
2 — Para efeitos do disposto no número anterior, a
administração Pública deve ser organizada de modo a
aproximar os serviços das populações e de forma não
burocratizada.

Manuela Castro
Princípios gerais da atividade
administrativa
Artigo 6.º
Princípio da igualdade
Nas suas relações com os particulares, a Administração Pública
deve reger -se pelo princípio da igualdade, não podendo
privilegiar, beneficiar, prejudicar, privar de qualquer direito ou
isentar de qualquer dever ninguém em razão de ascendência,
sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções
políticas ou ideológicas, instrução, situação económica,
condição social ou orientação sexual.

A norma não mereceria um advérbio “designadamente”


- outras causas de descriminação; idade, doença, deficiência
Manuela Castro
Princípios gerais da atividade
administrativa
“Artigo 7.º
Princípio da proporcionalidade
1 — Na prossecução do interesse público, a Administração Pública
deve adotar os comportamentos adequados aos fins
prosseguidos.
2 — As decisões da Administração que colidam com direitos
subjetivos ou interesses legalmente protegidos dos particulares só
podem afetar essas posições na medida do necessário e em
termos proporcionais aos objetivos a realizar.”

replicado no n.º 1 do artigo 178.º, a respeito da execução


do ato administrativo

Manuela Castro
Princípios gerais da atividade
administrativa
O legislador do novo CPA desdobrou a formulação do CPA de 91 para autonomizar os
conhecidos três testes da adequação, da necessidade e da proporcionalidade em
sentido estrito:

- Princípio da adequação – as medidas da administração devem ser idóneas


relativamente aos fins que estão em causa, devem ser apropriadas aos fins a atingir,
devendo existir uma relação entre o conteúdo da decisão e o fim, o propósito, a meta
dessa decisão;

- Princípio da necessidade ou da proibição do excesso – a administração só deve lesar,


só deve atingir as posições jurídicas dos administrados na medida em que isso se torne
necessário, na medida em que isso seja exigível e não mais do que isso;

- Princípio da proporcionalidade em sentido estrito – A administração deve proceder a


uma ponderação dos bens no caso concreto, não lesando os bens de maior valor
relativamente aos bens de menor valor .

Manuela Castro
Princípios gerais da atividade
administrativa
Artigo 8.º
Princípios da justiça e da razoabilidade
A Administração Pública deve tratar de forma justa todos
aqueles que com ela entrem em relação, e rejeitar as soluções
manifestamente desrazoáveis ou incompatíveis com a ideia de
Direito, nomeadamente em matéria de interpretação das
normas jurídicas e das valorações próprias do exercício da
função administrativa.

Manuela Castro
Princípios gerais da atividade
administrativa
Artigo 9.º
Princípio da imparcialidade
A Administração Pública deve tratar de forma imparcial aqueles
que com ela entrem em relação, designadamente, considerando
com objetividade todos e apenas os interesses relevantes no
contexto decisório e adotando as soluções organizatórias e
procedimentais indispensáveis à preservação da isenção
administrativa e à confiança nessa isenção.

Manuela Castro
Princípios gerais da atividade
administrativa
PRINCÍPIO DA IMPARCIALIDADE (DGAEP)
» Noção
O princípio da imparcialidade impõe que a Administração Pública atue de forma isenta
e equidistante relativamente aos interesses que estejam em confronto ou que sejam
postos em causa em resultado da sua atividade; a Administração deve prosseguir
apenas o interesse público e abster-se de ter em conta outros interesses, seja de quem
e de que natureza forem;
A imparcialidade da Administração Pública é sustentada pelo regime legal de
impedimentos e suspeições que impõe aos trabalhadores o dever de se abster de
participar em procedimento, ou decidi-lo, quando nele tiverem um interesse direto ou
indireto, ou quando ocorram circunstâncias em que se possa duvidar da retidão da sua
conduta; é também sustentada, por outro lado, pelas normas que concretizam o
princípio da transparência, em especial no que respeita ao direito à fundamentação
das decisões, ao direito à informação procedimental e ao acesso aos registos e
arquivos administrativos
v.g. (art. 69.º a 76.º do CPA ) anteriores artigos 44.º A 51.º do CPA’91

Manuela Castro
Princípios gerais da atividade
Artigo 10.º
administrativa
Princípio da boa -fé
1 — No exercício da atividade administrativa e em todas as suas formas e fases, a
Administração Pública e os particulares devem agir e relacionar -se segundo as regras
da boa -fé.
2 — No cumprimento do disposto no número anterior, devem ponderar -se os valores
fundamentais do Direito relevantes em face das situações consideradas, e, em especial,
a confiança suscitada na contraparte pela atuação em causa e o objetivo a alcançar
com a atuação empreendida.

A Boa-fé é uma ideia bilateral, tanto é boa-fé da administração para com os


administrados, como dos administrados para com a administração;
A Boa-fé como uma cláusula aberta;
A Boa-fé ligada à proibição do abuso de Direito (proibição do exercício inadmissível de
posições jurídicas em sentido manifestamente contrário ao Direito e por outro lado a
proibição da utilização de uma instituição jurídica com uma finalidade contrária aos
fins que determinaram a sua criação)

Manuela Castro
Princípios gerais da atividade
administrativa
Artigo 11.º
Princípio da colaboração com os particulares
1 — Os órgãos da Administração Pública devem atuar em
estreita colaboração com os particulares, cumprindo-lhes,
designadamente, prestar aos particulares as informações e os
esclarecimentos de que careçam, apoiar e estimular as suas
iniciativas e receber as suas sugestões e informações.
2 — A Administração Pública é responsável pelas informações
prestadas por escrito aos particulares, ainda que não
obrigatórias.

Manuela Castro
Princípios gerais da atividade
administrativa
Artigo 12.º
Princípio da participação
Os órgãos da Administração Pública devem assegurar a
participação dos particulares, bem como das associações que
tenham por objeto a defesa dos seus interesses, na formação
das decisões que lhes digam respeito, designadamente através
da respetiva audiência nos termos do presente Código.

Corolário do principio da participação no CPA :


– art.º 100 e art. 101.º - audiência dos interessados e consulta pública no
regulamento administrativo ;
- art. 121.º direito de audiência dos interessados no ato administrativo.

Manuela Castro
Princípios gerais da atividade
administrativa
Artigo 13.º
Princípio da decisão
1 — Os órgãos da Administração Pública têm o dever de se pronunciar sobre
todos os assuntos da sua competência que lhes sejam apresentados e,
nomeadamente, sobre os assuntos que aos interessados digam diretamente
respeito, bem como sobre quaisquer petições, representações, reclamações
ou queixas formuladas em defesa da Constituição, das leis ou do interesse
público.
2 — Não existe o dever de decisão quando, há menos de dois anos, contados
da data da apresentação do requerimento, o órgão competente tenha
praticado um ato administrativo sobre o mesmo pedido, formulado pelo
mesmo particular com os mesmos fundamentos.
3 — Os órgãos da Administração Pública podem decidir sobre coisa diferente
ou mais ampla do que a pedida, quando o interesse público assim o exija.

Manuela Castro
Princípios gerais da atividade
administrativa
Artigo 14.º
Princípios aplicáveis à administração eletrónica
1 — Os órgãos e serviços da Administração Pública devem utilizar meios
eletrónicos no desempenho da sua atividade atividade, de modo a promover a
eficiência e a transparência administrativas e a proximidade com os
interessados.
2 — Os meios eletrónicos utilizados devem garantir a disponibilidade, o acesso,
a integridade, a autenticidade, a confidencialidade, a conservação e a
segurança da informação.
3 — A utilização de meios eletrónicos, dentro dos limites estabelecidos na
Constituição e na lei, está sujeita às garantias previstas no presente Código e
aos princípios gerais da atividade administrativa.
(…)

Manuela Castro
Princípios gerais da atividade
administrativa
Artigo 14.º
Princípios aplicáveis à administração eletrónica
(..)
4 — Os serviços administrativos devem disponibilizar meios eletrónicos de
relacionamento com a Administração Pública e divulgá-los de forma adequada, de
modo a que os interessados os possam utilizar no exercício dos seus direitos e interesses
legalmente protegidos, designadamente para formular as suas pretensões, obter e
prestar informações, realizar consultas, apresentar alegações, efetuar pagamentos e
impugnar atos administrativos.
5 — Os interessados têm direito à igualdade no acesso aos serviços da Administração,
não podendo, em caso algum, o uso de meios eletrónicos implicar restrições ou
discriminações não previstas para os que se relacionem com a Administração por meios
não eletrónicos.
6 — O disposto no número anterior não prejudica a adoção de medidas de diferenciação
positiva para a utilização, pelos interessados, de meios eletrónicos no relacionamento
com a Administração Pública.

Manuela Castro
Princípios gerais da atividade
administrativa
Artigo 15.º
Princípio da gratuitidade
1 — O procedimento administrativo é tendencialmente gratuito, na medida em que leis
especiais não imponham o pagamento de taxas por despesas, encargos ou outros
custos suportados pela Administração.
2 — Em caso de insuficiência económica, a Administração isenta, total ou parcialmente,
o interessado do pagamento das taxas ou das despesas referidas no número anterior.
3 — A insuficiência económica deve ser provada nos termos da lei sobre apoio judiciário,
com as devidas adaptações.

Artigo 16.º
Princípio da responsabilidade
A Administração Pública responde, nos termos da lei, pelos danos causados no exercício
da sua atividade.

Manuela Castro
Princípios gerais da atividade
administrativa

Artigo 17.º
Princípio da administração aberta
1 — Todas as pessoas têm o direito de acesso aos arquivos e registos
administrativos, mesmo quando nenhum procedimento que lhes diga
diretamente respeito esteja em curso, sem prejuízo do disposto na lei em
matérias relativas à segurança interna e externa, à investigação criminal, ao
sigilo fiscal e à privacidade das pessoas.
2 — O acesso aos arquivos e registos administrativos é regulado por lei.

Manuela Castro
Princípios gerais da atividade
administrativa

Artigo 18.º
Princípio da proteção dos dados pessoais
Os particulares têm direito à proteção dos seus dados pessoais e à
segurança e integridade dos suportes, sistemas e aplicações utilizados para
o efeito, nos termos da lei.

Manuela Castro
Princípios gerais da atividade
administrativa
Artigo 19.º
Princípio da cooperação leal com a União Europeia
1 — Sempre que o direito da União Europeia imponha à Administração Pública
a obrigação de prestar informações, apresentar propostas ou de, por alguma
outra forma, colaborar com a Administração Pública de outros Estados-
membros, essa obrigação deve ser cumprida no prazo para tal estabelecido.
2 — Na ausência de prazo específico, a obrigação referida no número anterior é
cumprida no quadro da cooperação leal que deve existir entre a Administração
Pública e a União Europeia.

Manuela Castro
Princípios gerais da atividade
administrativa
Notas:
1) Direitos fundamentais dos administrados, que o CPA efectivamente
concretiza:
a) Direito à informação (artigos 82.º e segs.);
b) Direito à notificação (artigos 97.º e segs.);
c) Direito à audiência dos interessados (artigos 120.º e segs.);
d) Direito a uma decisão num prazo razoável (artigos 126.º e segs.);
e) Direito à fundamentação (artigos 150.º e segs.);
f) Direito de reclamação e de recurso (artigos 182.º e segs.).

2) Epígrafe do capítulo II da parte I do CPA – “princípios gerais da atividade


administrativa” – os princípios aqui elencados vão para além da atividade e
respeitam à “organização”, ao “procedimento” e à “atividade”.

Manuela Castro
Princípios gerais da atividade
administrativa
Prof. Jorge Pereira da Silva

“Os princípios da:


a) Prossecução do interesse público;
b) Boa administração, pretensamente concretizada por ideias como
economicidade e celeridade;
c) Justiça e razoabilidade, supostamente por referência a uma dada ideia
de Direito
e) Colaboração com particulares e instituições europeias.(…)
Não haja dúvidas: estes princípios não são neutros…Mas a sua falta de
neutralidade revela-se sobretudo no momento do controlo jurisdicional,
ficando os tribunais com a possibilidade de aferir do mérito das decisões
administrativas com uma intensidade até há bem pouco tempo não
sonhada.”

Manuela Castro
VALIDADE DO ATO ADMINISTRATIVO

Manuela Castro
VALIDADE DO ATO ADMINISTRATIVO
O regime do CPA’ 91

• Secção III do Capítulo II do CPA

– Atos nulos e regime da nulidade(arts.133.º e 134.º)


– Atos anuláveis e regime da anulabilidade(arts.135.º e 136.º)
– Ratificação, reforma e conversão (art.137.º)

O Regime do Novo CPA’2015


• Secção III do Capítulo II da Parte III do CPA
– Atos nulos e regime da nulidade(arts.161º e 162.º)
– Atos anuláveis e regime da anulabilidade(arts.163.º)
– Ratificação, reforma e conversão (art.164.º)
Manuela Castro
VALIDADE DO ATO ADMINISTRATIVO
Validade e eficácia pressupõem a existência de um ato administrativo: para
se falar da validade ou eficácia de um ato administrativo têm de estar
reunidos os respetivos requisitos da qualificação.

A eficácia consiste na efetiva produção de efeitos jurídicos correspondentes


ao conteúdo do ato, portanto, à definição da situação jurídica, podendo haver
atos de eficácia instantânea ou atos de eficácia duradoura.

A validade consiste na aptidão intrínseca, relacionada com a conformidade


dos elementos estruturais da realidade “ato administrativo”, para produzir os
efeitos jurídicos correspondentes ao seu conteúdo.

Existe uma relação entre eficácia e validade:


Há atos eficazes que são válidos, há atos eficazes que são inválidos – é o caso
dos atos anuláveis –, há atos ineficazes que são válidos – como é o caso da
eficácia diferida –, e há atos ineficazes que são inválidos – como é o caso da
nulidade.
Manuela Castro
VALIDADE DO ATO ADMINISTRATIVO
Nulidade art. 161.º

Por razões de certeza e segurança, determina-se que a nulidade


pressupõe a respetiva cominação legal expressa (eliminação da
categoria das “nulidades por natureza”, que suscitaram dúvidas
de interpretação).

Em consequência, alargam-se os casos de nulidade


expressamente previstos:
 atos cujo fim seja a prossecução de um interesse privado
ilícito;
 atos certificativos de factos inverídico sou inexistentes;
 atos que criem obrigações pecuniárias sem base legal.
Manuela Castro
VALIDADE DO ATO ADMINISTRATIVO
Novas causas de nulidade (n.º 2 do art. 161.º)

―“os atos praticados com desvio de poder para fins de interesse privado” (*)
―“os atos certificativos de factos inverídicos ou inexistentes” (*)
―“os atos que criem obrigações pecuniárias não previstas na lei”
―“os atos praticados, salvo em estado de necessidade, com preterição total
do procedimento legalmente exigido” (*)

(*) correspondem a traduções de desenvolvimentos doutrinários e


jurisprudenciais da antiga «cláusula geral de nulidade»

Manuela Castro
VALIDADE DO ATO ADMINISTRATIVO
Desaparecimento da cláusula geral de nulidade:

CPA’91 (n.º1 do art. 133.º): “são nulos os atos a que falte qualquer dos elementos essenciais ou
para os quais a lei comine expressamente essa forma de invalidade”

Novo CPA “são nulos para os quais a lei comine expressamente essa forma de invalidade”(n.º 1
do art. 161.º)

• O CPA’91 conduzia à nulidade os atos administrativos que não contivessem todos os seus
elementos essenciais – as chamadas “nulidades por natureza”.
• O novo CPA elimina do elenco das causas de nulidade conceitos ou critérios indeterminados
(certamente por razões de segurança e certeza jurídicas).
• Foram alargados os casos de nulidades típicas dos atos administrativos.

Manuela Castro
VALIDADE DO ATO ADMINISTRATIVO
Regime da nulidade

 Esclarecimento da diferença entre conhecimento e declaração de nulidade:


n.º 2 do art. 162.º;

 Acentua-se a possibilidade de atribuição de efeitos putativos aos atos


nulos: art. 162.º ;

 Admite-se a sua reforma e conversão – (expressamente afastadas do


regime da nulidade no CPA’91) – (no art. 164.º passou a consagrar-se a
possibilidade de se requerer a reforma ou a conversão (mecanismos de
sanação de invalidades pela própria entidade administrativa) dos atos
administrativos nulos, algo que no anterior CPA era expressamente
vedado.

Manuela Castro
VALIDADE DO ATO ADMINISTRATIVO
Regime da nulidade: alterações (n.º 2 do art.162.º e 164.º)

― “possibilidade de atribuição de efeitos jurídicos a situações de facto


decorrentes de atos nulos, de harmonia com os princípios da boa fé, da
proteção da confiança e da proporcionalidade ou outros princípios jurídicos
constitucionais, designadamente associados ao decurso do tempo”;

― Os atos nulos podem ser objeto de reforma ou conversão – art. 164.º.

― “Salvo disposição legal em contrário, a nulidade é invocável a todo o


tempo por qualquer interessado…”

(Ex. art. 101.º do CPTA; n.º4 do art. 69.º do RJUE)

― “e pode também ser conhecida por qualquer entidade e declarada pelos


tribunais administrativos ou pelos órgãos competentes para a anulação”
Manuela Castro
VALIDADE DO ATO ADMINISTRATIVO

Anulabilidade (art. 163.º)


Pormenoriza-se o regime da anulabilidade, determinando-se as circunstâncias e as
condições em que é admissível o aproveitamento judicial do ato anulável (art. 163.º)

São anuláveis os atos administrativos que forem praticados com ofensa aos
princípios gerais ou normas jurídicas existentes e, bem assim, para os quais a lei não
comine expressamente outro tipo de invalidade.

O novo CPA veio clarificar que os atos anuláveis, ao contrário dos atos
nulos, produzem efeitos até serem anulados, mediante decisão da própria
Administração ou dos tribunais administrativos, podendo os seus efeitos ser
destruídos com eficácia retroativa.

Manuela Castro
VALIDADE DO ATO ADMINISTRATIVO

Anulabilidade (cont.)

• Regula-se expressamente os efeitos da anulação, até agora


constantes apenas do Código de Processo dos Tribunais
Administrativos (art. 163.º, n.º2)

• Esclarece-se os efeitos da ratificação, reforma e conversão


(art. 164.º).

Manuela Castro
A REVOGAÇÃO DO ACTO
ADMINISTRATIVO
O regime da revogação do ato administrativo – Principais alterações:

Distinção entre a revogação e a anulação administrativa.

• a revogação é definida como o ato administrativo que determina a cessação de


efeitos de outro ato, por razões de mérito, conveniência e oportunidade – ( a
revogação faz cessar a produção de efeitos de um ato administrativo, revogando-o,
salvaguardando-se os efeitos já produzidos);

• a anulação administrativa define-se como a prática de um ato administrativo que


determina a destruição dos efeitos de outro ato, com fundamento em invalidade,
isto é, tendo em conta a invalidade do ato revogado, a anulação administrativa
elimina os efeitos produzidos por aquele ato.

Manuela Castro
A REVOGAÇÃO DO ATO
ADMINISTRATIVO
Previsão de determinados condicionalismos à revogação e à anulação administrativa,
estabelecendo regimes diferenciados, quanto:
. aos prazos de anulação (entre seis meses a um ano) em função do conteúdo dos
atos (favoráveis ou desfavoráveis);
. aos seus efeitos (instantâneos ou duradouros);
. às posições jurídicas dos seus destinatários e de terceiros (direitos, interesses
legalmente protegidos e posições precárias), permitindo-se a ponderação de
interesses e valores pela Administração, adaptáveis aos casos concretos, devendo
atender-se a critérios de boa-fé, de proteção da confiança legítima e a relevância dos
interesses públicos e privados envolvidos.

Manuela Castro
A EXECUÇÃO DOS ATOS
ADMINISTRATIVOS
Uma das principais alterações do novo CPA, consiste na eliminação do princípio geral do
privilégio da execução prévia dos atos administrativos.

O anterior CPA conferia à Administração Pública a possibilidade de impor coercivamente


aos particulares as suas decisões, sem recurso prévio aos tribunais – o chamado
privilégio da execução prévia ou autotutela executiva da Administração.

Esta situação era altamente discutida criticada por parte da doutrina, nomeadamente, porque
permitia que a Administração definisse unilateralmente o direito aplicável ao caso concreto (autotutela
declarativa) e se o particular não adotasse voluntariamente o comportamento por ela definido, pudesse impor
coercivamente a decisão por ela adotada (autotutela executiva).

O novo CPA veio eliminar – a prazo - o princípio geral do privilégio da execução prévia,
permitindo, apenas, à Administração que execute as suas próprias decisões nos casos e
segundo as formas definidas expressamente na lei (exigência de habilitação legal para
proceder à execução) ou em situações de urgente necessidade pública, desde que
devidamente fundamentada. Nos restantes casos, a Administração deverá recorrer aos
Tribunais para executar o ato.

Manuela Castro

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