Você está na página 1de 12

Prof.

Andrea Glioche

TEORIA DO ERRO

MODALIDADES DE ERRO EM
DIREITO PENAL

ERRO DE TIPO – A falsa percepção do agente recai sobre a


realidade que o circunda

 ERRODE PROIBIÇÃO – A pessoa tem plena noção da realidade,


mas se confunde sobre a regra de conduta. Sabe o que faz, mas
acredita que pode fazê-lo, não sabe que é proibido

Erro de proibição

No Direito Romano, falava-se em erro de direito para se referir à ignorância ou falsa


interpretação da lei. Essa opção foi acolhida pela redação original do Código
Penal de 1940, que, sob a rubrica “ignorância ou erro de direito”, dispunha no
art.16: “A ignorância ou a errada compreensão da lei não eximem de pena”.
Com a Reforma da Parte Geral em 1984 o erro de direito, cedeu espaço ao erro
sobre a ilicitude do fato, disciplinado pelo art. 21 e denominado erro de proibição.

Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a


ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá
diminuí-la de um sexto a um terço

Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o agente atua ou


se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era
possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência.
Erro de Proibição
Ciência da existência da lei (com a publicação da norma) é diferente do
conhecimento do seu conteúdo (inerente ao conteúdo lícito ou ilícito da lei,
adquirido com a vida em sociedade).

Exemplo: um catador de lixo, nascido e criado no lixão, não tem qualquer


conhecimento das leis e não conhece o art.121 do Código Penal, mas sabe que
matar é proibido pela vivência em comunidade.

O desconhecimento da lei é inaceitável e presume-se do conhecimento de


todos, mas o desconhecimento do caráter ilícito do fato é capaz de afastar a
culpabilidade. O individuo interpreta mal o conteúdo, ou seja, não compreende
adequadamente seu caráter ilícito.

Conceito: É a errada compreensão de uma determinada regra, do significado de


uma norma. O agente supõe permitido aquilo que era proibido. É a falsa
percepção do agente acerca do caráter ilícito do fato típico por ele praticado
de acordo com um juízo profano, isto é, possível de ser alcançado mediante um
procedimento de simples esforço de sua consciência

Biopirataria e Lei 9605/98

O termo biopirataria foi criado em 1992 após o tratado assinado na Convenção da Diversidade
Biológica. Grosso modo, biopirataria pode ser definida como a apropriação de um organismo ou do
conhecimento sobre ele com a intenção de lucro econômico fora de sua região de origem, sem
repartição justa de benefícios com a comunidade local.

Um dos casos recentes de biopirataria foi o flagrante sobre o alemão Marc Baumgarten, detido em
aranhas caranguejeiras na bagagem.

Em 22.02.97, agentes da Polícia Federal prenderam o estrangeiro de nacionalidade alemã suso


referido no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro (AIRJ) quando este tentava embarcar para o
exterior, mais especificamente para a cidade de Duesselfdorf, Alemanha, levando consigo
espécimes da fauna brasileira sem a devida licença administrativa."

'A prisão foi correta, mas quem vai estudar essas caranguejeiras aqui para extrair os compostos
bioativos e vendê-los dentro da lei?', pergunta o biólogo Charles Clement, do Inpa (Instituto Nacional
de Pesquisas da Amazônia). Enquanto ninguém faz as pesquisas, a floresta que concentra mais de
10% de toda a biodiversidade mundial fica à mercê dos biopiratas que conseguem passar
despercebidos pelo aeroporto.

Espécies de erro de Proibição:


Erro de proibição escusável, inevitável, ou invencível: o sujeito, ainda que no caso
concreto tivesse se esforçado, não poderia evitá-lo. O agente, nada obstante o
emprego das diligências ordinárias inerentes à sua condição pessoal, não tem
condições de compreender o caráter ilícito do fato.
Nesse caso, exclui-se a culpabilidade, em face da ausência de um dos seus
elementos, a potencial consciência da ilicitude. Nos termos do art. 21, caput: “O
erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena”.

Erro de proibição inescusável, evitável, ou vencível: poderia ser evitado com o


normal esforço de consciência por parte do agente. Se empregasse as diligências
normais, seria possível a compreensão acerca do caráter ilícito do fato. Subsiste a
culpabilidade, mas a pena deve ser diminuída de um sexto a um terço, em face
da menor censurabilidade da conduta.

Obs: Calculado de acordo com o perfil subjetivo do agente


invencível –
inevitável Exclui a
Não há crime
escusável culpabilidade
justificável

vencível – Responde pelo


Evitável Não exclui a crime com ao
inescusável culpabilidade de pena 1/6 a
injustificável 1/3

CRITÉRIOS PARA IDENTIFICAÇÃO ERRO DE PROIBIÇÃO INESCUSÁVEL,


VENCÍVEL OU EVITÁVEL

Agente atua com ‘consciência profana’ sobre o


caráter ilícito do fato

O agente atua sem a mencionada consciência profana,


quando lhe era fácil atingi-la, nas circunstancias em que
estava, com seu esforço de inteligência e conhecimentos da
vida

O agente atua sem a ‘consciência profana’ sobre o caráter ilícito


do fato, por ter, na duvida, deixado propositadamente de se
informar para não ter que evitar uma possível conduta proibida

O agente atua sem a ‘consciência profana’ por não ter


procurado informar-se convenientemente, mesmo sem má-
intenção, para o exercício de atividades regulamentares

Espécies de erro de Proibição

erro de proibição direto;


erro de mandamento ou erro mandamental(nos crimes omissivos);
erro de proibição indireto ou permissivo(chamado erro de permissão):
versa sobre existência de uma causa de justificação/limites da causa de
justificação.
Espécies de erro de Proibição:

a) Erro direto: recai sobre a proibição, licitude ou ilicitude de tipos incriminadores.


Aqui o agente desconhece o conteúdo de uma lei penal proibitiva, ou, se o
conhece, interpreta-o de forma equivocada. Exemplo: O credor, ao ser
avisado que seu devedor está de mudança para outro país, ingressa
clandestinamente em sua residência e subtrai bens no valor da dívida,
acreditando ser lícito “fazer justiça pelas próprias mãos”

b) Erro de mandamento ou erro de proibição mandamental: refere-se ao erro


sobre os deveres do garantidor. Aqui, o agente, envolvido em uma situação de
perigo a determinado bem jurídico, erroneamente acredita estar autorizado a
livrar-se do dever de agir para impedir o resultado, nas hipóteses previstas no
art. 13, § 2.º, do Código Penal. Só é possível nos crimes omissivos impróprios.
Exemplo: o pai de família, válido para o trabalho, mas em situação de pobreza,
abandona o filho de pouca idade (que vem à óbito) à sua própria sorte, por
acreditar que nesse caso não tem a obrigação de por ele zelar.

Espécies de erro de Proibição:

c)Erro indireto ou permissivo: é o erro sobre os limites de uma causa de


exclusão de ilicitude: também chamado de descriminante putativa
por erro de proibição, o agente conhece o caráter ilícito do fato,
sabe o que faz mas, no caso concreto, acredita erroneamente estar
presente uma causa de exclusão da ilicitude, ou se equivoca quanto
aos limites de uma causa de exclusão da ilicitude efetivamente
presente. Exemplo: “A”, voltando antecipadamente de viagem, e
sem prévio aviso, encontra a esposa em flagrante adultério. Saca seu
revólver e mata a mulher, acreditando estar autorizado a assim agir
pela “legítima defesa da honra”.

Erro de proibição X crime putativo por erro de


proibição

Erro de proibição e crime putativo por erro de proibição não se confundem.

No erro de proibição o sujeito age acreditando na licitude do seu


comportamento, quando na verdade pratica uma infração penal, por não
compreender o caráter ilícito do fato.

Já no crime putativo por erro de proibição, ou delito de alucinação, o


agente atua acreditando que seu comportamento constitui crime ou
contravenção penal, mas, na realidade, é penalmente irrelevante.
Exemplo: o pai mantém relações sexuais consentidas com a filha maior de
18 anos de idade e plenamente capaz, acreditando cometer o crime de
incesto.
ERRO DE TIPO
Erro de Tipo: Falsa representação sobre alguma das elementares que compõe o
tipo penal. A falsa percepção do agente recai sobre a realidade que o circunda.
Nesse caso, deve se observar que sempre que queremos ou anuímos com a
produção de um resultado, é necessário sua correta compreensão. O dolo supõe
previsão e conhecimento. Sem este, em função do erro, exclui-se o dolo.

ESSENCIAL – Sempre exclui o dolo


Erro de tipo incriminador – Recai sobre as situação fática prevista como
elementar do tipo penal incriminador (art.20 caput CP)

Erro de tipo permissivo – Recai sobre pressupostos de uma causa de


justificação, isto é, sobre uma situação de fato descrita como requisito objetivo
de uma excludente de ilicitude - É uma descriminante putativa por erro de
tipo art.20 §1º CP

OBS: Parcela da doutrina entende que se trata de erro de proibição, tendo em vista
a redação do texto legal que menciona: “é isento de pena” e assim, afastaria a
culpabilidade (Mirabete)

Espécies de erro de Tipo:


Escusável, inevitável, invencível ou desculpável: é a modalidade de erro que não deriva de culpa
do agente, ou seja, mesmo que ele tivesse agido com a cautela e a prudência de um homem
médio, ainda assim não poderia evitar a falsa percepção da realidade sobre os elementos
constitutivos do tipo penal.

Inescusável, evitável, vencível ou indesculpável: é a espécie de erro que provém da culpa do


agente, é dizer, se ele empregasse a cautela e a prudência do homem médio poderia evitá-lo,
uma vez que seria capaz de compreender o caráter criminoso do fato.
A natureza do erro deve ser aferida levando-se em consideração as condições em que o fato foi
praticado.

OBS: O erro essencial sempre exclui o dolo. Como o dolo deve abranger todas as elementares do
tipo penal, resta afastado pelo erro de tipo, pois o sujeito não possui a necessária vontade de
praticar integralmente a conduta tipificada em lei como crime ou contravenção penal.
O erro escusável exclui o dolo e a culpa, acarretando na impunidade total do fato, enquanto
o inescusável exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei
(excepcionalidade do crime culposo).
OBS: Excepcionalmente, em virtude do erro se opera a desclassificação para outro crime

Erro de tipo X crime putativo por erro de tipo

Erro de tipo e crime putativo não se confundem.

No erro de tipo o indivíduo, desconhecendo um ou vários elementos constitutivos,


não sabe que pratica um fato descrito em lei como infração penal, quando na
verdade o faz.

Já no crime putativo por erro de tipo, ou delito putativo, é o imaginário ou


erroneamente suposto, que existe exclusivamente na mente do agente. Ele quer
praticar um crime, mas, por erro, acaba por cometer um fato penalmente
irrelevante. Exemplo: “A” deseja praticar o crime de tráfico de drogas (Lei
11.343/2006, art. 33, caput), mas por desconhecimento comercializa açucar.
Erro de tipo e crimes omissivos impróprios

Nos crimes omissivos impróprios, também chamados de crimes omissivos espúrios


ou comissivos por omissão, o dever de agir, disciplinado no art. 13, § 2.º, do
Código Penal, funciona como elemento constitutivo do tipo.

Destarte, nada impede a incidência do erro de tipo em relação ao dever de agir


para evitar o resultado, levando-se em conta a relação de normalidade ou perigo
do caso concreto. Em síntese, é cabível o erro de tipo na seara dos crimes
omissivos impróprios. Exemplo: O salva-vidas avista um banhista se debatendo em
águas rasas de uma praia e, imaginando que ele não estava se afogando (e sim
dançando, brincando com outra pessoa etc.), nada faz. Posteriormente, tal
banhista é retirado do mar sem vida por terceiros. Nessa hipótese, é possível o
reconhecimento do instituto previsto no art. 20, caput, do Código Penal,
aplicando-se os efeitos que lhe são inerentes.

MODALIDADES DE ERRO

ESSENCIAL: Incide sobre os elementos objetivos do tipo:


escusável – exclui o dolo e a culpa - art. 20, caput, 1ª parte e § 1, 1ª p. CP
inescusável – exclui o dolo mas não a culpa – art. 20, caput, 2ª parte e §1º, 2ª p. CP

ACIDENTAL: Incide sobre dados de importância secundária no tipo penal


Erro sobre objeto material do delito -(sobre a pessoa -art. 20, § 3º do CP- ou sobre o objeto
ou coisa)
Erro na execução - quanto à pessoa (aberratio ictus)ou quanto ao bem jurídico (aberratio
criminis ou delicti – resultado diverso do pretendido) – unidade simples ou complexa
Erro sobre nexo de causalidade – aberratio causae

Erro provocado por terceiro (art. 20, § 2º CP)


Erro quanto às qualificadoras*

ERRO DE TIPO
ERRO ACIDENTAL
Erro de tipo acidental é o que recai sobre dados diversos dos elementos
constitutivos do tipo penal, ou seja, sobre as circunstâncias* (agravantes
genéricas e causas de aumento da pena) e fatores irrelevantes da figura
típica. A infração penal subsiste íntegra, e esse erro não afasta a
responsabilidade penal.

Pode ocorrer nas seguintes situações:


(1) erro sobre a pessoa;
(2) erro sobre o objeto;
(3) erro quanto às qualificadoras*;
(4) erro sobre o nexo causal;
(5) erro na execução;
(6) resultado diverso do pretendido.
Esses três últimos são denominados de crimes aberrantes.
Erro sobre a pessoa ou error in persona

É o que se verifica quando o agente confunde a pessoa visada, contra a qual


desejava praticar a conduta criminosa, com pessoa diversa. Exemplo: “A”, com a
intenção de matar “B”, efetua disparos de arma de fogo contra “C”, irmão gêmeo
de “B”, confundindo-o com aquele que efetivamente queria matar. É irrelevante,
em face da teoria da equivalência do bem jurídico atingido. Nesse contexto, o art.
121 do Código Penal protege a “vida humana”, independentemente de se tratar de
“B” ou de “C”. O crime consiste em “matar alguém”, e, no exemplo mencionado, a
conduta de “A” eliminou a vida de uma pessoa. É um erro fático-cognitivo.

Art. 20, § 3.º, do Código Penal: “O erro quanto à pessoa contra a qual
o crime é praticado não isenta de pena. Não se consideram, neste
caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa
contra quem o agente queria praticar o crime”.

Leva-se em conta a aplicação da pena, as condições da vítima virtual, isto é,


aquela que o sujeito pretendia atingir, mas que no caso concreto não sofreu perigo
algum, e não a vítima real, que foi efetivamente atingida.

Erro sobre o objeto ou error in objecto

Nessa espécie de erro de tipo acidental, o sujeito crê que a sua


conduta recai sobre um determinado objeto, mas na verdade incide
sobre objeto diverso. Exemplo: O agente acredita subtrair um
Picasso, quando realmente furta uma réplica de tal bem.

Esse erro é irrelevante, e não interfere na tipicidade penal. O art.


155, caput, do Código Penal tipifica a conduta de “subtrair, para si
ou para outrem, coisa alheia móvel”, e, no exemplo, houve a
subtração do patrimônio alheio, pouco importando o seu efetivo
valor.

Erro na execução ou aberratio ictus

Art. 73. Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o
agente, ao invés de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge
pessoa diversa, responde como se tivesse praticado o crime contra
aquela, atendendo-se ao disposto no § 3.º do art. 20 deste Código. No
caso de ser também atingida pessoa que o agente pretendia ofender,
aplica-se a regra do art. 70 deste Código.

Erro na execução é a aberração no ataque, em relação à pessoa a ser atingida pela


conduta criminosa. O agente não se engana quanto à pessoa que desejava atacar,
mas age de modo desastrado, errando o seu alvo e acertando pessoa diversa.
Queria praticar um crime determinado, e o fez. Errou quanto à pessoa: queria atingir
uma, mas acaba ofendendo outra.
OBS: Também chamado ‘desvio no golpe’, ou ‘erro inabilidade’ – é um erro
operacional
Resultado diverso do pretendido, aberratio
delicti ou aberratio criminis

Art. 74 : Fora dos casos do artigo anterior, quando, por acidente ou


erro na execução do crime, sobrevém resultado diverso do
pretendido, o agente responde por culpa, se o fato é previsto como
crime culposo; se ocorre também o resultado pretendido, aplica-se a
regra do art. 70 deste Código.

O agente desejava cometer um crime, mas por erro na execução acaba


por cometer crime diverso.
Ao contrário do erro na execução, no resultado diverso do pretendido a relação
é crime x crime. Daí o nome: resultado (crime) diverso do pretendido. Não por outro
motivo, o dispositivo legal é peremptório ao dizer que essa regra se aplica “fora dos
casos do artigo anterior”, isto é, nas situações que não envolvam o erro na execução
relativo à pessoa x pessoa.
O clássico exemplo é o do sujeito que atira uma pedra para quebrar uma vidraça
(CP, art. 163: dano), mas, por erro na execução, atinge uma pessoa que passava
pela rua, lesionando-a (CP, art. 129: lesões corporais).

Erro sobre as qualificadoras

O sujeito age com falsa percepção da realidade no que diz respeito a uma
qualificadora do crime. Exemplo: O agente furta um carro depois de conseguir,
por meio de fraude, a chave verdadeira do automóvel. Acredita praticar o crime
de furto qualificado pelo emprego de chave falsa (CP, art. 155, § 4.º, inc. III),
quando na verdade não incide o tipo derivado por se tratar de chave verdadeira.

Esse erro não afasta o dolo nem a culpa relativamente à modalidade básica do
delito. Desaparece a qualificadora, por falta de dolo, mas se mantém intacto o
tipo fundamental, ou seja, subsiste o crime efetivamente praticado, o qual deve
ser imputado ao seu responsável.

Erro sobre o nexo causal ou aberratio causae

É o erro quanto à causa do crime: o resultado buscado pelo agente ocorreu em


razão de uma situação diversa daquela que ele inicialmente idealizou.

Não há erro quanto às elementares do tipo, bem como no tocante à ilicitude do


fato. Com efeito, esse erro é penalmente irrelevante, de natureza acidental, pois o
sujeito queria um resultado naturalístico e o alcançou. O dolo abrange todo o
desenrolar da ação típica, do início da execução até a consumação. Exemplo:
“A”, no alto de uma ponte, empurra “B” – que não sabia nadar – ao mar, para
matá-lo afogado. A vítima falece, não por força da asfixia derivada do
afogamento, e sim por traumatismo crânio-encefálico, pois se chocou em uma
pedra antes de ter contato com a água.

Há perfeita congruência entre a sua vontade e o resultado naturalístico produzido.


Há de ser considerado o meio de execução que o agente desejava empregar
para a consumação e não aquele que, acidentalmente, permitiu a produção do
resultado naturalístico.
Erro sobre o nexo causal (“aberratio causae”) X Erro
sucessivo

ABERRATIO CAUSAE ERRO SUCESSIVO OU DOLO


GERAL
• único ato: Exemplo: “A”, no alto • dois atos distintos : Exemplo: “A”
de uma ponte, empurra “B” – atira em “B”, que cai ao solo.
que não sabia nadar – ao mar, Como ele acredita na morte da
para matá-lo afogado. A vítima vítima, lança o corpo ao mar,
falece, não por força da asfixia para ocultar o cadáver, mas
derivada do afogamento, e sim posteriormente se constata que
por traumatismo crânio- a morte foi produzida pelo
encefálico, pois se chocou em afogamento, e não pelo disparo
uma pedra antes de ter contato de arma de fogo).
com a água.

ERRO DETERMINADO POR TERCEIRO

Estabelece o art. 20, § 2.º, do Código Penal: “Responde pelo crime o terceiro que
determina o erro”.
Quem pratica a conduta tem uma falsa percepção da realidade no que diz
respeito aos elementos constitutivos do tipo penal em decorrência da atuação de
terceira pessoa, chamada de agente provocador.
O agente não erra por conta própria (erro espontâneo), mas sim de
forma provocada, isto é, determinada por outrem.
O erro provocado pode ser doloso ou culposo, dependendo do elemento
subjetivo do agente provocador.
Quando o provocador atua dolosamente, a ele deve ser imputado, na forma
dolosa, o crime cometido pelo provocado. Exemplo: “A”, apressado para não
perder o ônibus, pede na saída da aula para “B” lhe arremessar seu aparelho de
telefone celular que esquecera na mesa. “B”, dolosamente, entrega o telefone
pertencente a “C”, seu desafeto.

DESCRIMINANTES PUTATIVAS

Art. 20, § 1.º : É isento de pena quem, por erro plenamente justificado
pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria
a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de
culpa e o fato é punível como crime culposo.

Descriminante é a causa que exclui o crime, retirando o caráter ilícito do fato típico
praticado por alguém. Essa palavra é sinônima, portanto, de causa de exclusão da
ilicitude.

Putativa provém de parecer, aparentar. É algo imaginário, erroneamente suposto. É


tudo aquilo que parece, mas não é o que aparenta ser.

Assim, descriminante putativa é a causa de exclusão da ilicitude que não existe


concretamente, mas apenas na mente do autor de um fato típico. É também
chamada de descriminante erroneamente suposta ou descriminante imaginária.
DESCRIMINANTES PUTATIVAS

 erro relativo aos pressupostos de fato de uma causa de exclusão da ilicitude: É o


caso daquele que, ao encontrar seu desafeto, e notando que tal pessoa coloca a
mão no bolso, saca de seu revólver e o mata. Descobre, depois, que a vítima fora
acometida por cegueira, por ele desconhecida, e não poderia sequer ter visto o
seu agressor. Ausente, portanto, um dos requisitos da legítima defesa, qual seja a
“agressão injusta”;
 erro relativo à existência de uma causa de exclusão da ilicitude: Imagine-se o
sujeito que, depois de encontrar sua mulher com o amante, em flagrante adultério,
mata a ambos, por crer que assim possa agir acobertado pela legítima defesa da
honra. Nessa situação, o agente errou quanto à existência desta descriminante,
não acolhida pelo ordenamento jurídico em vigor;
 erro relativo aos limites de uma causa de exclusão da ilicitude: Temos como
exemplo o fazendeiro que reputa adequado matar todo e qualquer posseiro que
invada a sua propriedade. Cuida-se da figura do excesso, pois a defesa da
propriedade não permite esse tipo de reação desproporcional.

Teoria limitada da Teoria normativa pura da


Descriminante putativa
culpabilidade culpabilidade
Erro relativo aos Erro de tipo Erro de proibição (teoria
pressupostos de fato de unitária do erro)
uma causa de exclusão da
ilicitude
Erro relativo à existência de Erro de proibição Erro de proibição
uma causa de exclusão da
ilicitude

Erro relativo aos limites de Erro de proibição Erro de proibição


uma causa de exclusão da
ilicitude
Para fixar...

Erro de tipo Erro de proibição


O agente desconhece a O agente conhece a realidade
situação fática, o que lhe fática, mas não compreende o
impede o conhecimento de caráter ilícito da sua conduta.
Causa um ou mais elementos do tipo
penal. Sabe o que faz, mas não sabe
Não sabe o que faz. que viola a lei penal.

■ Escusável: exclui o dolo e a ■ Escusável: exclui a


culpa; e culpabilidade; e
■ Inescusável: exclui o dolo, ■ Inescusável: não afasta a
Efeitos mas permite a punição por culpabilidade, mas permite a
crime culposo, se previsto em diminuição da pena, de 1/6 a
lei. 1/3. (art.21 CP)

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

FCC – TJ-PA – Analista Judiciário - Oficial de Justiça -2009

O erro de proibição quando escusável exclui a:

a) imputabilidade.

b) culpabilidade.

c) punibilidade.

d) antijuridicidade

e) conduta.
MP-DFT- Promotor de Justiça – 2013
Examine os itens que se seguem e assinale a alternativa CORRETA:
a) Nos termos da legislação penal brasileira, a aberratio ictus com resultado
duplo conduz à aplicação da regra da continuidade delitiva.
b) O erro de proibição invencível por parte de um dos coautores do delito
impede a aplicação de pena aos demais concorrentes.
c) Na omissão, o erro de mandamento se caracteriza quando o omitente se
abstém da ação ordenada pelo direito, na justificável crença de inexistir o
dever de agir.
d) Segundo o Código Penal, atua em erro de proibição o agente que, diante
da aproximação de pessoa que acredita tratar-se de um ladrão, desfere-lhe
golpes com pedaço de madeira.
e) Para o finalismo, é erro de tipo o que incide sobre a consciência da ilicitude,
que pode ser meramente potencial.

CESPE/CEBRASPE – PC-BA – Delegado de Polícia– 2013

Acerca da parte geral do direito penal e seus Institutos, julgue o item


seguinte.

Tanto a conduta do agente que age imprudentemente, por


desconhecimento invencível de algum elemento do tipo quanto a
conduta do agente que age acreditando estar autorizado a fazê-lo
ensejam como consequência a exclusão do dolo e, por conseguinte, a do
próprio crime.

a) Certo

b) Errado

Você também pode gostar