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INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E APLICAÇÃO DA LEI PENAL

1. INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL ї Para configurar em infração penal, são necessários alguns
pressupostos:
E APLICAÇÃO DA LEI PENAL Deve ser uma conduta humana, ou seja, o simples ataque
1.1 Introdução ao Estudo de um animal não configura em crime, porém, caso ele seja ins-
tigado por outra pessoa, passa a ser um mero objeto utilizado na
do Direito Penal prática da conduta do agressor.
A Infração Penal é gênero que se divide em duas espécies:
Deve ser uma ação consciente, possível de ser prevista pelo
crimes (conduta mais gravosa) e contravenções penais (conduta
agente, quando esse é descuidado responderá de forma culposa,
de menor gravidade). Essa divisão é chamada de dicotômica. A di-
entretanto se realmente houver intenção, o desejo do indivíduo,
ferença básica incide sobre as penas aplicáveis aos infratores, en-
sua conduta com um propósito específico será dolosa.
quanto o crime é punível com pena de reclusão e detenção, as con-
travenções penais implicam prisão simples e multa, podendo ser Necessita ser voluntária, por exemplo, caso o agente venha
aplicada de forma cumulativa ou não. agredir alguém por conta de um espasmo muscular, essa conduta
Para que a conduta seja de- é tida como involuntária.
finida como crime, tem que estar ti- ї A infração penal sempre gera um resultado que pode ser:
pificada (escrita) em alguma norma Naturalístico: quando
penal. Não somente o próprio Código ocorre efetivamente a lesão
O Direito Penal é chamado Penal as descreve como também as de um bem jurídico tutelado
de Direito das Condutas Leis Complementares Penais ou Leis - protegido - da vítima. Por
Ilícitas. Especiais, por exemplo: Estatuto do Todo crime gera um exemplo, no crime de homicí-
Desarmamento (Lei nº 10.826/2003), resultado, porém, nem todo dio, quando a vida de alguém
Lei de Tortura (Lei nº 9.455/1997), entre outras. Por conseguinte, crime gera um resultado é interrompida, causa um
as Contravenções Penais estão previstas em Lei específica, Lei nº naturalístico (lesão).
3.688/41, esta também é conhecida como Crime Anão, visto seu re- resultado naturalístico, pois
duzido potencial ofensivo. Como essa conduta não é o cerne do es- modificou o mundo exterior,
tudo não convém aprofundar o assunto, basta apenas ressaltar que não somente do de cujus (falecido) como de sua família.
as Contravenções Penais não admitem tentativas, enquanto o Crime Jurídico: quando a lesão não se consuma, utilizando o mes-
é punível, mas, somente se existir previsão legal (Código Penal). mo exemplo acima, caso o agressor não tivesse êxito na sua con-
duta, ele responderia pela tentativa de homicídio, desde que não
Contravenção Prisão cause lesão corporal. Convém ressaltar que, embora o agente não
Reclusão Crime Infração Penal Penal = simples
Detenção = (delito)
(Divisão (crime anão) Multa obteve êxito no resultado pretendido, o Código Penal sempre irá
Dicotômica) punir por aquilo que ele queria fazer (elemento subjetivo), contudo
Não admite nesse caso gerou apenas um resultado jurídico.
tentativa
+ Grave - Grave
1.2 Teoria do Crime
Conduta humana Proposital = Dolo Sendo o crime (delito) espécie da infração penal, possui
Consciente Descuidada = Culpa
Voluntária uma nova divisão. Nesse caso, existem diversas correntes doutri-
nárias para este conceito, entretanto, adotaremos a majoritária,
Classificação dos a qual vigora no Direito Penal Brasileiro, classificada como Teoria
Tipificadas Crimes: Finalista Tripartida ou Tripartite.
(escritas) Comissivo
CP Omissivo Fato Típico (Está escrito, definido como crime)
LCP Material
Formal +
Leis Especiais Crime
Mera Conduta Delito Ilícito (Antijurídica) - (Contra a lei)
Especial ou própria
Mão própria +
Preterintencional Culpável (Culpabilidade)
Permanente
Putativo
Conceito de Crime no Direito Penal Brasileiro
Lesão Ameaça a Lesão
Resultado (Resultado ї Fato Típico: para ser considerado fato típico, é fundamental
(Resultado Naturalístico)
Jurídico) que a conduta esteja tipificada, ou seja, escrita, em alguma
Fere Bens Jurídicos norma penal. Não obstante, é necessário que exista:
Fundamentais
ঠ Conduta: é a ação do agente, seja ela culposa (des-
cuidada) ou dolosa, intencional; comissiva (ação) ou
omissiva (deixar de fazer).

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ঠ Resultado: que seja naturalístico (modificação provocada 1.3 Princípio da Legalidade


no mundo exterior pela conduta) ou jurídico (quando não
houver resultado jurídico não existe crime).
(Anterioridade - Reserva Legal)
Art. 1º. Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena
ঠ Nexo Causal: é o elo entre a ação e o resultado, ou seja, sem prévia cominação legal.
se o resultado foi provocado diretamente pela ação do Somente haverá crime quando existir perfeita correspon-
agente, houve nexo causal. dência entre a conduta praticada e a previsão legal (Reserva Le-
ঠ Tipicidade: tem que ser considerado crime, estar tipifi- gal), que não pode ser vaga, deve ser específica. Exige-se que a lei
cado, escrito. esteja em vigor no momento da prática da infração penal (Anterio-
ridade). Fundamento Constitucional: Art. 5º, XXXIX.
ї Ilícito (antijurídico):
neste quesito a ação ї Princípio: Nullum crimem, nulla poena sine praevia lege.
do agente tem que ser Caso não existam alguns As normas penais incriminadoras não são proibitivas e sim
ilícita, pois, nosso orde- destes elementos na descritivas. Por exemplo, o Art. 121 - Matar alguém, no Código Pe-
namento jurídico prevê conduta, pode-se dizer que nal, ele não proíbe, ou seja, não matar. Ele descreve uma conduta,
legalidade em determi- o fato é atípico. que, se cometida possuirá uma sanção (punição).
nadas situações em que, Não são
mesmo sendo antijurídicas, serão permissivas. São as chama- proibitivas
das de excludentes de ilicitude ou de antijuridicidade, sendo: Quem pratica um
Normas Penais crime não age
Legítima Defesa, Estado de Necessidade, Estrito Cumprimento Incriminadoras contra a lei, mas
do Dever Legal ou no Exercício Regular de um Direito. de acordo com ela.
ї Culpável (culpabilidade): é a capacidade de o agente receber São
descritivas
pena. Em alguns casos, mesmo o agente cometendo um fato
típico e ilícito, ele não poderá ser culpável, ou seja, não pode A Analogia no Direito Penal só é aceita para beneficiar o
ser “preso”, pois incidirá nas excludentes de culpabilidade. A agente. Por exemplo, no antigo ordenamento jurídico, só era per-
mais conhecida é o menor em conflito com a lei, ele pode co- mitido realizar o aborto em decorrência do estupro (pênis x vagi-
meter uma infração penal (crime), mas não poderá ir preso. na), entretanto, a norma penal não
É quando, no momento da ação ou da omissão, o agente é abrangia o caso do violento aten-
totalmente incapaz de entender o caráter ilícito do fato, ou tado ao pudor (pênis x ânus). Caso
de determinar-se de acordo com esse entendimento. Ainda a mulher viesse engravidar em de- Medida Provisória
dentro dessa espécie, haverá três desdobramentos que são a corrência disso, realizava-se a não pode dispor sobre
imputabilidade, a potencial consciência da ilicitude e a exigi- analogia in bonam partem, permi- matéria penal, criar
bilidade de conduta diversa. tindo também neste caso, o abor- crimes e cominar penas,
to. Ressaltamos que não existe Art. 62, § 1º, I, b CF/88,
Para que o crime ocorra, é necessário preencher todos os
mais o crime de violento atentado somente Lei Ordinária.
requisitos, caso exclua alguns dos elementos do fato típico ou se
ao pudor, atualmente no Código
não for ilícito/antijurídico, dizemos que excluiu o crime; caso não
Penal é tido como estupro.
possa ser culpável, o agente será isento de pena.
Pode ocorrer de o agente cometer um fato descrito como In malam partem
(prejudicar) NÃO aceita
crime – Matar alguém – e esse fato não ser considerado crime.
Ex.: quem mata em legítima defesa comete um fato típico, ou Analogia no
seja, escrito e definido como crime. Contudo, esse fato não é Direito Penal
ilícito, pois a própria lei autoriza o sujeito a matar em certos
In bonam partem
casos pré-definidos. (beneficiar) aceitar
Pode ocorrer também, de o agente cometer um fato defi-
nido como crime, ou seja, fato típico – escrito e definido no CP – e Normas Penais em branco são aquelas que precisam ser
ilícito, o ordenamento jurídico não autoriza aquela conduta, e mes- complementadas para que analisemos o caso concreto. Por exem-
mo assim ficar isento de PENA. Assim, pode o sujeito cometer um plo, a vigente Lei de Drogas nº 11.343/06 dispõe sobre diversas
crime e não ter pena. condutas ilícitas, entretanto, o que
Ex.: quem é obrigado a cometer um crime. Uma pessoa en- é droga? Para analisar se determi-
costa a arma carregada na cabeça de outra e diz que, se ela nada substância é droga ou não, o
não cometer tal crime, irá morrer. direito penal analisa uma portaria
da Anvisa (Agência Nacional de O princípio da Reserva
Vigilância Sanitária) nº 344/98, Legal admite o uso de
em que todas as substâncias que Normas Penais em branco.
estiverem descritas serão consi-
deradas como droga.

DIREITO PENAL
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E APLICAÇÃO DA LEI PENAL

A Analogia Penal é diferente de Interpretação Analógica, Histórica


nessa situação, a conduta do agente é analisada dentro da própria É aquela que busca compreender o sentido da lei por meio
norma penal, ou seja, é observado a forma como a conduta foi pra- da análise do momento e contexto histórico em que foi editada.
ticada, quais os meios utilizados. Sendo assim, a Interpretação Ana-
lógica sempre será possível, ainda que mais gravosa para o agente. Sistemática
Art. 121. Matar alguém: É aquela que analisa o sentido da lei em conjunto com todo
Pena - reclusão, de seis a vinte anos. o ordenamento jurídico (as legislações em vigor, os Princípios Ge-
§ 2º. Se o homicídio é cometido: rais de Direito, a Doutrina e a Jurisprudencial).
III. Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura
ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar
Progressiva
perigo comum; É aquela que busca adaptar a lei aos progressos obtidos pe-
Pena - reclusão, de doze a trinta anos. la sociedade.
Nessa situação, caso o agente tenha cometido o homicídio Quanto ao resultado
utilizando-se de alguma das formas expostas no inciso III, ocorrerá
a aplicação de uma pena mais gravosa, é o exemplo de Interpreta- Declarativa
ção Analógica. É aquela em que se encontra a perfeita correspondência en-
tre a letra da lei e a intenção do legislador.
1.4 Interpretação da Lei Penal
Restritiva
A matéria Interpretação da Lei Penal passou a ser aborda-
É aquela em que se restringe o alcance da letra da lei para
da com mais frequência pelos editais de concurso público. No en-
que corresponda à real intenção do legislador. A lei diz mais do que
tanto, quando cobrada, não costuma gerar muita dificuldade. Isso
deveria dizer.
porque geralmente a banca examinadora traz na questão uma
espécie de interpretação e questiona quanto ao seu significado. Extensiva
A Interpretação da Lei Penal consiste em buscar o significa- É aquela em que se amplia o alcance da letra da lei para que
do e a extensão da letra da lei em relação à realidade e à vontade corresponda à real intenção do legislador. A lei diz menos do que
do legislador. deveria dizer.
Assim, a Interpretação da Lei Penal divide-se em: Analógica
É aquela em que a Lei Penal permite a ampliação de seu
Quanto ao sujeito conteúdo por meio da utilização de uma expressão genérica ou
Autêntica ou legislativa aberta pelo legislador: Art. 121, § 2º, III, CP. Homicídio qualificado
por emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro
É aquela realizada pelo mesmo órgão da qual emana, po- meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum.
dendo vir no próprio texto legislativo ou em lei posterior: Conceito
de funcionário público previsto no Art. 327, CP. 1.5 Conflito Aparente de
Doutrina Normas Penais
É aquela realizada pelos doutrinadores – estudiosos do di- Fala-se em conflito aparente de normas penais quando
reito penal – normalmente encontrada em livros, artigos e docu- duas ou mais normas aparentemente parecem reger o mesmo te-
ma. Na prática, uma conduta pode se enquadrar em mais de um
mentos: Código Penal comentado.
tipo penal, mas isso é tão somente aparente, pois os princípios do
Jurisprudencial ou judicial direito penal resolvem esse fato. São eles os princípios:
a) Princípio da Especialidade;
É aquela realizada pelo Poder Judiciário na aplicação do ca-
so concreto, na busca pela vontade da lei. É a análise das decisões b) Princípio da Subsidiariedade;
reiteradas sobre determinado assunto legal: Súmulas do Tribunais c) Princípio da Consunção;
Superiores e Súmula Vinculante. d) Princípio da Alternatividade.

Quanto ao modo Princípio da especialidade


A regra, nesse caso, é que a norma especial prevalecerá so-
Literal ou gramatical bre a norma geral. Dessa forma, a norma no tipo penal incrimina-
É aquela que busca o sentido literal das palavras. dor é mais completa que a prevista na norma geral.
Isso ocorre por exemplo no crime de homicídio e infanticídio.
Teleológica O crime de infanticídio possui em sua elementar dados complemen-
É aquela que busca compreender a intenção ou vontade da lei. tares que o tornam mais especial – completo – que a norma geral.

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