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Unidade 1 | Aula 4
Unidade 1 Política Criminal: Conceitos e Cenários

Aula 4 – Política Criminal como Política Pública


Objetivo da Aula

Expandir a concepção da política criminal como uma política pública.

Apresentação

É ótimo continuar com sua companhia! Nesta aula vamos expandir a concepção da
política criminal, para entendê-la como uma verdadeira política pública! Para chegarmos
neste ponto, começamos analisando o conceito de política, e como ela não se confunde
com os partidos políticos ou com o partidarismo. Uma vez bem estabelecido o conceito
de política, vamos estudar no que consistem as políticas públicas, e qual sua relação com
a política.
Agora você estará pronto para entender por que a política criminal é também uma
política pública, e como ela intervém tanto em temas intuitivamente relacionados aos
fenômenos criminais, como em temas que apresentam uma relação indireta, porém
muitíssimo importante, para o controle da criminalidade!

1. Conceito de Política

Antes de analisarmos o conceito de política pública, é muito importante que tenhamos a


compreensão correta do que significa política. Isso é essencial, estimado(a) estudante, pois
há muita confusão entre os termos política e partidarismo, sendo certo que são conceitos
distintos!
A política pode ser definida como a arte ou ciência de governar; a arte ou ciência de
organizar, dirigir e administrar os países, seja em seu âmbito interno (política interna),
seja em seu âmbito externo (política externa). Também pode ser definida como a série de
medidas tomadas para a obtenção de um fim (HOUAISS; VILLAR, 2001, p. 2253).
Veja, que política não é sinônimo de partido político, sendo muito mais ampla e anterior
a ele. Para ficar bem clara a diferença entre os conceitos, confira o conceito de partidos
políticos:

Livro Eletrônico
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Partidos políticos, em essência, são agrupamentos de pessoas que almejam o poder político, seja
para conquistar ou para conservar o governo de determinada organização estatal. Para tanto,
são formados a partir de um projeto político, a fim de atrair pessoas para a sua implementação.
Nesses termos, os partidos políticos apresentam uma motivação ideológica e uma ambição pelo
poder (BRAGA, 2020, P. 114).

Os partidos políticos, portanto, querem participar e exercer com protagonismo os


projetos políticos, para influenciar a política, que é assunto estatal. Ocorre que não são
apenas os partidos políticos que influenciam os rumos da política. Existem muitos outros
atores sociais, como: os cidadãos, os movimentos sociais, os organismos internacionais,
outros países etc.
Você deve estar se perguntando: e o partidarismo? No que ele consiste? Noto que está
atento, estimado(a) estudante! Vamos lá então ao conceito de partidarismo! Partidarismo
é o fanatismo partidário, é o excesso de apego por uma concepção política ou um projeto
político específico.
Note que é um conceito bem diferente do conceito de política, que é a arte ou ciência
de governar um país!

Separe papel e caneta, ou abra um arquivo em seu celular, e escreva três frases
que você costuma pensar ou falar com a palavra “política”. Depois, verifique
quais os sentidos em que você está usando a palavra, em cada uma das frases:
política, partido político, partidarismo, ou outro sentido.
O objetivo desta prática é verificar se você está usando adequadamente o
conceito “política”. Em caso negativo, ajuste as palavras nas próximas vezes em
que for usá-las!

Agora que já estudamos o conceito de política, vamos apresentar o conceito de


política pública!

2. Conceito de Política Pública

A política pública só pode ser entendida no contexto da política. Isto porque elas se
influenciam de maneira recíproca. Enquanto a política é um conceito amplo e relativo ao

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sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

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poder em geral, as políticas públicas são as soluções específicas a respeito de como cuidar
dos assuntos públicos. Note, que as políticas públicas são um assunto comum da política!

Na política está incluída a busca por estabelecer ou influenciar políticas públicas, em


diversos contextos, e todo governo deve se preocupar em desenhar, gerir e avaliar as políticas
públicas que está desenvolvendo (PARADA, 2006, p. 67).

Detalhando um pouco mais o conceito de política pública, é muito importante entender


que quando estamos diante de ações e programas estabelecidos e desenvolvidos pelo Estado
para efetivar os direitos das pessoas, estamos diante de políticas públicas! Veja, que as
políticas públicas são medidas e estratégias criadas e acompanhadas pelos governos com
a finalidade de concretizar o bem-estar de todas as pessoas que compõem a população.

É muito importante que todos os poderes do Estado contribuam para a criação,


para o fortalecimento e para a avaliação das políticas públicas. São eles: Poder
Executivo, Poder Legislativo e Poder Judiciário.

Importante notar que, por serem programas relacionados aos direitos dos cidadãos, as
políticas públicas existem em muitas áreas, como: educação, saúde, trabalho, assistência
social, lazer, meio ambiente, segurança, cultura, moradia, saneamento, transporte, entre
outros (SERGIPE, 2018).
E a política criminal? Como se relaciona com as políticas públicas? Vamos abordar isto
na sequência!

3. Política Criminal e Políticas Públicas

A política criminal é uma política pública, isto é, ela integra as políticas públicas
estruturadas pelo Estado. Você deve estar se perguntando, em quais áreas a política
criminal influencia a estruturação das políticas públicas! Vamos aprofundar este ponto?
Uma das áreas em que certamente a política criminal exerce protagonismo é a da
segurança, com a finalidade de garantir a ordem pública e o controle da criminalidade.
Especificamente sobre as políticas de segurança pública, trazemos uma classificação
para que você perceba como há vários tipos de políticas públicas possíveis, escolhidas de

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acordo com o problema que está se querendo enfrentar, tendo importância também o tipo
de orientação político-criminal subjacente.
Vamos à classificação apresentada por Filocre (2009, p. 151-154). As políticas de
segurança pública podem ser:

• Minimalistas ou maximalistas: conforme priorizem poucas ou muitas estratégias;


• Gerais (abrangentes) ou locais: conforme estabeleça uma política única para um grande
território ou políticas diferenciadas para diferentes regiões;
• Distributivas ou redistributivas: conforme sejam distribuídas para todos os cidadãos
ou apenas para um perfil deles;
• Reguladoras ou constitutivas (estruturadoras): conforme exijam dos cidadãos a abs-
tenção de condutas ou seu protagonismo;
• Preventivas ou reativas: conforme mantenham ou diminuam os níveis de criminalidade;
• Estruturais ou tópicas (superficiais): conforme influenciam ou não as macroestruturas
socioeconômicas;
• Multissetoriais ou específicas: conforme envolvem muitos atores sociais ou um único
órgão;
• De combate à criminalidade genérica ou de combate à criminalidade específica: confor-
me tenha por foco todos os tipos de criminalidade ou alguma criminalidade específica;
• Emergenciais ou contínuas: conforme prevejam mecanismos de intervenção pontuais
ou que se prolongam no tempo.

Espero que você tenha notado como a política criminal colabora na construção das
políticas públicas de segurança! Também é necessário que você perceba, caro(a) estudante,
que a política criminal também é uma política pública em outros temas, como, por exemplo,
educação e meio ambiente. Explico! Quando se discute, na formulação da política pública
de proteção ao meio ambiente, se haverá ou não a criminalização de algumas condutas que
afetam o meio ambiente, as contribuições da política criminal serão essenciais!
Detalhando mais o exemplo: será essencial decidir se a responsabilização por essas
condutas se dará na esfera administrativa, ou se na espera penal; caso se escolha a esfera
penal, será preciso definir quais os tipos de pena serão aplicados. Tudo isto é da esfera da
política criminal.
E não apenas os assuntos diretamente ligados aos fenômenos criminais, estimado(a)
estudante! A estruturação da educação ambiental também é da esfera – ainda que não
exclusivamente – da política criminal, na medida em que objetiva potencializar a consciência

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dos cidadãos sobre a necessidade de se preservar o meio ambiente, e também para auxiliar
na identificação de ações que afetam o meio ambiente.
Espero que você tenha compreendido a importância da política criminal enquanto
política pública! Antes de finalizarmos, gostaria de apresentar um órgão importante para o
estabelecimento e acompanhamento das políticas públicas relacionadas à política criminal
no Brasil: o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP). O CNPCP é ligado
ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, por sua vez ligado ao Poder Executivo federal.
As atribuições do CNPCP incluem, de acordo com o artigo 64 da Lei de Execução Penal:

I – propor diretrizes da política criminal quanto à prevenção do delito, administração da Justiça


Criminal e execução das penas e das medidas de segurança;
II – contribuir na elaboração de planos nacionais de desenvolvimento, sugerindo as metas e
prioridades da política criminal e penitenciária;
III – promover a avaliação periódica do sistema criminal para a sua adequação às necessidades
do País;
IV – estimular e promover a pesquisa criminológica;
V – elaborar programa nacional penitenciário de formação e aperfeiçoamento do servidor;
VI – estabelecer regras sobre a arquitetura e construção de estabelecimentos penais e casas
de albergados;
VII – estabelecer os critérios para a elaboração da estatística criminal;
VIII – inspecionar e fiscalizar os estabelecimentos penais, bem assim informar-se, mediante
relatórios do Conselho Penitenciário, requisições, visitas ou outros meios, acerca do desenvol-
vimento da execução penal nos Estados, Territórios e Distrito Federal, propondo às autoridades
dela incumbida as medidas necessárias ao seu aprimoramento;
IX – representar ao Juiz da execução ou à autoridade administrativa para instauração de sindicância
ou procedimento administrativo, em caso de violação das normas referentes à execução penal;
X – representar à autoridade competente para a interdição, no todo ou em parte, de estabele-
cimento penal.

Na esfera estadual, os órgãos que têm atribuições semelhantes ao CNPCP são ligados às
Secretarias de Estado de Justiça (ou, a depender da nomenclatura adotada para a secretaria
em cada Estado-membro: Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública, ou Secretaria
de Estado de Justiça e Direitos Humanos, entre outras denominações possíveis). Estes
órgãos estaduais que têm por missão estruturar a política criminal no âmbito estadual
podem receber várias denominações. Vamos a alguns exemplos. No Pará, há o Conselho
Estadual de Política Criminal e Penitenciária (CEPCP). Em Minas Gerais, dois órgãos cuidam
da matéria: Conselho de Criminologia e Política Criminal (CCPC) e Conselho Penitenciário
Estadual (COPEN).

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Descubra agora qual o nome do(s) conselho(s) que estrutura(m) a política criminal
no Estado da Federação em que você mora! Pesquise também o nome da secretaria
a que ele(s) está(ão) ligado(s)!

Para finalizarmos, no âmbito dos municípios é mais raro ter uma secretaria específica
destinada à política criminal, devendo esta ser considerada transversalmente no trabalho
das secretarias ligadas ao Poder Executivo municipal. Claro que nada impede a criação de
secretarias com esta finalidade!

Considerações Finais da Aula


Nesta aula abordamos a política criminal como política pública, após refletirmos sobre o
conceito de política e de políticas públicas. Espero que você tenha entendido, o impacto da
política criminal na estruturação de diversas políticas públicas, sejam aquelas relacionadas
especificamente à temática da segurança, sejam aquelas relacionadas a outros temas e
que também contribuem para a proteção de bens jurídicos essenciais e para a prevenção
e combate à criminalidade.
Você aprendeu a classificação das políticas de segurança pública, e desse modo conseguiu
projetar possíveis diferenças quando da estruturação e implementação da política criminal.
Você também aprendeu sobre importantes órgãos da gestão pública que se dedicam à
política criminal, com destaque para o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária
(CNPCP), ligado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública. Entendeu também que todos
os poderes do Estado contribuem para as políticas públicas, que concretizam os direitos
dos cidadãos, incluída aqui a política criminal!

Materiais Complementares

Políticas Públicas e Direitos Fundamentais


2021, Felipe de Melo Fonte. Saraiva Educação.
Ler o tópico “2. O ciclo das políticas públicas”, da página 19 a 23.
Com esta leitura, você obterá detalhes importantíssimos sobre o ciclo das políticas
públicas, que é composto de 4 momentos: 1) definição da agenda pública; 2) formula-
ção e escolha das políticas públicas; 3) implementação pelo(s) órgão(s) competente(s);
4) avaliação pelos diversos mecanismos previstos no ordenamento jurídico.
Entender este ciclo é fundamental para aplicá-lo à política criminal!

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Link para acesso: https://app.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555597417/ (acesso


em 31 mar. 2023).

Referências

BRAGA, Claudio Mendonça. Partidos Políticos. In: Ortega, Any; SILVA, Stanley Plácido da
Rosa. Dicionário de conceitos políticos. São Paulo: Assembleia Legislativa do Estado de
São Paulo, 2020. Disponível em: <https://www.al.sp.gov.br/repositorio/bibliotecaDigi-
tal/24369_arquivo.pdf>. Acesso em: 6 mar. 2023.

BRASIL. Lei n. 7.210/1984: institui a Lei de Execução Penal. Disponível em: <https://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm>. Acesso em: 7 mar. 2023.

BRASIL. Lei n. 9.605/1998: dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de


condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Disponível em:
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm>. Acesso em: 3 mar. 2023.

FILOCRE, D’Aquino. Classificações de políticas de segurança pública. Revista Brasileira de


Segurança Pública, São Paulo, v. 3, n. 5, p. 146-158, ago./set. 2009.

FONTE, Felipe de M. Políticas públicas e direitos fundamentais. São Paulo: Saraiva, 2021.
Disponível em: <https://app.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555597417/>. Aces-
so em: 7 mar. 2023.

HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio
de Janeiro: Objetiva, 2001.

MINAS GERAIS. Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública. Conselho de Cri-


minologia e Política Criminal (CCPC). Disponível em: <http://www.seguranca.mg.gov.br/
sobre/conselhos/conselho-de-criminologia-e-politica-criminal-ccpc>. Acesso em: 7 mar.
2023.

MINAS GERAIS. Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública. Conselho Peniten-


ciário Estadual (COPEN). Disponível em: <http://www.seguranca.mg.gov.br/sobre/conse-
lhos/conselho-penitenciario-estadual-copen>. Acesso em: 7 mar. 2023.

PARÁ. Secretaria de Justiça e Direitos Humanos. Conselho Estadual de Política Criminal e


Penitenciária (CEPEP). Disponível em: <http://www.sejudh.pa.gov.br/conselho-estadual-
-de-pol%C3%ADtica-criminal-e-penitenci%C3%A1rio-cepep>. Acesso em: 7 mar. 2023.

PARADA, Eugenio Lahera. Política y políticas públicas. In: SARAVIA, Enrique; FERRAREZI,
Elisabete. Políticas públicas: coletânea – v. 1. Brasília: ENAP, 2006. Disponível em: <ht-
tps://repositorio.enap.gov.br/bitstream/1/1255/1/cppv1_0103_lahera.pdf>. Acesso em:
7 mar. 2023.

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SERGIPE. Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe. Políticas públicas: o que são e


para que existem. Disponível em: <https://al.se.leg.br/politicas-publicas-o-que-sao-e-
-para-que-existem/>. Acesso em: 7 mar. 2023.

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