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AO JUÍZO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE ___________________ – SP

Processo nº ______________________
Requerente: ______________________
Requerida: ______________________
______________________ , já qualificada nos autos em epígrafe, por seus advogados
infrafirmados, conforme procuraçã o anexa, vem r. a presença de Vossa Excelência, com
fulcro no artigo 41 e seguintes da Lei 9.099/95 c/c Có digo de Processo Civil, interpor
RECURSO INOMINADO visando a reforma da Sentença de 1º grau (fls. 71/73) que julgou
improcedente a presente Açã o de Indenizaçã o por Danos Materiais e Morais em face de
______________________ , com as razõ es anexas, requerendo a remessa à E. Turma Recursal de
Bragança Paulista – SP para que ao final seja dado provimento ao recurso.
Nessa conformidade, r. requer a juntada dos comprovantes de recolhimento das guias de
custas inicial e recursal, bem como a taxa de mandato.
Nestes termos, pede deferimento.
Bragança Paulista – SP, 25 de setembro de 2019.
ADVOGADO
OAB/ ____
_____________________________________________
EGRÉGIA TURMA RECURSAL DE BRAGANÇA PAULISTA – SP
Açã o de Indenizaçã o por Danos Materiais e Morais
Origem: Juizado Especial Cível de ___________________ – SP
Processo nº ______________________
Requerente: ______________________
Requerida: ______________________
RAZÕES DO RECURSO INOMINADO
1. RESUMO DA DEMANDA:
A Recorrente ingressou com Açã o de Indenizaçã o por Danos Materiais e Morais em face da
companhia aérea Emirates Airlines, no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) diretamente
no Juizado da Comarca de Bragança Paulista – SP sem a presença de advogado, visando
retirar as taxas cobradas pela Recorrida, vez que por uma emergência familiar nã o
compareceu à viagem de ida para Dubai e durante o trajeto para casa, nã o conseguiu
realizar o cancelamento antes do voo.
A viagem, reservada sob o nº _________ e ticket nº _________, estava marcada para o dia
25/04/2019 à s 01:25 hrs (_________) com retorno no dia 08/05/2019 à s 08hrs (_________),
porém, a Recorrida fora informada que seu pai estava sendo entubado e levado à s pressas
para o hospital Santa Casa de Bragança Paulista – SP devido a uma embolia pulmonar
aguda grave.
Durante o trajeto para casa, tentou por diversas vezes contatar a companhia aérea para
cancelar o voo através da central de atendimento, e-mail, aplicativo, guichê do aeroporto,
sem lograr êxito. Apenas obteve contato com a Emirates no dia seguinte (protocolo nº
_________).
Por sua vez, em sede de Contestaçã o, a Recorrida, diante do cancelamento unilateral da
passagem aérea adquirida, impô s à consumidora diversas multas contratuais, previstas no
contrato aéreo firmado entre as partes, quais sejam: a) taxa no show no valor de US$ 400
(quatrocentos dó lares); b) taxa de reemissã o do bilhete (ida e volta) no valor de US$ 200
(duzentos dó lares); c) diferença de valor do novo bilhete adquirido por parte da
consumidora, em dó lar, mantido o prazo de 01 (um) ano. Ademais, rechaçou o dano moral
pleiteado como mero aborrecimento.
Veio aos autos a Sentença (fls. 71/73) que julgou improcedente os pedidos da Recorrida,
extinguindo o processo com resoluçã o de mérito.
Assim, diante da improcedência de sua pretensã o em retirar a cobrança das multas
contratuais entendidas como abusivas e ser ressarcida pela falha na prestaçã o do serviço,
vem a esta Turma para reverter o r. entendimento da MM. Juíza de Direito.
2. DA TEMPESTIVIDADE DO RECURSO INOMINADO:
A Recorrente foi intimada por AR da Sentença da Açã o de Indenizaçã o por Danos Materiais
que tramitou no Juizado Especial Cível da Comarca de _________ – SP no dia 17/09/2019,
iniciando-se o prazo para interposiçã o de Recurso Inominado em 10 dias, conforme prevê a
Lei 9.099/95 [1]. Desta maneira, o presente recurso é tempestivo.
3. RAZÕES DE RECURSO:
A) NÃO COMPARECIMENTO NA VIAGEM – IMPOSIÇÃO DE TAXA NO SHOW – CONDUTA
LESIVA E ABUSIVA DA COMPANHIA AÉREA:
Em que pese as provas produzidas em sede de juízo de primeiro grau, o magistrado,
decidiu por julgar improcedente o pedido da parte autora, ora Recorrente, sob o seguinte
fundamento:
“(...) Também não há que se falar em ilegalidade da cobrança da taxa no show. A taxa administrativa de no show
pelo não comparecimento para embarque é devida em razão do descumprimento pelo passageiro do contrato de
transporte firmado com a companhia aérea, eis que não cancelou o bilhete, deixou de comparecer para o
embarque e prejudicou a empresa aérea que não pode, dessa forma, vender o lugar para outro passageiro,
sofrendo prejuízos (...)”.

Ocorre que o magistrado, deixa de considerar que a Recorrida foge à realidade ao impor à
Recorrente a cobrança da tarifa no show no valor de US$ 400 (quatrocentos) dó lares,
demonstrando que a companhia aérea se aproveita da vulnerabilidade do consumidor,
fixando valores nã o razoá veis para maximizar os lucros pelo no show. Todavia, tal
interpretaçã o nã o pode ser admitida, pois trata-se sim de clá usula abusiva que onera o
consumidor excessivamente.
A taxa no show é uma prá tica tarifá ria comumente utilizada pelas empresas do ramo de
transporte aéreo de passageiros, que é aplicada ao cliente que tem o trecho da passagem
cancelada automaticamente devido ao nã o comparecimento no momento de embarque (no
show). Embora seja uma prá tica utilizada no â mbito econô mico e empresarial, configura
prá tica abusiva, considerando que afronta direitos bá sicos do consumidor, tais como
enriquecimento ilícito, falta de razoabilidade nas sançõ es impostas e ainda, na deficiência
na informaçã o sobre produtos e serviços prestados.
Já resta pacificada pela 4ª Turma do STJ (Relator Luis Felipe Salomã o) que é abusiva a
prá tica comercial consistente no cancelamento unilateral e automá tico de um dos trechos
da passagem aérea, sob a justificativa de nã o ter o passageiro se apresentado para
embarque no voo antecedente, por afrontar direitos bá sicos do consumidor, tais como a
vedaçã o ao enriquecimento ilícito, a falta de razoabilidade nas sançõ es impostas e, ainda, a
deficiência na informaçã o sobre os produtos e serviços prestados. Vejamos o julgado:
RECURSO ESPECIAL. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC/1973. CONTRATO DE TRANSPORTE AÉREO DE PESSOAS.
TRECHOS DE IDA E VOLTA ADQUIRIDOS CONJUNTAMENTE. NÃO COMPARECIMENTO DO PASSAGEIRO PARA O
TRECHO DE IDA (NO SHOW). CANCELAMENTO DA VIAGEM DE VOLTA. CONDUTA ABUSIVA DA TRANSPORTADORA.
FALTA DE RAZOABILIDADE. OFENSA AO DIREITO DE INFORMAÇÃO. VENDA CASADA CONFIGURADA. INDENIZAÇÃO
POR DANOS MORAIS DEVIDA. 1. Não há falar em ofensa ao art. 535 do CPC/1973, se a matéria em exame foi
devidamente enfrentada pelo Tribunal de origem, que emitiu pronunciamento de forma fundamentada, ainda que
em sentido contrário à pretensão da parte recorrente. 2. É abusiva a prática comercial consistente no
cancelamento unilateral e automático de um dos trechos da passagem aérea, sob a justificativa de não ter o
passageiro se apresentado para embarque no voo antecedente, por afrontar direitos básicos do consumidor, tais
como a vedação ao enriquecimento ilícito, a falta de razoabilidade nas sanções impostas e, ainda, a deficiência
na informação sobre os produtos e serviços prestados. 3. Configura-se o enriquecimento ilícito, no caso, no
momento em que o consumidor, ainda que em contratação única e utilizando-se de tarifa promocional, adquire o
serviço de transporte materializado em dois bilhetes de embarque autônomos e vê-se impedido de fruir um dos
serviços que contratou, o voo de volta. 4. O cancelamento da passagem de volta pela empresa aérea significa a
frustração da utilização de um serviço pelo qual o consumidor pagou, caracterizando, claramente, o cumprimento
adequado do contrato por uma das partes e o inadimplemento desmotivado pela outra, não bastasse o surgimento
de novo dispêndio financeiro ao consumidor, dada a necessidade de retornar a seu local de origem. 5. A ausência
de qualquer destaque ou visibilidade, em contrato de adesão, sobre as cláusulas restritivas dos direitos do
consumidor, configura afronta ao princípio da transparência ( CDC, art. 4º, caput) e, na medida em que a ampla
informação acerca das regras restritivas e sancionatórias impostas ao consumidor é desconsiderada, a cláusula que
prevê o cancelamento antecipado do trecho ainda não utilizado se reveste de caráter abusivo e nulidade, com
fundamento no art. 51, inciso XV, do CDC. 6. Constando-se o condicionamento, para a utilização do serviço, o
pressuposto criado para atender apenas o interesse da fornecedora, no caso, o embarque no trecho de ida,
caracteriza-se a indesejável prática de venda casada. A abusividade reside no condicionamento de manter a
reserva do voo de volta ao embarque do passageiro no voo de ida. 7. Ainda que o valor estabelecido no preço da
passagem tenha sido efetivamente promocional, a empresa aérea não pode, sob tal fundamento, impor a
obrigação de utilização integral do trecho de ida para validar o de volta, pelo simples motivo de que o
consumidor paga para ir e para voltar, e, porque pagou por isso, tem o direito de se valer do todo ou de apenas
parte do contrato, sem que isso, por si só, possa autorizar o seu cancelamento unilateral pela empresa aérea. 8.
Ademais, a falta de razoabilidade da prática questionada se verifica na sucessão de penalidades para uma mesma
falta cometida pelo consumidor. É que o não comparecimento para embarque no primeiro voo acarreta outras
penalidades, que não apenas o abusivo cancelamento do voo subsequente. 9. O equacionamento dos custos e
riscos da fornecedora do serviço de transporte aéreo não legitima a falta de razoabilidade das prestações, tendo
em vista a desigualdade evidente que existe entre as partes desse contrato, anotando-se a existência de diferença
considerável entre o saneamento da empresa e o lucro excessivo, mais uma vez, às custas do consumidor
vulnerável. 10. Constatado o ilícito, é devida a indenização por dano moral, arbitrado a partir das manifestações
sobre a questão pelas instâncias de origem. 11. Recurso especial a que se nega provimento.” (Resp n.º
1.595.731/RO, por unanimidade, Sr. Ministro Relator Luis Felipe Salomão, DJ: 14/11/2017). Grifo nosso.

No mesmo sentido foi o julgado da 3ª Turma do STJ (Ministro Marco Aurélio Bellizze), que
confirma a abusividade da Recorrida nas cobranças das taxas:
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. TRANSPORTE AÉREO DE
PASSAGEIROS. AQUISIÇÃO DE PASSAGENS DO TIPO IDA E VOLTA. CANCELAMENTO AUTOMÁTICO E UNILATERAL DO
TRECHO DE VOLTA, TENDO EM VISTA A NÃO UTILIZAÇÃO DO BILHETE DE IDA (NO SHOW). CONDUTA ABUSIVA DA
TRANSPORTADORA. VIOLAÇÃO DOS ARTS. 51, IV, XI, XV, E § 1º, I, II E III, E 39, I, DO CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR. RESSARCIMENTO DAS DESPESAS EFETUADAS COM A AQUISIÇÃO DAS NOVAS PASSAGENS (DANOS
MATERIAIS). FATOS QUE ULTRAPASSARAM O MERO ABORRECIMENTO COTIDIANO. DANOS MORAIS
CONFIGURADOS. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. A controvérsia instaurada neste feito consiste em saber se
configura conduta abusiva o cancelamento automático e unilateral, por parte da empresa aérea, do trecho de
volta do passageiro que adquiriu as passagens do tipo ida e volta, em razão de não ter utilizado o trecho inicial.
2. Inicialmente, não há qualquer dúvida que a relação jurídica travada entre as partes é nitidamente de consumo,
tendo em vista que o adquirente da passagem amolda-se ao conceito de consumidor, como destinatário final,
enquanto a empresa caracteriza-se como fornecedora do serviço de transporte aéreo de passageiros, nos termos
dos arts. 2º e 3º do Código de Defesa do Consumidor - CDC. Dessa forma, o caso em julgamento deve ser analisado
sob a ótica da legislação consumerista, e não sob um viés eminentemente privado, como feito pelas instâncias
ordinárias. 3. Dentre os diversos mecanismos de proteção ao consumidor estabelecidos pela lei, a fim de equalizar a
relação faticamente desigual em comparação ao fornecedor, destacam-se os arts. 39 e 51 do CDC, que, com base
nos princípios da função social do contrato e da boa-fé objetiva, estabelecem, em rol exemplificativo, as hipóteses,
respectivamente, das chamadas práticas abusivas, vedadas pelo ordenamento jurídico, e das cláusulas abusivas,
consideradas nulas de pleno direito em contratos de consumo, configurando nítida mitigação da força obrigatória
dos contratos (pacta sunt servanda). 4. A previsão de cancelamento unilateral da passagem de volta, em razão
do não comparecimento para embarque no trecho de ida (no show), configura prática rechaçada pelo Código de
Defesa do Consumidor, nos termos dos referidos dispositivos legais, cabendo ao Poder Judiciário o
restabelecimento do necessário equilíbrio contratual. 4.1. Com efeito, obrigar o consumidor a adquirir nova
passagem aérea para efetuar a viagem no mesmo trecho e hora marcados, a despeito de já ter efetuado o
pagamento, configura obrigação abusiva, pois coloca o consumidor em desvantagem exagerada, sendo, ainda,
incompatível com a boa-fé objetiva, que deve reger as relações contratuais ( CDC, art. 51, IV). Ademais, a referida
prática também configura a chamada "venda casada", pois condiciona o fornecimento do serviço de transporte
aéreo do "trecho de volta" à utilização do "trecho de ida" (CDC, art. 39, I). 4.2. Tratando-se de relação
consumerista, a força obrigatória do contrato é mitigada, não podendo o fornecedor de produtos e serviços, a
pretexto de maximização do lucro, adotar prática abusiva ou excessivamente onerosa à parte mais vulnerável na
relação, o consumidor. 5. Tal o quadro delineado, é de rigor a procedência, em parte, dos pedidos formulados na
ação indenizatória a fim de condenar a recorrida ao ressarcimento dos valores gastos com a aquisição da segunda
passagem de volta (danos materiais), bem como ao pagamento de indenização por danos morais, fixados no valor
de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), para cada autor. 6. Recurso especial provido. (STJ, REsp 1.699.780/SP, 3ª Turma -
Relator Ministro Marco Aurélio Bellizze, DJ: 11/09/2018). Grifo nosso.

Ademais, alude o artigo 51, inciso IV, XV, § 1º e inciso III c/c artigo 39, V, ambos do Có digo
de Defesa do Consumidor que as clá usulas contratuais relativas a produtos e serviços que
coloquem o consumidor em desvantagem exagerada e que se demonstra excessivamente
onerosa, incompatíveis com a boa-fé e a equidade sã o nulas de pleno direito.
Portanto, requer a reforma da r. Sentença de 1º grau para que seja retirada a cobrança da
taxa no show, no valor de US$ 400,00 (quatrocentos dó lares), vez tratar-se de venda casada
e conduta abusiva e enriquecimento ilícito da companhia Emirates, conforme
entendimento do STJ.
B) NÃO COMPARECIMENTO NA VIAGEM – IMPOSIÇÃO DE TAXA DE REMISSÃO,
DIFERENÇA DO VALOR NO NOVO BILHETE – CONDUTA LESIVA E ABUSIVA DA
COMPANHIA AÉREA:
A prá tica da Emirates em cobrança de multas contratuais, segundo a Sentença, é
perfeitamente comum e permitida pela legislaçã o específica. Vejamos:
“A cobrança de taxa para remarcação de passagens aéreas é prática comum em todas as companhias aéreas em
todo o mundo, e no Brasil ela é permitida pela legislação específica. A referida taxa pode até mesmo superar o
valor da própria passagem, sobretudo quando remarcada poucos momentos antes do voo, ainda que em
decorrência de emergências familiares, como no caso em tela. A cobrança narrada não constitui prática abusiva,
haja vista que o consumidor tem ciência de que a alteração da data do voo implica novos custos. Ademais, não é
abusiva a cobrança da diferença no valor da passagem, caso exista, quando da sua remarcação, já que as
passagens não têm o mesmo valor, tudo a depender de dia, hora, existência de conexão, bem como valores
promocionais, além da diferença de classes (...)”.

Razã o nã o assiste.
Conforme esclarecido em exordial, devido ao nã o comparecimento na viagem de ida pela
consumidora, ora Recorrente, a Recorrida cobrou ainda taxa de reemissã o do bilhete (ida e
volta) no valor de US$ 200 (duzentos dó lares) e a diferença de valor do novo bilhete
adquirido por parte da consumidora, em dó lar, mantido o prazo de 01 (um) ano.
À luz do Có digo Civil, em caso de cancelamento da passagem aérea, as companhias estã o
autorizadas a cobrar do consumidor, a título de multa compensató ria, a retençã o de no
má ximo 5% (cinco por cento) do preço pago pelo bilhete (art. 740, § 3º).
Assim, a tarifa de remarcaçã o no importe de US$ 200 (duzentos dó lares), correspondente à
R$ 818,88 (oitocentos e dezoito reais e oitenta e oito centavos), valor este que ultrapassa o
limite permitido pelo Có digo Civil a título de multa compensató ria.
Como se nã o bastasse a cobrança ilegal e excessiva das referidas taxas, a Recorrida cumula
o pagamento das tarifas com o pagamento da diferença monetá ria da aquisiçã o de novo
bilhete aéreo dentro do prazo de 01 ano concedido pela companhia.
Ora, obrigar o consumidor a desembolsar pela nova passagem aérea para o mesmo trecho
anteriormente adquirido, o coloca em desvantagem exagerada, posto que nã o tem o poder
de ditar as regras, somente cumpri-las, estando em posiçã o de desvantagem exagerada de
uma obrigaçã o consumerista abusiva aos olhos do direito do consumidor (art. 51, IV, CDC).
Por fim, podemos inferir a ideia do desequilíbrio significativo moral dos doutrinadores
Pilliphe Stoffel-Munk, Philippe Malaurie e Laurent Aynès, nos livros L’abus dans le contrat.
Essai d’une théorie (p.330-332) e Les obligations (p. 368-369):
“A cláusula contratual é abusiva quando seus efeitos resultam em abuso de poder de uma das partes contratantes
(aquela que tem o poder de impor o preço), para obter lucro excessivo, se comportando de forma desleal, violando
a boa-fé. A cláusula abusiva é aquela que causa sempre uma situação de inferioridade jurídica”.

Deste modo, tais prá ticas tarifá rias utilizadas pelas companhias do setor aéreo,
consideradas abusivas, sã o vedadas pelo Có digo do Consumidor e reconhecidas pelo
Supremo Tribunal de Justiça e demais Tribunais de Justiça, vez que causam o sentimento de
inferioridade jurídica, resultante dos abusos de poder da parte que dita o preço (Recorrida)
a ser pago pelo consumidor vulnerá vel. Assim, o comportamento desleal e que viola a boa-
fé, gera o dever da condenaçã o na indenizaçã o por danos materiais e morais ao consumidor
lesado (Recorrente), motivo pelo qual a Sentença deve ser reformada.
C) IMPOSSIBILIDADE DE CANCELAMENTO DA VIAGEM – FALTA DE ASSISTÊNCIA AO
CONSUMIDOR – MÁ PRESTAÇÃO DO SERVIÇO E CARACTERIZAÇÃO DOS DANOS
MORAIS:
No caso em tela, a Recorrida ao retornar para casa, tentou por diversos meios contatar a
Recorrente (central de atendimento, e-mail, aplicativo, guichê do aeroporto) para
promover o cancelamento do voo de ida e volta por motivos emergenciais, mas nã o logrou
êxito. Somente obteve contato com a _________ no dia seguinte, logo pela manhã , ocasiã o que
comunicou o ocorrido, solicitou a reemissã o da passagem para outra data e cancelou o
bilhete da volta (_________).
Aduz ainda que em uma das tentativas, fora atendida por um funcioná rio que nã o falava
português, somente inglês, demonstrando mais uma vez a falta de assistência ao
consumidor que nã o domina uma língua estrangeira.
A partir do momento em que o consumidor realiza a compra da passagem aérea, o
fornecedor assume a responsabilidade de prestar todos os serviços completos, inclusive
com opçã o de cancelamento do bilhete antes do embarque e atendimento ao consumidor
brasileiro por todo o período que proceda embarque e desembarque de passageiros.
Ora, a Recorrida é considerada uma das principais companhias aéreas do mundo, com uma
estrutura que permite sua operaçã o em vá rios países, tem obrigaçã o de disponibilizar
meios de comunicaçã o para com os consumidores 24 horas com atendimento em vá rios
idiomas, o que teria evitado a presente demanda.
Diante da negligência e total descaso da Recorrida para com seus clientes/consumidores
deixando de fornecer meios de comunicaçã o adequados e em constante funcionamento,
seja por qual modalidade for, é evidente a responsabilidade objetiva da fornecedora de
serviço, entendida assim como violaçã o do direito do consumidor, restando caracterizada
de uma vez por todas, a deficiência na prestaçã o de seus serviços.
Reza o artigo 14 do Có digo de Defesa do Consumidor sobre a reparaçã o dos danos causados
aos consumidores pela má prestaçã o do serviço dos fornecedores:
“O fornecedor de serviço responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos
causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre a fruição e riscos”.
Outrossim, na esfera do dano moral, tem que este repercute no sentimento mais íntimo da
Recorrente. Nã o pode se tratar a dor vivenciada pelo desespero de uma emergência
familiar, da expectativa de sua chegada ao hospital para ver seu pai ainda com vida como
mero aborrecimento. Ademais, o tempo desperdiçado para resolver o problema junto a
companhia tem preço e precisa ser indenizado. O dano moral constitui no caso em tela, uma
sançã o civil ao ofensor, ora Recorrida, com finalidade compensató ria e punitiva, diante da
lesã o sofrida pela Recorrente.
Nesse sentido é o entendimento do Tribunal de Justiça de Sã o Paulo, conforme segue:
Ação indenizatória por danos materiais e morais – Alegação de abusividade na política de cancelamento de trechos
subsequentes de itinerário aéreo pelo não comparecimento dos autores - Cobrança de penalidade de "no show" e
diferença tarifária para remarcação – Abusividade - Configuração de venda casada e imposição de vantagem
manifestamente excessiva ao consumidor - Inteligência dos art. 39, I e V e art. 51, IV, do CDC - Precedente do STJ -
Responsabilidade solidária das requeridas - Falha na prestação de serviços caracterizada - Dever de ressarcir os
autores dos valores efetivamente pagos apenas em relação a reserva de hotel não reembolsável, além das
passagens adquiridas e não usufruídas - Recurso dos autores provido em parte e recurso da ré negado.
Danos morais - Transporte aéreo - Cláusula no show - Autores não puderam realizar a viagem em família em razão
da imposição abusiva de política no show e cobrança de multa exorbitante para cancelamento dos trechos
intermediários - Recalcitrância das rés em resolver o problema na esfera administrativa - Aplicação da teoria do
desvio produtivo do consumidor - Danos morais que se comprovam com o próprio fato (damnum in re ipsa) -
Indenização arbitrada em consonância aos princípios da razoabilidade e ponderação - Sentença reformada –
Recurso dos autores provido em parte. Recurso dos autores provido em parte e recurso da ré negado. (Apelação
Cível n.º 1006065-34.2018.8.26.0011, E. Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, Relator
Francisco Giaquinto, DJ: 03/05/2019).

Assim, aguarda a reforma da Sentença para responsabilizar objetivamente a Recorrente,


demonstrada a falha na prestaçã o do serviço e consequentemente, a condenaçã o em danos
morais no importe de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), em razã o do estresse, revolta e
angú stia pela cobrança abusiva das taxas, pela falha no suporte/atendimento ao
consumidor e pelas diversas tentativas em solucionar o problema, pois o tempo
desperdiçado por culpa exclusiva da Recorrida, tem preço.
4. DOS REQUERIMENTOS FINAIS:
Ante o exposto, r. requer a recorrente se digne V. Exas. a dar provimento ao presente
recurso inominado, reformando a r. sentença e, julgando procedente os pedidos iniciais
para reconhecer a prá tica abusiva das tarifas impostas, taxa no show de US$ 400 dó lares,
taxa de reemissã o de novo bilhete (ida e volta) no valor de US$ 200 dó lares e, a cobrança da
diferença de valor na data da aquisiçã o do novo bilhete aéreo para o mesmo trecho, pois
conforme aludido, em razã o do enriquecimento ilícito, maximaçã o de lucro, falta de
razoabilidade e a evidente desvantagem do consumidor frente a Recorrida.
Outrossim, r. requer a condenaçã o da Emirates/Recorrida ao pagamento da indenizaçã o
por danos morais, no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) em razã o do estresse, revolta e
angú stia pela cobrança abusiva das taxas, pela falha no atendimento ao consumidor e pelas
diversas tentativas em solucionar o problema, pois o tempo desperdiçado por culpa
exclusiva da Recorrida, tem preço.
Nestes termos, pede deferimento.
_________ – SP, 25 de setembro de 2019.
ADVOGADO
OAB/ _________
1. Artigos 41, 42 e 12-A. ↑
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Petiçã o Elaborada por Luana Linhalis - Advogada Peticionante - Elaboro Petiçõ es
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