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RESUMO
Realizamos a análise de seis meses das revistas Capricho, Atrevida e Toda Teen. As três
publicações destinam-se ao público adolescente e contribuem para a formação de sua visão de
mundo. O objetivo da pesquisa foi analisar como a temática de gênero e a construção da
identidade feminina são abordadas nessas revistas. Descrevemos o vocabulário léxico
utilizado; temáticas e assuntos abordados; verificamos a relevância social e educativa das
matérias e os estereótipos ligados à formação do feminino. As matérias foram submetidas a
um processo de análise inspirado no conceito de Desenvolvimento Humano, seguindo a
proposta de categorização de conteúdo adotada pela Agência de Notícias dos Direitos da
Infância (Andi). Nos seis meses analisados, as matérias destaque da capa ou matéria principal
abordaram enfaticamente os conteúdos Lazer e Entretenimento, Moda e Beleza e
Comportamento, praticamente ignorando temáticas de relevância social.
Mini-currículo:
Valquíria Michela John
Possui graduação em Jornalismo pela Universidade do Vale do Itajaí (2000) e mestrado em
Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina (2004). É professora titular da
Universidade do Vale do Itajaí nos cursos de Comunicação Social – Jornalismo e Relações
Públicas. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Educação e Comunicação,
atuando como pesquisadora principalmente nos seguintes temas: representações, cobertura
jornalística, gênero, análise do conteúdo e análise do discurso. Atua como pesquisadora do
grupo de pesquisa Monitor de Mídia da Univali.
INTRODUÇÃO
Desde que nascemos, nossa primeira identificação ou identidade está ligada ao sexo:
somos menina ou menino. Conforme ingressamos no mundo social, os papéis que deveremos
desempenhar como meninos e meninas nos vão sendo repassados. Esses papéis constituem o
nosso sexo social ou gênero. O gênero é, portanto, uma construção social, não nasce conosco.
1
Acadêmica do 6º período do curso de Comunicação Social – Jornalismo da Universidade do Vale do Itajaí.
A grande problemática das relações entre homens e mulheres se evidencia quando as
relações e definições de gênero são naturalizadas. Encarar, mesmo que de forma involuntária,
as diferenças entre os sexos como naturais é uma atitude que contribui para perpetuar a
desigualdade de prestígio e condição social entre homens e mulheres. Como afirma Suarez,2
“quando se pensa em termos de naturalização, é como se tivéssemos nascido para fazer coisas
Essa naturalização é muitas vezes reforçada pelas instituições socializadoras pelas quais
passamos, como a família, a escola, a religião e a mídia. Com sua difusão massiva e amplo
para as adolescentes. Como afirma Umberto Eco (1986), todo texto idealiza um leitor-modelo.
podemos perceber qual a leitora idealizada e, portanto, o perfil feminino que essas revistas
estão ajudando a construir. Conforme o autor, aquele que emite a mensagem e aquele que a
recebe o fazem sem eximir-se de suas ideologias, de seus pressupostos. Não há texto ou leitura
totalmente ingênua, por assim dizer. Um texto não é algo solto, perdido no vazio, destinado a
qualquer pessoa que deseja lê-lo. Na verdade, segundo o autor, sempre temos em mente um
2
Suarez apud Andi, 2005, p. 38.
Partindo desse pressuposto, os conteúdos destinados ao público jovem têm uma carga
extremamente importante na formação de suas identidades, não apenas de gênero, mas como
A proposta desta pesquisa foi, justamente, a de fazer uma reflexão sobre as revistas
voltadas para adolescentes, neste caso Capricho, Atrevida e Toda Teen, as duas primeiras as
discursos presentes nessas revistas contribuem para a desmistificação dos papéis de gênero ou,
Existem várias formas de condução ou modelos teóricos possíveis para desenvolver uma
análise de discurso, entretanto, o modelo escolhido para esta análise é o desenvolvido por
Umberto Eco em “Lector in Fabula” (1986). O modelo de Eco tem várias conexões entre os
níveis de cooperação textual, podendo ser usado apenas parte dele, associando-se ou não com
outros modelos de análise. Após considerar estas possibilidades, Silva (1999) realizou um pré-
teste utilizando em alguns textos o modelo completo e reconhecendo que alguns níveis
tornam-se repetitivos, resolveu então simplificá-los, retirando parte dos tópicos do nível das
“extensões” em sua análise. Como esta pesquisa também analisa documentos da imprensa,
opta-se aqui pelo modelo simplificado de Silva, do qual selecionamos apenas os três primeiros
níveis.
totalizando 12 edições3 da revista Capricho, uma vez que é uma publicação quinzenal e seis
edições das revistas Atrevida e Toda Teen, com periodicidade mensal. Devido ao volume de
dados coletados, optamos por discutir aqui apenas o material referente às matérias principais
ou matérias de capa, as quais foram submetidas tanto à análise do conteúdo como do discurso
GÊNERO E MÍDIA
debate modesto, na verdade constitui-se como uma preocupação quase que exclusiva das
3
Na verdade foram analisadas 13 edições da revista Capricho uma vez que no mês de outubro (aniversário da
publicação) foram publicadas três edições.
4
ANDI – mídia para crianças (Relatório 2003 e 2004)
5
Lavinas, 1997
ocupou um papel inferior na organização da sociedade e durante quase toda a história da
humanidade, foi preparada para gerar e criar os filhos e cuidar dos afazeres domésticos.
Somente nos últimos dois séculos, sobretudo no século XX, as mulheres começaram a
conquistar outros espaços até então exclusivos do sexo masculino, como o direito ao voto e o
ainda é, como diferenciador dos papéis a serem desempenhados por homens e mulheres.
Segundo Lavinas (1997) “o sexo social – portanto o gênero – é uma das relações estruturantes
que situa o indivíduo no mundo e determina ao longo de sua vida, oportunidades, escolhas,
enquanto “(...) meninas correspondem ao senso comum dos atributos tipicamente femininos de
adolescentes são socializadas essencialmente por duas instituições – a família e a escola - que
se constituiriam como dois espaços de (re) produção dos papéis sexuais em sua formação
mídia constitui-se como um dos focos principais no estudo dos papéis sociais de homens e
mulheres.
Levando-se em conta que as relações de gênero não são naturais e sim construídas social
6
Lavinas, 1997, p. 16.
7
Lavinas, 1997, p. 25.
ao mundo e quanto às atribuições dos papéis de homens e mulheres. Como afirmam Funck e
Widholzer (2005), “os estudos contemporâneos de gênero e da cultura em geral têm, portanto,
relações sociais naturalizadas pelo senso comum”. Como a história diária é narrada pelos
na mídia impressa.
e C. Nos seis meses analisados, as matérias destaque da capa ou matéria principal abordaram
os seguintes conteúdos:
8
Optamos por listas todas as categorias sugeridas pela Andi para visualisar o baixo índice de matérias
consideradas relevantes nas três publicações.
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Escolha profissional
Desigualdades Sócio-Econômicas - - -
Gênero - - -
Orientação Sexual - - -
Questões Regionais - - -
Política - - -
Eleições e Política em Geral - - -
Políticas Públicas de Juventude - - -
Voto Facultativo do Adolescente - - -
Participação/Protagonismo Juvenil - - -
Informática & Internet - - -
Sexualidade - - -
Projetos Sociais - - -
Drogas - 01 -
Violência - - -
Família - - -
Mídia - - -
Direitos & Justiça - - -
Gravidez - - -
Aids & DST - - -
Meio Ambiente - - -
Lazer & Entretenimento* 02 0510 04
Moda & Beleza* - 03 -
Comportamento* 0411 01 02
* Considerados pela Andi como não relevantes.
Pressupomos, a partir da inserção das temáticas nas edições analisadas, que matérias
sobre saúde, drogas, sexualidade, não fazem parte do interesse e das expectativas das
adolescentes que lêem as revistas. Mesmo que isso fosse verdade, o jornalismo tem a
vivemos. A partir dessas temáticas podemos vislumbrar também quais os supostos interesses
das adolescentes: lazer e entretenimento, ou seja, alguém pouco preocupada com os outros,
10
Muitas delas ligadas à entrevista com algum ídolo.
11
Destas, duas destacavam comportamento ligado a algum ídolo (ator, cantor, etc).
Do modelo aplicado a todas as 24 matérias analisadas, destacamos três aspectos para a
compreensão de qual a identidade adolescente foi retratada. Optamos por destacar o dicionário
identitária propriamente dita da leitora das três publicações, ao menos no plano da idealização
uma diversificação maior de expressões, daí o quadro destacar apenas três palavras com mais
de uma inserção. É preciso levar em conta também que da revista Capricho foram analisadas o
dobro de edições. Como se vê, os principais termos estão diretamente ligados aos conteúdos
12
São vários os termos mais significativos de cada matéria, mas optamos por destacar aqui apenas aqueles que
apareceram em mais de uma matéria.
light; Risonha; Look; Patuá; Descolada; Imperfeição; Modelo; Modelo ideal;
Tipo; Tímida; Do Maquiagem; Chato; Legal; Imagem real; Realidade; Padrão;
contra; Sou-a- Vitoriosa; Amarrada; Feitiço; Bonitas; Feias; Maconheiro; Bob
dona-do-mundo; Delícia; Comum; Especial; Marley; Comuns; Sexy; Gueto;
Normal; Popular; Bonitas/tos; Atraentes; Marmanjos; Musa; Gostosa; Fama;
Obrigação; Descontraídas; Bela; Bobos; Machista; Equilíbrio; Normal;
Perfeita; Verdade; Gentis; Educados; Bem- Comum; Modelo; “Grupo religioso
Tímida; Inveja. humorados; Valem a pena; radical”; Ciência; Defeitos;
Humor; Charme; Visual; Superioridade; Sentimentos
Sintonia; Agradável; Bacana; estranhos; Felizes; Ricos; Pobres;
Beleza; Sorriso; Bom humor; Natural; Sorriso meio amarelo; CDF;
Inteligência; Brilhar; “Chamar Pegava; Lindo; Ator; Modelo;
atenção”; Cobiçados. Estereotipado; Velha; Malícia.
As palavras bom-humor, modelo, charme, normal, comum, tímida e bonita foram as
sempre como uma característica necessária para uma garota conquistar o “gato”.
“exemplo”, como “modelo ideal”: “O problema: parece que estamos elegendo no primeiro
turno só um modelo ideal: liso, comprido e claro. Que monotonia...” (CAPRICHO, edição
1003). Porém, ao mesmo tempo em que faz essa advertência, a revista estampa na capa e na
matéria duas modelos loiras de olhos claros (o modelo ideal?). Mostra fotos de várias leitoras
que se consideram bonitas e as que se consideram feias. Dessa forma, a revista reforça o
“Charme” é uma palavra comum nos textos da revista TodaTeen, utilizada como uma
forma de atrair o “fofo”. Somente com charme a garota pode conquistar o “príncipe
encantado”.
A timidez é vista nas matérias como um fator negativo para se atrair um garoto ou para
ter amigos, uma minoria, como se repete em várias edições, principalmente na Atrevida, “Se é
do time que sempre espera que a convidem para entrar na roda, mude o jogo. Procure estar
perto da menina mais risonha do grupo. Esse tipo de garota costuma ter a maior boa vontade
A palavra “comum” se repete três vezes na revista Capricho só na edição 1003 “Você
se acha feia?”, que ao falar sobre as modelos, diz que elas são comuns; duas vezes a palavra é
usada para desmistificar que modelos são superiores às garotas “comuns”, como o exemplo
retirado desta edição: “Mas talvez isso tenha a ver com o fato de elas serem meninas comuns,
como eu e você – se você reparar bem nas fotos, vai perceber uma imperfeição ali, outra aqui.”
Uma única vez nesta matéria a palavra é usada para indicar uma ação “comum”, que se repete:
“Cuidado: diminuir os outros é um método eficiente e popular para se sentir melhor. Por isso é
comum que num grupo de amigas sobre veneno. Com bom senso, dá para distinguir o que
considerar e o que ignorar”. Desta forma, afirma como algo “comum” ter falsas amigas num
ciclo de amizade, podendo causar desconfiança, uma dúvida no teor da amizade que possui.
momento que é utilizada como uma característica necessária ou como um valor de conquista:
“É claro que a beleza conta bastante (por isso é importante cuidar do visual), mas, depois de
chamar a atenção pelo rostinho bonito ou o jeito de se vestir, o que vai unir os corações de
Com base nas hipercodificações ideológicas e nas frames que as explicam (entre
aspas), podemos então descrever a identidade feminina das leitoras das três publicações.
românticas que buscam incansavelmente conquistar o “fofo”, seja nas férias ou na escola.
Fazem de tudo para chamar a atenção do “gatinho” e ser a “queridinha da turma”. Estão
atentas ao signo do “gato” para saber como conquistá-lo, assim como estão dispostas a usar de
“magia” para “enfeitiçar” o garoto. A legítima “gata borralheira” em busca do príncipe
encantado. Aqui fica claro o perfil da leitora da TodaTeen: “A fábula da Cinderela deixa isso
bem claro: foi uma garota bem arrumada e cheia de charme que ganhou o coração do príncipe.
Se ela continuasse como a gata borralheira, escondida dentro de casa, despenteada e mal
vestida, provavelmente, o príncipe não enxergaria a pobrezinha. Parece cruel, mas pense bem:
toda garota tem o seu charme, mas a beleza fica oculta quando ela não se arruma e,
principalmente, quando nem põe a carinha para fora de casa” (edição 131).
conseguirem arranjar um namorado, ter mais amigos, ou entrevistas com artistas. As matérias
sugerem às leitoras modos de agir, ações a serem feitas para conquistar o “gato”, ou serem
aceitas pelas amigas ou pelos garotos. Este trecho, retirado da edição de janeiro de 2007, da
TodaTeen reflete bem isso: “Mas, para chamar atenção de um gato fofo como esse, não basta
estar presente nos locais interessantes. É preciso ainda estar bem ligada e saber separar o joio
do trigo, quer dizer, aqueles meninos bobos, que não têm nada a ver, daqueles que merecem
sua atenção. Como saber? Garotos que valem a pena costumam ser gentis e educados, o que
não quer dizer que não possam ser bem-humorados (aliás, o bom humor traz certo charme.
Já a leitora da Capricho é a “moderninha”, a garota “sou mais eu”. Aquela que está por
revista) que possui iPod, celular e Orkut. Uma menina “antenada” no mundo “fashion” e nas
“tendências da moda” e dos “makes”. Preocupa-se em estar sempre bonita e atraente e manter
o corpo saudável. Nessa revista, o uso de gírias e expressões é mais comum, assim como o uso
discurso voltado para a mulher, neste caso adolescente, que faz de tudo para conquistar o
principalmente nas revistas TodaTeen e Atrevia, não está no fato de adolescentes buscarem ter
um namorado, e sim da generalização de que todas as garotas nessa faixa etária têm como
maior necessidade conseguir um. Podemos usar como exemplo a frame retirada da edição 149
da Atrevida: “Por que funciona: qualquer menino, seja ele tímido, galinha ou esportista, adora
competição. E, se você falar com jeitinho, ele vai achar o programa mais atraente ainda”. Os
três “gêneros” expostos aqui são estereótipos de meninos, os quais são generalizados pela
revista por suas características evidentes (para a revista). A matéria dá dicas de como a garota
deve abordar um rapaz, sendo que cada dica diz para que tipo de rapaz ela funciona.
grupo, como se as pessoas que formam esse grupo fossem homogêneas ou iguais. Muitas
vezes essas características são passadas de forma pejorativa, por exemplo, na edição número
1008 da Capricho, que ao dizer que o ator Reynaldo Gianechini era “CDF” tenta justificar que
estereótipo de que todo CDF “senta na frente” e é “chato”, ao contrário da turma do fundão,
que é a “galera da bagunça”. “Fácil foram os tempos de colégio, quando ele era CDF, mas
desses que tiram nota boa e sentam no fundão e que, apesar das espinhas no rosto, e do pacote
clássico de problemas da adolescência, pegava várias meninas, sim”. Meninos CDF, portanto,
conseguissem conquistar o gato. As “tímidas” têm que se esforçar para mostrar simpatia e
serem mais comunicativas. A diferença das características de cada garota exemplificada nas
matérias é muitas vezes de forma negativa. Os garotos, que a revista trata como alvo para suas
leitoras, gostam ou se atraem somente por um perfil de garotas reforçando o que diz Tomaz
Tadeu da Silva que “a diferença pode ser construída negativamente – por meio da exclusão ou
É criada uma disputa indireta entre mulheres, como se todas buscassem o mesmo
“macho”. Alguns textos dizem que a garota deve chamar a atenção do rapaz pelo seu “visu”,
seu “charme” e por ser “diferente” das suas amigas. Como mostra a matéria “Paquera na
escola” da edição número 135 da TodaTeen: “Agora, se você realmente deseja brilhar e
chamar a atenção dos garotos mais cobiçados, é muito importante que se destaque entre as
Considerando que foram analisadas mais edições da revista Capricho, por ela ser
quinzenal, a variedade de matérias é maior do que as outras revistas analisadas. Esta abordou,
além de entrevistas, temas como anorexia, drogas e profissões, o que abriu mais o leque de
informação da revista.
que aproximam a leitora. Como a própria Editora Alto Astral afirma “suas leitoras são ativas,
ligadas em tudo que acontece e tratam a todateen como uma amiga”. O que torna um vínculo
de confiabilidade entre a “amiga TodaTeen e a leitora”. Por isso o cuidado com as temáticas e
13
Silva, 2000, p. 50.
Verbos no imperativo e interrogações são comuns nos textos, por exemplo: “Se você
quer ser uma amigona de verdade e ajudar qualquer um que a procure, apenas ouça. Não
critique, não condene e tente, a todo custo, ser positiva. Quem precisa desabafar é a outra
pessoa e sua obrigação é apenas ouvi-la. Deixe suas opiniões para momentos menos tensos.
Deve-se observar que as leitoras das três revistas possuem a mesma faixa etária. A
adolescência já é uma fase em que surgem muitas dúvidas, assim como as inseguranças. Os
textos podem influenciar as garotas a terem atitudes sem analisá-las, sem ao menos
concordarem com a ação, ou ainda as deixarem mais inseguras. Por exemplo, na edição 134 da
TodaTeen: “É claro que a beleza conta bastante (por isso é importante cuidar do visual), mas,
depois de chamar a atenção pelo rostinho bonito ou o jeito de se vestir, o que vai unir os
corações de duas pessoas é uma certa sintonia de idéias”. Nem todas as meninas consideram
ter o rosto bonito, ou consideram ter um “visu bacana”. A partir do momento que a revista diz
que beleza é importante, como podem se sentir aquelas garotas que não se consideram
bonitas? Além do que, beleza é uma qualidade, que assim como todas as outras, depende de
um ponto de vista. A problemática aqui é que, ao mesmo tempo em que a revista fala de
beleza estampa nas fotos e nas capas das revistas garotas com o modelo padrão de beleza:
Outro exemplo que pode ser destacado é da edição 1003 da revista Capricho: “Se você
não tem paciência para tanta metodologia, acredite em mim: sim, beleza importa. Há algum
tempo, essa era só uma intuição. Mas depois de meses sentados em mesinhas da padaria, de
câmeras escondidas em consultórios médicos (outro lugar onde as bonitas são melhor tratadas
que as feias) e de entrevistas com todo tipo de gente, os cientistas provaram coisas tão exatas
quanto: as bonitas têm salários até 5% maiores que as feias, com o mesmo cargo”.
Embora não tenha sido foco de análise a questão da diversidade étnica, um aspecto
Apenas uma capa, na revista Atrevida, edição de setembro de 2006. A adolescente está na
capa porque ganhou um concurso realizado pela revista e a marca Nescau: “Promoção Nescau:
Esta não foi uma pesquisa fechada que considera encerrada a problemática do discurso
para adolescentes do sexo feminino. Deixamos aqui o desejo de que novas pesquisas sobre o
assunto sejam realizadas e a necessidade de ser feita uma pesquisa de recepção, para
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Petrópolis: Vozes, 2000.