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EXMO. SR. DR.

JUIZ DE DIREITO DA __ª VARA DE FALÊNCIAS


E RECUPERAÇÕES JUDICIAIS DO FORO DE BARUERI DA
COMARCA DE SÃO PAULO/SP

AUTOS Nº ........

Sandro Marcos Ferdinando, empresário individual,, inscrita no CNPJ sob o


n.º ....., com sede na Rua ....., n.º ....., Bairro ......, Cidade ....., Estado ....., CEP .... .,
representada neste ato por seu (sua) sócio(a) gerente Sr. (a). ....., brasileiro (a),
(estado civil), profissional da área de ....., portador (a) do CIRG nº ..... e do CPF n.º
....., por intermédio de seu advogado infra-assinado (procuração em anexo – fls.
XX), com escritório profissional sito à Rua XXX, nº. XX, sala XXX, Bairro,
Cidade, CEP: XXX, onde recebe notificações e intimações, vem mui
respeitosamente à presença de Vsa Excelência com fulcro nos arts. 536 e
1.228 do C.C. c/c art. 85 Lei de Falências - Lei 11.101/05, propor a presente:

AÇÃO DE RESTITUIÇÃO NA FALÊNCIA


em face de

empresa em processo de falência, a saber, ........, inscrita no CNPJ sob o n.º .....,
com sede na Rua ....., n.º ....., Bairro ......, Cidade ....., Estado ....., CEP .....,
representada por seu administrador Gabriel Reginaldo Pelágio, brasileiro (a), (estado
civil), profissional da área de ....., portador (a) do CIRG n.º ..... e do CPF n.º .....,
residente e domiciliado (a) na Rua ....., n.º ....., Bairro ....., Cidade ....., Estado .....,
pelos motivos de fato e de direito a seguir aduzidos.

DOS FATOS
O peticionário, no exercício de suas funções no ramo de negócios de veículos usados
no mercado automotivo da sua região, firmou contrato de consignação (em anexo
docs XX.) para a empresa do falido, cedendo 18 automóveis de propriedade do
peticionário, o que por determinação do art. 87 da Nova Lei de Falências - Lei
11.101/05 faz-se seguir a descrição das coisas arrecadadas: (XX, XXX, X.........),
devidamente comprovados por meio dos DUT’s ( doc. em anexo fls XX.), contrato
este representado pelo contrato estimatório (doc. em anexo fls XX.)

Sucede que, após a entrega dos veículos, mantendo-os expostos para venda no Auto
Shopping Bela Parada aonde o falido operava seus negócios como empresário
individual revendendo veículos usados de diversas fontes, inclusive os 18 automóveis
do peticionário, ocorrendo que no mês de maio de 2022, numa operação da Polícia
Civil, amplamente repercutida na imprensa, conduziu à prisão de uma série de
envolvidos num esquema de receptação de autopeças no Auto Shopping Bela Parada,
culminando na prisão do falido, fatos que, sem qualquer conhecimento do
peticionário, ensejaram na apreensão dos bens no Auto Shopping Bela Parada, bem
como relacionados entre os bens do falido, quando na verdade são de propriedade do
peticionário.

Ora Excelência, é sabido que o Contrato de Arredamento Mercantil ("Leasing"), não


transfere a propriedade do bem arrendado, tendo a Arrendatária tão somente a
faculdade de optar pela aquisição do mesmo, quando do seu termo final.

A Requerente é a proprietária do bem mencionado, tendo simplesmente arrendado à


Requerida, ademais, seria no mínimo injusto que bem de propriedade da Requerente
fosse englobado no patrimônio da Massa Falida, devendo ser restituído à primeira,
pois que:

A Requerida permanece preventivamente preso, o que cabalmente faz com que os


termos do Contrato Estimatório firmado com a Requerente, o qual, por força do
pedido de falência, foi rescindido, gerando obrigação de devolução imediatamente
dos bens objeto do mesmo, sob pena de caracterização de esbulho

Analisando os autos, percebe-se que o peticionário não é credor do falido de maneira


a figurar no quadro-geral de credores, tampouco já ficou mais do que comprovado
que o peticionário agia legalmente, sempre mantendo seus negócios nos liames da
licitude, não tendo nenhuma relação com os negócios escusos praticados pelo falido,
até porque se desconfiasse não manteria negócios com o mesmo, cedendo 18 de seus
veículos de comercialização em consignação em local de procedência tão obscura.

Destarte, cumpre ressaltar que o falido apenas mantinha a posse da coisa, porém o
detentor da propriedade sempre foi, e continua sendo.

Entretanto, tendo sido decretada a Falência do Requerido, outra medida não restou ao
Requerente que não a propositura do presente Pedido de Restituição de Mercadoria.
DO DIREITO
Colorário do direito de propriedade o denominado direito de sequestro é o direito de
reaver coisa própria de quem injustamente a possua ou detenha, assim como
determina o Código Civil em seu art. 1228, o qual descreve:

Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito
de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.

Historicamente o conceito de posse a ser abordado aqui surgiu em Roma quando da


República (de 510 a. C. À 27 a. C.), período clássico do Direito. Tempo em que
regras de equidade passaram a ter importante relevância quando da
operacionalização do direito e período no qual os jurisconsultos romanos passaram
a reconhecer a posse como fato distinto à propriedade.

Nessa banda, afirma Sílvio de Salvo Venosa, quando defere posse de detenção,
esculpindo seu conceito partindo de Jhering:

Em princípio, toda a situação material envolvendo o titular à coisa é posse, salvo se


o ordenamento a excluí, quando então se considerará a situação como de mera
detenção. Por conseguinte, pode ser concluído existir na detenção o corpus, mas não
o animus. Ou seja, o próprio ordenamento concede o balizamento ao julgador para,
no caso concreto concluir que o detentor tem a coisa sem a intenção de exercer
poder material sobre ela.

É nesse contexto é a visão econômica da posse e da propriedade e pertinente em se


tratando de empresas, unidades de produção capitalizadas em economia de mercado,
pois os bens que as guarnecem, aqueles essenciais à sua atividade-fim ou ainda
aqueles destinados a servir de matéria prima ou mesmo à mercantilização no
estabelecimento da empresa - que está prestes a pleitear recuperação judicial ou está
prestes a ter sua quebra decretada ligado a posse, não são necessariamente de sua
propriedade, e sim deles detém a posse – essa, por sua vez, também passível de
tutela. E esse conceito se dá graças ao estudo anteriormente citado às assertivas e
conclusões de Marx e Weber.

A posse é fato e como fato revela a amplitude da sociabilidade humana, que escapa
a sistematicidade do direito. Tem razão Pontes de Miranda quando, ao reconhecer a
natureza da posse como fato, afirma que a posse que ocorre no mundo fático deve
ser vista a partir do mundo jurídico como fato e não como direito. A posse é poder
fático que materializa a apropriação direta da coisa, embora seja a relação entre
pessoas e não entre pessoas e coisas. A apropriação que caracteriza a posse ocorre
independentemente de qualquer mediação jurídica. A posse assegura a satisfação
imediata das necessidades da pessoa humana. (...) O ato da posse é essencialmente
finalístico.

A princípio a autonomia entre posse e propriedade só se deu quando da


identificação por Saleilles de um elemento econômico ligado a posse: o fato da
posse preservaria o valor de uso sobre determinado bem enquanto a propriedade,
para o direito, tem como preponderante o valor de troca regulado pelo mercado.

A mais antiga e eficaz forma de se classificar, conceituar e localizar a propriedade


no mundo jurídico é proveniente do direito romano com a divisão da res
mancipi e res nec mancipi. Tal divisão advém da realidade agrícola de roma antiga,
quando a propriedade poderia ser dividida entre aquela com a função familiar e de
sustento, a terra, portanto res mancipi e bens mercantilizáveis, res nec mancipi, tais
como produtos extraídos da terra, semoventes e etc, cuja propriedade transferia-se
quando da simples tradição. Foi a ius civile romana que passou a disciplinar a
propriedade quiritária onde é seria o ato solene da mancipatio que a transferiria.

Sobre o direito quiritário assim entende Francisco Cardozo Oliveira:

O direito quiritário assegurava a propriedade exclusiva ao quirite, cidadão romano,


com capacidade eleitoral e jurídicas reconhecidas em função da estirpe familiar. O
proprietário detinha poder absoluto da coisa objeto da propriedade porque ao
exercer o direito de propriedade, estava protegido pelo princípio nemo damnum
facit, nisi qui id facit, quod facere ius non habet (não se causa dano no exercício do
direito). Apesar das variantes que a noção de propriedade assumiu durante a história
romana, consolidou-se no direito o conceito quiritário de propriedade absoluta e
exclusiva. (...) A propriedade quiritária era tutelada através da rei vindicatio que
permitia a recuperação da posse do bem pelo proprietário.

Portanto a ação para reivindicar a coisa em poder de outrem surgiu ainda da ius
civile romana. A equação jurídica é simples: O proprietário que se vir apartado de
sua res, de forma alheia a sua vontade, poderá invocar pela rei vindicatio o direito
de reaver a posse dessa com quem quer que seja que essa se encontre.

Concluímos, portanto, que a propriedade, tal como figura no art. 1.228 do Código
Civil, descreve a total senhoria e domínio sobre a coisa, podendo isso ser
imposto erga omnes, cujas limitações são todas descritas por força de lei, obedecida
a função social. Contudo, como visto, não enseja a posse e nem dela necessita para
se constituir.

Nesse sentido, o art. 536 do Código Civil disciplina:

“A coisa consignada não pode ser objeto de penhora ou seqüestro pelos credores do
consignatário, enquanto não pago integralmente o preço.”
Caso haja de fato uma pretensão resistida à do autor o feito comporta dilação
probatória, desenvolvendo-se assim de acordo com o Artigo 87 e parágrafos com a
aplicação subsidiária do Código de Processo Civil, dada pelo art. 189 da LRE: “Art.
189. Aplica-se a Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil,
no que couber, aos procedimentos previstos nesta Lei.”

Dessa forma a Audiência de Instrução e Julgamento, prevista na lei, servirá tão-


somente para que seja comprovada a propriedade do autor sobre a coisa reclamada
ou quaisquer das hipóteses legais que podem ensejar a restituição do bem. Devendo
essa ser designada pelo juiz caso esse não entenda pelo julgamento antecipado
da lide (caso a prova da propriedade não seja exclusivamente documental).

Portanto, da sentença que reconhece o direito real e sua violação pode-se extrair a
autorização para a recuperação da coisa no próprio processo em curso, vez que
entende-se dispensável execução autônoma para a entrega da coisa. Nesses termos,
até mesmo pelo atual regime jurídico, podemos dizer que – independentemente do
título ser fundado em um relação real ou obrigacional – a entrega de coisa, no caso
a restituição, sempre será ação executiva latu sensu e, secundariamente,
mandamental.

Nessa mesma toada, prontificou-se o legislador de criar instrumento processual


como ação autônoma para que aquele que na eminência de ter seus bens
indevidamente alienados pela massa falida exercitar o seu direito de ação com o
PEDIDO DE RESTITUIÇÃO para que sejam devolvidos segundo art. 88 da Nova
Lei de Falências - Lei 11.101/05 em até 48 horas, sem a necessidade de figurar em
concurso de credores, criando via direta para a restituição do bem por força do art.
85 e seguintes da Nova Lei de Falências - Lei 11.101/05 - dispõe que:

Art. 85. "O proprietário de bem arrecadado no processo de falência ou que se


encontre em poder do devedor na data da decretação da falência poderá pedir sua
restituição".
Parágrafo único. Também pode ser pedida a restituição de coisa vendida à crédito e
entregue ao devedor nos 15 dias anteriores ao requerimento de sua falência, se ainda
não alienada".

Como se depreende da legislação transcrita, cabe a RESTITUIÇÃO dos 18


automóveis de propriedade do Requerente, cedidos em consignação ao Requerido, o
que conforme orienta o art. 92 da Nova Lei de Falências - Lei 11.101/05 o
Requerente se prontifica a ressarcir todos as despesas decorrentes da manutenção da
coisa, desde que, devidamente comprovadas pelo Administrador Judicial. É de se
ressaltar ainda, que os veículos se encontram alocados sob a posse do proprietário
do Auto Shopping Bela Parada, mesmo que indevidamente, entendendo este que
não lhe cabe autorizar a remoção dos bens sem o reconhecimento deste douto juízo
da posse injusta ou o consentimento Requerido revendedor que segue preso, o que
não se vê outra maneira senão com este pedido de restituição e obtendo acesso para
reaver seus bens.

DOS PEDIDOS
EX POSITIS, é a presente para REQUERER se digne Vossa Excelência, a acolher
julgando procedente o presente PEDIDO de RESTITUIÇÃO dos 18 automóveis
listados (conforme docs. Fls. XX) de propriedade do Requerente, determinando-se a
devolução dos bens arrecadados em poder da Massa Falida, conforme prazo legal
de 48 horas determinado pelo art. 88 da Nova Lei de Falências - Lei 11.101/05.

a) Sem prejuízo do exposto, caso entenda pela procedência parcial ou


improcedência total da presente demanda, que seja reconhecida aos
termos do art. 89 da Nova Lei de Falências - Lei 11.101/05 a
habilitação do Requerente no quadro-geral de credores da Massa
Falida;
b) Determinar conforme art. 91 da Nova Lei de Falências - Lei
11.101/05 a SUSPENSÃO DE DISPONIBILIDADE DA COISA
com o PEDIDO DE RESTITUIÇÃO;
c) Requer que sejam intimados o r. legal da Requerida e o Síndico da
Massa Falida, conforme ditames do art. 87, § 1º da Nova Lei de
Falências - Lei 11.101/05, afim de que prestem informações ou
então pareceres relativos à questão hora suscitada no prazo legal,
bem como seja concedido aos interessados prazo para apresentação
da contestação.

Dá-se à causa o valor de R$ .....

Termos em que,

Pede-se Deferimento.
ESTADO, DATA, ANO

______________________________________________________
ADVOGADO

OAB/UF
Nº XXXXXXXX

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