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[MODELO] Contestação em

Ação Civil Pública por


Loteamento Irregular
EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA
VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DA CAPITAL – SC 

 Autos n…

REQUERIDO, já qualificado nos autos em epígrafe movidos por Ministério


Público de Santa Catarina, vem, por seu advogado, à honrada presença de
Vossa Excelência, com fundamento no art. 335 e seguintes do Código de
Processo Civil, apresentar CONTESTAÇÃO pelas razões de fato e de direito
que passa a expor.  

Leia mais

 A Responsabilidade do Poluidor Ambiental


 TJSC mantém suspensão de licenças de loteamentos em Itajaí
 Responsabilidade da pessoa jurídica por dano ambiental
 Atraso na entrega de imóvel na planta pela construtora
 Proprietário de casas em área de preservação permanente em
Mondaí (SC) não pode construir novas edificações

1. DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA PROPOSTA

O Ministério Público do Estado de Santa Catarina, após instauração de


inquérito civil para apurar irregularidades de suposto loteamento clandestino
nas proximidades da da Rodovia SC – 403, no Bairro Ingleses em
Florianópolis, ajuizou Tutela Cautelar em Caráter Antecedente em face
de (1) Município de Florianópolis, (2) Fundação Municipal do Meio Ambiente de
Florianópolis – FLORAM, (3) outros…, requerendo o deferimento de decisão
judicial que tivesse o condão de impedir ações que viabilizassem a instalação
do referido loteamento, bem como a continuidade de construções totalmente
irregulares naquele local.

Alegou que a partir de documentos angariados no Inquérito Civil (IC) n… e


outros apreendidos durante operação realizada pela Polícia Militar Ambiental
(PMA) no local do suposto loteamento, identificou-se a comercialização de
frações de terra, detectando-se toda a rede de negociação formada pelos réus
particulares, tecendo considerações e juntando aos autos os referidos
documentos, inclusive, um Contrato de Compra e Venda de Terreno à Vista em
que figuram como Vendedor, o Requerido…, e como Comprador….

 Ao final, postulou em relação ao Requerido…, a fixação de obrigação de não


fazer no sentido de estar impedido de praticar quaisquer atos jurídicos que
envolvam a área objeto da presente ação sob pena de multa de R$ 500.000,00
por cada unidade, e ainda, visando a reparação do dano, requereu o bloqueio
ou indisponibilidade dos bens móveis, imóveis e ativos financeiros, no valor de
R$ 23.500.000,00, sendo tais pedidos deferidos parcialmente por este Juízo
em sede liminar.

2. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Em que pese o brilhantismo da decisão proferida por Vossa Excelência em fls.


2189-2225, que atendeu parcialmente aos pleitos deduzidos na Ação Civil
Pública, cumpre mencionar a interposição de Agravo de Instrumento com
Pedido de Efeito Suspensivo autuado sob o n…, ante o perigo de dano
irreparável e probabilidade do direito, em razão da flagrante ilegitimidade
passiva do Requerido…, o que será incontestavelmente demonstrado a seguir.

3. PRELIMINARES

3.1. ILEGITIMIDADE PASSIVA

A petição inicial merece preliminarmente ser indeferida em relação ao


Requerido…, ante sua ilegitimidade passiva, tendo em vista que não causou
qualquer dano ao meio ambiente e sequer participa ou participou do suposto
loteamento.

É que não há nos autos, qualquer expressão ou prova de que o Requerido


tenha concorrido para o suposto loteamento. Ao contrário, há nos autos prova
inequívoca (fl. 1162-1163) de que o Requerido já não era mais o dono da área
quando da primeira fiscalização da PMA em 30.05.2018, conforme relatório da
própria PMA juntado às fls. 400-463, que originou o IC…, que aliás, também
não possui qualquer referência ao Requerido, tão pouco no IC… (referência da
ACP).

O Requerido por sua vez, realizou um negócio jurídico válido: a venda de uma
área aos fundos do suposto loteamento para o Sr…, o qual reconheceu a PMA
ser o legítimo proprietário da área, a exemplo das fls. 443, 448, 450, 456, 461 e
493.

Outrossim, durante toda a narrativa inicial, o Requerido apenas é citado na fl.


1474, como mero “lindeiro” do imóvel do Sr…, sem qualquer outra referência
durante toda a exordial ou qualquer outro documento juntado. Nem mesmo é
qualificado no preâmbulo da ação, e inexplicavelmente é tido como Requerido
ao final.
Até mesmo Vossa Excelência, ao perceber a ausência de qualificação,
determinou a intimação do Ministério Público para que à providenciasse (fl.
2335), restando cumprida suscintamente na fl. 2377.

Com a devida vênia Excelência, até o momento da venda em meados de 2017,


o imóvel estava preservado. Se houve cometimento de infração, decerto que
foi a posteriori da venda, como faz prova as próprias imagens colacionadas à
exordial pelo Requerente (Figura 891, 993 e 994), restando o Requerido parte
ilegítima para responder à presente ação.

Ademais, não consta o nome do Requerido em nenhum auto de infração,


investigação (IC) ou até mesmo nos relatórios da PMA. Resta cristalino que o
Requerido não causou qualquer dano ao meio ambiente e muito menos fez
parte do aludido.

Nesse diapasão, o art. 3º, IV da Lei 6.938/81[1] aponta que o poluidor, poderá


ser a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta
ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental, instituindo
assim, o princípio do poluidor-pagador, que define de quem é a
responsabilidade por reparar os danos causados ao meio ambiente (art. 14, §
1º da Lei 6.938/81[2]), in casu, é o poluidor obrigado, independentemente da
existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio
ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade.

Ocorre que o Requerido não é e nem nunca foi o poluidor, pois à época da
constatação dos fatos, já não era mais o dono do terreno, e por isso, não pode
responder pelos danos causados por terceiros ou pelo novo proprietário
após a alienação de um bem que um dia foi seu. Assim, não cabe ao
Requerido responder pela presente ação, devendo ser declarado parte
ilegítima para figurar no presente feito, nos termos do art. 330, II, 337, XI e 485,
VI, todos do CPC/2015.

3.2. INÉPCIA DA INICIAL

Não obstante a ilegitimidade passiva do Requerido, cumpre ressaltar antes de


discutir o mérito, que a petição inicial é inepta e nesse ponto, também merece
ser indeferida, nos termos do art. 330 do CPC, in verbis:

Art. 330.  A petição inicial será indeferida quando:

I – for inepta;

[…]

III – o autor carecer de interesse processual;

1º Considera-se inepta a petição inicial quando:

I – lhe faltar pedido ou causa de pedir;


II – o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais em que se
permite o pedido genérico;

III – da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão;

IV – contiver pedidos incompatíveis entre si.

No caso em tela, a exposição dos fatos não traz em momento nenhum, quais
são os supostos danos ou então, qual foi a conduta praticada pelo Requerido
no suposto loteamento. Como dito, seu nome aparece uma única vez em toda
a inicial, apenas como “lindeiro” do imóvel de Sr…, sem ao menos estabelecer
sua relação com os demais envolvidos.

Não há qualquer prova ou fato que associe direta ou indiretamente o Requerido


ao alegado e demais requeridos, furtando-se da causa de pedir, elemento este
essencial da petição inicial, e que deveria constituir os fatos que deram origem
a lide, juntamente com os fundamentos jurídicos que demostrassem a violação
do direito, justificando a pretensão perante o juízo quanto ao Requerido.

Por derradeiro, não há fatos que fundamentem os pedidos declinados na inicial,


principalmente nos itens 24.3 e 24.4, em relação ao Requerido, portanto,
requer a extinção do feito sem julgamento de mérito, quer por inépcia, quer
pela falta de interesse.

4. MÉRITO

4.1. AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE DO REQUERIDO

É cediço que além de objetiva, a responsabilidade pela reparação de


danos ambientais adere à propriedade como obrigação propter rem. Tal
fato, todavia, não atrai a responsabilidade solidária nem subsidiária do
vendedor por infração cometida pelo novo proprietário após a alienação
do imóvel.

Pois bem. Como dito, o Requerido não faz e nem nunca fez parte do aludido
loteamento, tão pouco se beneficiou com sua implantação ou se beneficiará.
Ademais, nunca cometeu nenhuma infração ambiental ou constou como
causador de dano ambiental a fim de ser compelido a reparar um dano que não
dera causa.

A Constituição Federal de 1988 em seu art. 225, § 3º, é específica quanto a


responsabilização do infrator por dano ambiental:

Art. 225. […]

3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão


os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
Note que a Constituição é enfática: “sujeitarão os infratores”. Acontece que o
Requerido não é o infrator, aliás, nem dono da área, nem comprador de lotes,
tão pouco concorreu para o ensejo da narrativa. 

Nesse sentido, a responsabilidade no caso em tela é prevista nos artigos 3º, IV


e 14, § 1º da Lei nº 6.938 /81, e determinam quem é o poluidor e a quem cabe
a reparação por danos causados ao meio ambiente, in verbis:

Art. 3º – Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:

[…]

IV – poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado,


responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação
ambiental;

Art. 14 – Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal,


estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à
preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela
degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores:

[…]

1º – Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o


poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou
reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua
atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para
propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio
ambiente.

Ocorre que o Requerido não se enquadra em nenhum termo da disposição


legal supra. Ademais, vendeu um terreno em meados de 2016 do qual era
possuidor, e a partir daí, cessou totalmente sua responsabilidade sobre o
imóvel, passando esta a ser do novo proprietário. Fato incontroverso é o
contrato de compra e venda juntado às fls. 162-163.

Em que pese a responsabilidade por dano ambiental ser objetiva, solidária


e propter rem, faz-se imprescindível, para a configuração do dever de reparar o
meio ambiente, a demonstração da existência de nexo de causalidade apto a
vincular o resultado lesivo efetivamente verificado ao comportamento daquele a
quem se repute a condição de agente causador.

In casu, não há na exordial, nem em qualquer outra folha dos autos, prova
qualquer de que o Requerido corroborou para o episódio. Pelo contrário, há
nos autos, prova cabal que à época dos fatos já não era mais o possuidor
da área.

Em caso análogo, julgado recentemente pelo Tribunal Regional Federal da 3ª


Região que discutia a responsabilidade ambiental dos proprietários, que após a
alienação do imóvel foram citados em ação civil pública para responder por
danos causados pela nova proprietária adquirente, assim ficou decidido:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. DIREITO AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL


PÚBLICA. DANO AMBIENTAL. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE
(APP). ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM DOS ANTIGOS
PROPRIETÁRIOS. ALIENAÇÃO COMPROVADA. REFORMA DA
EDIFICAÇÃO. DEMOLIÇÃO. INDENIZAÇÃO.

1.
1. A ação foi inicialmente proposta em face de Demivaldo dos
Santos e Maria Aparecida Clarindo dos Santos sendo que, após a
concessão da liminar em 03/04/2012, o MPF peticionou juntando
documentação comprovando que Priscila Ribeiro dos Santos,
atual ocupante do lote realizou nova construção no local,
impedindo e dificultando a regeneração natural da vegetação
nativa do imóvel.
2. Em face da notícia da alienação do lote à Priscila Ribeiro dos
Santos e Luciano Olímpio da Silva, o MPF aditou à inicial para a
inclusão destes no polo passivo da ação, o que foi deferido,
sendo os novos réus devidamente citados em 25/06/2014,
quedando-se inertes, com decreto de revelia.
3. Foi juntado o contrato de compra e venda do imóvel em
questão firmado entre Maria Aparecida Clarindo dos Santos e
Luciano Olímpio da Silva, em 08/08/2012 (f. 166), comprovando
que à época da citação dos réus Demivaldo dos Santos e
Maria Aparecida Clarindo dos Santos, em 2014, os mesmos já
não residiam no imóvel não possuindo, portanto,
legitimidade passiva ad causam, uma vez que a obrigação de
reparar o dano ambiental é propter rem, transmitindo-se ao atual
proprietário ou possuidor do imóvel, motivo pelo qual a presente
ação em relação à Demivaldo dos Santos e Maria Aparecida
Clarindo dos Santos, merecer ser extinta sem exame do mérito,
nos termos do art. 485, VI, CPC/2015, sem condenação em
honorários advocatícios.
4. […]
5. Provimento da apelação de Demivaldo dos Santos e Maria
Aparecida Clarindo dos Santos. Provimento parcial da apelação
do Ministério Público Federal, da apelação da União e da
remessa oficial, tida por submetida.

(TRF 3ª Região, TERCEIRA TURMA, AC – APELAÇÃO CÍVEL – 2195415 –


0001988-14.2012.4.03.6112, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL CARLOS
MUTA, julgado em 19/04/2017, e-DJF3 Judicial 1 DATA: 03/05/2017)

A jurisprudência pátria é pacífica em reconhecer que a responsabilidade civil


pela reparação dos danos ambientais adere à propriedade, como
obrigação propter rem, sendo possível cobrar também do atual proprietário
condutas derivadas de danos provocados pelos proprietários antigos. MAS
NÃO O CONTRÁRIO!
Excelência, não pode o antigo proprietário vendedor de imóvel, ser
responsabilizado após a alienação do bem, por eventuais danos ao meio
ambiente cometidos unicamente pelo comprador e atual proprietário, ainda
mais quando esse reconhece perante a autoridade fiscalizadora ser o legítimo
proprietário da área, e que a adquiriu com intuito de vê-la valorizar.

4.2. DA ERRÔNEA IDENTIFICAÇÃO DO REQUERIDO

O Requerente alega na exordial, especificamente na fl. 11, item 1.2 Da


identificação dos loteadores clandestinos, que durante fiscalização da Polícia
Militar Ambiental no local, em fevereiro de 2018, foram apreendidos em posse
do Sr…, diversos documentos e contratos originais que possuem por objeto a
negociação daquela área. Dentre os referidos documentos, estava o contrato
de compra e venda de terreno à vista, em que figuram como Vendedor o
Requerido, e como Comprador, o Sr….

Tal documento fez presumir que o Requerido tinha participação no loteamento,


mas ao contrário dos demais documentos apreendidos na ocasião, o contrato
firmado com o Sr…. é diferente, e transfere a posse integral do imóvel.

Note Excelência, que trata-se de contrato de compra e venda de um terreno


nas proximidades do suposto loteamento, e não dos lotes propriamente ditos
tão pouco de permuta, portanto, não há que se falar que o Requerido
“continuava na tentativa de implementar o loteamento”, porque nunca sequer
tentou.

O referido contrato (em anexo), contêm a assinatura do Comprador e do


Vendedor com firma reconhecida, e dispõe expressamente que a posse será
transferida imediatamente ao comprador no ato de sua assinatura, e ainda, que
o terreno negociado não tinha viabilidade para construção.  

É fato que o Requerido foi erroneamente identificado como sendo um dos


responsáveis pela implantação do suposto loteamento (quando nunca foi),
quando da simples apreensão de documento em posse de terceiro cuja
natureza é diversa dos demais.

Portanto, a exordial resta lacunosa e desguarnecida quando não identifica nem


o Requerido, nem a conduta que supostamente praticou, e muito menos
evidencia os danos por ele causados. Sendo assim, por óbvio, não possui
responsabilidade solidária nem subsidiária por possível infração cometida pelo
novo proprietário, razão pela qual os pedidos deduzidos em face do Requerido
merecem ser julgados improcedentes.

4.3. REQUERIDO QUE NÃO EXERCE POSSE SOBRE O IMÓVEL


– impossibilidade de cumprir a obrigação

Cumpre reiterar que o Requerido não é mais o possuidor da área desde 2017,
quando a vendeu para o Sr…, conforme faz prova o contrato de compra e
venda de terreno à vista, datado de antes mesmo da PMA constatar supostas
irregularidade no local.

Todavia, consta na exordial pedido no sentido para que o Requerido se


abstenha de praticar qualquer ato relativo ao imóvel sob pena de multa no valor
de R$ 500.000,00 por cada unidade. Mas como dito, desde meados de 2017,
aquele já não pratica mais qualquer ato em relação ao imóvel.

Ainda que Vossa Excelência ao apreciar o pedido liminarmente tenha fixado a


multa em R$ 1.000.000,00 para cada unidade eventualmente transacionada, o
valor é excessivamente desproporcional.

O Requerente não comprovou, aliás, sequer imputou, durante a narrativa


inaugural, qualquer ato que o Requerido tenha praticado em relação ao imóvel.
É estranho, no entanto, a juntada de um contrato de compra e venda (fls. 1962-
1963), que prova a tradição da coisa, e ao final da inicial, pedido diverso com
sua inclusão no polo passivo, sem qualquer narrativa logica a conclusão.

O Requerido não tem qualquer ingerência sobre a área onde está inserido o
suposto loteamento, vez que já transferiu naquela ocasião todos os direitos de
posse ao comprador, e portanto, é parte ilegítima para responder à ação civil
pública em tela, restando impugnado pedido de obrigação de não fazer e o
valor excessivo da multa.

4.4. DO SUPOSTO DANO CAUSADO AO MEIO AMBIENTE

Alega ainda o Requerente, que o suposto loteamento causou danos ao meio


ambiente, ferindo, em um apanhado geral, o art. 225 da Constituição Federal.

Pois bem. Como dito, o Requerido vendeu uma área na localidade, e conforme
depreende-se da figura 3 (fl. 46), em meados de 2016, quando da venda, não
havia qualquer alteração na área em que estava inserido o imóvel objeto do
contrato de compra e venda realizado com o Sr…

Assim, em relação ao Requerido, não há que se falar que seja este o causador
do dano ao meio ambiente. Até porque, o Requerente, além de sequer
mencionar o Requerido na exordial, deixa de tipificar sua conduta, não
podendo este ser responsabilizado, portanto, pela conduta do adquirente e
atual proprietário do imóvel.

Ademais, resta prejudicado o direito à ampla defesa e contraditório porquanto


não se sabe exatamente, qual a conduta atribuída ao Requerido, qual o dano
que ele causou ao meio ambiente, nem ao menos se sabe o porquê de sua
inclusão no polo passivo.

Por fim, há de se ressaltar que inexistem infrações ambientais em nome do


Requerido, tão pouco investigação para apurar o cometimento delas.

5. DA LIMINAR PRETENDIDA
Conforme demonstrado nos itens anteriores, o Requerido não é mais o
possuidor da área desde meados de 2017, não existindo qualquer prova nos
autos de que continuasse na tentativa da implementação do suposto
loteamento como aludido. Ao contrário, há robusta prova de que vendeu a
área, razão pela qual, não restou comprovado pelo Requerente o periculum in
mora e o fumus boni iuris para embasar o deferimento da liminar em relação ao
Requerido.

Excelência, conforme exposto acima, o Requerido não foi o idealizador do


suposto loteamento e causador de eventuais danos ao meio ambiente que dali
podem ter ocorrido. Portanto, resta impugnada a medida liminar pleiteada,
requerendo desde logo, sua revogação.

6. DESCABIMENTO DO PEDIDO DE BLOQUEIO E


INDISPONIBILIDADE DE BENS

O Requerente pediu ainda, o bloqueio ou indisponibilidade dos bens móveis,


imóveis e ativos financeiros do Requerido, de desarrazoado montante de R$
23.500.000,00 (três milhões e setecentos mil reais), visando a assegurar a
reparação dos danos causados ao meio ambiente e à coletividade.

Todavia, o Requerente não indicou, sequer de modo estimativo, o valor para


recuperação ambiental da área, a fim de se perquirir acerca de sua
proporcionalidade em relação ao pedido de bloqueio de bens.

Não há nos autos o menor indício de risco de ineficácia do provimento final ou


receio de dano a justificar medidas tão extremas em relação ao Requerido.

De outro lado, o próprio valor dado a causa – para justificar o pedido de


bloqueio de valores – não guarda coerência com as causas de pedir e pedidos
formulados nesta ação, de modo que não pode ser considerado como
parâmetro para a medida liminar de bloqueio de valores em conta.

Como observa-se em fls. 1962-1963 que trata do já mencionado contrato de


compra e venda, o Requerido recebeu pela área, à época, R$ 6.450.000,00.

Portanto, resta a medida descabível e impugnada, até mesmo porque, como


fartamente demonstrado, o Requerido não guarda qualquer relação com o
imóvel, ora vendido ao Sr…

7. REQUERIMENTO

Ex positis, requer se digne Vossa Excelência a receber a presente, a qual


impugna todos os pontos da exordial, e, após regular tramitação, acolher as
alegações ora apresentadas, no sentido de:

1. revogar a liminar deferida, pela inexistência de periculum in


mora e fumus boni iuris em relação ao Requerido;
2. acolher as preliminares de inépcia da inicial e ilegitimidade passiva[3], e
neste ponto, atendendo o disposto do art. 339[4] do CPC, informa que o
atual proprietário da área em que incide parte do objeto da causa, é o
Sr…, já qualificado nos autos epigrafados;
3. extinguir o processo sem resolução de mérito, julgando totalmente
improcedentes todos os pedidos formulados na inicial em relação ao
Requerido;
4. na remota hipótese destas pretensões não serem acolhidas (o que não
se espera diante da flagrante ilegitimidade da parte) requer seja, que
eventual condenação de reparar o meio ambiente seja na forma de
compensação ambiental, sem aplicação de qualquer montante
pecuniário;
5. a concessão dos benefícios da assistência judiciária gratuita, com
fundamento no art. 5º, LXXIV da CF/88 e art. 98 e 99, caput, do CPC;
6. por fim, a produção de todos os meios de prova em direito admitidos;
7. que as intimações e notificações destinadas ao Requerido sejam todas
feitas em nome do advogado subscritor.

Pede deferimento.

Florianópolis/SC, 18 de maio de 2019.

Advogado

[1] Art 3º – Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:

IV – poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado,


responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação
ambiental;

[2] Art. 14 – Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal,


estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à
preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela
degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores: […]

1º Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor


obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os
danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O
Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação
de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.

[3] Art. 337.  Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar:

IV – inépcia da petição inicial

XI – ausência de legitimidade ou de interesse processual;


[4] Art. 339.  Quando alegar sua ilegitimidade, incumbe ao réu indicar o sujeito
passivo da relação jurídica discutida sempre que tiver conhecimento, sob pena
de arcar com as despesas processuais e de indenizar o autor pelos prejuízos
decorrentes da falta de indicação.

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