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PROJUDI - Recurso: 0029688-56.2018.8.16.0001/1 - Ref. mov. 26.

1 - Assinado digitalmente por Antonio Franco Ferreira da Costa Neto:7355302698


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29/11/2022: JUNTADA DE ACÓRDÃO. Arq: Acórdão (Juiz Subst. 2ºGrau Antonio Franco Ferreira da Costa Neto - 5ª Câmara Cível)

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ
5ª CÂMARA CÍVEL

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APELAÇÃO CÍVEL Nº 0029688-56.2018.8.16.0001 AP 1, DA 4ª VARA CÍVEL DO
FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA

APELANTE 01: ESCRITÓRIO CENTRAL DE ARRECADACAO E DISTRIBUICAO -


ECAD

APELANTE 02: DANIEL GRASSI SEVERINO E OUTROS

APELADOS: OS MESMOS

RELATOR: JUIZ SUBSTITUTO EM 2° GRAU, ANTONIO FRANCO FERREIRA DA


COSTA NETO (EM REGIME DE SUBSTITUIÇÃO COM O DESEMBARGADOR
RAMON DE MEDEIROS NOGUEIRA).

APELAÇÕES CÍVEIS – AÇÃO DE CUMPRIMENTO DE PRECEITO LEGAL


CUMULADO COM PERDAS E DANOS – SENTENÇA DE PARCIAL
PROCEDÊNCIA – INSURGÊNCIA DE AMBAS AS PARTES.

APELAÇÃO 01 – INTERPOSTA PELO REQUERENTE – POSSIBILIDADE DE


INCLUSÃO DAS PARCELAS VINCENDAS NA CONDENAÇÃO – INTELIGÊNCIA
DO ART. 323 DO CPC – PRECEDENTES – RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.

APELAÇÃO 02 – INTERPOSTA PELOS REQUERIDOS – PRELIMINAR –


LEGITIMIDADE PASSIVA DOS SÓCIOS RECONHECIDA – RESPONSABILIDADE
SOLIDÁRIA DECORRENTE DE EXPRESSA PREVISÃO DO ARTIGO 110 DA LEI
Nº 9.610/1998 – NULIDADE POR AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO AFASTADA
– MERA CONTRARIEDADE AOS INTERESSES DA PARTE – MOTIVAÇÃO
SUFICIENTE E DIRECIONADA AO CASO CONCRETO PRESTAÇÃO
JURISDICIONAL CONFERIDA DE MANEIRA ADEQUADA – NULIDADE POR
CERCEAMENTO DE DEFESA IGUALMENTE AFASTADA – PROVAS
SUFICIENTES CONSTANTES DOS AUTOS PARA O JULGAMENTO DO CASO –
JUIZ DESTINATÁRIO DA PROVA – REGRA PROCESSUAL DEVIDAMENTE
OBSERVADA – MÉRITO – CONSTITUIÇÃO EM MORA – PEDIDO DE
COBRANÇA QUE DECORRE DA UTILIZAÇÃO DE MÚSICAS EM
ESTABELECIMENTO COMERCIAL, SEM A DEVIDA AUTORIZAÇÃO PRÉVIA E
CONTRAPRESTAÇÃO, SENDO PRESCINDÍVEL A INTERPELAÇÃO JUDICIAL –
OBRIGAÇÃO DE NÃO EXECUTAR OBRAS MUSICAIS – IMPOSIÇÃO DE MULTA
DIÁRIA POR EVENTUAL DESCUMPRIMENTO – DESNECESSIDADE DE PROVA
DE FILIAÇÃO OU AUTORIZAÇÃO DOS AUTORES NACIONAIS E
ESTRANGEIROS – RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO.
PROJUDI - Recurso: 0029688-56.2018.8.16.0001/1 - Ref. mov. 26.1 - Assinado digitalmente por Antonio Franco Ferreira da Costa Neto:7355302698
7
29/11/2022: JUNTADA DE ACÓRDÃO. Arq: Acórdão (Juiz Subst. 2ºGrau Antonio Franco Ferreira da Costa Neto - 5ª Câmara Cível)

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Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 0029688-
56.2018.8.16.0001 Ap 1, da 4ª Vara Cível do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba,
em que figuram como apelantes, e reciprocamente apelados, Daniel Grassi Severino e outros.

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1. Relatório

Trata-se de Apelação Cível interposta contra a sentença de mov. 304.1, proferida nos
autos de “Ação de Cumprimento de Preceito Legal c/ Pedido Liminar c/c Perdas e Danos” n° 0029688-
56.2018.8.16.0001, que julgou parcialmente procedente o pedido inicial, para o fim de:

a) DETERMINAR que as pessoas jurídicas rés e as pessoas dos réus se abstenham de realizar
qualquer execução ou retransmissão de obras musicais, lítero-musicais e fonogramas, sem a prévia
autorização do ECAD, sob pena de multa de R$ 1.000,00 (mil reais), por cada ato praticado, limitada
a R$ 30.000,00 (trinta mil reais), de modo a confirmar a decisão inibitória deferida mediante tutela
antecipatória (mov. 15.1); e

b) CONDENAR as pessoas jurídicas rés e as pessoas dos réus, de modo solidário, a pagarem para
a pessoa jurídica autora, a título de direitos autorais correspondentes ao período de novembro/2015
a novembro/2018, a importância de R$ 15.415,81 (quinze mil, quatrocentos e quinze reais e oitenta
e um centavos), devidamente atualizada em sua expressão monetária pelo índice de variação do
INPC e com a incidência de juros de mora no percentual de 1% (um por cento) ao mês, ambos a
partir da data dos cálculos (21/11/2018 - mov. 1.45).

Quanto à cobrança de multa no percentual de 10% sobre o valor devido, JULGO IMPROCEDENTE
o pedido formulado com a petição inicial.

Diante da sucumbência, condenou as rés, pessoas físicas e jurídicas, solidariamente


ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, os quais fixados em 15% (quinze por
cento) sobre o valor da condenação.

Em face da sentença foram opostos embargos de declaração ao mov. 312.1 por


Xaxim Point Comércio de Alimentos LTDA e outros, o qual foi conhecido e rejeitado, e no mov. 313.1 os
embargos opostos pelo ECAD, foram conhecidos e parcialmente acolhido no tocante a omissão do
pagamento das parcelas vincendas (mov. 322.1), passando a constar a seguinte redação:

c) CONDENAR as pessoas jurídicas rés e as pessoas dos réus, de modo solidário, a pagarem para
a pessoa jurídica autora, a título de direitos autorais, as parcelas vincendas e inadimplidas,
enquanto durar a obrigação (art. 323, CPC), até o trânsito em julgado, que deverão ser devidamente
atualizadas em sua expressão monetária pelo índice de variação do INPC e com a incidência de
juros de mora no percentual de 1% (um por cento) ao mês, a partir da data dos respectivos
vencimentos, bem como com a incidência de multa no percentual de 2% (art. 1.336, §1º, do CPC).

Ainda, contra decisão de mov. 322.1 foram opostos embargos de declaração (mov.
325.1), os quais, contudo, foram rejeitados (mov. 342.1).

Em suas razões recursais (mov. 345.1), o Escritório Central de Arrecadação e


Distribuição ECAD, aduziu, em síntese, que:
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a) além do pagamento quanto ao direito autoral, se faz necessário que a parte
adversa arque com os valores concernentes às parcelas vincendas durante o curso da demanda, até a
efetiva quitação;

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b) a condenação não pode ser limitada ao trânsito em julgado, mas sim enquanto
durar a obrigação, pois “enquanto não houver o cumprimento da obrigação pelos apelados, com o
recolhimento do direito autoral devido, bem como, ou mesmo com a comprovada interrupção da utilização de
obras musicais, serão devidas as parcelas vincendas”; e

c) o caso se amolda ao que prevê o art. 323 do Código de Processo Civil.

Por fim, pleiteou pela reforma da sentença, com o provimento das razões recursais.

Os apelados apresentaram contrarrazões (mov. 353.1), arguindo que:

a) o ECAD possui pretensão de receber valores que não vão ser liquidados no curso
da presente ação, querem o efeito pro futurum; e

b) o pagamento de valores futuros, dependem de novas provas, não havendo no que


embasar sua pretensão.

Pleiteou pelo não provimento da apelação, e a majoração dos honorários


sucumbenciais.

Por sua vez, no mov. 348.1, Xaxim Point Comércio de Alimentos LTDA e outros
alegou, preliminarmente:

a) o cerceamento da defesa, pois não houve abertura de prazo para apresentar


manifestação aos documentos produzidos pelo ECAD de forma unilateral, configurando um prejuízo
presumido e ofensa ao princípio da não-surpresa;

b) que a impessoalidade na gestão da prova judicial permite a rejeição do uso dos


meios de provas indicados pelas partes;

c) a prova pericial tem grande peso em litígios que dependem de uma manifestação
técnica especializada, por isso é um dever judicial produzi-las;

d) é vedado o comportamento contraditório para manter a segurança jurídica,


evitando decisões conflitantes em casos iguais; e

e) entende pela nulidade da decisão proferida nos aclaratórios, diante da ausência de


fundamentação.

No mérito, sustentou:

a) a ilegitimidade passiva dos sócios, já que ignorou a divisão de patrimônio entre


sócio e empresa;

b) a imprecisão dos cálculos do suposto crédito cobrado pelo ECAD, sem natureza
contratual que configurando a mora ex persona;
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c) por ser o ECAD uma entidade particular, seus atos não se revestem de presunção
de veracidade e seus funcionários não são agentes públicos;

d) por ser um ente desprovido de fé pública, precisa demonstrar a veracidade das


informações que juntou aos autos, além de demonstrar a liquidez dos valores;

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e) não possui poder de polícia, portanto, seus fiscais não podem invadir festividades
particulares para atestarem quais músicas estão em execução;

f) o ECAD não exerce poder regulamentar, sendo assim, não tem competência para
fixar os valores das obras musicais, pode apenas fazer a arrecadação e distribuição de direitos;

g) não possui legitimidade para cobrar créditos de músicos estrangeiros e nem


autorização para remessa de divisas para o exterior;

h) segundo o Decreto Federal n° 8.469/15 é preciso conferir transparência aos


critérios de fixação de preços, cobranças dos usuários e repasse de valores para artistas, o que não
acontece;

i) é uma associação privada, não lhe sendo dada nenhuma prerrogativa de cobrança
unilateral;

j) com o advento da Lei n° 12.853/13, o ECAD foi retirado da atividade de cobrança;

k) faz-se necessária a adequação dos ônus sucumbenciais, de forma proporcional e


obedecendo o mínimo legal, o qual deixou de ser observado anteriormente.

Do exposto, pugnou pelo provimento do recurso, a fim de retomar o andamento


processual, proferindo nova decisão saneadora e abertura da fase instrutória.

No mov. 352.1, o ECAD apresentou contrarrazões, asseverando, sucintamente:

a) a preliminar de cerceamento da defesa não merece prosperar, já que restou


amplamente comprovado nos autos o uso das obras musicais por parte da ora requerente;

b) é legítima a inclusão de pessoa física ou jurídica em eventual ação indenizatória,


pois a solidariedade resulta da lei;

c) entende que a mora ex persona não possui fundamento e o fato de ser entidade
particular não possui pertinência;

d) mesmo não tendo prerrogativas estatais, pelo princípio da legalidade, possui


permissão para dispor sobre questão não vedada expressamente por lei;

e) ao tratar sobre o não exercício de poder de polícia e poder regulamentar, trata de


matérias impertinentes ao caso;

f) o poder sancionatório pertence ao autor que é representado pelo ECAD, o qual


integraliza todas as associações de direitos autorais;
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g) os valores fixados para as obras musicais competem ao ECAD, por se tratar de
direito do autor, esses estabelecidos conforme critérios eleitos internamente; e

h) no tocante a ausência de legitimidade para cobrar créditos de músicos

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estrangeiros, esses são protegidos pelo artigo 2° da Lei n° 9.610/98.

Por fim, requereu o não conhecimento do recurso, em razão da existência de


inovação recursal e, no mérito, pelo não provimento do recurso.

É o relatório.

2. Fundamentação

Admissibilidade

Observo que os recursos foram interpostos por partes legítimas para recorrer (art. 996
do CPC) e mostram-se adequados em relação à decisão contra a qual se voltam (art. 1.009 do CPC), além
de úteis à obtenção dos resultados pretendidos.

Ainda, são tempestivos (artigo 1.003, § 5º, do CPC) e os respectivos preparos foram
recolhidos (mov. 345.2 e mov. 348.12).

No que concerne à legitimidade, nos termos do art. 110 da Lei nº 9.610/98 (Lei de
Direitos Autorais), os sócios respondem solidariamente pela prática ilícita consistente na violação de direitos
autorais, in verbis:

Art. 110. Pela violação de direitos autorais nos espetáculos e audições públicas, realizados nos
locais ou estabelecimentos a que alude o art. 68, seus proprietários, diretores, gerentes,
empresários e arrendatários respondem solidariamente com os organizadores dos espetáculos.

A propósito, é como esta Corte de Justiça já julgou em casos análogos:

APELAÇÃO CÍVEL – DIREITOS AUTORAIS – COBRANÇA – ECAD – RESPONSABILIDADE


SOLIDÁRIA DOS SÓCIOS – PREVISÃO LEGAL – ARTº 110 DA LEI Nº 9610/1998 –
LEGITIMIDADE PASSIVA DO DIRETOR DA EMPRESA – (...) – APELAÇÃO 2 – PROVIMENTO
PARCIAL.” (TJPR - 7ª C.Cível - 0036557-50.2015.8.16.0030 - Foz do Iguaçu - Rel.: Juiz Sérgio Luiz
Patitucci - J. 20.04.2020); e

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE CUMPRIMENTO DE PRECEITO LEGAL C/C PERDAS E DANOS.


ARRECADAÇÃO DE DIREITOS AUTORAIS. DISPONIBILIZAÇÃO DE APARELHOS DE
TELEVISÃO NA RECEPÇÃO E EM QUARTOS DE HOTEL. SENTENÇA QUE RECONHECEU A
ILEGITIMIDADE PASSIVA DOS SÓCIOS E JULGOU IMPROCEDENTES OS PEDIDOS INICIAIS.
APELO DO AUTOR. PRELIMINAR DE LEGITIMIDADE DOS SÓCIOS. ACOLHIMENTO.
PREVISÃO LEGAL. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DOS SÓCIOS PREVISTA NO ART. 110
DA LEI Nº 9.610/98. (...). RECURSO DE APELAÇÃO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.
(TJPR - 5ª C.Cível - 0036409-29.2015.8.16.0001 - Curitiba - Rel.: DESEMBARGADOR LUIZ
MATEUS DE LIMA - J. 10.08.2020).
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Desse modo, também não há que se falar em ilegitimidade passiva dos sócios para
compor o polo passivo da ação.

No mais, as apelações atendem às exigências legais, não apresentando nenhum fato

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impeditivo ou extintivo que impeça o processamento, porquanto conheço dos recursos.

Mérito

Das nulidades

A pretensão deduzida nas razões recursais consiste, de início, no reconhecimento de


nulidade da sentença por ausência de fundamentação e cerceamento defesa.

Pois bem. Acerca do primeiro ponto (ausência de fundamentação), as decisões


judiciais deverão ser obrigatoriamente fundamentadas, sob pena de serem consideradas nulas (art. 93,
inciso IX, da CF).

Com efeito, o Código de Processo Civil prevê os requisitos de validade a serem


observados e, quando não, ensejar mencionado vício.

O cerne da controvérsia se consubstancia nas hipóteses elencadas pelo § 1º, incisos


III e IV, do art. 489 do Código de Processo Civil, in verbis:

Art. 489. São elementos essenciais da sentença: (...)

§ 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou
acórdão, que:(...)

III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;

IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar
a conclusão adotada pelo julgador;(...)

Não obstante a imperiosa necessidade de que os desígnios deduzidos pelo apelante


sejam examinados, é de se ponderar também em relação ao preceito da mera contrariedade aos interesses
da parte, conforme entendimento exarado pela Corte Suprema:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. MOTIVAÇÃO DAS DECISÕES


JUDICIAIS. FUNDAMENTAÇÃO SUFICIENTE. TEMA 339/STF. CERCEAMENTO DE DEFESA.
AMPLA DEFESA E CONTRADITÓRIO. REPERCUSSÃO GERAL REJEITADA. TEMA 660/STF. 1.
O STF reconheceu a existência de repercussão geral com relação ao art. 93, inciso IX, da
Constituição Federal, ressalvando, contudo, que a fundamentação exigida pelo texto
constitucional é aquela revestida de coerência, explicitando suficientemente as razões de
convencimento do julgador, ainda que incorreta ou mesmo não pormenorizada, pois decisão
contrária ao interesse da parte não configura violação do indigitado normativo. (AgRg no RE
nos EDcl nos EDcl no AgRg nos EREsp 1533480/RR, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, CORTE
ESPECIAL, julgado em 29/11/2017, DJe 12/12/2017).
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No caso, observo que o magistrado singular, na contramão da intenção dos apelantes
02, delineou fundamentadamente os motivos de seu convencimento.

A pretensão reside no reconhecimento da ausência de fundamentação em face da


decisão que analisou os embargos de declaração ora opostos (mov. 322.1), a qual conta devidamente com

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a fundamentação que demonstra o propósito de rediscussão da matéria,

Necessário ponderar que a via eleita dos aclaratórios é restrita aos vícios expostos
pelo art. 1.022 do CPC, o que não restou identificado na hipótese.

Assim, não vislumbro o alegado vício, afastando-se, portanto, a nulidade invocada,


eis que a decisão foi devidamente fundamentada, em obediência aos ditames do diploma processual civil
(art. 11).

Doutro giro, no que concerne ao segundo ponto aventado (cerceamento de defesa),


a intenção dos apelantes 02 se consubstancia na anulação da sentença, ante a carência da fase de
instrução probatória. E, para tanto, discordam do método de apuração dos valores considerados como
devidos, além de aventarem sobre irregularidades formais na constituição dos autos de infração.

Todavia, pelo detido cotejo do feito, observo que os requeridos participaram


ativamente de todas as fases processuais, não havendo que se falar em cerceamento de defesa.

Mesmo porque, o magistrado é o destinatário da prova e, nesse sentido, lhe incumbe


decidir acerca daquelas desnecessárias ao deslinde do feito, deferindo aquelas pertinentes para formação
do convencimento. Em casos análogos, é como decidiu esta Corte de Justiça:

APELAÇÃO 01. AÇÃO DE CUMPRIMENTO DE PRECEITO LEGAL – CONTRIBUIÇÃO POR USO


DE OBRAS FONOGRÁFICAS – ECAD – SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA
INSURGÊNCIA DAS RÉS – PRELIMINARES DE CERCEAMENTO DE DEFESA E ILEGITIMIDADE
PASSIVA – INOCORRÊNCIA – PARTICIPAÇÃO EFETIVA DA LIDE E DESNECESSIDADE DE
PROVA PERICIAL – LEGITIMIDADE DAS SÓCIAS DA RÁDIO AO POLO PASSIVO –
CONTRIBUIÇÃO AO ECAD CHANCELADA POR LEI – APELO CONHECIDO E DESPROVIDO.
APELAÇÃO 02. AÇÃO DE CUMPRIMENTO DE PRECEITO LEGAL – CONTRIBUIÇÃO POR USO
DE OBRAS FONOGRÁFICAS – ECAD – SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA
INSURGÊNCIA DO AUTOR ECAD – PRETENSÃO DE MAJORAÇÃO DO VALOR DA
CONDENAÇÃO – ALEGAÇÃO DE APRECIAÇÃO EQUIVOCADA DA PROVA DOCUMENTAL –
INOCORRÊNCIA – REQUERIDAS QUE LOGRARAM ÊXITO EM COMPROVAR O PAGAMENTO
DE CONTRIBUIÇÃO DOS MESES DE AGOSTO, SETEMBRO, NOVEMBRO E DEZEMBRO DE
2012 – VALORES QUE DEVEM SER DEDUZIDOS DO IMPORTE DESCRITO NA EXORDIAL,
CONFORME CONSIGNADO NA SENTENÇA – APELO CONHECIDO E DESPROVIDO
HONORÁRIOS RECURSAIS. INCIDÊNCIA DO ART. 85, §11 DO NCPC EM DESFAVOR DAS RÉS,
MANTENDO-SE O CRITÉRIO ELEITO NA SENTENÇA. (TJPR - 7ª C.Cível - 0005462-
60.2013.8.16.0001 - Curitiba - Rel.: DESEMBARGADORA JOECI MACHADO CAMARGO - J.
13.07.2020); e

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE CUMPRIMENTO DE PRECEITO LEGAL COM PEDIDO DE LIMINAR


C/C PERDAS E DANOS. SENTENÇA QUE JULGOU PROCEDENTES OS PEDIDOS DA PARTE
AUTORA. RECURSO DA PARTE RÉ. CERCEAMENTO DE DEFESA E NULIDADE DA
SENTENÇA. INOCORRÊNCIA. JUIZ É O DESTINÁRIO DA PROVA. INTELIGÊNCIA DO ART. 370
DO CPC. PRESCRIÇÃO. ANÁLISE PREJUDICADA. ECAD. ENTIDADE PRIVADA DESPROVIDA
DE PODER DE POLÍCIA. TERMO DE VERIFICAÇÃO. AUSÊNCIA DE FÉ-PÚBLICA. DOCUMENTO
PARTICULAR QUE DEVE CONTER A ASSINATURA DO INFRATOR E DE DUAS
TESTEMUNHAS. INTELIGÊNCIA DO ART. 368 DO CPC. FOTOS ACOSTADAS PELO ECAD NÃO
SÃO HÁBEIS A COMPROVAR A REPRODUÇÃO MUSICAL. PROVA INSUFICIENTE. RECURSO
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DE APELAÇÃO CONHECIDO E PROVIDO. (TJPR - 6ª C.Cível - 0039445-50.2013.8.16.0001 -
Curitiba - Rel.: JUIZ DE DIREITO SUBSTITUTO EM SEGUNDO GRAU JEFFERSON ALBERTO
JOHNSSON - J. 19.03.2019).

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Logo, afastada está a nulidade porquanto, repise-se, não demonstrado o alegado
cerceamento de defesa pela ausência de produção da prova almejada pela parte.

Da constituição em mora

Aduzem os apelantes 02 que não houve, in casu, a constituição em mora, uma vez
que não há comprovação da ciência acerca da cobrança de direitos autorais.

Contudo, sem razão.

Isso porque o pleito deduzido inicialmente versa sobre responsabilidade civil


extracontratual decorrente de ato ilícito, qual seja, utilização de músicas em estabelecimento comercial, sem
a devida autorização prévia e contraprestação.

Por sua vez, o art. 68 da Lei nº Lei nº 9.610/98 (Lei de Direitos Autorais) dispõe que: “
sem prévia e expressa autorização do autor ou titular, não poderão ser utilizadas obras teatrais,
composições musicais ou lítero-musicais e fonogramas, em representações e execuções públicas.”.

Nesse sentido, a mora resta constituída no momento da violação do direito. Observe-


se a jurisprudência desta Corte de Justiça:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE CUMPRIMENTO DE PRECEITO LEGAL CUMULADA COM


INDENIZAÇÃO POR PERDAS E DANOS. REPRODUÇÃO DE OBRAS MUSICAIS SEM A DEVIDA
AUTORIZAÇÃO. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. INSURGÊNCIA DA PARTE REQUERIDA. (...)
LEGITIMIDADE CONFERIDA PELO ARTIGO 110 DA LEI nº 9.610/98. AUSÊNCIA DE
CONSTITUIÇÃO EM MORA. DESNECESSIDADE. PEDIDO DE COBRANÇA QUE DECORRE DA
UTILIZAÇÃO DE MÚSICAS EM ESTABELECIMENTO COMERCIAL, SEM A DEVIDA
AUTORIZAÇÃO PRÉVIA E CONTRAPRESTAÇÃO, SENDO PRESCINDÍVEL A INTERPELAÇÃO
JUDICIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL EXTRACONTRATUAL. MÉRITO. (...). SENTENÇA
MANTIDA. RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO, E NESTA PARTE, DESPROVIDO. (...) 3.
Não há que se falar em necessidade de constituição em mora no caso concreto, vez que o
pedido inicial indenizatório está fundamentado na responsabilidade civil extracontratual,
decorrente de ato ilícito praticado pela recorrente (utilização de músicas em estabelecimento
comercial, sem a devida autorização prévia e contraprestação), de modo que a mora resta
constituída no momento da violação do direito, não havendo necessidade de notificação a
respeito para tornar válida a cobrança. (...). (TJPR - 18ª C.Cível - 0008542-25.2019.8.16.0194 -
Curitiba - Rel.: DESEMBARGADOR MARCELO GOBBO DALLA DEA - J. 02.02.2022).

Portanto, não há falar-se em ausência de constituição em mora.

Dos atos praticados pelo ECAD


PROJUDI - Recurso: 0029688-56.2018.8.16.0001/1 - Ref. mov. 26.1 - Assinado digitalmente por Antonio Franco Ferreira da Costa Neto:7355302698
7
29/11/2022: JUNTADA DE ACÓRDÃO. Arq: Acórdão (Juiz Subst. 2ºGrau Antonio Franco Ferreira da Costa Neto - 5ª Câmara Cível)

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
Inicialmente, convém destacar que o ECAD – Escritório Central de Arrecadação e
Distribuição é competente para fixar e cobrar valores pela execução de obras musicais em locais de
frequência coletiva, assim considerados, dentre outros, os bares, estabelecimentos comerciais, restaurantes,
por disposição expressa do art. 68, §3º, da Lei nº 9.610/1998 (Lei de Direitos Autorais)[1].

Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PJTVS 6EDHC Z28DD MD9WR


Ademais, mesma lei traz a possibilidade de a entidade mante fiscais com a função de
averiguar da execução de obras então protegidas (art. 99, §4º, da Lei nº 9.610/1998). Atraindo, por lógica, a
atribuição de função fiscalizatória.

Também, é cediço que o ECAD não precisa comprovar a filiação dos artistas
nacionais ou estrangeiros, para que possa exigir o pagamento dos valores pelo uso das obras musicais,
senão vejamos:

RECURSO ESPECIAL. DIREITOS AUTORAIS. ECAD. DISPONIBILIZAÇÃO DE RÁDIO E DE


TELEVISÃO EM QUARTOS DE MOTEL. TRANSMISSÃO. DE OBRAS AUTORAIS. LEGITIMIDADE
ATIVA DO ECAD. LEGITIMAÇÃO EXTRAORDINÁRIA DECORRENTE DE LEI.
DESNECESSIDADE DE COMPROVAR A FILIAÇÃO(...) 1. A legitimidade extraordinária do
ECAD para a cobrança de direitos autorais decorre diretamente do art. 99, § 2º, da Lei n. 9.610
/98, sendo desnecessária a comprovação da filiação, consoante entendimento pacífico deste
STJ. Aplicação da Súmula 83/STJ. (...) 7. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO. (REsp 1858874
/SP, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 25/08/2020,
DJe 28/08/2020); e

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. ECAD.


LEGITIMIDADE. COBRANÇA. OBRAS DE AUTORES ESTRANGEIROS. PROVA DE FILIAÇÃO
/AUTORIZAÇÃO. DESNECESSIDADE. PRECEDENTES. 1. "Conforme pacífica jurisprudência
deste Tribunal a legitimidade ativa do ECAD para propositura de ação de cobrança independe
de prova de filiação ou autorização dos autores nacionais ou estrangeiros. Precedentes.
Súmula 83/STJ" (AgRg no AgRg no Ag 709.873/RJ, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA
TURMA, julgado em 18/9/2008, DJe 8/10/2008). 2. Agravo interno a que se nega provimento. (AgInt
no REsp 1225752/MT, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 07/03
/2017, DJe 14/03/2017.).

Ainda, importante destacar que o Superior Tribunal de Justiça reconhece a


legitimidade do ECAD em, além de efetuar cobranças, fixar os critérios e valores devidos:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL - AÇÃO CONDENATÓRIA -


DECISÃO MONOCRÁTICA QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECLAMO. INSURGÊNCIA DO RÉU.
(...) 2. De acordo com a jurisprudência desta Corte Superior, o ECAD possui legitimidade para
fixar critérios de cobrança de valores a título de direitos autorais. Precedentes. (...) 4. Agravo
interno desprovido. (AgInt no AREsp 1070808/MA, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA,
julgado em 01/06/2020, DJe 10/06/2020); e

AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. DIREITO AUTORAL. MÚSICAS DE FUNDO


(BACKGROUND). COMPETÊNCIA PARA A VALORAÇÃO. ECAD. VALIDADE DAS ASSEMBLEIAS
PARA DISTRIBUIR DIREITOS AUTORAIS. CRITÉRIO PARA A VALORAÇÃO DAS OBRAS. 1. Ao
ECAD, órgão central para a arrecadação e a distribuição dos direitos autorais, mantido pelas
associações mandatárias dos autores a ele filiados, compete, por meio de decisões
assembleares, fixar os preços e formular os critérios para a arrecadação e a distribuição das
músicas de fundo (background), não cabendo ao Judiciário, em regra, imiscuir-se em tais
deliberações. (...) (AgInt no REsp 1561200/RJ, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA
TURMA, julgado em 14/05/2019, DJe 23/05/2019).
PROJUDI - Recurso: 0029688-56.2018.8.16.0001/1 - Ref. mov. 26.1 - Assinado digitalmente por Antonio Franco Ferreira da Costa Neto:7355302698
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29/11/2022: JUNTADA DE ACÓRDÃO. Arq: Acórdão (Juiz Subst. 2ºGrau Antonio Franco Ferreira da Costa Neto - 5ª Câmara Cível)

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
Por este viés, sobrevém que os apelantes 02 tinham pleno conhecimento sobre a
necessidade de autorização prévia, bem como em relação ao próprio ECAD, haja vista o cadastro destes
junto ao órgão desde 2012 (mov. 1.32).

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E, em que pese, de fato, os fiscais do ECAD não gozarem de fé pública, o feito foi
devidamente instruído com provas suficientemente aptas a comprovar a utilização musical.

De acordo com o “cadastro de usuário” (mov. 1.31 a mov. 1.34), os apelantes 02


afirmam a utilização de música mecânica no espaço de 70 m², cuja área total perfaz 300 m². E, conforme as
fotos acostadas entre os mov. 1.38 e 1.43, há a presença no local de equipamentos aptos à reprodução
musical.

Assim, é de se ponderar que os elementos expostos são suficientes para permitir a


cobrança dos direitos autorais, limitados pela Lei nº 9.610/1998.

Mesmo porque, há clareza quanto ao valor a ser recolhido.

Nos termos do “regulamento de arrecadação” (mov. 1.13 a mov. 1.20), o item 1.9
descreve o enquadramento dos usuários e das utilizações musicais. Este parâmetro é basilar ao critério de
cobrança acostado ao mov. 1.44, cuja memória de cálculo é explícita e acarreta na quantia mensal a ser
quitada

Outrossim, o art. 48 da Lei nº 9.610/1998 define os critérios de multa pelo atraso do


pagamento, juros incidentes e atualização monetária, que, ao que tudo indica, foram devidamente
respeitados, consoante do “demonstrativo de débito” acostado ao mov. 1.45 e não impugnado objetivamente
pelos apelantes 02.

Tenho, pois, que a cobrança é válida, em razão da legitimidade do ECAD e porque


embasada na regulamentação específica.

Das parcelas vincendas

A inclusão das parcelas vincendas na pretensão de cobrança se mostra viável desde


que comprovadas, uma vez que integram o pedido (art. 323 do CPC)[2].

Isto é, uma vez que há dos autos a certeza dessas parcelas, por se tartarem de
prestações sucessivas, enquanto durou a obrigação, não há necessidade de declara-las expressamente no
pedido.

E, nesse sentido já decidiu esta Corte de Justiça em casos análogos. Vejamos:

APELAÇÃO CÍVEL – DIREITOS AUTORAIS – COBRANÇA – ECAD – RESPONSABILIDADE


SOLIDÁRIA DOS SÓCIOS – PREVISÃO LEGAL – ARTº 110 DA LEI Nº 9610/1998
– LEGITIMIDADE PASSIVA DO DIRETOR DA EMPRESA – PRESTAÇÕES VINCENDAS –
INCLUSÃO NA CONDENAÇÃO ENQUANTO PERDURAR A OBRIGAÇÃO – JUROS DE MORA A
PARTIR DA CITAÇÃO – RECURSOS – APELAÇÃO 1 – NEGA PROVIMENTO – APELAÇÃO 2 –
PROJUDI - Recurso: 0029688-56.2018.8.16.0001/1 - Ref. mov. 26.1 - Assinado digitalmente por Antonio Franco Ferreira da Costa Neto:7355302698
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29/11/2022: JUNTADA DE ACÓRDÃO. Arq: Acórdão (Juiz Subst. 2ºGrau Antonio Franco Ferreira da Costa Neto - 5ª Câmara Cível)

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
PROVIMENTO PARCIAL. (TJPR - 7ª C.Cível - 0036557-50.2015.8.16.0030 - Foz do Iguaçu - Rel.:
JUIZ DE DIREITO SUBSTITUTO EM SEGUNDO GRAU SERGIO LUIZ PATITUCCI - J.
20.04.2020); e

APELAÇÃO CÍVEL DA AUTORA E RECURSO ADESIVO DAS RÉS. AÇÃO DE COBRANÇA E

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OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER. ECAD. EXECUÇÃO DE OBRAS MUSICAIS EM
ESTABELECIMENTO COMERCIAL. DIREITOS AUTORAIS.LEGITIMIDADE PASSIVA AD
CAUSAM DAS PESSOAS FÍSICAS SÓCIAS DA PESSOA JURÍDICA.RESPONSABILIDADE
SOLIDÁRIA DECORRENTE DE EXPRESSA PREVISÃO DO ARTIGO 110 DA LEI 9.610/98.
DESNECESSIDADE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA DA SOCIEDADE
EMPRESÁRIA. 2PRELIMINAR REJEITADA. MÉRITO. OBRIGAÇÃO DE NÃO EXECUTAR OBRAS
MUSICAIS.IMPOSIÇÃO DE MULTA DIÁRIA POR EVENTUAL DESCUMPRIMENTO. CABIMENTO.
INTELIGÊNCIA DO ART. 105 DA LEI 9.610/98. FIXAÇÃO DO VALOR. INCLUSÃO DE
PRESTAÇÕES VINCENDAS COMPROVADAS. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. PROVA DA
EXECUÇÃO DE OBRAS MUSICAIS NO ESTABELECIMENTO COMERCIAL. TERMOS DE
VERIFICAÇÃO DOS FISCAIS DO ECAD, DEPOIMENTOS PESSOAIS DAS PARTES E
DECLARAÇÕES DE INFORMANTES.SUFICIÊNCIA NO CASO. CONDENAÇÃO MANTIDA.
PRECEDENTES. PROVIMENTO DO APELO E NÃO PROVIMENTO DO ADESIVO. (TJPR - 7ª C.
Cível - AC - 1504665-8 - Curitiba - Rel.: DESEMBARGADOR RAMON DE MEDEIROS NOGUEIRA
- Unânime - J. 18.10.2016).

Em razão do resultado do julgamento, com o improvimento do apelo pelos requeridos


/apelantes 2, majoro os honorários recursais em 1% (um por cento), passando a totalizar em 16% (dezesseis
por cento) sobre o valor atualizado da condenação.

Diante do exposto, VOTO pelo:

a) conhecimento e provimento do recurso de apelação 01, no sentido de incluir as


parcelas vincendas e devidamente comprovadas na condenação; e

b) conhecimento e não provimento do recurso de apelação 02, observando-se a


majoração dos honorários recursais nos termos da fundamentação.

Ante o exposto, acordam os Desembargadores da 5ª Câmara Cível do TRIBUNAL DE


JUSTIÇA DO PARANÁ, por unanimidade de votos, em julgar CONHECIDO O RECURSO DE PARTE E
PROVIDO o recurso de ESCRITORIO CENTRAL DE ARRECADACAO E DISTRIBUICAO ECAD, por
unanimidade de votos, em julgar CONHECIDO O RECURSO DE PARTE E NÃO-PROVIDO o recurso de
XAXIM POINT COMERCIO DE ALIMENTOS, por unanimidade de votos, em julgar CONHECIDO O
RECURSO DE PARTE E NÃO-PROVIDO o recurso de GENNIUS STORES COMERCIO DE ALIMENTOS
LTDA, por unanimidade de votos, em julgar CONHECIDO O RECURSO DE PARTE E NÃO-PROVIDO o
recurso de DANIEL GRASSI SEVERINO, por unanimidade de votos, em julgar CONHECIDO O RECURSO
DE PARTE E NÃO-PROVIDO o recurso de GUSTAVO GRASSI SEVERINO.

O julgamento foi presidido pelo (a) Desembargador Carlos Mansur Arida, com voto, e
dele participaram Juiz Subst. 2ºgrau Antonio Franco Ferreira Da Costa Neto (relator) e Desembargador
Leonel Cunha.

29 de novembro de 2022

Juiz Substituto em 2º Grau, Antonio Franco Ferreira da Costa Neto


PROJUDI - Recurso: 0029688-56.2018.8.16.0001/1 - Ref. mov. 26.1 - Assinado digitalmente por Antonio Franco Ferreira da Costa Neto:7355302698
7
29/11/2022: JUNTADA DE ACÓRDÃO. Arq: Acórdão (Juiz Subst. 2ºGrau Antonio Franco Ferreira da Costa Neto - 5ª Câmara Cível)

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
RELATOR

[1] Art. 68. Sem prévia e expressa autorização do autor ou titular, não poderão ser utilizadas obras teatrais, composições
musicais ou lítero-musicais e fonogramas, em representações e execuções públicas. (...) § 3º Consideram-se locais de

Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PJTVS 6EDHC Z28DD MD9WR


freqüência coletiva os teatros, cinemas, salões de baile ou concertos, boates, bares, clubes ou associações de qualquer
natureza, lojas, estabelecimentos comerciais e industriais, estádios, circos, feiras, restaurantes, hotéis, motéis, clínicas,
hospitais, órgãos públicos da administração direta ou indireta, fundacionais e estatais, meios de transporte de passageiros
terrestre, marítimo, fluvial ou aéreo, ou onde quer que se representem, executem ou transmitam obras literárias, artísticas ou
científicas.

[2] Art. 323. Na ação que tiver por objeto cumprimento de obrigação em prestações sucessivas, essas serão consideradas
incluídas no pedido, independentemente de declaração expressa do autor, e serão incluídas na condenação, enquanto durar a
obrigação, se o devedor, no curso do processo, deixar de pagá-las ou de consigná-las.

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