Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O direito civil possui seguramente uma função política, que vai definida em todas
as diversas épocas constitucionais. E, por essa razão, todos os princípios éticos e
políticos, evidenciados como fundamentos da constituição do Estado, exercem uma
forte influência sobre o direito privado.
Todavia, não há como promover a cisão entre os dois hemisférios normativos, que
estão inseparavelmente interligados. Cabe, assim, ao intérprete, assegurar a
compatibilidade de cada decisão, fundada em norma do Código Civil, tendo os
princípios constitucionais sempre observados, embora não explicitamente. Isso porque
cada interpretação é um microcosmo da imensa tarefa de realização de uma sociedade
livre, justa e solidária. Assim, o Código Civil cumprirá sua vocação de pacificação
social se for efetivamente iluminado pelos valores maiores projetados nas normas
constitucionais vigentes.
No âmbito da crise do Estado social, entende-se que foi aguçada pela constatação
dos limites das receitas públicas para atendimento das demandas sociais, cada vez
crescentes. Por outro lado, no que diz respeito à ordem econômica, a crise é muito mais
ideológica do que real, pois se dirige à redução do Estado empreendedor.
É certo que as relações civis possuem forte caráter patrimonializante, já que seus
principais institutos são a propriedade e o contrato. Todavia, quando o contexto jurídico
prioriza o patrimônio, a pessoa humana fica submersa e abstraída de sua dimensão real.
Com relação à propriedade, entende-se ser esse o grande foco de tensão entre as
correntes individualistas e solidaristas. O direito de propriedade, no Estado democrático
e social de direito, termina por refletir esse conflito. A partir disso, houve uma
acomodação do conflito, a partir do caminho baseado no critério hermenêutico do
princípio da proporcionalidade, ponderando os interesses em conflito. Dessa maneira, é
vedada a interpretação isolada de cada regra ou a hegemonia de uma regra sobre a outra,
devendo-se buscar o sentido harmônico entre ambas.
Nesse sentido, sai de cena o indivíduo proprietário para revelar a pessoa humana.
Despontam, logo, a afetividade como valor essencial da família; a função social como
conteúdo de limites à propriedade; a eticidade, os princípios sociais e a tutela do
contratante vulnerável no contrato.
A perspectiva da Constituição, portanto, tem contribuído para a renovação dos
estudos do direito civil. É o que se nota na doutrina civilística da atualidade, no sentido
de reconduzir o direito civil ao destino histórico de direito de todas as pessoas humanas.
Referências:
Direito civil: parte geral / Paulo Lôbo. – 6. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2017.