Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo: O trabalho tem como objetivo avaliar a hipótese de que a concretização do controle
social de políticas públicas, como uma manifestação da cidadania contemporânea, seja
adotado como forma de diminuir as tensões inerentes ao protagonismo judicial decorrente do
neoconstitucionalismo. Por meio de uma metodologia dedutiva, em um primeiro momento
estabelecer-se-ão as características neoconstitucionais e, como uma segunda premissa, suas
relações com o protagonismo judicial e as críticas deste como ativismo, para, finalmente,
extraírem-se conclusões a respeito da possibilidade de que o controle social das políticas
públicas opere-se como um aditivo apto a incrementar a legitimidade e efetividade das demais
formas de fiscalização, contribuindo ainda para suavizar aquelas críticas de ativismo.
Palavras-chaves: Controle social; políticas públicas; ativismo judicial.
Abstract: The aim of this work is to evaluate the hypothesis that the implementation of social
control of public policies, as a manifestation of contemporary citizenship, is adopted as a way
to reduce the tensions inherent to judicial protagonism resulting from neoconstitutionalism.
Through a deductive methodology, at first, the neoconstitutional characteristics will be
established and, as a second premise, its relations with the judicial protagonism and the
criticism of it as activism, to, finally, draw conclusions about the possibility that the social
control of public policies operates as an additive capable of increasing the legitimacy and
1
Doutorando e mestre em Ciência Jurídica pela Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP).
Graduado em direito pelo Centro Universitá rio Toledo. Bolsista (CAPES). Advogado.
gabrielvterenzi@gmail.com.
2
Doutor em Direito pela Instituiçã o Toledo de Ensino - ITE / Bauru-SP. Graduado em Filosofia pela
Universidade do Sagrado Coraçã o e graduado em Direito pela Faculdade Estadual de Direito do Norte
Pioneiro. Assessor Jurídico da UENP. Coordenador do Programa de Pó s-graduaçã o (Mestrado e
Doutorado) em Ciência Jurídica da UENP (2014-2022). fernandobrito@uenp.edu.br.
effectiveness of other forms of inspection, also contributing to soften those criticisms of
activism.
Key-words: Social control; public policies; judicial activism.
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho pretende avaliar a possibilidade de exercício de “controle social”
de políticas públicas como uma manifestação contemporânea de cidadania, diante das
possibilidades que o contexto neoconstitucional inaugura, e também das limitações inerentes
ao regime de democracia liberal, no qual a participação política (direta) costuma ser
visualizada de maneira reduzida e rasa.
O problema a respeito do qual este texto se debruça pode ser definido como: qual o
papel do exercício da cidadania em favor da efetivação de direitos fundamentais e sociais
mediante políticas públicas, tendo em vista que o pensamento neoconstitucional costuma ser
criticado quanto a essa efetivação por supostamente fazer com que o Judiciário substitua os
demais atores?
A hipótese do presente trabalho é a de que o controle social das políticas públicas –
como manifestação de cidadania – é compatível com a efetivação de direitos fundamentais
sociais patrocinada pelo neoconstitucionalismo e pode ser adotado como forma de mitigar as
críticas sobre a suposta expansão indevida do Judiciário na seara das policies.
A metodologia adotada pelo presente trabalho é aquela dedutiva, assim, pretende-se,
por primeiro, estabelecer como premissa as características neoconstitucionais, e, em segundo
lugar, as noções de controle judicial e sua relação com a intensificação do
neoconstitucionalismo. Dessas premissas, se pretende extrair a conclusão quanto à
confirmação ou não da hipótese de que o controle social, como forma de participação política
cidadã, pode mitigar as críticas sobre a suposta expansão indevida do Judiciário na seara das
policies.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As considerações do presente trabalho deixam claro que os atritos e acirramentos
institucionais, em alguma medida, parecem subprodutos inerentes à forma de
neoconstitucionalismo “vigente” na atualidade. Se não seria cabível, evidentemente, cogitar a
abolição dessa matriz teórica, especialmente no que diz respeito ao seu relevantíssimo apelo
pela efetivação dos direitos fundamentais, é urgente, ao menos, lidar com essas
consequências, não apenas em prol da suavização das tensões entre poderes, mas até para
evitar que se aprofunde uma rusga ainda mais perigosa aos mencionados direitos.
4
No original: “The point is no longer to express a supposedly preexisting totality, “the people.” It is rather to
elicit awareness of many different situations and to encourage the expression of many diferente possibilities.
This is one dimension of the aim to involve everyone in public deliberation, to achieve universal participation.
But that is not all. The first theories of deliberative democracy sought to substitute a procedural generality for a
social one. Interactive democracy goes further: it aims for permanent generalization. This involves continual
striving for inclusion as well as constant reaction and interpretation. In a sense, politics becomes less concrete,
but this does not mean that it loses its social moorings. Gone are the ideas of a demos and a general will, if we
take these things to be already constituted. In their place, however, comes a new recognition of the need for
constant generalization of the social”.
5
No original: “complejo proceso de reducción de complejidad social”.
Em outras palavras, há um dever de compatibilizar a promoção concreta de direitos
sociais impulsionada pelo pensamento neoconstitucional com formas de interação
institucional próprias e contemporâneas, adequadas e vocacionadas a remediar a exponencial
judicialização viciosa da política e as críticas desconfianças à uma miríade de decisões
judiciais – em sua maioria – bem intencionadas, mas relativamente pouco coordenadas. A
perpetuação dessa tensão pode ocasionar uma ruptura ainda mais profunda, e ainda mais
impactante a fruição das políticas públicas.
Para essa tarefa, não basta apenas o aprimoramento das formas e institutos do controle
judicial das policies, inobstante a valia dessa empreitada. Afinal, se, como visto, parte desses
óbices que se mencionam são em alguma medida inerentes, sua mitigação não depende de um
simples saneamento de aspectos deficitários dessa dimensão de controle, mas sim do
preenchimento de lacunas deixadas por essa dimensão! Em suma, depende do
estabelecimento de formas de controle próprias, e da sua integração com a fiscalização
jurisdicional.
Como conclusões, compreende-se que o controle social de políticas públicas é recurso
ainda pouquíssimo adotado, apesar de compatível e esperado pela Constituição, e, mais ainda,
compatível com a tendência neoconstitucional. Por sua vez, essa modalidade de controle
permite não somente uma maior efetivação dos direitos fundamentais e sociais – o mesmo
objetivo da vertente neoconstitucional – justamente porque concede aos próprios destinatários
das policies que opinem a respeito da sua concretização e aproveitamento; mas ela também
divide os ônus da inter-relação entres os poderes.
De fato, o controle social deve promover uma inserção dialógica com os demais
controles, e, desse modo, quando adotado, trata-se de um ativo a mais na concretização dos
objetivos visados por políticas públicas efetivadas pelo Executivo e pelo Legislativo, o que,
por si mesmo, permite evitar intervenções jurisdicionais. Ao mesmo tempo, quando
deflagrado, o controle judicial pode se valer do exercício combinado de formas de controle
social (como audiências públicas). De fato, uma decisão judicial que, por exemplo, invalidar,
latu sensu, uma policie, baseada na avaliação negativa extraída de controle social gozará de
maior legitimidade, enquanto a mesma decisão, quando o prévio controle social for positivo,
terá de, ao menos, lidar com um maior ônus argumentativo.
Em qualquer caso, a corporificação do controle social e o estabelecimento de formas
genuínas de sua interação com as distintas dimensões de fiscalização só tende a favorecer não
somente a observância dos direitos fundamentais e sociais, mas a suavização das tensões
institucionais decorrentes de tal empreitada. Os óbices por ventura decorrentes de tal controle,
por sua vez, podem e devem ser apontados e trabalhados, mas, para tanto, se faz necessário
antes de mais nada o esforço conjunto no seu estabelecimento, a superação da visão arcaica
que o desmerece (tão inapropriada a contemporaneidade quanto aquele ponto de vista da
rígida separação absoluta de poderes), e uma genuína adjudicação em favor da coletividade, a
fim de que não se estabeleça apenas mais uma estrutura ineficaz derivada de promessas
vazias.
REFERÊNCIAS
DIXON, Rosalind. Creating dialogue about socioeconomic rights: Strong-form versus weak-
Form. Oxford University Press and New York University School of
Law. v. 5, n. 3, p. 391-418, 2007.
HESSE, Konrad. A força normativa da Constituição. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris,
1991.
JUBILUT, Liliana Lyra. itinerários para a proteção das minorias e dos grupos vulneráveis: os
desafios conceituais e de estratégias de abordagem. In: JUBILUT, Liliana Lyra; BAHIA,
Alexandre Gustavo Melo Franco. Direito e vulnerabilidade. São Paulo: Saraiva, 2013.
PAIVA, Rayssa Kelly Duarte de. Democracia e participação política. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2019.
PIETRO, Maria Sylvia Zanella Di. Direito Administrativo. São Paulo: Atlas, 2013.
VALLE, Vanice Regina Lírio do. Políticas públicas, direitos fundamentais e controle
judicial. 2a ed. Belo Horizonte: Fórum, 2016.
WALDRON, Jeremy. A Dignidade da Legislação. 1ª. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2013.