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Direito Constitucional

Parte I

Constitucionalismo e Constituição

1. O constitucionalismo

1.1. O movimento constitucional e o Direito Constitucional

Noção Direito Constitucional

“Constituição é uma ordenação sistemática e racional da comunidade política,


plasmada num documento escrito, mediante o qual se garantem os direitos
fundamentais e se organiza, de acordo com o princípio da divisão de poderes, o
poder político “ – Gomes Canotilho

Constituição: Conjunto de normas jurídicas e fundamentais que definem:

Em 1º lugar os fins e as funções do Estado

Em 2º lugar a Organização, titularidade e exercício do poder político

Em 3º lugar o acatamento/aceitação das normas Constitucionais

O constitucionalismo é um movimento político, social e cultural que, sobretudo a


partir de meados do séc. XVIII, questiona nos planos político, filosófico, jurídico,
social económico e cultural os esquemas tradicionais de domínio político e sugere
uma nova ordem política e social respeitadora da pessoa humana como ser livre e
racional e enquadrada institucionalmente por novo modelo de ordenação do poder
político.

A lição da História mostra que o constitucionalismo, também denominado


movimento constitucional, embora modelado pelas ideias comuns de dignificar a
pessoa humana enquanto valor em si mesmo considerado e de limitação das
possibilidades de actuação da pessoa que exerce o poder, conheceu vários impulsos
política, económica, social e culturalmente distintos e geograficamente localizados.

1.2. Configurações específicas de alguns movimentos constitucionais

Neste contexto, é comum a alusão a vários constitucionalismos, ou movimentos


constitucionais, específicos sendo possível identificar as matrizes inglesa, americana
e francesa com os movimentos propulsionados, respectivamente, pela Glorious
Revolution (1688), pela Guerra da independência das colónias inglesas no
continente americano e subsequente Declaração de Independência dos Estados
Unidos da América (1787) e pela Revolução Francesa (1789).

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A característica específica do constitucionalismo inglês reside na transfiguração
das suas instituições políticas numa linha de evolução na continuidade: a Magna
Charta (1215) e os sucessivos textos fundamentais do constitucionalismo inglês,
Petiton of Rights (1628), Habeas Corpus Act (1679), Bill of Rigths (1689), estão
inseridos numa linha simultaneamente de continuidade e de complementaridade.

Constitucionalismo americano: Bill of Rights of the good people of Virginia,


assim como as declarações proferidas pelos povos das demais colónias, às quais
aquela serviu de modelo (1776), Declaration of Independence of the United States
of America (4 de Julho de 1776).

Constitucionalismo francês: Déclaration de Droits de l’Homme et du Citoyen


(1789), Constituição de 1791 (monarquia constitucional), Constituição de 1793
(democracia jacobina), Constituição de 1795 (directório), Constituição de 1799
(consulado), Constituição de 1802 (consulado vitalício), Constituição de 1804
(império), Constituição de 1814 (monarquia limitada), Constituição de 1830
(monarquia orleanista), Constituição de 1848 ((II) república presidencial),
Constituição de 1852 (império) Constituição de 1870 (monarquia parlamentar),
Constituição de 1875 ((III) república parlamentar), Leis Fundamentais de Vichy de
1940 (regime presidencial / ditatorial), Constituição de 1946 ((IV) república
parlamentar), Constituição de 1958 ((V) república presidencial).

1.3. Súmula da História Constitucional portuguesa

As Leis Fundamentais do Reino que limitavam a monarquia absoluta, incorporavam


as (putativas) actas das Cortes de Lamego que estabeleciam a forma monárquica
de governo e regulavam a ordem de sucessão na coroa e ainda as leis sobre a
regência e tutoria na menoridade dos reis (1674), sobre o casamento dos príncipes
(1679) e sobre a sucessão na Coroa (1698).

A limitação da monarquia era ténue na medida em que as Leis Fundamentais do


Reino estavam circunscritas à regulação de alguns aspectos institucionais da Coroa,
sem reconhecer direitos dos súbditos e o seu efeito útil consistia em impedir o Rei
de alterar qualquer um dos assuntos mencionados sem o consentimento das
Cortes.

Opções políticas de Portugal como Estado: Republica e democracia.

(art.1º e 2º CRP) Os artigos 1º e 2º da C.R.P. explicitam as opções políticas de


Portugal: República e Democracia.

A democracia opôs-se a outros sistemas políticos também vigentes na realidade a


nível global:

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a) Regime totalitário/Ditadura, este regime caracteriza-se por:

- Monismo político (existência de um partido único)

Ex: Estado Nazi, Fascismo Italiano, a Espanha de Franco, União Nacional em


Portugal

- Ausência de separação de poderes

- Controlo dos meios de comunicação social (com menor ou maior incidência)

- Procura constante do Estado em controlar manifestações de carácter social e


cultural (proibição de peças, livros, etc.)

- Subordinação das Forças Armadas ao poder político (como regime opressor


necessita controlar os meios de repressão)

- Existência de polícias políticas e secretas desenvolvidas (PIDE, SS…)

- Centralismo do chefe em toda a sociedade. O Estado e a sua estrutura são


construídos em redor de uma pessoa: “ O chefe”. Existe a tendência de após o
falecimento do “chefe” acontecer a queda do regime da altura.

b) Regimes Marxistas/ Leninistas (também chamados de Socialistas ou


Comunistas), este regime caracteriza-se por:

- Legitimidade democrática na concepção Marxista/Leninista. Segundo a ditadura


do proletariado por Marx “O povo tem condições para exercer o poder por ser a
classe oprimida

- A construção do Estado é criada à volta de uma ideologia Comunista

- Não há repartição política, somente um partido (PC)

- Não há existência de liberdade de expressão

Quanto ao Regime Democrático, que é o regime vigente em Portugal tem as


seguintes características:

- Representantes eleitos (PR, AR, CM…)

- Eleições periódicas e livres (Não há coação dos eleitores)

- Liberdade de expressão. Não existe o receio de represálias, podendo os cidadãos


livremente manifestar-se, incluindo criticar dirigentes, religiões, governos,
ideologias, etc. (sem que colida com o direito de honra, logo não é um direito
absoluto)

- Pluralismo partidário

- Acesso a fontes alternativas de informação (além das fontes governamentais)

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- Liberdade de associação: partidos, grupos de interesse, sindicatos, ordens
(pessoas com interesses comuns)

A Republica é um regime político que se opõe á Monarquia. Enquanto na Monarquia


o Chefe de Estado tem uma sucessão hierárquica, na Republica o Chefe de Estado é
eleito.

Categorias de Governo dentro das Democracias Presidencialistas:

- Regime Presidencialista

- Regime Parlamentar

- Regime Semi Presidencialista (caso Português)

Regime Presidencialista:

- O poder é bipartido entre o Presidente e Parlamento (como exemplo mais


conhecido temos os Estados Unidos da América)

- O Presidente tem poderes executivos e políticos e o Parlamento tem poderes


políticos e legislativos.

- “O Governo existe na dependência e na hierarquia do Presidente”

- Tem de existir uma colaboração obrigatória entre Presidente e Parlamento. Pois


precisam um do outro para executar o seu poder. Como exemplo o Parlamento tem
o poder de criar leis mas necessita do Presidente para as executar.

- O Presidente não pode dissolver o Parlamento, nem o Parlamento pode destituir o


Presidente. (excepção em situações extraordinárias; Impeachment)

- O Presidente e o Parlamento são eleitos em eleições diferenciadas.

Regime Parlamentar:

- Conforme o próprio nome demonstra, o centro do poder está no parlamento, que


têm poderes legislativos e poderes políticos. O governo por seu turno é criado em
perfeita simetria com a composição do Parlamento.” O Governo é um reflexo das
eleições parlamentares”

- No sistema parlamentar o Governo está na dependência do Parlamento, logo e


consequentemente o Parlamento pode demitir o Governo através das figuras da
moção de censura ou de uma moção de confiança não aprovada.

 Moção de censura: Votação realizada pelo Parlamento em que vai avaliar a


actuação do Governo. Se a moção for aprovada tal implica imediatamente a
queda do Governo

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 Moção de Confiança: Iniciativa do Governo que ocorre essencialmente de
uma enorme contestação. Sujeita-se então a uma apreciação do
Parlamento. Se esta moção não for aprovada implica a queda do Governo.

- Pode e geralmente tem um Chefe de Estado, embora com funções meramente


protocolares, não influenciando as decisões do Governo. Não tem poderes de
demitir o Governo.

Regime Semi Presidencialista (tem características dos outros dois regimes):

- Assim como no Parlamentar o Governo tem uma estrita dependência


relativamente ao Parlamento. O Governo é nomeado de acordo com a disposição do
Parlamento, podendo também ser demitido por vontade do mesmo.

- Tem como característica própria o poder do Chefe de Estado (PR) Aqui o Chefe do
Estado pode influenciar o Governo e o Parlamento. Os dois exemplos mais claros
dessa influência são:

 Capacidade de dissolver o parlamento e consequentemente o Governo


 Capacidade de veto: impede a entrada em vigor de leis da A.R. ou decretos
de lei provenientes do Governo. Tem o poder de efectivar que uma lei entre
em vigor.

- O Presidente de República tem somente poder político, não tem poder legislativo

- O Presidente da República só pode ser destituído por incapacidade, morte ou


prática de crimes graves.

- “ O Governo está duplamente responsabilizado no nosso sistema. Por um lado é


responsável politicamente perante o Parlamento, mas existe também uma
responsabilidade política, ainda que indirecta, do Governo perante o Chefe de
Estado.” – Gomes Canotilho.

- Os Regimes Semi presidencialistas não são todos idênticos, os poderes do Chefe


de Estado são variáveis de Estado para Estado.

Evolução Histórico Constitucional

Constituição Ocorreu em:


Portuguesa
1ª 1822
2ª 1826
3ª 1838
4ª 1911
5ª 1933
6ª 1976
1ª Constituição Portuguesa:

- Foi com esta Constituição que o Absolutismo terminou.

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- Períodos de vigência: 1882 a 1823/ 1836 a 1838

- Esta constituição consagrou alguns direitos fundamentais como por exemplo o


direito à liberdade, liberdade de expressão, etc.

- Poder executivo e administrativo na posse do Rei. Era o chefe de Governo e


nomeava os elementos do Governo

- Poder legislativo pertencia às Cortes que era a denominação à época para a


Assembleia da República. Este poder era condicionado pelo facto de o Rei ter direito
de veto sobre qualquer diploma aprovado pelas cortes.

- Poder judicial conferido aos tribunais.

2ª Constituição Portuguesa:

- Períodos de vigência: 1826 a 1828/ 1834 a 1836/1842 a 1910

- Foi uma Constituição centrada na figura do Rei que também nesta Constituição
mantinha o poder administrativo e executivo

- Atribuído mais um poder ao Rei: o poder moderador que determinava que o Rei
era hierarquicamente superior a todos os outros elementos do poder.

- Poder legislativo nas cortes, mantendo-se o direito de veto do Rei sobre as leis
aprovadas pelas cortes.

- As cortes eram bicamerais. Eram dois órgãos distintos. Existia uma câmara dos
Pares que era formada por membros vitalícios e hereditários. Era de nomeação
Real. A outra câmara era a dos Deputados, estes sim eleitos, mas por sufrágio
indirecto e restrito

- A grande diferença para a Constituição anterior é que esta Constituição realça


ainda mais os poderes do Rei e limita ainda mais a vertente democrática.

3ª Constituição Portuguesa:

- Teve uma vigência de somente quatro anos: 1838 a 1842

- Considerada historicamente irrelevante

- Maior reforço dos poderes do Rei, com o poder de dissolver o Parlamento

4ª Constituição Portuguesa:

- Marca a revolução Republicana e o derrube da Monarquia. Obviamente esta


situação implica a necessidade de uma nova constituição pois a anterior era
orientada para a monarquia.

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- A principal característica é o Republicanismo, é a primeira Constituição
republicana

- Consagram-se alguns princípios e direitos fundamentais que ainda hoje têm


validade

- Princípio da separação entre o Estado e a igreja com consequências práticas

 O ensino público deixa de ter uma vertente religiosa, sendo até proibida tal
situação.
 Expropriação de terrenos da Igreja, passando para a esfera do Estado
 Liberdade de outros cultos

- Estabelecimento do Registo civil. Não havia até à data um registo que permitisse
efectuar uma análise da população portuguesa

- Distribuição de poderes agora com um novo esquema:

 Poder legislativo manteve-se no parlamento, o chamado Congresso da


República
 Poder executivo e administrativo era exercido pelo Presidente da República e
ministros.
 Poder judicial exercido pelos tribunais

- O Presidente da República não era eleito, mas sim nomeado pelo Congresso da
República. Daí não se considerar como um sistema presidencialista

- Centro do poder estava assente no Congresso e não no Presidente da República.

- Sistema de matriz sobretudo parlamentar.

- As eleições para o Congresso eram por sufrágio Universal, mas que tinha
inúmeras condicionantes pois só dependia de leis que só permitiam este voto a não
analfabetos, possuidores de um determinado rendimento, o próprio poder local
podia determinar quem votava.

- Na prática esta Constituição cessou em 1926, pois entretanto tivemos um período


de transição onde surge a figura do Dr. Oliveira Salazar, na altura ministro das
finanças. Foi sobretudo tendo em conta a sua figura que foi constituída a
Constituição de 1933, na altura sujeita a plebiscito (condicionado, pois os votos
brancos e nulos de então contaram como a favor)

5ª Constituição Portuguesa

- Tipicamente uma Constituição de um Estado autoritário/ Fascista

- Se por um lado consagrava direitos fundamentais, por outro emitia a


concretização desses direitos para normas que os limitavam.

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- Previa a existência de um Presidente da República (General Carmona Rodrigues
1926 a 1957). No papel seria a entidade com mais poder pois, podia nomear e
demitir o Presidente do Conselho de Ministros

 Tinha o poder de vetar qualquer lei


 Tinha o poder de dissolver a Assembleia Nacional

- No entanto a prática centrou o poder no Conselho de Ministros (designação nessa


altura para Governo) que tinha os poderes executivos, administrativos e legislativos

- Assembleia Nacional também com poderes legislativos mas na prática com uma
importância extremamente reduzida pois tinha capacidade para aprovar só as leis
de base que seriam posteriormente concretizadas pelo Conselho de ministros. Era
um órgão meramente formal.

6ª Constituição Portuguesa (1ª versão)

Este evento constitui uma ruptura constitucional, baseado numa legitimidade


revolucionária.

No entanto como diz o Dr. Jorge Miranda a Revolução de Abril de 1974 procurou
sempre alicerçar-se numa ideia de Estado de Direito.

Para fundamentar esta expressão baseia-se em factos e leis.

Factos:

 Consagração imediata da liberdade de expressão


 Libertação de presos políticos
 Desaparecimento da censura

- A ideia da liberdade democrática também fica vincada nas primeiras leis


emanadas pelo MFA (Movimento das Forças Armadas), órgão constituído por
representantes dos militares revoltados.

Lei 1/74 de 25 de Abril: Determinaram-se várias actuações como:

- Obrigatoriedade de eleições para a Assembleia Constituinte; eleições essas que


deviam decorrer num prazo máximo de 12 meses.

- Declarou-se que logo após as eleições para Presidente da República e para a


Assembleia da República, que os militares se iriam abster de qualquer intervenção
política e iriam regressar á sua função tradicional de defesa da soberania (tal
situação não se veio a verificar)

Para o Dr. Jorge Miranda houve três circunstâncias históricas que influenciaram a
nossa constituição:

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- Uma turbulência social e política; um rol de condicionantes: retornados, ausência
de democracia, etc.

- A existência da chamada plataforma MFA/partidos políticos (acordo escrito que foi


tomado em conta na elaboração da Constituição que incluía nesta um órgão
político-militar: O conselho da Revolução que detinha importantes poderes. Este
órgão exerceu até á 1ª revisão em 1982

- O pluralismo partidário que resultou das eleições para a Assembleia Constituinte

Estas três circunstâncias supra citadas levaram a que esta Constituição fosse
dotada das seguintes características:

A nossa Constituição é uma constituição pós revolucionária

 Existência de Conselho da Revolução (previsto na constituição), mas que era


um órgão não eleito, logo não democrático.
 Este órgão tinha importantes poderes como por exemplo.
- Exclusividade de criar leis sobre matéria das forças armadas

- Poder de veto sobre todas as restantes leis

A Constituição de 1822

Antecedentes: saída da corte para o Brasil; Revolução de 1820

Cortes Constituintes: a Junta provisional do Governo Supremo do Reino mandou


proceder à eleição dos deputados às Cortes Extraordinárias Constituintes.

O texto constitucional consagrava direitos e deveres fundamentais típicos do Estado


liberal relacionados com a liberdade, a segurança e a propriedade, consagrava a
inviolabilidade do domicílio, as liberdades de expressão e de imprensa, o direito de
petição, o sigilo da correspondência, o direito de acesso a cargos públicos, a
igualdade perante a lei, a justiça criminal, pela proibição da prisão sem culpa
formada e pela abolição das penas cruéis e desumanas.

Quanto à legitimidade do poder político, consagrava a soberania nacional e quanto


à respectiva organização estabelecia um modelo tripartido de separação de poderes
que compreendia o legislativo (Cortes), executivo (Rei e Secretários de Estado) e
judicial (juízes). As Cortes eram compostas por uma única câmara, eleita por
sufrágio directo e universal (!) e em escrutínio secreto. O Rei, titular da Coroa, era
designado por sucessão hereditária na dinastia de Bragança, era competente para
nomear e demitir livremente os Secretários de Estado mas as Cortes podiam
chamá-los para prestar explicações.

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Quanto à forma de Estado, estava consagrada uma união real: o Reino de Portugal,
dos Algarves e do Brasil.

A Constituição de 1822 cessou a sua vigência com a Vila-Francada (27 de Maio de


1823), revolução absolutista impulsionada por D.ª Carlota Joaquina e por D. Miguel
e inspirada na intervenção da Santa Aliança em Espanha com objectivo de fazer
cessar o regime parlamentar iniciado com a Constituição de Cádis.
Subsequentemente, D. João VI, apesar de haver jurado a Constituição, assumiu a
condução do sistema político como rei absoluto. A Constituição de 1822 conheceu
ainda uma segunda vigência entre 1936 e 1838.

A Carta Constitucional de 1826

Surgiu o problema dinástico da sucessão de D. João VI.

A Carta Constitucional foi elaborada por D. Pedro IV, no Rio de Janeiro, e no seu
texto são evidentes as influências da Constituições Francesa de 1814 e Brasileira de
1824 e, em sede doutrinária, de BENJAMIN CONSTANT.

O texto constitucional consagrava direitos e deveres fundamentais dos


portugueses, seguindo a tradição liberal iniciada com a Constituição de 1822 mas
acrescentou-lhe alguns direitos sociais, os socorros públicos, a gratuitidade da
instrução primária, a garantia (institucional) da existência de escolas,…

Quanto à organização do poder político, os poderes do Estado estavam


quadripartidos em legislativo (Cortes), moderador (Rei), executivo (Rei e Ministros)
e judicial (juízes e jurados). O parlamento era bicameral, integrando as Cortes a
Câmara dos Pares e a Câmara dos deputados. A primeira era composta por pares
hereditários e por pares vitalícios, de nomeação régia e sem número fixo, enquanto
a segunda era eleita por sufrágio directo e censitário.

A Carta Constitucional conheceu três vigências: a primeira entre 1826, com o


juramento do deputado Saldanha e 1828, quando D. Miguel convocou as Cortes à
moda antiga, a segunda iniciada em 1834, com a Paz de Évora Monte que colocou
termo às lutas liberais, e prolongou-se até 1836, quando os revolucionários
setembristas recolocaram em vigor a Constituição de 1822 (que conheceu assim
uma segunda vigência) e a terceira iniciada com o cabralismo.

A Constituição de 1838

É uma constituição pactícia porque negociada entre cartistas e setembristas, foi


aprovada em Cortes e submetida a sanção régia (influência da Constituição
francesa de 1830).

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Quanto à organização do poder político, regressou à concepção tripartida dos
poderes do Estado. As Cortes eram compostas por duas Câmaras: dos Senadores e
dos Deputados, ambas eleitas por sufrágio directo e censitário.

A Constituição de 1838 vigorou até à Revolução de Costa Cabral (1842).

A terceira vigência da Carta Constitucional e os actos adicionais

O Acto Adicional de 1852

A Regeneração (1852) foi a causa da aprovação do Acto Adicional de 1852 que veio
permitir a conciliação entre cartistas e vintistas por introdução de algumas
cláusulas que representavam concessões a estes últimos.

Assim, foi consagrada a eleição directa dos deputados e o alargamento do sufrágio,


embora continuasse censitário.

As Cortes passarem a poder constituir comissões de inquérito para fiscalizar a


actividade da Administração pública.

A pena de morte foi abolida para crimes políticos.

O Acto Adicional de 1885

O Acto Adicional de 1885 foi impulsionado pelo Presidente do Ministério, Fontes


Pereira de Melo, com intuito de retirar essa arma eleitoral à oposição.

Quanto à organização do poder político, a legislatura foi reduzida de quatro para


três anos. Ainda neste âmbito, foi suprimida a hereditariedade do pariato como
modo de designação dos titulares da câmara alta e o número de pares foi limitado a
cem pares de nomeação régia mais cinquenta eleitos pelos pares do reino entre si.
O poder moderador do Rei foi circunscrito pela regulação do direito de dissolução
da Câmara dos Deputados que passou a estar restringido aos casos em que o bem
do Estado assim o exigisse, ficando ainda o Rei impedido de exercer esta
prerrogativa nos primeiros três meses de nova legislatura após dissolução.

Quanto a direitos fundamentais, foram consagrados ex novo os direitos de petição


e de reunião.

O Acto Adicional de 1896

Foi aprovado ditatorialmente pelo Governo do Partido Regenerador, presidido por


Hintze Ribeiro (1895), e confirmado pelas Cortes após reeleição destas.

As alterações incidiram todas sobre a organização do poder político. Assim, o Acto


Adicional de 1896 suprimiu os pares electivos, a Câmara dos pares passou a ser
composta apenas por pares por direito próprio que a título transitário continuariam
a existir e por (noventa) pares nomeados pelo Rei.

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Autoriza os Ministros da Coroa a nomearem representantes para participarem nos
trabalhos das Comissões Parlamentares.

Os impasses no procedimento legislativo passam a ser resolvidos em reunião


conjunta das Câmaras, convocada a pedido de qualquer delas, suprimindo assim o
poder de arbitragem do Rei.

O Rei foi compensado com a devolução do poder de dissolução livre da Câmara dos
Deputados.

O Acto Adicional de 1907

Quanto à composição do parlamento, os pares vitalícios (de nomeação régia)


passam a ser em número ilimitado.

Quanto à organização judiciária, foi consagrado um foro judicial especial (no


Supremo Tribunal de Justiça) para julgar os delitos cometidos pelos Ministros da
Coroa.

A Constituição Republicana de 1911

Os antecedentes da Constituição Portuguesa de 1911 reportam-se ao movimento


republicano, nomeadamente à propaganda impulsionada por ocasião dos
centenários de Camões (1880) e de Pombal (1882) e pelo ultimato inglês (1890).

Após a Revolução de 1911, foi proclamada a República e, na sequência, nomeado


um governo provisório que governou em ditadura até à aprovação da nova
Constituição (19.Junho.1911).

O texto da Constituição de 1911, composto por apenas 87 artigos, foi o mais curto
das seis Constituições portuguesas.

Em sede de direitos fundamentais, a Constituição de 1911 respeitava a tradição


liberal portuguesa, plasmada nas Constituições de 1822 e de 1838, mas acrescenta
outros direitos decorrentes da ideologia republicana como a igualdade social que
implicou o fim dos privilégios de sangue, reconheceu expressamente a liberdade de
criação de escolas privadas, a liberdade de religião em consequência do Estado se
afirmar laico, o que implicou a neutralidade do ensino em matéria religiosa, e o
direito de resistência. Ainda no contexto das relações entre o cidadão e o Estado,
foram consagrados os deveres de frequentar o ensino primário elementar
(escolaridade obrigatoriedade) e de inscrição dos recém nascidos no registo civil.

Quanto à organização do poder político, os poderes de Estado estavam tripartidos


entre legislativo (Congresso da República), executivo (Ministério) e judicial
(tribunais). O Presidente da República era um órgão do Estado sem poderes
efectivos.

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O Congresso da República, de composição bicameral de acordo com a tradição do
constitucionalismo português, era integrado pela Câmara dos Deputados e pelo
Senado, ambas eleitas por sufrágio directo. O Senado era uma câmara alta
territorial (em contraste com as câmaras altas aristocráticas das constituições
monárquicas) na qual estavam representados os distritos administrativos da
metrópole e as províncias ultramarinas. A eleição como senador estava
condicionada ao requisito mínimo de 25 de anos de idade. O Congresso da
República era titular de competência legislativa e ainda de fiscalização do
executivo. No contexto desta última, os Ministros eram obrigados a comparecer
perante as Câmaras para prestar esclarecimentos se convocados para tal.

O Presidente da República foi a causa da primeira questão controvertida nos


debates constituintes na medida em que foi questionada a própria existência do
órgão. No entanto, vingou a orientação no sentido da consagração de um Chefe de
Estado, órgão singular, por conveniência na representação (max. internacional) do
Estado português. O Presidente da República era eleito pelas câmaras do
Congresso, reunidas em sessão conjunta, para um mandato de quatro anos, sem
possibilidade de reeleição imediata. O Presidente da República era competente para
promulgar e mandar publicar as leis, sendo a promulgação um acto vinculado, isto
é, que o Chefe de Estado deveria praticar obrigatoriamente ou, noutra fórmula,
sem possibilidade de veto (como sanção para o incumprimento deste dever, a
Constituição de 1911 consagrava a convalidação do diploma por promulgação tácita
decorridos trinta dias). Os actos do Presidente da República careciam, todos, de
referenda ministerial.

O poder executivo estava confiado ao Ministério, também denominado no jargão


por Gabinete, chefiado pelo Presidente do Ministério e respondia politicamente
perante o Congresso, estando sujeito aos votos de confiança de censura deste
último.

Quanto ao poder judicial, confiado aos tribunais, a Constituição de 1911 consagrou


ex novo a competência destes órgãos de soberania para procederem à fiscalização
da constitucionalidade das leis do Congresso. O modelo de controlo então
consagrado foi a fiscalização judicial, concreta e difusa da constitucionalidade por
influência do constitucionalismo norte-americano.

A Constituição de 1911 foi objecto de duas revisões. A primeira, ocorrida em 1917,


foi aprovada por decreto ditatorial do Governo, confirmado pelo Congresso (ao
tempo dissolvido) após eleições. A revisão constitucional de 1917 consagrou a
eleição do Presidente da República por sufrágio directo e universal e conferiu-lhe a
chefia (efectiva) do poder executivo. A mesma revisão constitucional alterou ainda

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a composição do Senado que passou a incluir também representantes das
corporações profissionais, científicas e literárias.

A segunda revisão da Constituição de 1911 ocorreu entre 1919 e 1921, conferiu ao


Presidente da República o poder de dissolver as Câmaras do Congresso “quando
assim o exigissem os superiores interesses da Pátria e da República” e regulou
especificamente os poderes do Ministério quando as Câmaras estivessem
dissolvidas para evitar governos em ditadura.

A Constituição de 1911 cessou a vigência com o golpe militar de 28 de Maio de


1926, embora nunca houvesse sido formalmente revogada e, em jeito de balanço,
poderemos dizer que o período em que vigorou esteve marcado pela instabilidade
do sistema político. Com efeito, em quinze anos sucederam-se oito Presidentes da
República e quarenta e quatro governos…

A Constituição Corporativa de 1933

Após o Golpe de Estado de 28 de Maio 1926, seguiu-se um período de ditadura


militar entre 1926 e 1933. Segundo alguns autores como MARCELLO CAETANO, a
eleição do Presidente da República, António Óscar de Fragoso Carmona, em 25 de
Março de 1928, conforme previsto em decreto ditatorial, correspondeu a um
plebiscito sobre a Revolução. O que pensar sobre este assunto?

O Acto Colonial, primeira lei constitucional do Estado Novo, foi aprovado, em 1930,
sob a forma de decreto com força de lei sujeito a futura ratificação pela Assembleia
Constituinte.

O projecto de Constituição foi elaborado pelo Conselho Político Nacional (órgão


previsto em decreto ditatorial) a partir de um projecto da autoria do Ministro das
Finanças, António de Oliveira Salazar, que colheu inspiração: na experiência da
ditadura militar quanto à dupla presidência, isto é, do Estado e do Conselho (de
Ministros), e quanto à competência legislativa do Governo, na Carta Constitucional
quanto aos poderes do Chefe de Estado, na Constituição da primeira república
alemã (1919) quanto às garantias institucionais e quanto ao sistema de governo, e
nos compromissos políticos do Governo da ditadura militar quanto ao regime
corporativo.

O texto integral do projecto foi publicado em todos os jornais diários com tiragem
quer em Portugal continental, quer nas ilhas adjacentes, quer nas províncias
ultramarinas e, posteriormente, submetido a consulta popular (denominada
referendo) em 21 de Fevereiro de 1933. O voto foi obrigatório e a abstenção contou
como voto favorável (!), indícios que nos permitem qualificar esta consulta como
plebiscitária.

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O texto da Constituição de 1933 compreendia cento e quarenta e dois artigos,
sistematizados do seguinte modo: a Parte I, intitulada Das garantias fundamentais,
integrava os artigos 1.º a 70.º, enquanto a Parte II se ocupava Da organização
política do Estado e incorporava os artigos 71.º a 132.º, restando dez artigos em
disposições complementares. As garantias objecto da parte primeira da
Constituição de 1933 assumiam a natureza jurídica de direitos fundamentais dos
cidadãos (Título II) mas sobretudo de garantias institucionais que concretizavam a
existência de uma comunidade unitária e corporativa, isto é, que estava modelada
por um escopo ideológico de valorização dos corpos sociais intermédios entre o
Estado e a pessoa humana, assim verificamos a consagração de garantias da nação
portuguesa, da família, das corporações morais e económicas, da ordem económica
e social, da educação, ensino e cultura nacional, das relações do Estado com a
Igreja Católica e demais cultos, do domínio público e privado do Estado.

A Constituição de 1933 era, prima facie, um texto constitucional amigo dos direitos
fundamentais. Com efeito, além de acolher o legado das Constituições liberais em
matéria de direitos da pessoa humana acrescentou ainda ex novo alguns direitos,
quer no plano da liberdade, quer no plano da solidariedade. Assim, no primeiro
grupo lograram reconhecimento com carácter inovador os direitos à vida, à
integridade pessoal, ao bom nome e à reputação, à instrução contraditória e ao
processo criminal e à reparação efectiva de todas as lesões causadas por entidade
pública (eventualmente por sucedâneo pecuniário). Quanto ao segundo grupo,
obtiveram acolhimento a protecção da família, a associação do trabalho à empresa
e o direito à educação.

Quanto às relações entre o Estado e a Igreja foi respeitada a separação mas o


princípio do Estado laico foi substituído pelo princípio da separação cooperante
(mediante a celebração de concordatas).

Contudo, a Constituição de 1933 estava modelada por uma concepção nominal dos
direitos fundamentais porque a prática política do Estado Novo era algo diversa,
não por violação da constituição mas com cobertura constitucional, porque o artigo
8.º, § 2.º, estabelecia que o exercício das liberdades de expressão do pensamento,
de ensino, de reunião e de associação carecia de regulação por lei. O preceito
mencionado era especialmente denso quanto à modelação prévia do conteúdo da
lei reguladora da liberdade de expressão na medida em que estabelecia que esta
deveria “impedir preventiva ou repressivamente a perversão da opinião pública na
sua função de força social e salvaguardar a integridade moral dos cidadãos”.

Ainda no contexto da Parte I da Constituição de 1933, avulta a garantia de uma


ordem económica e social corporativa que significa o abandono da matriz liberal

Pá gina 15
das Constituições anteriores e o reconhecimento do papel da Sociedade Civil no
contexto da comunidade estadual. Neste contexto, o direito-dever do Estado
“coordenar e regular superiormente a vida económica e social” (artigo 31.º) era a
expressão máxima da modelação do texto constitucional segundo uma ideologia
corporativa que determinou, na esfera económica, a consagração de mecanismos
de condicionamento do mercado a nível interno, nomeadamente pela incumbência
de conseguir o menor preço e o maior salário compatíveis com a justa remuneração
dos outros factores de produção (artigo 31.º/3) e de medidas proteccionistas no
plano externo (artigo 30.º).

Quanto à organização do poder político, a Constituição de 1933 consagrava como


órgãos de soberania o Chefe do Estado, a Assembleia Nacional, o Governo e os
Tribunais (artigo 71.º).

O Chefe do Estado era o Presidente da República, eleito pela Nação, isto é, por
sufrágio directo dos cidadãos eleitores, para um mandato de sete anos (artigo 72.º)
e perante a Nação respondia directa e exclusivamente pelos actos praticados no
exercício das suas funções (artigo 78.º). A Constituição de 1933 estabelecia a
inelegibilidade dos Reis de Portugal e seus familiares até ao sexto grau para o cargo
de Chefe do Estado (artigo 74.º).

O Chefe do Estado era competente, nomeadamente, para dissolver a Assembleia


Nacional, “quando assim o exigissem os superiores interesses da Nação” (artigo
81.º/6), para nomear o Presidente do Conselho de Ministros e os Ministros, assim
como para os demitir (artigo 81.º/1) e para promulgar e mandar publicar as leis e
as resoluções da Assembleia Nacional, assim como os decretos e regulamentos do
Governo (artigo 81.º/9). As decisões do Chefe de Estado careciam de refenda
ministerial com excepção da nomeação e demissão do Presidente do Conselho de
Ministros, das mensagens dirigidas à Assembleia Nacional e da mensagem de
renúncia ao cargo (artigo 82.º).

A Assembleia Nacional era composta por noventa (90) deputados, eleitos por
sufrágio directo dos cidadãos eleitores, para uma legislatura de quatro anos (artigo
85.º). A duração da sessão legislativa era de três meses (improrrogáveis) em cada
ano civil, com início em 10 de Janeiro (artigo 94.º).

A Assembleia Nacional era o órgão competente, entre outros poderes do Estado,


para aprovar as leis, assim como para as interpretar, suspender e revogar (artigo
91.º/1). À Assembleia Nacional estava ainda confiada a tarefa de vigiar pelo
cumprimento da Constituição e das leis (idem/2).

Pá gina 16
A Assembleia Nacional era coadjuvada no exercício das suas funções pela Câmara
Corporativa, “composta por representantes das autarquias e dos interesses sociais”,
isto é, de ordem administrativa, moral, cultural e económica. Contudo, a
composição precisa do órgão, o modo de designação dos seus titulares e a duração
do respectivo mandato estavam regulados por lei (artigo 102.º). A acção da
Câmara Corporativa estava circunscrita à tarefa de “relatar e dar parecer por
escrito sobre todas as propostas ou projectos de lei que fossem presentes à
Assembleia Nacional, antes de nesta ser iniciada a discussão” (artigo 103.º).

O Governo era composto pelo Presidente do Conselho de Ministros, pelos Ministros


e (eventualmente) pelos Sub-secretários de Estado, sendo o Presidente do
Conselho nomeado e demitido livremente pelo Chefe do Estado, enquanto os
demais membros do Governo eram também nomeados e demitidos pelo Chefe de
Estado mas sob proposta do Presidente do Conselho, a quem cabia referendar a
decisão (artigo 106.º). Neste contexto, o Presidente do Conselho, que coordenava e
dirigia a actividade de todo o Governo, era politicamente responsável perante o
Chefe do Estado, enquanto os demais membros do Governo respondiam apenas
perante o Presidente do Conselho (artigo 107.º).

O governo desempenhava funções de natureza legislativa, mediante a aprovação


de decretos-lei, no uso de autorização legislativa ou em caso de urgência e
necessidade pública, e ainda as funções política e administrativa (artigo 108.º).

Aos tribunais cabia exercer a função jurisdicional (artigo 115.º).

Considerando as características do sistema de governo, correspondia ao conceito


politicológico de sistema de governo representativo simples de chanceler pelos
seguintes motivos. Sistema de governo representativo simples na medida em que
os poderes do Estado estavam formalmente concentrados no Chefe do Estado,
curta duração da sessão legislativa, competência para dissolução da Assembleia
Nacional, responsabilidade política do Governo exclusivamente perante o Chefe do
Estado. Sistema de governo de chanceler porque a concentração de poderes no
Chefe do Estado era meramente formal porque efectivamente a unidade central de
processamento do sistema político era o Presidente do Conselho de Ministros, uma
vez que, no plano jurídico, os actos do Chefe do Estado careciam de referenda
ministerial e o Governo era titular de amplos poderes legislativo, enquanto no plano
político, o Chefe da União Nacional não se apresentava às eleições presidenciais
mas reservava-se para as funções de Presidente do Conselho.

Quanto aos procedimentos de revisão constitucional, o texto constitucional


consagrava um procedimento geral de revisão em cujos termos a Assembleia
Nacional podia rever a Constituição no prazo de dez anos (artigo 133.º). A

Pá gina 17
Constituição poderia no entanto ser revista no âmbito de um procedimento
antecipado, cuja característica específica residia no encurtamento do prazo de
revisão para cinco anos, sendo neste caso exigido o voto favorável de 2/3 dos
Deputados para abertura do procedimento de revisão (idem, §1.º). A Constituição
poderia ainda ser revista no âmbito de um procedimento urgente, isto é,
desencadeado a qualquer momento, por iniciativa do Chefe do Estado “quando o
bem público imperiosamente o exigisse”, depois de ouvido o Conselho de Estado
(órgão consultivo do Chefe do Estado) e com a concordância do Governo
determinar que a Assembleia Nacional a eleger assumisse poderes de revisão
constitucional em matéria referenciadas no decreto presidencial (artigo 134.º).

A Constituição de 1933 foi objecto de sucessivas revisões constitucionais. Assim, a


revisão constitucional de 1935 permitiu aperfeiçoar alguns institutos do
corporativismo económico e social, introduzir novas regras de funcionamento da
Assembleia Nacional, incorporar o Acto Colonial na Constituição formal e indexar o
ensino público aos “princípios da doutrina e moral cristãs, tradicionais da nação”.

O objecto da revisão constitucional de 1937 esteve circunscrito à alteração de


alguns aspectos do funcionamento da Câmara Corporativa, enquanto na revisão
de 1938 foram alteradas algumas regras de funcionamento da Assembleia
Nacional.

Aquando da revisão constitucional de 1945, o número de Deputados à


Assembleia Nacional foi aumentado para cento e vinte (120) mas, em
compensação, as competências legislativas do Governo foram alargadas na medida
em que foi dispensado o requisito da autorização prévia, assim como dispensado foi
o pressuposto da situação “de urgência e necessidade pública”. O Governo passou
deste modo a ser um órgão legislativo ordinário a par da Assembleia Nacional.

A revisão constitucional de 1951 foi o momento de consagração da liberdade de


trabalho e do direito de solidariedade à saúde pública e ainda de reforço das
competências (consultivas) da Câmara Corporativa e da incorporação do estatuto
político das províncias ultramarinas na Constituição formal.

A revisão constitucional de 1959 foi aquela que provocou maior impacto no


sistema político na medida em que foi alterado o procedimento de designação do
Chefe do Estado que deixou de ser eleito por sufrágio universal e directo para
passar a ser eleito por um colégio restrito, composto pelos Deputados à Assembleia
Nacional e pelos Procuradores à Câmara Corporativa, em reunião conjunta. Ainda
no contexto desta revisão, o número de Deputados foi aumentado para cento e
trinta (130).

Pá gina 18
A revisão constitucional de 1971 (primavera marcellista) foi momento de
reforço dos direitos das pessoas em sede de garantias do processo criminal e do
recurso contencioso de actos administrativos, do reconhecimento da religião
católica como “a religião tradicional da Nação Portuguesa” e da adopção da forma
unitária de Estado.

1.4. A Constituição da República Portuguesa de 1976: génese e

revisões

O procedimento constituinte

O procedimento constituinte conheceu o seu termo inicial com a Revolução de 25


de Abril de 1974, revolução empreendida pelos militares mas, diversamente do
sucedido com a generalidade das revoluções militares do séc. XX, com intuito de
devolver o poder ao povo a curto prazo (JORGE MIRANDA).

A Junta de Salvação Nacional veio sobrepor-se à Comissão Coordenadora do


Movimento das Forças Armadas que havia dirigido o processo revolucionário e
providenciou a aprovação de várias leis constitucionais destinadas a regular a vida
política portuguesa até à aprovação de uma nova Constituição. Neste contexto,
importa mencionar os seguintes diplomas pela sua relevância no desenvolvimento
do procedimento constituinte.

A Lei Constitucional n.º 3, de 14 de Maio de 1974, previa a eleição de uma


Assembleia Constituinte para elaborar uma nova Constituição Política e estabelecia
ainda que durante o período que mediava até à aprovação da mesma o poder seria
exercido pelos seguintes órgãos. O Presidente da República seria escolhido pela
Junta de Salvação Nacional de entre os seus membros. A Junta de Salvação
Nacional seria um órgão autoproclamado, portanto dotado de legitimidade
revolucionária, composta por sete (7) membros. O Conselho de Estado seria
composto pelos sete membros da Junta de Salvação Nacional, mais sete
representantes das Forças Armadas, mais sete civis nomeados pelo Presidente da
República e estaria incumbido de exercer os poderes constituintes até à eleição da
assembleia, definir as linhas gerais da política do Governo e aprovar os decretos-lei
propostos por este. O Governo seria nomeado pelo Presidente da República e
ficaria incumbido das funções política, legislativa e administrativa, com excepção da
administração militar porque os assuntos militares estavam confiados ao Conselho
de Chefes dos Estados-Maiores das Forças Armadas que seria competente para
aprovar decretos-lei, sendo ao respectivo chefe reconhecida categoria equiparada à
de Primeiro-Ministro.

Pá gina 19
O golpe de Estado de 28 de Setembro de 1974 configurou uma reversão no
procedimento constituinte por afastamento das elites dirigentes, nomeadamente
dos órgãos de soberania revolucionários, dos objectivos iniciais consagrados no
Programa do Movimento das Forças Armadas. Uma facção radical do Movimento
das Forças Armadas, dominada pelo Comando Operacional do Continente
(COPCON) colocou termo à tentativa de adopção de algumas medidas cesaristas
pelo Presidente da República em funções, General António Spínola, como a
realização imediata de uma eleição para o Presidente da República por sufrágio
directo universal e secreto, cujo decreto-lei não foi aprovado pelo Conselho de
Estado. O General Spínola, sentindo o golpe palaciano dos seus pares renunciou ao
cargo de Presidente da Republica e a Junta de Salvação Nacional, agora reduzida a
três vogais, designou o General Francisco da Costa Gomes, chefe do Estado Maior
das Forças Armadas, para Presidente da República interino.

As primeiras leis eleitorais (matéria constitucional por excelência) foram


positivadas nos Decretos-lei n.º 621-A/74 e 621-B/74, ambos de 15 de Novembro,
regulando o primeiro a capacidade eleitoral, activa e passiva, para as eleições de
deputados à Assembleia Constituinte e o recenseamento eleitoral, enquanto a
segunda estabelecia um conjunto de inelegibilidades, quer simultâneas (cidadãos
que naquele momento eram titulares de órgãos do poder político ou das forças
armadas), quer sucessivas (cidadãos que haviam exercido cargos públicos durante
o Estado Novo).

A Lei Constitucional n.º 5, de 14 de Março de 1975, aprovada na sequência do


golpe militar de 11 de Março de 1975, que representou a vitória de uma facção
mais radical do Movimento das Forças Armadas vem institucionalizar a estrutura
militar ao nível dos órgãos de soberania. Assim, foi criado o Conselho da
Revolução que substituiu a Junta de Salvação Nacional, o Conselho de Estado, a
Comissão Coordenadora do Movimento das Forças Armadas e o Conselho de Chefes
de Estado-Maior e era composto por vinte e quatro (24) membros, passando a
democracia portuguesa a ficar na sombra de espadas (MAURICE DUVERGER).

O recém instituído Conselho da Revolução apressou-se a impor aos partidos


políticos candidatos às eleições para a Assembleia Constituinte condições para
aprovação da Constituição. As condições impostas pelo Conselho da Revolução
foram subscritas pelos partidos políticos num documento denominado Plataforma
de Acordo Constitucional (vulgo, Pacto MFA / Partidos Políticos) mediante o qual se
comprometeram a consagrar no texto constitucional objectivos de ordem
programática no sentido da construção de uma sociedade socialista e um sistema
de organização do poder político que contemplasse a continuidade do Conselho da

Pá gina 20
Revolução em funções até ao momento em que (no entendimento do próprio
Conselho da Revolução) estivessem consolidadas todas as conquistas
revolucionárias, a existência de uma Assembleia do Movimento das Forças Armadas
que representava as bases militares, enquanto o Conselho da Revolução
representaria as elites, e a eleição do Presidente da República por um colégio
eleitoral composto pela Assembleia Legislativa (eleita democraticamente pelos
cidadãos) e a Assembleia do Movimento das Forças Armadas (composta por igual
número de deputados que a Assembleia Legislativa e cuja função se circunscreveria
a esta competência eleitoral, assegurando assim a eleição de um militar para o
cargo de Presidente da República).

A Assembleia Constituinte foi eleita em 25 de Abril de 1975, logrando eleger


deputados o Centro Democrático e Social (CDS), o Movimento Democrático
Português (MDP/CDE), o Partido Comunista Português (PCP), o Partido Socialista
(PS), o Partido Popular Democrático (PPD) e a União Democrática Popular (UDP).
Os projectos de Constituição apresentados pelos partidos políticos (todos os
partidos representados na Assembleia Constituinte apresentaram o seu projecto de
Constituição) divergiam entre si apenas em sede de direitos fundamentais e de
organização económica, visto que as disposições referentes à organização do poder
político estavam condicionadas pelo disposto no pacto celebrado com o MFA.

O golpe de 25 de Novembro de 1975 teve como antecessor o Documento dos Nove,


em cujos termos um grupo de nove oficiais das Forças Armadas, discordantes da
orientação governativa, declarou “recusar o modelo de sociedade socialista de tipo
europeu oriental”. O grupo dos nove saiu vencedor do golpe militar de 25 de
Novembro e os partidos políticos encontrar a conjuntura favorável para
desencadear negociações com vista à revisão do Pacto celebrado com o MFA.

A segunda Plataforma de Acordo Constitucional foi assinada em 26 de Fevereiro de


1976 e previa as seguintes alterações à sua antecessora: eleição do Presidente da
República por sufrágio universal, supressão da Assembleia do Movimento das
Forças Armadas, fixação da composição do Conselho da Revolução e circunscrição
das suas funções (neste contexto foi prevista a criação de uma Comissão
Constitucional incumbida de assessorar o Conselho da Revolução em sede de
apreciação da constitucionalidade), definição da responsabilidade política do
Governo, supressão da reserva de iniciativa de revisão constitucional ao Conselho
da Revolução e fixação do período de transição em quatro anos.

A revisão constitucional de 1982

A Assembleia da República estava investida de poderes de revisão constitucional


desde 15 de Outubro de 1980 (cfr. artigos 286.º/1 e 299.º/1 do texto inicial da

Pá gina 21
Constituição). O termo inicial do procedimento de revisão constitucional foi o
projecto da Associação Social Democrata Independente (ASDI) apresentado em 23
de Abril de 1981 (entretanto retirado por a ASDI haver subscrito o projecto da
FRS), enquanto a votação final global, realizada em 12 de Agosto de 1982, foi o seu
termo final. Além deste partido, apresentaram projectos de revisão constitucional, a
Aliança Democrática (AD), a Frente Republicana e Socialista (FRS), o Movimento
Democrático Português (MDP/CDE) e o Partido Comunista Português (PCP).

Verificam-se duas tendências opostas quanto ao equilíbrio de forças entre os órgãos


de soberania no âmbito dos quatro projectos de revisão constitucional apresentados
(e não retirados). Assim, por um lado, os projectos da AD e da FRS propunham,
ainda que em moldes diferentes, uma atenuação da componente presidencial do
sistema de governo. A causa próxima desta posição residiu em motivos de ordem
conjuntural: o General Ramalho Eanes havia sido adversário eleitoral da AD nas
eleições presidenciais e, embora houvesse sido apoiado pelo PS, não lograra o
apoio pessoal do Dr. Mário Soares… Por outro lado, os projectos de revisão
constitucional do MDP/CDE e do PC defendiam a conveniência política de reforçar a
posição do então Presidente da República em prejuízo da maioria parlamentar
existente ao momento.

A parte da Constituição mais alterada nesta revisão constitucional foi a Parte III,
respeitante à organização do poder político, com a extinção do Conselho da
Revolução e a consequente redistribuição das suas competências pelos demais
órgãos de soberania. Neste contexto, as competências do Conselho da Revolução
como conselho do Presidente da República foram confiadas ao então instituído
Conselho de Estado (órgão constitucional mas não órgão de soberania) e à
Assembleia da República (autorizar e confirmar a declaração do estado de sítio e do
Estado de emergência, testemunhar a tomada de posse do Presidente da República,
promover o processo de acusação contra o PR por crimes praticados no exercício
das suas funções). Por seu turno, as competências políticas e legislativas em
matéria militar foram distribuídas pelo próprio PR (presidir ao Conselho Superior de
Defesa Nacional e nomear e exonerar as altas chefias militares, embora neste
último caso, sob proposta do Governo), pela Assembleia da República (aprovar as
leis e as convenções internacionais em matéria militar) e pelo Governo (dirigir a
Administração militar). Por último, as competências de fiscalização da
constitucionalidade foram confiadas a um novo órgão de soberania, o Tribunal
Constitucional.

As relações entre os vários órgãos de soberania ficaram configuradas do seguinte


modo: o PR que anteriormente necessitava do acordo do Conselho da Revolução

Pá gina 22
para dissolver a AR, passou poder exercer livremente essa competência (o parecer
do CE não é vinculativo) com sujeição apenas aos limites temporais e
circunstanciais mas, em contra-partida, o Governo (aparentemente) deixa de estar
dependente da confiança política do PR.

Considerando este novo quadro de relações institucionais importa averiguar se o


sistema de governo português continuou semi-presidencial (ou misto parlamentar-
presidencial?): JORGE MIRANDA e MARCELO REBELO DE SOUSA entendem que
sim, enquanto ANDRÉ GONÇALVES PEREIRA sustenta que o sistema de governo
passou a parlamentar.

A revisão constitucional de 1989

A Assembleia da República estava investida de poderes de revisão constitucional a


partir de 30 de Setembro de 1987 (cfr. artigo 286.º). O procedimento de revisão
constitucional decorreu entre 17 de Outubro de 1987 (apresentação do projecto do
CDS) e 8 de Julho de 1989 (votação final global da Lei Constitucional n.º 1/89).
Contudo, o impulso decisivo para a revisão constitucional foi dado com o acordo de
Revisão Constitucional celebrado entre Partido Social Democrata (PPD/PSD) e
Partido Socialista (PS) celebrado em 14 de Outubro de 1988.

A parte da Constituição mais alterada nesta revisão constitucional foi a Parte II,
denominada organização económica porque havia necessidade de alterar a matriz
colectivista das estruturas de produção por força dos compromissos a que o Estado
português se havia vinculado aquando da adesão à então Comunidade Económica
Europeia. Assim, na sequência do acordado entre PPD/PSD e PS, foi abolido o
princípio da irreversibilidade das nacionalizações e consagrada a obrigatoriedade de
aprovação de uma lei-quadro das privatizações vinculada a princípios consagrados
em norma constitucional transitória, foram redefinidos os sectores de propriedade
dos meios de produção, a regulação do planeamento da economia foi simplificada
em conformidade com o princípio da economia de mercado, deixando a Constituição
de mencionar a força jurídica dos planos na medida em que estes passaram a estar
articulados com o programa do Governo, foi criado o Conselho Económico e Social e
por último o título referente à reforma agrária foi substituído por outro de maior
abrangência, denominado política agrícola, comercial e industrial.

Além destas matérias, importa ainda destacar na Parte III da Constituição a criação
da Alta Autoridade para a Comunicação Social, a consagração do instituto do
referendo a nível nacional, a redução do número de deputado para um intervalo
entre 230, mínimo, e 250, máximo, a criação de um novo tipo de leis, as leis
orgânicas e o acolhimento de instrumentos e formas não jurisdicionais de
composição de conflitos.

Pá gina 23
A revisão constitucional de 1992

A revisão constitucional de 1992 foi uma revisão extraordinária destinada a permitir


a ratificação do Acto Único Europeu pelo Estado português e por esse motivo foi
minimalista. Assim, em sede de relações internacionais, passou a consentir o
exercício em comum de poderes soberanos (artigo 7.º/6). Por outro lado, em
matéria de organização económica, foram alteradas as competências do Banco de
Portugal por forma a permitir a sua integração no Sistema Europeu de Bancos
Centrais e, posteriormente, a adesão de Portugal à moeda única (artigo 105.º) e,
por último, foram alterados os prazos para a revisão constitucional ordinária (artigo
284.º/1) com intuito de não atrasar a revisão constitucional ordinária seguinte.

A revisão constitucional de 1997

As alterações introduzidas aquando da revisão constitucional de 1997 estiveram


dispersas pelas quatro partes da Constituição sem se centrarem em qualquer
núcleo (diversamente do sucedido nas duas revisões ordinárias anteriores). Neste
contexto, importa mencionar: a consagração de novos direitos fundamentais,
direito geral de personalidade e introdução de limites à manipulação genética, e
aperfeiçoamento de regras para o exercício dos mesmos, alargamento do direito de
voto na eleição presidencial aos emigrantes, consagração da iniciativa legislativa e
referendária popular e alargamento do núcleo de matérias susceptíveis de serem
objecto de referendo, reforço das competências da Assembleia da República no
âmbito da integração europeia, supressão parcial do regime jurídico dos planos
económicos, flexibilização do sistema de governo municipal (remetido para lei
ordinária…) e desconstitucionalização do serviço militar obrigatório (continuou
obrigatório por força da lei ordinária).

A revisão constitucional de 2001

A revisão constitucional de 2001 foi uma revisão extraordinária destinada a permitir


a ratificação do Estatuto do Tribunal Penal Internacional (cfr. artigo 7.º/7); contudo
foram introduzidas outras alterações como a consagração do Português como língua
oficial (artigo 11.º, n.º 3), o alargamento dos direitos políticos dos cidadãos dos
Estados de língua portuguesa e a permissão do sindicalismo policial (sem que no
entanto haja sido reconhecido o direito à greve às forças militares nem sequer
militarizadas).

A revisão constitucional de 2004

A revisão constitucional de 2004 permitiu a regulação das relações entre o Direito


português e o Direito da União Europeia (artigo 8.º/3 e 4), a (re)regulação da
liberdade de imprensa com a extinção da Alta Autoridade para a Comunicação

Pá gina 24
Social e a imposição ao legislador ordinário do dever de criação de uma Entidade
Reguladora da Comunicação Social incumbida de assegurar os objectivos definidos
na Constituição em sede de meios de comunicação social (artigo 39.º), a limitação
republicana do exercício de cargos públicos (artigo 118.º/2) e o alargamento dos
poderes das regiões autónomas (artigo 226.º e ss.).

A revisão constitucional de 2005

A revisão constitucional de 2005 foi uma revisão constitucional extraordinária


destinada a permitir a submissão a referendo dos tratados a que o Estado
português se vincular no âmbito da construção europeia (artigo 295.º).

2. As instituições políticas e constitucionais

2.1. A pessoa humana

Constituição de 1976 é o resultado das tradições anteriores reflectindo a junção de


todas elas, consagrando:

• Direitos da Pessoa Humana

• Estado

• Constituição

Estes são os pilares do constitucionalismo

- A primeira vocação são as pessoas e por isso consagram direitos. Direitos


subjectivos, ligados directamente à dignidade humana.

Direitos Fundamentais – são aqueles que estão directamente ligados à dignidade


humana (direito à vida, direito à integridade física). Há outros direitos subjectivos,
mas não fundamentais.

- Estudos de Direito estão mais focados no Estado – formas de organização


diferentes, ao longo dos séculos.

- Estado é uma forma de centralização dentro da sociedade – poder do rei em


relação aos poderes feudais. Também se formou pela libertação da tutela do Papa e
do Imperador.

- Estado define-se como comunidade composta por um povo, que se


apropria de um território e impõem por autoridade própria os mecanismos
necessários à vida em sociedade. – Definição de Freitas do Amaral.

Elemento Humano – Povo

Pá gina 25
Corresponde ao conjunto de pessoas que relativamente a uma determinada
estrutura estadual, apresentam com a mesma um laço de vinculação jurídico-
política, que tem o nome de cidadania.

Cidadania – corresponde ao conjunto de cidadãos de um Estado que toma, por


isso, o substantivo colectivo de povo.

População – conjunto de residentes num determinado período de tempo num


país/Estado. Engloba os estrangeiros.

Nação – sentimento de pertença a um determinado povo; laço sociopsicológico que


une pessoas em volta de uma determinada comunidade – laços: étnicos, religiosos,
culturais, etc.

Pátria – lugar onde viviam os nossos antepassados.

Nacionalidade (stricto sensu) – para pessoas colectivas ou bens registáveis


como aeronaves e navios; qualidade atribuída a pessoas colectivas ou a bens
móveis registáveis que os associa a uma determinada ordem jurídica.

Alguns domínios da relevância do substrato humano na organização estadual:

 Na escolha dos governantes


 No desempenho dos cargos públicos
 Na definição das prestações sociais

No cumprimento de alguns deveres fundamentais

2.2. O Estado

Estado

 Estrutura jurídica com personalidade


 Exerce um poder político soberano em nome de alguém
 Elemento político
 Elemento territorial

O Estado é a estrutura juridicamente personalizada, que num dado território exerce


um poder político soberano, em nome da comunidade de cidadãos que ao mesmo
se vincula.

Elementos do Estado

 Elemento humano – povo


 Elemento funcional – soberania
 Elemento espacial – território

Pá gina 26
Noção de Estado - Segundo Freitas do Amaral tem que existir três condições
cumulativas para haver “Estado”:

Povo, território e poder político

Constituição, Sociedade e Estado

Uma das dúvidas metódicas do constitucionalismo consiste em saber se a


Constituição se reporta preferencialmente à Sociedade (Comunidade humana) ou
ao Estado (Comunidade organizada). Assim, num primeiro momento (subsequente
às revoluções liberais), o pensamento de autores liberais como JOHN LOCKE,
CHARLES DE MONTESQUIEU, ou J. J. ROUSSEAU encontrou acolhimento no artigo
16.º da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão que estabelece o
seguinte: “sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos, nem
estabelecida a separação dos poderes não tem Constituição”.

Já num segundo momento do constitucionalismo (a partir do início do séc. XIX),


assistimos, por um lado, a uma evolução do conceito na medida em que a Lei
Fundamental passou a “constituir”, isto é, a Constituição Americana criou ex-novo
os Estados Unidos da América, enquanto a Constituição Francesa criou o Estado-
Nação dos franceses e, por outro lado, o Estado Liberal (de legalidade) foi
estruturado com alicerce no binómio Estado / Sociedade (civil), cujos termos são
considerados por natureza antagónicos e, neste contexto, o Direito público estava
reportado ao Estado, enquanto o Direito privado estava reportado à Sociedade.

O momento actual é de amadurecimento e, em certo sentido, de reforma das


instituições jurídicas e políticas da modernidade (que os autores vêem
denominando por pós-modernidade) e é tempo de conciliação entre a concepção
originária ou societária e a concepção tardio-liberal ou estatista de Constituição.

A dúvida metódica suscitada revelou a existência de outro conceito do movimento


constitucional, o Estado, pelo que será legítimo o quesito: que coisa é o Estado
(GOMES CANOTILHO)?

Neste contexto, o Estado consiste num modelo histórico de organização das


comunidades humanas, caracterizado pela cidadania, pela territorialidade e pela
soberania. Consiste especificamente no modelo historicamente emergente da Paz
de Westefália, que consubstanciou o armistício da Guerra dos Trinta Anos, e
conheceu um primeiro momento de Estado absoluto, em que o poder político (dos
monarcas europeus) estava imune ao Direito, antes de ser transmutado, por acção
das revoluções liberais, num Estado Constitucional, isto é, num Estado com as
qualidades (GOMES CANTOTILHO) de Estado de Direito e de Estado Democrático.

Pá gina 27
O conceito de Estado de Direito, à semelhança do sucedido com o movimento
constitucional, foi concebido e gerado em várias latitudes: Rule of Law, Etat légal e
Rechetsstaat. As características basilares do Rule of Law (Reino Unido e Estados
Unidos da América) são o due process, a superioridade das leis e dos costumes
(common law) sobre o poder régio e a subordinação do executivo ao parlamento.

A pedra de toque do Etat légal, por seu turno, consiste na estruturação de uma
ordem jurídica hierarquizada da cúpula para a base do seguinte modo: Déclaration
de Droits de L’Homme et du Citoyen (fonte de Direito supra e pré constitucional),
Constituição e Lei de modo a que as fontes de Direito situadas num escalão
superior desta cadeia hierárquica limitam progressivamente as fontes situadas num
escalão inferior e consequentemente o poder de actuação dos seus autores.

A premissa do Rechetsstaat, por último, reporta-se à limitação do Estado


(monarca) pelo Direito (parlamento) com fundamento teórico no reconhecimento
de uma dualidade de soberanias própria do constitucionalismo da restauração.

O conceito de Estado democrático, por seu turno, identifica uma ordem de


domínio legitimada pelo povo, no sentido de conjunto dos cidadãos, que configura o
princípio da soberania popular.

A conciliação entre as duas componentes do Estado constitucional é possível e


desejável na medida em que o princípio do Estado democrático define a titularidade
do poder político, enquanto o Estado de Direito define o modo de actuação e os
limites do titular do poder. Concretizando, a democracia responde à questão de
saber quem deve exercer o poder político, enquanto o liberalismo responde à
questão de saber como pode actuar, e dentro de que limites, a pessoa que exerce o
poder (ORTEGA Y GASSET).

2.2.1. O Estado: conceito e elementos

Povo: elemento humano de um Estado.

Conjunto pessoas ligadas por especial vínculo jurídico a um país, não confundir com
população que é o conjunto de pessoas a habitar um determinado território.

O povo Português é todo o cidadão que habita em Portugal e todos os emigrantes


de nacionalidade Portuguesa.

Território: Estrutura física onde assenta o Estado. “Um espaço de soberania


estadual” parcela de território onde o Estado exerce o seu poder (Território
Português é constituído por Portugal Continental e Portugal Insular).

Segundo Jorge Miranda o território é relevante nos seguintes aspectos:

Pá gina 28
a)O território define o âmbito espacial da soberania de um Estado

b)O território é que define a amplitude do que a cada Estado é licito exercer sobre
as pessoas

c)Os cidadãos só podem beneficiar da plenitude da protecção do Estado dentro do


território deste. (Ex: aplicação da pena de morte; um cidadão Português pode ser
condenado a tal se no país onde cometer o crime tal for previsto pela lei desse
mesmo Estado)

d)Possibilidade de cada Estado no seu território excluir poderes concorrenciais de


outro Estado. Ex: impostos; nenhum Estado pode tributar em Portugal além do
próprio.

Nota: Certos autores defendem a existência de certos Estados mesmo sem terem
um território definido, sendo o melhor exemplo o caso da Palestina.

Poder Politico - É a capacidade das entidades governativas fazerem impor e


acatar as suas decisões. Sem esta capacidade não existe Estado.

Ex: Guerra Civil dos E.U.A; Proibição da escravatura decretada por Washington e
que alguns Estados Sulistas não acataram, sendo o conceito de Estado posto em
causa.

Segundo Diogo Freitas do Amaral o Estado enquanto pessoa colectiva que tendo
uma unidade de povo, território e poder político actua com independência e
autonomia face a outros Estados.

2.2.2. Os fins e as funções do Estado

Fins de Estado:

- Segurança

 Externa: Garantir a independência e a segurança do Estado perante


ameaças externas (Exército).
 Interna: Cabe ao Estado garantir a ordem e a tranquilidade pública (Polícia)
bem como a protecção contra calamidades naturais (bombeiros, protecção
civil…)

- Justiça - Definido como a intervenção do Estado contra o arbítrio da violência


individual (Marcelo Caetano).

 Conflitos entre cidadãos devem ser resolvidos pelo Estado.


 Proibição de qualquer privatização da Justiça.

Pá gina 29
- Bem-estar – Função do Estado de garantir o bem-estar dos seus cidadãos. Este
bem-estar deve ser não só material mas também imaterial. Deve ser um bem-estar
económico mas também cultural, espiritual (art. 58º a 79º C.R.P.).

John Rawls define: “o bem-estar da sociedade deve ser encontrado no ponto de


equilíbrio entre a identidade de interesses e o conflito de interesses que sempre
existem em qualquer sociedade”.

Em sociedade há sempre identidade de interesses, há sempre uma


interdependência entre cidadãos. Existe também conflitos de interesses. Diz
respeito a como os benefícios são produzidos e distribuídos. Por natureza o
indivíduo tem relutância em partilhar os benefícios.

Pode-se então identificar 4 funções de Estado (poderes)

Poder Legislativo: Poder de criar normas de Direito com carácter geral e


abstracto ou seja o poder de criar normas aplicáveis a todas as situações e a todas
as pessoas.

Poder de criar leis (A.R) e decretos-lei (Governo)

Poder Judicial: Poder e a prorrogativa de aplicação do Direito a situações


específicas e concretas. Poder conferido aos tribunais

Poder Executivo/Administrativo: execução material (de fato) das políticas


indevidas definidas pela Assembleia ou pelo Governo.

Poder Político: Poder de definir o que é o interesse geral da comunidade e quais


são as grandes opções que devem ser tomadas. (este poder não é aceite por todos
os autores).

2.3. A Constituição

O que é uma Constituição? A resposta a este quesito afigura-se essencial, na


medida em que toda a gente, em todos os locais, fala acerca da Constituição mas,
no entanto, não consegue identificar a essência do conceito (FERDINAND LASSALE)

A Constituição no sentido moderno do termo consiste numa ideia de ordenação


sistemática e racional da comunidade humana consubstanciada num documento
escrito em cujos termos estão reconhecidos os direitos fundamentais da pessoa
humana e está consagrado um modelo de organização do poder político,
nomeadamente a fundação, o fundamento e o fundamental da sua acção e limites.

O Direito Constitucional, como conjunto de normas jurídicas incidentes sobre a


matéria constitucional é, de igual modo, com bastante frequência, mesmo no

Pá gina 30
contexto escolar, definido em termos insuficientes ou mesmo incorrectos (JEAN
RIVERO), pelo que importa aclarar os contornos materiais deste ramo de Direito.

Assim, o Direito Constitucional, ramo de Direito público positivado numa


Constituição, define (conceito de Direito Constitucional) a fundação, o fundamento
e o fundamental do Estado de Direito democrático. O artigo 16.º Déclaration de
Droits de l’Homme et du Citoyen configura como núcleos históricos da matéria
constitucional (conteúdo ou quintessência do Direito Constitucional), os direitos
fundamentais da pessoa humana e organização do poder político (segundo um
modelo que contemple a separação de poderes).

A nossa Constituição como Constituição de compromisso.

“ A nossa Constituição tem contribuição de quase todos os partidos políticos que


estavam representados na Assembleia Constituinte.”

Uma constituição garantia: tem um elenco extenso e detalhado de garantias para o


cidadão, escritas na Constituição.

“Estatuição de Direitos, liberdades e garantias dos cidadãos; Art.24º e seguintes da


CRP

1ª Revisão Constitucional (1982)

Foi aprovada pela Lei Constitucional nº1/82 publicada a 12 de Agosto.

Foi sobretudo uma revisão de cariz político

Principais alterações promovidas:

- Redução das expressões ideológicas que constavam da 1ª versão da Constituição


de 1976, na tentativa de eliminar casos expressos ideológicos conotados com uma
determinada ideologia política

- A eliminação do Conselho da Revolução havendo a posterior necessidade de


redistribuição de poderes. Alguns atribuídos ao Presidente da República e outros
atribuídos a novos órgãos então criados:

 Tribunal Constitucional que herdou as competências de fiscalização


 Conselho de Estado – órgão consultivo que funciona junto ao Presidente da
República

- Alguns Direitos fundamentais foram aperfeiçoados. Houve uma reformulação da


estatuição dos Direitos fundamentais

2ª Revisão Constitucional (1989)

Foi aprovada pela Lei Constitucional nº1/89 publicada a 8 de Julho

Pá gina 31
Foi sobretudo uma revisão de cariz económico – Alterações produzidas sobretudo
na Constituição Económica.

A alteração mais significativa foi a extinção da irreversibilidade das nacionalizações.

Após o 25 de Abril de 1974 assistiu-se a um processo de nacionalizações que


passou por uma transição do sector privado para o sector público, transposição
essa que foi forçada/unilateral. (bancos e seguradoras tinham sido todos
nacionalizados). Permitiu na prática a privatização de muitas empresas que tinham
sido nacionalizadas. Esta revisão permitiu a liberalização da economia que
prosseguiu e prossegue até ao dia de hoje.

A introdução da figura do referendo: pronunciação directa da população sobre uma


questão específica. Tem carácter vinculativo.

3ª Revisão Constitucional (1992)

Foi aprovada pela Lei Constitucional nº1/92 publicada a 25 de Novembro

Teve como objectivo único alterar a Constituição para a adaptar ao tratado de


Maastricht

- Esta adesão ao Tratado implicou a futura abdicação por parte de Portugal da sua
moeda em detrimento do Euro

- Retirada a exclusividade do Banco de Portugal de emissão de escudos

- Término da utilização do escudo como moeda oficial de Portugal

Houve ainda um aditamento do nº 6 ao art. 7º da CRP e do nº5 ao art.15º da CRP

4ª Revisão Constitucional (1997)

Foi aprovada pela Lei Constitucional nº1/97 de 20 de Setembro

Não teve nenhuma temática em particular, mas sim um conjunto de alterações


avulsas sem grande unidade que o legislador entendeu como úteis.

- Aumento de poder das regiões autónomas

- Aumento da democracia participativa: permitiu por exemplo candidaturas


individuais a eleições locais; garantiu uma participação dos cidadãos na elaboração
dos planos municipais

- Aumento das matérias que exigem uma maioria qualificada para a sua aprovação

 Maioria qualificada: 3/4 ou 4/5 dos deputados


 Maioria simples: 1/2 +1

5ª Revisão Constitucional (2001)

Pá gina 32
Foi aprovada pela Lei Constitucional nº1/2001 de 12 de Dezembro

Aditamento ao art.7º, nº7, da CRP. Foi resultante de Portugal assinar o tratado de


vinculação do tribunal penal internacional (Roma, 17 de Julho 1998)

Permite assim a jurisdição do tribunal Penal Internacional em Portugal

- Consagração do Português como língua oficial

- Reconhecimento da Associação Sindical para as forças de segurança: art.270º


CRP

- Eliminação às restrições da inviolabilidade do domicílio em horário nocturno


(buscas, etc.)

6ª Revisão Constitucional (2004)

Foi aprovada pela Lei Constitucional nº1/2004 de 24 de Julho

A mais importante alteração foi a do art.118º,nº2, que permitiu a limitação de


mandatos de cargos políticos, a ser concretizada em lei.

7ª Revisão Constitucional (2005)

Única alteração foi a criação do art.295º: criou a possibilidade de referendo sobre a


aprovação de tratado que vise a construção e o aprofundamento da União Europeia.

Parte II

A Constituição da República Portuguesa de 1976

3. A sistematização e os princípios fundamentais

3.1. A sistematização da Constituição da República Portuguesa

- Art.1º a 11º - Princípios fundamentais (aplicáveis a toda a constituição, exprimem


a ideologia constitucional)

- Art.12º a 79º - Direitos fundamentais (sistematizados em razão da matéria)

- Art.80º a 107º - Organização económica

- Art.108º a 201º- Organização do Poder político (organização do poder politico)

- Art.202 a 224º - Estatuto e organização dos órgãos judiciais (organização do


poder politico)

- Art.225º a 234º - Regiões autónomas (organização do poder politico)

- Art.235º a 272º - Poder local (organização do poder politico)

- Art.273º a 276º -Defesa Nacional (organização do poder politico)

Pá gina 33
- Art.277º a 289º - Garantia e revisão da Constituição

- Art.290º a 296º - Disposições finais e transitórias

3.2. Os princípios constitucionais

As normas e os princípios constitucionais

As normas constitucionais, como qualquer norma jurídica, por definição, são


comandos gerais e abstractos, enquanto os princípios constitucionais
compreendem um grau de abstracção e de generalidade ainda mais elevado. Os
princípios configuram assim enunciados constitucionais mais concentrados (ou
menos densos) que as normas.

As normas constitucionais são passíveis de classificação, quanto ao objecto, em


normas substantivas, aquelas que estabelecem modelos organizatórios,
procedimentos decisórios e direitos e deveres das pessoas, e normas adjectivas,
que são a garantia do cumprimento das primeiras, nomeadamente pelos órgãos do
poder politico. Sendo que no âmbito das primeiras importa ainda distinguir entre
normas organizatórias ou de organização (que definem a formação, a composição e
a competência dos órgãos do poder político), normas procedimentais ou formais
(que definem a tramitação dos procedimentos decisórios e a forma que as decisões
finais carecem revestir) e normas materiais (que definem o conteúdo das relações
jurídico-políticas).

As normas constitucionais são passíveis de classificação, por outro lado, quanto à


sua relação com o tempo, em normas preceptivas, aquelas que acolhem
adquiridos constitucionais, e normas programáticas, aquelas que tem natureza
prospectiva, isto é que estabelecem a ligação entre o presente e o futuro mediante
a definição de programas de transformação da Sociedade, nos domínios económico,
social e cultural. Sendo que no âmbito do primeiro termo importa ainda distinguir,
em razão da sua eficácia, as normas exequíveis por si mesmas das normas não
exequíveis por si mesmas.

Quanto à respectiva natureza jurídica, para os autores jusnaturalistas os


princípios constitucionais são princípios de Direito Natural acolhidos no texto
constitucional, enquanto para os autores positivistas os princípios constitucionais
resultam de um processo de generalização ou concentração das normas jurídicas e
por isso dotados de um âmbito mais alargado. O que pensar sobre este assunto?

Quanto à sua relevância, encontramos na doutrina as teses da irrelevância, da


relevância indirecta e da normatividade plena. A Constituição da República

Pá gina 34
Portuguesa acolhe a tese da normatividade plena nos termos dos artigos 204.º e
277.º/1.

A interpretação das normas constitucionais

i) A interpretação das normas constitucionais segue os cânones gerais da


hermenêutica jurídica,

ii) As especificidades da interpretação da Constituição:

α) Princípio da unidade da Constituição: a interpretação de cada preceito


deve atender à lógica global da Constituição,

β) Princípio da interpretação de harmonia com a Declaração Universal dos


Direitos Humanos (artigo 16.º, n.º 2, CRP),

γ) Princípio da concordância prática: é necessário harmonizar os princípios


constitucionais por forma a maximizar cada um deles com o mínimo
sacrifício dos restantes,

δ) Princípio da correcção funcional: respeito pelo equilíbrio de poderes,

ε) Princípio da eficácia integrada: é necessário atender aos objectivos de


integração social e unidade política que suprajazem à Ordem Constitucional,

ζ) Princípio da máxima efectividade: rejeitar os entendimentos


empobrecedores da normatividade constitucional.

iii) interpretação constitucional v.s. interpretação conforme à Constituição,

Classificação de Constituições

i) Quanto às fontes do Direito Constitucional, podemos distinguir entre Constituição


em sentido material, Constituição em sentido formal e Constituição em sentido
documental; as hipóteses de coincidência entre estes dois últimos sentidos de
Constituição são as seguintes: (i) CF = CD, (ii) CF = várias CD simultâneas (v.g.
Constituição francesa de 1875) ou sucessivas (aditamentos e emendas à
Constituição americana) e (iii) CF = CD + normas recebidas formalmente (CRP).

ii) Quanto à concordância das normas constitucionais com a realidade dos factos é
possível distinguir entre Constituições normativas, Constituições nominais e
Constituições semânticas (KARL LOEWENSTEIN).

iii) Quanto à relação do poder político com a Sociedade Civil, é comum distinguir-se
entre Constituições estatutárias (orgânicas ou processuais) e Constituições
programáticas.

Pá gina 35
iv) Quanto ao quantum de ideologias que acolhe, podemos distinguir entre
Constituições simples e Constituições compromissórias.

v) Quanto à possibilidade de modificação, existem Constituições rígidas e


Constituições flexíveis; neste contexto, a rigidez constitucional assegura a
estabilidade do ordenamento jurídico, enquanto a flexibilidade assegura a
respectiva dinâmica (quando necessária).

3.2.1. Quanto à pessoa humana e à sua inserção social

Dignidade da Pessoa Humana

Entrou no mundo do Direito após 2ª Guerra Mundial deixando de ser uma realidade
extrajurídica.

ORIGENS:

1. Teoria da Dádiva/Dote – estóicos e Kant – dignidade humana é uma essência,


um valor absoluto com qualidade inata que é concedida ao indivíduo pelo Criador
ou pela natureza

2. Teoria da Prestação – Confúcio e Luhman – dignidade humana é uma


prestação individual (algo que cada indivíduo tem de realizar, pois só o homem
pode estabelecer o que ele é – dignidade humana é construída pelo homem que se
trabalha a si próprio para o ser)

3. Teoria do Conhecimento – Hasso Hofman – reconhece-se a humanidade uns


nos outros: categoria da co-humanidade protegendo a solidariedade entre
próximos.

4. Plano Constitucional -> Constituição Francesa 1946

POSITIVAÇÃO: art. 1º da CRP

CONCEITO: referência da representação do valor do ser humano – referência


que a pessoa tem de si e como se consegue realizar

CONTEÚDO: conceito filosoficamente dependente e com uma grandeza cultural


sujeita a diversas compreensões.

➢ A fórmula Kantiana dá uma orientação mas não define o conceito (sobreposição


indevida do filosófico ao jurídico)

➢ Melo Alex: não é dado directamente pela fórmula mas sim no seu “efeito
cascata” de princípios, subprincípios e regras – não tem conteúdo jurídico
autónomo. Ex: impede mudar de religião, ofende a dignidade da pessoa humana
mas o que viola é a integridade moral

Pá gina 36
FUNÇÕES: base do sistema constitucional como alicerce da CRP

➢ Função simbólica, instrumental (de interpretação e integração) e de proteção.

Igualdade

ORIGENS: Ética e filosofia, chegando ao constitucionalismo por Hobbes

➢ Concepção dos indivíduos como iguais, tanto no estado de natureza como no


posterior estado de sociedade

➢ Igualdade de todos perante a lei -> constitucionalismo das revoluções

➢ Tem sido enriquecido com a igual participação política

POSITIVAÇÃO: entra na Constituição histórica em 1822 e tem hoje sede no art.


13º da CRP 1976

➢ É transversal a toda a CRP – atravessa todas as matérias constitucionais a


começar pela ideia de dignidade da pessoa humana

CONCEITO: ligado à ideia de justiça – conceito multidimensional, comparativa e


racional (pressupõe sempre uma comparação)

➢ Apresenta-se na CRP como um dever do Estado e como uma presunção – da


ideia de que um tratamento igual será justo

➢ Exige um fundamento sempre que o Estado queira introduzir uma diferenciação


de tratamento

CONTEÚDO: segundo o TC abrange três dimensões – proibição do arbítrio;


proibição da discriminação (ilegitimidade de diferenciação com base em critérios
subjetivos); obrigação de diferenciação (tratar igual o que é igual, tratar diferente o
que é diferente)

➢ Igualdade como “prevalência da lei” – igualdade na aplicação da lei. Dirigido


ao julgador.

➢ Igualdade “perante a lei” – justificação suficiente para o tratamento desigual


das situações e inadmissibilidade de tratamentos diferenciados. Dirigido ao
legislador.

➢ Igualdade “através da lei” – visa a realização da igualdade material para


corrigir os abusos da liberdade individual. Dirigido ao legislador.

FUNÇÕES: TC fala em valor supremo.

➢ Melo Alex: princípio estruturante e critério de interpretação – exigência de


fundamento racional para as diferenciações de tratamento, desenvolvendo funções
heurísticas, instrumentais, promotoras e de controlo.

Pá gina 37
Proibição do Excesso = Proporcionalidade

Ideia que as actuações do Estado, para serem conformes ao Direito, têm de


obedecer a uma medida ajustada de justiça, equilíbrio e ponderação.

ORIGENS: Magna Carta de 1215 em que os impostos não podiam exceder os


limites do razoável – desenvolvido depois da 2ª Guerra Mundial como exportação
da Ciência Jurídica alemã

POSITIVAÇAO: sede no princípio do Estado de Direito (art. 2º)

CONCEITO: Actuações do Estado devem obedecer a uma justa medida, sob


pena de serem arbitrárias e de extravasarem dos limites dos Direito.

➢ Tem como equivalente a proibição do défice (deveres positivos de protecção e


promoção) – abaixo da justa medida de intervenção do Estado haverá ilicitude por
violação da proibição do défice.

CONTEÚDO: decompõe-se em diversas vertentes

➢ Adequação (idoneidade) – medidas a adoptar pelo Estado devem ser aptas e


idóneas para realizar o fim prosseguido.

➢ Necessidade (indispensabilidade) – deve recorrer-se ao meio menos restritivo


possível para atingir o fim.

➢ Proporcionalidade em sentido estrito (da ponderação da justa medida) – visa


o equilíbrio na relação entre a gravidade do sacrifício imposto e a importância do
fim visado, ponderando vantagens e desvantagens.

FUNÇÕES: directiva e racionalizadora da acção do Estado; protecção e controlo


relativamente à generalidade das actuações estatais.

3.2.1.1. O princípio da dignidade humana

“O Estado constitucional realiza a dignidade humana fazendo dos cidadãos sujeitos


da sua actuação” (PETER HÄBERLE, El Estado Constitucional, p. 171).

Manifestação material do princípio do Estado de Direito

Significa que a pessoa é colocada como o fim supremo do Estado e do Direito

Encontra nos direitos fundamentais a sua grande consagração

A dignidade humana como critério de fundamentação do Direito em geral, e dos


direitos fundamentais em particular, parte das características da:

- liberdade da pessoa

- racionalidade da pessoa

Pá gina 38
- do facto de a pessoa se encontrar inserida socialmente

- na busca do seu desenvolvimento pessoal

O ideal de justiça que o Direito Positivo deve alcançar acarreta que o desrespeito
daquele determine a desobrigação perante tal lei, assim considerada injusta

Nesta concepção de dignidade da pessoa humana, a pessoa que se torna o centro


da pauta de valores assume-se em quatro dimensões:

- é a pessoa concreta – e não o indivíduo abstracto do Liberalismo oitocentista – a


pessoa situada na História e não fora dela, vivendo no seu tempo e sentindo um
conjunto de necessidades de ordenação social

- é a pessoa solidária – a pessoa que está numa relação com os outros, com um
desejo constante de promoção social, em que o Direito está atento às
desigualdades reais (e não só da lei) através da consagração de direitos de
natureza social

- é a pessoa – fim – e não a pessoa - instrumento, a pessoa que se assume como


finalidade última do Direito e do Poder, que não pode ser secundarizada em nome
de bens colectivos que espezinhem a sua dignidade elementar

- é a pessoa – essência – e não a pessoa - existência, a pessoa como ser humano,


que postula sempre certos direitos, não se moldando ao sabor de conjunturas ou de
evoluções da vida, mais ou menos ocasionais

A vontade popular reside na dignidade da pessoa humana, é o facto de cada pessoa


humana ter dignidade que emerge o direito de tomar parte na vida pública

Uma sociedade fundada exclusivamente na força não deve denominar-se humana

As pessoas têm a mesma dignidade perante a lei.

A Constituição nunca habilita ou legitima um exercício da soberania popular


violador da dignidade humana: a democracia resulta do respeito pela dignidade
humana e está subordinada ao respeito por essa mesma dignidade

Artigo 1.º da CRP “Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da


pessoa humana…”

Artigo 26.º, n.º 2 da CRP “A lei estabelecerá garantias efectivas contra a obtenção
e utilização abusivas, ou contrárias à dignidade humana, de informações relativas
às pessoas e às famílias”

3.2.1.2. O princípio da liberdade

Pá gina 39
A liberdade de um homem “consiste [na possibilidade de] fazer tudo o que ele
considere conveniente para garantir a sua própria preservação, bem como a dos
outros, dentro dos limites autorizados pela lei natural” (JOHN LOCKE, Dois tratados
de direito civil, p. 317; cfr. ainda artigo 4.º DDHC) ou, noutra formulação, consiste
“[n]a autonomia da razão pessoal existente em cada ser humano e a sua
inviolabilidade na regência da sua própria conduta social. Equivale à
autodeterminação da pessoa na sociedade” (A. BARBOSA DE MELO, Democracia e
Utopia, p. 18).

3.2.1.3. O princípio da solidariedade

A solidariedade que etimologicamente significa interdependência de interesses,


neste contexto exprime “o sentido essencialmente dialógico e convivente do ser
humano e prescreve a [comunhão] de todas as pessoas no gozo das vantagens e
na partilha dos riscos produzidos pela vida em comunidade” (A. BARBOSA DE
MELO, Democracia e Utopia, p. 18) e representa “o desejável ponto de equilíbrio
entre a caridade cristã e a fraternidade revolucionária” (MARIO GIUSEPPE LOSANO,
La cuestión social y el solidarismo francés: actualidade de una antigua doctrina, p.
19).

3.2.2. Quanto à pessoa humana e à sua inserção política

3.2.2.1. O princípio da soberania nacional

Soberania popular ou soberania nacional?

Elemento funcional – a soberania

A soberania é o poder político exercido com supremacia (a nível interno – significa


que o Estado é a autoridade máxima ele determina os outros centros de poder, que
são sempre inferiores) e independência (a nível externo) sobre o povo contido num
território.

A soberania do Estado desdobra-se em:

 Soberania na ordem interna


 Soberania na ordem externa

3.2.2.2. O princípio democrático

A democracia, na definição clássica de Aristóteles, consiste no governo de todos por


todos. Assim, o princípio democrático, consagrado no artigo 2.º da Constituição da
República Portuguesa, implica a existência de uma relação de identidade entre o
titular da soberania, isto é, o povo (cfr. artigos 1.º, 2.º e 3.º, 1.ª parte; democracia
pressupõe soberania popular), e aquele que o exerce (cfr. idem, 2.ª parte). Neste

Pá gina 40
contexto, a soberania pode ser exercida pelo próprio povo (democracia directa),
pelos seus representantes (democracia representativa, cfr. artigo 10.º) ou pelos
representantes com a intervenção do povo em algumas decisões (democracia
participativa, cfr. artigo 2.º in fine e 10.º, n.º 1).

O princípio democrático, tal como consagrado na Constituição da República


Portuguesa, compreende o pluralismo de expressão (cfr. artigo 2.º e infra, Estado
de Direito v. Democracia).

Forma politica de governo / sistema de governo – modo como se organiza a relação


entre os governantes e os governados, ou seja, as relações entre o Estado – Poder
e o Estado - Sociedade

Dimensões matérias – a Constituição condicionou a legitimidade do domínio politico


à prossecução de determinados fins e à realização de determinados valores e
princípios

Dimensões organizativo – procedimentais – vinculou a legitimação do poder à


observância de determinadas regras e processos

Os dois grandes pólos que se podem conceber são:

- as ditaduras

- as democracias

“O Estado de Direito democrático é, em segundo lugar, um tipo de Estado social:


trata-se de uma manifestação mais exigente de Estado social – o Estado de Direito
democrático é um Estado social de Direito dotado de uma componente politica
democrática, pois visa implantar uma democracia politica, económica, social e
cultural, tendo como objectivo último, nos termos do artigo 1.º da Constituição, a
“construção de uma sociedade livre, justa e solidária” PAULO OTERO, Direito
Constitucional Português, Volume I, Identidade Constitucional, Almedina, Coimbra,
Março 2010, página 53

LINCOLN – “governo do povo, pelo povo e para o povo”

Em primeiro lugar, o princípio democrático acolhe os mais importantes postulados


da teoria democrática representativa (órgãos representativos, eleições periódicas,
pluralismo partidário, separação de poderes) e implica uma democracia
participativa, isto, é, a estruturação de processos que ofereçam aos cidadãos
efectivas possibilidades de aprender a democracia, participar nos processos de
decisão, exercer controlo crítico na divergência de opiniões – artigo 2.º, 9.º, 109.º
da CRP

Pá gina 41
A Constituição alicerçou a dimensão participativa como outra componente essencial
da democracia

O princípio democrático aponta, porém, no sentido constitucional, para um


processo de democratização extensivo a diferentes aspectos da vida económica,
social e cultural.

A Revisão de 1997 (4ª revisão constitucional) tornou explicita esta extensão aos
próprios partidos políticos exigindo a observância de regras democráticas na
formação dos órgãos dirigentes (artigo 57.º, n.º 5 da CRP).

O controlo da gestão (artigo 54.º, n.º 5 alínea b)), a gestão democrática das
escolas (artigo 77.º), a liberdade interna de imprensa (artigo 38.º, alínea a)), a
participação na administração local (artigo 233.º)

Podemos, assim, concluir que o princípio democrático é um principio informador do


Estado e da sociedade

Pode-se dividir, tendo em conta a relação entre os governados e os governantes:

• democracia representativa: caso em que os governantes mandam em nome do


povo e tem a sua confiança política

• democracia referendária: sendo pontualmente o povo a decidir directamente


questões de governação, com a força de um acto jurídico-público

• democracia participativa: situação em que o exercício de direitos políticos, que


formam a opinião pública, contribui, ainda que informalmente, para a limitação do
poder público e a sua democratização

3.2.2.3. O princípio republicano

Res publica (coisa comum)

Um modo de ver a caracterização do poder político estadual, como ele se define


num texto constitucional, é o da forma institucional de governo

- forma de governo – designa a configuração simbólica do poder público, na sua


simultânea relação como exercício dos cargos públicos, maxime da Chefia do
Estado, bem como com o fenómeno religioso

Não se refere tanto à repartição de poderes entre os diversos órgãos do Estado, ou


às relações destes com outros organismos infra-estaduais ou supra-estaduais

A presentação dicotómica das possíveis formas institucionais de governo entre


monarquia e a república

Pá gina 42
As formas republicanas de governo, surgiram com particular vigor no contexto do
Constitucionalismo.

“A república representa, na sua essência, a aceitação de que a Chefia do Estado


deve ser atribuída a um órgão, unipessoal ou colegial, que se mostre
democraticamente legitimado, mais contra a concepção monárquica da chefia do
Estado do que propriamente a favor de uma concepção estrita e certa da
representação dessa função estadual”

“A concepção republicana tem ainda associado, numa elaboração muito mais


recente e que surgiu como Constitucionalismo e o Liberalismo, um modo específico
de apreciar as relações entre o poder político e o fenómeno religioso, no sentido de
se consagrar um esquema de separação, assim se rejeitando modelos de fusão ou
identificação entre eles”

Está assim ínsito no republicanismo um programa de neutralidade religiosa do


poder político. A separação entre o poder político e as ordens religiosas tem como
consequência que as finalidades e as tarefas desenvolvidas pelo Estado não possam
ser influenciadas por indicações de natureza religiosa.

• ausência de uma religião oficial do Estado

• impossibilidade da interferência de qualquer das instâncias políticas nas decisões


de foro religioso, nem vice-versa

• princípio da neutralidade religiosa – o Estado não tem religião

• princípio do pluralismo religioso – o Estado convive com quaisquer religiões,


nenhuma podendo desconsiderar

O fundamento republicano encontra-se ainda intimamente associado ao principio


democrático:

- quanto à Chefia de Estado – a imposição de que ela deve ser atribuída a titulares
democraticamente designados, significa que o acesso a tal órgão fica aberto a todos
os cidadãos, não apenas àqueles, como sucede na monarquia, que nasceram em
“berço monárquico”

- quanto à relação entre o poder político e o fenómeno religioso – separação formal


entre o Estado e as ordens religiosas tem como pano de fundo o reconhecimento da
liberdade religiosa, sendo que o Estado não privilegiará nenhuma confissão religiosa
contra as restantes, assim se orientando com base num pluralismo social e
democrático

Pá gina 43
No caso do Direito Constitucional Português, o princípio concretiza-se logo pelo
facto de haver um Presidente da República, democraticamente legitimado com um
conjunto de competências constitucionais efectivas

A designação do Presidente da República é feita por eleição, para um mandato de


5anos. O Sistema eleitoral é maioritário mas em duas voltas

O Presidente da República dispõe de várias competências para a prática de actos


próprios e para a prática de actos relacionados com outros órgãos

O princípio republicano em Portugal encontra-se igualmente presente:

- nos princípios fundamentais – artigo 1.º e 2.º CRP; sem esquecer que os símbolos
do Estado Português são símbolos instituídos pela Revolução Republicana de 5 de
Outubro de 1910, sinais que exprimem o ideal republicano na sua configuração
inicial – as cores ver-rubrada Bandeira Nacional e a letra do Hino Nacional a
Portuguesa

- organização do poder político – principio da renovação – não há cargos vitalícios


(artigo 118.º CRP) (o único é o Conselho de Estado)

- na garantia da Constituição – a forma republicana do estado é um dos limites


materiais de revisão constitucional (artigo 288.º, alínea b) da CRP)

A outra dimensão do principio republicano no Estado Português corresponde à


aplicação do modelo de separação cooperativa entre o poder político e o fenómeno
religioso

- artigo 41.º da CRP

- artigo 43.º da CRP

- artigo 288 c) da CRP

- Lei da Liberdade Religiosa – Lei n.º 16/2001 de 22 de Junho

- Concordata entre Portugal e a Santa Sé assinada em 18 de Maio de 2005

Separação entre o poder politico e o fenómeno religioso, havendo impossibilidade


de identificação, ou fusão entre estas duas esferas da vida colectiva

3.2.2.4. O princípio do Estado de Direito

Juridicidade, constitucionalidade, direitos humanos, separação de poderes.

O princípio do Estado de Direito surge como um dos principais resultados do


Constitucionalismo e do Liberalismo, surge pois, com a preocupação de limitar o
poder político.

Pá gina 44
Anteriormente, o poder público era criado e executado livremente pelo monarca,
que concentrava em si todo o poder político e os seus momentos de criação,
execução e controlo

Num primeiro momento o Princípio do Estado de Direito foi uma simples construção
doutrinária, como objectivo de reprimir a arbitrariedade do poder monárquico
absoluto.

Surgiu com ROBERT VON MOHL, na década de trinta do século XIX.

O conceito doutrinário de Estado de Direito compreendia a limitação jurídica do


poder público segundo um conjunto de regras que se impunham externamente ao
próprio Estado

Contudo, nos dias de hoje, e após a evolução do conceito de Estado de Direito, é


difícil defini-lo com precisão, dada a complexidade que o mesmo foi tomando face
aos vários sistemas constitucionais

Uma ideia, todavia, mantém-se actual: a ideia de que a actuação do Estado, ou do


poder político em geral, longe de se desenvolver fora do Direito, se lhe devia
submeter

A evolução actual do princípio do Estado de Direito assenta num pluralismo de


elementos que caracterizam a ideia geral de que o poder público está submetido a
regras que disciplinam a sua actuação, limitada por padrões que não podem ser
voluntaristicamente manipulados pelo próprio poder público:

• dimensão material – é transcendente ao poder público, que se lhe impõe através


de valores que o próprio poder público não controla e não elabora, deve antes
obediência

• dimensão normativa – que se revela num particular arranjo do Ordenamento


Jurídico Estadual ao nível das fontes normativas, com uma função específica a
atribuir à Constituição

• dimensão organizatória – que exprime a necessidade de a limitação desse poder


público agir através de uma sua específica distribuição pelos órgãos públicos

Os textos constitucionais vão, assim, consagrando nas suas respectivas partes


introdutórias o Princípio do Estado de Direito.

O Estado de Direito, após ter sido acolhido noutros textos constitucionais, chegou a
Portugal, encontrando-se consagrado na Constituição da República Portuguesa.

Pá gina 45
• A importância deste princípio é expressamente indicada logo no preâmbulo da
nossa Lei Fundamental, sendo confirmada na introdução do texto e concretizada em
várias disposições:

Ex: Preâmbulo: “A Assembleia Constituinte afirma a decisão do povo português (…)


de assegurar o primado do Estado de Direito Democrático…”

Artigo 2.º da CRP “A República Portuguesa é um Estado de Direito Democrático…”

“O princípio do estado de direito é, fundamentalmente, um princípio constitutivo, de


natureza material, procedimental e formal (…), que visa dar resposta ao problema
do conteúdo, extensão e modo de proceder da actividade do estado. Ao «decidir-
se» por um estado de direito a constituição visa conformar as estruturas do poder
político e a organização da sociedade segundo a medida do direito. (…) O direito
compreende-se como um meio de ordenação racional e vinculativa de uma
comunidade organizada e, para cumprir esta função ordenadora, o direito
estabelece regras e medidas, prescreve formas e procedimentos e cria instituições”
GOMES CANOTILHO, Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 7ª edição,
Almedina, Coimbra, página 243

O direito é indissociável da realização da justiça, da efectivação de valores políticos,


económicos, sociais e culturais e aponta para a necessidade de garantias juridico-
constitucionais de modo a evitar acções e comportamentos arbitrários e irregulares
do poder público

“(…) Estado de Direito: trata-se, porém, de um Estado de Direito material,


verificando-se que o Poder político não está apenas limitado pelo Direito que cria
(autovinculação ou autolimitação), encontrando-se também limitado por normas e
princípios que não se encontram na sua disponibilidade e relativamente aos quais
se subordina (heterovinculação ou heterolimitação)” PAULO OTERO, Direito
Constitucional Português, Volume I, Identidade Constitucional, Almedina, Coimbra,
Março 2010, página 51

Apresenta-se com múltiplas facetas, dado o desenvolvimento que o conceito foi


beneficiando ao longo dos tempos.

É possível sintetizar os seguintes sub-princípios que densificam o Princípio do


Estado de Direito:

1.Princípio da dignidade da pessoa humana

2.Princípio da juridicidade e da constitucionalidade

3.Princípio da separação de poderes

4.Princípio da segurança jurídica e da protecção da confiança

Pá gina 46
5.Princípio da igualdade

6.Princípio da proporcionalidade

3.2.3. Quanto à organização do poder político

3.2.3.1. O princípio do Estado unitário

Princípio da separação de poderes:

Uma das mais antigas projecções do Princípio do Estado de Direito, numa


perspectiva organizatória, a concepção da teoria da separação de poderes ficou a
dever-se a JOHN LOCKE e CHARLES SECONDAT DE MONTESQUIEU (embora com
apreciáveis diferenças entre si), segundo JOHN LOCKE o poder político devia
repartir-se por três distintas funções:

- poder legislativo – capacidade de emitir leis

- poder executivo – faculdade de aplicação das leis aos casos concretos através da
administração e através dos tribunais

- poder federativo – sector de gestão das relações internacionais do Estado, bem


como ateniente à segurança do Estado

- a “prerrogativa” – não se inserindo neste esquema, funcionaria como poder


residual e ilimitado do rei, para defesa do Estado perante situações anormais

Para MONTESQUIEU, que também adoptava uma separação material das funções
do Estado, havia que equacionar a existência de três poderes:

- o poder legislativo – segundo o qual se emitiriam os actos legislativos

- o poder executivo – traduzia-se na capacidade de administração interna e externa


do Estado

- o poder judicial – pelo qual se aplicaria o Direito

A constitucionalística mais recente salienta que o princípio da separação de poderes


transporta duas dimensões complementares:

- divisão de poderes – forma e meio de limite do poder, assegura uma medida


jurídica ao poder do estado e, consequentemente, serve para garantir e proteger a
esfera jurídico-subjectiva dos indivíduos e evitar a concentração do poder –
dimensão negativa

- separação de poderes – principio positivo que assegura uma justa e adequada


ordenação das funções do Estado e consequentemente intervém como esquema

Pá gina 47
relacional de competências, tarefas, funções e responsabilidades dos órgãos
constitucionais de soberania

3.2.3.2. O princípio do reconhecimento das autonomias locais e

regionais

Governo Regional

É um órgão de tipo executivo e ao qual se defere a condução da política geral da


RA, nos seus mais variados sectores e departamentos.

A sua organização e funcionamento depende do diploma próprio, da exclusiva


competência do Governo Regional, sendo chefiado por um Presidente e composto
por Secretários Regionais, nas áreas sectoriais que se mostrem relevantes para a
governação regional.

A nomeação do Presidente do Governo Regional é feita pelo Representante da


República, em função dos resultados eleitorais, e, sob sua proposta, também lhe
cabe nomear os Secretários Regionais.

O Governo Regional, para além do conjunto de competências administrativas que


desenvolve, dispõe de poderes de natureza política, quer no âmbito regional, quer
ao nível nacional.

3.2.3.3. O princípio da subsidiariedade

O Estado é unitário e respeita o regime de autonomia político-administrativa das


regiões autónomas, o princípio da subsidiariedade, a autonomia da administração
local e a descentralização democrática da administração pública (artigo 6.º/1) mas
sem prejuízo da necessária eficácia e da unidade de acção da Administração pública
(artigo 267.º/2), portanto enquadrado por uma ideia de equilíbrio eficiente (VIEIRA
DE ANDRADE) entre a actuação do Estado e das entidades autónomas.

3.2.3.4. O princípio da integração europeia

O chamado ‘’artigo Europa’’, o art.7º/6, foi aditado com a revisão de 1992.

Portugal passa a aceitar a sua integração numa comunidade supranacional.

A integração europeia implica a validade e aplicação na ordem interna do direito


comunitário europeu.

O princípio da limitação das competências:

A união europeia não é um estado soberano dotado de competências, mas sim uma
comunidade de Estados dotada das competências que os EM, através de tratados
internacionalistas, lhe vão atribuindo.

Pá gina 48
3.2.3.5. O princípio da cooperação internacional

Hoje o Estado Português está incluído na comunidade internacional, art.7º

A abertura internacional pressupõe uma base antropológica amiga de todos os


homens e de todos os povos.

Limites da abertura internacional:

- Estes decorrem logo do nº1, do art.7º - independência nacional, princípio da não


ingerência nos assuntos internos dos Estados, respeito dos direitos do Homem, dos
povos, da igualdade entre Estados.

A ordem internacional e a ordem constitucional são ‘’ordens e paz’’ e de solução


pacífica de conflitos.

O que justifica o estabelecimento de um sistema de segurança colectivo (ONU,


NATO) e a criação de tribunais internacionais (TPI).

4. Os direitos fundamentais

4.1. O conceito de direito fundamental

Direitos previstos no Titulo II e direitos análogos

Art.17º e 18º CRP - Regime dos direitos, liberdades e garantias e ainda dos
restantes direitos fundamentais

Ao analisarmos o artigo 17º da Constituição podemos tirar duas conclusões:

1ª – Nos direitos fundamentais há um regime diferenciado, ou seja, vamos ter um


regime jurídico aplicado aos direitos previstos no Título II (art.24º a 57º) e
aos direitos análogos

2ª – Vamos ter um regime diferente para os restantes direitos fundamentais.

Características deste regime:

Aplicabilidade directa: Significa que estes direitos não necessitam qualquer


intervenção legislativa para que os seus destinatários as possam invocar. Significa
ainda que será inválida e ineficaz qualquer lei que contrarie estes preceitos
(art.18,nº2, CRP). Estes direitos aplicam-se mesmo que não exista lei e mais ainda,
aplicam-se mesmo contra a lei, se a lei contiver disposições que diminuam o
conteúdo dos direitos.

Vinculam tanto, entidades jurídicas como privadas (art.18,nº1, CRP)

Existe um confronto de duas ideias relativamente à aplicabilidade deste regime aos


particulares:

Pá gina 49
- A Constituição apenas vincula o Estado, os particulares são regulamentados…

- A nossa Constituição defende a eficácia directa da Constituição nas relações


jurídicas, entre os particulares, assim a nossa Constituição vincula tanto Estado
como particulares.

Quanto às entidades públicas esta obrigação é extensível a todas as funções do


Estado, ou seja todas estas funções que são desempenhadas pelo Estado, estão
vinculadas aos Direitos, liberdades e garantias do título II e aos direitos análogos.

Estes direitos só podem ser restringidos com a verificação cumulativa dos


seguintes requisitos: (art.18º, nº2 e nº3, CRP)

- É necessário que a própria Constituição preveja essa restrição, ou seja a


circunstância de qualquer restrição a um destes direitos tem que se justificar numa
previsão constitucional.

Ex: art.27º, nº 3; art. 34º,nº2 e 4 ; art.35,nº4, art.47º,nº1; art.48º, nº1; art.270º

- É necessário que essa restrição apenas possa ocorrer em nome e para


salvaguarda de um outro direito constitucionalmente previsto. Implica uma
fundamentação específica da restrição de um direito do título II ou análogo.

Ex: art. 34º,nº4, salvaguarda o disposto no art.27º

- É necessário que essa restrição respeite o princípio da proporcionalidade. Esta


proporcionalidade implica três ideias:

 Adequação: que implica que as medidas restritivas sejam idóneas e


adequadas aos fins visados pela lei.
 Tais medidas restritivas só poderão ser admissíveis se não existirem outros
meios menos gravosos
 É a proporcionalidade em sentido estrito que impõe que as restrições sejam
impostas na chamada “Justa medida” (definição de Gomes Canotilho), ou
seja, no estritamente necessário e nunca mais do que isso. É uma avaliação
que terá que ser feita caso a caso.

- É necessário que essa restrição não aniquile ou elimine o conteúdo essencial do


direito restringido. Quando se fala de restrição fala-se de diminuição e não da sua
aniquilação.

“Deixamos de falar de uma diminuição e estaremos a falar de uma aniquilação de


um direito, quando esse direito for de tal modo restringido que deixe de cumprir as
funções a que está adstrito” (Gomes Canotilho)

Pá gina 50
- Esta restrição apenas pode operar por lei em sentido estrito, ou seja a lei tem de
provir da Assembleia da República. Temos assim uma reserva absoluta da A.R,
salvo autorização expressa para actuação governamental

Está previsto no art.165º (competência relativa) as matérias de exclusiva


competência da A.R., salvo autorização ao Governo para tal.

No art.164º (competência absoluta) estão previstas as matérias de exclusiva


competência da A.R.

Estes Direitos, liberdades e garantias estão previstos na al. b no ponto 1 do art.


165º

- A lei restritiva não pode ter efeitos retroactivos

A suspensão destes direitos apenas pode ocorrer nas situações de Estado


de sítio ou estado de emergência. Esta possibilidade está prevista no
art.19º da CRP

A Constituição prevê a possibilidade de eliminação, ainda que temporária, destes


direitos, mas esta possibilidade de suspensão tem de ser controlada pela
Constituição, daí que implique uma pluralidade de requisitos cumulativos para que
tal suceda:

- Só pode ocorrer nos termos do art.19º, nº2, CRP, nas situações de estado de sítio
ou de emergência e nunca fora dessas situações, sendo que é a própria
Constituição que identifica em que circunstâncias estas situações podem ocorrer.

- Requisito temporal; art.19º, nº5: Tem que ser temporalmente restringido no


tempo (15 dias e posterior avaliação e renovação, se necessário), salvo em caso de
guerra.

- Os actos que estão previstos no ponto 6 deste artigo 19º não podem de forma
alguma ser suspensos. Ficam então fora da abrangência do art.19º

A suspensão do exercício destes direitos também tem de respeitar o princípio da


personalidade. Art.19º, nº4. (ver informação supra nas restrições)

- Mecanismos da sua declaração: Compete ao Presidente da República a sua


proclamação. No entanto deve ouvir o Governo e pedir a autorização da Assembleia
da República.

Em caso de ofensa a estes direitos e caso não seja possível recorrer às


autoridades está previsto no art.21º CRP o direito de resistência e de auto defesa.

Irreversibilidade Constitucional: em caso de revisão Constitucional não pode


haver um retrocesso ou diminuição do conteúdo desses direitos. Os direitos

Pá gina 51
previstos no Título II e os direitos análogos não são passíveis de serem diminuídos
através de uma Revisão Constitucional, mas somente passíveis de o seu conteúdo
ser aumentado por intermédio de revisão Constitucional.

Reserva da Assembleia da República: As leis que regulamentam esses direitos


apenas podem, por norma, serem emanadas pela Assembleia da República e não
pelo Governo.

Todas estas características são indissociáveis destes direitos.

Não existe uma definição apropriada sobre o que são os direitos análogos sendo
demonstrado através da doutrina e jurisprudência.

Segundo Gomes Canotilho deverão ser tidos em conta dois critérios para a
definição de um direito análogo:

1. Por norma os direitos análogos são direitos negativos sendo que podemos definir
um direito negativo como o direito a uma abstenção do Estado. Estes direitos
negativos contrapõem-se ao chamado direito a prestações por parte do Estado.
Este último implica um comportamento positivo e concreto por parte do estado.

São direitos com aplicabilidade imediata, não precisando de uma lei concretizadora.

Ex: Direito á vida ou a liberdade de expressão - Não existe interferência do Estado,


existe uma abstenção

2. Cumulável com o primeiro critério:

Critério da densidade constitucional também chamado de critério da


determinabilidade. De acordo com este critério só pode ser tido como um direito
análogo o direito previsto de forma suficientemente desenvolvido pela Constituição
não sendo um direito análogo as chamadas normas programáticas que se limitam a
estabelecer objectivos genéricos do estado.

Segundo o Dr. Jorge Canotilho e o Dr. Jorge Miranda serão direitos análogos os
seguintes direitos da CRP:

- Art.20º - Acesso ao Direito e tutela jurisdicional efectiva

- Art.21º - Direito de resistência

- Art.23º - Provedor de Justiça

- Art.59º - Direitos dos trabalhadores

- Art.61º - Iniciativa privada, cooperativa e autogestionária

- Art.62º - Direito de propriedade privada

- Art.68º,nº3 – Paternidade e maternidade

Pá gina 52
- Art.74º,nº2,al. a;b - Ensino

- Art.113º,nº2 – Princípios gerais do Direito eleitoral

- Art.124º,nº1 – Candidatura s

- Art.269º - Regime da função pública

Direitos programáticos

Serão considerados como direitos programáticos, todos os direitos que não estão
incluídos no título II ou os direitos análogos.

Direitos programáticos são direito que apenas impõe ao Estado objectivos, tarefas
que devem ser desempenhadas pelo Estado. No entanto a forma como esses
objectivos são atingidos, são definidos pelos próprios Governos e não está
estabelecido na Constituição.

Mais ainda, a concretização efectiva dos direitos programáticos depende de


circunstancialismos socioeconómicos o que implica ou possibilita o aumento ou
diminuição do seu conteúdo de acordo com as referidas condições socioeconómicas.

Assim concluímos que a concretização de um direito programático é uma opção do


Estado tendo em conta diversas contextualizações: opções políticas e condições
socioeconómicas.

Como exemplo temos o Art.66º, pois só relata um objectivo genérico do Estado e


que tem de ser concretizado por lei. A concretização desse objectivo é moldada de
acordo com as condições sócio económicas do país.

Restrições aos Direitos programáticos:

O Dr. Gomes Canotilho refere que as restrições aos direitos programáticos


obedecem a dois pressupostos cumulativos:

- Qualquer restrição aos direitos programáticos não pode violar o princípio da


igualdade

- Essa restrição não pode ser de tal forma pronunciada que impeça o direito de
desempenhar a função para o qual foi criado.

Art.21º CRP – Direito de resistência

Estatui o direito da legítima defesa contra a autoridade pública

Para que seja exercido obedece aos seguintes requisitos:

- É necessário que o direito em causa seja um direito do título II ou análogo, logo


os direitos programáticos não conferem direito de resistência

Pá gina 53
- O direito de resistência apenas é aplicado quando não for possível o recurso em
tempo útil a uma autoridade pública.

- É necessário que a agressão que justifica o direito de resistência seja actual ou


persistente.

Art.22º CRP - Responsabilidade das entidades públicas

Notas deste artigo:

Este artigo releva apenas para responsabilidade civil da Administração pública.

Exclui-se portanto a responsabilidade penal do Estado

- Este artigo permite responsabilizar o estado por actos praticados pelos seus
funcionários (no exercício das suas funções)

- A responsabilidade referida no artigo, é uma responsabilidade solidária. Implica


que o Estado só seja responsabilizado nos termos e para os efeitos para quais o
funcionário também seja responsabilizado.

Requisitos Responsabilidade civil:

 É necessários que estejamos perante um facto que seja controlável


pela vontade humana: exclui-se da responsabilidade civil todos os actos
incontroláveis, todos os actos que o agente não possa controlar pela sua
vontade. Não implica que o acto seja desejado.
 É necessário que esse facto seja ilícito: Um acto é ilícito quando
contrário ao ordenamento jurídico no seu todo.
 É necessário que o facto seja culposo: Culpa é o juízo de censura que é
realizado pelo direito para com aquele agente.

O direito acredita que aquele comportamento é censurado, punível. Este juízo de


censura pode ser de dois modos:

- Por dolo: vontade de…

- Por negligência: falta de atenção

 É necessário que haja um dano: é um prejuízo que o direito reconhece.

Pode assumir várias modalidades:

- Patrimonial (avaliável em dinheiro)

- Danos morais (não patrimoniais)

 É necessário que haja um nexo de causalidade entre o facto


praticado e o dano: impõe uma conexão entre o facto ilícito e culposo e o

Pá gina 54
dano provocado, ou seja, tem que ficar demonstrado que o dano foi
directamente originado por essa conduta ilícita e culposa do agente.

4.2. As categorias de direitos fundamentais: direitos, liberdades e

garantias e direitos económicos, sociais e culturais; unicidade ou

pluralidade conceptual?

Constituição Portuguesa:

Está dividida em 4 partes:

1ª – art. 12º ao 79º - Direitos e Deveres Fundamentais

2ª – art. 80º ao 107º - Organização Económica = Intervenção do Estado no


âmbito económico social e cultural.

3ª – art. 108º ao 276º - Organização do Poder Político

4ª – art. 277º ao 289º - Garantia e Revisão da Constituição

- Os 11 primeiros artigos – Princípios Fundamentais – estão na abertura da


constituição e não estão adstritos a nenhuma parte porque são comuns a todas
elas.

- Não há uma correspondência – princípio = artigo

- Jorge Miranda chama-lhe a ante-parte da constituição.

Existem princípios:

• Referentes à pessoa Humana

- Dignidade Humana – artg.1º CRP

- Liberdade – artg.1º CRP

- Solidariedade – artg.1º CRP

- Estado realiza a dignidade humana quando transforma os sujeitos em razão da


sua acção. Quando serve os cidadãos.

- Liberdade é a capacidade de cada um se autodeterminar, decidir de sua própria


vontade e interesse (consistindo em fazer tudo o que a lei permite).

- Solidariedade é a interdependência de interesses em sociedade.

4.3. Os direitos fundamentais reconhecidos na ordem jurídica

portuguesa; os direitos reconhecidos na Constituição em sentido

Pá gina 55
documental, os direitos fundamentais extra-documentais e os direitos

de natureza análoga aos direitos, liberdades e garantias

Parte I – Direitos e Deveres Fundamentais

- Corresponde a um dos núcleos históricos do direito constitucional.

- Os que são reconhecidos pela constituição tem uma força jurídica superior aos
outros direitos. Em Sentido Formal. No Critério Material são direitos os que
asseguram a nossa dignidade humana. Legislador constituinte consagrou um
critério material, não definindo esses direitos, mas o artigo 16º, nº1 define um
critério material.

- Direitos Liberdades e Garantias – correspondem à consagração da


autodeterminação pessoal de decidir da própria vida, bem como, as capacidades
políticas de cada cidadão. Já os direitos laborais decorrem da necessidade de
estipular condições de trabalho, decorrentes das consequências da revolução
industrial (sobretudo o debate surge da Rerum Novarum de Leão XIII e depois
passa ao socialismo catedrático alemão).

- São normas preceptivas.

- São adquiridos constitucionalmente – são soluções que a nossa civilização dá por


adquiridos.

- Decorrem do Princípio da Liberdade e podem ser invocados a partir da


constituição e devem ser seguidos de acordo com a lei.

- Direitos Económicos Sociais e Culturais – asseguram às pessoas uma


existência digna. Liberdade não é suficiente, decorrem do princípio da
solidariedade, e prevêem a criação de condições materiais para que essa dignidade
humana fique assegurada.

- São normas programáticas.

- São normas que se referem na constituição e se referem ao planeamento da


sociedade.

- Não constituem direitos directos na nossa esfera jurídica (esfera jurídica: conjunto
de direitos e deveres que cada um é titular).

- Decorrem do princípio da solidariedade e devem ser seguidos de acordo com a lei.

Os primeiro são exercidos contra o Estado; Os segundos são exercidos com a


colaboração do Estado.

- Artg.16º, nº1 reconhece outros direitos para além dos consagrados na CRP.

Pá gina 56
- São normas directamente aplicáveis (artg.18º CRP) – Força Jurídica.

Assim:

Direitos Pessoais – protegem bens relacionados com o corpo e o espírito

Direitos de Participação Política – ligados à participação na vida da Nação em


sociedade (votar, ser eleito, etc).

Direitos dos Trabalhadores – protegem e consagram direitos laborais. Têm impacto


na dignidade da pessoa.

4.4. O regime jurídico português vigente em matéria de direitos

fundamentais

Regras de Direitos Fundamentais na Constituição

- Princípio da Universalidade – art.12º CRP – define que todos os cidadãos têm


direitos fundamentais iguais com excepção do artigo 122º, relativo à eleição do
Presidente da República.

Nº1 do art.12º define o direito das pessoas singulares, já o nº2 define os direitos
das pessoas colectivas competentes à sua natureza, ou seja, que não estejam
directamente relacionados com a condição humana, ex: integridade física.

- Portugueses no estrangeiro – art.14º

- Estado protege os cidadãos, mas o exercício dos direitos está sujeito aos deveres
que não sejam incompatíveis com a ausência do país. Ex: obrigatoriedade de
frequentar o ensino, não se impõe.

- Cidadãos com deficiência gozam dos direitos e estão sujeitos aos deveres de
acordo com a sua incapacidade – art.71º CRP.

- Há também condicionamento de direitos e deveres quanto à Infância (art.69º),


Juventude (art.70º) e Terceira Idade (art.72º).

- Estrangeiros em Portugal – artg.15º

- Equiparam-se os estrangeiros aos cidadãos no que toca a direitos e deveres, com


excepção de alguns direitos de participação política e desempenho de algumas
funções.

- Podem ser expulsos – art.15º, nº2.

- Prevê-se dois tipos de cidadãos com regimes diferentes: os da União Europeia e


os da CPLP, em comparação com os demais cidadãos do mundo.

- Princípio da Igualdade – art.13º

Pá gina 57
- Diz respeito ao exercício dos direitos.

- Medida de tratamento das autoridades públicas. É a forma como o Estado deve


tratar as pessoas.

- É fundamental distinguir do princípio da universalidade.

- Universalidade e igualdade são comuns a todos, mas há outros aplicados apenas a


direitos em concreto.

Art.18º CRP estatui que os direitos aplicados aos direitos liberdades e garantias
não precisam de suporte legislativo para se aplicarem (como acontecia na
constituição de 1933).

- Podem ser invocados sem lei e contra a lei. Valem apenas por estarem
consagrados na constituição.

4.5. Os deveres fundamentais

4.6. Os meios de defesa dos direitos fundamentais

Segurança Jurídica e Protecção da Confiança

Que se assume como uns dos fins do Estado.

ORIGEM: Magna Carta e Estado Liberal de Direito

POSITIVAÇÃO: Dezenas de preceitos que se referem à segurança; a segurança


jurídica (art. 282º/4) e a protecção da confiança (art. 2º)

CONCEITO: ideia de subordinação do Estado à observância do Direito – Acórdão TC


3/2016 Declaração de Maria Lúcia Amaral

➢ Clareza, precisão e transparência no respeito pelos direitos, expectativas e


interesses dignos de protecção jurídica.

➢ Estado deve actuar para com os cidadãos de modo a que seja confiável –
não decretando normas retroactivas, não alterando bruscamente a ordem jurídica,
não afectando sem fundamento as expectativas legítimas das pessoas quanto à
continuidade de certo regime jurídico.

CONTEÚDO: Paulo Mota Pinto

➢ Excepcional – depende de pressupostos específicos

➢ Princípio Formal – requer uma ponderação em concreto

➢ Confronto entre as expetativas atendíveis e o interesse público

Confronto avaliado com as exigências da proporcionalidade em sentido estrito

Pá gina 58
FUNÇÕES: protecção subjectiva e função de controlo das actuações
estatais; a segurança permite a modelação dos efeitos das decisões de
inconstitucionalidade do TC

Elementos materiais como normas de acção e controlo

Forsthoff, Gomes Canotilho: é diferente a vinculação de um órgão que actua


(legislador) da vinculação de um órgão que controla (TC), uma vez que há uma
parcela das normas em que o controlo está necessariamente afastado, daí a
necessidade de distingui, por exemplo, a igualdade como norma de acção ou de
controlo.

5. A organização do poder político

5.1. Aspectos gerais sobre o regime constitucional dos órgãos do

poder político

O povo, no sentido de conjunto dos cidadãos que consubstanciam o elemento


subjectivo do Estado é o titular do poder político (cfr. artigos 3.º/1 e 108.º CRP)
que no entanto (apenas) o exerce nos termos previstos na Constituição (cfr. artigos
10.º/1 e 108.º CRP), nomeadamente nos termos estabelecidos nas normas
consagradas na respectiva Parte III.

5.2. Os órgãos de soberania

São órgãos de soberania do Estado Português o Presidente da República, a


Assembleia da República, o Governo e os Tribunais (elenco dos órgãos de soberania
definido no artigo 110.º/1 CRP).

O texto constitucional estabelece uma reserva de Constituição quanto à definição


da formação, da composição, da competência e do funcionamento dos órgãos de
soberania (cfr. artigo 110.º/2). Solução que implica uma reserva do legislador
constituinte na configuração do sistema institucional e, em última análise, do
modelo constitucional de separação e de interdependência dos poderes de Estado
cujos mecanismos constitucionalmente estabelecidos (quanto à separação, as
reservas de competência política e legislativa, e quanto à interdependência, as
moções de censura, a dissolução, o veto,…) os poderes constituídos, isto é, político,
legislativo, executivo e judicial, estão vinculados a respeitar escrupulosamente
(artigo 111.º/1). Neste contexto, a Constituição estabelece ainda um princípio de
indisponibilidade da competência (artigo 111.º/2) na medida em que a competência
constitucionalmente confiada a um órgão de soberania é a consequência da
separação de poderes definida pelo poder constituinte e a alineação da mesma para

Pá gina 59
além dos casos (excepcionais) expressamente previstos alteraria a respectiva
configuração.

A separação de poderes, além das dimensões orgânica e funcional que lhe são
inerentes, necessita estar constitucional e legalmente assegurada como uma
separação pessoal de poderes de modo a impedir que o mesmo homem integre
dois poderes do Estado (CHARLES DE MONSTESQUIEU). Superada a estratificação
da Sociedade Civil (cfr. artigo 12.º/1 CRP) que, ainda segundo CHARLES DE
MONSTESQUIEU, constituía o critério adequado a delimitar os grupos sociais
adequados a ocupar os diversos órgãos do Estado (isto é, o Rei deveria ocupar o
poder executivo, enquanto a Nobreza e o Povo ocupariam as duas câmaras do
poder legislativo e os tribunais seriam um pouvoir neutre (!) de modo a assegurar
que o homem que faz a lei não a aplica ao caso concreto), as incompatibilidades e
impedimentos dos titulares dos cargos políticos e dos altos cargos públicos (cfr.
artigo 154.º CRP e Regime Jurídico de Incompatibilidades e Impedimentos dos
Titulares de Cargos Políticos e Altos Cargos Públicos, aprovado pela Lei n.º 64/93,
de 26 de Agosto, com sucessivas alterações, a última das quais pela Lei Orgânica
n.º 1/2011, de 30 de Novembro) constituem um mecanismo adequado a assegurar
a separação pessoal de poderes.

5.2.2. O Presidente da República: eleição, estatuto e competência

O Presidente da República representa a República Portuguesa, garante a


independência nacional, a unidade do Estado e o regular funcionamento das
instituições democráticas e é, por inerência, Comandante Supremo das Foças
Armadas (definição do órgão consagrada no artigo 120.º CRP).

O Presidente da República é eleito por sufrágio universal directo e secreto (artigo


121.º/1, 1.ª parte), reconhecendo a Constituição capacidade eleitoral activa aos
cidadãos portugueses residentes e recenseados no território nacional (idem, 2.ª
parte) e ainda, desde a revisão constitucional de 1997, os emigrantes mas, neste
caso, nos termos definidos na lei que para efeitos de reconhecimento de capacidade
eleitoral activa deverá atender à existência de laços de efectiva ligação à
comunidade nacional (idem, 3.ª parte, e ainda n.º 2). A solução legal em vigor vai
no sentido da cidadania portuguesa e da inscrição no recenseamento eleitoral no
estrangeiro serem os requisitos necessários e suficientes para o reconhecimento de
capacidade eleitoral activa ao emigrante (cfr. artigos 1.º/1 e 1.º-B da Lei eleitoral
para o Presidente da República, aprovada pelo Decreto-Lei n.º 319-A/76, de 3 de
Maio, com sucessivas alterações, a última das quais pela Lei n.º 72-A/2015, de 23
de Julho).

Pá gina 60
A capacidade eleitoral passiva, por seu turno, é reconhecida apenas aos
cidadãos eleitores, portugueses de origem, maiores de 35 anos (artigo 122.º). A
regra consagrada pelo legislador constituinte no artigo 122.º é a única excepção ao
princípio da universalidade dos direitos fundamentais (cfr. artigo 12.º/1 CRP),
justificada pela particularidade de ser um órgão de soberania com composição
singular e portanto ser exigida aos candidatos maturidade mais elevada que aquela
que é exigida em geral aos titulares dos cargos políticos.

Como aspectos referentes às candidaturas presidenciais importa referir, por um


lado, que o Presidente da República é reelegível por uma única vez (consecutiva)
(cfr. artigo 123.º/1) e, por outro lado, que as candidaturas são apresentadas pelos
próprios candidatos, carecem de subscrição por um número de proponentes entre
os 7500 e os 15000 cidadãos eleitores (artigo 124.º/1), regra que encerra uma
cláusula militar implícita (ANDRÉ GONÇALVES PEREIRA), e são apresentadas
perante o Tribunal Constitucional até 30 dias antes da data marcada para o acto
eleitoral (idem, 2).

O sistema eleitoral, isto é, o conjunto de regras de conversão dos votos em


mandatos, consagrado na Constituição para a eleição presidencial é o sistema
maioritário de maioria absoluta (artigo 126.º/1), com recurso a uma eventual
segunda volta entre os dois candidatos mais votados (idem, 3) no caso de nenhum
dos candidatos obter esta maioria na primeira volta (idem, 2). As regras que
consagram o sistema eleitoral para a eleição presidencial configuram uma excepção
ao princípio geral de direito eleitoral da representação proporcional (cfr. artigo
113.º/5) por força da composição singular deste órgão de soberania.

O Presidente da República eleito toma posse perante a Assembleia da República e


deve prestar a seguinte declaração de compromisso: Juro por minha honra
desempenhar fielmente as funções em que fico investido e defender, cumprir e
fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa (cfr. artigo 127.º CRP).

As competências do Presidente da República, que se circunscrevem apenas à


função política do Estado, estão definidas na Constituição segundo um critério
que distingue entre competência quanto a outros órgãos (artigo 133.º),
competência para a prática de actos próprios (artigo 134.º) e competência nas
relações internacionais (artigo 135.º), embora se nos afigure mais consistente
cientificamente a classificação doutrinária entre poderes próprios, poderes
partilhados e poderes de controlo (GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA). A
Constituição não permite a ampliação das competências presidenciais por acto
legislativo (diversamente das soluções consagradas para a Assembleia da República
e para o Governo).

Pá gina 61
O Presidente da República é por inerência Presidente do Conselho de Estado (cfr.
artigo 133.º/a) CRP) que a Constituição define como “o órgão político de consulta
do Presidente da República” (artigo 141.º) e que incorpora na sua composição
ainda o Presidente da Assembleia da República, o Primeiro-Ministro, o Presidente do
Tribunal Constitucional, o Provedor de Justiça, os Presidentes dos Governos
Regionais (que são membros designados por inerência simultânea, cfr. artigo
142.º/a) a e)), os antigos Presidentes da República eleitos na vigência da
Constituição (designados por inerência sucessiva, cfr. idem f)), cinco cidadãos
nomeados pelo Presidente (cfr. idem g)) e ainda cinco cidadãos eleitos pela
Assembleia da República (cfr. idem h)). O Conselho de Estado é titular apenas de
competência consultiva, havendo a distinguir as competências de consulta
obrigatória (cfr. artigo 145.º/a) a d)) das competências de consulta facultativa (cfr.
artigo 145.º/e)).

O Presidente da República é ainda por inerência Presidente do Conselho Superior


de Defesa Nacional (cfr. artigo 133.º/o) CRP) que é o órgão de consulta do
Presidente para os assuntos relativos à defesa nacional e à organização,
funcionamento e disciplina das Forças Armadas (cfr. artigo 274.º/2 CRP) e cuja
definição a Constituição remete para a Lei da Defesa Nacional com a ressalva de
integrar membros eleitos pela Assembleia da República (idem, 1).

Eleições Presidenciais – art.121º e ss, CRP

Universal: sem descriminação

Secreto: óbvio

Directo: voto directo no Presidente; consta o seu nome no boletim de voto

Ex: Nos Estados Unidos não se vota directamente para o Presidente, mas sim nos
grandes eleitores que posteriormente votam para o Presidente (voto indirecto).

Art. 121, nº2, CRP - Critério algo dúbio, logo basta ter a nacionalidade Portuguesa
para poder votar

Art. 122º, CRP - Implica recenseamento e ser Português de “origem” que segundo
a doutrina obedece a um destes dois critérios:

- Quem nasceu em território nacional, e sido registado Português

- Quem nasceu no estrangeiro, filho de pais portugueses e ter sido registado como
Português.

Art. 123º, CRP - Regras quanto à reeleição: O P.R. apenas pode exercer dois
mandatos consecutivos, podendo depois recandidatar-se após 5 anos de interregno
e inclusive recandidatar-se de novo a um segundo mandato (nesta segunda série)

Pá gina 62
Se o P.R. não cumprir o seu segundo mandato, a data de interregno conta a partir
da data de renúncia.

Art. 124º, CRP - Aspectos formais da candidatura.

Art. 126º, CRP - Implica uma maioria simples por parte de um dos candidatos.

Caso não aconteça numa primeira volta, os dois candidatos com mais votos
disputam uma segunda volta no mesmo sistema.

Art. 128º, CRP - Delimitação do mandato do P.R. – o seu término coincide com a
posse do novo P.R.

O regime constitucional do Presidente da República consta dos art.120º a 146º da


CRP

1ºCapítulo: Estatuto e eleição – art.120º a 132º

2º Capítulo: Descrição das competências do P.R. – art.133º a 140º

3º Capítulo: Estatuto jurídico-constitucional do Conselho de Estado – art.141º a


146º

O art.120º delimita o papel do P.R.

Considera-se que o P.R. tem 3 funções:

Representação da República - Remete-nos para a expressão “Chefe de Estado”

O “Chefe de Estado” enquanto representante da República tem funções


representativas no plano interno/internacional e consubstancia-se em diversas
tarefas:

- Tarefas protocolares

- É a entidade com capacidade de vincular Portugal (cf. Art.135º al. b)

- É o P.R. que tem a última palavra sobre as pessoas com capacidade


representativa de Portugal perante outros Estados e entidades estrangeiras
(art.135º al. a)

- Declaração de guerra e paz (art.135º al. c)

Órgão tutelar da correcta aplicação da Constituição

- É a tarefa do P.R. garantir o correcto funcionamento da sociedade nos moldes que


a Constituição prevê. Gomes Canotilho chama esta tarefa como a tarefa do tutor da
Constituição, tendo diversas vertentes. Poder moderador do P.R., também
demonstrado por alguns autores, como Magistratura de influência. O P.R deve
garantir a sua visibilidade para garantir o respeito pela Constituição.

Pá gina 63
- Fiscalização por si realizada, fiscalização essa que incide sobre toda a produção
legislativa, poder de promulgar leis e iniciar processos de fiscalização.

- Poder /dever de controlar o respeito por parte de qualquer lei ou decreto-lei


inconstitucional

- Em última instância e em defesa de princípios constitucionais, pode o P.R.


dissolver a A.R. se estiver em causa o correcto funcionamento da Constituição,
algum princípio constitucional – art.133º, al. e)

- Compete ao P.R. nomear o P.M. nos termos do art.187º, nº1, assim como
exonerar o mesmo se tal for necessário. A mesma situação se aplica aos membros
do Governo – art.133º al. f), g) e h

P.R. como Comandante Supremo das Forças Armadas

Manifestação desses poderes:

- Nomeação e exoneração das altas cúpulas das Forças Armadas, após proposta do
Governo – art.133º al. p)

- Compete ao P.R. enquanto Comandante supremo das Forças Armadas presidir ao


Conselho Superior de Defesa Nacional: Órgão deliberativo por excelência,
relativamente a questões militares e é sobretudo um órgão consultivo.

- Compete ao P.R. presidir às cerimónias particulares respeitantes às Forças


Armadas.

Veto Presidencial

Quando o P.R. recebe um diploma para promulgar tem 3 opções:

1. Promulgação da lei

2. Veto jurídico

3. Veto político

Desde logo o P.R. tem a possibilidade de promulgar a lei, que corresponde à


entrada em vigor dessa mesma lei. Se no entanto duvidar da sua
inconstitucionalidade remete para apreciação do T.C. que tem duas hipóteses:

- Entende que é contrário à CRP

- Entende que é conforme à CRP

Após esta apreciação remete ao P.R que conforme a indicação do T.C.


relativamente á constitucionalidade do diploma, irá optar por as seguintes
situações:

Pá gina 64
- Caso o T.C. considere o diploma inconstitucional o P.R. irá (2) vetar o diploma
com base em critérios jurídicos.

- Caso o T.C. não encontre nenhuma inconstitucionalidade na lei, remete ao P.R.


com essa observação e este pode então (1) promulgar a lei ou então pode utilizar o
(3) chamado veto político, que apenas é justificado por um entendimento do P.R.
quanto à (in)conveniência daquela lei/decreto-lei.

Não duvidando da sua constitucionalidade, o P.R. se achar determinada lei


inconveniente, pode logo optar por vetar o diploma baseado em critérios políticos.

Em caso de veto, o diploma volta à entidade que o elaborou, com indicações de


correcção com os motivos que levaram à sua não promulgação.

No caso de ser uma lei (proveniência da A.R.), a A.R. ao receber o diploma vetado
tem várias hipóteses:

- Abdicar da lei

- Acatar as eventuais alterações sugeridas pelo P.R., sem necessidade de nova


votação, sendo o diploma novamente remetido ao P.R. que seguindo uma lógica de
bom relacionamento político procederá à promulgação do referido diploma, pois
nele já constam as alterações por ele sugeridas.

- Não acatar as alterações e promover nova votação da lei. Jorge Miranda apelida
esta situação de “postura confrontacional assumida pela A.R.”

Esta votação de acordo com o art.136º, nº2, terá que existir uma maioria absoluta
de deputados em efectividade de funções (116) para que seja aprovado e enviado
novamente para o P.R.

No caso de um veto político, após esta nova votação da A.R. o P.R. é obrigado a
promulgar o diploma.

No caso de um veto jurídico, após nova aprovação por parte da A.R. o P.R. deverá,
segundo alguma doutrina (Gomes Canotilho e Jorge Miranda, p. ex), vetar
novamente o diploma, pois o P.R. é considerado o guardião supremo da
Constituição.

No entanto, outra parte da doutrina, considera que além desta possibilidade o P.R.
poderá optar por promulgar o diploma mesmo aferido de inconstitucionalidade,
baseado na legitimidade democrática da A.R.

No caso de ser um decreto-lei (proveniência do Governo), o Governo ao receber o


diploma vetado pode:

- Abdicar do decreto-lei

Pá gina 65
- Acatar as alterações sugeridas pelo P.R.

- Não acatar as alterações. Neste caso na impossibilidade de nova aprovação por


parte do Governo, será remetido para a A.R. para votação e seguirá os mesmos
trâmites da situação supra relativa a leis, pois efectivamente se for a votação na
A.R. e seja aprovada deixará de ser um decreto-lei e passará a vigorar como lei
emanada da A.R.

5.2.3. A Assembleia da República: formação, composição,

competência e funcionamento

A Assembleia da República é a assembleia representativa de todos os cidadãos


portugueses (definição do órgão consagrada no artigo 147.º CRP).

A Assembleia da República é composta por 230 deputados. Ao arrepio da reserva


de Constituição quanto à definição da formação, da composição, da competência e
do funcionamento dos órgãos de soberania (cfr. artigo 110.º/2), o texto não define
a composição da Assembleia da República, ao invés limita-se a estabelecer os
limites, mínimo e máximo, de deputados dentro dos quais o legislador ordinário
deverá fixar o número exacto de deputados. A redacção deste preceito é
consequência da ausência de acordo entre os partidos políticos (PPD/PSD e PS)
aquando da revisão constitucional de 1997. Actualmente (desde a redacção
introduzida nos termos da Lei n.º 18/90, de 24 de Julho), o artigo 13.º/1 da Lei
eleitoral para a Assembleia da República (aprovada pela Lei n.º 14/79, de 16 Maio,
com sucessivas alterações, a última das quais pela Lei Orgânica n.º 10/2015, de 14
de Agosto) estabelece que este órgão de soberania é composto por 230 deputados.

Os deputados são eleitos por círculos eleitorais geograficamente definidos na Lei


eleitoral para a Assembleia da República (cfr. artigo 149.º/1/1.ª parte CRP) que por
sua vez actualmente estabelece que o território eleitoral está dividido, para efeito
de eleição dos deputados à Assembleia da República, em círculos eleitorais,
correspondendo a cada um deles um colégio eleitoral (artigo 12.º/1 LEAR), que os
círculos eleitorais do território do continente coincidem com as áreas dos distritos
administrativos, são designados pelo mesmo nome e têm como sede as suas
capitais (idem, 2) e ainda que há um círculo eleitoral na Região Autónoma da
Madeira e outro círculo eleitoral na Região Autónoma dos Açores, designados por
estes nomes e com sede, respectivamente, no Funchal e em Ponta Delgada (idem,
3) e, por último, que os eleitores residentes fora do território nacional são
agrupados em dois círculos eleitorais, um abrangendo todo o território dos Estados
europeus e outro o dos Estados do resto do mundo, ambos com sede em Lisboa
(idem, 4). A decisão legislativa de fazer coincidir os círculos eleitorais com uma

Pá gina 66
divisão administrativa pré-existente acolhe um bom princípio da Ciência Política
destinado a evitar o gerrymandering, isto é, a manipulação dos limites dos círculos
eleitorais com vista a favorecer um partido ou lista concorrentes. O número de
deputados a eleger por cada círculo eleitoral do território nacional é proporcional ao
número de cidadãos eleitores nele recenseados (cfr. artigo 149.º/2 CRP e Mapa
Oficial n.º 2-A/2015 da Comissão Nacional de Eleições, pub. in DR I, de
10.Agosto.2015).

A Constituição abre ao legislador (desde a revisão constitucional de 1997) a


possibilidade de consagrar os seguintes modelos de organização dos círculos
eleitorais: um círculo eleitoral nacional único (representação proporcional
integral), vários círculos eleitorais plurinominais ou ainda um modelo que
contemple a existência simultânea de círculos uninominais e plurinominais, desde
que esteja assegurada a respectiva complementaridade por forma a assegurar o
princípio da representação proporcional e o método da média mais alta de Hondt na
conversão dos votos em mandatos (cfr. artigo 149.º/1).

O sistema eleitoral para eleição dos deputados à Assembleia da República é,


assim, o sistema da representação proporcional (cfr. artigos 113.º/5 e artigo
149.º/1), de acordo as regras do método da média mais alta de Hondt (cfr. artigo
149.º/1/in fine) e com proibição de cláusulas barreira (cfr. artigo 10.º/1, que
consagra o princípio do voto igual, e 152.º/1, ambos CRP).

A Constituição reconhece capacidade eleitoral activa aos cidadãos portugueses,


maiores de 18 anos (cfr. artigo 49.º/1) e capacidade eleitoral passiva, por regra, a
todos os cidadãos portugueses eleitores (artigo 150.º). Neste contexto, a ordem
jurídica portuguesa consagra as inelegibilidades, em termos gerais, do Presidente
da República, dos magistrados, dos militares e dos elementos das forças
militarizadas e ainda dos membros da Comissão Nacional de Eleições (cfr. artigos
150.º CRP e 5.º LEAR) e, em termos especiais, dos directores e chefes de
repartições de finanças, assim como dos ministros de qualquer religião ou culto
com poderes de jurisdição, pelo círculo onde exerçam a sua actividade (artigos
150.º CRP e 6.º/1 LEAR), e ainda dos cidadãos portugueses que tenham outra
nacionalidade pelo círculo eleitoral que abranger o território do Estado dessa
nacionalidade (artigos 150.º CRP e 6.º/2 LEAR).

A apresentação de candidaturas está reservada (em regime de monopólio) aos


partidos políticos que, no entanto, podem concorrer isoladamente ou em coligação
e pode ainda incluir cidadãos independentes nas suas listas (cfr. artigo 151.º/1
CRP).

Pá gina 67
Os deputados estão investidos num mandato meramente representativo (não
imperativo), na medida em que representando também eleitores que não
contribuíram para a sua eleição, isto é, de outros círculos eleitorais, não é legítimo
que estes últimos possam dispor dos seus mandatos (cfr. artigo 152.º/2 CRP).

O mandato dos Deputados inicia-se com a primeira reunião da Assembleia da


República após eleições e cessa com a primeira reunião após as eleições
subsequentes (cfr. artigo 153.º/1 CRP). Assim, os deputados não tomam posse (no
sentido técnico-jurídico do conceito) porque a posse é um momento solene que
atesta o início de funções dos titulares de cargos públicos designados por nomeação
que é conferida pelo órgão nomeante.

Os deputados que forem nomeados membros do Governo não podem exercer o


mandato até à cessação destas funções (cfr. artigo 154.º/1 CRP) e estão ainda
sujeitos às demais incompatibilidades e impedimentos previstos da lei (idem, 2
e 3). Neste contexto, importa mencionar o dever de exercer o mandato em regime
de exclusividade (cfr. supra 4.2. e ainda artigos 1.º/1 e 4.º/1 do Regime Jurídico de
Incompatibilidades e Impedimentos dos Titulares de Cargos Políticos e Altos Cargos
Públicos e 20.º e 21.º do Estatuto dos Deputados, aprovado pela Lei nº 7/93, de 1
de Março, com sucessivas alterações, a última das quais pela Lei n.º 16/2009, de 1
de Abril).

Os deputados dispõem a título individual de poderes de acção e de intervenção no


âmbito dos procedimentos decisórios da Assembleia da República (cfr. artigo 156.º
CRP e artigo 4.º do Regimento da Assembleia da República).

Os deputados gozam das imunidades de não respondem civil, criminal ou


disciplinarmente pelos votos e opiniões que emitirem no exercício das suas funções
(cfr. artigo 157.º/1 CRP), de não serem ouvidos como declarantes nem como
arguidos sem autorização da Assembleia da República (idem, 2), de não serem
detidos ou presos sem autorização da Assembleia da República e, no caso de
acusação definitiva em procedimento criminal (idem, 3), da de necessidade de
suspensão do mandato pela Assembleia da República para seguimento dos termos
do processo (idem, 4).

As imunidades parlamentares servem para proteger o Parlamento, como órgão de


soberania, perante os poderes executivo e judicial, ou para protecção dos
deputados individualmente?

A Assembleia da República é titular de competências próprias das funções


legislativa e política do Estado. Assim, quanto às primeiras, a Assembleia é
titular de uma ampla competência legislativa que abrange todas as matérias que as

Pá gina 68
maiorias parlamentares entenderem como credoras de regulação por acto
legislativo (cfr. artigo 161.º/c) CRP), salvo as reservadas pela Constituição ao
Governo (cfr. infra) e beneficia ainda de reserva de competência legislativa nas
matérias que o legislador constituinte qualificou como mais importantes no âmbito
do Estado de Direito Democrático e que por esse motivo devem ser aprovadas
mediante um debate público (princípio do Estado de Direito) e plural (princípio
democrático) (cfr. artigos 164.º (reserva absoluta) e 165.º (reserva relativa) CRP).
Quanto às segundas, a Assembleia é titular de competências políticas strictu sensu
(cfr. artigo 161.º), de competência de fiscalização (artigo 162.º, 169.º e 227.º/4, in
fine) e de competência quanto a outros órgãos (artigo 163.º).

Quanto à organização e funcionamento da Assembleia da República importa


mencionar os conceitos de legislatura (171.º CRP), de sessão legislativa (174.º/1),
de período normal de funcionamento (idem, 2).

Ainda neste contexto, importa recordar que o órgão de soberania a Assembleia da


República é um órgão colegial, isto é, composto por um número plural de membros,
e, desse modo, os respectivos trabalhos estão subordinados às regras
constitucionais da publicidade das reuniões (regra que vincula apenas os órgãos
colegiais com a natureza de Assembleia), do quórum para deliberação e da
aprovação das decisões (supletivamente) pela pluralidade dos votos, também
demonizada doutrinariamente por maioria relativa (cfr. artigo 116.º). A Assembleia
da República é ainda um órgão complexo, isto é, que comporta vários órgãos (no
sentido restrito de centros de decisão) internos, a saber: o Presidente da
Assembleia da República (artigos 175.º/b) e 176.º/1 CRP e 16.º e ss. RegAR), a
Mesa da Assembleia da República (artigos 175.º/b) CRP e 22.º e ss. RegAR), a
Comissão Permanente (artigo 179.º CRP e 39.º e ss. RegAR), as Comissões
Parlamentares que podem configurar um dos seguintes (três) tipos, comissões
especializadas permanentes (artigos 178.º/1 CRP e 29.º e ss. e 34.º e ss. RegAR),
comissões eventuais de inquérito (artigos 178.º/1, 4 e 5 CRP e 29.º e ss., 37.º e
ss, 234.º e 237.º RegAR) e outras comissões eventuais (protocolo) (artigos 178.º/1
CRP e 29.º e ss. e 34.º e ss. RegAR), os Grupos Parlamentares (artigos 180.ºCRP e
6.º e ss. RegAR) e a Conferência de líderes dos Grupos Parlamentares (artigo 20.º
RegAR).

A estrutura organizacional do poder político comporta órgãos parlamentares


independentes, isto é, de órgãos do Estado que estão institucionalmente
colocados na órbita do Parlamento porque incumbidos de funções do Estado que na
tradição liberal europeia estavam a cargo deste órgão de soberania mas que foram
entretanto confiadas a órgãos seus sucedâneos incumbidos de funções

Pá gina 69
especializadas, como o controlo sobre o Governo e a Administração pública em
geral.

Assim, o Provedor de Justiça que o texto constitucional define como um órgão do


Estado independente, eleito pela Assembleia da República por maioria de 2/3 dos
deputados (cfr. artigo 23.º/1 CRP; cfr. ainda artigos 1.º a 19.º do Estatuto do
Provedor de Justiça, aprovado pela Lei n.º 9/91, de 9 de Abril, com sucessivas
alterações, a última das quais pela Lei n.º 17/2013, de 18 de Fevereiro), ao qual os
cidadãos poderão apresentar queixa pela acção (ou omissão das autoridades
públicas) mas cujos poderes se circunscrevem à emissão de recomendações aos
órgãos competentes com vista à reparação de ilegalidades e de injustiças (idem, 1).

O Provedor de Justiça desempenha uma acção relevante na defesa dos direitos


fundamentais e dos interesses legítimos dos cidadãos e das pessoas colectivas mas,
no contexto desta actividade, colabora com o Parlamento na tarefa de fiscalização
do Governo e da Administração pública na medida em está vinculado ao dever de
enviar anualmente à Assembleia da República um relatório da sua actividade (cfr.
artigo 23.º EPJ) e a partir do conhecimento dos factos constantes do mesmo este
órgão de soberania poderá, se assim o entender, desencadear as competências de
fiscalização que a Constituição lhe confere (max. 162.º CRP).

O Conselho das Finanças Públicas é outro órgãos parlamentar independente


incumbido da avaliação independente sobre a consistência, cumprimento e
sustentabilidade da política orçamental, promovendo ao mesmo tempo a sua
transparência, de modo a contribuir para a qualidade da democracia e das decisões
de política económica e para o reforço da credibilidade financeira do Estado (cfr.
artigo 4.º dos Estatutos do Conselho das Finanças Públicas, aprovados pela Lei n.º
54/2011, de 19 de Outubro, com as alterações introduzidas pelo artigo 187.º da Lei
n.º 82-B/2014, de 31 de Dezembro) mas com funções meramente consultivas (cfr.
artigo 6.º idem).

Art.147º a 181º, CRP

Capítulo I - Estatuto e eleição: 147º a 160º

Capítulo II- Competência: 161º a 170º

Capítulo III- Organização e funcionamento: 171º a 181º

ART.149º, CRP (Círculos eleitorais)

Comparação de sistemas eleitorais:

Sistema eleitoral maioritário:

- Sobretudo nos países anglo-saxónicos

Pá gina 70
- O partido com o maior número de votos obtém a totalidade dos deputados a
serem eleitos por determinado círculo eleitoral.

- Tem como vantagem o facto de potenciarem maiorias absolutas, proporcionando,


em princípio, um governo mais estável. Um partido maioritário terá mais
capacidade para impor a sua vontade e sobretudo uma maior capacidade de
durabilidade, implicando uma maior estabilidade governamental e potencia um
maior desenvolvimento económico.

- Como desvantagem apresenta o facto de ao ser só o partido vencedor a eleger os


representantes, implicar que todas as pessoas que tenham votado em qualquer um
dos outros partidos (mesmo que tenham obtido uma votação elevada) não sejam
representadas no parlamento. Temos então uma fraca representatividade.

Sistema eleitoral proporcional:

- É o sistema imposto pela nossa Constituição, para a eleição da A.R.

- Aqui o número de deputados eleitos em cada círculo eleitoral vai corresponder


matemática e aritmeticamente ao número de votos obtidos.

- Tem como vantagem uma grande representatividade, ou seja,


tendencialmente qualquer voto é útil para a eleição dos deputados e
tendencialmente também todos os eleitores vêm o seu voto representado na A.R.

- Tem a desvantagem de dificultar eleições de maiorias absolutas, com as


consequências que isso acarreta:

 Maior instabilidade governamental

 Menor capacidade de implementação de medidas

Círculos eleitorais plurinominais e uninominais:

- Está relacionado com o número de deputados a eleger por círculo eleitoral:

 Plurinominal: mais do que um deputado

 Uninominal: 1 deputado

- Embora previsto na Constituição, em Portugal não existem círculos uninominais.

Assim no art.149º, temos referência que a eleição dos deputados é realizada pelo
sistema de representação proporcional e o método da média mais alta de Hondt

Método de Hondt: Divide o número de votos pelo número de deputados a serem


eleitos, de forma a obter o quociente eleitoral.

Este quociente eleitoral vai indicar o número de votos necessário para a eleição de
um deputado e que nos permitirá estabelecer essa contagem.

Pá gina 71
Exemplo:

Círculo eleitoral de Leiria registou um total de 400.000 votos que iremos dividir pelo
número de deputados a eleger pelo seu círculo: 10.

Logo o quociente eleitoral será de 40.000

De seguida iremos dividir o número de votos obtidos por cada partido político por
1,2,3 e assim sucessivamente até ao número total de deputados a eleger no total.

Proibição de “cláusula barreira” – art.º 152º, nº1, CRP

Cláusula barreira é a impossibilidade de um partido eleger deputados, quando


obtenha a nível nacional uma votação inferior a uma determinada percentagem
estabelecida por lei

Ex. Alemanha cifra-se nos 5%

É normal existir esta cláusula em países com uma maior tendência regionalista,
para evitar o aparecimento no parlamento de movimentos separatistas, e também
para evitar acesso parlamentar a partidos extremistas.

Princípios relativos à Assembleia da República

- Unicameralismo: O nosso parlamento está unificado numa única estrutura, não


adoptamos por isso o sistema anglo-saxónico de parlamento por duas razões:

 A dimensão do nosso país


 Portugal não tem uma grande divisão ética, racial

- Flexibilidade configurativa: A Constituição confere á lei ordinária uma ampla


margem de configuração do Parlamento:

 Nº de deputados de 180 a 230 (art.148º,CRP)


 Possibilidade de criação de círculos uninominais ou plurinominais
(art.149º,CRP)

- Dependência política da Assembleia da República relativamente ao Presidente da


República:

 O Presidente da República pode dissolver a Assembleia por livre iniciativa


art.133º,al e), CRP
 O Presidente da Republica tem o poder de marcar eleições legislativas
art.133º,al b), CRP
 O facto do Presidente da Republica ter de promulgar todos os diplomas
legislativos provenientes da Assembleia; Requisito obrigatório para a
entrada em vigor de um diploma legal – art.134º,al b), CRP

Pá gina 72
 Hipóteses de referendo propostas pela Assembleia da República carecem de
aprovação presidencial – art.134,al c), CRP
 Tem o poder/dever de convocar extraordinariamente a A.R. – art.133º,al c),
CRP

Existem no entanto algumas limitações a esta dependência política:

 Prazo de dissolução da A.R. – art.133, al. c), CRP com remissão para o
art.172º,nº1,CRP
 Relacionado com o veto presidencial - art.136º, CRP

Se o P.R. opta por vetar um diploma será por um destes dois motivos:

 Jurídico: invoca que a lei viola a constituição


 Político: invoca que a lei não será adequada, será incómoda para o país.

Após isto e se se observar o que está estipulado no art.136,nº2 e 3,CRP, o diploma


vai novamente a apreciação do P.R. e aqui terá de ser promulgado por este.

Possibilidade da A.R. desencadear um processo de responsabilização criminal do


Presidente, mediante observância do estipulado no art.130º,CRP

Princípio da permeabilidade da A.R. relativamente ao Governo:

Ao contrário do que é expectável é a A.R. que depende do Governo e não o


contrário.

- Dependência da composição da A.R. da vontade dos partidos políticos –


art.151º,CRP

- Essencialmente num governo de maioria absoluta há um forte controlo por parte


do governo sobre a A.R.

“O Primeiro-ministro quer a Assembleia aprova”

Princípio da complexidade interna da organização da A.R. - Este princípio


demonstra que a A.R. se decompõe num conjunto de estruturas orgânicas que
funcionam com autonomia no interior do Parlamento:

- Plenário da A.R.

- Presidente da A.R.

- Mesa da A.R.

- Comissões da A.R.:

 Permanentes

Pá gina 73
 Had-oc (comissões extraordinariamente constituídas para análise de um
determinado evento/ são chamadas comissões de investigação)

- Comissão permanente da A.R.

AR tem três poderes/funções essenciais:

- Poder normativo/legislativo:

- Poder político: Controlo sobre as restantes entidades políticas, nomeadamente


sobre o Presidente da República e o Governo

- Poder de auto organização interna: Significa que em muitos dos aspectos do seu
funcionamento, é a A.R. que auto define os seus parâmetros.

Regime Jurídico dos deputados

- Apenas podem ser eleitos pelas listas propostas por partidos políticos:
art.151º,CRP

Marcelo Rebelo de Sousa chama esta situação de monopólio dos partidos políticos
quanto á apresentação de candidaturas a deputados.

- A duração de um mandato de deputado será de 4 anos, correspondendo aquilo


que o art.171º,CRP define como 4 sessões legislativas (art.174º,nº1,CRP).

O mandato poderá encurtar nas seguintes circunstâncias enunciadas no artº 160,


CRP, podem perder o mandato por (explicação das alíneas do artigo):

a) Incapacidade ou incompatibilidade prevista na lei. Aqui verifica-se uma cláusula


aberta da Constituição que permite á lei determinar a situação em que se
verificarão esses pressupostos. Existe uma remissão da Constituição para leis que
regulem essas incapacidades.

b) Pode ser eleito mas nem sequer assumir o seu cargo. Se assumir o seu lugar e
tiver um número de faltas que exceda o Regimento (regulamento interno A.R.),
perde o seu mandato.

c) Perde o mandato, aquele que se inscrever noutro partido político diferente do


qual foi eleito. Não sucede com o deputado que somente se desvincule do seu
partido.

d) Só ocorre por sentença judicial por crime de responsabilidade no exercício da


sua função

Além da perda de mandato poderá também suceder a suspensão de mandato:

Pá gina 74
a) Por pedido expresso do deputado invocando motivo relevante: art.153,nº2,CRP.
Remete para a lei eleitoral a relevância de tais motivos, mas na prática tem o
deferimento assegurado.

b) Ao ser chamado para o exercício no Governo, suspende a actividade de


deputados, sendo substituído por outro deputado do mesmo partido e do mesmo
círculo eleitoral: art.154º,CRP

c) O art.157º,nº4,CRP prevê a suspensão de mandato, mas para que tal aconteça é


necessária uma acusação definitiva e não uma condenação. Após se verificar este
critério será a A.R. a decidir essa suspensão, salvo se tratar de situação descrita
nos outros três pontos anteriores deste artigo. Aí será obrigatória a suspensão.

d) O estatuto dos Deputados regulamentado na lei7/93 de Março que no seu


art.4,nº1,al c), prevê um conjunto de incompatibilidades para o exercício da função
de deputado.

Funções/poderes dos deputados

- Direito de iniciativa procedimental, os deputados têm o poder/dever de iniciar:

 Um processo legislativo
 Um processo de revisão constitucional
 Um processo referendário

- Poder de participação dos debates parlamentares:

 Uso da palavra em debate


 Votação

- Poderes de fiscalização política: Vão incidir sobretudo sobre a actividade do


Governo e da A.R. através de uma pluralidade de prorrogativas:

 Um deputado tem o direito de questionar directamente um membro do


Governo ou da Administração Pública
 Pode o deputado em nome individual, requerer documentação específica ou
qualquer outro tipo de informação.

- Poder de fiscalização sucessiva e abstracta da constitucionalidade das normas:

 Art.281º,nº2,al f), da CRP: poder de iniciar o processo de verificação de


constitucionalidade das normas

De acordo com o Professor Marcelo Rebelo de Sousa:

“Um grupo parlamentar é a junção numa estrutura organizativa, de um conjunto de


deputados eleitos pelo mesmo partido ou eleitos pela mesma corrente política de
forma a coordenar a respectiva acção parlamentar.”

Pá gina 75
Poder Normativo/Legislativo da Assembleia da República: pode elaborar e
aprovar diplomas legais

A função normativa da Assembleia República assume-se em três aspectos


diferenciados:

- O facto de ser um exclusivo da A.R. a capacidade e o poder de aprovação das


chamadas Leis Constitucionais, que são as leis que alteram a Constituição, ou seja
na prática são revisões Constitucionais - art.161º,al a)

- Capacidade/poder de aprovação de leis ordinárias/comuns – art.161º al. c)

- E ainda capacidade de regulamentar determinadas matérias em exclusivo


conforme consagrado nos art.164º e 165º

 Art.164º estipula um conjunto de matérias que necessária e


imperativamente tem que ser regulamentados pela A.R
 Art.165º são matérias que embora da regulamentação da A.R. podem em
determinadas condições ser regulamentadas por outros órgãos
(essencialmente o Governo)

- Poder da A.R. aprovar Convenções internacionais – art.161º, al. i)

Nota: Todas estas capacidades precisam de ser ratificadas pelo P.R.

As temáticas dos art.164º e 165º, são questões essenciais ao correcto


funcionamento do Estado.

Regras para que a A.R. possa transmitir ao Governo as competências de


legislar sobre as matérias descritas no art.165º:

- Art.165º, nº2- Proibição das chamadas autorizações genéricas da A.R. ao


Governo, para que este último possa legislar.

Qualquer autorização da A.R. deve especificar com a maior completude possível,


quais as matérias que o Governo possa legislar.

“Proíbe o passar de um cheque em branco ao Governo”- Dr. Jorge Miranda

- Art.165º, nº2- Não existem autorizações sem limites temporais; qualquer


autorização da A.R. tem de definir um prazo (casuisticamente); No entanto mesmo
que esse prazo seja ultrapassado a lei permite que o mesmo possa ser prolongado.

- Art.165, nº3- Virtualidade de uma única utilização, mediante cada autorização da


A.R. No entanto podem haver determinadas questões que não sejam
regulamentadas no mesmo decreto-lei; aí essas alterações podem ser faseadas.

Pá gina 76
- Art.165, nº4- A autorização só persiste enquanto a autoridade que a permitiu,
existir; limita a possibilidade do exercício da autorização á permanência de funções
da A.R.

Poder Político da Assembleia da República.

Este poder subdivide-se em três categorias:

Poder de orientação política - Consubstancia-se na faculdade que a A.R. tem de


emanar mandos políticos, dirigidos aos restantes órgãos jurídicos constitucionais.
Demonstra a capacidade da A.R. influenciar politicamente outros órgãos.

Dentro desses poderes podemos enumerar:

- Art.161º al. j)

- Art.161º al. l) e m): complemento ao poder do P.R.

- Art.161º,al. n): Compatibilizado e associado a outros 2 artigos (164º e 165º) -


sempre que uma dessas matérias estiver sob discussão por entidades comunitárias
a A.R. tem o poder de se pronunciar.

- Art.162º al. a): é da competência da A.R. garantir o respeito pela lei e pela
Constituição, dos actos do Governo e da Administração Pública.

Coloca a A.R. numa situação de superioridade hierárquica relativamente ao


Governo e à restante administração.

Esta superioridade hierárquica vai permitir à A.R. revogar actos do Governo e da


A.P. que sejam contrários á lei e à Constituição.

- Art.163º, al. d): Confere á A.R. apreciar o programa do Governo.

Poder de fiscalização política - A fiscalização incide sobre duas naturezas


diferentes:

- Fiscalização jurídica: Nos termos dessa fiscalização a A.R. vai impor o respeito
pela juridicidade a outros órgãos políticos, nomeadamente ao Governo e à
Administração Pública.

- Fiscalização Política: A A.R. pronuncia-se também sobre as vantagens ou o mérito


de determinadas condutas prosseguidas pelo Governo ou por outras entidades
administrativas que não sendo ilegais, consubstanciam-se no entender da A.R. um
prejuízo para a população.

Consequências dessa fiscalização (3 hipóteses):

- A fiscalização prosseguida pela A.R. leva à conclusão de inconstitucionalidade do


comportamento do Governo ou da Administração.

Pá gina 77
Remete-nos para o art.281º,nº1, CRP, segundo o qual o Presidente da A.R. ou em
alternativa 1/10 dos deputados podem requerer ao T.C. que declare a
inconstitucionalidade com força obrigatória geral do ato fiscalizado.

- Se estiverem em causa regulamentos, actos ou contratos administrativos não


inconstitucionais mas ilegais, a A.R. poderá optar por:

 Emitir uma recomendação ao autor dessa conduta, para que revogue ou


altere o ato, contrato ou regulamento de forma a colocá-lo em conformidade
com a lei.

 A A.R. tem o poder/dever de solicitar junto do Ministério público (órgão


competente), para que este, promova a acção judicial correspondente.

 Não existência de qualquer irregularidade jurídica perante a Constituição ou


qualquer lei, mas somente por pura avaliação política. A A.R. entende que
aquele D.L. / D.L.R. não será a melhor solução política.

Se se tratar de um decreto-lei ou decreto legislativo regional autorizado,


pode a A.R. determinar a cessação da vigência ou a introdução de
alterações. Essa mesma prorrogativa consta do art.169º, CRP

Poder de certificação política - Este poder está sobretudo relacionado com as


relações estabelecidas entre a A.R. e o Governo e nesse sentido o poder de
certificação política consiste na possibilidade da A.R. demitir o Governo através de
uma moção de censura prevista e regulada no art.194º,nº1, CRP.

Votação feita pelas regras gerais - art.116º, CRP

Deliberações de órgãos colegiais (especial relevo para a A.R) art.116º da


CRP

Órgão colegial é composto por mais do que uma pessoa, em oposto por exemplo ao
Presidente da República que é um órgão singular.

Art.116º da CRP:

1) Salvo excepção, as deliberações são tomadas, na presença de pessoas estranhas


ou externas a esse órgão do poder político. Poderá deliberar confidencialmente
quando a lei assim o prever, como por exemplo o Conselho de Ministros (Previsto
na Constituição, neste mesmo nº, deste artigo). A A.R. não tem qualquer lei que
excepcione esta situação, logo as reuniões são públicas

2) Diz respeito ao quórum (número mínimo de presenças indispensáveis, para que


o processo deliberativo possa decorrer. A regra aplicada é de uma maioria simples:
½+1 deputado que no caso da A.R. será de 116 deputados.

Pá gina 78
3) Determina o número de votos necessários para a aprovação de uma
determinada medida, estabelecendo as seguintes regras:

a. Regra da maioria simples

b. Nessa contagem não são tidas em consideração as abstenções.

Estão previstas neste nº 3 do art. 116º excepções a esta regra de contagem de


votos, no entanto a regra de quórum é imperativa:

Art. 168º, nº6, da CRP - Para as matérias dispostas nas alíneas deste número é
necessário 2/3 (+1) dos deputados presentes desde que esse valor seja superior á
maioria absoluta dos deputados em efectividade de funções (230).

Art. 136º, nº2, da CRP - Após veto presidencial, uma lei que volte a discussão à
A.R. terá que obter maioria absoluta dos deputados em efectividade de funções.

Art. 286º, da CRP - Alterações à Constituição. É necessário 2/3 dos deputados em


efectividade de funções.

Poder Administrativo (Poder de auto organização interna)

A A.R. não pode ser considerada um órgão administrativo, pois não produz
actividade administrativa contínua, somente pratica alguns actos administrativos
extremamente limitados: somente regula a sua organização.

Estes actos são regulados pelo Direito Administrativo

5.2.4. O Governo: função, estrutura, formação, responsabilidade,

competência e funcionamento

O Governo é o órgão de condução da política geral do país e o órgão superior da


Administração Pública (definição do órgão consagrada no artigo 182.º CRP).

O Governo é composto pelo Primeiro-Ministro, pelos (demais) Ministros, pelos


Secretários e Subsecretários de Estado e (eventualmente) pelo(s) Vice-Primeiro(s)-
Ministro(s), em número, com as denominações particulares e com a
responsabilidade de prosseguir as atribuições do Estado definidas em Decreto-Lei
ou em Decreto de nomeação dos respectivos titulares (artigo 183.º CRP).

Os membros do Governo são designados por um procedimento complexo que


comporta as seguintes fases: nomeação pelo Presidente da República (artigo 187.º
CRP), apresentação do Programa do Governo à Assembleia da República (artigo
188.º) e apreciação do mesmo (artigo 192.º) no termo do qual o Governo necessita
obter, pelo menos, a não desconfiança política expressa da Assembleia da

Pá gina 79
República, consubstanciada numa moção de rejeição do seu programa aprovada
por maioria absoluta dos deputados em efectividade de funções (artigo 192.º/4).

O Governo é também um órgão colegial e complexo que comporta no seu interior


os seguintes órgãos internos: o Conselho de Ministros (cfr. artigos 184.º/1 CRP e
200.º/1), o Primeiro-Ministro (artigo 201.º/1), os Ministros (incluindo o(s)
eventuais Vice-Primeiro(s)-Ministro(s), cfr. artigo 201.º/2), os Secretários e os
Subsecretários de Estado (cuja competência não está constitucionalmente
garantida e portanto apenas consagrada em Decreto-Lei ou em Decreto de
nomeação dos respectivos titulares) e ainda, eventualmente, os Conselhos de
Ministros especializados em razão da matéria (artigo 184.º/2 e 202.º/2) e a
Reunião de Secretários de Estado (artigo 1.º/2 do Regime de Organização e
Funcionamento do XXI Governo Constitucional, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 251-
A/2015, de 17 de Dezembro).

O Governo (colegialmente) é titular de competência política (cfr. artigo 197.º


CRP), de competência legislativa (artigo 198.º) e de competência administrativa
(artigo 198.º), enquanto os membros do Governo (individualmente) são titulares
(apenas) de competências políticas e administrativas (artigo 200.º).

Competência legislativa do Governo

Não sendo matérias previstas nos artigos 164º e 165º, o Governo tem competência
legislativa embora em concorrência com a A.R.

Análise do art.198º - Competência legislativa do Governo:

- 198º al. c) – decretos lei que desenvolvam princípios escritos em leis de base que
necessitem desse mesmo desenvolvimento; lei de base bastante abstracta e como
tal é necessário que sejam criadas leis que complementem a ideia inicial

- 198º, nº2 – regula exclusivamente a sua organização e funcionamento e nunca


qualquer aspecto que lhe seja exterior

- 198,nº3 – referência à autorização da A.R. e à lei de bases a que se refere e a


qual será aplicada a lei de desenvolvimento.

- 164º - Exclusivo A.R.

- 165º - A.R. Mas possibilidade de deliberação pelo Governo

- 161º al. c) / 198º1 al. a) - Concorrência Governo/A.R.

- 198, nº2 - Exclusivo Governo

5.2.5. Os tribunais, em especial o Tribunal Constitucional

Pá gina 80
Tribunais - As normas que regulam o funcionamento dos tribunais estão entre os
art.202º e 224º da CRP

Art. 202º (Função Jurisdicional)

Nº1-A função jurisdicional é entregue em exclusivo aos tribunais, excluindo do


poder jurisdicional as outras entidades estaduais

Nº3- Outras entidades: M.P (Ministério Publico); P.J. (Provedor da Justiça)


entidades especialistas

Nº4- Permite que a resolução de alguma litigância jurisdicional seja dirimida em


órgãos não jurisdicionais, criados para retirar volume de trabalho aos tribunais e
permitir uma maior rapidez

Mediação: Estrutura fixa e limitada a alguns conflitos

Arbitragem:

- Realizado fora dos tribunais por entidades que não tem de ser juízes

- Mais célere e desformalizado

- Possível por acordo entre as partes (prévia ou posteriormente)

- 3 Árbitros: cada parte escolhe um, e o terceiro é acordado entre as partes

- Possibilidade de posterior recurso para os tribunais comuns, embora seja possível


o prescindir desse recurso previamente.

Art. 203º (Independência)

- Proíbe qualquer sujeição administrativa e orgânica dos tribunais a qualquer outra


entidade estadual (principio da separação de poderes)

- Existe uma autofiscalização dos tribunais.

- Por sua vez, uma eventual responsabilidade disciplinar dos juízes é também
dirimida no Conselho Superior de Magistratura (órgão independente), que por seu
turno também não está na dependência de qualquer outra entidade estadual.

Art. 204º (Apreciação da inconstitucionalidade) - Remete-nos para a


fiscalização sucessiva concreta da Constitucionalidade.

Art. 205º (Decisão dos Tribunais)

Nº1

- Este ponto impõe um requisito formal e substancial para qualquer sentença, que é
a obrigatoriedade da sua fundamentação tanto em matéria de facto como em
matéria de direito.

Pá gina 81
- Implica que uma sentença não fundamentada ou não suficientemente
fundamentada é inválida, logo não produz efeitos

- Em termos práticos impõe que haja uma descrição dos factos da realidade tida
como provada.

Nº2

- Consagra a prevalência da lei no nosso enquadramento jurídico.

- Impõe o primado da legalidade sobre todas as entidades

Nº3 - Remissão para a lei comum quanto às regras da execução das sentenças

Art. 206º (Audiências dos Tribunais) - Consagra a regra da publicidade das


audiências. Salvo decisão em contrário dos tribunais, em despacho fundamentado,
as audiências do julgamento são públicas

Art. 207º (Júri, participação popular e assessoria técnica)

Nº1 - Permite a existência de tribunais de júri: tribunais em que a matéria de facto


é julgada por populares.

Nº3 - Auxílio técnico dos juízes.

Art. 208º (Patrocínio Forense)

- A lei tem que garantir a independência dos advogados; Tem que garantir que
estes não estejam sujeitos a pressão que os impeçam de desenvolver a sua
actividade

- Tem que exigir leis que garantam o acesso a todos os cidadãos a advogados, não
se impedindo esse direito por uma carência económica (lei de apoio judiciário).

Organização dos tribunais

Art. 209º (categorias de Tribunais)

- Este artigo não esgota a totalidade de categorias de Tribunais existentes

- Prevê uma estatuição mínima

- Prevê os tribunais obrigatoriamente existentes, no entanto não proíbe que o


legislador crie outros tribunais com competências específicas de acordo com as
necessidades processuais.

- Tribunal do comércio

- Tribunal da família

- Tribunal do Trabalho

Pá gina 82
Nº1 al. a) e b)

- Distinção entre os Tribunais Administrativos e os outros tribunais

- Cria uma diferenciação entre o processualismo dos tribunais que vão resolver
litígios relativamente a matérias administrativas e fiscais das restantes matérias
que vão ser discutidas noutros tribunais.

- Os TAF (Tribunais Administrativos e Fiscais) são os tribunais competentes para


dirimir qualquer litígio que envolva a A.P. (Administração Publica), quando esta
assumir as vestes de ius imperii

- Os TAF têm estâncias próprias de recurso:

- Tribunal de 1ª instância>>>>>>>> Tribunal Central Administrativo

- Tribunal Central Administrativo>>>> Supremo Tribunal Administrativo

- Quanto ao T.C é um tribunal de recurso para situações específicas de questões de


inconstitucionalidade, tanto dos tribunais comuns como dos tribunais
administrativos.

Nº1 al. c)

- Tribunal de Contas: é uma entidade administrativa (opinião de Diogo Freitas do


Amaral), como tal deveria estar incluído nos capítulos respeitantes à A.P., o
Tribunal de Contas tem como função específica a fiscalização das contas da A.P.,
afastando-se das normais tarefas dos tribunais. (art.214º CRP)

Nº4

- Referencia a possibilidade da existência dos tribunais militares

- A Constituição limita a sua acção, uma vez que não pode ser atribuída
competência exclusiva para o julgamento de certas categorias de crimes

Art. 210º (Supremo Tribunal de Justiça e instancias)

- Estrutura de recurso dos tribunais judiciais

- Referência ao Supremo Tribunal de Justiça

Art. 211º (Competência e especialização dos tribunais judicias)

- Competência e especialização dos Tribunais Judiciais

- Os Tribunais Judiciais podem julgar todas as situações (não atribuídas a outras


ordens judiciais), mas prevê a existência de tribunais com competências
específicas.

Pá gina 83
Art. 212º (Tribunais Administrativos e Fiscais) - Tribunais Administrativos e
fiscais

Art. 213º (Tribunais Militares) - Tribunais Militares

Art. 214º (Tribunal de Contas) - Tribunal de Contas

Estatuto dos Juízes (art. 215º a 218º) - Este capítulo procura garantir o
exercício da função judicial em condições de imparcialidade e irresponsabilidade

Art. 215º (Magistratura dos Tribunais Judiciais) - Magistratura dos Tribunais


Judiciais

Art. 216º (Garantias e incompatibilidades) - Garantias e incompatibilidades

Nº1 - Os Juízes só podem ser transferidos, suspensos, aposentados ou demitidos


senão nos casos previstos na lei

Nº2

- Regra da irresponsabilidade: regra geral, qualquer sentença (certa ou errada),


não responsabiliza o juiz que a emitiu.

- Consequências: Qualquer sentença, ainda que errada e causadora de prejuízos,


não é passível de responsabilizar civil ou criminalmente o juiz que a emanou, salvo
nos casos de dolo grave

Nº3 - Exclusividade no desempenho das suas funções

Art. 217º (Nomeação, colocação, transferência e promoção de Juízes) -


Quem exerce as funções de nomeação, colocação, transferência e actua
disciplinarmente é o Conselho Superior da Magistratura.

Procuradoria-geral da República - É uma estrutura orgânica composta por dois


órgãos

- Procurador-geral da República:

 Órgão singular que é nomeado/exonerado pelo P.R. sob proposta do


Governo (art.133º al. m)
 É eleito por um mandato de seis anos (art.220, nº3)
 É ele que preside à Procuradoria-geral da República

- Conselho Superior do Ministério Público: Na sua composição encontram-se


membros eleitos pela A.R., a P.G.R. tem uma dupla legitimidade:

 Legitimidade democrática; pelo facto de alguns membros do Conselho


Superior serem nomeados pela A.R.

Pá gina 84
 Legitimidade cooperativa; porque é representativa de uma determinada
classe profissional

O P.G.R. encontra-se na cúpula da hierarquia do M.P., o M.P. tem as seguintes


funções:

- Exercício da função penal: No direito penal a entidade acusatória é o M.P.

- Representar o Estado: defender o Estado em circunstâncias de litigância

- Função genérica de defesa da legalidade: O M.P. tem em termos constitucionais o


poder/dever de interferir judicialmente sempre que tenha conhecimento de alguma
ilegalidade.

Provedor de Justiça

Art.23º CRP (Provedor de Justiça)

- Órgão independente mas nomeado pela A.R.

- Tem como função garantir o respeito pelos direitos fundamentais e pela legalidade

- Intermediário entre os cidadãos e os tribunais/justiça

- A nível constitucional tem competências para desencadear junto ao T.C. a


fiscalização da inconstitucionalidade/ilegalidade de quaisquer normas art. 281, nº2
a)

- A actividade do Provedor de Justiça não vai interromper nenhuma actividade


desempenhada pelos tribunais civis ou administrativos.

Conselho Superior de Defesa Nacional

Art.274º CRP (Conselho Superior de Defesa Nacional)

Composição - A Constituição confere ampla margem de manobra à lei para


elaborar essa composição impondo somente dois requisitos:

- P.R. como presidente desse órgão

- Esse órgão inclua membros designados pela A.R.

Competências:

- Competência consultiva relativamente a assuntos determinados; assuntos


específicos relativos às Forças Armadas

- Competência Administrativa

- Nomeações e exonerações de membros das Forças Armadas

- Procedimentos disciplinares no âmbito do funcionamento do exército

Pá gina 85
Nota: Estes dois órgãos supracitados (C.E. e C.S.D.N), são órgãos autónomos mas
que funcionam na estrita competência do P.R. auxiliando-o.

Conselho de Estado

Art.141º a 146º CRP

- Incluído no título dedicado ao P.R. visto ser um órgão consultivo deste

- Órgão dependente das funções exercidas pelo P.R.

- Órgão auxiliar do P.R.

Composição (art.142º CRP)

- Conselheiros de Estado por inerência; devido ao cargo que ocupam/ocuparam

- Alíneas a) a f) - Conselheiros de Estado por nomeação política

- Alínea g) - Designados pelo P.R.

- Alínea h) - Designados pela A.R. (deve haver uma proporcionalidade


relativamente à constituição da A.R.)

Funções do Conselho de Estado (art.145º CRP)

Sobretudo tem um papel consultivo relativamente ao P.R.

- As pronúncias previstas nas al. a) a d) são obrigatórias, ou seja o P.R. tem de


recorrer necessariamente ao parecer do Conselho de Estado

- A al. e) em contraponto prevê um parecer facultativo do Conselho de Estado; O


P.R. só requer o parecer se achar conveniente tal situação.

Regime jurídico dos pareceres obrigatórios:

- Esses pareceres sendo obrigatórios não são vinculativos. O P.R. não é obrigado a
decidir em conformidade com a decisão do C.E

- No art.146º temos referência ao facto de esses pareceres serem tornados


públicos o que leva a que a nível político haja uma “pressão” sobre a posterior
decisão do P.R.

- A circunstância de prévia deliberação do P.R. sem que antes tenha requerido um


parecer do C.E., no caso da obrigatoriedade deste, leva a uma divergência
doutrinal, não se observou os formalismos necessários, logo existe uma
inconstitucionalidade formal, donde seria um ato inválido. O ato do P.R. praticado
sem audição do C.E. quando obrigatório será válido desde que obtenha
posteriormente a ratificação por parte do C.E.

Autoridades Administrativas independentes

Pá gina 86
Tem como função garantir o respeito pela legalidade de um determinado serviço,
de uma forma independente e não sujeita a pressões políticas, subtraindo essas
entidades a influências governamentais.

Exemplos:

- ANACOM: Regula as telecomunicações

- ERC: Entidade reguladora para a comunicação social

5.2.6. O sistema de Governo

Sistema de Governo CRP 1976

Há uma distinção entre o que um sistema de governo é (a sua definição) e como


funciona (padrão de funcionamento).

➔ Definição: dada pela ordem Constitucional – tendo em conta a CRP real e não
só a escrita.

➔ Funcionamento: dado por factores de ordem conjuntural da perspectiva política


(efeitos extra-jurídicos como a personalidade do próprio presidente).

Matriz Originária

Fase inicial (1976-1982)

• Marcada pela 2ª Plataforma de Acordo Constitucional

• Propensão para o parlamentarismo (reacção a 1933)

• Conveniências de ocasião favoráveis ao pendor presidencial

Semipresidencialismo (maioria da doutrina) em 1976

Características principais:

MRS (1979)

 PM nomeado pelo PR “tendo em conta resultados eleitorais”


 Governo responde politicamente perante AR
 PR eleito por sufrágio universal, directo e secreto
 Governo responde politicamente perante PR
 Poderes PR são amplos – destaque poder de dissolução, promulgação e veto
 Destaque do papel político do PR

JOMI (2014)

 4 órgãos de soberania: PR tem poderes sobre funcionamento de outros


órgãos (os seus actos condicionados apenas pelo Conselho da Revolução)
 Referenda ministerial de certos actos do PR

Pá gina 87
 Primado da função legislativa na AR
 Governo na condução política, podendo PR presidir conselho de ministros
 Eleição direta PR
 Mandato presidencial ≠ legislatura
 AR sujeita a dissolução pelo PR
 Governo formado pelo PR “tendo em conta resultados eleitorais”
 Governo politicamente responsável perante AR e PR

5.3. Outros órgãos do Estado

Órgãos independentes ou sub-órgãos da A.R.

- Colaboram com a A.R. no exercício das suas funções

- Provedor de Justiça – tem por função receber queixas dos cidadãos e


encaminhá-las aos órgãos competentes, sendo escolhido pela A.R. É independente,
mas está na orbita do Parlamento e colabora com ele (artg.23º). Colaboração com
o parlamento no controlo da administração pública, nos termos do 162º a).

- Conselho das Finanças Públicas – escolhido pelo Governo, mas colabora com a
A.R. no controlo orçamental, sobretudo quanto à execução. Faz a avaliação das
soluções de orçamento, dando um parecer sobre o documento, enquanto este está
a debate na A.R. Também deve dar um parecer sobre a execução do orçamento ao
longo do tempo. Tem sobretudo uma função consultiva.

5.4. As Regiões Autónomas

5.4.1. A autonomia política e legislativa regional

As regiões autónomas

As regiões autónomas portuguesas são constituídas pelos arquipélagos (Açores e


Madeira).

Estas regiões autónomas apresentam autonomia política e legislativa.

Têm órgãos de governos próprios – art.231º

Os órgãos de governo próprio das regiões autónomas

São órgãos de governo próprios de cada região autónoma: assembleia legislativa e


governo regional (art.231º/1).

A assembleia legislativa regional é eleita por sufrágio universal directo e


secreto, pelo método da representação proporcional – art.231º/2. Tem
competência legislativa nos termos do art.227º, 228º e 232º.

Pá gina 88
O governo regional é politicamente responsável perante a assembleia legislativa
da região autónoma – art.231º/3. O Presidente do governo regional é nomeado
pelo Representante da República, de acordo com os resultados eleitorais para a
assembleia legislativa – art.231º/3. O governo regional é órgão superior da
administração regional autónoma.

5.4.2. Os órgãos de governo próprio das regiões autónomas

Dentro das diversas modalidades possíveis de organizar o Estado, a República

Portuguesa, no quadro da CRP, optou pelo Estado unitário ou simples.

Mas a unidade estadual compreende dentro de si a criação de RA do Açores e da

Madeira, que por mais amplas que sejam nelas nunca reside um vital poder de
autoorganização, porquanto não desfrutam de qualquer poder independente do
poder do Estado.

O desempenho do poder público em Portugal, no plano das funções política e


legislativa, assenta, deste modo, na partilha da respectiva titularidade pelo Estado
e pelas RA.

Sendo pessoas colectivas do Direito Público, com um regime jurídico definido, em


parte, pela CRP e, noutra parte, pela lei ordinária, as RA têm órgãos de governo
próprio, ponto estrutural que a nossa Lei Fundamental considera mesmo
constitutivo da descentralização político-administrativa que se pretende levar a
cabo.

Nas RA existem também órgãos que, não integrando essa pessoa colectiva, sobre
ela projectam a sua actuação. Não são órgãos do governo próprio, mas são órgãos
que actuam exclusivamente nas RA: é o caso dos Representantes da República, um
para cada uma delas.

Assim, em termos organizatórios, é de frisar a existência de três órgãos que


exercem as suas competências constitucionais e legais no âmbito das RA
portuguesas:

- Assembleia Legislativa

- Governo Regional

- Representante da República

5.4.3. O representante da República

O Representante da República

Pá gina 89
A soberania da República é representada em cada região autónoma por um
Representante da República, cuja nomeação e exoneração compete ao PR, ouvido o
governo – art.230º/1.

Compete-lhe assinar e mandar publicar os decretos legislativos regionais e os


decretos regulamentares regionais – art.233º

Este cargo surge com a 6ª revisão constitucional, vindo substituir o Ministro da


República.

É o representante do Estado no espaço regional e tem uma estrutura de órgão


unipessoal.

É nomeado e exonerado pelo PR, ouvido o Governo. A duração do respectivo


mandato equivale a duração do mandato presidencial e é substituído, nas suas
ausências e impedimentos, pelo Presidente da Assembleia Legislativa.

O Representante da República tem competências necessárias, tal como se


encontram definidas na CRP (art.230º/1), e tem competências eventuais, se isso
for determinado pelo Governo:

- No primeiro caso, são as competências de natureza política, não apenas quanto à


constituição do Governo Regional como na participação que tem no procedimento
legislativo regional, através dos poderes de assinatura e veto dos diplomas
regionais

- No outro caso, pode exercer, por delegação governamental, competências


administrativas de superintendência nos serviços do Estado em cada RA

O sistema de governo regional, ao contrário do que sucede com o sistema de


governo nacional, reveste a característica de ser parlamentar.

Não se trata, em primeiro lugar, de um sistema de governo presidencial porque o


Representante da República não protagoniza funções essencialmente executivas e
porque não é o chefe do poder executivo regional, que reside no Governo Regional.
Por outra parte, a Assembleia Legislativa, havendo razões de inconstitucionalidade
grave ou de crise política, pode ser dissolvida, o que também não acontece no
presidencialismo.

Não se trata, igualmente, de um sistema de governo semipresidencial, dado não


ser possível estabelecer um duplo nexo de responsabilidade política do Governo
Regional perante, simultaneamente, a Assembleia Legislativa e o Representante da
República. É que a confiança política que deve ser expressa apenas actua do
Governo Regional para a Assembleia Legislativa, não já operando do Governo
Regional para o Representante da República.

Pá gina 90
A revisão da constituição de 2004 modificou a lógica da competência legislativa
regional, simplificando-a e aumentando-a.

A partir do momento em que entrou em vigor, a competência legislativa regional,


expressa através da edição dos decretos legislativos regionais, passou a submeter-
se a um requisito positivo menos adstringente do que o do interesse específico
regional: o de as RA serem legislativamente competentes no conjunto das matérias
em que se lhes atribui competência, tal como o respectivo desenho é feito na CRP e
sobretudo nos estatutos político-administrativos.

De acordo com esta nova concessão do poder legislativo regional, é à CRP, assim
como a cada estatuto político-administrativo, que incumbe definir a amplitude da
competência legislativa, sendo certo que as RA podem “Legislar no âmbito regional
em matérias enunciadas no respectivo estatuto político-administrativo e que não
estejam reservadas aos órgãos de soberania”.

No plano dos requisitos negativos, cuja verificação impede a efectivação de uma


competência legislativa regional, mantém-se apenas algumas das que
anteriormente vigoravam, ocorrendo a abolição da necessidade de as leis regionais
respeitarem os princípios fundamentais das leis gerais da República, conceito este
que simplesmente desapareceu, alinhando-se agora os seguintes requisitos
negativos:

- Limite da reserva da Constituição e das matérias constitucionais, em


relação às quais os órgãos regionais estão sempre impedidos de legislar

- Limite da reserva absoluta das competências legislativas atribuídas aos


órgãos de soberania, nos casos em que nunca se admite o exercício da
competência legislativa regional

- Limite da reserva relativa das competências legislativas atribuídas aos


órgãos de soberania, sobre as mesmas só podendo haver decretos legislativos
regionais no caso de autorização legislativa parlamentar.

6. A actividade legislativa do Estado e das regiões autónomas

6.1. A actividade legislativa

A actividade legislativa do Estado: a função legislativa no contexto das funções


do Estado soberano.

O conceito de lei; a lei como conceito polissémico na CRP.

O pluralismo de fontes de Direito com valor legislativo ou equivalente no Estado


contemporâneo em contraposição ao monopólio de produção legislativa do

Pá gina 91
parlamento no Estado Liberal em consequência, por um lado, de fenómenos de
globalização (Direito internacional directamente aplicável no espaço geográfico do
Estado e Direito da União Europeia) e, por outro lado, de fenómenos de autonomia
legislativa de comunidades infra estaduais de âmbito territorial (decretos
legislativos regionais).

A lei constitucional em especial e as relações entre esta e as demais fontes


normativas vigentes no mesmo espaço geográfico: a Constituição como expressão
originária da soberania do povo (artigo 3.º, n.º 1, CRP), como fundamento de
validade das leis e das demais fontes normativas de produção interna, quer por
entidades públicas (idem, n.º 2 e 3), quer por entidades privadas que interagem no
espaço estadual (artigo 56.º, n.º 4, da CRP), como critério (artigo 8.º, n.º 2) e
como limite (idem, n.º 4, CRP) de vigência do Direito Internacional no território do
Estado português.

A função legislativa cabe à Assembleia da República, com o primado da


competência legislativa, ao Governo e às Assembleias Legislativas das Regiões
Autónomas.

A CRP consagra o Princípio da Tipicidade dos actos Legislativos - são actos


legislativos os indicados no seu artigo 112.º, n.º 1.º, e apenas estes, artigo 112.º,
n.º 5 da CRP.

São eles: As leis, os decretos-leis e os decretos legislativos regionais – art. 112.º,

n.º 1 da CRP.

Os órgãos com competência legislativa são respectivamente:

- A Assembleia da República (art.161.º, art.164.º e art.165.º da CRP)

- o Governo (art.198.º da CRP)

- Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas (artigo 227.º e 232.º, n.º1 da


CRP)

6.2. Os princípios constitucionais sobre a produção normativa

Os princípios constitucionais sobre a produção normativa pelos órgãos do Estado e


das comunidades infra estaduais titulares de autonomia legislativa são:

i) O princípio da competência para a produção normativa, em especial legislativa


(genérica: artigo 110.º, n.º 2; Assembleia da República: artigos 161.º, c), 164.º e
165.º; Governo: artigo 198.º, n.ºs 1 e 2, e Assembleias Legislativas das Regiões
Autónomas: artigos 112.º, n.º 4, 227.º, n.º 1, a), e 228.º, n.º 1, CRP),

Pá gina 92
ii) O princípio da regulação da produção normativa dos actos de escalões inferiores
pelas fontes de escalão superior; em especial o princípio da tipicidade
constitucional dos actos legislativos (artigo 112.º, n.º 1 e n.º 5, 1.ª parte, CRP),

iii) Os princípios sobre o relacionamento entre as fontes normativas:

α) O princípio da produção escalonada das normas jurídicas (hierarquia)


que determina a superioridade dos actos legislativos sobre os demais actos
normativos (regulamentares; artigo 112.º, n.º 5, 2.ª parte, CRP),

β) O princípio da paridade entre lei e decreto-lei (artigo 112.º n.º 2, 1.ª


parte, CRP), com excepção dos actos legislativos sujeitos a uma relação de
superioridade / subordinação relativamente a outros actos legislativos (idem,
2.ª parte) e das leis com valor reforçado (idem, n.º 3) e

δ) O princípio da supletividade da aplicação dos actos legislativos


emanados dos órgãos de soberania (i. é, lei e decreto-lei) no território das
Regiões Autónomas (artigos 112.º, n.º 4, e 228.º, n.º 2, CRP).

6.3. As leis; algumas categorias de leis tipificadas na CRP: leis que

beneficiam de uma posição de superioridade relativamente a outros

actos legislativos e leis ordinárias com valor reforçado

Leis que beneficiam de uma relação de superioridade ou primazia perante


outros actos legislativos:

i) lei de autorização legislativa,

ii) lei de bases,

b) leis ordinárias com valor reforçado:

Uma lei goza de valor reforçado em relação a outra(s) lei(s), ou a outro(s) acto(s)
legislativo(s), sempre que revestir aptidão para derrogar este(s) último(s) sem que
por ele(s) seja susceptível de ser derrogada (GOMES CANOTILHO, 783). Se
compulsando a CRP, verificamos a qualificação das seguintes categorias de actos
legislativos como leis com valor reforçado:

Leis orgânicas - A CRP estabelece uma reserva de lei orgânica, isto é, carecem
ser reguladas sobre a forma de lei orgânica, as seguintes matérias: as eleições
dos titulares dos órgãos de soberania, dos deputados às Assembleias Legislativas
das regiões autónomas, dos presidentes os órgãos executivos das autarquias locais,
bem como as demais eleições a realizar por sufrágio directo e universal, o regime
jurídico dos referendos, a organização, o funcionamento e o processo do Tribunal
Constitucional, a organização da defesa nacional, o regime do estado de sítio e do

Pá gina 93
estado de emergência, a aquisição, perda e reaquisição da cidadania portuguesa, as
associações e partidos políticos, o regime do sistema de informações da República e
do segredo de Estado, o regime das finanças das regiões autónomas e a criação de
regiões administrativas no continente (artigo 166.º/2)

Leis que carecem de aprovação por maioria de 2/3 - A CRP estabelece que a
lei sobre a organização, funcionamento e competência da Entidade Reguladora da
Comunicação Social, as leis que estabelecem limites à renovação sucessiva de
mandatos dos titulares dos cargos públicos, a lei que regula o exercício do direito
de voto dos cidadãos portugueses residentes no estrangeiro nas eleições
presidenciais, a lei eleitoral que estabelece o número (exacto) de deputados à
Assembleia da República, que configuram os círculos eleitorais para a Assembleia
da República e que regulam as eleições dos órgãos das autarquias locais, as leis
que restringem o exercício de direitos por militares e agentes militarizados dos
quadros permanentes, bem como por agente das forças de segurança e as
disposições dos estatutos político-administrativos das regiões autónomas que
enunciam as matérias que integram a respectiva autonomia legislativa, carecem
de aprovação por maioria de 2/3 (artigo 168.º/6),

Leis que constituem pressuposto normativo necessário de outras leis -


Além de hipóteses eventualmente mencionadas em categorias anteriores, a lei de
enquadramento do orçamento do Estado (artigo 106.º/1), as leis estatutárias das
regiões autónomas (artigo 112.º/4, 227.º/1 e 228.º/1), a lei das finanças regionais
(artigo 229.º/3) e a lei-quadro das privatizações (artigo 293.º/1), configuram leis
que nos termos da CRP constituem pressuposto normativo necessário de
aprovação de outras leis ou de outros actos legislativos.

Leis que devem ser respeitadas por outras leis - A CRP consagra os seguintes
casos de leis que devem ser respeitadas por outras leis e pelos demais actos
legislativos: a lei do orçamento deve respeitar as obrigações decorrentes de outras
leis (artigo 105.º/2) mas, em contra-partida, os actos legislativos não podem
implicar aumento das despesas ou diminuição das receitas estabelecidas na lei do
orçamento do Estado (artigo 167.º/2 e 3), enquanto as leis da Assembleia da
República e os decretos-lei do Governo devem respeitar os direitos das regiões
autónomas previstos nomeadamente nos seus estatutos político-administrativos
(artigo 281.º/1/g)/2.ª parte).

Leis de bases:

Os decretos-leis de desenvolvimento estão subordinados à respectiva leis de bases

(art.112.º, n.º 2).

Pá gina 94
O decreto-lei de desenvolvimento deve indicar lei de bases ao abrigo do qual é
aprovado, art.198.º, n.º3.

As leis de bases são hierarquicamente superiores aos decretos-leis de


desenvolvimento (art.198.º,n.º 1, al. c) da CRP) e aos decretos legislativos
regionais de desenvolvimento (art.227, n.º1, al. c) da CRP).

Esta superioridade encontra-se consagrada no art.112.º, n.º 2 da CRP em relação


aos primeiros, e quanto aos segundos o regime será o mesmo por analogia.

Leis de autorização legislativa

O seu regime vem previsto no artigo 165º, n.º 2 da CRP.

As leis de autorização têm que possuir um conteúdo mínimo: devem prever o


objecto, o sentido, a extensão e a duração da autorização (art. 165.º, n.º 2, da
CRP)

A iniciativa das leis de autorização legislativa cabe exclusivamente ao Governo -


art.188.º do Regimento da AR.

Os decretos-leis autorizados devem invocar expressamente a lei de autorização


legislativa ao abrigo da qual foram aprovados, art.198.º da CRP.

E temos leis de autorização legislativa da AR às Assembleias legislativas das regiões


autónomas - artigo art.161.º, al. e), art.165.º e art.227.º,n.º1, al. b), n.º2,3º e 4º
da CRP).

As leis de autorização que não se conformem com o disposto no art.165.º, n.º2


(por ex. indefinição do objecto, indeterminação do sentido, falta de indicação do
prazo) são inconstitucionais, devendo entender-se que essa inconstitucionalidade
implica igualmente a inconstitucionalidade do decreto-lei emanado na base dela.

Em todo o caso só podem ser considerados decretos-leis autorizados aqueles que


se reclamem como tais, mencionando expressamente a lei de autorização em que
se baseiam (art.198.º, n.º3 CRP).

Se não o fizerem têm de ser considerados para todos os efeitos como decretos-leis
não autorizados, sendo portanto inconstitucionais, caso versem sobre matéria
reservada à AR.

Leis-quadro ou leis de enquadramento

São leis que enquadram juridicamente ou regulam o regime de produção de actos


estaduais, incluindo actos legislativos.

Pá gina 95
As leis de enquadramento não se confundem com as leis de bases. Elas fixam mais
ou menos pormenorizadamente um regime jurídico estruturante que deverá ser
respeitado por actos legislativos caracterizadores desse regime.

Assim, a lei de enquadramento do orçamento estabelece as regras e princípios (não


só as bases) vinculativos de elaboração, organização, votação e execução da lei
anual do orçamento (art.106.º, n.º1).

O valor reforçado destas leis, embora não esteja expressamente previsto na


Constituição, resulta da natureza do Estado de Direito (art.2.º da CRP).

O texto constitucional consagra o valor reforçado de algumas leis-quadro, por


exemplo:

- a lei do orçamento geral do Estado tem que se subordinar à lei de enquadramento


(art.106.º da CRP,n.º1 e n.º2 da CRP)

6.4. Os decretos-lei

Competências legislativas: implicam que, na economia constitucional, o Governo


seja um órgão legislativo, tal como a AR o é, ainda que exercendo essa
competência em sectores menos relevantes, emitindo os correspondentes decretos-
leis, que são da sua exclusiva responsabilidade no domínio da organização e
funcionamento.

6.5. Os decretos legislativos regionais

Competência legislativa das Regiões Autónomas: Nas regiões autónomas a


competência legislativa cabe exclusivamente às Assembleias Legislativas das
Regiões Autónomas que editam os decretos legislativos regionais (art.232, n.º1 da
CRP).

Cabendo apenas ao Governo Regional apenas regulamentar a legislação regional,


no âmbito da função administrativa

As Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas têm três tipos de competência


legislativa:

- competência legislativa própria (art.227.º,n.º1. al. a) da CRP)

- competência legislativa autorizada (art. 227.º, n.º1, al.b) da CRP)

- competência legislativa de desenvolvimento (artigo 227.º, n.º 1, al. c) da CRP).

A competência legislativa das Assembleias Legislativas Regionais encontra-se


limitada.

Pá gina 96
Os decretos legislativos regionais só podem incidir sobre matéria de interesse
específico para as regiões autónomas, o que significa:

- um interesse exclusivo para a região

- um interesse especial

6.6. A actividade normativa inerente ao poder de auto-organização

dos órgãos colegiais: os regimentos

1º - Identifica as Fontes de Direito do Ordenamento Jurídico Português

Art.º 8º - Direito Internacional e Comunitário

56º/4 – Convenções Colectivas de Trabalho

112º - Actos Normativos

115º – Referendo

161º, 164º, 165º - Leis da AR

198º - Decretos-lei do Governo

226º - Estatutos das Regiões Autónomas

227º - Actos normativos das Regiões Autónomas

241º - Regulamentos das Autarquias Locais

2º - Determina os critérios de validade, eficácia e hierarquia das normas produzidas


pelas várias fontes de Direito

Art.º 112º/2 - Lei = DL

112º/3 – Leis com valor reforçado (lei que carece de aprovação por > de 2/3)

112º/4/5 + 227º - Direito Geral da República “Direito Autonómico”

112º/7/8 + 241º Actos Normativos Legislativos Actos Normativos da Administração

112º/9 – Revela a forma e o valor das Directivas Comunitárias transpostas para a


ordem jurídica interna

A Constituição é a norma primária sobre a conduta jurídica.

112º/2 Lei = Dec.-Lei, mas, com tendencial paridade.

O art. 8º - direito internacional

A quem cabe negociar – 197º b)

Governo, através do Ministério dos Negócios Estrangeiros

A aprovação 161º i) – AR com as respectivas remissões

Pá gina 97
A publicação 119º b)

A ter em conta no 119º: a hierarquia de a) a i)

3º - Individualiza as Competências Normativas

Art.º 161º, 164º, 165º - Competência Legislativa da AR

198º - Competência Legislativa do Governo

227º - Competência Normativa das Regiões Autónomas

241º - Competência regulamentar das Autarquias Locais

6.7. O procedimento legislativo

I) Competência legislativa da Assembleia da República

A) Competência legislativa genérica - art.161.º, al. c) da CRP, apenas a excepção


de não abranger matérias da competência exclusiva do Governo,

B) Competência legislativa exclusiva da AR - As matérias indicadas no art.161º a) a


h) e 164.º são da competência exclusiva de reserva absoluta da Assembleia da
República. As do art.165.º são de competência exclusiva de reserva relativa da
Assembleia da República, ou legisla sobre ela ou autoriza o Governo a legislar.

C) Competência legislativa concorrente - Todas as restantes matérias não indicadas


como de concorrência exclusiva nem do Governo nem da AR constituem matérias
de competência concorrente, ou seja, qualquer um dos órgãos pode legislar sobre
elas.

6.7.1. O procedimento legislativo parlamentar

a) FASE DA INICIATIVA - A iniciativa legislativa - art. 167, n.º1 da CRP

A iniciativa pode ser interna quando provém dos deputados e dos grupos
parlamentares, adoptando a forma de projectos de lei, ou externa, quando provém
do Governo, das Assembleias Legislativas das regiões autónomas ou de grupos de
cidadãos eleitores nos termos estabelecidos na lei, tomando a forma de propostas
de lei (cfr. artigo 118.º e ssg. Do Regimento da Assembleia da República).

b) FASE CONSTITUTIVA - Discussão e votação - 168.º CRP

A votação compreende uma votação na generalidade, uma votação na


especialidade e uma votação final global – art.168.º, n.º 2, art. 149.º e ssg. Do
Regimento da AR.

Na votação na especialidade é quase sempre efectuada nas comissões


especializadas e não no Plenário: cfr. art.150.º do Regime da AR - “Salvo o disposto

Pá gina 98
nos n.ºs 4 e 5 do artigo 168.º da Constituição, e no Regimento, a discussão e
votação na especialidade cabem à comissão parlamentar competente em razão da
matéria ”.

A votação final global deve existir sempre e não apenas quando o texto é aprovado
em comissão de especialidade – art. 155.º do Regimento da AR.

A regra geral de aprovação dos actos legislativos é por maioria simples ou relativa,
ou seja à pluralidade de votos (art.116.º, n.º3 da CRP).

No entanto, de acordo com o artigo 168.º, n.º 5 da CRP, as leis orgânicas carecem
de aprovação, na votação final global, por maioria absoluta dos deputados. Um
caso particular é a lei de revisão constitucional em que cada alteração tem de ser
votada por 2/3 dos deputados (art. 286.º, n.º1 da CRP).

c) FASE DE CONTROLO - Promulgação (ou veto) - 136.º CRP,

Os projectos ou propostas de lei uma vez aprovados são enviados com o nome de
decretos da Assembleia da República ao PR para promulgação (art.136.º da CRP).

A promulgação é uma formalidade essencial do processo legislativo e acto próprio


do PR (art.134.º, al. b) da CRP) indispensável à transformação do decreto da
Assembleia da República em lei, a sua falta implica a inexistência do acto (art.137.º
da CRP).

O PR pode promulgar ou vetar.

Vetando, pode ser um:

1 – o veto jurídico ou por inconstitucionalidade (artigo 134.º, al. g), art. 136, n.º5,
278.º e 279.º CRP),

2 - o veto político (art.136.º, n.º1 da CRP)

d) FASE DE CONTROLO - A referenda ministerial – art. 140.º, n.º1, da CRP,

A referenda ministerial representa uma coresponsabilidade do Governo com certos


actos do PR.

A referenda é uma formalidade essencial ao processo legislativo (art.140.º, n.1 da


CRP) já que a sua falta implica a inexistência jurídica do acto de promulgação
(art.140, n.º2 da CRP) e consequentemente a própria inexistência do acto
legislativo (art.137.º da CRP).

e) FASE DE INTEGRAÇÃO DE EFICÁCIA – A publicação - n.º119, n.º 1, al. c) da


CRP.

Pá gina 99
Esta fase abrange os actos que se destinam a tornar eficaz o acto legislativo
nomeadamente através da sua publicação.

As leis devem ser publicadas no Diário da República (art.119.º, n.º1 c) da CRP).

A data do diploma é a da sua publicação.

6.7.2. O procedimento legislativo governamental

COMPETÊNCIA LEGISLATIVA DO GOVERNO, pode ser de dois tipos:

1- COMPETÊNCIA LEGISLATIVA PRÓPRIA pode revestir duas modalidades:

- a competência legislativa exclusiva (art. 198.º, n.º2 da CRP), que respeita à


organização e funcionamento do Governo, e só ele pode legislar sobre ela.

- competência legislativa concorrencial (artigo 198.º,n.º1 da CRP) respeita a todas


as matérias que não são reservadas nem à Assembleia nem ao Governo, são
matérias de competência concorrente.

2- COMPETÊNCIA LEGISLATIVA DERIVADA

- competência legislativa autorizada é aquela que o governo exerce em matéria de


reserva relativa da AR e mediante uma lei de autorização legislativa
(art.198.º,n.º1, al. b) da CRP).

- a competência legislativa de desenvolvimento é aquela que o governo vai


desenvolver as leis que se limitam a fixar as bases do regime jurídico de
determinada matéria, quando faz decretos-leis de desenvolvimento (artigo 198.º,
n.º1, al. c) da CRP) )

Os decretos-leis são elaborados através de um processo próprio:

- um projecto é elaborado pelo Governo,

- o projecto é submetido à discussão e aprovação em Conselho de Ministros


(art.200.º, n.º1, al. d) da CRP,

- o diploma aprovado é assinado pelo Primeiro-Ministro e pelos Ministros


competentes em razão da matéria (artigo 201.º,n.º3 da CRP),

- deve ser enviado para promulgação do PR, que promulga como decreto-lei e
manda publicar (art.134.º, al. b) da CRP),

- o acto de promulgação é referendado (art.140.º, n.,º1 da CRP),

- é publicado no Diário da República (art. 119.º, n.º1, al. c) do CRP)

6.8. A apreciação parlamentar de decretos-lei e de decretos

legislativos regionais

Pá gina 100
Antecedentes: ratificação legislativa; Constituição de 1933, projecto de constituição
do PPD (1975) e versão inicial da CRP.

O instrumento da apreciação parlamentar de decretos-lei como configurado nos


termos do artigo 169.º CRP, em termos de natureza jurídico-política, não consiste
numa fase complementar do procedimento legislativo do Governo mas numa
competência de controlo político (à posteriori) da Assembleia da República sobre a
actividade legislativa do Governo.

A apreciação parlamentar pode incidir (objecto imediato) sobre todos os


decretos-lei (artigo 169.º/1), com excepção daqueles que regulam a organização e
o funcionamento do Governo (idem), pode ser requerida por iniciativa de 10
deputados (idem), no prazo de 30 dias após a publicação do decreto-lei no Diário
da República (idem) e pode ter por finalidade (objecto mediato) a alteração ou
cessação da vigência do decreto-lei (idem). A Assembleia da República pode
suspender a vigência dos decretos-lei autorizados até decisão final (idem, 2).

Os procedimentos de apreciação parlamentar de decretos-lei gozam de prioridade


sobre os procedimentos legislativos ordinários (artigo 169.º/6).

A Assembleia da República pode ainda apreciar os decretos legislativos regionais


autorizados (artigo 227.º/4/2.ª parte), sendo aplicáveis ao respectivo procedimento
as regras da apreciação parlamentar de decretos-lei (idem).

7. A actividade política do Estado e das regiões autónomas

7.1. A actividade política

Noção de Partido Político

Qualquer noção de Partido político tem que apresentar cumulativamente as


seguintes quatro características:

- Basear-se numa organização durável cujo tempo de vida seja superior ao dos
seus fundadores.

- Implementação generalizada em todo o território nacional. Esta característica


implica a exclusão do conceito de partido político aos movimentos de cariz regional
ou local, sem implantação nacional. Em Portugal não há exemplos a assinalar.
Temos em Espanha o Partido Nacionalista Basco por exemplo.

- A vontade declarada e expressa do exercício directo do poder. Os partidos


políticos têm uma pretensão de serem eleitos para cargos de poder. Esta
característica permite distinguir os partidos políticos dos chamados grupos de
pressão que pretendem somente influenciar o poder político sem o exercer

Pá gina 101
(sindicatos, comunicação social, ordens profissionais, etc.) Estes movimentos
podem no tempo evoluir para partido político

- Vontade de obtenção do apoio popular. Embora considerada como característica é


mais uma consequência implícita. “ Estas características são defendidas por
exemplo por Gomes Canotilho e Jorge Miranda”

Evolução dos partidos - Em termos históricos inicialmente os partidos dividiam-


se entre os chamados partidos de Quadros e partidos de massas.

Os primeiros eram associados a uma aristocracia, classes privilegiadas e os


segundos mais centrados nas classes populares.

A tendência actual é dos partidos políticos abdicarem da sua ideologia e


transformarem-se em partidos “catch all party”. Deixam um extremismo ideológico
e tentam abranger a maior fatia possível da sociedade.

Ideologia partidária: traços distintivos (ideia muito superficial)

- A nível económico a esquerda é mais intervencionista do que a direita

- Respeitante a costumes sociais a direita é muito mais conservadora do que a


esquerda

- As bases de apoio da direita são maioritariamente de meio rural e de classes


superiores e as da esquerda são maioritariamente citadinas e de classes mais
desfavorecidas.

Sistemas de partidos

É o estudo do exercício do poder político por parte dos partidos políticos.

Consideramos 5 sistemas de partidos

1. Sistema de partido liderante nos regimes democráticos: Neste sistema partidário


um único partido domina o espectro político. Temos como exemplo o Japão entre
1945 e 2010

2. Sistema de bipartidarismo perfeito: Neste sistema há predominância de dois


grandes partidos políticos e existem dois tipos, esses dois partidos obtêm de forma
regular 85 a 90% dos votos e por norma cada um desses dois partidos exerce o
poder isoladamente quando eleito. A alternância de poder exerce-se somente entre
esses dois grandes partidos. Como exemplo histórico temos os Estados Unidos da
América.

3. Sistema de bipartidarismo imperfeito: Aqui a predominância dos dois partidos


políticos é menos acentuada do que no Bipartidarismo perfeito. As percentagens
são menores (cerca de 60 a 75%) e por norma um dos grandes partidos necessita

Pá gina 102
para o exercício do poder de se coligar com um terceiro partido de menor
dimensão. Temos como exemplo a Alemanha (SPD/ CDU recorrem a coligações com
o partido liberal)

4. Sistema de multipartidarismo perfeito: Exemplo de cinco partidos com 20%


votos cada. Distribuição quantitativa por todos

5. Sistema de multipartidarismo imperfeito: Conjunto de partidos políticos de


dimensão considerável. Existe sempre um dos partidos que acaba por se realçar
originando as chamadas coligações assimétricas. É o caso Português no momento.

No multipartidarismo existem vários partidos de dimensão considerável. Não


existem dois partidos predominantes. É o que Vital Moreira chama de “sistema
pulverizado”, onde se encontra uma distribuição dos votos por vários partidos.

Acontece neste sistema que nenhum partido político está capacitado para exercer o
poder político sozinho, sendo necessárias coligações. A sua natureza perfeita ou
imperfeita tem a ver com o grau de pulverização dos partidos.

7.2. As eleições para os órgãos de soberania e das regiões autónomas

LEGITIMAÇÃO DEMOCRÁTICA

O poder político exercido pelos governantes assenta na legitimação da vontade


popular.

➢ Esse poder é dado pelo povo.

Legitimados para agir como representantes do povo, ao qual prestam contas.

➢ Governantes são autorizados pelo povo.

- 1º Grau: escolha directa (PR e Deputados)

- 2º Grau: escolha indirecta (PM e Ministros)

Órgãos investidos no exercício do poder através da REGRA DA MAIORIA

Fundamento desta regra: expediente técnico, pragmático e segundo uma prova


quantitativa, torna possível chegar a uma decisão.

Adequação estrutural entre a regra da maioria e o princípio da liberdade subjacente


à democracia – deixando-se atravessar pelos mais diversos princípios estruturantes
(como a igualdade e a liberdade) – consequência organizatória da dignidade da
pessoa humana.

Limites:

Pá gina 103
• Não há verdades absolutas nem decisões finais em democracia – natureza
da maioria, que não detém o monopólio da verdade

• Há casos em que exige-se consensos mais alargados (maiorias agravadas)


– onde se permite formulação de votos de vencidos dando voz às minorias

• Regras e princípios como barreiras contra as decisões da maioria – no


conteúdo irrestringível dos direitos fundamentais (regra básica do Estado de
Direito) – “trunfos contra as maiorias”

Democracia Representativa

Mais relevante no Estado de Direito Democrático na CRP 1976 – sufrágio universal


(Onde cada cidadão tem um voto) (art. 10º e 117º) e pluralismo partidário (art. 2º
e 51º).

Referência permanente ao povo do poder político dos órgãos representativos

Excluir que os representantes deslizem para uma posição de soberania

Poder governativo democraticamente corrigido e contrapesado

Satisfeitas estas condições:

• Órgãos autorizados a agir em nome do povo e para o povo

• Órgão estruturado como uma unidade política de acção

Sentido Formal – autorização que os órgãos obtêm do povo, dos cidadãos.

Sentido Material – materializam-se os interesses em harmonia com a autorização


– acção dos órgãos de governo se configura de tal forma que os indivíduos e os
cidadãos no seu conjunto (o povo) podem reconhecer-se nessa acção.

Representação como processo dialético e interactivo que produz uma determinada


acção dos representantes que deve responder a exigências específicas no que se
refere ao seu conteúdo.

➔ Processo que deve realizar-se, mas não excluindo que se possa não realizar.

Democracia Participativa

A CRP 1976, a nível metodológico, um elemento do Estado de Direito Democrático


é o aprofundamento da democracia participativa – assegurando e incentivando a
participação democrática (art. 9º) e directa (art. 109º).

Reforço e complemento da democracia representativa – envolvimento mais


intenso dos cidadãos do que aquele que se traduz no periódico exercício do
direito de voto, pressupondo activação ou produção de inputs por parte dos
cidadãos a título individual ou colectivo, na gestão da informação, no debate,

Pá gina 104
no processo de decisão e na avaliação das decisões tomadas pelos órgãos e
instituições.

Ex: discussão pública de planos e regulamentos administrativos são afloramentos


dessa realidade do texto constitucional.

Sistema Eleitoral – optou-se pelo Sistema de Representação Proporcional


manifestando a preferência pelo multipartidarismo e pela representação fiel da
sociedade; existência de círculos plurinominais; desde 1997 admite que a lei possa
configurar o sistema eleitoral em novos moldes com três tipos de círculos: nacional,
plurinominal e uninominal (art. 149º)

7.3. Os referendos, nacional e regionais

Referendo Nacional

Âmbito material – Incide sobre “questões de relevante interesse nacional” e que


devam ser decididas pela Assembleia da Republica ou pelo Governo através de acto
convencional de direito internacional ou de acto legislativo (artº. 115, Nº 3 CRP).
Existem porém importantes restrições ao âmbito material do referendo
individualizadas no artº. 115, nº 4.

- Artº. 115, Nº 4, a), referendos tendentes a introduzir alterações á Constituição;


aqui reafirma-se a firmeza antiplebiscitária dos mecanismos de revisão à
Constituição.

- Artº. 115, Nº 4, c), referendos em matéria de competência política reservada á


AR e de reserva absoluta da AR; impede-se a erosão do princípio da democracia
representativa.

- Referendos sobre questões ou actos de conteúdo orçamental, tributário ou


financeiro; neutralizam-se os referendos demagógicos com sérias consequências
para uma política orçamental, tributária e financeira responsável.

A proibição de referendos em matéria da competência política reservada á AR (artº.


161, i)) não prejudica a possibilidade de submeter a referendo questões de
relevante interesse nacional que devam ser objecto de convenção internacional
(Tratados e Acordos), ou seja questões relativas a tratados de participação de
Portugal em organizações internacionais e tratados de defesa, quer sejam de
competência da AR (artº. 161, i)) quer do Governo (artº. 197, nº 1, c)). Quanto a
matérias da competência legislativa de reserva absoluta parece admitir-se a
possibilidade de referendo sobre as bases de ensino (artº. 115, nº 4, d)).

Iniciativa – Pertence á AR, ao Governo e aos cidadãos (art. 115, nº1 e 2). O
procedimento referendário é um procedimento semelhante ao procedimento

Pá gina 105
legislativo (cfr. artº. 170). Não se confunda iniciativa com decisão. A decisão de
referendo pertence exclusivamente ao PR (artº. 115, nº 1).

Eficácia jurídica – Têm eficácia vinculativa quando o nº de votantes for superior a


metade dos eleitores inscritos no recenseamento (artº. 115, nº 11). Eficácia
vinculativa significa a obrigatoriedade de os órgãos competentes praticarem actos
políticos ou actos politico-normativos juridicamente incorporados do conteúdo da
resposta referendária.

Universo eleitoral – Têm direito de participação no referendo os cidadãos


portugueses eleitores recenseados no território nacional bem como os cidadãos
portugueses residentes no estrangeiro. (artº. 115, nº 12 e 124, nº 2).

Referendo Regional – Entende-se por referendo regional o referendo incidente


sobre questões de interesse específico regional, no âmbito das regiões autónomas
dos Açores e da Madeira (artº. 232, nº 2 CRP). A iniciativa do referendo regional
compete á respectiva assembleia legislativa regional e o universo subjectivo dos
cidadãos “referendantes” circunscreve-se aos cidadãos eleitores recenseados nos
respectivos territórios. Os princípios materiais do princípio referendário regional são
os previstos no artº. 115 da CRP com as necessárias adaptações (artº. 232, nº 2 in
fine, CRP)

Referendo Local – considera-se o referendo que tem por objecto questões de


relevante interesse local que devam ser decididas pelos órgãos autárquicos
municipais ou de freguesia e que se integram nas suas competências (artº. 240
CRP: Lei Orgânica 04/2000, de 24/08/2000 – Regime jurídico do referendo local).
Às matérias excluídas do referendo nacional acrescentam-se outras matérias
reguladas por acto legislativo ou por acto regulamentar estadual que vincule as
autarquias locais, as matérias que tenham sido objecto de decisão expressa em
actos constitutivos de direito ou de interesse juridicamente protegidos e as
matérias que tenham sido objecto de decisão judicial com trânsito em julgado (Cfr.
Lei nº 4/2000, artº 4)

7.4. O acompanhamento e o controlo parlamentar da actividade

governativa

Acompanhamento Parlamentar da Actividade do Governo

- No âmbito do processo de construção europeia.

- Onde cabe também o controlo dos decretos-lei – artg.169º CRP

Pá gina 106
- Âmbito europeu coloca-se na revisão de 1989. Na revisão de 1997 no artg.161º,
n) que a A.R. se podia pronunciar sobre matérias no âmbito da EU que estejam no
que confere à sua competência reservada.

- Artg.163º f) no âmbito das competências quanto a outros órgãos, acompanhar a


participação de Portugal na construção europeia.

- Artg.197º i) Governo tem obrigação de apresentar em tempo útil à A.R.


informação referente ao processo de construção europeia.

- Artg.161º, n) pronunciar-se nos termos da lei. Lei sobre acompanhamento e


apreciação.

7.4.1. A apreciação do programa do Governo

O Governo assenta num princípio de colegialidade, que é peculiarmente enfatizado


pelo texto constitucional, ao dizer, em preceito dedicado à solidariedade
governamental, que “Os membros do Governo estão vinculados ao programa do
Governo e às deliberações tomadas em Conselho de Ministros”.

7.4.2. As moções de censura e os votos de confiança

Ao contrário do que por vezes se julga, a demissão do Governo, em si mesmo, não


é uma causa de cessação de funções, colectiva e individualmente falando, e apenas
surge, na lógica constitucional constante na CRP, como um factor de desvitalização
da actividade governamental, passando-se a um governo de gestão, um dos
preceitos para a demissão do Governo é:

A rejeição do programa do Governo, a não aprovação de uma moção de

confiança e a aprovação de uma moção de censura por maioria absoluta


dos Deputados em efectividade de funções: em qualquer destes casos, vem ao
de cima a importância da responsabilidade política do Governo perante a AR

7.4.3. O acompanhamento das decisões no âmbito da União Europeia

(Prof ñ deu)

7.4.4. Os debates parlamentares com os membros do Governo (Prof ñ

deu)

7.4.5. As perguntas aos membros do Governo

7.4.6. Os inquéritos parlamentares (Prof ñ deu)

7.5. A declaração do estado de sítio e do estado de emergência

Pá gina 107
Acto próprio do PR – Artº 134, al. d), observando o art. 19 e 138 CRP

Só pode poderá ser declarado tanto um, como outro pelo PR com a assentimento
da AR (é a chamada interdependência)

No Estado de sítio - a poder passa a ser exercido pelos militares (Art. 8 – Lei do
Estado de Sítio)

No Estado de emergência – as autoridades militares colaboram com as autoridades


civis

Estado de sítio ou estado de emergência, previstos no Art. 19º, nº 5, CRP

7.6. A tipologia dos actos políticos strictu-sensu dos órgãos do poder:

as moções, as resoluções e os decretos (Prof ñ deu)

8. A defesa da Constituição

8.1. A defesa da Constituição: a fiscalização da constitucionalidade e

da legalidade

8.1.1. A fiscalização da constitucionalidade como elemento do

sistema de checks and balances

8.1.2. Os modelos de fiscalização da constitucionalidade.

Controlo da constitucionalidade quanto aos sujeitos: político (Chefe de Estado ou


Parlamento) ou jurisdicional (tribunais, nomeadamente Tribunal Constitucional).

8.1.3. A fiscalização da constitucionalidade no Direito Constitucional

português

8.1.4. Os processos de fiscalização da constitucionalidade e da

legalidade

A fiscalização da Constitucionalidade é em termos genéricos a verificação da


conformidade das leis e dos decretos-lei relativamente ao conteúdo da Constituição.

Não pode existir lei ou decreto-lei que contrarie o que está disposto na
Constituição.

Esta fiscalização pode ocorrer de duas maneiras:

Fiscalização preventiva: Controlo que é realizado antes da lei ou decreto-lei


entrar em vigor; inclui o período de vacatio legis.

Pá gina 108
O Presidente da República tem um papel fundamental (Cf art.134º, al b), CRP )

Fiscalização sucessiva: Ocorre já após a entrada em vigor da lei ou decreto-lei,


ou seja, a lei perante a qual se suscita a inconstitucionalidade já está em vigor e
pode ser:

- Concreta: Aplicada e visualizada num caso / litígio concreto; só tem


efeitos para este caso em concreto.

Após 3 situações de fiscalização sucessiva concreta é remetido para o T.C. para


aferir da sua Constitucionalidade.

- Abstracta: (Pedido (intencional) efectuado ao Tribunal Constitucional da


inconstitucionalidade da lei) O objectivo é declarar com efeitos genéricos a
inconstitucionalidade de determinada lei.

Sistemas de Fiscalização

- Sistemas Difusos - Nos países que adoptem este sistema a fiscalização pode ser
realizada por diversos órgãos, nomeadamente por diversos tribunais.

Ex: Nos EUA qualquer tribunal pode declarar a inconstitucionalidade de uma norma

- Sistemas concentrados - Neste sistema a fiscalização é apenas atribuída a um


único órgão

Ex: Na Irlanda somente o Supremo Tribunal Irlandês é que se pode pronunciar.

Portugal tem características de ambos os sistemas pois é concentrado ao nível da


fiscalização abstracta (preventiva e sucessiva) e é difuso ao nível da fiscalização
sucessiva concreta.

Fiscalização sucessiva concreta em Portugal:

Vai ocorrer em duas situações:

Quando no âmbito de um processo judicial o juiz se recusa aplicar uma norma por a
considerar inconstitucional. Neste caso o Ministério Público é obrigado a recorrer
dessa decisão, sendo que esse recurso é dirigido directamente ao T.C.

A decisão do T.C. apenas produzirá efeitos para aquela decisão em concreto e a lei
continuará em vigor

Quando uma das partes envolvidas num litigio venha invocar que uma das normas
aplicáveis viola a Constituição. Neste caso o recurso para o T.C. só é possível por
iniciativa de uma das partes e apenas quando existir uma exaustão dos recursos
ordinários. Depois da 1ª Instância, sobe para a Relação, posteriormente ao

Pá gina 109
Supremo Tribunal de Justiça e só então poderá chegar ao Tribunal
Constitucional para aferir da sua Constitucionalidade

Em ambas as situações se a mesma norma for declarada inconstitucional sê-lo-á


apenas com efeitos particulares, ou seja aquela norma não será aplicável ao caso
concreto em julgamento mas continuará em vigor para os restantes casos

Caso o T.C. tenha julgado a mesma norma inconstitucional em 3 casos concretos


poderá declarar a sua inconstitucionalidade com força obrigatória geral. Passaria
nesse momento de uma fiscalização sucessiva concreta para uma fiscalização
sucessiva abstracta (art.281º,nº3). No nº2 do art.281º está elencado quem pode
requerer a fiscalização abstracta de uma norma.

Inconstitucionalidade por omissão:

Contrapõe-se à inconstitucionalidade por acção, no caso desta existe uma


desconformidade entre a Constituição e uma conduta de um órgão de poder, seja
ele legislativo, administrativo, jurisdicional ou político. Na inconstitucionalidade por
omissão existe uma desconformidade a uma actuação exigida pela Constituição e
um comportamento de um poder público que não obedece a tal imperativo.

Pode ser de 4 tipos:

- Jurisdicional: Quando um tribunal se abstém de julgar

- Administrativo: Uma desobediência de uma C.M. a uma sentença que ordenava


uma demolição de um imóvel em risco de ruína.

- Político

- Legislativo: Situação em que a Constituição impunha ao legislador uma


determinada conduta, ou seja, uma emanação de uma lei e essa mesma lei não é
inserida no ordenamento jurídico pelo legislador:

Ex: Caso Aquapark: Nesta situação foi interposta acção contra o proprietário e
também contra o Estado por este não ter legislação criada, que regulamentasse a
segurança no funcionamento dos parques aquáticos, pondo assim em causa direitos
constitucionais: O direito à vida e o direito à integridade física.

Segundo o Dr. Jorge Miranda existem 3 pressupostos cumulativos para a existência


de uma inconstitucionalidade legislativa por omissão:

- É necessário que o não cumprimento da Constituição derive da violação de certa e


determinada norma: Para a omissão ser considerada, não se deve ter em conta a
Constituição como um todo, mas sim preceitos concretos da Constituição.

Pá gina 110
- É necessário que a Norma Constitucional não seja exequível por si mesma: É
necessário que a norma Constitucional em causa, tivesse uma incompletude que
exigisse ao legislador uma actuação, logo num plano negativo não pode existir
inconstitucionalidade por omissão relativamente a normas constitucionais que por si
mesmas, e sem necessidade de desenvolvimento posterior pudessem ser
aplicáveis.

- É necessário que nas circunstâncias concretas da prática legislativa, faltem as


medidas legislativas concretas e necessárias para tornar exequível a norma
Constitucional: Impõe que em concreto, fossem necessárias as referidas medidas
legislativas, para tornarem exequíveis as normas Constitucionais. É necessário que
a realidade fáctica demonstre a efectiva necessidade da lei que torne exequível a
norma Constitucional.

Se nos casos dos direitos do título II e análogos é sempre possível existir uma
inconstitucionalidade por omissão legislativa, a doutrina divide-se na questão da
possibilidade de inconstitucionalidade legislativa por omissão no caso de direitos
programáticos, assumindo 2 posições:

- Alguns autores como Manuel Afonso Vaz, afirma que não é possível pois: “Como
os condicionalismos económicos e sociais são aferidos pelo legislador, a
possibilidade de criação de leis que desenvolvam direitos programáticos só pode ser
definida pelo legislador”. Conclui-se que segundo esta opinião, não pode existir
inconstitucionalidade legislativa por omissão relativamente a direitos
programáticos.

Gomes Canotilho e Vital Moreira, afirmam que pode existir inconstitucionalidade por
omissão legislativa de direitos programáticos desde que se comprove o seguinte:

- Que num determinado momento histórico, as condições económicas e sociais


proporcionassem a criação de leis que desenvolvessem e executassem direitos
programáticos.

- Que nesse momento histórico, em que a lei era possível, tendo em conta o
referido enquadramento social e económico, não tivesse sido criada.

Conclui-se que não negam de forma absoluta uma omissão legislativa


inconstitucional, mesmo no caso dos direitos programáticos. No entanto tal omissão
só poderá ocorrer se ficar demonstrado que um contexto social económico e social
específico permitia a criação de uma lei que no entanto não foi criada.

Inconstitucionalidade Orgânica/Formal/Material

Diz respeito á origem da inconstitucionalidade e pode ser de 3 tipos:

Pá gina 111
Inconstitucionalidade orgânica: é decorrente de um ato normativo se
proveniente de um órgão incompetente de acordo com a CRP.

Ex: um decreto-lei que legisle uma matéria prevista no art.164ª (reserva absoluta
da A.R)

Inconstitucionalidade formal: Ocorre quando o ato normativo adopta uma forma


ou um processo diferenciados daqueles que estão previstos na Constituição

Ex: falta de promulgação presidencial

Inconstitucionalidade material: Ocorre da contradição entre um ato normativo e


o conteúdo de uma norma ou principio Constitucional. Aqui o que está em causa é o
próprio conteúdo da norma que viola o preceito constitucional.

8.2. A defesa da Constituição: a revisão constitucional

8.2.1. O Poder constituinte: natureza e caracterização

O poder constituinte é um poder, lógica e cronologicamente, anterior à


Constituição que legitima o seu titular a elaborar e aprovar a Constituição.

Segundo EMMANUEL DE SIEYÈS, seu mentor, o poder constituinte reveste as


seguintes características: é um poder inicial porque não existe outro que lhe sirva
de fundamento, é um poder autónomo porque só a este cabe decidir se, como e
quando elaborar a Constituição e é um poder omnipotente porque não conhece
limites (mencionar as reservas quanto a esta última característica).

Quanto ao titular do poder constituinte, historicamente é possível observar a


existência das teorias teocráticas (direito divino), monarquias (direito próprio do
monarca), contratualistas (direito simultaneamente da nação ou do povo e do
monarca) e democráticas (direito do povo, mencionar as teorias da soberania
nacional e da soberania popular).

Quanto ao respectivo exercício, ainda numa perspectiva histórica é possível


observar o exercício do poder constituinte de modo autocrático (totalitário ou
ditatorial) e de modo democrático (directo, representativo ou participativo).

8.2.2. O Poder constituinte e o poder de revisão constitucional

Será que importa distinguir poder constituinte originário de um poder constituinte


derivado? A posição adoptada é a negativa, o poder constituinte (derivado) é a
soberania do povo que se renova constante e perpetuamente.

8.2.3. Os limites à revisão constitucional

Pá gina 112
Os limites à revisão constitucional podem ser orgânicos, procedimentais ou formais,
temporais, materiais e circunstanciais.

8.2.4. A relevância jurídica dos limites materiais em especial

Quanto à natureza jurídica dos limites materiais à revisão constitucional, a doutrina


divide-se entre as teses da irrelevância (MARCELLO CAETANO), dos limites
imanentes (AFONSO QUEIRÓ), da eficácia relativa (JORGE MIRANDA) e da eficácia
absoluta (GOMES CANOTILHO).

Revisão Constitucional

Uma alteração do Regime Constitucional sem que se altere a sua essência e os seus
princípios estruturantes.

As revisões Constitucionais têm sobretudo como objectivo a auto regeneração do


texto constitucional, bem como a eliminação dos preceitos desactualizados e já não
justificados.

Resumindo, uma Revisão Constitucional implica sempre uma alteração dentro da


continuidade, ou seja, mantendo o espírito e os princípios fundamentados da
Constituição, visa-se uma adaptação da Constituição às novas exigências sociais.

Figura semelhante: Transição Constitucional:

- Implica uma ruptura com os princípios e o espírito da Constituição até aí vigente.

- O grau de transformação efectuado no texto constitucional é que permite a


distinção entre esta figura e a Revisão Constitucional

- Uma transição implica uma alteração profunda no texto Constitucional

Requisitos para a realização de uma Revisão Constitucional

(artigos 284º a 289º CRP)

A não verificação de algum destes requisitos implica a não produção de efeitos da


Revisão Constitucional, mantendo o texto anterior em vigor.

Implica uma ineficácia da Revisão Constitucional (RC):

Limites formais: Formalismos a observar numa revisão Constitucional

- Art. 284º, nº1, 1ª parte: Exclusividade da A.R. para realizar a R.C.

- Art.285º: Iniciativa compete aos deputados. Podendo ser a nível individual ou


então por iniciativa de um grupo parlamentar.

- Art.286º, nº3: O PR não pode recusar a promulgação da Lei de revisão.

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- Art.287º: Impõe a publicação da Lei da RC e também da própria Constituição no
seu novo texto

A Lei é unificada e republicada no seu todo

Limites temporais: Dizem respeito ao tempo em que pode ser realizada

- Art. 284º, nº 1, 2ª parte: A RC pode ocorrer 5 anos após a última revisão


ordinária e deve ser aprovada por 2/3 dos deputados de acordo com o art. 286º,
nº1

- Art.284º, nº2: No entanto a A.R. pode aprovar em qualquer momento poderes de


Revisão extraordinária, mas aqui ter-se-á que verificar uma maioria de 4/5 dos
deputados em efectividade de funções.

Limites circunstanciais:

- Art. 289º: Referência às circunstâncias nas quais se pode verificar a RC

Limites materiais: Dizem respeito as questões, assuntos ou matérias, previstas


na Constituição e que não são passíveis de sofrer uma RC. Estas matérias estão
elencadas no art.288º:

a) Uma RC não poderá alienar território, nem poderá garantir a independência de


parte do território.

Alguns autores puseram em causa as RC ocorridas que permitiram a entrada na


CEE e posteriormente na EU, pelo facto de alguma doutrina considerar como
requisito para a independência a emissão de moeda.

b) Esta alínea tem 2 interpretações:

1. Literal: que proíbe qualquer outro sistema que não o nosso sistema republicano,
proibindo por exemplo o regresso à monarquia.

2. Defendida por Gomes Canotilho: Entende que a forma republicana do Governo,


não diz respeito ao sistema de Governo propriamente dito, mas sim a uma
determinada formulação da sociedade que deveria ser associada aos valores
republicanos.

c) Consagração prática: O ensino laico; não é possível a inclusão de símbolos


religiosos na educação.

d) Não é permitida RC que altere os artigos previstos no título II e direitos


análogos. Podem somente ser reforçados.

e) Não são passíveis de RC os artigos 53º a 57º - Direitos trabalhadores

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f) A Constituição prevê a coexistência desses 3 sectores, não sendo passível de
alteração.

g) Previsto mas não verificado actualmente.

h) Impõe que qualquer revisão quanto á eleição de órgãos não possa pôr em causa
a proporcionalidade do sistema eleitoral, nem os elementos constantes dessa
alínea.

i) Impede que uma RC ilegalize um partido político.

j) Não se pode por em causa os relacionamentos entre órgãos: PR, AR, Governo.

No entanto, nada impede uma RC que altere os poderes dos diversos órgãos
públicos, desde que não se ponham em causa os princípios consagrados nesta
alínea.

l) Não podem ser postas em causa as normas que regulam a fiscalização da


constitucionalidade – art.277º a 283º

m) Uma RC não pode desrespeitar a independência dos tribunais.

n) Uma RC não pode desrespeitar a autonomia das Autarquias locais. Essa


autonomia só pode ser reforçada ou aumentada.

o) Idem relativamente às Regiões autónomas

Problemática do artigo 288º - A problemática é se o artigo 288º e os limites


materiais aí descritos podem ser por seu turno sujeitos a uma revisão constitucional
que elimine ou altere uma ou várias restrições aí constantes. Sobre este assunto,
existem 3 teorias:

Defendida pelo Dr. Rui Machete:

Entende que o art.288º da CRP em si mesmo é uma norma comum quanto á


possibilidade de revisão, ou seja o art.288º pode ser revisto desde que respeitados
os limites formais, temporais e circunstanciais. Nesse seguimento defende que
simultaneamente à RC que alterava as limitações materiais constantes do art.288º,
poder-se-ia também alterar o artigo que estaria “protegido” por essa mesma alínea
entretanto alterada.

Esta posição é criticada por retirar qualquer sentido ao estatuído no art. 288º, pois
assim com a possibilidade de alteração deste artigo, na prática não existiriam
limites materiais a qualquer RC.

Defendida pelo Dr. Gomes Canotilho:

Entende que o art. 288º, não é possível de RC, ou seja ao art. 288º é inalterável.

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Para ele, este artigo deve ser interpretado como o ultimo reduto relativamente aos
mais basilares e estruturantes princípios da nossa sociedade, sem os quais a
concepção da sociedade prevista na CRP, não seria possível

Defendida pelo Dr. Jorge Miranda

Defende que o art. 288º é possível de RC, mas que os efeitos da RC apenas se
poderiam repercutir numa futura revisão. Assim uma alínea deste artigo poderia ser
revisto numa RC, mas os efeitos sobre as matérias previstas nessa mesma alínea
só poderiam ser revistos numa próxima RC., e nunca na mesma altura.

Esta doutrina é apelidada de doutrina da dupla revisão. Na prática permite uma RC


que altere uma alínea no art. 288º e posteriormente haverá duas hipóteses:

- Numa próxima RC ordinária (após 5 anos), será discutido a matéria passível de


alteração.

- Numa RC extraordinária será essa mesma matéria discutida, mas haverá


necessidade que 4/5 dos deputados em efectividade de funções votem a favor para
que a mesma matéria seja alterada.

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