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I (10 valores)
1. Democracia participativa.
A democracia participativa consiste na participação dos cidadãos ou de
organizações sociais (sindicatos, associações profissionais, ONGs, etc.) nos
procedimentos e na tomada de decisões dos órgãos do poder público, através de
petições, representações e abaixo-assinados, da participação em consultas populares
sobre propostas legislativas ou outras decisões políticas, da intervenção em
comissões de moradores e nos órgãos consultivos existentes ou em fóruns ad hoc
constituídos, na preparação e recolha de assinaturas para propostas de legislação ou
de referendos. Trata-se de um complemento “informal” da democracia
representativa (“democracia eleitoral”) e da democracia semidirecta (referendos).
Ao contrário destas, a democracia participativa é uma “democracia de pressão” ou
“de influência”, sem poderes decisórios.
3. Lobbying.
Termo de origem imprecisa. A versão mais consensual aponta para o séc. XIX e
refere-se ao pátio de entrada do palácio de Westminster (sede do Parlamento
britânico) – ainda hoje conhecido como central lobby – onde as pessoas convergiam
para tratar de assuntos com os deputados, líderes políticos ou representantes do
governo. O lobbying pode ser definido como a atividade de representação e de defesa
dos interesses de entidades ou grupos organizados junto dos decisores políticos
(deputados, governantes, etc.) com o objetivo de influenciar as decisões do poder
público, em especial do poder legislativo, em favor de causas ou objetivos defendidos
pelo grupo. Em vários países e também na UE, a atividade de lobbying está
reconhecida e regulada (registo dos lobistas, transparência das relações com os
decisores políticos, etc.).
5. Mandato representativo.
No mandato representativo (ou livre) – que carateriza as modernas democracias
representativas - os representantes (deputados) representam o conjunto dos
cidadãos (e não um grupo ou corporação, como nas cortes medievais) e exercem
livremente o seu cargo, sem estarem vinculados a adotar determinadas orientações
previamente definidas pelos representados. Por essa razão o mandato representativo
não pode ser revogado (recall). O mandato representativo distingue-se do mandato
imperativo (ou vinculado), típico da representação política pré-liberal (cortes
medievais) e também das conceções rousseaunianas e leninistas de democracia, em
que os representantes estão obrigados por um programa e vinculados às posições
assumidas perante os representados, aos quais terão de prestar contas (daí a
possibilidade de revogação dos mandatos, ou recall).
II (5 valores)
Exponha de forma sucinta, mas crítica, a caracterização do atual sistema de governo
previsto pela Constituição da República Portuguesa de 1976 (texto originário) e a revisão
constitucional de 1982.
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III (5 valores)
Comente a seguinte frase de Tocqueville relacionando-a com o pensamento político do
seu autor:
Liberty has never come from the government. Liberty has always come from the
subjects of government. The history of liberty is the history of resistance. The
history of liberty is a history of the limitation of governmental power, not the
increase of it.
I (10 valores)
2. Lobbying.
O lobbying pode ser definido como a atividade de representação e de defesa dos
interesses de entidades (empresas, etc.) ou grupos organizados junto dos decisores
políticos (deputados, governantes, etc.) com o objetivo de influenciar as decisões do
poder público, em especial do poder legislativo, em favor de causas ou objetivos
defendidos pelo grupo. Pode ser exercido pelos próprios interessados ou por
lobbyistas profissionais contratados.
Em vários países e também na UE, a atividade de lobbying está legalmente
reconhecida e regulada (registo dos lobistas, transparência das relações com os
decisores políticos, etc.).
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Essa figura estava, por exemplo, prevista na Constituição alemã de Weimar (1919)
para a destituição de presidente da República; era um dos mecanismos previstos nas
constituições dos Estados comunistas; e continua a existir em alguns dos Estados
norte-americanos (Califórnia, por exemplo) e em alguns cantões suíços.
Em princípio, não existe o recall nos sistemas de governo de tipo parlamentar, onde
o poder de eleger não inclui o poder de destituir. Por isso, entre nós não existe
destituição popular nem dos deputados nem do Presidente da República ou de
outros titulares de mandatos eleitos diretamente (por ex. presidentes de câmara
municipal).
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5. Democracia representativa.
A democracia representativa é caraterizada pelo facto de o poder político não ser
exercido diretamente pelo povo (como na democracia direta), mas sim por órgãos
representativos eleitos, nomeadamente uma assembleia representativa.
II (5 valores)
De acordo com esta tese, não é possível compreender o sistema de governo português
sem ter em conta o lugar específico do PR como “quarto poder”, à margem da
dialética da relação parlamento-Governo, claramente inspirada na figura do “poder
moderador” proposta por Benjamin Constant.
Por outro lado, se o PR tem entre nós relevantes poderes próprios, isso não quer
dizer que eles se referem diretamente ao sistema de governo. Na verdade, embora o
Presidente tenha fortes poderes de intervenção institucional (nomeação de altos
cargos públicos, direito de veto dos diplomas legislativos, poder de dissolução
parlamentar e antecipação de eleições, por iniciativa própria, convocação de
referendos, etc.), ele não participa, porém, diretamente da atividade governamental
nem o governo depende politicamente da sua confiança política, pelo que não pode
deixar de nomear um governo que tenha maioria parlamentar nem demitir nenhum
governo por motivo de discordância política (salvo excecionalmente, quando estiver
em causa o "regular funcionamento das instituições").
III (5 valores)
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Liberty has never come from the government. Liberty has always come from the
subjects of government. The history of liberty is the history of resistance. The
history of liberty is a history of the limitation of governmental power, not the
increase of it.
I (10 valores)
1. Democracia representativa.
A democracia representativa é caraterizada pelo facto de o poder político não ser
exercido diretamente pelo povo (como na democracia direta), mas sim por órgãos
representativos eleitos, nomeadamente uma assembleia representativa.
2. Referendo constitucional.
Referendo constitucional é a votação popular o que versa sobre a aprovação ou
ratificação de uma constituição ou de uma revisão constitucional. Referendo
ordinário é o que versa sobre leis ou decisões políticas infraconstitucionais.
Em alguns Estados federais, como os Estados Unidos da América, as revisões
constitucionais estão sujeitas a ratificação pelos estados federados.
No ordenamento constitucional português está proibido o referendo constitucional
às alterações à Constituição (art. 115º/4a)), mas em vários países as alterações à
Constituição efetuadas pelo parlamento têm de ser submetidas a um subsequente
refendo popular.
4. Presidencialismo.
É o modelo classicamente representado desde a origem pelo sistema de governo dos
Estados Unidos da América. As caraterísticas essenciais do sistema são as seguintes:
- A função governamental cabe diretamente ao Presidente da República, não
havendo um governo separado;
- O Presidente é independente do Congresso, não dependendo da sua
confiança política nem podendo ser destituído por desconfiança política;
- O Presidente goza de legitimidade eleitoral própria (eleição direta ou quase
direta) independente do Congresso e acumula as funções de chefe do Estado
e de chefe do executivo, sendo nesta tarefa coadjuvado por secretários de
Estado (ou ministros), cabendo, porém, ao presidente exclusivamente a
condução da ação governativa;
- Há duas eleições e dois órgãos eleitos (sistema bi-representativo); as eleições
decisivas para o executivo e as políticas governamentais são as eleições
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Essa figura estava, por exemplo, prevista na Constituição alemã de Weimar (1919)
para a destituição de presidente da República; era um dos mecanismos previstos nas
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Em princípio, não existe o recall nos sistemas de governo de tipo parlamentar, onde
o poder de eleger não inclui o poder de destituir. Por isso, entre nós não existe
destituição popular nem dos deputados nem do Presidente da República ou de
outros titulares de mandatos eleitos diretamente (por ex. presidentes de câmara
municipal).
II (5 valores)
Num Estado federal os cidadãos têm uma dupla cidadania, participando em dois
tipos diferentes de comunidade política. Como membros de uma unidade federada,
participam na vida política da respetiva comunidade (eleições da assembleia
legislativa própria, referendos, etc.) Como membros da comunidade nacional,
participam na respetiva vida política (eleição do chefe do Estado e do parlamento
federal, referendos nacionais, etc.)
III (5 valores)
Comente uma das seguintes frases:
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a) «As leis não aprovadas pelo próprio povo não são leis» (Rousseau).
I (10 valores)
2. Democracia semidirecta.
A democracia semidireta existe como complemento da democracia representativa
(mas não é uma democracia direta), permitindo aos titulares da soberania uma
intervenção direta em determinadas decisões políticas. Os instrumentos da
democracia semidireta são o referendo, a iniciativa legislativa popular e a iniciativa
popular do referendo, assim como a revogação de mandatos representativos
mediante votação popular.
3. Mandato imperativo.
O mandato imperativo (ou vinculado) é típico da representação política pré-liberal
(cortes medievais) e também das conceções rousseaunianas e leninistas de
democracia, em que os representantes estão obrigados por um programa e
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4. Presidencialismo.
É o modelo classicamente representado desde a origem pelo sistema de governo dos
Estados Unidos da América. As caraterísticas essenciais do sistema são as seguintes:
- A função governamental cabe diretamente ao Presidente da República,
não havendo um governo separado;
- O Presidente é independente do Congresso, não dependendo da sua
confiança política nem podendo ser destituído por desconfiança política;
- O Presidente goza de legitimidade eleitoral própria (eleição direta ou
quase direta) independente do Congresso e acumula as funções de chefe
do Estado e de chefe do executivo, sendo nesta tarefa coadjuvado por
secretários de Estado (ou ministros), cabendo, porém, ao presidente
exclusivamente a condução da ação governativa;
- Há duas eleições e dois órgãos eleitos (sistema bi-representativo); as
eleições decisivas para o executivo e as políticas governamentais são as
eleições presidenciais e não as eleições legislativas, que se limitam a eleger
os deputados;
- Existe separação marcada entre o poder legislativo (Congresso) e o
executivo (Presidente); nem a assembleia pode demitir o governo, que não
é responsável perante ela, nem o presidente pode dissolver aquela e
antecipar eleições;
- Não havendo possibilidade de demissão de um poder pelo outro, nunca
há eleições antecipadas; mesmo no caso de morte do Presidente, ele é
substituído pelo vice-presidente até ao final do mandato;
- A subsistência e o funcionamento dos dois órgãos são independentes,
sem prejuízo da possibilidade de demissão do Presidente por motivo de
impeachment aprovado pelo Congresso (Senado), em caso de grave
infração do Presidente no desempenho do cargo (trata-se de uma
condenação de tipo penal e não de condenação propriamente política);
- Todavia, existem alguns poderes de controlo recíproco (checks and
balances), como o direito de veto do Presidente sobre as leis aprovadas
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5. Impeachment.
Em geral, nos sistemas de eleição popular, direta ou indireta, o presidente não pode
ser destituído. No entanto, este poderá ser destituído por efeito do impeachment pelo
parlamento, em caso de infração constitucional grave (trata-se de uma condenação
de tipo penal e não de condenação propriamente política).
6. Bicamaralismo.
Sistema em que o parlamento está dividido em duas câmaras. Normalmente, o
federalismo implica um sistema bicameral a nível federal, sendo uma das câmaras
representativa da população federal em geral e a outra representativa das unidades
federadas.
II (5 valores)
III (5 valores)
I (10 valores)
1. Lobbying.
O lobbying pode ser definido como a atividade de representação e de defesa dos
interesses de entidades (empresas, etc.) ou grupos organizados junto dos decisores
políticos (deputados, governantes, etc.) com o objetivo de influenciar as decisões do
poder público, em especial do poder legislativo, em favor de causas ou objetivos
defendidos pelo grupo. Pode ser exercido pelos próprios interessados ou por
lobbyistas profissionais contratados.
Em vários países e também na UE, a atividade de lobbying está legalmente
reconhecida e regulada (registo dos lobistas, transparência das relações com os
decisores políticos, etc.).
2. Democracia liberal.
A democracia liberal é a conjugação da democracia política com o liberalismo
político e económico. Por definição, a democracia liberal é uma democracia limitada
pelo liberalismo e um liberalismo limitado pela democracia. Sendo o “governo da
maioria”, a maioria não pode, porém, tudo (“ditadura da maioria”), pois o poder da
maioria é limitado pelas liberdades políticas e económicas dos cidadãos e pelos
direitos da oposição, ambos constitucionalmente garantidos. Sendo um regime
liberal, a democracia pode, porém, exigir limites às liberdades políticas e
económicas, a fim de defender a própria democracia ou outros valores
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4. Presidencialismo.
É o modelo classicamente representado desde a origem pelo sistema de governo dos
Estados Unidos da América. As caraterísticas essenciais do sistema são as seguintes:
- A função governamental cabe diretamente ao Presidente da República, não
havendo um governo separado;
- O Presidente é independente do Congresso, não dependendo da sua
confiança política nem podendo ser destituído por desconfiança política;
- O Presidente goza de legitimidade eleitoral própria (eleição direta ou quase
direta) independente do Congresso e acumula as funções de chefe do Estado
e de chefe do executivo, sendo nesta tarefa coadjuvado por secretários de
Estado (ou ministros), cabendo, porém, ao presidente exclusivamente a
condução da ação governativa;
- Há duas eleições e dois órgãos eleitos (sistema bi-representativo); as eleições
decisivas para o executivo e as políticas governamentais são as eleições
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5. Impeachment.
Em geral, nos sistemas de eleição popular, direta ou indireta, o presidente não pode
ser destituído. No entanto, este poderá ser destituído por efeito do impeachment pelo
parlamento, em caso de infração constitucional grave (trata-se de uma condenação
de tipo penal e não de condenação propriamente política).
II (5 valores)
III (5 valores)
b) “Sempre que o Estado tenta tratar dos nossos assuntos, fica mais caro e o resultado
é pior do que se tratássemos deles nós próprios” (B. Constant).
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I (10 valores)
1. Democracia direta.
Democracia direta é aquela em que a decisões políticas são tomadas diretamente em
assembleias dos cidadãos, como sucedia na antiguidade nas cidades-estado gregas e
ainda hoje sucede em alguns dos pequenos cantões suíços e nas freguesias de
dimensão reduzida entre nós (art. 245º, n.º 2 CRP). Em Portugal, nas freguesias com
150 eleitores ou menos, a assembleia de freguesia é substituída pelo plenário dos
cidadãos eleitores.
2. Estado federal.
O Estado federal pressupõe dois níveis de organização do poder político: federação
e unidades federadas (de novo sem prejuízo da descentralização administrativa em
autarquias locais, como os municípios). As unidades federadas gozam de autonomia
constitucional, com respeito da constituição federal. Existe uma repartição material
dos poderes políticos (legislação, governo, função judicial) entre a federação e as
unidades federadas.
Num Estado federal os cidadãos têm uma dupla cidadania, participando em dois
tipos diferentes de comunidade política. Como membros de uma unidade federada,
participam na vida política da respetiva comunidade (eleições da assembleia
legislativa própria, referendos, etc.) Como membros da comunidade nacional,
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3. Referendo constitucional.
Referendo constitucional é a votação popular o que versa sobre a aprovação ou
ratificação de uma constituição ou de uma revisão constitucional. Referendo
ordinário é o que versa sobre leis ou decisões políticas infraconstitucionais.
Em alguns Estados federais, como os Estados Unidos da América, as revisões
constitucionais estão sujeitas a ratificação pelos estados federados.
No ordenamento constitucional português está proibido o referendo constitucional
às alterações à Constituição (art. 115º/4a)), mas em vários países as alterações à
Constituição efetuadas pelo parlamento têm de ser submetidas a um subsequente
refendo popular.
4. Presidencialismo.
É o modelo classicamente representado desde a origem pelo sistema de governo dos
Estados Unidos da América. As caraterísticas essenciais do sistema são as seguintes:
- A função governamental cabe diretamente ao Presidente da República,
não havendo um governo separado;
- O Presidente é independente do Congresso, não dependendo da sua
confiança política nem podendo ser destituído por desconfiança política;
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5. Bicamaralismo.
Sistema em que o parlamento está dividido em duas câmaras. Normalmente, o
federalismo implica um sistema bicameral a nível federal, sendo uma das câmaras
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6. Mandato representativo.
No mandato representativo (ou livre) – que carateriza as modernas democracias
representativas - os representantes (deputados) representam o conjunto dos
cidadãos (e não um grupo ou corporação, como nas cortes medievais) e exercem
livremente o seu cargo, sem estarem vinculados a adotar determinadas orientações
previamente definidas pelos representados. Por essa razão o mandato representativo
não pode ser revogado (recall). O mandato representativo distingue-se do mandato
imperativo (ou vinculado), típico da representação política pré-liberal (cortes
medievais) e também das conceções rousseaunianas e leninistas de democracia, em
que os representantes estão obrigados por um programa e vinculados às posições
assumidas perante os representados, aos quais terão de prestar contas (daí a
possibilidade de revogação dos mandatos, ou recall).
II (5 valores)
b) «Não é possível compreender o sistema de governo português sem ter em conta o lugar
específico do PR como “quarto poder”, à margem da dialética da relação parlamento-
Governo, claramente inspirada na figura do “poder moderador” proposta por Benjamin
Constant».
III (5 valores)
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a) «O poder legislativo não pode transferir o poder de fazer leis para outras mãos,
porquanto, não sendo senão um poder delegado pelo povo, quem o detêm não o pode
passar para outrem» (J. Locke).
I (10 valores)
1. Democracia representativa.
A democracia representativa é caraterizada pelo facto de o poder político não ser
exercido diretamente pelo povo (como na democracia direta), mas sim por órgãos
representativos eleitos, nomeadamente uma assembleia representativa.
2. Impeachment.
Em geral, nos sistemas de eleição popular, direta ou indireta, o presidente não pode
ser destituído. No entanto, este poderá ser destituído por efeito do impeachment pelo
parlamento, em caso de infração constitucional grave (trata-se de uma condenação
de tipo penal e não de condenação propriamente política).
3. Referendo constitucional.
Referendo constitucional é a votação popular o que versa sobre a aprovação ou
ratificação de uma constituição ou de uma revisão constitucional. Referendo
ordinário é o que versa sobre leis ou decisões políticas infraconstitucionais.
5. Bicamaralismo.
Sistema em que o parlamento está dividido em duas câmaras. Normalmente, o
federalismo implica um sistema bicameral a nível federal, sendo uma das câmaras
representativa da população federal em geral e a outra representativa das unidades
federadas.
Essa figura estava, por exemplo, prevista na Constituição alemã de Weimar (1919)
para a destituição de presidente da República; era um dos mecanismos previstos nas
constituições dos Estados comunistas; e continua a existir em alguns dos Estados
norte-americanos (Califórnia, por exemplo) e em alguns cantões suíços.
Em princípio, não existe o recall nos sistemas de governo de tipo parlamentar, onde
o poder de eleger não inclui o poder de destituir. Por isso, entre nós não existe
destituição popular nem dos deputados nem do Presidente da República ou de
outros titulares de mandatos eleitos diretamente (por ex. presidentes de câmara
municipal).
II (5 valores)
III (5 valores)
a) «O poder legislativo não pode transferir o poder de fazer leis para outras mãos,
porquanto, não sendo senão um poder delegado pelo povo, quem o detêm não o pode
passar para outrem» (J. Locke).
Faculdade de Direito
Prova de Frequência/Exame
21/01/2019
Duração:2h
I (10 valores)
1. Cidadania.
Na linguagem corrente e, mesmo na ciência política, a noção de cidadania pode ter
dois significados diferentes: um sentido amplo, equivalente a nacionalidade, e um
sentido estrito, ou seja, membro de uma comunidade política e titular dos respetivos
direitos políticos ou “direitos de cidadania”. No primeiro sentido, a cidadania é: (i)
um vínculo jurídico-político que liga de uma forma estável um indivíduo a uma
determinada entidade política soberana, normalmente um Estado (unitário ou
federal); (ii) um direito reconhecido aos indivíduos pela Declaração Universal dos
Direitos do Homem (artigo 15º) por várias convenções internacionais e pela CRP
(artigo 26º, nº 1), gozando do regime específico aplicável aos direitos, liberdades e
garantias; (iii) um direito de acesso a direitos, uma vez que tanto o Direito
internacional como as ordens jurídicas internas dos diferentes Estados fazem em
regra depender de um vínculo de cidadania previamente estabelecido a possibilidade
de os indivíduos acederem a um significativo conjunto de direitos,
fundamentalmente ligados às liberdades de deslocação (transfronteiriça) e de
fixação e, bem assim, aos direitos e liberdades de participação política.
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2. Democracia representativa.
A democracia representativa é caraterizada pelo facto de o poder político não ser
exercido diretamente pelo povo através de assembleias e / ou deliberações populares
(como na democracia direta), mas sim por órgãos representativos eleitos pelos
cidadãos, nomeadamente uma assembleia representativa. Numa democracia
representativa, a principal forma de expressão e intervenção política são as eleições
para os órgãos representativos, a começar pelos parlamentos. Muitas vezes também
são diretamente eleitos os Presidentes da República ou os chefes de certos órgãos
executivos (por exemplo, os governadores dos Estados federados ou os presidentes
dos municípios). A democracia representativa é antes de mais uma democracia
eleitoral, através de eleições livres e periódicas por sufrágio universal, secreto, igual
e direto. A democracia representativa pode comportar formas de democracia
participativa (assembleias populares, consultas populares, conselhos consultivos,
etc.), que, porém, não revestem natureza deliberativa.
A democracia representativa propriamente dita distingue-se também da chamada
“democracia popular”, entre outras coisas pelo facto de o mandato representativo
não ser vinculado e de, em princípio, não haver possibilidade de revogação popular
dos mandatos dos representantes eleitos antes do seu termo.
5. Presidencialismo.
É o modelo classicamente representado desde a origem pelo sistema de governo dos
Estados Unidos da América. As caraterísticas essenciais do sistema são as seguintes:
⎯ A função governamental cabe diretamente ao Presidente da República,
não havendo um governo separado;
⎯ O Presidente é independente do Congresso, não dependendo da sua
confiança política nem podendo ser destituído por desconfiança política;
⎯ O Presidente goza de legitimidade eleitoral própria (eleição direta ou
quase direta) independente do Congresso e acumula as funções de chefe
do Estado e de chefe do executivo, sendo nesta tarefa coadjuvado por
secretários de Estado (ou ministros), cabendo, porém, ao presidente
exclusivamente a condução da ação governativa;
⎯ Há duas eleições e dois órgãos eleitos (sistema birrepresentativo); as
eleições decisivas para o executivo e as políticas governamentais são as
eleições presidenciais e não as eleições legislativas, que se limitam a eleger
os deputados;
⎯ Existe separação marcada entre o poder legislativo (Congresso) e o
executivo (Presidente); nem a assembleia pode demitir o governo, por
motivo de divergência política, pois não é responsável perante ela, nem o
presidente pode dissolver aquela e antecipar eleições;
⎯ Não havendo possibilidade de demissão de um poder pelo outro, nunca
há eleições antecipadas; mesmo no caso de morte do Presidente, ele é
substituído pelo vice-presidente até ao final do mandato;
⎯ A subsistência e o funcionamento dos dois órgãos são independentes, sem
prejuízo da possibilidade de demissão do Presidente por motivo de
impeachment aprovado pelo Congresso (Senado), em caso de grave
infração do Presidente no desempenho do cargo (trata-se de uma
condenação de tipo penal e não de condenação propriamente política);
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II (5 valores)
A distinção tem a ver com natureza do mandato político dos representantes eleitos:
a) Mandato imperativo – O mandato imperativo (ou vinculado) é típico da
representação política pré-liberal (Cortes medievais) e também das
conceções rousseaunianas e leninistas de democracia, em que os
representantes representam especificamente quem os elegeu e estão
obrigados por um programa e vinculados às posições assumidas perante
os representados, sendo politicamente responsáveis perante estes no
decurso do mandato (daí a possibilidade de revogação dos mandatos, ou
recall).
b) Mandato representativo – No mandato representativo (ou livre), que
carateriza as modernas democracias representativas, os representantes
(deputados) representam o conjunto dos cidadãos (e não uma localidade,
um grupo ou corporação, como nas Cortes medievais) e exercem
livremente o seu cargo, sem estarem vinculados a adotar determinadas
orientações previamente definidas pelos representados. Por essa razão o
mandato representativo não pode ser revogado (recall).
É comummente aceite que não existe mandato representativo até aos finais do século
XVIII – revoluções liberais -, pelo que antes disso, a designação comum dos
representantes eleitos era de “procuradores”. Com o advento do constitucionalismo
moderno, o mandato representativo veio substituir o mandato imperativo,
fundando-se, sobretudo, no célebre discurso dirigido por Edmund Burke ao
eleitorado de Bristol (1774): “vosso representante deve a vós não somente sua
indústria, senão seu juízo, e vos atraiçoa, em vez de vos servir, se se sacrifica à vossa
opinião”. A Constituição francesa de 1791 proibia terminantemente o mandato
imperativo. Em Portugal, a Constituição de 1822 veios determinar que “cada
deputado é procurador e representante de toda a Nação e não o é somente da divisão
que o elegeu” (art.º 94º).
No entanto, não devemos deixar de ter em conta que desde as Cortes de 1331 os
procuradores do povo (eleitos a nível municipal) podiam discutir e formular
“capítulos gerais” no interesse comum e da boa governabilidade do reino, incluindo
temas não compreendidos nas suas procurações. Por isso, há quem entenda que
durante a Idade Média a “regra geral foi a de os procuradores serem representantes
e não meros porta-vozes. E isso desde muito cedo, sem dúvida, desde 1331”. Por outro
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deixar de nomear um governo que tenha maioria parlamentar nem demitir nenhum
governo por motivo de discordância política (salvo excecionalmente, quando estiver
em causa o "regular funcionamento das instituições" -, o que nunca sucedeu).
Estruturalmente, segundo esta tese, o sistema de governo português é hoje um
sistema de índole essencialmente parlamentar, em que os governos são constituídos
no seguimento das eleições parlamentares e de acordo com o seu resultado, e em que
o Presidente da Republica não compartilha da função executiva nem da atividade
governamental, cabendo-lhe antes um papel de defesa da Constituição, de
supervisão e do sistema político e de moderador da vida política, fazendo lembrar,
como se referiu, o “poder neutro” de Benjamin Constant, que entre nós inspirou a
Carta Constitucional de 1826, a mais duradoura constituição portuguesa.
III (5 valores)
Aristóteles foi o primeiro autor a proceder a uma classificação tipológica das formas
de governo, recorrendo para isso a dois critérios: (i) o número de governantes,
conforme fossem um só, vários ou muitos; (ii) o facto de os governantes governarem
em prol do interesse de todos ou apenas do interesse deles próprios. Aparentemente,
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Aristóteles deu mais importância ao segundo critério do que ao primeiro. Por isso,
condenou a democracia, porque na sua classificação, embora fosse um governo de
muitos, era um governo em prol dos interesses dos governantes e não de toda a gente.
A classificação das formas de governo de Aristóteles teve uma grande influência no
pensamento político pelos séculos fora, incluindo Maquiavel, Hobbes, Locke, etc. A
sua crítica à democracia encontrou eco na construção da democracia liberal
contemporânea, enquanto governo da maioria, limitado, porém, pelos direitos dos
indivíduos e das minorias.
Faculdade de Direito
04/07/2019
Duração:2h
I (10 valores)
1. Lobbying.
O lobbying pode ser definido como a atividade de representação e de defesa dos
interesses de entidades (empresas, etc.) ou grupos organizados junto dos decisores
políticos (deputados, governantes, etc.) com o objetivo de influenciar as decisões do
poder público, em especial do poder legislativo, em favor de causas ou objetivos
defendidos pelo grupo. Pode ser exercido pelos próprios interessados ou por
lobbyistas profissionais contratados.
2. Referendo constitucional.
Referendo constitucional é a votação popular o que versa sobre a aprovação ou
ratificação de uma constituição ou de uma revisão constitucional. Referendo
ordinário é o que versa sobre leis ou decisões políticas infraconstitucionais.
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5. Mandato representativo.
No mandato representativo (ou livre) – que carateriza as modernas democracias
representativas - os representantes (deputados) representam o conjunto dos
cidadãos (e não um grupo ou corporação, como nas cortes medievais) e exercem
livremente o seu cargo, sem estarem vinculados a adotar determinadas orientações
previamente definidas pelos representados. Por essa razão o mandato representativo
não pode ser revogado (recall). O mandato representativo distingue-se do mandato
imperativo (ou vinculado), típico da representação política pré-liberal (cortes
medievais) e também das conceções rousseaunianas e leninistas de democracia, em
que os representantes estão obrigados por um programa e vinculados às posições
assumidas perante os representados, aos quais terão de prestar contas (daí a
possibilidade de revogação dos mandatos, ou recall).
Essa figura estava, por exemplo, prevista na Constituição alemã de Weimar (1919)
para a destituição de presidente da República; era um dos mecanismos previstos nas
constituições dos Estados comunistas; e continua a existir em alguns dos Estados
norte-americanos (Califórnia, por exemplo) e em alguns cantões suíços.
Em princípio, não existe o recall nos sistemas de governo de tipo parlamentar, onde
o poder de eleger não inclui o poder de destituir. Por isso, entre nós não existe
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II (5 valores)
a) Presidencialismo norte-americano.
De acordo com esta tese, não é possível compreender o sistema de governo português
sem ter em conta o lugar específico do PR como “quarto poder”, à margem da
dialética da relação parlamento-Governo, claramente inspirada na figura do “poder
moderador” proposta por Benjamin Constant.
Há quem veja na eleição direta do PR um traço semipresidencialista do sistema de
governo. Errado. Existem muitas repúblicas tipicamente parlamentares em que o
PR é diretamente eleito e não tem nenhuns poderes exorbitantes de um sistema de
governo parlamentar (Áustria, Irlanda, Islândia, etc.). A eleição direta não quer
dizer necessariamente presidencialismo nem semipresidencialismo.
Por outro lado, se o PR tem entre nós relevantes poderes próprios, isso não quer
dizer que eles se referem diretamente ao sistema de governo. Na verdade, embora o
Presidente tenha fortes poderes de intervenção institucional (nomeação de altos
cargos públicos, direito de veto dos diplomas legislativos, poder de dissolução
parlamentar e antecipação de eleições, por iniciativa própria, convocação de
referendos, etc.), ele não participa, porém, diretamente da atividade governamental
nem o governo depende politicamente da sua confiança política, pelo que não pode
deixar de nomear um governo que tenha maioria parlamentar nem demitir nenhum
57
III (5 valores)
a) «As leis não aprovadas pelo próprio povo não são leis» (Rousseau)»
Faculdade de Direito
Prova de Frequência/Exame
27/01/2020
Duração:2h
I (10 valores)
1. Estado federal.
O Estado federal pressupõe dois níveis de organização do poder político: federação
e unidades federadas (sem contar com a descentralização administrativa em
autarquias locais, como os municípios) e dois níveis constitucionais. As unidades
federadas gozam de autonomia constitucional, tendo a sua própria constituição, com
respeito da constituição federal. Existe uma repartição material dos poderes
políticos (legislação, governo, função judicial) entre a federação e as unidades
federadas, cabendo a repartição de competências à constituição federal.
Num Estado federal os cidadãos têm uma dupla cidadania, participando em dois
tipos diferentes de comunidade política. Como membros de uma unidade federada,
participam na vida política da respetiva comunidade (eleições da assembleia
legislativa própria, referendos, etc.) Como membros da comunidade nacional,
federal, participam na respetiva vida política (eleição do chefe do Estado e do
parlamento federal, referendos nacionais, etc.).
2. Referendo constitucional.
Referendo constitucional é a votação popular o que versa sobre a aprovação ou
ratificação de uma constituição ou de uma revisão constitucional, assim se
distinguindo do referendo ordinário, que incide sobre leis ou decisões políticas
infraconstitucionais. O referendo constitucional tanto pode incidir diretamente
sobre a aprovação de um projeto de constituição ou revisão constitucional como
consistir na ratificação popular de um texto já previamente aprovado pelo
parlamento.
Em alguns Estados federais, como os Estados Unidos da América, as revisões da
Constituição federal estão sujeitas a ratificação institucional pelos estados
federados, que é um referendo “sui generis”, que não tem de passar por uma votação
popular, mas sim por votação dos parlamentos das unidades federadas.
Em Portugal, a Constituição de 1976 não foi submetida a referendo e o ordenamento
constitucional português não admite o referendo às alterações à Constituição; mas
em vários países as constituições foram aprovadas ou ratificadas por referendo
(como em França ou na Espanha) e as alterações à Constituição efetuadas pelo
parlamento têm de ser submetidas a um subsequente refendo popular, como é o caso
da Espanha.
3. Democracia participativa.
A democracia participativa consiste na participação dos cidadãos ou de
organizações sociais (sindicatos, associações profissionais, ONGs, etc.) nos
procedimentos e na tomada de decisões dos órgãos do poder público, através de
61
4. Presidencialismo.
É o modelo classicamente representado desde a origem pelo sistema de governo dos
Estados Unidos da América. As caraterísticas essenciais do sistema são as seguintes:
⎯ A função governamental cabe diretamente ao Presidente da República,
não havendo um governo separado, como nos sistemas de governo
parlamentar;
⎯ O Presidente goza de legitimidade eleitoral própria (eleição direta ou
quase direta) independente do Congresso e acumula as funções de chefe
do Estado e de chefe do executivo, sendo nesta tarefa coadjuvado por
secretários de Estado (ou ministros), cabendo, porém, ao presidente
exclusivamente a condução da ação governativa;
⎯ O Presidente é independente do Congresso, não dependendo da sua
confiança política nem podendo ser destituído por desconfiança política;
⎯ Há duas eleições e dois órgãos eleitos (sistema birrepresentativo); as
eleições decisivas para o executivo e as políticas governamentais são as
eleições presidenciais e não as eleições legislativas, que se limitam a eleger
os deputados;
⎯ Existe separação marcada entre o poder legislativo (Congresso) e o
executivo (Presidente); nem a assembleia pode demitir o governo, por
motivo de divergência política, pois não é responsável perante ela, nem o
presidente pode dissolver aquela e antecipar eleições;
62
5. Impeachment.
Em geral, nos sistemas de eleição popular, direta ou indireta, do Presidente da
República (ou outros cargos políticos eletivos, como os mayors municipais), ele não
pode ser destituído pelo parlamento. No entanto, em alguns países, como nos Estados
Unidos da América ou no Brasil, o presidente poderá ser destituído por efeito do
impeachment pelo parlamento, em caso de infração constitucional grave (trata-se de
uma condenação de tipo penal e não de condenação propriamente política). No
entanto, como a condenação exige maioria qualificada, são em geral raros os casos
em que ela vinga, salvo no Brasil, onde já houve duas condenações, na vigência da
Constituição de 1988.
6. Lobbying
O lobbying pode ser definido como a atividade de representação e de defesa dos
interesses de entidades (empresas, etc.) ou grupos organizados junto dos decisores
políticos (deputados, governantes, etc.) com o objetivo de influenciar as decisões do
poder público, em especial do poder legislativo, em favor de causas ou objetivos
63
defendidos pelo grupo. Pode ser exercido pelos próprios interessados ou por lobistas
profissionais contratados.
II (5 valores)
Nos sistemas de governo parlamentar os governos são formados a partir das eleições
legislativas (para o parlamento), ao contrário dos sistemas presidencialistas, onde
há eleições para o parlamento e eleições separadas para o Presidente, que passa a
gozar de legitimidade eleitoral própria (eleição direta ou quase direta), acumulando
as funções de chefe do Estado e de chefe do executivo. Consequentemente, ao
contrário do que sucede nos sistemas presidencialistas, onde o Presidente/Governo
é politicamente independente do parlamento, nos sistemas parlamentaristas o
governo depende da confiança e é responsável perante o parlamento.
Dado que os governos são nomeados de acordo com as eleições parlamentares, estas
tendem a tornar-se numa disputa entre candidatos a primeiro-ministro, mas o
vencedor das eleições só tem assegurada a chefia do governo se obtiver maioria
absoluta ou se conseguir uma coligação com outro ou outros partidos que lhe
assegurem essa maioria (de outro modo, pode não chegar a obter a investidura
parlamentar, como sucedeu em Portugal em 2015).
Uma vez que são nomeados em função das eleições parlamentares e da composição
dos parlamentos, os governos dependem do apoio parlamentar, pelo que, se não
gozam de maioria parlamentar absoluta, têm de procurar alianças parlamentares
64
A distinção tem a ver com natureza do mandato político dos representantes eleitos:
65
III (5 valores)
Thomas Hobbes (1578-1679) foi um filósofo inglês que teve no Leviathan a sua obra
mais conhecida. Nela desenvolve uma teoria contratualista do poder político –
legitimando este num acordo tácito entre os membros da comunidade, tendo em
vista a segurança individual e a ordem social. Para Hobbes a natureza humana é
naturalmente egoísta e conflituosa, pelo que no “estado de natureza” os homens
levam uma vida “bruta e curta”. É nesse sentido que o homem se torna o lobo do
próprio homem, já que procurando atingir os seus objectivos individuais (a riqueza,
a segurança e a reputação ou glória), entram em conflito com os demais, o que gera
um clima de insegurança e de guerra. Essa situação (o “estado de natureza”) impõe
um poder político forte, capaz de garantir e impor a todos a harmonização dos
interesses individuais e a sua submissão ao bem comum. Pelo pacto social, os
membros da coletividade delegam no soberano todos os poderes necessários, de
forma incondicional e irrevogável. Esse poder político forte – que torna Hobbes num
defensor do absolutismo – será, portanto, uma necessidade da própria vida em
sociedade (um pacto de submissão).
67
b) «The end of law is not to abolish or restrain, but to preserve and enlarge freedom
(A finalidade do direito não é limitar ou restringir a liberdade, mas sim preservá-
la e aumentá-la) – John Locke, Two treatises of government.
John Locke (1632-1704) foi um filósofo inglês, considerado o pai do liberalismo, nas
suas diversas vertentes (liberdades individuais, limitação do poder do Estado para
salvaguarda dessas liberdades, separação de poderes entre o poder legislativo e o
poder executivo, poder político representativo consubstanciado num parlamento
eleito).
A sua conceção política tem uma origem contratualista (tal como Hobbes ou
Rousseau), mas com fundamento e objetivos diferentes. O poder resulta, assim, de
um consentimento que se mantém e se renova na representatividade parlamentar
A sua obra política maior (os Two treatises of government, publicados em 1689) é
historicamente motivada pela Revolução Gloriosa (ocorrida no ano anterior) que
levou ao trono William de Orange e Mary II, depondo o pai desta, James II. Embora
com conotações religiosas, esta revolução marcou a afirmação do parlamentarismo
britânico e o advento do moderno constitucionalismo, no qual assume uma posição
central o Bill of Rights de 1689.
A obra de John Locke surge nessa defesa do liberalismo e das liberdades individuais,
contra o poder absoluto do rei. Defende a natureza pacífica e racional do homem, o
qual tem (por isso) inalienáveis direitos, nomeadamente a liberdade e a propriedade,
face aos outros e face ao Estado. Como se diz na frase citada, a lei surge exatamente
como expressão da obrigação do Estado, não somente de respeitar as liberdades
individuais, nomeadamente a liberdade e a propriedade, mas também de as garantir
contra terceiros.
68
Faculdade de Direito
09/07/2020
Duração: 1:30h
I (10 valores)
1. Democracia direta.
Democracia direta é aquela em que a decisões políticas, incluindo a aprovação de
normas e a designação de magistrados executivos, são tomadas diretamente em
assembleias dos cidadãos, como sucedia na antiguidade nas cidades-estado gregas,
especialmente Atenas, e ainda hoje sucede, por exemplo, em alguns dos pequenos
cantões suíços e nas freguesias de dimensão reduzida entre nós (art. 245º, n.º 2 CRP).
Em Portugal, nas freguesias com 150 eleitores ou menos, a assembleia de freguesia
é substituída pelo plenário dos cidadãos eleitores, cabendo a estes exercer todas as
funções daquela (designação da junta de freguesia, aprovação do orçamento e
contas, aprovação de regulamentos, etc.). Como mostram os exemplos, a democracia
direta só pode funcionar em coletividades de dimensão relativamente reduzida, onde
seja possível as pessoas reunirem-se sem grandes deslocações.
3. Referendo constitucional.
Referendo constitucional é a votação popular o que versa sobre a aprovação ou
ratificação de uma constituição ou de uma revisão constitucional. Referendo
ordinário é o que versa sobre leis ou decisões políticas infraconstitucionais. Quando
versa sobre revisões constitucionais, o referendo constitucional pode ser obrigatório
(porque imposto pela Constituição), proibido (por que excluído pela Constituição)
ou simplesmente permitido.
Essa figura estava, por exemplo, prevista na Constituição alemã de Weimar (1919)
para a destituição de presidente da República; era um dos mecanismos previstos nas
72
II (10 valores)
que este sistema favorece os maiores partidos nacionais e os partidos com forte
implantação numa certa região (como os partidos autonomistas/separatistas), em
prejuízo dos partidos pequenos/médios com uma repartição territorial do voto
relativamente homogénea ou territorialmente dispersa. Por isso, os sistemas
maioritários tendem a restringir o leque de partidos com representação parlamentar
e a favorecer maiorias parlamentares absolutas do partido vendedor das eleições
(mesmo com maioria relativa), ao contrário dos sistemas proporcionais.
O caso mais tradicional de eleição por maioria relativa é o do Reino Unido; e o caso
mais típico de eleição de maioria absoluta é o da França.
A distinção tem a ver com natureza do mandato político dos representantes eleitos:
o mandato dos procuradores às antigas Cortes é um mandato imperativo e o mandato
dos deputados nos modernos parlamentos é um mandato representativo:
É comummente aceite que não existe mandato representativo até aos finais do século
XVIII – revoluções liberais –, pelo que antes disso, a designação comum dos
representantes eleitos era de “procuradores”. Com o advento do constitucionalismo
moderno, o mandato representativo veio substituir o mandato imperativo,
fundando-se, sobretudo, no célebre discurso dirigido por Edmund Burke ao
eleitorado de Bristol (1774): “vosso representante deve a vós não somente sua
indústria, senão seu juízo, e vos atraiçoa, em vez de vos servir, se se sacrifica à vossa
opinião”. A Constituição francesa de 1791 proibia terminantemente o mandato
imperativo. Em Portugal, a Constituição de 1822 veios determinar que “cada
deputado é procurador e representante de toda a Nação e não o é somente da divisão
que o elegeu” (art.º 94º).
No entanto, não devemos deixar de ter em conta que desde as Cortes de 1331 os
procuradores do povo (eleitos a nível municipal) podiam discutir e formular, em
conjunto, “capítulos gerais” no interesse comum e da boa governabilidade do reino,
incluindo temas não compreendidos nas suas procurações concelhias. Por isso, há
quem entenda que durante a Idade Média a “regra geral foi a de os procuradores
serem representantes e não meros porta-vozes. E isso desde muito cedo, sem dúvida,
desde 1331”. Mas se podiam ir além do mandato, não podiam ir contra ele. Por outro
lado, atualmente a “disciplina de voto” imposta pelos partidos no parlamento é
entendida como uma manifestação do mandato imperativo ou vinculado, não
diretamente em relação aos eleitores, mas sim em relação aos partidos em nome dos
quais os deputados foram eleitos.
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Faculdade de Direito
1.º Ciclo de Estudos
Direito - 1.º Ano
Prova de Frequência/Exame: 15/06/2021
Duração: 1:30h
Notas:
a) Pode alterar a ordem das respostas;
b) Deixe pelo menos uma linha entre cada resposta.
I (14 valores)
1. Democracia direta.
Democracia direta é aquela em que a decisões políticas, incluindo a aprovação de
normas e a designação de magistrados executivos, são tomadas diretamente por
votação em assembleias dos cidadãos, como sucedia na antiguidade nas cidades-
estado gregas, especialmente Atenas, e ainda hoje sucede, por exemplo, em alguns
dos pequenos cantões suíços e nas freguesias de dimensão reduzida entre nós (art.
245º, n.º 2 CRP). Em Portugal, nas freguesias com 150 eleitores ou menos, a
assembleia de freguesia eleita é substituída pelo plenário dos cidadãos eleitores,
cabendo a estes exercer todas as funções daquela (designação da junta de freguesia,
aprovação do orçamento e contas, aprovação de regulamentos, etc.). Como mostram
os exemplos, a democracia direta só pode funcionar em coletividades de dimensão
territorial relativamente reduzida, onde seja possível as pessoas reunirem-se sem
grandes deslocações.
convocação do referendo pode ser decidida por iniciativa própria dos órgãos
competentes ou mediante petição dos cidadãos.
5. Parlamento bicamaralista.
Sistema em que o parlamento é composto por duas câmaras, por vezes designada
por “câmara alta” e “câmara baixa”. Normalmente, o federalismo implica um
sistema bicameral a nível federal, sendo uma das câmaras representativa da
população federal em geral e a outra representativa das unidades federadas. A
câmara de representação das unidades federadas pode não ser diretamente eleita,
sendo composta por representantes dos órgãos políticos daquelas. Mas pode existir
sistema bicamaral em estados unitários, regionais ou não (por exemplo, Espanha,
França, Itália). De resto, o mais tradicional sistema bicamaral é o do Reino Unido,
com a Câmara dos Lordes (não eletiva) e a Câmara dos Comuns.
A articulação de poderes entre as duas câmaras varia de país para país.
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Essa figura estava, por exemplo, prevista na Constituição alemã de Weimar (1919)
para a destituição de presidente da República; era um dos mecanismos previstos nas
constituições dos Estados comunistas para os deputados; e continua a existir em
alguns dos Estados norte-americanos (Califórnia, por exemplo), assim como em
vários países latino-americanos. Por princípio, o recall pressupõe a eleição
uninominal dos titulares de cargos políticos, o que, no caso dos deputados, exige um
sistema eleitoral maioritário em círculos uninominais.
Em princípio, não existe o recall nos sistemas de governo de tipo parlamentar, onde
o poder de eleger não inclui o poder de destituir, em virtude do chamado mandato
representativo ou mandato livre dos deputados e de outros titulares de órgãos
eletivos. Por isso, entre nós não existe destituição popular nem dos deputados nem
do Presidente da República ou de outros titulares de mandatos eleitos diretamente
(por ex., presidentes de câmara municipal).
7. Voto censitário.
80
II (6 valores)
De acordo com esta análise – que descreve bem o papel do Presidente da República
entre nós –, não é possível compreender o sistema de governo português sem ter em
conta o lugar específico do Presidente da República como “quarto poder”, à margem
da dialética da relação parlamento-Governo, claramente inspirada na figura do
“poder moderador” proposta por Benjamin Constant.
Há quem veja na eleição direta do Presidente da República um traço
semipresidencialista do sistema de governo. Mas esta tese é improcedente, na
medida em que existem muitas repúblicas tipicamente parlamentares em que o
Presidente da República é diretamente eleito e não tem nenhuns poderes
exorbitantes de um sistema de governo parlamentar (Áustria, Irlanda, Islândia,
etc.). A eleição direta não quer dizer necessariamente presidencialismo nem
semipresidencialismo.
Por outro lado, se o Presidente da República tem entre nós relevantes poderes
próprios, isso não quer dizer que eles se referem diretamente à atividade
governativa. Na verdade, embora o Presidente tenha fortes poderes de intervenção
institucional (nomeação de altos cargos públicos, poder de veto dos diplomas
legislativos, poder de dissolução parlamentar e antecipação de eleições, por
iniciativa própria, demissão do Governo em condições excecionais, etc.), ele não
participa, porém, diretamente da atividade governamental nem o governo depende
politicamente da sua confiança política, pelo que não pode deixar de nomear um
governo que tenha maioria parlamentar nem demitir nenhum governo por motivo
de discordância política (salvo excecionalmente, quando estiver em causa o “regular
funcionamento das instituições”). No sistema de governo português, o Presidente da
República não governa, não semigoverna, nem cogoverna. Ele não integra o poder
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