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Direito Romano · FDUL

ORGANIZAÇÃO POLÍTICA

DA MONARQUIA À REPÚBLICA (753 a.C. – 367 a.C.)

Aspectos históricos

Reis de Roma – Rómulo, Numa, Túlio, Anco, Tarquínio Prisco, Sérvio Túlio e
Tarquínio, o Soberbo.

Tarquínio Prisco (616 a.C. – 579 a.C.) – destrói as instituições políticas (Senado e
Assembleias Populares) e passa a governar despoticamente.

Sérvio Túlio (578 a.C. – 539 a.C.) – reinstitucionaliza o poder político no sentido de
favorecimento dos plebeus e ordena o primeiro censo (cria a censura).

Tarquínio, o Soberbo (535 a.C. – 509 a.C.) – reintroduz o poder despótico absoluto,
anulando os efeitos das reformas servianas. O carácter absoluto, tirânico e arbitrário do seu
governo, levou à queda da monarquia através de uma conspiração palaciana promovida por
nobres, em 510 a.C. e que foi imediatamente apoiada pela população romana.

Desde o fim da monarquia ao início da República Romana assiste-se a violência civil e


tumultos que só terminam com a pacificação conseguida através da admissão de plebeus nas
magistraturas supremas.

Religiosidade do Rex

Tarquínio Prisco introduz o elemento religioso e simbólico na legitimação do chefe da


comunidade romana, substituindo a legitimação política. A base religiosa e, assim, “jurídica”
dos romanos era fundada no culto etrusco da tríade (Júpiter, Minerva e Juno).

Tribos, gens e família

As tribos de Roma eram três: Ramnes (matriz latina), Tities (matriz sabina) e Luceres
(matriz etrusca).

Os grupos familiares e clientelares dispersos e fracos foram-se agrupando às gens


mais fortes em busca de proteção e estas aumentavam o seu poder com a junção de novas terras
e a agregação de mais comunidades. A relação de pertença à gens era exclusiva (só se podia
pertencer a uma).

A dicotomia entre Patrícios e Plebeus

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Os primeiros habitantes de Roma eram os proprietários rurais, designados por patricii,


que em caso de guerra, integravam a cavalaria (equites), e a massa popular, conhecida por
plebe. Os dois grupos viviam separados e os plebeus em relação de dependência com os
patrícios.

Até ao reinado de Sérvio Túlio, a plebe não fazia parte da organização política de
Roma. Após as reformas servianas, os plebeus ganham cidadania e entram nos comícios
centuriais, pagam impostos e prestam serviço militar.

Até à Lex Canuleia de 445 a.C., os plebeus não podiam casar com patrícios.

Os cliens

Os clientes eram um grupo subordinado à gens, constituído por pessoas expulsas de


outros grupos: pobres, estrangeiros, pequenos proprietários que não eram auto-suficientes.

As formas de adquirir o estatuto clientelar eram:

® Deditio – submissão voluntária de um grupo familiar ou político a uma gens;


® Applicatio – submissão de um estrangeiro à proteção da gens;
® Manumissio – instituto pelo qual o escravo deixa de o ser.

A fidelidade (fides) da clientela à sua gens mantinha-a próxima do seu patronus, chefe
da gens. Porque os romanos consideravam os laços de fidelidade entre patronus e cliens de
natureza sagrada, a violação dos laços de proteção pelo patronus podiam levar à aplicação da
pena de morte.

A erosão paulatina da organização da gens e, assim, uma desvalorização institucional da


gens, que desarticulou a clientela, contribui para uma aproximação entre clientes e plebeus na
proteção comum que requeriam aos patricii.

Exército, plebeus e advento da Res Publica

A adopção da táctica hoplite no plano militar, dando prioridade à infantaria plebeia e


secundarizando a intervenção da cavalaria, recrutada entre os patricii, que determinou a
ascensão da plebe e abriu uma brecha na superioridade social, política, religiosa e militar do
patriciado.

A luta dos plebeus pela paridade na ocupação de cargos e pela igualdade no acesso aos
recursos tem agora condições para ser efectivada com fortes possibilidades de vitória.

Família, pater famílias e fillius famílias

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A estrutura política de Roma era família, gens, cúria (10 por tribo), tribo (3), rex.

O pater famílias – homo sui juris –, aquele que é de direito próprio, geria o fundo
familiar (dinheiro), administrava a propriedades da família, decidia a admissão de novos
membros e da saída dos que estão e cuidava dos sacra familiae.

O fillius familiae – homo alieni juris – é o membro da família que não tem quaisquer
direitos face ao pater famílias.

O ordenamento jurídico

A principal prioridade das comunidades era a defesa face aos ataques externos. Daí que
a organização política seja determinada por este pendor militar.

A infantaria passou a ter um papel decisivo no desfecho das batalhas. A transferência do


poder efectivo da cavalaria (patrícios) para a infantaria (plebeus), reflectiu-se no plano político,
numa reivindicação de poder decisório da plebe, rompendo a hegemonia patrícia.

Com as reformas de Sérvio Túlio, o acesso e a ascensão política passam a ser também
determinado pela riqueza das pessoas e pelo prestígio das famílias, assente em critérios de
natureza económica. A cidadania atingia-se pela propriedade de bens.

A cavalaria estava dividida em 18 centúrias. A infantaria estava dividida em 170


centúrias. Restava um conjunto de pessoas que habitava em Roma (proletari) mas não integrava
o sistema político nem era regulado pelo ordenamento jurídico, pois não tendo bens próprios
não estavam recenseados. Estes proletari eram capite censi, recenseados como pessoas, não
como proprietários (e logo, como não cidadãos).

Centúrias, Prudentia, Rex e ascensão da plebe

As centúrias eram unidades territoriais de recrutamento militar e unidade de voto nos


comitia. Por outro lado, Roma mantinha a predominância dos mais velhos na vida política,
acreditando que a sua experiência de vida manifestada como Prudentia era fundamental para o
acerto das decisões colectivas.

Fixadas as características da organização política e a sua base económica como critério


de divisão sociopolítica importa saber como se reflectiu esta opção centuriata no ordenamento
jurídico de Roma:

® O rex não abdicou de nenhum dos seus poderes, apesar do valor político
crescente nos comícios centuriais e da influência das suas deliberações junto do
rex;

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® Os plebeus podiam ascender socialmente e conquistar maior poder político. O


caminho era enriquecer e esse fazia-se pelo negócio. A actividade mercantil era
o motor de desenvolvimento comunitário e de poder político. Roma crescia no
plano económico e a mobilidade permitida era causa e efeito da necessidade de
reordenar a sociedade, em paz, através de regras jurídicas de organização
política;
® A oligarquia patrícia, que assentava o seu poder na propriedade fundiária, tem
de partilhar o poder com os plebeus que, prestigiados na carreira das armas e
enriquecendo no comércio, não aceitam lugares políticos subalternos.

Rex, populus e Senatus

Os poderes públicos eram exercidos pelo rei, pelo senado e pelo populus.

O rex era o supremo sacerdote, chefe do exército, juiz soberano e protector da plebe.

A instituição do Senado era como um conselho, que tinha competência para gerir e
opinar nos negócios de interesse público. O Senado detinha a auctoritas para aconselhar o rei,
quando convocado, e para confirmar as decisões dos comícios. Nomeados pelo rex de entre os
chefes das gens, os senadores, por serem os mais velhos da sua gens, chamava-se patres.

Populus: Reúne-se em assembleias (comitia curiata). A lei, proposta pelo rex, é votada
pelo populus, que vota por cúrias. As leis, assim votadas, recebem o nome de leges curiatae.
Então, o populus era a sociedade romana, constituída, no início, apenas de patrícios. Após
Sérvio Túlio, que deu à plebe a cidadania, também estes passaram a compor o populus. 3 tribos
à 10 cúrias à 30 decúrias.

Os órgãos quiritários

Até ao séc. III a.C., Roma afirma-se como cidade-Estado (civitas): um agrupamento de
homens livres, estabelecidos num pequeno território, todos dispostos a defendê-lo e que
participam nas decisões respeitantes ao interesse comum, através de órgãos políticos
fundamentais.

Rex:

® Rege a civitas e cumpre funções militares (supremo chefe militar), judiciais


(juiz supremo) e religiosas (sumo sacerdote);
® Imperium militae (chefe de exército);

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® Imperium domi (administrar a cidade, resolver litígios entre as pessoas,


publicação e aplicação das leges regiae, que eram a formalização de regras
consuetudinárias);
® Sumo sacerdote (titular do poder de mediação divina, pois tinha ligação entre os
deuses e os homens; essa era a legitimação do seu poder);
® Não tem poder legislativo (apenas faz cumprir os mores maiorum ditados pelos
collegia sacerdotalia);
® Depois da queda da monarquia, o rex fica apenas rex sacrorum por preservar
apenas a chefia dos assuntos religiosos.

Senatus:

® Assembleia constituída pelos patres das gentes;


® Órgão consultivo do rex;
® Representava a aristocracia romana (representava os patrícios); com a Lex
Ovinia de 312 a.C., os plebeus passam a integrar, definitivamente, o Senado.
® Concedia auctoritas patrum (consentimento/ratificação das deliberações dos
outros órgãos);
® Nomeava o interrex, que nomearia o rex através da leitura dos auspicia. Depois
da nomeação no interregnum, segundo a lex curiata de império, o populus
aclamaria o novo rex.

Comitia Curiata:

® São assembleias do populus romano em que se reuniam as 30 cúrias (10 por


cada tribo);
® Cada cidadão só votava na sua cúria e a maioria dos votos recolhidos pelo chefe
(curio) constituía o sentido de voto dessa cúria;
® Votam as leges regiae;
® Lex curiata de império (aprovavam o nome do futuro rex, nomeado pelo
Senado);
® Aprovam as seguintes matérias: integração de nova gente na civitas (cooptatio);
incorporação de um paterfamilias noutra familia (arrogatio); instituição de
herdeiro por um paterfamilias para quando este morresse haver sucessão
(testamento comicial).

Collegia Sacerdotalia:

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® Não são órgão quiritário, mas eram uma importante instituição com forte poder
de influência sobre as decisões políticas;
® Colégio dos Pontífices:
• Fazia moderação das relações entre o rex e os patrícios;
• Fazia os sacrifícios rituais e litúrgicos;
• Desenvolvimento do jus e do fas;
• Exclusivo da interpretação dos mores maiorum e do exercício da
jurisdição;
• Os pontífices estavam presentes em toda a actividade judicial;
• Cargo vitalício com isenção de impostos e serviço militar.
® Colégio dos Áugures:
• A auguria pertencia aos áugures. Dizia as más ações. As decisões dos
áugures eram gerais, nunca demasiado concretas. Valora uma ação em
vez.

• Auspicia (voo das aves) pertencia ao rex e ao interrex. Era um
presságio de boa ou má altura para levar a cabo uma determinada ação
régia.

Processo de eleição do Rex:

O cargo do rex era vitalício, mas não hereditário. Quando o rex morria, entrava-se no
período de interregnum. Neste período, o poder de ler os auspicia que pertencia ao rei passava
para o Senado, nomeadamente para o interrex, que era eleito de entre os senadores e tinha a
função de, através da leitura dos sinais transmitidos pelos deuses, indicar o nome do novo rei.
Este nome era, então, proposto aos comitia curiata que, através da lex curiata de imperium
aprovavam ou não o nome, delegando-lhe o poder de imperium.

PERÍODO DE TRANSIÇÃO PARA A REPÚBLICA (509 a.C. – 367 a.C.)

Nos finais do séc. Vi a.C., os romanos expulsaram Tarquínio, o Soberbo e os seus filhos
de Roma. O poder vitalício e monocrático do rei nunca mais foi admitido em Roma. Assim, os
romanos passaram a ser governados por dois chefes por ano: Praetores ou Consules. Estes
magistrados estavam limitados na sua acção por vários factores, como a temporalidade do cargo
e a colegialidade da magistratura.

Apesar destas conquistas, os plebeus continuavam a ser considerados uma classe


inferior em relação aos patrícios. Eles tinham cidadania e liberdade, mas eram privados de poder

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(de auguria, dos provenientes da magistratura, etc.). A luta era pela igualdade política e pela
paridade face ao Direito.

Lei das XII Tábuas (450 a.C.) – Limitação do arbítrio do julgador

Um dos principais anseios dos plebeus era a limitação do arbítrio do julgador,


primeiro do rex, depois dos sacerdotes e dos supremos magistrados da república. Tal situação
derivava de os conflitos serem resolvidos com base em regras consuetudinárias (mores
maiorum), oralmente interpretadas pela aristocracia patrícia (na qualidade de pontífices).

Não se conseguia fugir à parcialidade das sentenças, sendo que a única forma de alterar
a situação era vincular o julgador à aplicação de um conjunto de normas escritas que eram
igualmente aplicadas quer a patrícios quer a plebeus.

Esse momento surgiu em 450 a.C. com a elaboração da Lei das XII Tábuas pelos
decenvirus, com a redução a escrito dos mores maiorum.

Esta lei não teve nenhum impacto no conteúdo do ius romanum, uma vez que se
limitaram a redigir as normas tradicionais dos mores maiorum, consensualizadas já na
comunidade.

A possibilidade de os mores maiorum estarem reduzidos a escrito em texto oficial na


Lei das XII Tábuas permitiu o acesso a todo o populus romano dos mores, que outrora
permaneciam guardados em segredo pelos sacerdotes pontífices.

Provocatio ad Populum

Era ainda necessário garantir que a aplicação das mais graves e severas medidas
repressivas e penas máximas não ficasse completamente ao arbítrio dos patrícios que exerciam
essa aplicação. Desta forma, foram criados dois órgãos:

® Tribuno da Plebe (494 a.C.): contramagistratura;


® Provocatio ad Populum (509 a.C.):
• Criado pela Lex Valeria de Provocatione de 509 a.C.;
• Instituto assente na deliberação popular
• Permitia a um cidadão condenado à morte por um magistrado com
imperium para tal, evitar a condenação pedindo a instauração de um
processo nos comitia, que, através de uma deliberação se pronunciava
sobre a pena a atribuir;
• Espécie de instância de último recurso nas penas mais graves;

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• Só no período do Principado é que este instituto termina como garantia


de recurso efectivo – o exercício dos ius provocatione passa a ser
analisado pelos funcionários do Princeps.

Os Tribunos Militum

Com a abolição da proibição do casamento entre patrícios e plebeus (Lex Canuleia de


445 a.C.), iniciou-se um caminho de relativa integração social, política e jurídica dos plebeus.

A cidade de Roma foi governada, entre 444 a.C. e 367 a.C., ora por cônsules ora por
tribuni militum, em alternância que resultava da abertura de cargos políticos a plebeus.

Os tribuni militum eram um colégio de comandantes militares que integrava também


plebeus. Logo, uma magistratura com acesso aberto à plebe.

A atribuição de imperium consulare ao chefe militar, que podia ser um plebeu, tinha
sempre a vantagem de juntar os poderes supremos da política e da guerra, conectando-os.
Permitia, ainda, em caso de conflito militar, afastar um dos principais factores de divisão e
antagonismo entre plebeus e patrícios: o cônsul.

Leges Liciniae Sextiae (367 a.C.)

Em 367 a.C. forma aprovadas as Leges Liciniae Sextiae:

® Foi concedida a possibilidade de os plebeus ascenderem ao consulado;


® A partir de 320 a.C. passou a reservar-se um dos dois cargos de cônsul a um
plebeu; a partir de 172 a.C. acaba por ser possível serem eleitos dois cônsules
plebeus;
® Foi criada a magistratura da pretura;
® Formalizam as reivindicações históricas dos plebeus quanto à paridade face ao
Direito.

A REPÚBLICA (367 a.C. – 27 a.C.)

Conceitos fundamentais:

MAIESTAS: titularidade do poder no povo, como proprietário da Res Publica;


POTESTAS: poder/competência/faculdade de representar o populus romano;
todos os magistrados;
AUCTORITAS: autoridade, legitimidade; saber socialmente reconhecido;

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IMPERIUM: é poder soberano a que nenhum cidadão se pode subtrair e que


permite governar o “Estado”; continha as faculdades de comandar os exércitos,
de convocar e presidir ao Senado e aos Comitia, publicar edicta e administrar a
justiça; cônsules, pretores e ditadores;
IURISDICTIO: poder especifico de administrar a justiça (sobretudo a civil);
pretor, edil curul e questor.

As características essenciais do regime “constitucional” que passou a vigorar no período


da República:

® Poder político exercido em nome da comunidade e por magistrados com poder


de imperium;
® O populus, onde assenta a maiestas, passa a ter uma organização
institucionalizada que expressa as suas posições através de deliberações nas
suas assembleias;
® Senado, detentor de auctoritas política, é o órgão de conselho e consulta dos
magistrados e das assembleias.

A partir dos finais do séc. VI a.C., o poder supremo (imperium) já não reside num único
chefe, o rex, mas em dois, os cônsules.

Magistraturas

Magistraturas ordinárias e Cursus Honorum: as magistraturas não eram remuneradas,


por isso, o cargo do magistrado definia-se como um honor; neste sentido fala-se, então, de
cursus honorum – carreira política honorária protagonizada pelos magistrados ordinários
(ordinários por estarem integrados numa ordem hierárquica, o cursus honorum). A saber, por
ordem decrescente de importância:

Censura: potestas

® Administra o ager publicus – conjunto de bens imóveis pertencentes ao Estado;


® Faz a lista dos senadores através dos dados dos censos, podendo excluir quem
considera indigno do cargo;
® Organiza o recenseamento dos cidadãos sobretudo para efeitos políticos,
tributários e militares.

Consulado: potestas e imperium

® Pode ser considerado sucessor do rex;


® Eleitos nos comitia centuriata;

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® Até 367 a.C. (ano da criação da pretura) administra a justiça; depois da criação
da pretura, o cônsul passa a fazê-lo apenas de forma extraordinária.

Pretura: potestas, imperium e iurisdictio

® Collega minor do cônsul – o imperium do pretor era idêntico ao do cônsul, já a


sua potestas pode ser caracterizada como de menor amplitude ou intensidade;
® Convoca os comícios para a eleição dos magistrados menores;
® Apresenta propostas de lei para aprovação nos comícios;
® Pretor urbano – administra a justiça entre os cives através do Ius Civile;
® Pretor peregrino – criado em 242 a.C., administra a justiça entre cives e hostes
(estrangeiros) através do Ius Gentium;
® Em 130 a.C. é promulgada a Lex Aebutia de Formulis, que dá ao pretor poderes
processuais, que lhe permite aplicar e interpretar as lacunas do Ius Civile.

Edilidade curul: potestas e iurisdictio

® Controla a propaganda política;


® Fiscaliza a limpeza das cidades;
® Vigiam o trânsito;
® Ocupam-se das vias e dos edifícios públicos;
® Cuidam do abastecimento de cereais;
® Organizam espectáculos e jogos (importante elemento de propaganda política);
® Guardam os arquivos e o tesouro do Estado;
® Gozam de poder punitivo (coercitio), que permite aplicar multas e embargos;
® Têm jurisdição criminal em matéria relacionada com as suas funções;
® Criados pelas L.L.S. e designados pelos comitia tributa.

Questura: potestas e iurisdictio

® Começam por ser meros auxiliares dos cônsules, que os designam; mais tarde,
são eleitos nos comitia tributa, tornando-se uma magistratura própria;
® Administram a justiça criminal;
® Cobram multas e ocupam-se do confisco;
® Governo da tesouraria do Estado.

O pretor era o único magistrado que detinha os 3 poderes (imperium, potestas e


iurisdictio); no plano jurídico, a magistratura do pretor é a mais importante.

Magistraturas extraordinárias

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Tribuno da Plebe:

® Eleito pelos plebeus; defendia os interesses dos mesmos;


® Poder de intercessio – acção juridicamente legítima de proibir a execução de
qualquer ato de imperium de outro magistrado;
® Em vez de poder de imperium, possuía a tribunicia potestas: ius senatus
habendi (direito de convocar e presidir o Senado), e agere cum plebe (convocar
o Conselho da Plebe para analisar os Plebiscita);
® Privilégio de inviolabilidade por o seu poder ser sacrossanto;
® Desaparece no principado.

Ditadura:

® Nomeado em momentos de perigo (calamidade pública ou grave crise política


interna ou externa) pelos cônsules;
® Normalmente, o período máximo de ocupação do cargo era de 6 meses; era
exercido de modo absoluto e com total independência e irresponsabilidade;
® Poder não sujeito a intercessio ou provocatio ad populum.

Os poderes dos magistrados estão, contudo, limitados por:

® Temporalidade: em regra, o cargo era ocupado por um ano;


® Colegialidade: dentro de uma magistratura, o poder está repartido por dois
magistrados, tendo os dois poder de intercessio sobre as decisões um do outro;
o tribuno da plebe tem intercessio sobre todas elas);
® Pluralidade: o poder está dividido por várias magistraturas ordinárias e
extraordinárias;
® Responsabilidade: os magistrados respondem pelo uso que dão aos seus
poderes;
® Provocatio ad populum: direito de se apelar às assembleias do populus para
uma pena injusta, normalmente a capital – o ditador não lhe está sujeito).

Também existia a impossibilidade de acumular cargos ou de repeti-los, isto é, exercer


de novo um cargo já antes por si ocupado.

As Assembleias do Populus Romano

Comitia Curiata:

® Vêm da época monárquica e começam a perder eficácia;

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® Investem de imperium os magistrados eleitos noutras assembleias (Lex Curiata


de Imperium);
® A separação da política e da religião ditou a sua decadência.

Comitia Centuriata:

® Expressão do poder crescente da plebe no exército que depois se transporta à


política; vai-se assistindo, com o desenvolvimento das instituições republicanas,
a uma passagem de competências estritamente militares para competências
políticas;
® Aprovar declarações de guerra e tratados de paz;
® Poder de eleger cônsules, pretores, ditadores e censores (magistrados maiores);
® Aprovar as leis propostas pelos magistrados;
® Dar veredictos sobre a vida ou a morte de acusados (iudicium).

Comitia Tributa:

® Elegem magistrados menores;


® Conhecimento de determinadas sentenças se tiverem apelação e fixação de
penas pecuniárias para as infracções;
® Aprovação de leis propostas pelos magistrados.

Concilia Plebis:

® Assembleias da plebe;
® Lex Hortensia de 287 a.C. instituiu em definitivo a equiparação entre patrícios e
plebeus e esta assembleia passa a ter funções legislativas na cidade;
® São convocadas pelos magistrados plebeus e presididos pelo tribuno da plebe;
® Elege magistrados plebeus, incluindo tribunos da plebe;
® Votam os plebiscita;
® Exercem o julgamento – ius iudicium – para os crimes puníveis com multa.

O Senado

® Assembleia romana da aristocracia, patrícia e plebeia;


® Não possuía imperium, mas tinha a auctoritas;
® Auctorias patrum – poder senatorial de confirmar as deliberações das outras
assembleias; o magistrado que apresentava uma proposta de lei ou o nome de
um candidato para um cargo deveria remeter a decisão da assembleia popular
para análise pelo Senado, para que este concedesse (ou não) auctoritas patrum,

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permitindo controlar e ratificar as deliberações destas assembleias. Numa


primeira fase tinha apenas um carácter confirmativo, mas a partir da Lex
Publilia Phionis de 339 a.C., a auctoritas patrum é dada antes da votação dos
comitia, adquirindo um carácter preventivo;
® Senatusconsulta: pareceres sobre a proposta dos magistrados, a pedido destes;
forma de conselho, mas na verdade eram verdadeiras ordens;
® Funções: nas relações internacionais, na guerra, administração pública, direção
do exército, designação de governadores de províncias, distribuição de funções
inter-magistrados, etc.

PRINCIPADO (27 a.C. – 285 d.C.)

Características gerais:

Surgem novas realidade para as quais a Res Publica se torna insuficiente como:

® O alargamento de Roma;
® A romanização crescente dos conquistados que integravam as províncias;
® O descontentamento social perante o regime político;
® Sucessivas guerras civis;
® Escravatura começou a ruir;
® O fim da Republica é marcado pela morte de Júlio César.

O povo volta-se confiante para Octávio César Augusto, considerado o único capaz de
restaurar a paz, a justiça e derrotar o caos económico, social e político.

Octávio César Augusto, o primeiro detentor de poder político deste período, que se
designa Principado, exercera o cargo único de cônsul desde 33 a.C.. Inteligentemente,
aproveita-se de todas as circunstâncias e, em 23 a.C., renuncia ao consulado porque:

® Recebe dos concilia plebis a tribunicia potestas vitalícia: poder de


intercessio/veto sobre todo e qualquer acto de magistrados e do Senado;
® Recebe o ius agendi cum plebe, que lhe permite votar os plebiscitos, convocar
e apresentar propostas ao Senado e às Assembleias Populares;
® Recebe dos comitia centuriata o imperium proconsulare maius: um comando
militar supremo, fazer guerra ou paz e uma extensão do seu poder até aos
confins do Império;
® Tinha cura legum et morum – controlo da legislação e do que era aceite como
costume;

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® Direito de commendatio – indicar os candidatos a magistrados;


® Direito de investir pontífices.

Cria um regime de monarquia absoluta sem desprezar as estruturas republicanas


existentes, apesar de estas funcionarem sem qualquer poder de intervenção real e palpável. Diz-
se, por isso, que o Principado é a forma de designar uma tentativa política de concretizar no
governo de Roma uma síntese entre instituições republicanas e outras de pendor monárquico.

Desta forma, Augusto não cometeu o mesmo erro de Julio César pois, ao contrário
deste, não se assumiu como imperador absoluto, no sentido de tornar Roma uma monarquia
absoluta de cariz personalista, com o culto da personalidade do chefe; Augusto não evitou o
pendor monárquico, criando um regime híbrido da república e monarquia em torno de
elementos muito ligados à personalidade do titular – o Princeps (titular único e absoluto, com a
concentração de todos os poderes).

A sucessão do Princeps

O Princeps, não podendo nomear um sucessor para que não se associasse este regime a
uma monarquia, associa ao poder o seu sucessor, escolhendo um filho adoptivo, para que este
passe a aprender as atribuições de Princeps; desta forma este filho adoptivo vai conseguir a
auctoritas reconhecida pelo Senado, que vai confirmar o novo Princeps.

Consequências da captação de um corpo burocrático controlado pelo Princeps:

® Os poderes separados de Roma perderam independência reunindo-se no


princeps;
® A liberdade de iniciativa dos magistrados terminou;
® A decisão judicial tornou-se condicionada através da lei feita como expressão
da vontade do Princeps;
® Enfraquecimento dos órgãos da república, que se mantiveram como instituições
políticas vazias, sem importância política;
® Fim da independência dos jurisprudentes e dos pretores, subordinados ao
princeps.

Ius Publice Respondendi e o fim da iurisprudentia

A jurisprudência criava o ius novum como regras jurídicas por interpretativo das velhas
regras do ius civile e dos mores maiorum para responderem a novos casos. Pedia-se, agora, aos
jurisprudentes que aperfeiçoassem, organizassem e sistematizassem o conjunto de regras e
princípios para a concretização processual do ius romanum.

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Todas as regras jurídicas executadas dependiam da vontade do Princeps e era necessário


um controlo indirecto devido à dispersão de soluções apresentadas. Surge assim o Ius Publice
Respondendi – concessão dada por o Princeps a certos jurisprudentes para darem soluções a
determinados casos, tendo estes o direito de responder em público às questões colocadas pelas
partes, como se fossem o próprio Princeps.

Eram opiniões dotadas de imperium, que eram enviadas para o iudex em tábuas
fechadas e seladas que garantia a possibilidade de manipulação da sentença por parte do
Princeps. Não era fonte imediata de direito, mas era importante uma vez que as respostas eram
obrigatórias no caso concerto em que eram produzidas e vinculavam o juiz.

A regra de ius civile transformada em lei geral e abstracta

Durante a república criaram-se mecanismos normativos que permitiam manter separado


o ius civile, assente nos mores maiorum e adaptado por jurisprudentes com um saber fundado na
experiência (um saber socialmente reconhecido). Os jurisprudentes viam aceites as soluções por
eles dadas aos conflitos pela sua auctoritas e prestígio.

As soluções dadas a cumprir pelo imperium dos magistrados, com o filtro do acesso ao
juiz pelo pretor, através da atividade de dar ou negar actiones, foram paulatinamente destruídas
quando se deixou de resolver os casos pela adaptação das regras do ius pelos jurisprudentes e se
passaram a resolver os casos através das leges do princeps.

Decadência dos órgãos constitucionais

Comícios:

® As reuniões em assembleia tornaram-se verdadeiros actos de adoração do


Princeps, viradas para o culto do chefe sem qualquer conteúdo ou significado
político;
® Controlo efectivo dos comícios pelo Princeps: o Princeps controlava as
propostas, manipulava as votações e instrumentalizava as deliberações;
® Progressiva falta de representação do Populus nos comícios;
® As competências legislativas dos comícios foram progressivamente sendo
transferidas para o Senado devido à transposição da iniciativa das propostas ter
passado para o Princeps, que controlava o Senado;
® Transferência da competência de eleger os magistrados para o Princeps
® Os comícios têm a competência para votar as listas apresentadas pelo Princeps
ou pelo Senado [para nomeação de magistrados], mas não podem nem propor
por sua iniciativa nomes para a eleição dos magistrados, nem aprovar o

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Direito Romano · FDUL

proposto com alterações convenientes ao Populus; as propostas são fechadas: de


sim ou não.

Os comícios tornaram-se num órgão de fachada, sem qualquer criatividade, iniciativa,


importância, na medida em que a sua manutenção no Principado servia os interesses do Princeps
– mero simulacro de poder.

Senado:

® O Princeps estendo os poderes do Senado, retirando-os ao Populus: estes


poderes, formalmente no Estado, eram exercidos pelo Princeps;
® O Senado perde independência, uma vez controlado pelo Princeps;
® Passa a poder legislar através dos senatusconsultos (torna-se lei imediata);
® O Senado passou a ser o lugar onde as decisões legislativas do Princeps eram
anunciadas e publicadas;
® Intervenção do Senado através do poder legislativo:
• Auctoritas patrum: poder de ratificar ou não a proposta do magistrado
aprovada na assembleia popular;
• Senatusconsulta: parecer do Senado, a pedido de um magistrado, sobre
uma decisão, uma proposta, uma atuação futura.

Não obstante, o poder legislativo do Senado não passou de um momento efémero,


porque o Princeps não tolerava concorrentes no exercício do poder; surgem as Oratio Principis
– foi através desta que o princeps interveio no ius civile e transformou o ius em leis gerais e
abstractas; a proposta de lei que o Princeps apresentava no Senado e que era aplaudida e
aprovada, atendendo-se mais a quem propunha que à proposta em si.

Magistraturas:

® Órgão que mais sofreu, pois o Principado ao concentrar no Princeps o poder de


todos os magistrados e com primazia sobre os demais destruiu o conteúdo
jurídico-político que sustentava a sua existência constitucional;
® Os magistrados perderam a iniciativa política e a capacidade de intervenção,
limitando-se a exercer tarefas meramente administrativas, sem qualquer poder
de decisão quanto ao rumo dos acontecimentos, nomeadamente na criação de
ius por adaptação dos mores maiorum;
® Cônsules: subordinados pelo Princeps: na prática é o Princeps que exerce
directamente a magistratura do consulado;

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Direito Romano · FDUL

® Pretor: este não foi desde logo “substituído”, pois a sua actividade exigia um
elevado conhecimento dos mecanismos processuais e das regras aplicadas na
resolução de litígios, o que veio adiar a sua morte, pois ainda que mais
lentamente, a pretura acabou por desaparecer;
® Magistratura que mais sofreu: tribuno da plebe – pois o Princeps assumiu a
tribunicia potestas; os tribunos da plebe mantiveram o poder de intercessio,
menos contra o Princeps – primeiro dos tribunos;

O Principado destruiu o pilar fundamental sobre o qual assentava a república: as


magistraturas, porque as competências dos magistrados foram entregues ao Princeps, operando
uma concentração de poderes.

Princeps:

Poderes:

® Tribunicia potestas: faculdade de paralisar qualquer procedimento ou acção do


Senado ou das magistraturas que considerasse inoportunas ou inconvenientes –
intercessio;
® Imperium proconsulare maius: exercício do comando militar supremo e do
governo das províncias; administração de todo o imperium, com o imenso
poder político, com a capacidade de influenciar as decisões e a possibilidade de
escolher decisores;
® Formalmente, Augusto não tinha poderes originários; tinha um poder derivado:
os poderes que exercia eram-lhe outorgados pelos órgãos políticos do regime
republicano, nomeadamente as assembleias do populus e o Senado.

Propaganda política: Augusto diz-se o “salvador da república” - tudo isto não passava
de propaganda política para que Augusto se fosse apoderando cada vez mais das instituições
republicanas; para “salvar a república” ele intervinha, sempre a pedido dos titulares dos órgãos
constitucionais, de forma permitida; ele é obrigado, contra vontade, a intervir, para colocar “as
coisas em ordem” – base propagandística.

Objectivo do Princeps: extinção das magistraturas e de todos os outros órgãos para


concentrarem si todos os poderes.

Criação de um funcionalismo público burocrático: o Princeps passou a controlar a vida


política através de um corpo burocrático de funcionários que estavam ao seu dispor,
nomeadamente magistrados, jurisprudentes, senadores. Porém, a magistratura continuava a
existir em paralelo com os funcionários da burocracia romana:

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Direito Romano · FDUL

® Os funcionários são designados pelo Princeps para fazer cumprir as leis;


® Os funcionários faziam uma carreira a partir de uma nomeação por tempo
indeterminado;
® Os funcionários exerciam funções numa estrutura hierarquizada que tinha no
topo o Princeps;
® O cursos honorum específico das magistraturas, assente no mérito do titular e
na escolha popular por eleição, perde importância no que toca ao conteúdo
político-jurídico e deu lugar, no dominado, à carreira civil do funcionário
imperial.

Causas do fim do Principado

® Sistema híbrido: relação difícil entre o Princeps e os órgãos da República;


® Desromanização do Império: a sede do Principado e a figura do Princeps
enfraquecem-se com a perda de importância de Roma e de Itália no seio de
Império; agora as províncias já não viviam por causa e em função de Roma;
® Amplitude do Império: a incapacidade política de manter os vínculos
institucionais a Roma de todas as parcelas do Império, levou a um processo de
autonomia política progressiva das províncias;
® Urbanização/Abandono dos campos: provocada pela redução dos escravos; a
elite política não soube lidar com este processo de esvaziamento de um setor de
apoio e recrutamento de pessoal, como era o mundo rural;
® Enfraquecimento do exército: o recrutamento de pessoal oriundo das províncias
do império para o exército abriu o caminho para divisões territoriais e étnicas.
® Cristianismo: a sua difusão ameaça e põe em causa a adoração do Imperador,
como um deus, e, consequentemente, as suas leis, às quais os cristãos não
obedeciam.

DOMINADO (284 – 395)

Os cinquenta anos antes da subida de Diocleciano ao poder, verificada em 284,


caracterizam-se por:

® Lutas internas, por causa do problema da sucessão dos imperadores e ainda por
causa da exigência manifestada por várias províncias de quererem equiparar-se
a Roma;
® Falta de prestígio da autoridade pública;
® Conflitos entre o Império Romano e o Cristianismo;

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Direito Romano · FDUL

® Crise económica;
® Infiltração dos bárbaros;
® Demasiada extensão do Império.

Diocleciano sobe ao poder em 284, aclamado imperador pelos seus companheiros de


armas. Inaugura um novo regime político, nos moldes do absolutismo à maneira oriental.
Intitula-se deus; o seu poder não provém mais de uma “lex curiata de império”, mas de uma
investidura divina. O Cristianismo tenta destruir o mito da divindade do imperador. Estabelece-
se então uma profunda rivalidade entre ele e o chefe da Igreja. Diocleciano ordena uma
perseguição violenta contra os cristãos.

Diocleciano reconhece a impossibilidade de manter todo o Império sob um único


comando.

® Em 286, estabelece-se a 1ª divisão do Império, ficando Diocleciano no Oriente


e Maximiano no Ocidente, assistido cada imperador por um Caesar, que é
íntimo colaborador e será o sucessor.
® Constantino consegue outra vez a união do Império, mas por pouco tempo.

As divisões sucedem-se.

® Teodósio, em 394, reúne, pela última vez, Oriente e Ocidente; mas em 395,
pouco antes de morrer, divide definitivamente o Império pelos seus dois filhos,
ficando Honório no Ocidente e Arcádio no Oriente.

Em síntese, podemos indicar como factos principais da época do dominado:

® A reforma político-administrativa de Diocleciano;


® O reconhecimento do Cristianismo, a partir do tempo de Teodósio I, como
religião oficial;
® A tendência para dividir o Império entre dois imperadores, por se considerar
demasiadamente extenso;
® As invasões dos povos bárbaros, por um lento processo de infiltração.

Queda do Império Romano do Ocidente, em 476 – A penetração quase insensível dos


bárbaros dentro das fronteiras do Império criou, primeiro, um verdadeiro regionalismo, a
princípio no exército e depois em toda a população e, por último, uma barbarização geral no
Ocidente. Em 476,

Roma cai definitivamente – Rómulo Augusto, seu último imperador, é derrotado por
Odoacro, chefe de um grupo misto de bárbaros.

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Direito Romano · FDUL

Queda do Império Romano do Oriente, em 1453 – O Império do Oriente, mais rico e


sobretudo mais bem organizado, não sucumbiu às invasões bárbaras. Chegou mesmo, no tempo
de Justiniano, a restaurar parte do velho Império Romano. Os sucessores de Justiniano não
conseguiram manter estas províncias. O Império Romano do Oriente veio a desaparecer em
1453, quando os turcos se apoderaram de Constantinopla.

Supervivência do “Ius Romanum” (séculos VII-XX) – Depois da queda de Roma, em


476, o Ius Romanum não desaparece, mas continua; depois da codificação ordenada por
Justiniano, no século VI, não fica morto ou fossilizado, mas permanece vivo. No Ocidente, em
todos os países da Europa (Itália, França, Portugal, Alemanha, Bélgica, Holanda, Polónia, etc.),
o Direito Romano esteve vigente por mais ou menos tempo, duma ou doutra forma, até à
publicação dos respectivos códigos civis.

Adriano (imperador de 117-138)

Foi o imperador que operou efectivamente a transição constitucional da república para a


monarquia através de:

® Concentração do imperium, ainda disperso nas magistraturas nas mãos de um só


homem: o imperator;
® Representação da maiestas e da auctoritas num só homem: o princeps, agora
imperator.

As instituições republicanas desaparecem do plano político, pois perdem qualquer


possibilidade de intervir, com iniciativas próprias.

O Senado recebe um golpe mortal quando as suas competências principais são


transferidas para o consilium principis.

O consilium principis vai assumindo crescente importância até que, com Adriano, se
transforma num órgão permanente, constituído principalmente por juristas (a que se dá o nome
de stipendiati), que têm sobretudo duas grandes funções:

® Adsessores (assessores) - assistir como técnicos aos juízes no tribunal do


imperador;
® Consiliarii (conselheiros) - assistir como técnicos ao próprio imperador na
feitura das constituições.

Os poucos jurisprudentes, dignos desse nome, são definitivamente integrados no círculo


político-legislativo do imperator, nomeadamente através do consilium principis. A auctoritas da
jurisprudência enfraquece pela integração no imperium político-legislativo.

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Direito Romano · FDUL

O Ius Praetorium – estático desde há muito na translaticidade absoluta do edictum –


recebe, pela mão de Sálvio Juliano, na ordem de codificação compilatória dada por Adriano, a
sentença de morte formalizada no edictum perpetuum.

O processo burocrático administrativo que tinha o princeps à cabeça, mas que era
exercido em nome da Res Publica romana, sobretudo no que respeita ao governo das províncias,
passa agora a ser, oficialmente, feito em nome do imperador e do império.

Iurisprudentia: deixa de existir e só podem expressar nas constituições do imperador.

FONTES

“Fonte de Direito Romano” é tudo aquilo onde nos aparece algo para o Ius Romanum:
produção, modos de formação ou mero conhecimento.

Espécies de fontes do Ius Romanum:

® Fontes existendi – são os órgãos produtores das normas jurídicas (isto é, onde
se verifica a geração das normas, mas não a sua criação) - o populus, os
comícios, o senado, os magistrados, o imperador e os jurisprudentes;
® Fontes manifestandi – são os modos de produção ou formação das normas
jurídicas
• o costume;
• a lei, num sentido muito amplo, compreendendo não só as leges sensu
stricto mas também as leges sensu lato;
• a iurisprudentia enquanto não foi reconhecida como fazendo parte das
fontes existendi;
® Fontes cognoscendi – são textos onde se encontram as normas jurídicas.

Fontes por ordem cronológica:

1. Mores Maiorum;
2. Iurisprudentia;
3. Lex Rogata;
4. Plebiscitos;
5. Edito do pretor/ius praectorium – fontes de ius honorarium;

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Direito Romano · FDUL

6. Senatusconsultos;
7. Constituições imperiais.

Da Monarquia à República: marcada pela interpretatio dos pontífices e as leias das XII
Tábuas, até às Leges Liciniae Sextiae;

Durante a Republica: ius civile, ius gentium, ius honorarium, funções dos
jurisprudentes (cavare, agere, respondere) até aos poderes conferidos a Augusto;

Principado: marcada pela actividade legislativa do Senado (senatusconsulta) e do


princeps (mandata, edicta, rescripta, decreta e epistolae) e o prestígio da iurisprudentia (ius
publice respondendi);

Dominado: ius publicum determinado e controlado pelo poder político, falta de


liberdade dos jurisprudentes e cristalização do ius feito por estes.

Até aos finais do Principado: costume, lei, plebiscitos, senatusconsulta, constituição


imperial, edito de certos magistrados e opinião dos jurisconsultos.

Depois do principado: afirmação do imperador como única fonte existendi de direito.

De início, quem tinha competência legislativa eram os comitia e estes perderam-na


para o Senado; a legislação senatorial era o princeps a legislar;

Os mores maiorum foram substancialmente incorporados na Lei das XII Tábuas, as


leges (lex rogata e plebiscitum) foram substituídas por senatusconsultos e estes, por
constituições imperiais.

MORES MAIORUM

Durante os primeiros três séculos, o Direito Romano (sobretudo privado) é constituído


por costumes (mores). Na falta de leges, os mores constituíam a principal fonte de Direito e,
como estas primeiras eram escassas, quase todo o jus era retirado dos mores maiorum. Os
mores maiorum eram regras jurídico-religiosas que engrossavam o património de valores e de
crenças da antiga sociedade romana que a tradição conservava. A tarefa de os revelar
(interpretare) cabia aos porta-vozes oficiais dos deuses: aos colégios sacerdotais e ao Sumo
Pontífice. Poder-se-á definir mores maiorum como a tradição de uma comprovada moralidade
que a interpretatio jurisprudencial desenvolveu e adaptou às novas exigências da vida.

A Lei das XII Tábuas (450 a.C.) positiva os mores maiorum:

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® Lei comicial, uma vez que era aprovada pelos comícios;


® Elaborada pelos decenviri legibus scribundis (comissão de 10 homens
especialmente constituída para redigir as leis);
• Aprovada pelos comitia centuriata;
• Afixada publicamente no fórum;
• Publicada em 12 tábuas de madeira;
• Teve origem nas reivindicações jurídicas dos plebeus, que exigiam uma
lei que garantisse igualdade (não existia porque os únicos encarregues
da interpretatio dos mores maiorum - até aí só neles se baseava o
ordenamento jurídico romano - eram sacerdotes-pontífices:
exclusivamente patrícios, que interpretavam os mores maiorum
arbitrariamente);
• Documento de maior relevo do Direito Antigo;
• Texto jurídico fundamental para o direito público e privado (ponto de
partida para a divisão entre os dois).

Relação entre mores maiorum, consuetudo e usus.

De acordo com Sebastião Cruz, a palavra “consuetudo” distingue-se de “mores


maiorum”, surgindo, na terminologia jurídica, muito depois da expressão “mores maiorum”,
sendo destinada, quase exclusivamente, para designar o costume no sentido moderno, isto é,
como “a observância constante e uniforme de uma regra de conduta pelos membros de uma
comunidade social, com a convicção da sua obrigatoriedade, quer dizer de que isso
corresponde a uma necessidade jurídica”.

“Usus” é poucas vezes empregue no sentido de verdadeira fonte de Direito, sendo


mais utilizada com o significado de “hábito de agir, sem que isso constitua propriamente uma
obrigação ou até um simples dever.”. Constituem modos de agir não vinculativos (Kaiser –
professor da Universidade de Hamburgo).

Os mores maiorum foram também invocados no sentido da obrigação moral para


limitar a esfera subjectiva do direito, para contrapor aos abusos (ou violação dos deveres
morais) do parterfamilias (o homem da casa, o chefe da família na Roma Antiga). Estas
infracções, de acordo com Kaiser, foram muitas vezes punidas como direitos sacrais contra a
divindade.

JURISPRUDÊNCIA

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Direito Romano · FDUL

Revela /interpreta, desenvolve e adapta o Direito às exigências práticas de cada


momento. Interpretava as regras de direito no sentido de encontrar a solução justa para cada
caso concreto e criava ius novum: respostas dos jurisprudentes, concretizadas nos edictos dos
pretores e nas sentenças dos juízes.

O jurisprudente tem auctoritas por ser símbolo do saber socialmente reconhecido dos
mores maiorum. O prudente não é apenas conhecedor mas também criador do Direito. Tinha
as seguintes funções:

® Agere: aconselhamento processual; função de assistir as partes no processo –


qual fórmula empregar, que palavras utilizar, etc.;
® Respondere: resolver os casos que lhe sejam endereçados, normalmente por
particulares e magistrados, dando um parecer;
® Cavere: aconselhamento na feitura do negócio jurídico.

Evolução histórica da iurisprudentia

A interpretatio do ius civile era considerada, desde o início de Roma, uma atividade
exclusiva dos pontífices e situava-se no âmbito religioso. Como a iurisprudentia não tinha
carácter lucrativo, mais do que doutrinários, os juristas romanos eram verdadeiros sacerdotes
da Justiça (eram escolhidos só entre patrícios). Pelo carácter “sacerdotal” (sacrifício,
desinteressado) do jurista e ainda porque, no início, Religião, Moral e Direito constituíam um
todo único, unicamente os sacerdotes pontífices eram juristas.

Só no século III a.C. se iniciou o processo de racionalização progressiva da


iurisprudentia, libertando-se da imposição religiosa que a caracterizava, num processo
designado, normalmente, como “laicização/secularização da jurisprudência”. Este processo
passou por 3 etapas fundamentais:

1. Em 450 a.C. “Lei das XII Tábuas”: positivou, pela primeira vez, o Direito (mores
maiorum) em Roma, divulgando a lei;
2. 304 a.C. “Ius Flavianum”: uma colectânea de fórmulas legais processuais que
até então eram guardadas em segredo: Flávio revela o calendário religioso, em
que divulga os dias favoráveis e os dias nefastos para a tradição romana para a
feitura de qualquer actividade, e mais axiomas dos mores maiorum (leges
acciones). Ápio Cláudio, jurisprudente, por ser cego, pedia ao seu escravo e
escriba, Cnéu Flávio, que lhes registasse as fórmulas de interpretação dos
mores maiorum para posterior recordação. Flávio decide publicar os escritos

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Direito Romano · FDUL

do mestre, pensa-se que sob sua autorização. Findo o secretismo e misticismo


do ius, em 300 a.C. a Lex Ogulnia permite o acesso dos plebeus aos colégios
pontífices. Beneficiaram desta abertura Tibério Coruncâneo que viria a ser o
primeiro pontifex maximus plebeu;
3. O ensino público do Direito (252 a.C.): abriu portas a que todo o cive pudesse
ser jurisprudente. O primeiro plebeu a obter o cargo de pontifex maximus foi
Tibério Coruncâneo em 253 a.C. Um ano depois deu início ao Ensino Público do
Direito, que até então se julgava um saber que provinha dos Deuses e que, por
isso, só era revelado aos sacerdotes.

A partir daqui os pontífices deixaram de ser os únicos consultados para resolver


litígios. Eles continuaram a ser detentores de alguns segredos do Direito e os titulares da
interpretação das coisas sagradas, mas agora sabia-se que o Direito era uma coisa humana que
todos podiam conhecer e a que podiam aceder; que se aprendia pelo estudo, a experiência e a
prática. Laicizada a iurisprudentia pontifícia, os sacerdotes pontífices são substituídos pelos
jurisprudentes ou jurisconsultos. A interpretatio das regras do jus passa a ser conhecida
apenas como jurisprudência.

Periodização da iurisprudentia:

Época arcaica (desde a fundação de Roma à consagração das Leges Liciniae Sextiae –
753 a.C. – 367 a.C.):

® Início da criação das principais instituições e dos institutos do ius Romanum;


® Criação de uma base conceptualizadora do ius civile, com a Lei das XII Tábuas;
® A iurisprudentia passa a desenvolver-se com bases racionais;
® Só os pontífices podiam ser jurisprudentes.

Época pré-clássica (desde as Leges Liciniae Sextiae até à queda da República – 367 a.C.-
27 a.C.):

® Pauta-se pela dessacralização da jurisprudência, as funções de agere, cavere e


respondere dos prudentes e a obra pioneira de Quinto Múcio Cévola “Libri
XVIII Juris Civilis”;
® Pela expansão do império surge, junto ao ius civile, o ius honorarium – era o
acervo de normas criadas a partir da ação do pretor urbano na sua atividade
de interpretação do ius civile às alterações da vida na civitas para efeitos da

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Direito Romano · FDUL

sua aplicação na resolução de conflitos; foi o expediente encontrado para


superar a rigidez do formalismo característico do ius civile e para resolver
conflitos novos e cada vez mais complexos – e o ius gentium - constituído por
um conjunto de práticas e normas criadas pelo pretor peregrino e destinadas a
regular as relações e a dirimir os conflitos entre os romanos e os estrangeiros,
com características mais flexíveis que o ius civile;
® Sistematização e organização da jurisprudência com a reunião dos materiais
dispersos e incorporação da matriz filosófica e abstracta grega (dicotomia
entre o pragmatismo e utilidade romana e a abstracção e teorização da
filosofia grega).

Época clássica (Principado – 27 a.C.-285 d.C. [subida do imperador Diocleciano ao


trono]):

® Prestígio da jurisprudência e do recurso ao Direito na busca da solução do caso


concreto;
® Os fatores que marcam esta época da evolução da iurisprudentia são:
• A atividade legislativa do Senado (senatusconsulta) e do princeps
(mandata, edicta, rescripta, decreta e epistolae) e a atividade do
pretor, tornam-se intensos e são potenciados pela universalização que
se seguiu ao edicto de Caracala, que estendeu a cidadania romana a
todos os habitantes do império.
• O poder político tenta controlar, através do ius publice respondendi, a
iurisprudentia, levando a uma situação em que a responsa prudentium
– pareceres vinculativos que os jurisprudentes emitiam a pedido de
um particular, para que posteriormente o iudex julgasse o caso de
acordo, se demonstrasse ou não determinados factos – dos detentores
de ius publice respondendi fosse fonte imediata de direito; daí que o
ius publice respondendi tenha vindo desvalorizar a iurisprudentia e a
atividade do pretor, chegando à própria negação dos principais
jurisprudentes, notando-se a limitação da liberdade de criação pessoal
de Direito;
• Os prudentes tornam-se funcionários do princeps: assessoria aos altos
funcionários imperiais, consultadoria ao princeps (integrando o seu
concilium: esta instituição surge com Adriano no séc. III);

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Direito Romano · FDUL

• Queda da actividade de respondere aos cidadãos, como no tempo da


República, e dedicação à literatura jurídica, sistematização conceptual
e docência do Direito.

Época pós-clássica (Dominado até à morte de Teodósio (divisão do império) – 285-395


d.C.):

® Jurisprudência estagnada por falta de liberdade criadora;


® Absolutismo autocrático em que a lex define o ius e a expressão dos
jurisprudentes é somente sobre o passado e por isso é escrita: os prudentes
não criam novas soluções para o futuro, isso está a cargo da lex e das
constituições imperiais;
® Cristalização do ius em códigos feitos por prudentes escolhidos pelo
Imperador e que a auctoritas divina e política do imperador aprova;
® O Direito torna-se imposto, torna-se expressão de quem manda e a
jurisprudência degrada-se.

Torna-se importante perceber que com a época clássica, os valores do ius republicano
de liberdade, responsabilidade, opinião, justiça e criação de ius se perdem para valores como a
certeza, a segurança, sistema, obediência, formalismo e instituições de que a nossa ordem
jurídica ainda hoje depende.

As formas de criar ius no método jurisprudencial

Tópica:

® São as regras/princípios construídas pelos jurisprudentes a partir de casos


concretos, em oposição às conclusões já formuladas, muito diferente da nossa
metodologia atual.
® Os jurisprudentes partiam destas tópicas, discutiam acerca das regras que
retiravam dos casos, o que lhes permitia obter soluções diversas para a
aplicação do caso concreto;
® A tópica aparece inserida na ars inveniendi (arte de encontrar argumentos);
® Permite escolher as razões que levam a decidir num certo sentido, excluindo
outro;
® Os tópicos permitem soluções diversas que, explicadas de forma
argumentada, permitem optar por uma delas;

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Direito Romano · FDUL

® Isto significa que na tópica, os jurisprudentes em vez de retirarem uma


conclusão de um silogismo já existente, encontravam nos casos concretos
bases de argumentação jurídica, um saber que se adquire não formalizado nas
formas de lei;

Regulae:

® A formulação de regulae é já um sinal de progresso na ciência do Direito;


® São um precedente de sistematização ou da formulação das normas jurídicas e
da exposição sistemática do ius;
® Não são enunciados gerais e abstractos, fundadas em especulações
intelectuais, mas instrumentos para resolver casos concretos construídos com
base nos precedentes;
® As regulae formadas após a laicização da iurisprudentia são essenciais no
esforço teorizador e sistematizador do ius civile, iniciado nos finais da
República.

Definitiones:

® São explicações do significado dum termo ou duma ideia que se destinam a


auxiliar a interpretatio dos textos normativos;
® A precisão e a clareza dos conceitos, das regras, dos institutos e dos seus
fundamentos e especificidades utilizados pelos prudentes romanos constituem
uma segurança e um conforto para os juristas posteriores.

Rationis decidendi:

® Os jurisprudentes romanos fundamentam as suas decisões quanto ao caso


concreto em certo tipo de valorações. Isto é, a interpretatio juris pressupõe
pilares de direito conhecidos de todos, expressa nas motivações/razões que
determinam as suas decisões.

A partir do império, universalidade da “iurisprudentia” – Augusto resolveu admitir


para cargos importantes jurisconsultos, mesmo pessoas da classe média – É a última
consequência da laicização da iurisprudentia. Mas como o jurista tem de possuir alem do saber
jurídico também autoridade social, Augusto concede, pelo menos aos melhores, autoridade de
carácter politico.

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Direito Romano · FDUL

Adriano, depois, avançou mais um pouco. Concede aos jurisconsultos autoridade social
de carácter burocrático. É o triunfo do funcionalismo sobre a aristocracia. É a universalidade
da iurisprudentia.

LEX ROGATA

A lex é uma declaração solene com valor normativo, feita pelo populus romanus que,
reunido nos comitia (primeiro curiata, depois centuriata), aprova a proposta que o magistrado
(detentor do ius agendi cum populo) apresenta e o Senado confirma. Subjaz à lex um acordo
entre os três órgãos constitucionais da Res publica: populus, que vota; magistrados, que
propõem; o Senado que dá a auctoritas patrum.

A lex pode ser rogata (é proposta pelo magistrado à assembleia comicial a que
preside. Depois de aprovada, deve ser referendada pelo Senado que concede a sua auctoritas
patrum) ou data (é dada por um magistrado no uso de faculdade delegadas pelos comitia e
contém normas de carácter administrativo. Com as leges datae estabelece-se o regime
municipal).

Além da lex (publica), fala-se também de lex privata: convenção que acompanha e se
propõe disciplinar um acordo entre particulares. O seu carácter vinculativo deriva do principio
“Conforme o que for expresso em palavras, assim seja direito” da Lei das XII Tábuas.

Lex publica – depois da lex privata é que surgiu a pública; deriva de uma promessa
solene da comunidade social; portanto, baseia-se num negócio público; declaração com valor
normativo, feita pelo povo, pelo facto de aprovar em comum, nos comícios, a proposta
apresentada pelo magistrado;

Lex Rogata – proposta feita pelos magistrados aos comitia.

Processo de formação das leges rogatae:

® Promulgatio: afixação do texto do projeto a apresentar à assembleia pelo


magistrado; afixavam-no num lugar público para toda a gente ver;
® Conciones: reuniões informais em lugar público para haver discussão alargada
do projeto;
• Suasiones: discursos favoráveis à proposta;
• Dissuasiones: discursos críticos à proposta.

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Direito Romano · FDUL

® Rogatio: o magistrado rogava aos comitia que aprovasse uma lei por si
proposta; acabava o pedido com a frase “Creias e ordenais cidadãos?”;
® Votação: numa primeira fase, a votação era feita oralmente e com o braço no
ar pelo povo reunido em comício; 131 a.C., com a Lex Papiria Tabellaria, o voto
passou a ser escrito e secreto;
® Aprovação: a aprovação da lex era feita pelo Senado, através da auctoritas
patrum; em 339 a.C., com a Lex Publilia Philonis, a aprovação pelo Senado
passou a ser feita antes da rogatio (aumentado o poder do Senado);
® Afixação: uma vez aprovadas, eram afixadas publicamente em tábuas de
madeira ou bronze ou nas paredes de Roma; a sua afixação dava início ao seu
período de vigência.

A lex rogata dividia-se em três partes:

1. Praescriptio: apresentação de elementos identificadores da lei, por exemplo o


nome do cidadão que votou primeiro (género de introdução);
2. Rogattio: texto da lei; onde se explicava a norma apresentada (género de
desenvolvimento);
3. Sanctio: parte final da lei que afirma e respeita o disposto dos mores maiorum
(género de conclusão). Classificação das leges quanto à sanctio:
I. Perfectae, se declaram nulos os atos contrários às suas disposições;
II. Minus quam perfectae, se apenas impõem multas aos transgressores,
mas não invalidam actos contrários;
III. Imperfectae, se nem anulam os actos contrários nem impõem sanção.

Em 242 a.C., até ao século I d.C., a Lex Rogata entrou em decadência, começando a
desaparecer para dar lugar aos senatusconsultos e às constituições imperiais.

PLEBISCITOS

O plebiscitum era uma deliberação da plebe, que reunida em assembleia própria,


aprovava (ou não) uma proposta do Tribuno da Plebe (únicos que podiam convocar os concilia
plebis) – defendia os direitos da plebe;

Lex Valeria Horatia de Plebiscitis, do ano de 449 a.C.: Na tradição historiográfica


romana atribui-se a esta lei o poder de tornar os plebiscitos vinculativos para todo o populus,
no entanto, não é provável que na segunda metade do séc. V a.C. fosse possível à plebe impor

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Direito Romano · FDUL

como leis gerais as deliberações votadas nas suas assembleias. Até porque nesta altura
estamos muito longe de uma equiparação jurídica entre patrícios e plebeus; o mais provável é
que a Lex Valeria Horatia de Plebiscitis tenha atribuído força vinculativa geral apenas a
algumas deliberações votadas nos concilia plebis, provavelmente àquelas que respeitavam à
eleição do tribuno da plebe; mas não impôs uma eficácia vinculativa geral e plena, com
natureza legal, abrangendo os patrícios de qualquer deliberação das assembleias da plebe.
Prova disso: 339 a.C., é promulgada a Lex Publilia Philonis, a determinar, novamente, a
equiparação entre plebiscitos e leges; mesmo assim, não foi respeitada na íntegra tal
igualação. Só com a lex Hortensia de Plebiscitis de 286 a.C., os plebiscitos são finalmente
equiparados às leis comiciais, logo tendo com destinatários também os patrícios; em virtude
dessa equiparação, alguns plebiscita passam a ser designados também como leges (Lex Sive
Plebiscitum).

Isto revela que uma das questões centrais da oposição entre plebeus e patrícios é a
igualdade face à lei.

Assim, manteve-se a dualidade do ordenamento jurídico, com um próprio dos plebeus


e outro próprio dos patrícios; a integração dos dois fez-se através de uma progressiva
valorização das instituições plebeias, do reconhecimento das suas magistraturas e da
universalização da vigência/aplicação das leges dos dois grupos sociais.

ÉDITO DO PRETOR/IUS PRAETORIUM

O pretor é o intérprete de lex, mas sobretudo o defensor do ius e da Justiça,


interpretando o ius civile, integrando as suas lacunas e corrigindo as suas aplicações injustas.
Toda essa actividade era orientada pelos três princípios que cita Ulpiano:

® Não abusar dos seus poderes (honeste vivere);


® Não prejudicar ninguém (alterum non laedere);
® Justiça: atribuir a cada um o que é seu (suum cuique tribuere).

Ius honorarium é todo o ius non-civile, introduzido pelos edictos de certos magistrados
(onde se inclui o ius praectorium) em oposição ao ius civile que deriva do populus, dos
comícios, do Senado, do princeps e dos jurisprudentes;

O ius praectorium é uma parte tão significativa do ius honorarium que simboliza
praticamente o seu todo. Completa o ius civile, e é adaptado por via de atividade do pretor

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Direito Romano · FDUL

que, baseando-se nos seus poderes de imperium e de iurisdictio, leva a cabo os seus
expedientes.

Fases da actividade do pretor:

1) Século IV-meados do século III a.C.: nesta fase, a função do pretor era administrar a
justiça, fundada no ius civile; ele era a vox viva do ius civile. Toda a inovação que
pretendesse fazer no ius civile tinha de ser elaborada sob o pretexto de o estar a
interpretar.

2) Desde fins do século III a.C. a 130 a.C.: O pretor, baseando-se no seu imperium – poder
de soberania, a que os cidadãos não se podiam opor –, usa expedientes próprios para
criar direito (ius praectorium), mas duma forma indirecta: se uma situação social
merecia protecção jurídica e não atinha do ius civile, o pretor colocava-a sob a alçada
do “ius civile”; se, pelo contrário, determinada situação social estava protegida pelo
ius civile e não merecia essa protecção, retirava-a da alçada do “ius civile”. Como se
vê, o pretor não derrogava o ius civile; simplesmente, conforme era justo ou não, (ele)
conseguia que o ius civile se aplicasse ou não.

3) A partir de 130 a.C.: o pretor, baseado na sua iurisdictio – poder específico de


administrar a justiça de um modo normal –, mediante expedientes adequados, cria
também direito (ius praectorium) e agora duma forma direta, embora por via
processual. E assim, em vários casos não previstos pelo ius civile, o pretor procede
uma actio própria, por isso denominada actio praectoria. E como em Direito Romano
ter actio é ter ius, o pretor concedendo actio, cria diretamente ius.

Editos do pretor: fonte de criação de direitos do pretor

A missão do pretor era administrar a justiça nas causas civis. Exercia essa missão
através, duma tríplice actividade – a de interpretar, a de integrar e a de corrigir o ius civile.
Toda essa actividade era sempre orientada por aqueles grandes princípios jurídicos:

® O de não abusar dos seus poderes;


® O de não prejudicar ninguém;
® O de atribuir a cada um o que é seu.

Não agia arbitrariamente. Tanto mais que a sua actividade podia ser sempre
controlada:

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Direito Romano · FDUL

® Pelo “ius intercessionis” dos cônsules;


® Por quem detivesse a “tribunícia potestas”;
® Por um provocatio ad populum;
® Pelas reacções da opinião pública;
® E sobretudo pela critica, bem temível, dos jurisprudentes.

Formas utilizadas pelo pretor, na concessão dos seus expedientes:

® Decretum (decreto), quando resolvia imperativamente um caso particular;


® Edictum (edicto), quando anunciava ao público, com a devida antecedência, a
concessão de certos expedientes integrada num programa geral das suas
atividades.

Forma interna do “edictum” do pretor:

O pretor (urbano), como qualquer outro magistrado, tinha o ius edicendi, isto é, a
faculdade de fazer comunicações ao povo. Essas comunicações, quando tinham carácter
programático geral, é que, rigorosamente, se denominavam edicta. O edictum do pretor era,
pois, uma comunicação para anunciar ao público as atitudes que tomaria e os actos que
praticaria, no exercício das suas funções; era o seu programa de ação. Os edicta podiam ser:

® Perpetuum (ou anuais): os que eram dados pelo pretor, no início da sua
magistratura, contendo os vários critérios que seguiria, no exercício das suas
funções durante esse ano;
® Repentina: surgem, como actos do imperium do pretor, proferidos em
qualquer altura do ano, para resolver situações novas, surgidas
inesperadamente, e que nem o “ius civile” nem o “edictum perpetuum”
solucionavam.

® Tralaticia: os que permanecem iguais dum ano para o outro, como que
trespassando do pretor anterior para o sucessor
® Nova: são as disposições que o pretor, de determinado ano, acrescenta por
sua própria iniciativa ao édito tralatício.

Expedientes do pretor baseados no seu “imperium”

Os expedientes do pretor, baseados no seu imperium, para bem interpretar, integrar e


corrigir o ius civile eram os seguintes:

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® Stipulationes: estipulação levada a cabo pelo pretor, relativa a um caso


concreto, da qual se constitui uma obligatio para o devedor (obrigação) e uma
actio para o credor (meio de tutela de um direito subjetivo) que lhe permite
exigir ao devedor que cumpra com a sua obrigação;
® Restitutiones in integrum: de modo a evitar uma aplicação injusta do direito, e
com base no seu imperium, o pretor obriga as partes a desvincularem-se da
stipulatio concedida anteriormente; consiste em anular os efeitos dos negócios
jurídicos, havendo uma restituição integral da situação anterior à stipulatio,
sendo esta desfeita; Tipos:
• Ob metum – era concedida a favor daquele que celebrou um negócio
jurídico sob coacção grave;
• Ob dolum: concedida àquele que realizou um negócio jurídico em
virtude de dolo, quer dizer, porque foi enganado;
• Ob errorem: concedida ao que efectuou um negócio jurídico em
virtude de um erro desculpável, isto é, porque se equivocou, sem que
esse equivoco deve considerar-se indesculpável;
• Ob aetatem: era concedida aos menores de 25 anos relativamente aos
negócios jurídicos – realizados por eles próprios ou pelos seus
representantes – que fossem lesivos, em si mesmos, dos interesses
desses menores;
• Ob fraudem creditorum: este expediente era concedido pelo pretor a
favor dum credor contra o devedor mas sobretudo contra o direito
adquirido dos bens do devedor, por este os ter alienado para
defraudar o credor. Em resumo: não é qualquer empobrecimento do
devedor que pode justificar a aplicação desta Restitutio in integrum,
mas só o empobrecimento do devedor que origine uma fraude
(prejuízo doloso) ao credor.
® Missiones in possessionem: ordem dada pelo pretor, assente nos seus
poderes de imperium, que autorizava uma pessoa a apoderar-se ou a deter
certos bens de outra pessoa, durante um determinado período de tempo, com
a possibilidade de os administrar e fruir; utilizado quando uma pessoa não
cumpria a sentença que lhe tinha sido dada;

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Direito Romano · FDUL

® Interdicta: com um teor imperativo, o pretor dava uma ordem, tomando


apenas como fundamento uma aparência jurídica para proteger uma certa
situação que carece dela; Tipos:
• Exibitórios: se a ordem do pretor se destinava a que alguém
apresentasse ou mostrasse, “exibisse” uma coisa.
• Restitutórios: se a sua finalidade era ordenar a devolução, a
“restituição” duma coisa.
• Proibitórios: se se destinavam a impedir (“proibir”) que alguém fosse
perturbado no gozo dum direito que está a desfrutar pacificamente.
• “Interditos possessórios” – São expedientes do pretor destinados a
proteger a posse, pois o ius civile não lhe concedia protecção jurídica.
Classes de interditos possessórios:
o Interdicta retinendae possessionis (interditos para reter a
posse; são proibitórios): estes interditos têm por objecto obter
o reconhecimento da posse, no caso de perturbação ou
incómodo por parte de terceiros. Proibir que alguém perturbe
a posse pacífica de outrem;
o Interdicta recuperandae possessionis (interditos para
recuperar a posse; são restitutórios): Destinam-se a recuperar
a posse de alguma forma perdida.

Os expedientes do pretor baseados no seu poder de iurisdictio

Poder de iurisdictio: poder específico de administrar a justiça.

O sistema jurídico romano primitivo de processar, e que durou até cerca do ano 130
a.C. como forma única, denominava-se “sistema das legis actiones” (acções da lei). Quer isto
dizer que as actuações processuais tinham de se acomodar rigorosamente ao prescrito na
leges.

Caracterizavam-se as legis actiones sobretudo por serem orais. O processo romano,


quase desde o início, estava dividido em duas fases: in iure e apud iudicem. O pretor presidia à
fase in iure. A sua posição no processo era simples e apagada: conceder ou não conceder a
actio.

Depois da Lex Aebutia de formulis , o sistema passa a ser um sistema de agere per
fomulas, processo escrito, e ter uma actio equivale a uma fórmula: ordem escrita que o pretor

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Direito Romano · FDUL

dava ao iudex para condenar ou absolver. Depois da LAdF, o pretor pode anular os efeitos de
uma actio ou retirar os efeitos, criando actiones próprias:

® Denegatio: recusa ao credor a utilização de uma actio contra o devedor;


® Exceptio: cláusula a favor do devedor que inutiliza a pretensão de
demandante.

Análise dos vários expedientes baseados na “iurisdictio”– Para neutralizar uma “actio
civilis”, cuja aplicação redundaria numa injustiça, agora o pretor tem à sua disposição também,
isto é, além duma restitutio in integrum. As várias actiones praetoriae:

® Actiones in factum conceptae – O pretor, vendo que determinada situação


social merece protecção jurídica e não a tem do ius civile, concede uma actio
baseada nesse facto, para que se faça justiça.
® Actiones ficticiae – Se o pretor para aplicar a justiça, finge como existente uma
coisa ou um facto que se sabe não existir, ou finge como não-existente uma
coisa ou um facto ou até um negócio que se sabe que existe. É a imposição
duma irrealidade ou duma inexactidão. Tudo isto fazia o pretor para
administrar bem a justiça;
® Actiones utiles – Se o pretor aplica, por analogia, actiones civiles a casos
diferentes, mas semelhantes, dos que o ius civile protege; aqui, há lógica, por
semelhança;
® Actiones adiecticiae qualitatis – São actiones que responsabilizam também o
“paterfamilias”, total ou parcialmente, pelas dívidas dum seu filius ou servus,
provenientes de contratos celebrados por estes alieni iuris.

Edictum Perpetuum de Adriano

À medida que o jus praectorium se foi desenvolvendo, os pretores deixaram de fazer


alterações aos éditos dos seus antecessores pelo que o fenómeno dos Tralaticia se torna geral.
Assim, Adriano (117-138) manda que se codifiquem todos os éditos pretórios, para serem
fixados ordenada e definitivamente num só. Concluída a codificação de todos os éditos,
confirmada pelo Senado, foi publicado a 130 d.C., e desde o séc. IV da nossa era é denominado
de Perpetuum (ordenação definitiva dos éditos). Porém, o perpetuum revela um carácter
definitivo e não o carácter anual como até aí tinha. Após a sua publicação o pretor quase se
limitava a publicar todos os anos o mesmo edito.

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Direito Romano · FDUL

SENATUSCONSULTOS

Até ao séc. I a.C.: meros pareceres do senado ao rei e magistrados que o consultavam
(sem ficarem vinculados); senadores concediam ou não a auctoritas patrum às leis comiciais;
recomendavam os magistrados detentores de ius agendi cum populo relativamente aos
projetos normativos a apresentar aos comícios;

Desde o séc. I a.C.: passam a fonte mediata de direito – senadores sugerem e passam
até a indicar as matérias para editos dos pretores (q tinham actiones praetoriae - ter actio é ter
ius); Só após a proposta ser aceite pelo Senado, podia ser apresentada aos comícios. Quase
todas as aprovações feitas pelo Senado eram aprovadas pelos comícios;

Gaius: “é o que o Senado ordena e constitui”.

Durante muito tempo não exerceu função legislativa, de que aliás não dispunha
constitucionalmente; por isso, a sua decisão constituía um mero parecer dado a quem o
consultava: senatusconsultum.

No Principado, o poder legislativo deslocou-se dos comitia para o Senado, embora, em


rigor, se limitasse, na sua forçada colaboração com o Princeps, a acolher as suas propostas
(relationes) escritas (epistulae) ou orais (orationes).Porém, nem todos os senatusconsulta são
fontes do direito: o Senado desempenha também funções judiciais e financeiras;
consideremos portanto apenas os senatusconsulta com conteúdo normativo.

À medida que o poder do princeps se afirma, o senatusconsulto não é mais que a


expressão da vontade do Princeps. Assim, certos jurisconsultos não falam de senatusconsulto
mas de oratio do Princeps.

A estrutura do senatusconsulto é semelhante à da lex:

® No praefatio figuram os nomes do magistrado que convocou o Senado e dos


senadores que intervieram na redacção, o lugar e a data;
® Na relatio encontram-se os motivos, a proposta e a resolução.

O senatusconsulto pode ser designado com base em critérios diferentes: pelo


conteúdo, pelo nome adjectivado do magistrado proponente, do princeps ou da pessoa que
deu motivo à decisão do Senado.

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Direito Romano · FDUL

Início do principado: são já fonte imediata de direito: criam dt só por si, s/ recorrer a
pretor ou comícios (estranho pensar q só no principado é q o senado ganha força legislativa,
numa altura em q os poderes se deviam concentrar no princeps: Augusto tinha td pensado:
senado reduzia a atividade política; atividade legislativa passava das mãos do povo p/ senado
e, uma vez neste, princeps + facilmente comandava resoluções senatoriais).

CONSTITUIÇÕES IMPERIAIS

A constitutio imperial é uma lex em que se manifesta a vontade do imperador.

A sua evolução, iniciada no Principado e terminou no Dominado como fonte única de


Direito, passou fundamentalmente por três fases:

1. até Adriano: transformação da actividade legislativa do Senado em mera


formalidade e o esgotamento das outras fontes de direito pouco adequadas à
dimensão do Império;
2. depois de Adriano: Edictum Perpetuum retirou ao pretor a actividade
inovadora, abrindo um espaço maior de intervenção ao Princeps - “o que
agrada ao princeps tem força de lei” Ulpiano;
3. depois de Diocleciano/Dominado: “só o imperador é legislador e intérprete”
Justiniano (CIC).

As constituições imperiais revestem as seguintes espécies:

® EDICTA: disposições gerais do imperador no uso do seu ius edicendi (poder


para ditar éditos obrigatórios); eram estes os actos legislativos mais frequentes
do Princeps, emanavam do seu imperium proconsulares maius, e a sua
jurisdição abarcava uma ou mais províncias/municípios. Não eram, em regra,
inovações legislativas mas apenas sistematização de práticas já observadas.
Quando o Princeps queria novas regras nos edicta fazia-o sob forma de
recomendação (logo sem força de lei). De início, a vigência dos edicta estava
limitada no tempo de vida do imperador que os colocava em vigor;
® DECRETA: sentenças do imperador em processos julgados em primeira
instância e apelação, segundo cognitio extra ordinem. A sentença é válida para
situações iguais e análogas posteriores; apesar de se manterem por todo o
século II, as instâncias permanentes de exercício da justiça foram sendo
substituídas de forma inexorável pelo novo sistema processual assente na

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Direito Romano · FDUL

intervenção do imperador e da sua administração. Este novo sistema


desenvolveu-se fora do sistema processual das ordo iudiciorum privatorum,
sem os vínculos e restrições formais que a jurisdição tinha apurado em séculos
de prática judiciária. Foi neste contexto que o Princeps passou a interferir
directamente na aplicação do direito aos conflitos levados a juízo, fazendo de
magistrado e iudex: ele organizava o processo; apreciava provas e proferia a
sentença; as três principais características da cognitio extra ordinem tinham o
princeps no centro:
• Avocação (chamar a si o processo) pelo princeps do poder do tribunal
de instância menor, por sua iniciativa ou a pedido das partes;
• Recurso da sentença para revogação das decisões judiciais para o
princeps (era uma forma deste ver a actividade dos seus delegados e
funcionários);
• Delegação de funções e competências de jurisdição nos funcionários e
delegados.
® RESCRIPTUM: são responsae a consultas jurídicas dirigidas por magistrados,
funcionários ou particulares. Podem ser sob a forma de adnotationes quando a
resposta é escrita sobre o próprio pedido e não é expedido nenhum
documento independente) Podem ser:
• Epistulae: correspondendo a consultas/perguntas feitas ao imperador
por uma entidade oficial, normalmente juiz. Estas respostas são
apenas sobre direito já que no relativo a provas ou factos, estes
deviam ser tratados face ao iudex;
• Subscriptiones: correspondem a consultas/perguntas feitas por
particulares/partes do processo. Não incidem, tal como as espitulae,
em mais do que matéria de direito e estas subscriptiones eram
apreciadas por colaboradores do imperador (integrados no consilium
principis) que dão o seu parecer e o princeps diz se sim ou não à
apreciação.
® MANDATA: são instruções do imperador em matéria administrativa,
sobretudo dirigidas aos governadores das províncias); o princeps baseava-se
no imperium proconsulare infinitum para as emanar; devido ao carácter
pessoal das instruções, as mandata, numa primeira fase, tinham vigência
apenas em vida do imperador que as emanasse. Porém, numa segunda fase,

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Direito Romano · FDUL

tal como com o edictum do pretor, tornam-se translactícios, isto é, partes


significativas dos mandata são confirmadas pelo seguinte imperador formando
um corpus normativo estável que deu uniformidade e institucionalizou as
regras da Administração Romana. Porque respondiam a questões concretas da
actividade administrativa dos funcionários de Roma, os mandata continham
inovações normativas, ainda que meramente regulamentares. Com o tempo,
os mandata são substituídos por leges generales ou por epistulae.

Tipos const imperiais dos sécs I-IV:

• Edicta: const de carácter geral (Imperador no uso do imperium


proconsularemaius)

• Decreta: decisões judiciais qt a casos submetidos à sua apreciação

• Rescripta (epistolae e subscriptiones): respostas escritas às questões de


magistrados/particulares

• Mandata: ordens/instruções aos governadores das províncias, funcionários,


etc

Partes de uma constitutio:

® Inscriptio: nome ou nomes do Imperador, autores da constituição e quem é


dirigida;
® Corpus: parte dispositiva (matéria/conteúdo da constituição)
® Subscriptio: data e lugar (imptt aquando da divisão definitiva do Império).

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